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ABORDAGEM CONCEITUAL
RESUMO --- O fenômeno das secas no Nordeste do Brasil sempre foi marcado por inúmeras
discussões. Entretanto, a maioria dessas discussões restringe-se a uma abordagem histórica ou a
uma análise superficial do fenômeno, não adentrando em seu caráter técnico-científico. Em alguns
casos, são abordados aspectos relativos aos seus impactos econômicos e sociais. Neste artigo,
contudo, é descrita uma abordagem conceitual, apresentando os condicionantes climáticos
relacionados ao fenômeno das secas no Nordeste brasileiro, bem como sua variabilidade espacial e
temporal. São tratados aspectos relacionados à definição e classificação de secas, além dos métodos
adequados para sua análise regional integrada.
ABSTRACT --- The phenomenon of drought in northeastern Brazil has always been marked by
numerous discussions. However, most of these discussions has been restricted to a historical
approach or a superficial analysis of the phenomenon, not entering into its technical-scientific
aspects. In some cases, are addressed aspects of their economic and social impacts. In this article,
however, a conceptual approach has been described, weather conditions related to the phenomenon
of drought in northeastern Brazil have been presented, as well its spatial and temporal variability.
Aspects like definition and classification of droughts are also treated, in addition to the methods for
its integrated regional analysis.
_______________________
1) Professor Assistente da Universidade de Fortaleza (licenciado) e Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas – SPO Área 5
Quadra 3 Bloco L, Brasilia – DF, 70610-000. e-mail: masfreitas@ana.gov.br.
Grande parte de nosso planeta pertence à denominada área de risco à seca. São regiões onde o
montante precipitado aproxima-se do limite permitido à prática agrícola. Exemplos são o Sahel, o
Nordeste do Brasil, grande área da China, o platô Dekkan, na Índia, e parte da África do Sul.
Tratam-se, portanto, de áreas de enorme vulnerabilidade para a agricultura. As maiores perdas
agrícolas verificam-se devido à escassez de umidade do solo, notadamente durante a fase de
crescimento vegetativo das culturas (Lauer, 1993).
Nas décadas mais recentes aparentemente as secas têm se apresentado com uma freqüência e
uma intensidade cada vez maiores em grande parte dos países, o que pode estar relacionado ao
fenômeno das mudanças climáticas. Consideráveis áreas das Américas do Norte e do Sul, Austrália,
Europa e Ásia foram atingidas por secas extremas, acarretando relevantes prejuízos econômicos,
sociais e ecológicos. Na Austrália, por exemplo, no período de cerca de 100 anos, compreendendo
de 1864 a 1965, oito períodos de secas extremas foram registrados, os quais, em média,
apresentaram uma duração de cinco anos. As secas de longa duração ocorridas no México, que
atingiram mais de 60% da superfície do país, apresentaram um desvio negativo em relação ao total
médio anual precipitado maior do que 30% (Sancho y Cervera, 1981). No Nordeste do Brasil, os
últimos períodos de secas foram os de 1981 a 1983, de 1992 a 1993 e o ano de 2002 a 2003.
O Nordeste Brasileiro é caracterizado por larga variação interanual de sua precipitação
(Magalhães, 1993). Períodos de secas extremas trazem como conseqüências fome e êxodo da
população rural, essencialmente agrícola, preponderantemente em direção ao sul do País (década de
70 e 80) ou em direção às grandes metrópoles do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador),
localizadas no litoral (a partir da década de 90). O denominado "Polígono das Secas" cobre uma
área de cerca de 940.000 km², envolvendo partes de quase todos os estados do Nordeste. Sendo a
agricultura ainda a base da economia da região, períodos prolongados de secas reduzem a umidade
do solo, acarretando enormes perdas às culturas. A perfeita compreensão do fenômeno das secas
faz-se, portanto, extremamente necessária para o uso sustentável dos limitados recursos hídricos da
região. Além disso, estudos para a melhoria da previsão de secas, com base nos dados
hidrometeorológicos disponíveis, e em tempo hábil, de forma a que as medidas a serem tomadas no
sentido de minorar seus efeitos possam ser efetivamente implementadas, são de grande valia para a
região Nordeste do Brasil.
Marengo (2006), assim como Salati et al. (2007) realizaram estudos dos impactos das
mudanças climáticas globais para diversas áreas do território brasileiro, como Amazônia Brasileira,
Nordeste Brasileiro, Pantanal e Bacia do Prata, evidenciando as anomalias de chuva e temperatura,
assim como balanço hídrico para o século XXI. O semi-árido Nordestino que apresenta curta,
A região Nordeste do Brasil caracteriza-se por possuir em sua grande parte clima típico de
semi-árido, onde se localiza o denominado "Polígono das Secas". Essa região prolonga-se, em
termos de latitude, desde a costa norte do Nordeste do Brasil até o norte de Minas Gerais, passando,
em termos longitudinais, desde a costa oeste até o Estado do Piauí.
O Polígono das Secas sofre periodicamente de secas extremas, que ocasionam à região efeitos
catastróficos à frágil estrutura agrária e industrial. Apesar dos avanços registrados nos últimos nas
atividades industriais e turísticas, em termos de emprego de mão-de-obra, a economia dessa região
ainda é muito dependente do setor agrário, com o agravante aspecto de que menos do que 3% do
total de área agricultável da região é irrigada, e, portanto, muito susceptível à um possível déficit de
precipitação. Isso significa que, em época de secas moderadas a extremas há um grande fluxo de
migrantes em direção às grandes cidades da região Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza). Essa
situação leva a um enorme aumento da população dessas regiões metropolitanas (com cerca de 2
milhões de habitantes, cada), o que acarreta uma crescente necessidade de fornecimento de água
com boa qualidade, de esgotamento sanitário, de geração de emprego e renda, de combate à
criminalidade, dentre outros problemas.
O Nordeste brasileiro é um exemplo típico de região, onde a maioria da população é muito
sensível às mudanças climáticas. Na maior parte do Nordeste do Brasil reina um uso agrícola muito
dependente da sazonalidade da precipitação. Por isso, um ponto de vital importância é a
determinação o mais precisa possível do início do período chuvoso na região, posto que o plantio
das culturas agrícolas costuma se dar um pouco antes disso. Visto que o início do período chuvoso
varia de ano para ano em até mais de um mês, essa variação sazonal de precipitação, bem como
uma errônea determinação desse início pode ser fatal para a agricultura.
400
350 Ano Seco 1957
300 Média Mensal
Prec. (mm)
Figura 1 – Precipitação média mensal em anos tipicamente seco e úmido, comparados a média de
longo prazo para o posto Mombaça (Ceará).
O sistema de ventos alísios, de ambos os lados do Equador, até cerca de 30 a 35º de latitudes
sul e norte, é o sistema de ventos reinante na região dos trópicos. Os alísios sopram no hemisfério
norte na direção Nordeste e no hemisfério sul, na direção sudeste. Na zona equatorial dar-se esse
encontro. A essa região de convergência dar-se o nome de Zona de Convergência Inter-Tropical
(ZCIT).
A denominação “El Niño” significa “A Criança”, ou seja, uma referência ao menino Jesus e a
data onde ocorre, normalmente, o fenômeno, que é próximo ao Natal. Essa denominação foi dada
pelos pescadores de anchovas da costa peruana e equatoriana do Pacífico Sul. Com isso, em
tempos normais dar-se um transporte de água fria, rica em nutrientes necessários aos peixes e na
ocorrência do fenômeno do “El Niño” dar-se, ao contrário, um aquecimento da água, com
conseqüente redução da carga de nutrientes próxima à costa. Esse fenômeno pode durar vários
meses, e em anos específicos, chegar a durar mais de um ano, provocando alterações no balanço
climático e hídrico.
Na costa do Peru dá-se, então, uma quebra desde a cadeia biológica de microorganismos até
uma vulnerabilidade nas atividades humanas. Quando a concentração de sais na água aumenta, há
mortes de microorganismos e os cardumes migram. Isso, por sua vez, influencia a imensa colônia
de pássaros marinhos, que em grande escala morrem ou abandonam um longo trecho de
Para ter uma visão sobre a variabilidade de longo prazo da precipitação Freitas (1996)
selecionou 30 postos pluviométricos do Estado do Ceará (Nordeste do Brasil) para uma análise do
Para uma análise detalhada da problemática da seca faz-se necessário abordar os seguintes
aspectos:
I) definição e classificação de uma seca;
II) identificação das causas meteorológicas a partir dos dados históricos e o
desenvolvimento de modelos de previsão de secas;
a) seca meteorológica: essa categoria de seca é normalmente caracterizada por um grau de secura
(severidade) e duração de um período seco, ambos relacionados à precipitação. Trata-se, portanto,
na maioria das vezes – com base em condições atmosféricas regionais – de uma definição local,
onde através de um determinado patamar determina-se a diferenciação entre os eventos de seca e
não-seca, baseando-se na experiência local. Usa-se freqüentemente a precipitação média de longo
termo para esse fim. Gibbs & Maher (1967) pesquisaram o uso dos quantis de precipitação para a
classificação de secas na Austrália. É usual utilizar os quantis 50% e 75%, para a classificação em
anos de seca “muito extrema” e “extrema”, respectivamente. Uma outra metodologia também
bastante empregada é o uso de um índice de anomalia a precipitação, como os apresentados por
Lamb et al. (1986) e Hastenrath (1987).
Embora haja inúmeras definições do fenômeno de seca na literatura especializada, para uma
análise apropriada do fenômeno das secas devem ser observados os seguintes aspectos (Dracup et
al., 1980a):
I) qual é o interesse primário na análise (precipitação, vazão ou umidade do solo)?
II) qual o intervalo de discretização do tempo será empregado (mês, estação ou ano)?
III) como se distinguirá em uma série de tempo um evento de seca de um outro?
IV) como serão considerados os aspectos regionais de evento de seca?
Decisivo em uma análise do fenômeno da seca é a escolha do tipo de déficit de água em que
se queria focar na investigação. Para tanto, pode-se estimar o déficit de água com base na
precipitação, na vazão, na umidade do solo ou numa combinação dessas variáveis. Embora todas
essas variáveis sejam importantes na análise de um evento de seca, dependendo do objetivo que se
queira atingir com o estudo ou pesquisa, pode-se restringir a apenas um desses aspectos.
Por outro lado, as séries de vazões mensais devem ser empregadas nos seguintes estudos ou
pesquisas: 1) análise da periodicidade dos parâmetros das séries de tempo; 2) análise da
5 – CONCLUSÕES
Para a perfeita compreensão das secas, no Nordeste do Brasil, diversos aspectos merecem
destaque, tais como os condicionantes climáticos relacionados ao fenômeno, assim como a
definição e a classificação de secas. Esses aspectos são de fundamental importância para a adequada
escolha do método de análise regional integrada a ser empregada nos estudos do fenômeno.
BIBLIOGRAFIA