A propósito de “ A educação sexual e D. Afonso Henriques” – Pe.
Gonçalo Portocarrero de Almada
1. Agradeço à direcção do «Público» a gentileza de ter dado à estampa dois
textos da minha autoria, dando assim um corajoso exemplo da liberdade e do pluralismo de opinião desta publicação. Agradeço também aos muitos leitores que me felicitaram por motivo destes artigos, bem como aos que manifestaram a sua discordância e que igualmente merecem toda a minha estima e consideração. Bem hajam!
2. Não obstante a sintonia dos textos com a doutrina da Igreja, os mesmos
mais não são do que um exercício de liberdade e de cidadania do seu autor que é, portanto, o seu único e exclusivo responsável. Não obstante o meu celibato, não quero que esta culpa morra solteira.
3. Constato, com alguma consternação, que a opção por um estilo bem-
humorado provocou alguma incompreensão, que roça o escândalo farisaico quando se interpretam literalmente alegorias que, como é óbvio, não admitem uma tão fundamentalista leitura. Que os tristes do costume me desculpem a boa disposição.
4. Reitero o que então disse, ou seja, que a expressão «educação sexual» é
contraditória, na medida em que o que é instintivo não carece de aprendizagem, a não ser que, como muitos temem, a dita «educação» mais não seja do que um instrumento ideológico para impor, sob aparência científica, princípios e práticas contrárias à liberdade e à dignidade humana. Com efeito, o Guia de Educação Sexual da ONU, elaborado pela UNESCO com a colaboração da OMS e dado a conhecer no passado dia 27, recomenda, por exemplo, que se faça a apologia da homossexualidade e se ensine a prática do onanismo às crianças a partir dos cinco anos (UNESCO, International Guidelines on Sexuality Education: An evidence informed approach to effective sex, relationships and HIV/STI education; UN News, 27-08-09; Family Edge, 31-08-09).
5. Embora entenda que a educação para um saudável e ético exercício da
sexualidade é competência prioritária da família, admito que essa formação possa ser ministrada subsidiariamente em instituições educativas, desde que garantida a sua competência pedagógica, a idoneidade moral dos formadores, a objectividade ética e científica dos conteúdos, bem como a liberdade dos alunos e dos seus pais. É verdade que esta garantia é um direito salvaguardado pelo art. 43º da Constituição, mas isso pouco ou nada significa porque a mesma lei fundamental também defende, em teoria, a vida, mas depois permite a impune matança das inocentes crianças não nascidas.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
(Fonte: ‘Público’ de 12.09.09 em cartas ao Director)
A (im) possibilidade da prática do aborto: uma análise a partir da necessária contemplação dos pressupostos autonomia e alteridade na conformação da tutela jurídica da mulher