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Bases para uma Avaliação de Desempenho Justa e Exequível

Ramiro Marques

1. A avaliação dos professores. Quem a deve fazer? Quando?


Como?

1.1.Quem a deve fazer?

Os pares? O recente concurso para professores titulares criou


injustiças e fracturas insanáveis nos professores. Não tendo
havido possibilidade de reconhecer o mérito, nem os
professores titulares nem os que o não puderam ser
consideram existir legitimidade para uma avaliação feita pelos
pares. Com a aplicação do novo diploma de gestão escolar,
passarão a existir dois avaliadores, um interno, o coordenador
de departamento, e um externo, o director. Os conflitos e a
desconfiança irão agravar-se. Posto isto, parece-me não haver
condições para uma avaliação feita pelos pares. Resta uma
avaliação feita por uma entidade externa. Quem? Apenas os
inspectores? Mas quem são os inspectores? Regra geral, são
ex-professores afastados da sala de aula há muitos anos.
Alguns inspectores são ex-professores que abandonaram a
profissão por não gostarem de leccionar. Com certeza que há
outros casos. Em qualquer caso, que credibilidade científica tem
um ex-professor que deixou de dar aulas, em alguns casos, há
mais de vinte anos? Que sabe ele ou ela ainda de Matemática,
História ou de outra área curricular qualquer? Posto isto,
parece-me que a avaliação de desempenho também não pode
ser feita apenas pelos inspectores. Então, será feita por quem?
A minha proposta vai no sentido de a avaliação de desempenho
do professor ser feita no quadro da avaliação externa da escola.
Essa avaliação externa seria feita, não apenas por inspectores,
mas por um painel de personalidades formado por um inspector
e mais duas personalidades exteriores à escola, designadas
pelo ME, após consulta ao Conselho Pedagógico da escola. Ou
seja, o painel de 3 personalidades exteriores à escola seria
designado pelo ME mas teria de ter, numa primeira fase, o
parecer favorável do CP. No caso de rejeição de parecer
favorável do CP, o ME teria de designar outras personalidades
que, nesse caso, não careceriam de parecer favorável do CP. O
painel de avaliadores não condicionaria a avaliação de
desempenho dos professores da escola à taxa de sucesso
escolar nem à taxa de abandono, mas apenas ao nível de
cumprimentos de objectivos nas áreas lectivas, fora da sala de
aula, relações com os pais e a restante comunidade educativa e
ao plano de formação contínua. A componente lectiva (sala de
aula) teria um peso de 50%, a componente não lectiva
(incluindo os projectos e a relação com os pais e a comunidade
educativa) 25% e o plano de formação contínua teria um peso
de 25%.
A avaliação externa da escola seria feita de quatro em quatro
anos. O professor seria avaliado, no contexto da avaliação
externa da escola, mediante a entrega de um portefólio que
seria lido e analisado pelo painel. O painel deveria ouvir os
coordenadores de departamento, o PCE (ou director), os
representantes dos pais e os membros do CP. Nos casos em
que o painel tivesse intenção de dar uma classificação de
irregular, haveria lugar para uma prova pública de apresentação
e defesa do portefólio. Nos casos em que o professor tivesse o
desejo de se candidatar a um excelente, teria de se submeter a
uma prova pública para apresentação e defesa do portefólio.

1.2.Por tudo aquilo que disse nos posts anteriores, a avaliação


entre pares não é aceitável. Irá criar divisões e conflitos nas
escolas. Criar divisões, destruir a ideia e o espírito de corpo são
os objectivos do ME. A principal alteração a introduzir é acabar
com a peregrina ideia da avaliação entre pares. Os professores
têm de exigir uma avaliação externa, feita por um painel
composto por três personalidades exteriores à escola.
A avaliação dos professores deve fazer parte integrante da
avaliação externa das escolas. Depois disto, importa perguntar:
Qual a periodicidade? A avaliação deve fazer-se de quatro em
quatro anos. No máximo! Com essa periodicidade, as escolas
podem respirar e a carga burocrática irá diluir-se. O grau de
subjectividade será menor. Os coordenadores de departamento
não veriam exponencialmente aumentada a sua carga de
trabalho semanal. Os professores, sejam eles titulares ou não,
poderiam concentrar as suas energias e tempo na sua função
principal: o ensino. O peso de 50% para a componente lectiva
iria colocar no centro da avaliação de desempenho aquilo que é
essencial na profissão: o ensino.
Vejamos, agora, a questão da observação e avaliação das
aulas. É de rejeitar a possibilidade de a assistência e avaliação
das aulas ser feita por professor de diferente grupo de
recrutamento. Aceitar uma coisa dessas é espezinhar aquilo
que é mais essencial para o professor: o primórdio do saber e
do conhecimento científico e pedagógico. Para quê observar e
avaliar aulas de todos os professores? Por exemplo, todos
sabemos que a esmagadora maioria dos professores, seja qual
for o modelo de avaliação, terá uma menção de Bom. Para quê
tornar obrigatória a assistência a aulas aos professores a quem
o painel estiver inclinado para dar a menção de Bom? A
obrigatoriedade da assistência a aulas deverá estar reservada
apenas a quatro casos: quando o painel estiver inclinado a dar
Irregular, Regular, Muito Bom ou Excelente. Ou quando o
professor avaliado considerar que merece a menção de Muito
Bom ou Excelente. Nestes dois casos, a observação das aulas
será feita a pedido do professor avaliado. O painel teria o poder
para designar um professor titular exterior ao Agrupamento,
mas pertencendo ao mesmo grupo de recrutamento do
avaliado.

1.3.Quem deve fazer a avaliação de desempenho?

Depois do que disse atrás, a resposta é óbvia: nunca os pares.


Porquê? Para evitar conflitos nas escolas e divisões nos
professores. Para evitar a subjectividade e as perseguições por
delito de opinião ou por questões meramente pessoais. Para
evitar uma sobrecarga de trabalho impossível de aceitar por
parte dos coordenadores de departamento. Para evitar que um
professor de Educação Física observe e avalie as aulas de um
professor de Música. Defendo, por isso, que a avaliação de
desempenho do professor faça parte integrante da avaliação
externa da escola onde o professor presta serviço. A avaliação
será feita por um painel constituído por 3 personalidades
exteriores à escola, sendo um, o inspector, e os restantes,
personalidades apontadas por associações pedagógicas e
associações de professores. Sempre que for necessário
proceder à observação e avaliação de aulas, o painel designará
um professor exterior à escola que seja do mesmo grupo de
recrutamento do professor avaliado. É de todo inaceitável que
sejam designadas para integrar o referido painel personalidades
que não tenham ligações directas aos ensinos básico e
secundário ou à educação pré-escolar.

1.4. O como.

Tendo em consideração que a componente lectiva teria um peso


de 50% na avaliação de desempenho, é de considerar que o
portefólio do professor deveria incluir uma secção (A) onde
seriam colocados os materiais mais significativos sobre a)
planificação das actividades de ensino; b) materiais usados na
execução do ensino, do tipo textos de apoio, fichas de trabalho,
testes, folhas de exercícios, powerpoints, fotografias de
projectos realizados na sala de aula, etc. Os restantes 50%
seriam divididos por duas secções mais pequenas: a secção B,
que incluiria fotografias, actas, convocatórias, relatórios, etc.
que testemunhassem o trabalho desenvolvido pelo professor
nos órgãos de gestão do agrupamento, nas estruturas de
orientação pedagógica, nas actividades fora da sala de aulas,
nos projectos e na relação com os pais e a comunidade. Os
restantes 25% entrariam na secção C, sobre formação
contínua, onde o professor colocaria as evidências da
frequência de cursos, acções, colóquios e congressos no âmbito
da sua área curricular ou com interesse científico e pedagógico
para o exercício da profissão.
Em conclusão, o professor só precisará de preencher a ficha de
auto-avaliação e elaborar o portefólio.
A par do portefólio e da ficha de auto-avaliação, haveria um
ficha a preencher pelo PCE ou Director onde seriam indicadas
as faltas dadas pelo professor e ao abrigo de quê. Obviamente,
o professor não deverá ser penalizado por faltas dadas por
doença, parto, assistência a filhos ou pais, funerais, etc. Não
podemos admitir que regresse a selvajaria social! Dessa ficha
não deverão constar dados sobre taxas de sucesso escolar ou
de abandono porque essas estatísticas reflectem apenas
realidades administrativas e são o reflexo de contextos culturais
face aos quais o professor não pode ser responsabilizado.

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