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CURVAS DE AVERSÃO AO RISCO PARA OS RESERVATÓRIOS

ARMANDO RIBEIRO GONÇALVES E CUREMAS-MÃE D´ÁGUA

Marcos Airton de Sousa Freitas1 & Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho2

RESUMO --- O presente artigo trata da apresentação de proposta de metodologia denominada


Curva de Aversão ao Risco – CAR, bem como as sugestões relativas à operação dos reservatórios
Armando Ribeiro Gonçalves e Curemas-Mãe D´água, visando subsidiar à denominada Alocação
Negociada de Águas, na área de influência dos mesmos, no âmbito do processo de regularização
dos usos de recursos hídricos na bacia hidrográfica dos rios Piranhas-Açu, compreendendo parte
dos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Os reservatórios Armando Ribeiro Gonçalves e
Curemas-Mãe D´água são os dois maiores reservatórios de regularização de vazão da bacia
hidrográfica e são responsáveis pelo atendimento de cerca de 26 m³/s para os diversos usos.

ABSTRACT --- The present article deals with the presentation of proposal of the so-called
methodology of Aversion to Risk Curve - CAR, as well as the relative suggestions to the operation
of the Armando Ribeiro Gonçalves and Curemas-Mother D´água reservoirs, aiming at to subsidize
to the called Negotiated Water Allocation, in the area of influence of the same ones, in the scope of
the process of regularization of the water resources uses in the Piranhas-Açu river basin, part of the
states of the Paraíba and Rio Grande do Norte. The Armando Ribeiro Gonçalves and Curemas-
Mother D´água reservoirs are the two bigger reservoirs of outflow regularization of the river basin
and are responsible for the attendance of about 26 m³/s for diverse uses.

Palavras-chave: curva de aversão ao risco, operação de reservatórios, alocação de água.

_______________________
1) Professor da Universidade de Fortaleza, CE. Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas, SPO Área 5 Quadra 3 Bloco L,
Brasília, DF, 70610-200. e-mail: masfreitas@ana.gov.br.
2) Superintendente de Usos Múltiplos da Agência Nacional de Águas, SPO Área 5 Quadra 3 Bloco L, Brasília, DF, 70610-200. e-mail:
joaquim@ana.gov.br.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1


1 - INTRODUÇÃO

O presente artigo trata da apresentação de proposta de metodologia denominada Curva de


Aversão ao Risco – CAR, bem como as sugestões relativas à operação dos reservatórios Armando
Ribeiro Gonçalves e Curemas-Mãe D´água, visando subsidiar à denominada Alocação Negociada
de Águas, na área de influência dos mesmos, no âmbito do processo de regularização dos usos de
recursos hídricos na bacia hidrográfica dos rios Piranhas-Açu, compreendendo parte dos estados da
Paraíba e Rio Grande do Norte.

1.1 – Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves

O Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, com capacidade máxima de 2,4 milhões de


metros cúbicos, barra o rio Piranhas-Açu, no Estado do Rio Grande do Norte, estando localizado a 6
Km a montante da cidade de Açu. A Figura 1 mostra a Bacia do rio Piranhas-Açu.

Figura 1 – Bacia Hidrográfica dos rios Piranhas-Açu.

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A importância do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, sobretudo pelos montantes
hídricos envolvidos, é evidenciada no Plano de Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do
Norte e nos estudos do Projeto de Integração da bacia do Rio São Francisco – PISF. Dentre
diversos outros usos, o reservatório Armando Ribeiro Gonçalves serve de suprimento de água ao
Projeto de Irrigação do Baixo Açu e de diversas cidades, entre as quais Mossoró.

1.2 – Reservatório Curema-Mãe D´água

O Sistema Curema-Mãe D´água, formado pela junção das águas dos açudes Curema e Mãe-
Dágua, está localizado no município de Piancó, estado da Paraíba, a cerca de 400 Km da capital,
João Pessoa. A Figura 1 mostra a bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu, com a localização do
sistema de reservatórios Curema-Mãe-Dágua (ARAÚJO, 1990).
A importância estratégica dos reservatórios Curema-Mãe-D´água, sobretudo pelos montantes
hídricos envolvidos, é evidenciada tanto no Plano de Recursos Hídricos do Estado da Paraíba,
quanto nos estudos do Projeto de Integração da bacia do Rio São Francisco – PISF. Dentre os
diversos usos, o reservatório serve de suprimento de água para o abastecimento humano, a irrigação
e a piscicultura, além de gerar energia elétrica.

2 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2.1 – Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves

De acordo com informações obtidas junto ao Departamento Nacional de Obras Contra as


Secas – DNOCS, a disposição geral das estruturas inclui uma barragem de terra fechando o vale em
um boqueirão suave, com um comprimento total de 2.553 m até a posição onde se encontram os
elementos extravasares, compostos de um vertedouro principal (ou vertedouro de serviço), dois
diques transbordáveis e um dique fusível com três células separadas estrategicamente. O conjunto
se completa com uma tomada d'água em túnel, com extensão de 165 m, situada na margem direita
(Figura 2).
A construção da barragem foi iniciada em 1979 pela Construtora Andrade Gutierrez S.A. Em
dezembro de 1981 houve um acidente resultante do escorregamento do talude de montante. O
projeto foi refeito e a construção continuada em ritmo acelerado até a sua conclusão em 1983.
A Nota Técnica nº 414/SOC apresenta os principais pontos e conclusões dos trabalhos
realizados ao longo de um ano (junho de 2003 a julho de 2004) entre a Agência Nacional de Águas
- ANA, os órgãos gestores de recursos hídricos dos Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, o
DNOCS e outras entidades. O objetivo principal dessa articulação institucional foi dar início a um
Plano de Regularização e Ordenamento dos Usos dos Recursos Hídricos da Bacia do Rio Piranhas-

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Açu, notadamente no eixo que vai do açude Curema-Mãe D’Água até a foz do rio Piranhas-Açu na
cidade de Macau – RN, denominado Sistema Curema-Açu.
A Nota Técnica nº 436/SOC tem caráter complementar à Nota Técnica nº 414/SOC e teve por
objetivo apresentar os resultados da análise dos dados obtidos do cadastro dos usuários da bacia do
rio Piranhas-Açu, nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Em conformidade com a Nota
Técnica nº 436/SOC a demanda total dos usuários diretamente do reservatório Armando Ribeiro
Gonçalves e à jusante do mesmo é da ordem de 10,8 m³/s.
Em levantamento feito pelos órgãos estaduais setoriais no âmbito do Marco Regulatório
identificou-se uma demanda potencial total, no entorno e no trecho à jusante do reservatório, para
um horizonte de 10 anos (2014), da ordem de 18,0 m³/s. Cabe frisar que esse montante refere-se a
um valor médio, tendo-se obviamente de se levar em consideração à existência de sazonalidade.

2.2 – Reservatório Curema-Mãe D´água

De acordo com informações coletadas no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –


DNOCS, a bacia de captação do sistema mede cerca 8.000 km2, sendo formada pelos rios Piancó e
Aguiar. O conjunto Curema-Mãe D`Água justifica-se como obra regularizadora do rio Açu,
indispensável ao estabelecimento das obras de irrigação no baixo vale.
A regularização do rio Piancó, obtida mediante uma certa descarga, mais ou menos
constante no Curema, fez surgir o aproveitamento total ou parcial do potencial hídrico assim
desenvolvido. Um determinado volume foi desviado para as várzeas de Souza, completando dessa
forma as possibilidades de irrigação do sistema do Alto Piranhas (ARAÚJO, 1990).
Foi, então, necessário encarar a elevação d`água, pois as cotas dos leitos dos rios boqueirões
do Curema e do Mãe D`Água são mais baixas do que a cota respectivas no boqueirão do São
Gonçalo, açude distribuidor, por excelência, do sistema de irrigação do Alto Piranhas, do qual
também faz parte, como reservatório alimentador, o Açude Piranhas, construído para 255 milhões
de m³.
A elevação é feita por meio de um sistema turbogerador-eletro-bomba, instalando-se o
turbogerador no Açude Curema e a eletrobomba no Mãe D'Água. A água é elevada
aproximadamente da cota 207,00 para a 249,00 e lançada no "São Gonçalo" à cota 235,50, após um
percurso estimado em cerca de 45 km, dos quais 30 km em canal aberto e o restante em túnel. E
dessa forma, os 20.000 hectares da várzea de Souza, além da água fornecida pelos Açudes São
Gonçalo e Piranhas, têm o concurso do conjunto Curema-Mãe D'Água. Ao todo são quatro
reservatórios com a capacidade global de 1.660 milhões de metros cúbicos (Figura 2).
O início da construção da barragem do Curema data de 1939, com a instalação do laboratório
de solos e estudos geotécnicos das jazidas. Em 1942 as obras foram totalmente concluídas.

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De acordo com a Nota Técnica no 414/SOC, a usina hidrelétrica existente no açude Curema
pertence à Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF e interfere significativamente nas
vazões do rio Piancó e do rio Piranhas até o açude Armando Ribeiro Gonçalves.
Segundo a Nota Técnica nº 414/SOC, foram cadastrados 1640 usuários no Estado da Paraíba e
1044 no Rio Grande do Norte, no Sistema Curema-Açu (total de 2684 usuários cadastrados), e seus
dados foram armazenados em banco de dados, totalizando 16,99 m3/s de captação. Desses 16,99
m3/s, 5,23 m3/s são atendidos pelo açude Curema-Mãe D’Água, enquanto 11,76 m3/s são atendidos
pelo açude Armando Ribeiro Gonçalves.
Cabe frisar que esse montante refere-se a um valor médio, tendo-se obviamente de se levar em
consideração à existência de sazonalidade.

3 – MATERIAIS E MÉTODOS

Pela Lei n° 9.984, de 17 de julho de 2000, cabe à ANA, entre suas atribuições, definir e
fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando a
garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos
das respectivas bacias hidrográficas.
No caso específico da alocação de água do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, pela sua
importância, está sendo proposta a adoção de uma metodologia baseada em curvas de aversão ao
risco de racionamento. O mecanismo proposto consiste no emprego de Curvas Bianuais de Aversão
ao Risco – CAR para o referido reservatório, as quais estabelecem níveis de água armazenada, em
base mensal, adotados como referência de segurança para o atendimento às demandas.

3.1 – Metodologia Proposta de Alocação de Água

A operação de reservatórios baseada nas Curvas de Aversão ao Risco é orientada por uma
distribuição de probabilidade das vazões afluentes ao sistema de reservatórios e é útil para
determinar a alocação da água entre os usuários com diferentes garantias de atendimento.
A análise das garantias de atendimento fornecidas pelo reservatório pode ser feita num
horizonte de longo prazo ou de curto prazo. A análise de longo prazo utiliza toda a série de dados,
seja histórica ou estocástica, é afetada por períodos seqüenciais críticos de vazões e são
independentes das condições iniciais de armazenamento. A análise de curto prazo é radicalmente
dependente das condições iniciais de armazenamento e normalmente é feita utilizando períodos
críticos típicos selecionados dentro de toda á série de dados ou de uma distribuição de
probabilidade.
Uma Curva de Aversão ao Risco para um único reservatório é obtida pela solução da equação
da continuidade, que ao longo de um intervalo de tempo ∆t é dada conforme segue.

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Vf= Vi + Ve + Vr – Vp (1)
Em que: a) Vi e Vf são os volumes armazenados no reservatório respectivamente no início e
no fim de um intervalo de tempo (hm³/mês); b) Ve é o volume de água que entra no reservatório
(hm³/mês); c) Vr é o volume de água retirado para atendimento dos diversos usos (hm³/mês); d) Vp
é o volume relacionado às perdas do reservatório (usualmente por evaporação e infiltração)
(hm³/mês).
Uma maneira de utilizar a Curva de Aversão ao Risco para operação é predefinir o volume
com que se deseja chegar ao final de um ano e calcular as curvas para diferentes probabilidades de
ocorrência das vazões afluentes e para níveis preestabelecidos das demandas. Desta forma, o
modelo determina os volumes iniciais (Equação 2) que o sistema de reservatórios teria no início do
ano para satisfazer as condições especificadas.
Vi = Vf – Ve + Vr + Vp (2)
As premissas adotadas na construção das Curvas Bianuais de Aversão ao Risco – CAR para o
Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves são as listadas a seguir.
Premissas: a) Garantia de níveis mínimos de segurança para o armazenamento: Foi
considerada a necessidade de garantir um nível mínimo de segurança de 20% do volume útil do
reservatório, que corresponde a 432,80 hm3. Esse valor foi fixado considerando a importância do
reservatório para a região, além da redução do risco no caso de condições hidrológicas críticas na
transição do período seco para o úmido; b) para as afluências foi adotada a repetição do biênio mais
desfavorável do histórico – 1931/32; c) para as defluências foram fixados valores de vazões de
retirada do reservatório, variando de 5,4 m3/s a 18m3/s; d) Posto que o reservatório encontra-se em
região semi-árida sujeita à intensa evaporação, foram consideradas as perdas devido à evaporação
do reservatório e os ganhos de vazão devido à chuva direta sobre o reservatório (evaporação
líquida); e) Volumes de espera: Não foram consideradas restrições nas acumulações máximas para
proteção contra enchentes das comunidades de jusante.
A seguir, são listadas as premissas adotadas na construção das Curvas Bianuais de Aversão ao
Risco – CAR para o Reservatório Curema-Mãe D´água.
Premissas: a) Garantia de níveis mínimos de segurança para o armazenamento: Foi
considerada a necessidade de garantir um nível mínimo de segurança de 20% do volume útil do
reservatório, que corresponde a 263,36 hm3. Esse valor foi fixado considerando a importância do
reservatório para a região, além da redução do risco no caso de condições hidrológicas críticas na
transição do período seco para o úmido; b) para as afluências foi adotada a repetição do biênio mais
desfavorável do histórico – 1958/59; c) para as defluências foram fixados valores de vazões de
retirada do reservatório, variando de 2,0 m3/s a 8,0 m3/s; d) Posto que o reservatório encontra-se em
região semi-árida sujeita à intensa evaporação, foram consideradas as perdas devido à evaporação

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do reservatório e os ganhos de vazão devido à chuva direta sobre o reservatório (evaporação
líquida); e) Volumes de espera: Não foram consideradas restrições nas acumulações máximas para
proteção contra enchentes das comunidades de jusante.

3.2 - Disponibilidade Hídrica incremental ao reservatório Armando Ribeiro Gonçalves

A caracterização da disponibilidade hídrica do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, no


que concerne ao presente artigo, será feita com base na série de vazão média mensal incremental
afluente ao reservatório, compreendendo o período 1931-1990. Ou seja, não são considerados os
vertimentos e liberações de vazões oriundos dos reservatórios à montante.
A vazão média mensal incremental afluente de longo termo é, para o reservatório Armando
Ribeiro Gonçalves, da ordem de 54,25 m3/s. A vazão média mensal incremental afluente de longo
termo é, para o reservatório Curema-Mãe D´água, da ordem de 28,63 m³/s.
Da curva de permanência da vazão média anual incremental afluente, que estabelece o
percentual da série histórica em que uma determinada vazão foi superada ou igualada, são
observados os valores correspondentes às permanências de 10%, 50%, 90%, 95% e 100%.
Ilustrativamente, do Quadro 1 obtém-se, para o reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, que em
50% do tempo a vazão média anual incremental supera 33,35 m3/s, enquanto que em 90% do tempo
a vazão média anual incremental é maior ou igual a 3,43 m3/s.

Quadro 1 – Valores de referência das curvas de permanência de vazões médias anuais


afluentes (m³/s).
P(Qi>Q)
Reservatórios 10% 50% 90% 95% 100%
Armando Ribeiro Gonçalves 133,76 33,35 3,43 2,52 0,50
Curema_Mãe Dágua 64,10 18,50 3,70 2,40 0,70

3.3 - Simulação da operação do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves e Curema-Mãe


D´água

Para a simulação da operação do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, assim como do


sistema Curema-Mãe D´água, localizados na bacia do rio Piranhas-Açu, visando determinar a
alocação de água, utilizou-se o modelo AcquaNet, que é um modelo de domínio público,
desenvolvido no Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo - USP, a partir do modelo ModSim da Colorado State University. Nesse
modelo, do tipo denominado rede de fluxo, a topologia do sistema é representada por uma
seqüência de arcos e nós, em que os primeiros representam estruturas de condução de água e os
demais representam singularidades típicas destes sistemas, tais como reservatórios, confluências,
pontos de demanda, bombeamentos, etc. (USP-LabSid, 2002).
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Um arco é caracterizado por três parâmetros, a saber: os limites superior e inferior do fluxo
que passa pelo arco e um “custo” por unidade de fluxo que transita pelo arco. Cada nó é
caracterizado pela estrutura a qual representa (reservatório, ponto de demanda, etc). Para cada
reservatório, por exemplo, devem ser fornecidos a curva cota-área-volume, os volumes máximo e
mínimo, os níveis de armazenamento que se deseja atingir (meta), a taxa de evaporação, etc. O
AcquaNet usa um algoritmo de otimização, o qual é empregado com bastante freqüência em
modelos de rede de fluxo, denominado de “método out-of-kilter”.
Com o emprego do AcquaNet pode-se obter regras mensais de operação para os
reservatórios, ou seja, gerar planos operacionais a fim de satisfazer metas, prioridades e limitações
específicas do sistema. Além disso, é possível avaliar relações de compromisso (trade-offs) entre
usos conflitantes durante períodos de disponibilidade deficiente de água.
Empregou-se neste artigo o módulo de Curva de Aversão ao Risco – CAR do sistema
AcquaNet. No Quadro 2 são apresentados os volumes mínimos e máximos do reservatório
Armando Ribeiro Gonçalves e Curema-Mãe D´água. A Figura 3 mostra as curvas cota-área e cota-
volume do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves.

Figura 3 – Curva Cota-Área e Cota-Volume do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves.

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Quadro 2 – Volumes mínimos e máximos dos reservatórios Armando Ribeiro Gonçalves e Curema-
Mãe D´água, localizados na bacia do rio Piranhas-Açu.

Volume (hm³)
Reservatórios Volume mínimo Volume máximo Volume útil
Armando Ribeiro Gonçalves 236,0 2400,0 2164,0
Curema-Mãe Dágua 41,9 1358,7 1316,8

Quadro 3 – Vazões regularizadas para diversas garantias.

RESERVATÓRIO Q100% (m³/s) Q95% (m³/s) Q90% (m³/s) Q85% (m³/s)


Armando R. Gonçalves 16 17,8 19,4 20,8
Curemas - Mãe D'água < 9,0 9,52 10,51 11,05
Fonte: Relatório de Operação Integrada dos Açudes - TOMO I.; IR. V/G. RT. GH. 003. Ministério
da Integração Nacional, Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica. Março/2000.

O Quadro 3 apresenta as vazões regularizadas, para diversas garantias, segundo estudos da


Transposição de águas do rio São Francisco, realizados pelo Ministério da Integração Nacional.

4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 - Obtenção das Curvas Bianuais de Aversão ao Risco – CAR para o Reservatório
Armando Ribeiro Gonçalves

Com base nas premissas explicitadas, foram determinados os armazenamentos mínimos


mensais necessários para atender cada vazão defluente (demanda) total fixada para o reservatório,
de modo que, na hipótese de repetição das afluências do biênio 1931/32 (biênio mais crítico do
histórico), o armazenamento do reservatório em nenhum mês do biênio fosse inferior ao seu nível
mínimo de segurança (20% do volume útil).

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9


Curva de Aversão a Risco
Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves
100.0
97.5
95.0
Q = 5,4 m³/s
92.5
90.0 Q = 7,2 m³/s
87.5
85.0
82.5 Q = 9,0 m³/s
80.0
77.5
75.0
Q = 10,8 m³/s
72.5
70.0 Q = 12,6 m³/s
67.5
65.0 Q = 14,4 m³/s
% Volume Útil

62.5
60.0
57.5
55.0
Q = 16,2 m³/s
52.5
50.0 Q = 18,0 m³/s
47.5
45.0
42.5
40.0
37.5
35.0
32.5
30.0
27.5
25.0
22.5
20.0
17.5
15.0
12.5
10.0
7.5
5.0
2.5
0.0
1-jan

1-fev

1-mar

1-abr

1-mai

1-jun

1-jul

1-ago

1-set

1-out

1-nov

1-dez

1-jan

1-fev

1-mar

1-abr

1-mai

1-jun

1-jul

1-ago

1-set

1-out

1-nov

1-dez
Figura 4 – Curvas Bianuais de Aversão ao Risco do Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves.

Dessa forma, foi obtida uma família de Curvas Bianuais de Aversão a Risco do reservatório
Armando Ribeiro Gonçalves, para cada vazão de retirada fixada, apresentada na Figura 4.
Utilizando-se dos resultados obtidos para o primeiro ano dessas Curvas, para cada mês do ano,
podem ser obtidas as curvas que indicam a vazão máxima de retirada total em função do nível de
armazenamento, em termo de volume útil, a ser praticada de forma que o nível mínimo de
segurança seja obedecido, olhando um horizonte de, no mínimo, um ano para frente.

Época recomendada para a RESERVATÓRIO ARMANDO RIBEIRO GONÇALVES


Alocação Negociada de Águas CURVAS DE AVERSÃO AO RISCO

100 2006
2004
90

80
1999 1998
70 2005
2002
VOLUME ÚTIL (%)

60
2003
2001
50

40

30 Q = 5,4 m³/s Q = 7,2 m³/s


Q = 9,0 m³/s Q = 10,8 m³/s
20
Q = 12,6 m³/s Q = 14,4 m³/s

10 Q = 16,2 m³/s Q = 18,0 m³/s

0
1/1/ano 1

1/2/ano 1

1/3/ano 1

1/4/ano 1

1/5/ano 1

1/6/ano 1

1/7/ano 1

1/8/ano 1

1/9/ano 1

1/10ano 1

1/11/ano 1

1/12/ano 1

1/1/ano 2

1/2/ano 2

1/3/ano 2

1/4/ano 2

1/5/ano 2

1/6/ano 2

1/7/ano 2

1/8/ano 2

1/9/ano 2

1/10ano 2

1/11/ano 2

1/12/ano 2

Figura 5 – Curvas Anuais de Aversão ao Risco e Volumes Históricos do Reservatório Armando


Ribeiro Gonçalves.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10


Na Figura 5 também são apresentados os volumes históricos de armazenamento do
reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, para o mês de junho, após o período chuvoso na região,
época recomendada para a Alocação Negociada de Água, a partir das demandas solicitadas para os
diversos usos no período seco do ano, ou seja, no segundo semestre.
Dessa mesma forma, foi obtida uma família de Curvas Bianuais de Aversão a Risco do
sistema Curema-Mãe D´água, para cada vazão de retirada fixada, apresentada na Figura 6. Na
Figura 7 também são apresentados os volumes históricos de armazenamento do sistema Curema-
Mãe D´água, para o mês de junho, após o período chuvoso na região, época recomendada para a
Alocação Negociada de Água, a partir das demandas solicitadas para os diversos usos no período
seco do ano, ou seja, no segundo semestre.

Curva de Aversão ao Risco


Reservatório Curemas-Mãe D´água
100,0
97,5
95,0
92,5 Q = 2,0 m³/s
90,0
87,5
85,0
Q = 3,0 m³/s
82,5
80,0 Q = 4,0 m³/s
77,5
75,0
72,5 Q = 5,0 m³/s
70,0
67,5
65,0
Q = 6,0 m³/s
% Volume Útil

62,5
60,0 Q = 7,0 m³/s
57,5
55,0
52,5 Q = 8,0 m³/s
50,0
47,5
45,0
42,5
40,0
37,5
35,0
32,5
30,0
27,5
25,0
22,5
20,0
17,5
15,0
12,5
10,0
7,5
5,0
2,5
0,0
1-jan

1-fev

1-mar

1-abr

1-mai

1-jun

1-jul

1-ago

1-set

1-out

1-nov

1-dez

1-jan

1-fev

1-mar

1-abr

1-mai

1-jun

1-jul

1-ago

1-set

1-out

1-nov

1-dez

Figura 6 – Curvas Bianuais de Aversão ao Risco do Reservatório Curemas-Mãe D´água.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11


Época recomenda para a
Alocação Negociada de Águas RESERVATÓRIO CUREMAS-MÃE D´ÁGUA
CURVAS DE AVERSÃO AO RISCO

100
2006 2004
90

2005
80

2002
70
2000
1998 2003
VOLUME ÚTIL (%)

60

1999
50
2001

40

30 Q = 2,0 m³/s Q = 3,0 m³/s


Q = 4,0 m³/s Q = 5,0 m³/s
20
Q = 6,0 m³/s Q = 7,0 m³/s

10 Q = 8,0 m³/s

0
1/1/ano 1

1/2/ano 1

1/3/ano 1

1/4/ano 1

1/5/ano 1

1/6/ano 1

1/7/ano 1

1/8/ano 1

1/9/ano 1

1/10ano 1

1/11/ano 1

1/12/ano 1

1/1/ano 2

1/2/ano 2

1/3/ano 2

1/4/ano 2

1/5/ano 2

1/6/ano 2

1/7/ano 2

1/8/ano 2

1/9/ano 2

1/10ano 2

1/11/ano 2

1/12/ano 2
Figura 7 – Curvas Anuais de Aversão ao Risco e Volumes Históricos do Reservatório Curemas-
Mãe D´água.

5 – CONCLUSÕES

No presente artigo é apresentada a metodologia baseada em curvas de aversão ao risco de


racionamento. O mecanismo proposto consiste no emprego de Curvas Bianuais de Aversão ao
Risco – CAR para o reservatório Armando Ribeiro Gonçalves e Curema-Mãe D´água, as quais
estabelecem níveis de água armazenada, em base mensal, adotados como referência de segurança
para o atendimento às demandas.
A operação de reservatórios baseada nas Curvas de Aversão ao Risco é orientada por uma
distribuição de probabilidade das vazões afluentes ao sistema de reservatórios e é útil para
determinar a alocação da água entre os usuários com diferentes garantias de atendimento.
Essa alocação foi estabelecida com base na elaboração de Curvas de Aversão ao Risco –
CAR, considerando o biênio mais desfavorável do histórico, 1931/32, para o reservatório Armando
Ribeiro Gonçalves e o biênio 1958/59, para o sistema Curema-Mãe D´água, tendo como premissa a
necessidade do estabelecimento de regras claras e de um modelo simples e de fácil compreensão.
Cabe ressaltar que os reservatórios foram analisados isoladamente, devido ao fato de se querer
analisá-lo durante o período crítico, onde não há vertimentos dos reservatórios à montante.

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É importante ainda frisar que na Curva de Aversão ao Risco trata-se de valores médios
mensais, tendo necessariamente que se levar em consideração a sazonalidade das demandas na
época da alocação, que ocorre, em geral, no mês de junho.
A técnica de operação baseada em Curvas de Aversão ao Risco apresentada neste artigo
possui os atributos desejados, a saber: a) é de fácil entendimento, determinação, implementação e
acompanhamento; b) permite incorporar componentes probabilísticas ao processo decisório; c)
permite antever o comportamento do sistema ao longo de um horizonte de operação; d) permite
adotar medidas adaptativas ou corretivas com antecedência suficiente para evitar crises agudas e/ou
conflitos de administração muito difícil.
Finalmente, a metodologia proposta requer, necessariamente, uma discussão sobre as
premissas utilizadas com os órgãos gestores e usuários, antes da sua efetiva aplicação na Alocação
Negociada das Águas do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves.

BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, J. A. A. (1990). Barragens no Nordeste do Brasil; experiência do DNOCS em barragens
na região semi-árida. 2. ed. Fortaleza, DNOCS, 328p.

http://www.dnocs.gov.br/~dnocs/doc/canais/barragens/Barragem%20do%20Rio%20Grande%20do
%20Norte/acu.htm

NOTA TÉCNICA no 414/SOC (2004). Marco Regulatório da bacia do rio Piranhas-Açu, 15p.

NOTA TÉCNICA n.º 436/SOC (2004). Análise de consistência dos dados de cadastro dos usuários
de água do sistema Curema-Açu, 9p.

Relatório de Operação Integrada dos Açudes - TOMO I.; IR. V/G. RT. GH. 003. (2000). Ministério
da Integração Nacional, Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica.

USP-LABSID (2002). AcquaNet – Modelo para Alocação de Água em Sistemas Complexos de


Recursos Hídricos. Manual do Usuário. São Paulo:USP.

Quadro 4 – Símbolos utilizados.


Símbolo Significado Dimensão
Vf Volume armazenado no reservatório no fim de um intervalo de [L³.T-1]
tempo
Vi Volume armazenado no reservatório no início de um intervalo [L³.T-1]
de tempo
Ve Volume de água que entra no reservatório [L³.T-1]
Vr Volume de água retirado para atendimento dos diversos usos [L³.T-1]
Vp Volume relacionado às perdas do reservatório [L³.T-1]

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