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Universidade Autónoma de Lisboa

Departamento de Direito

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO


Interpretação e Consagração Constitucional

Trabalho apresentado para a unidade curricular de


TRABALHO ORIENTADO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Alunas: Mónica Isabel Fonseca S. Lima N.º 20070373


Ana Rita Amaral Sardinha N.º 20070369
Docente: Prof. António Carlos dos Santos

LISBOA, 6 de Maio de 2008

4
AGRADECIMENTOS

Ao Professor António Carlos dos Santos, pela sua disponibilidade, pela partilha de
conhecimentos, e pelo seu interesse.

5
A liberdade de informação não vai ao ponto de autorizar os
atentados à verdade. Uma falsa informação pode colidir com outras
liberdades, com a liberdade da pessoa na sua vida privada ou o interesse
público objectivamente entendido.

(Georges Burdeau)

6
ÍNDICE GERAL

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ……………………………………………………………... 5


INTRODUÇÃO ………………………..…..…………………………….............................................. 6

1. ANTECEDENTES E FILOSOFIA INERENTES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E


INFORMAÇÃO ……………………………………………………...................................................... 7
1.1. Conceitos introdutórios ………………………..………………………………….....….….. 7
1.1.1. A liberdade de expressão como um Direito Fundamental …………………… 7
1.1.2. Direito e Liberdade de expressão ...….………………………………………...… 8
1.1.3. Direito e Liberdade de informação ….……………………………...……………. 9
1.1.4. Direito de resposta e de rectificação ………………………………………….. 10
1.2. A clássica liberdade de pensamento ……..…………………………..…………………. 10
1.3. Constituições Portuguesas Anteriores ………………..………………………………… 11
1.3.1. Constituição de 1822 …………………………………………..………………… 11
1.3.2. Carta Constitucional de 1826 ………………….…………………………...…... 12
1.3.3. Constituição de 1838 …………………………………..………….………….….. 12
1.3.4. Constituição de 1911 …………………………………………………………….. 13
1.3.5. Constituição de 1933 …………………………………………………………….. 13
1.4. A Evolução da Liberdade de Expressão e o Estado ………………………………… 13

2. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


DE 1976 …………………............................................................................................................. 15
2.1. Trabalhos preparatórios …………..……….……………………………...……….………. 15
2.1.1. Debates na Assembleia Constituinte ............................................................. 15
2.1.2. Texto Inicial ………………………………………………………...…………….… 16
2.2. A importância da DUDH …………..………..…………………………...………………… 18
2.3. Revisões Constitucionais ………….…..………………………………….……………… 18
2.3.1. Revisão de 1982 ……………………………………………..……………………… 18
2.3.2. Revisão de 1997 ………………………………………………..…………………… 20

3. A INTERPRETAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO PELO


TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ……………………………………………………......................... 22
3.1. Acórdão n.º 113/97, de 5 de Fevereiro ………………………………………………….. 22
3.2. Acórdão 348/03, de 8 de Julho ………………………………………………………….. 23

CONCLUSÃO …………..……………………………………………………………...……………..... 25
BIBLIOGRAFIA .……………………………………………………………………...……………….. 26
ANEXOS ………………………………………………………………………………………………... 29
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Assembleia Constituinte
ASDI Acção Social Democrata Independente
BMJ Boletim do Ministério da Justiça
CC Comissão Constitucional
CDS Centro Democrático Social
CRP Constituição da República Portuguesa
DAC Diário da Assembleia Constituinte
DAR Diário da Assembleia da República
DUDH Declaração Universal dos Direitos do Homem
MDP/CDE Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral
PCP Partido Comunista Português
PPD Partido Popular Democrático
PS Partido Socialista
TC Tribunal Constitucional
UDP União Democrática Popular

8
INTRODUÇÃO

A liberdade de expressão e informação implica o direito de exprimir e divulgar


livremente o pensamento por qualquer meio, a proibição da censura e o direito de
resposta e rectificação, para além das formas de responsabilidade e reparação
associadas. Verificaremos, ao longo deste trabalho, como este direito fundamental foi
consagrado constitucionalmente e interpretado ao longo das várias constituições
portuguesas.
De uma maneira geral, procurámos definir a liberdade de expressão, liberdade de
informação e o direito de resposta e rectificação, e relacionar a liberdade de expressão
com a liberdade de pensamento. Enquadrou-se historicamente a liberdade de expressão
e informação nas constituições portuguesas, a actual em particular, e relacionou-se a
evolução da liberdade de expressão com o Estado. Analisaram-se acórdãos do Tribunal
Constitucional, verificando-se como este interpreta a liberdade de expressão e
informação.
Foi utilizado o método histórico para enquadrar historicamente a liberdade de
expressão e informação nas constituições portuguesas. Para a necessária
fundamentação conceptual e teórica sobre as questões relacionadas com a
interpretação e evolução da liberdade de expressão utilizou-se a Pesquisa Bibliográfica
(essencialmente livros, monografias e material electrónico) e a Pesquisa Documental
(nomeadamente legislação e constituições políticas).
Este trabalho encontra-se dividido em três partes. A primeira parte descreve os
antecedentes e filosofia inerentes à liberdade de expressão e informação, a segunda
parte é dedicada à liberdade de expressão e informação na Constituição da República
de 1976, e a terceira parte à interpretação da liberdade de expressão e informação pelo
Tribunal Constitucional. Na primeira parte fala-se de conceitos introdutórios (a liberdade
de expressão como um direito fundamental, a liberdade de expressão, a liberdade de
informação, o direito de resposta e de rectificação), da clássica liberdade de
pensamento, das constituições portuguesas anteriores (de 1822, 1826, 1838, 1911 e
1933), e da evolução da liberdade de expressão e informação e o Estado. A segunda
parte trata dos trabalhos preparatórios (debates na Assembleia Constituinte, e texto
inicial), da importância da Declaração Universal dos Direitos do Homem e revisões
constitucionais (de 1982 e 1997). Na terceira parte analisam-se os Acórdãos n.º 113/97
de 5 de Fevereiro, e n.º 348/03 de 8 de Julho.
9
1. ANTECEDENTES E FILOSOFIA INERENTES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
INFORMAÇÃO

1.1. Conceitos introdutórios

1.1.1. A Liberdade de expressão como um Direito Fundamental


A liberdade de expressão e informação é um direito fundamental positivado
juridicamente na Constituição, positivação essa que, segundo Canotilho1, consiste na
“incorporação na ordem jurídica positiva dos direitos naturais e inalienáveis do
indivíduo”. Miranda, por seu turno, entende direitos fundamentais como “as posições
jurídicas activas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente
consideradas, assentes na Constituição”2 quer formal, quer material – daí direitos
fundamentais em sentido formal e em sentido material. Este duplo sentido implica dois
pressupostos: não existem direitos fundamentais sem se reconhecer que as pessoas
têm uma esfera jurídica própria face ao poder político, nem existem direitos
fundamentais num Estado totalitário ou em totalitarismo integral. Por outro lado, não
existem “verdadeiros direitos fundamentais sem que as pessoas tenham uma relação
imediata com o poder, beneficiando de um estatuto comum e não separadas em razão
dos grupos ou das condições a que pertençam; não há direitos fundamentais sem
Estado ou, pelo menos, sem comunidade política integrada.”3
A liberdade de expressão e informação encontra-se sistematizada positivamente,
na Constituição da República Portuguesa (CRP), no artigo 37.º, que se insere no
Capítulo I dos Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais que, por seu turno, se insere
no Título II dos Direitos, Liberdades e Garantias. É um direito de liberdade, que se
insere nos direitos de personalidade.
Neste art. 37.º da CRP estão reconhecidos dois conjuntos de direitos distintos: o
direito de expressão do pensamento e o direito de informação. Canotilho e Moreira4
referem que é difícil separar estes dois direitos, embora a distinção assente entre a

1
CANOTILHO, José Joaquim Gomes – Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 377.
2
MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora,
2000. Vol. 4. p. 7.
3
Ibidem, p. 8.
4
Cf. CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital, anot. – Constituição da República Portuguesa Anotada.
Coimbra: Coimbra Editora, 2007. Vol. 1. p. 572.
10
expressão de opiniões ou ideias, no primeiro caso, e a recolha e transmissão de
informações, no último caso. Estes autores consideram que o regime destes direitos é,
do ponto de vista jurídico-constitucional, principalmente idêntico: ideias, pensamentos e
opiniões são simplesmente expressões semânticas que advêm do significado da
liberdade de expressão. Liberdade cujo âmbito normativo deverá ser o mais vasto
possível, para que englobe ideias, convicções, opiniões, pontos de vista, críticas,
tomadas de posição, juízos de valor sobre qualquer assunto, com qualquer finalidade e
critérios de valoração.

1.1.2. Direito e Liberdade de expressão


Para Canotilho e Moreira, deve falar-se primeiro de um direito de expressão,
“direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento”, que é liberdade de
expressão. Estes autores definem a liberdade de expressão como o direito de divulgar
opiniões e ideias e de não ser impedido de exprimir-se. Enquanto direito de defesa, ou
direito negativo, esta liberdade é uma componente da clássica liberdade de
pensamento, com dimensões na liberdade de consciência e de culto (art. 41.º CRP),
liberdade de criação cultural (art. 42.º CRP), liberdade de aprender e ensinar (art. 43.º
CRP) e, de certa forma, na liberdade de reunião e manifestação (art. 45.º CRP).5
A liberdade de expressão abrange todas as exteriorizações da vida própria das
pessoas, desde crenças a convicções, opiniões, ideologias, sentimentos, emoções,
actos de vontade, etc., podendo revestir quaisquer formas. Esta liberdade, num sentido
amplo, é indissociável de liberdades como a liberdade de consciência, de religião e de
culto (art. 41.º CRP) ou a liberdade de manifestação (art. 45.º, n.º 2 CRP), entre outras.
De certa forma, a liberdade de expressão também se encontra associada à liberdade de
profissão (art. 47.º CRP), do direito de propriedade (art. 62.º CRP) e do direito de
iniciativa económica (art. 61º CRP). O direito à palavra (art. 26.º, n.º 1 CRP) e a
inviolabilidade da correspondência e de outros meios de comunicação privada (art. 34.º,
n.º 1 CRP) constituem as garantias destes direitos. A liberdade de expressão é uma das
garantias dos arguidos em processo penal (art. 32.º, n.ºs 3, 5 e 8 CRP). Sem liberdade
de expressão atinge-se o direito ao desenvolvimento da personalidade (art. 26.º, n.º 1
CRP).6

5
Ibidem, p. 572.
6
Cf. MIRANDA, op. cit., p.453.
11
A liberdade de expressão em sentido restrito define-se por exclusão de partes: é
essencialmente liberdade de expressão do pensamento, que se relaciona com a
liberdade de informação e a de comunicação social. Para Morais, a liberdade de
expressão deriva da liberdade de pensamento, “sendo um direito da pessoa, para a
pessoa e dirigido à forma como ela entende a sua realização pessoal e a sua pertença à
sociedade.”7 Também abrange a liberdade negativa de pensamento como um direito ao
silêncio e um direito a não manifestar opiniões, pensamentos ou ideias, exteriormente.
Canotilho e Moreira referem ainda a liberdade de expressão negativa como uma forma
não só de silêncio mas também de não coacção à partilha ou defesa de opiniões
alheias.
Para Morais,8 a liberdade de expressão não implica inteligibilidade9 nem
veracidade10, embora a verdade perante os factos seja relevante nos juízos de
valoração caso haja algum conflito com outros direitos constitucionalmente protegidos.
O âmbito normativo desta norma incide sobre a protecção dos meios de expressão,
havendo uma abertura constitucional (“qualquer outro meio”, conforme o art. 37.º, n.º 1
CRP) no sentido de incluir vários estilos e as novas formas de expressão (blogues, salas
de conversação instantânea, petições electrónicas, etc.).11

1.1.3. Direito e Liberdade de informação


A liberdade de informação tem em vista a interiorização de algo externo: consiste
em apreender ou dar a apreender factos e notícias e nela prevalece o elemento
cognoscitivo. Compreende o direito de informar (que corresponde a uma atitude activa e
relacional), de se informar (atitude activa e pessoal) e de ser informado (atitude passiva
e receptícia), de acordo com o art. 37.º, n.º 1, 2.ª parte CRP, e art. 16.º, n.º 2, da
Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH).12
Estes direitos têm muitas projecções e descobrem-se no direito à informação
jurídica, plasmados nos n.º 1 e 2 do art. 20.º CRP: “a todos é assegurado o acesso ao

7
MORAIS, op. cit., p. 129.
8
Cf. MORAIS, I.; ALMEIDA, José Mário F. de; PINTO, Ricardo L. Leite – Constituição da República
Portuguesa Anotada e comentada. Lisboa: Rei dos Livros, 1983.
9
Estado ou qualidade do que é inteligível/perceptível.
10
Qualidade do que é verdadeiro; fidelidade; exactidão. Depende do que estiver em causa (publicidade
enganosa, por exemplo).
11
Cf. CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 572.
12
Cf. MIRANDA, op .cit., p. 454.
12
direito e aos tribunais” e “todos têm direito (…) à informação e consulta jurídicas”,
respectivamente. Outras referem-se ao direito de acesso dos cidadãos aos dados
informatizados que lhes digam respeito (art. 35º, n.º 1 CRP) e direitos dos peticionários
serem informados em prazo razoável sobre o resultado das suas petições (art. 52.º, n.º
1, 2.ª parte CRP), entre outros. 13

1.1.4. Direito de resposta e de rectificação


Morais14 refere que o direito de resposta e de rectificação é conferido por igual
tanto a pessoas singulares e colectivas que se sintam lesadas por informações a elas
relativas (conforme art. 37.º, n.º 4 CRP), divulgadas nos órgãos de comunicação social.
Para este autor, o direito de resposta consiste na publicação ou divulgação de texto ou
comunicação da autoria ou da responsabilidade do lesado, no mesmo lugar e com a
mesma extensão, enquanto que uma rectificação pode ser efectuada pelo lesado ou
assumida pelo responsável pela notícia danosa e não necessita de ocupar o espaço
noticioso desta, embora com o mesmo destaque. Consagrou-se ainda o direito à
indemnização por danos sofridos por abuso do direito de informar (de acordo com art.
37.º, n.º 4, 2.ª parte CRP).

1.2. A clássica liberdade de pensamento


Pereira e Neto15 referem que liberdade é uma faculdade da pessoa para que esta
aja segundo a sua própria determinação, respeitando os limites legais, concluindo que a
liberdade exprime a faculdade de se fazer, ou não, o que se quer, de pensar como se
entenda, etc., conforme a sua livre autodeterminação.
É claro, portanto, que a liberdade de expressão e informação assegura a
liberdade de pensamento na sua vertente de inserção social, isto é, a autodeterminação
de cada pessoa a exprimir e a divulgar o seu pensamento pela palavra, escrita, imagem
ou qualquer meio, bem como as autonomias complementares de cada um poder
informar, informar-se e ser informado, e ainda de poder responder e rectificar. A

13
Ibidem, p. 455.
14
Cf. MORAIS, op. cit.
15
Cf. PEREIRA, Heloisa Prado; NETO, Renato Avelino de Oliveira – Liberdade de Expressão e de
Informação como direitos fundamentais: uma visão luso-brasileira. Derecho y cambio social. [Em linha]. La
Molina. (2005).
13
liberdade de expressão tem por objecto a expressão, a exteriorização de pensamentos
ou ideias.16
Para autores como Ravaz,17 a liberdade de expressão constitui um direito natural
porque decorre da fala, uma função natural, que propicia ao indivíduo o
desenvolvimento da personalidade e, assim, a sua participação em diversas actividades
sociais. Sem liberdade de expressão, nas suas mais diversas formas, não há
pluralidade, atinge-se a liberdade de pensamento. Alguns autores poderiam argumentar
que nos poderiam retirar a liberdade de falar ou de escrever, mas nunca a liberdade de
pensar. O homem vive em sociedade, e segundo Kant, pensa em comunhão com os
outros. Como tal, o poder que arranca aos homens a liberdade de comunicar
publicamente os seus pensamentos retira-lhes também a liberdade de pensamento.18

1.3. Constituições portuguesas anteriores

1.3.1. Constituição de 1822


Esta constituição monárquica possuía três núcleos jurídicos (ou direitos
fundamentais) importantes que a Constituição tinha por objecto manter: liberdade,
segurança, propriedade. Estes núcleos são complementados por direitos decorrentes,
como a liberdade de comunicação do pensamento, plasmada no seu artigo 7.º.19 A
constituição instaurava um regime liberal democrata, na sua primeira vigência.20
O art. 7.º dispõe que “a livre comunicação dos pensamentos é um dos mais
preciosos direitos do homem. Todo o Português pode conseguintemente, sem
dependência de censura prévia, manifestar suas opiniões em qualquer matéria, contanto
que haja de responder pelo abuso desta liberdade nos casos, e pela forma que a lei
determinar.”21 Este artigo encontra-se inserido no Título I denominado “Dos direitos e
deveres individuais dos portugueses”.

16
Cf. PEREIRA; NETO, op. cit.
17
Cf. RAVAZ, Bruno – Liberdade de expressão constitui direito natural. ProScientiae. [Em linha]. (Maio
2003).
18
Cf. KANT, Immanuel – Que significa orientar-se no pensamento (1786). In A paz perpétua e outros
opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1992. p. 52.
19
Cf. MENDES, João de Castro – Direitos, Liberdades e Garantias: alguns aspectos gerais. In PEREIRA,
André Gonçalves [et al] – Estudos sobre a Constituição. Lisboa: Petrony, 1977. p. 99.
20
Cf. CAETANO, Marcello – As Constituições Portuguesas. Lisboa: Verbo, 1986. p. 22.
21
MIRANDA, Jorge – As constituições portuguesas: de 1822 ao texto actual da constituição. Lisboa:
Livraria Petrony, 1997. p. 30.
14
1.3.2. Carta Constitucional de 1826
Esta constituição liberal afasta-se do espírito revolucionário que inspirou a
Constituição de 1822 e reconhece, além dos poderes executivo, legislativo e judicial, o
poder moderador do rei, daí que autores como Caetano a definam como sendo
monárquica.22 Ao contrário da Constituição de 1822, a Carta de 1826 começa pela
organização do Estado, e é no último artigo, o 145.º que são enumerados os Direitos
Civis e Políticos, cuja inviolabilidade é garantida pela Carta, tendo igualmente por base a
liberdade, segurança individual e a propriedade.23 Os direitos individuais enumerados no
art. 145.º assentam nos mesmos núcleos jurídicos que a Constituição de 1822, além de
compromissos do Estado.24 Ao relegar os direitos fundamentais para o último artigo, a
Carta concede-lhes menor importância sistemática.25
O art. 145.º, § 3.º, dispõe que “Todos podem comunicar os seus pensamentos por
palavras, escritos, e publicados pela Imprensa sem dependência de Censura, contanto
que hajam de responder pelos abusos, que cometerem no exercício deste direito, nos
casos, e pela forma que a Lei determinar.”26

1.3.3. Constituição de 1838


De acordo com o art. 13.º:
Todo o Cidadão pode comunicar os seus pensamentos pela imprensa ou por
qualquer outro modo, sem dependência de censura prévia.
§ 1.º - A Lei regulará o exercício deste direito; e determinará o modo de fazer
efectiva a responsabilidade pelos abusos nele cometidos.
§ 2.º - Nos processos de Liberdade de Imprensa, o conhecimento do facto e a
27
qualificação do crime pertencerão exclusivamente aos Jurados.

Esta constituição consagra o Título III aos direitos fundamentais, aperfeiçoando-o


e desenvolvendo-o mais, e é mais proporcional quanto às liberdades e garantias do que
a Carta.

22
Cf. CAETANO, op. cit., p.31-32.
23
Cf. MENDES, Direitos, Liberdades.., p. 99.
24
O que seriam direitos sociais como a instrução primária gratuita (§30.º). Cf. CAETANO, op. cit., p. 31.
25
Cf. MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional: Preliminares, O Estado e os Sistemas
Constitucionais. 4.ª ed. ver. actual. Coimbra: Coimbra Editora, 1990. Vol. 1. p. 273.
26
MIRANDA, As constituições.., p. 136.
27
MIRANDA, As constituições.., p. 169.
15
1.3.4. Constituição de 1911
Seguindo uma orientação individualista, tal como as restantes constituições o
28
eram, a Constituição de 1911 dá preferência à enumeração dos direitos e garantias
que, de acordo com a tradição liberal, se baseiam na liberdade, segurança individual e
propriedade, inserindo outros princípios de ideologia republicana, como a igualdade
social (nega privilégios de nascimento) e o laicismo (igualdade e liberdade de religião).29
Estabelece o art. 3.º, n.º 13 que «a expressão do pensamento, seja qual for a sua
forma, é completamente livre, sem dependência de caução, censura ou autorização
prévia, mas o abuso deste direito é punível nos casos e pela forma que a lei
determinar.»30

1.3.5. Constituição de 1933


Nesta constituição antiliberal, anti-individualista e de sentido autoritário,31 são
enumerados os direitos individuais dos cidadãos no art. 8.º, entre eles “a liberdade de
expressão do pensamento sob qualquer forma.” (art. 8.º, n.º 4) 32
Alguns dos direitos eram submetidos a regime estabelecido por leis especiais,
degradando-se a sua constitucionalidade em prol da legalidade e legalização dos
mesmos, submetendo o cidadão à discricionariedade do legislador,33 e a liberdade de
expressão não escapava a esta regra.34 Salazar, nos seus Discursos, declarava que
“não reconhecemos a liberdade contra a Nação, contra o bem comum, contra a família,
contra a moral.”35

1.4. A Liberdade de expressão e a Democracia


A democracia assenta em valores fundamentais como a liberdade e igualdade de
todos os cidadãos e como tal, também no reconhecimento de outros direitos inatos de
toda a pessoa humana. Democracia é sinónima de liberdade e só em liberdade o
Homem possui condições para a concretizar o espírito de iniciativa que lhe é inerente e

28
Cf. MIRANDA, Manual.., Vol. 4, p. 117.
29
Cf. CAETANO, op. cit., p. 87.
30
MIRANDA, As constituições.., p.211.
31
Cf. CANOTILHO, op. cit., p. 182-183.
32
MIRANDA, As constituições.., p. 270.
33
Cf. CANOTILHO, op. cit., p. 183.
34
Cf. MIRANDA, 1990, op. cit., p. 300.
35
SALAZAR apud MIRANDA, 1990, op. cit., p. 300.
16
para dar asas à criatividade, ambas instigadoras do desenvolvimento das sociedades
humanas.36
Por isso, a liberdade, um dos núcleos das constituições liberais, e portanto a
liberdade de expressão, é uma condição imprescindível para a viabilidade do regime
democrático. O carácter individualista e liberal da liberdade de pensamento evoluiu com
o passar dos séculos e transformou-se ao ponto de corresponder a um direito, não só do
indivíduo isolado, mas também da própria sociedade.37
Segundo Vitória, o desenvolvimento do Estado democrático de Direito está
relacionado com os direitos fundamentais, e neste caso com a liberdade de expressão:
ambos se constroem mutuamente. O conteúdo do Estado constitucional depende dos
valores que este resguarda e varia com os momentos históricos.38
Sabemos já que a liberdade de expressão, tal como os restantes direitos
fundamentais, é um direito que conhece limites, e, se o seu exercício entrar em conflito
com direitos fundamentais de outrem, não pode deixar de sofrer ainda as limitações
exigidas pela necessidade da realização destes.39 Não era o que sucedia em regimes
ditatoriais, como durante a vigência da Constituição de 1933, como já vimos. Segundo
Stuart Mill40, a garantia da opinião individual era fundamental para uma sociedade livre,
e proteger a liberdade de expressão individual não é apenas manifestar-se em favor
dela, mas lutar contra quem a quiser restringir. Para este autor, quem procura limitar a
liberdade dos outros pretende impor ideias e conformar o pensamento.

36
Cf. MENDES, Fátima Abrantes [et al] – Dicionário de Legislação Eleitoral. Lisboa: Comissão Nacional
de Eleições, 1995. Vol. 1.
37
Cf. LIMA, Éfren Paulo Porfírio de Sá – O Moral e Direito à informação jornalística: o segredo de justiça.
Revista da Justiça Federal no Piauí [Em linha].
38
Cf. VITÓRIA, Paulo Renato – Justiça e poder discricionário no Estado democrático de direito: uma
interpretação possível fundada na dignidade. [Em linha]. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2007. Dissertação de mestrado. p.78.
39
MELO, Milena Barbosa de – A liberdade de expressão e de informação nas publicidades comerciais.
Juristas [Em linha].
40
Stuart Mill apud CUNDARI, Paula Casari – Limites da liberdade de expressão: imprensa e judiciário no
Caso Editora Revisão. [Em linha]. Porto Alegre: Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006. Tese de doutoramento. p. 13.
17
2. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA PORTUGUESA (1976)

2.1. Trabalhos preparatórios


A AC abriu a 2 de Junho de 1975. e nela foram apresentados projectos de
Constituição pelos vários partidos políticos (1/07/1975).41 A liberdade de expressão foi
prevista em vários projectos de constituição (ver Anexo 1) e debatida em sede da AC.
Vejamos primeiro os temas essenciais desses debates, publicados no Diário da AC.

2.1.1. Debates na Assembleia Constituinte


Foi claramente afirmado por Oliveira e Silva que o direito de expressão do
pensamento e o direito à informação deveriam ser consagrados na constituição,
tendo acusado o PCP de, ao remeter para a lei ordinária a regulamentação deste direito
(ver Anexo 1), aproximar-se da Constituição de 1933 que anulou esta liberdade. O
exercício deste direito deveria ser feito nas formas da Constituição, podendo a lei, no
máximo, estabelecer certos limites. 42
A proibição da censura, como garantia da liberdade de expressão e de
informação, foi um tema que mereceu particular destaque na AC, tendo em conta a
necessidade de rotura com o sistema vigente antes da revolução de 1974. Procurou-se
impedir qualquer tipo (estatal, político, económico, moral) e forma (prévia ou a posteriori)
de censura, admitindo-se que não são estanques e podem, por vezes, interpenetrar-
se.43
Foi sugerido o aditamento de um novo número, pelo MDP/CDE, com a mesma
redacção que o art. 44.º, n.º 2 constante do seu projecto de constituição (ver Anexo 1),
tendo sido recusada. José Luís Nunes citou palavras de um discurso de Marcello
Caetano que afirmava competir “ao Estado preservar a opinião pública, impedindo a
divulgação de notícias falsas ou tendenciosas”, alertando para os resultados da
prossecução de tais princípios.44

41
Após aprovação do mandato dos deputados eleitos, eleita a Mesa, aprovado e votado o Regimento da
AC.
42
Cf. Deputados Oliveira e Silva (PS) e Costa Andrade (PPD), DAC, n.º 39, p. 1089.
43
Cf. Deputado José Augusto Seabra, DAC, n.º 39, de 29/8/1975 apud PINHEIRO, Alexandre Sousa;
FERNANDES, Mário João de Brito – Comentário à IV Revisão Constitucional. Lisboa: Associação
Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999. p. 141.
44
Deputado José Luís Nunes, DAC, n.º 39, p. 1094.
18
2.1.2. Texto inicial
Na Constituição de 1976 foi dada, na opinião de Mendes,45 uma cuidadosa
atenção à pessoa, o que se verifica no extenso leque de direitos que a Constituição lhe
reconhece. A parte I da CRP, Direitos e deveres fundamentais, demonstra uma
classificação dos mesmos que é bipartida: direitos, liberdades e garantias; direitos
económicos, sociais e culturais. Jorge Miranda46 opina que esta bipartição revela a ideia
de que a Constituição procura manter-se fidedigna aos direitos, liberdades e garantias
conquistadas no século XIX e enriquecidas na linha liberal no século XX, na linha
personalista, e procurou acrescentar direitos próprios deste século, que traduzem
aspirações de igualdade social e económica, que significam uma intervenção do Estado
na vida social para realizar dos interesses das pessoas de todas as condições, de todas
as classes. Estabelece o art. 37.º do texto inicial da Constituição que:

1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela


palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de se
informar, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer
tipo ou formas de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficarão submetidas ao
regime de punição da lei geral, sendo a sua apreciação da competência dos
tribunais judiciais.
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições
47
de igualdade e eficácia, o direito de resposta.

O n.º 1, in fine, refere ainda que o direito de expressão não pode ser sujeito a
impedimentos nem a discriminações. “Sem impedimentos” não pode significar sem
limites, visto que, se o exercício do direito pode dar lugar a infracções (previstas no n.º
3), é porque há limites ao direito. “Sem discriminações” não elimina o alcance das
excepções previstas na Constituição, plasmadas no art. 270.º, aditado na revisão
constitucional de 1982. Mas dentro dos limites expressos ou implícitos do direito, não
pode haver obstáculos ao seu exercício e todos gozam dele em pé de igualdade. Na
falta de cláusulas de restrição dos direitos referidos, é necessário harmonizar o direito
com outros direitos com eles colidentes como a dignidade da pessoa humana, os
direitos à integridade moral, bom nome e reputação, à privacidade, à palavra e à
imagem, etc. (art. 26.º, nº1).48

45
Cf. MENDES, Direitos, Liberdades..
46
Cf. MIRANDA, Jorge apud MENDES, Direitos, Liberdades.., p. 95.
47
MIRANDA, As constituições.., p.431.
48
Cf. CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 573.
19
O n.º 2 consagra ainda a proibição da censura, pois a censura nega a liberdade
de expressão (e também de informação). Esta epígrafe não sofreu quaisquer alterações
ao longo das setes revisões constitucionais. Proíbe-se a censura num sentido amplo,
abrangendo tanto a censura prévia à expressão originária, como a censura posterior da
difusão ou divulgação. A proibição da censura não foi colocada no art. 38.º sobre a
liberdade de imprensa pois desta forma a proibição constitucional é de âmbito geral,
aplica-se a toda e qualquer forma de informação e expressão e não apenas à que
ocorre nos meios de comunicação social. Esta proibição vale perante o Estado e demais
entidades ou poderes em posição de impedir a expressão ou divulgação de informação
ou ideias (art. 18.º, n.º 1 CRP).49
Do n.º 3 verifica-se que existem limites ao exercício de livremente exprimir e
divulgar o pensamento, pelo que tal infracção pode conduzir a punição criminal. Limites
esses que pretendem salvaguardar os direitos ou interesses constitucionalmente
protegidos, tão importantes que gozam de protecção penal.50
O n.º 4 deste artigo consagra, desde logo, um direito à expressão, incluído no
direito de expressão anteriormente referido, mais precisamente, na sua dimensão
positiva que aflora num direito de resposta. Mas, de uma maneira geral, este direito de
expressão não inclui um direito de acesso aos órgãos de comunicação social. Hoje,
mais do que em 1976, com os novos meios tecnológicos (como a Internet), é
virtualmente possível que todos divulguem e difundam o seu pensamento, informações
e opiniões. Este direito de resposta é um instrumento de defesa das pessoas contra
opiniões ou imputações de carácter pessoal ofensivo ou prejudicial, ou contra notícias
ou referências pessoais inverídicas ou inexactas. O direito de resposta é elemento
constituinte do direito de expressão e de informação em geral, independentemente do
seu suporte ou veículo e da forma de exercício. Como um direito geral exerce-se através
dos meios de comunicação social e de viva voz (assembleias, reuniões, etc.), com
igualdade e eficácia, ou seja, existe uma equivalência comunicacional entre a resposta e
a informação ou opinião que a gerou. O direito de resposta, tal como a liberdade de
expressão e informação, não é exclusivamente pessoal, estende-se às pessoas
colectivas, podendo ser essencial à sua acção colectiva (sindicatos, partidos políticos).51

49
Ibidem, p. 574.
50
Ibidem, p. 575.
51
Ibidem, p. 573, 575, 576.
20
2.2. A DUDH e a Liberdade de Expressão
A DUDH consagra a liberdade de expressão no art. 19.º: “Todo o indivíduo tem
direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser
inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteira, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”52
Os direitos fundamentais e, por conseguinte, a liberdade de expressão, devem
ser interpretados e integrados de harmonia com a DUDH, nos termos do art. 16.º, n.º 2
da CRP, impregnando a CRP dos princípios e valores da DUDH, sendo esta uma fonte
importante da CRP nesta matéria.53 Pela DUDH verifica-se como a liberdade de
expressão é fundamental, como base de um Estado democrático.54

2.3. Revisões Constitucionais

2.3.1. Revisão Constitucional de 1982


A primeira revisão constitucional de 1982 visou, entre outras modificações,
aperfeiçoar os direitos fundamentais.55 A Assembleia da República, no uso dos poderes
de revisão constitucional previstos no art. 164.º, alínea a, e no art. 164.º, n.º 1 da CRP,
reviu a Constituição, decretando a Lei Constitucional n.º 1/82 de 30 de Setembro, tendo
alterado os n.ºs 1, 3 e 4 do art. 37.º CRP, da seguinte forma:

1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela


palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de
informar, de se informar e de ser informados, sem impedimento nem
discriminações. (…)
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos
princípios gerais de direito criminal, sendo a sua apreciação da competência
dos tribunais judiciais. (…)
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições
de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o
56
direito a indemnização pelos danos sofridos.

No n.º 1 pode-se finalmente verificar que o direito de informação integra, como já


havia sido referido, o direito de informar, de se informar e de ser informado. Estes

52
DECLARAÇÃO Universal dos Direitos do Homem. In Constituição da República Portuguesa: de acordo
com a Revisão de 2005. Lisboa: Quid Juris, 2006.
53
Cf. MIRANDA, Manual.., Vol. 4, p. 148.
54
LIMA, op. cit.
55
Foi também com esta revisão que surgiu o Tribunal Constitucional.
56
MIRANDA, As constituições.., p. 555.
21
aditamentos foram encarados como um reforço constitucional da liberdade de expressão
e de informação no sentido actual e activo.57
No n.º 3 foi alterada a expressão “lei geral” para “princípios gerais de direito
criminal”. Esta alteração visou explicitar, em termos mais perfeitos do ponto de vista
técnico, que submeter as infracções previstas no “regime de punição da lei geral” (cfr. o
texto inicial) é submetê-las aos “princípios gerais de direito criminal”, o que está
relacionado com a tutela criminal dos abusos à liberdade de expressão. Mas não é
apenas esta tutela criminal e as sanções criminais as únicas admitidas quanto a, por
exemplo, sanções disciplinares.58 Um acórdão da Comissão Constitucional vai mais
longe:
[…]a expressão Lei Geral (…) não é, nem necessariamente, nem apenas, o
Código Penal. Antes será a lei cujo conteúdo revista a característica de
generalidade; que não discrimine determinada ou determinadas opiniões; que
vise, e na medida em que vise a protecção de um bem ou valor que, na
situação se revele preponderante; e que respeite (e se adeqúe) aos princípios
gerais do direito penal, entendendo-se por tais, não só os princípios jurídico-
constitucionais penais, mas ainda aqueles que presidem à teoria geral das
59
infracções e das penas que consta do Código Penal.

No n.º 4 vemos que se consagrou, a par com o direito de resposta, o direito de


rectificação. O direito de resposta e de rectificação é independente do possível
“direito à indemnização pelos danos sofridos” e da responsabilidade criminal
eventualmente envolvida. Canotilho e Moreira60 consideram que se deveria incluir o
“direito de resposta e rectificação em ambiente electrónico que não se compadece com
os prazos modernos (…) fixados na lei”, tendo em conta a “instantaneidade electrónica”.
A Aliança Democrática ainda propôs um aditamento, no final do n.º 4, da
expressão “bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos nas condições que
a lei prescrever”, que não vingou pois tal remissão para a lei poderia dar origem a esse
entendimento de ser um regime especial.61
Foi novamente proposto um n.º 5, pelo MDP/CDE, relativo à divulgação de
ideologia fascista (tal como na AC), e que foi rejeitado por todos os outros proponentes

57
Cf. Deputado Jorge Miranda (ASDI), DIÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 2.ª legislatura, 2.ª
sessão legislativa, 1.ª série, n.º 103, de 16-6-1981, p. 4241.
58
Cf. Acórdão 11/85, BMJ, (S)-15, apud LOPES, op. cit., p. 287.
59
Acórdão da CC de 8 de Janeiro de 1980; BMJ n.º294, p. 153 apud MORAIS, op. cit., p. 83.
60
CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 576.
61
Deputado Vital Moreira (PCP), DAR, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 6, reunião
de 15-9-1981, p. 70(60).
22
de alterações à Constituição, por violar limites materiais da revisão constitucional, e
direitos fundamentais consagrados na DUDH e na Constituição, de acordo com Jorge
Miranda.62

2.3.2. Revisão Constitucional de 1997


A Assembleia da República, no uso dos poderes já referidos, decretou a Lei
Constitucional n.º 1/97 de 20 de Setembro, tendo alterado o n.º 3 do art. 37.º CRP, que
dispõe:
As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos
princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social,
sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais
63
ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.

Esta alteração constava do projecto inicial de revisão constitucional pelo PS.


Assim, uma entidade administrativa independente pode apreciar ilícitos de mera
ordenação social. Permite a criação de entidades de controlo com vocação diferente da
Alta Autoridade para a Comunicação Social, com competência para sancionar ilícitos de
mera ordenação social64. Estas entidades podem, em sede do art. 267.º, n.º3 CRP, ser
criadas por lei, mas têm um carácter excepcional, valem apenas para sectores bem
identificados da Administração. Segundo Pinheiro,65 são pessoas colectivas públicas
dotadas de independência, criadas pelo Estado quando este não tem condições para
prosseguir adequadamente os fins públicos transferidos para a entidade.
Sabemos, com esta última alteração, que as infracções cometidas no exercício
das liberdades de expressão e de informação envolvem, conforme a gravidade,
responsabilidade penal ou responsabilidade contra-ordenacional. Esta alteração
assegura uma garantia adjectiva e outra substantiva. No primeiro caso, consiste no
julgamento das infracções criminais pelos tribunais judiciais [que não podem ser
tribunais com competência exclusiva para o seu julgamento (art. 209, n.º 4 CRP)] e na
apreciação das contra-ordenações por uma autoridade independente (art. 267.º CRP)
com possibilidade de recurso da decisão, de maneira geral, para os tribunais. No

62
Cf. Deputado Jorge Miranda (ASDI), DAR, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 6,
reunião de 15-9-1981, p. 70(61).
63
MIRANDA, As constituições.., p. 753.
64
Contra-ordenação.
65
Cf. PINHEIRO, Alexandre Sousa; FERNANDES, Mário João de Brito – Comentário à IV Revisão
Constitucional. Lisboa: Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999. p. 140-142, 548-
551.
23
segundo caso, é garantida a sujeição aos princípios gerais de Direito criminal ou do
ilícito de mera ordenação social o que veda a existência de um regime especial de
crimes de liberdade de imprensa.66
António Reis, deputado do PS, salientou que esta alteração permite que a
legislação mantenha a tendência para a descriminalização de infracções penais
menores em matéria de liberdade de expressão, que passarão a ser abarcadas pelo
ilícito de mera ordenação social, e uma desgovernamentalização na aplicação de
coimas no exercício do poder sancionatório por uma entidade pública, a Alta Autoridade
para a Comunicação Social. Contudo, Moreira da Silva, deputado do PSD, esclareceu
que esta, como entidade administrativa, está sujeita à apreciação judicial. 67

2.4. Restrições à Liberdade de expressão e informação


Os direitos fundamentais encontram-se sujeitos a um regime geral, aplicável a
todos eles. Existe ainda um regime especial, próprio dos direitos, liberdades e garantias,
ao qual a liberdade de expressão e informação se encontra também sujeita.
Tal regime próprio refere que estes direitos, e portanto esta liberdade, não podem
ser restringidos senão nos casos expressamente admitidos pela CRP (art. 18.º, n.º 2),
não havendo nenhuma cláusula geral de admissão de restrição aos direitos
fundamentais. A restrição68 só pode ter lugar por via de lei, não podendo esta devolver
as restrições para o poder discricionário da administração. E ainda que
constitucionalmente autorizada, a restrição só é legítima se exigida pela salvaguarda de
outro direito fundamental ou interesse constitucionalmente protegido, e se proporcional,
para que as restrições se limitem ao necessário para essa salvaguarda. As leis
restritivas têm de revestir um carácter geral e abstracto (art. 18.º, n.º 3), devendo
salvaguardar o conteúdo essencial dos preceitos constitucionais que garantem a
liberdade de expressão, cujo exercício só pode ser suspenso em caso de declaração,
nos termos da CRP, do estado de sítio.69

66
Cf. MIRANDA; MEDEIROS, op. cit., p. 430-431.
67
Cf. DAR, 7.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, 1.ª série, n.º 95, de 16-7-1997, p. 3416 e 3422.
68
Uma restrição está relacionada com o direito em si, afecta-o, comprime-o, funda-se em razões
específicas, amputa-lhe faculdades que a priori estariam nele compreendidas. Cf. MIRANDA, Manual..,
Vol. 4.
69
CANOTILHO, J. J. Gomes; Moreira, Vital – Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra Editora,
1991. p. 120-122.
24
3. A INTERPRETAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO PELO
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
3.1. Acórdão n.º 113/97 de 05 de Fevereiro de 1997, referente à liberdade de
expressão nos meios de comunicação social.
O referido acórdão tem como partes o Licenciado Antero da Silva Resende e o
requerente Vicente Jorge Lopes Gomes (assistente editorial), postula uma fiscalização
concreta para determinar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma
positivada no Código Penal (art. 164.º n.º1 do Código Penal de 1982, actualmente sendo
o artigo 180º do respectivo Codex) nomeadamente o dolo eventual que segundo a
doutrina verifica-se quando o agente prevê a possibilidade de a sua conduta efectivar
uma consequência ilícita e tal previsão não determinar a abster-se dela, constitui deste
modo uma forma qualificada de culpa como elemento subjectivo intrínseco ao crime de
difamação (por difamação compreende-se a atribuição a outrem, mesmo sob a forma de
suspeita, de um facto ou de um juízo de valor, ofensivos à reputação e à honra do
visado, sendo a este crime atribuída uma sanção punitiva, com a excepção
nomeadamente entre outras aquando comprovada a realização de interesses legítimos
ou quando se provar a veracidade dos factos imputados sobre terceiros).
O assistente editorial considera a norma inconstitucional, pois acredita que o dolo
eventual vai contra a Liberdade de expressão e informação (art. 37.º, n.º1 da CRP), de
imprensa (art. 38.º, n.ºs 1 e 2), de opinião, do direito de participação na vida pública (art.
48.º, n.º 1 da CRP), que se contemplam legitimamente na ordem jurídica sem limitações
ou censuras, assim como também oprime injustificadamente a Convenção Europeia dos
Direitos Humanos (art. 10.º, n.ºs 1 e 2 da CEDH). Embora, o mesmo, tivesse
consciência do resultado das suas expressões (dolo eventual) alega que a adjectivação
atribuída ao ofendido não possui potencialidades para colidirem com o direito ao seu
bom nome assim como com a sua reputação (art. 26.º n.º 1 da CRP).
Antero Resende faz alusão a que o dolo eventual foi efectivado pelas expressões
escritas por Vicente Gomes, sendo este constitucional pois o mesmo encontra-se
inserido no leque variado das delimitações à liberdade de expressão e informação,
afirma que a este direito lhe é incluída a previsão de infracções no seu exercício que se
submetem aos princípios gerais do direito criminal (art. 37.º n.º3 da CRP), como também
se encontra em consonância com a força jurídica das leis restritivas positivadas na
Constituição (art. 18.º da CRP) e com o direito ao bom nome e à dignidade da pessoa
humana (art. 26.º, n.ºs 1, 2 e 3), o direito à integridade pessoal (art. 25.º n.º 1 da CRP)
25
nomeadamente no que confere à componente moral foi afectada através de enxovalho
público, assim como também às leis de direito internacional de conteúdo de liberdade de
expressão lhes são incluídas certas delimitações.
O TC posteriormente por deliberação unânime elaborada pelo colectivo de sete
juízes, não julga inconstitucional a norma (art. 180.º do Código Penal). Fundamenta-se
em preceitos constitucionais positivados na CRP (nomeadamente os art. 37.º, n.º 3 e art.
18.º), em normas consagradas no Código Penal (art. 180.º), assim como em regras
expressas quer na Convenção Europeia dos Direitos do Homem (art. 10.º, n.º2 CEDH))
quer no Pacto Internacional Direitos Civis e Políticos (art.19.º, n.º3 PIDCP). É de
salientar que este acórdão não põe, de modo algum, em causa o âmago da Liberdade
de expressão, ou seja, a permuta legitima de ideias e pensamentos concordantes ou
discordantes, nem como a dita liberdade ser um direito fundamental num Estado
democrático, mas sim questiona o nec plus ultra que consubstancia o limite onde
termina a liberdade de expressão e começa o insulto pessoal e/ou a ofensa à
integridade moral, assim como evidencia a ponderação na proporção e na adequação
das palavras utilizadas, sob qualquer forma, tendo em vista ao fim a que se destinam.

3.2. Acórdão 348/03 de 08 de Julho de 2003, referente à Liberdade de expressão na


publicidade.
O referido acórdão tem como partes o Exmo. Magistrado do Ministério Público e a
Astroforce – Venda de Bens e Serviços Lda. (requerente), é uma fiscalização concreta
para determinar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma positivada no
Código da Publicidade respeitante ao artigo 22.º-B, n.ºs 1 e 2, aprovado pelo Decreto-
Lei n.º 330/90 de 23 de Outubro na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 275/98 de 09 de
Setembro, referente a toda e qualquer publicidade a bens ou serviços que
alegadamente possuam efeitos específicos na saúde, bem estar, sorte ou felicidade, isto
é, bens ou serviços milagrosos dos consumidores e seus pares que sob qualquer forma
explore a ignorância, o medo, a crença e/ou a superstição dos seus destinatários.
A Astroforce – Venda de Bens e Serviços, Lda. baseia os factos da sua acção ser
uma forma de comunicação que visa promover a comercialização dos seu
bens/serviços, ou seja, numa acção de publicidade (art. 3.º do Código da Publicidade), e
julga inconstitucional a norma mencionada no paragrafo precedente, em prol da mesma
delimitar a liberdade de publicitar certos bens/serviços, assim como vetar direitos
fundamentais dos seus potenciais clientes se tivermos em conta a liberdade de
conhecer e adquirir produtos comercializados por quem de direito, e limitar também a
26
liberdade da requerente publicitar e vender os seus produtos (art. 60.º, n.º1 da CRP). A
violação à liberdade de expressão (art. 37.º, n.º1 da CRP) e ao direito da iniciativa
económica privada (art. 61.º, n.º 1 da CRP) que segundo a doutrina este direito
enquanto direito essencial “negativo” ou de defesa, reveste natureza análoga aos
direitos, liberdades e garantias, que consequentemente beneficiam, mutatis mutandis,
do competente regime, incluído este ultimo no leque de violações a normas e princípios
constitucionais alegados por esta parte.
O Ministério Público considera a norma constitucional, pois a mesma tem como
objecto a valorização de condutas alicerçadas em preceitos constitucionais positivados
nomeadamente na dignidade da pessoa humana (art. 1.º da CRP) e na liberdade
individual (art. 27.º da CRP), que também se propõe a assegurar a tutela dos direitos
fundamentais dos consumidores (art. 60.º da CRP), assim como questiona se a
publicidade se inclui no direito de informar intrínseco à liberdade de expressão e
informação (art.37.º da CRP).
O TC diz que o objecto do presente recurso é apenas referente à questão da
alegada inconstitucionalidade, e por unanimidade não julga inconstitucional a norma,
pois no que confere ao direito de informar a que a requerente invoca é de natureza
constitucional distinta, o mesmo refere-se a um modo de influenciar os consumidores
para que os mesmos promovam os consumos desejados, em suma é publicidade e a
Constituição remete à lei a sua disciplina que a proíbe de ser exercida sob forma oculta,
indirecta ou dolosa (art. 60.º, n.º2 da CRP) não atingindo tais delimitações a essência do
direito à iniciativa económica privada.
Contudo o TC declara que mesmo englobando a publicidade no direito de
informar consagrado na liberdade de expressão e informação também ter-se-á que ter
em conta os seus limites, ou seja, as infracções imputadas ao uso desse mesmo direito
que ficam submetidas aos princípios gerais do direito criminal (art. 37.º, n.º 3 da CRP).

27
CONCLUSÃO

A democracia assenta na liberdade e só com ela é que se desenvolvem


sociedades. Vimos, ao longo deste trabalho, que a liberdade, e também a liberdade de
expressão, evoluiu de direito do indivíduo para um direito da sociedade, desde as
primeiras constituições à actual Lei Fundamental.
Quem limita a liberdade dos outros tenta conformar o pensamento através da
imposição de ideias. A liberdade de expressão é, pois, fundamental e é assegurada
pelos debates de ideias e pensamentos em democracia, dentro dos limites legais.
Sendo tão importante para um Estado de Direito democrático, é consagrada na nossa
Constituição. Mas verificámos também que a liberdade de expressão pode ser
restringida, estando submetida ao às mesmas restrições que os direitos fundamentais,
visto que estes não são absolutos e conhecem limites.
A revisão constitucional de 1982 terá sido, talvez, a das mais importantes
alterações para a liberdade de expressão e informação, por a ter reforçado activamente,
tendo consagrado igualmente o direito de rectificação.
As revisões da Lei Fundamental permitem um maior apuramento da liberdade de
expressão e jurisprudência do Tribunal Constitucional é importante na medida em que
pode, pela sua interpretação, contribuir para o seu reforço constitucional.

28
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SILVA, Augusto Santos – Discurso do Ministro dos Assuntos Parlamentares na sessão


de encerramento. [Em linha]. In CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE
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Disponível em WWW:
http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Minister
ios/PCM/MAP/Comunicacao/Outros_Documentos/20070907_MAP_Int_Sopcom.htm

SOUSA, Marcelo Rebelo de Sousa; ALEXANDRINO, José de Melo, anot. – Constituição


da República Portuguesa comentada. Lisboa: Lex, 2000. 548 p. ISBN 972-9495-91-2.

VITÓRIA, Paulo Renato – Justiça e poder discricionário no Estado democrático de


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Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio
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http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=978 .

Fontes Legislativas

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Abril de 1997.

ACÓRDÃO n.º 348/03 de 8 de Julho de 2003, Diário da República, II série, 20 de


Outubro de 2003.

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Portuguesa: de acordo com a Revisão de 2005. Lisboa: Quid Juris, 2006. 319 p. ISBN
972-724-313-4. p. 209-215.
30
DIÁRIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa,
suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(3, 27, 44, 57, 72, 93). A liberdade de
expressão e informação nos projectos de constituição do CDS, MDP/CDE, PCP, PS,
PPD e UDP.

DIÁRIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, n.º 39, de 28-8-1975, p.1089-1094.

DIÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, 1ª


série, n.º 103, de 16-6-1981, p. 4241.

DIÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa,


suplemento ao n.º 6, reunião de 15-9-1981, p. 70(60) e segs.

DIÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 7.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, 1ª


série, n.º 95, de 16-7-1997, p. 3416 e 3422.

31
ANEXOS

Anexo 1 – A Liberdade de expressão e informação nos vários projectos de constituição para


a CRP.

1.3.1.1. CDS
Nos termos do art. 12.º, “constituem direitos e liberdades individuais do cidadão português
(…) a liberdade de opinião e de expressão do pensamento.”70

1.3.1.2. MDP/CDE
De acordo com o art. 44.º deste projecto de constituição:

1. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de livre expressão do pensamento, sob


qualquer forma.
2. O direito de livre expressão do pensamento não pode, em caso algum, ser invocado
para permitir a divulgação de ideias fascistas, colonialistas ou de qualquer modo
antidemocráticas e contrárias ao processo revolucionário que conduzirá o País ao
socialismo.71

1.3.1.3. PCP
O art. 49.º, sobre a Liberdade de expressão e direito à informação, dispõe que:

1. Todos os cidadãos têm o direito de expressão do pensamento e a liberdade de o


transmitir através da palavra oral ou escrita ou por qualquer outra forma, sem
dependência de autorização ou censura prévias.
2. Todos os cidadãos têm direito à informação. É garantida a liberdade de imprensa.
3. O Estado garante estes direitos promovendo o acesso das massas trabalhadoras e das
suas organizações aos órgãos e meios de comunicação social, efectuando uma profunda
transformação das suas estruturas, de modo a libertá-los do controle monopolista
nacional e estrangeiro, e levando a cabo uma política de informação que esclareça e
consciencialize as massas populares na via de transição para o socialismo.
4. É proibida e considerada como crime a utilização da liberdade de informação e dos
órgãos e meios de comunicação social para a realização de acções contra-
revolucionárias, bem como para apologia do fascismo do colonialismo e do racismo ou
para propaganda belicista devendo a lei prever as sanções adequadas à sua gravidade.
5. A televisão não pode ser objecto de propriedade privada e a lei regulará o regime de
concessão da rádio.72

1.3.1.4. PPD
O art. 20.º dispõe que:

1. Todos têm o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião ou de


crença [...]

70
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(3).
71
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(27).
72
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(44).
32
O art. 21.º determina que:

1. Todos têm o direito de expressar e divulgar livremente os seus pensamentos,


ideias ou informações, por meio da palavra, por escrito e pela imagem, e bem assim a
direito de se informar sem impedimentos nem discriminações junto das fontes de acesso
geral.
2. Em caso algum o exercício deste direito pode ser limitado por qualquer forma de
censura.
3. As infracções decorrentes do exercício deste direito são apenas as previstas na lei
penal geral.73

1.3.1.5. PS
O art. 20.º afirma que:
1. É garantida a liberdade de associação […]
2. A lei reguladora deste direito apenas poderá fazer depender a constituição ou
funcionamento da associação da obrigatoriedade de fazer inscrever num registo de
associações a denominação, o local da sede e a identificação dos corpos sociais que a
dirijam e de depositar um exemplar dos respectivos estatutos, os quais deverão ser
aprovados em assembleia geral ou congresso dos associados, garantindo, na vida interna,
a liberdade de expressão e de crítica e ainda a eleição, por sufrágio direito e secreto de
todos os associados, dos corpos ou quadros sociais.[…]74

1.3.1.6. UDP
O art. 20.º deste projecto de constituição dispõe que “os cidadãos gozam de liberdade de
associação, de expressão, de reunião, de concentração e de manifestação públicas.”75

73
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(72).
74
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(57).
75
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(93).
33

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