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RESUMO: A visão cartesiana tem forte influência no modo atual do homem enxergar e
modificar a Natureza. Por muitos anos, enxergou-se o animal como algo de satisfação das
necessidades humanas. Visa-se, neste artigo, conduzir uma reflexão sobre a interação homem-
animal ao longo do tempo, culminando na visão espírita.
Palavras-chaves: Educação Espírita; Bioética, Animais, Evolução
Introdução
Dada a dinâmica constitutiva da vida do homem contemporâneo, as diversas formas de
reflexão sobre o seu modo de vida, bem como das repercussões conseqüentes dessa forma de
se portar diante de suas ações são desconsideradas em função da produção – finalidade
legitima da sociedade que tem base o interesse no capital. O que se observa, muito facilmente,
é um agravante distanciamento do “homem cotidiano” em relação às discussões éticas que
compreendem a sua responsabilidade como sujeito, tanto como consciente das funções em
níveis sociais, como da sua atitude mais primitivista - enquanto ser integrante da natureza.
Sendo assim, enfocar algumas formas pelas quais são estabelecidas tais relações entre homem
e o animal, enfatizando a compreensão de alguns pensadores e pesquisadores, bem como da
perspectiva espiritual - pertinente a doutrina espírita - evolutiva e essencialmente educativa,
formatam a estrutura inicial deste trabalho. A metodologia utilizada consistiu no levantamento
bibliográfico a partir de livros, artigos científicos, teses e revistas específicas.
A Relação Homem-Animal
A interação entre homem e animal ocorre desde períodos remotos, como, por exemplo,
na pré-história quando se utilizava da caça e da pesca predatória como forma de obtenção de
alimento. Essa relação tornou-se mais próxima a partir do momento em que deixou de ser
nômade e fixou-se em território específicos, originando as grandes civilizações, iniciou-se o
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Coordenador Financeiro do Instituto de Pedagogia Espírita do Ceará - IPE-CE e Doutorando do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do Ceará. E-mail:
regis_siqueira_teixeira@yahoo.com.br
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Coordenadora Pedagógica do Instituto de Pedagogia Espírita do Ceará - IPE-CE e Mestranda do Programa de
Pós-graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará - UFC . E-mail:
alinepestalozzi@gamil.com
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Coordenador Geral do Instituto de Pedagogia Espírita do Ceará - IPE-CE e graduando do curso de Pedagogia
da Universidade Estadual do Ceará – UECE. E-mail: lenofortal01@yahoo.com.br
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processo de domesticação animal, tornando-o parte de seus hábitos e cultura (DEL BIANCHI
e VILLELA, 2005). A partir de então, o homem vem relacionando-se, até os dias atuais, nas
mais variadas condições: na área do lazer; como instrumento de guarda; atos ritualísticos;
terapias psicológicas; nas experimentações científicas e como fonte nutricional.
Chieppa (2002) descreve a evolução dessa relação milenar em três fases: Concepção
arcaica do animal; Concepção econômico-funcional do animal; Concepção ética do animal.
Na primeira fase, essa ligação poderia ser definida como mágica totêmica, o animal, portanto,
era visto como uma entidade divina. No Egito Antigo, por exemplo, o gato era considerado
uma espécie sagrada e na atualidade esse tipo de interação ainda perdura, quando entre os
hindus ainda ocorre a veneração do bovino como elemento sagrado. A segunda fase é
caracterizada pelo conceito do homem dominante: A Natureza é constituída por elementos a
serviço das necessidades materiais do ser humano. Podemos perceber essa relação na
exploração econômico-financeira dos animais na produção de carne, leite, lã, pele, ovos e
força de trabalho. A Concepção ética do animal é uma visão que se fortaleceu devido ao
progresso de ramos como a biologia, etologia e medicina veterinária. O “ser não humano”
começa a não ser mais enxergado como apenas um mero objeto a serviço do homem e, por
isso, nesse momento, criam-se, em todo o mundo, principalmente nos países mais
desenvolvidos, uma legislação de tutela dos animais.
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Visão Espírita e a Relação Homem-Animal
Mahatma Gandhi afirmava que a grandeza de uma nação e seu progresso moral pode
ser julgado pelo modo como seus animais são tratados. E qual seria, portanto, a maneira
correta de tratar os animais na visão Espírita? O vegetarianismo seria a postura adequada? O
espiritismo é a favor da abolição de práticas intensivas utilizadas pela indústria de produção
animal? E quanto aos animais de companhia, é certo criá-los ao nosso redor?
A resposta espírita para a postura correta com os animais, quer seja de produção ou de
companhia ou na própria natureza, inicia-se pela compreensão evolutiva do próprio ser
humano. Kardec explica que entre os seres inferiores da criação não existe ainda o senso
moral e, portanto, o instinto ainda impera. Dessa forma, a luta entre os seres ocorrem para
suprimento de uma satisfação material, que na maior parte das vezes é a da alimentação. No
início da fase hominal:
(...) O instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam, o homem
então luta, não mais para se nutrir, mas para satisfazer sua ambição, seu
orgulho, a necessidade de dominar; para isso, ainda lhe é necessário destruir.
Porém, à medida que o senso moral predomina, a sensibilidade se desenvolve,
a necessidade da destruição diminui; termina mesmo por se extinguir e por
tornar-se odiosa; então, o homem passa a ter horror ao sangue.
Entretanto, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois,
mesmo chegado a este ponto que nos parece culminante, está longe de ser
perfeito; não é senão à custa de sua actividade que ele adquire conhecimentos,
experiência e que se despoja dos derradeiros vestígios da animalidade; mas a
partir desse momento, a luta, que era sangrenta e brutal, torna-se puramente
intelectual; o homem luta contra as dificuldades e não mais contra seus
semelhantes (KARDEC, 2003, p.72).
A relação adequada entre os homens com os outros seres vivos depende, portanto, do
grau de adiantamento do indivíduo ou de uma coletividade. Em relação à condição atual da
humanidade, Kardec (1995, p.348) afirma que “Tal direito se acha regulado pela
necessidade, que ele tem, de prover ao seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais
constitui direito”. Os limites das necessidades do homem, segundo a visão espírita, se
ultrapassadas, constituirão uma violação à lei de Deus, ou seja, abuso da liberdade
direcionada aos maus instintos. Dessa forma, de acordo com os princípios espíritas, o ato de
alimentar-se de carne animal e/ou criá-lo de outra forma que possa efetivar a sua segurança é
uma condição que ainda é necessária a sobrevivência do homem. No entanto, deve atentar-se
à esta relação, pois segundo o espiritismo “a Natureza lhe traçou o limite das necessidades;
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porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais
(KARDEC, 1995, p.342)”.
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Educação Espírita tem papel preponderante nessa conscientização, já que encara toda e
qualquer obra da criação divina, não como um elemento isolado e sem significância, mas
como possuidor de potencial evolutivo, devendo o homem, buscar ao máximo, proporcionar
benefícios mútuos nessa relação.
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