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nsaio geral

os equívocos de sérgio
jorge costa, luís fazenda, cecÍlia honório, francisco louçã e fernando rosas
VÍRUS setembro/outubro 2010 [4] ensaio geral
Os equívocos de Sérgio
jorge costa, luís fazenda, cecília honório, francisco louçã e fernando rosas | dirigentes do bloco de esquerda e autores de “os donos de
portugal“. a revista vírus Pré-publica um dos capítulos deste livro com lançamento previsto para breve.

1. Introdução o lugar perdido na revolução industrial após a expan- mínio quase absoluto do Transporte após as navegações
António Sérgio (1883-1969) trouxe à história de Por- são marítima. A “interpretação da história” definia duas e o estabelecimento das feitorias e colónias.
tugal o contributo precioso de uma “interpretação so- grandes linhas, “as duas políticas nacionais”, moldando Esse domínio do Transporte, só entrecortado por
ciológica”, como se lhe chamou. Sem a pretensão de a economia e o poder, a política do Transporte e a po- breves períodos, normalmente associados a desastres do
historiador, a leitura histórica das épocas carreou o ri- lítica da Fixação, vias adversas e opostas. Por política império e do Estado português. Desastres do império
gor de análise para um discurso de legitimação política. do Transporte entendia todo o quadro de navegação, comummente ligados à perda do comércio do Oriente,
Essa “interpretação sociológica” foi feita à contramão colonialismo, comércio. Na política da Fixação destacou das “Índias”, à perda da colónia brasileira, e desastres
da historiografia narrativa e/ou épica, ou da historio- o fomento da produção agrícola e industrial, a forma- do Estado nos conturbados séculos XVIII e XIX, com
grafia justificativa do império colonial. A influência es- ção do trabalho, o avanço do mercado na metrópole do as invasões napoleónicas e o protectorado britânico so-
truturante que desempenhou nos meios intelectuais da império. bre o rectângulo europeu e as guerras civis que se lhes
oposição ao Estado Novo é altamente significativa. Não Segundo ele, já a oposição destas duas políticas se seguiram.
menos importante foi o encorajamento que proveu a um manifestou no conflito entre os infantes de Avis, D. Na “Breve Interpretação da História de Portugal”, o
impulso académico dos vários olhares sobre o país, fora Henrique e D. Pedro. Para D. Pedro havia a prevenção autor estrutura a sua leitura das épocas em três partes:
da alçada salazarista. do perigo da “onda atlântica”: «Sacrificar a política da a incorporação e a organização da metrópole, expansão
A formação historiográfica das fileiras antifascis- produção às puras empresas de comércio – era trocar marítima e colonial, e tentativas de remodelação metro-
tas muito ficou a dever a obras como os “Ensaios” ou a (pensava ele) uma boa capa por um mau capelo». Diz politana, que correspondem grosso modo aos períodos
“Breve Interpretação da História de Portugal” ou, ainda, Sérgio: «Poderemos chamar às duas escolas, portanto, da pré-nacionalidade até Aljubarrota, dos descobrimen-
às “Considerações Histórico-Pedagógicas”. Se se des- a política da Fixação e a política do Transporte; a po- tos à revolução liberal, da Constituição ao Estado Novo.
taca este facto, tal acontece por menor relevo que lhe lítica da produção e a política de circulação; a política Na primeira parte, a Fixação foi o sentido, na segunda o
tem sido concedido. Isto apesar das críticas do menor da estabilidade e a política do aventureirismo; a política Transporte, e na terceira a hesitação da encruzilhada e
“rigorismo” histórico que Orlando Ribeiro lhe dirigia nuclear e a política periférica; a política de D. Pedro e a do conflito entre as duas vias.
(Ribeiro, 1977: 119-81), sem invalidar contudo as teses política de D. Henrique; a política da boa capa e do mau Ao vaticinar como desígnio nacional a política da
do ensaísta. capelo» (Sérgio, 1925: 70). Fixação, chegamos ao coração do objectivo de fomento
Sérgio formulou uma teoria explicativa para o de- Remontando, com grande minúcia, à edificação po- produtivo. O Fomento, transposto a categoria, tornou-
senvolvimento do país, seus fracassos e atraso. O termo lítica da nacionalidade as intermitências do predomínio se numa ideologia. No simples e geral sentido que expli-
comparativo eram as potências europeias, o tema axial de uma e outra orientação, Sérgio situa claramente o do- cava os atrasos de Portugal e previa uma solução com-

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pleta para a retoma da vanguarda histórica dos povos: gos; e uma vez bem definida a estrutura social a dem mais progressista da revolução liberal, ou o legado
cuidar da terra, em sentido lato. O Velho do Restelo, que nos leva, ei-la representando uma força de de Alexandre Herculano.
personagem camoniana da antítese épica, era reduzido inércia persistente e multiforme.” (Sérgio, 1914: Alexandre Herculano foi mais celebrado como
a herói do discurso da Fixação, contra a aventura e o 14-5) historiador do processo secular do “Terceiro Estado”
desperdício: «O que quero com a política da Fixação é em Portugal, municipalista, soldado da guerra liberal.
que a riqueza que se obtém nas colónias se não fixe toda Romper esse domínio era a tarefa inacabada da revo- Adepto de Kant, do industrialismo inglês, do livre-câm-
nos demais países: que se fixe também no nosso país e lução liberal, porventura o erro da República: “Temer as bio como doutrina económica, era um intelectual liberal
sobretudo no nosso país» (Sérgio, 1929: 191). indústrias por maléficas ao comércio; matar a Produção da Europa do seu tempo. Repudiava tanto a Inquisição e
A ideologia do Fomento era a bandeira da evolução para proveito da Circulação: eis a que chegou, entre nós, o Absolutismo como a Democracia. Defensor da monar-
social, por contraposição a séculos de colonialismo de- o delírio do Transporte” (Sérgio, 1925: 83). quia constitucional (“tão ilegítimo acho o direito divino
pendente de terceiros. E aí ia toda a admiração pela Ho- da soberania régia, como o direito divino da soberania
landa e pela Inglaterra, cujas burguesias tinham apro- 2. Na onda de Antero, no popular”, escrevia numa carta a Oliveira Martins, cit.
veitado o comércio marítimo para desenvolver, portas esquadro de Oliveira Martins in Martins, s.d.), dois anos depois da Comuna de Paris,
adentro, a manufactura. Há uma fonte implícita no pensamento de Sérgio: a em carta a Oliveira Martins, dizia-lhe: “Cada vez me
Assim insistia: decadência. A decadência era uma reflexão antiga, cuja convenço mais da utilidade do socialismo como crítica
“Os Holandeses, sem preocupações sectárias, ideia já discutimos em capítulo anterior. Não por aca- e da sua inutilidade como teoria constituinte. Acho o
atraíam as simpatias dos orientais; vendiam-lhes so, o ensaísta nutria uma admiração olímpica pela leva Comunismo mais atroz, mas incomparavelmente mais
objectos seus; e não se contentavam, como nós, “estrangeirada” de seiscentos a oitocentos, Verney, Ri- lógico” (1873).
com trazer aos seus portos os produtos asiáti- beiro Sanches, Ericeira, Alexandre de Gusmão, Luís da Herculano, revolucionário e mestre desiludido da
cos, esperando que os clientes aí viessem para Cunha: “No entanto, os espíritos superiores percebiam Regeneração de 1851, a que Oliveira Martins chamará
buscá-los: iam distribuindo-los aos mercados, muito bem que a riqueza ultramarina, sem uma base me- o capitalismo português, espelhou a produção e a troca
ganhando o frete correspondente e sustentando tropolitana, sem actividade criadora e organizadora em não como propriedade e poder, mas como empresa, ori-
a sua marinha. O português, especializando-se no Portugal – pervertia, amolentava, emparasitava, o velho ginou a ideologia do Fomento como uma ética social,
tráfico em prejuízo da produção, não revelou a reino: e assim o vemos manifestado nos pensadores do a do capitalismo liberal contra a parasitagem crónica.
capacidade de organizar o comércio em grande; seguinte século [ao de Luís Mendes de Vasconcelos, Nas condições de Portugal da segunda metade do
e a perseguição dos Judeus veio agravar esta de- Severino de Faria e Duarte Ribeiro de Macedo], desde século XIX, o liberalismo radical, o socialismo român-
sordem”. (Sérgio, 1923: 40) os Gusmões, os Luíses da Cunha, até a plêiade de eco- tico ou os precursores do republicanismo confundiam-se
nomistas da Academia das Ciências” (Sérgio, 1925:86). na frente de combate contra “a decadência”. Daí que o
Esse percurso tornava o processo histórico num hiato: Ou o destaque a Mouzinho da Silveira, o legislador legado de Herculano lhes tenha sido transversal.
“A orientação exclusivamente guerreira foi cau- da revolução, que mostrou “nos seus decretos, quais Toda esta genealogia do pensamento da Crítica e do
sa de que as nossas conquistas não produzissem eram as condições normais da economia social, e como Fomento culminam emblematicamente em Antero de
uma burguesia rica e afanosa […], mas uma fi- a riqueza estava em casa, na libertação e trabalho da Quental. Antero, passional e intemerato, marcou pela
dalguia corrompida e um populacho de mendi- própria terra” (Sérgio, 1914: 36), materializando a or- listagem das causas da decadência peninsular: a influ-

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ência do catolicismo inquisidor, o absolutismo anti-li-
Sobre todos os planos, salvo o da escrita poética, a aventura
berdades, o primado das colónias – força da oligarquia.
A decadência, tem-se insistido, claro está, aparece intelectual de Antero instaurou entre nós uma experiência
reportada aos séculos XV e XVI, ao pioneirismo da na-
de ruptura cultural, tanto mais virulenta quanto é mais tardia
vegação, à visão dos hemisférios até aí indesenháveis,
ao surto de conhecimento. A auto-imagem do Renasci- em relação a todos quantos o ocidente europeu conhecera
mento português.
A decadência endémica enriquece o estrangeiro desde Lutero. eduardo lourenço, 2007
fabricante, que vende cá o que Portugal não produz e
o que Portugal negociou. Cativando no poder dos pri-
vilégios a aristocracia rentista do comércio marítimo dos quantos o ocidente europeu conhecera desde “Por enquanto a Nação prescindiu do cérebro,
e das possessões coloniais, um original “feudalismo de Lutero.” (Lourenço, 2007) isto é, do Estado, manter-se-á acéfala; enquanto o
Estado”, em que os proventos são redistribuídos aos se- Estado não tiver como pensamento a igualdade,
nhores da Terra, à fidalguia. Se de Antero e Herculano provinha o rasgo cultural, ou enquanto, mantendo-se uma ficção de poder,
Quando Sérgio propugna a industrialização e a refor- de Oliveira Martins procedia a tese. Nesta onda, e pre- se obedecer de facto às ordens dos patronos das
ma agrária, é ainda sob o estandarte de Antero. Antero, cursor, a elaboração em jeito de compêndio de Oliveira várias clientelas políticas, bancárias, industriais;
mais que a doutrina, era a bandeira trágica da insubmissão. Martins constitui o sistema solar para a geração da Se- enquanto esses novos barões fizerem de povo: a
Como notou, com forte convicção, Eduardo Lourenço: ara Nova e de Sérgio. democracia será uma quimera, por isso mesmo
“Pela seriedade e gravidade com que Antero con- Oliveira Martins, da geração de 70 como Antero de que a Nação demonstrará não ter capacidade
frontou as exigências do seu ideal socialista sob Quental, autodidacta, historiou o “Portugal Contempo- para ser senão o que é. À sombra de uma liberda-
o signo da Justiça, concebida à maneira de Prou- râneo”, a “Civilização Ibérica”. Antero recomendou-o de sempre crescente, dia a dia, com o crescer da
dhon como o farol da História, e as de um pensa- porque estudava “as sociedades como organismos vivos riqueza irá crescendo a cisão dos pobres e dos ri-
mento trágico, incapaz de acreditar num sentido (…) uma interpretação científica” (Quental, 1987: 302), cos, em virtude dessa lei simples que dá a vitória
positivo da Existência, o seu combate espiritual escrutinou a história lusa dos “Mares”, e divulgou, muito a quem mais pode.” (Martins, 1881: 328)
constitui um acontecimento sem precedentes na a seu modo, o “Socialismo”. Tudo isso era o manual de
nossa Cultura. A bem dizer, marca o início da intervenção. Na carência de obras de formação geral, era Oliveira Martins inaugurou aquilo que Sérgio conti-
Modernidade entre nós, se admitirmos que essa praticamente a bengala do cego. Oliveira Martins, que se nuou, uma “interpretação sociológica” da história, como
Modernidade se acompanha de uma tomada de correspondia com Herculano, rivalizou com ele na orde- aliás precisamente lhe chamou Victor de Sá. Como ob-
consciência histórica de carácter trágico. Sobre nação historiográfica. Martins procurou uma explicação servou Miriam Halpern Pereira a propósito do Projecto
todos os planos, salvo o da escrita poética, a aven- para o processo nacional, imbuído nas causas económicas de Lei do Fomento Rural, de Martins: “o que há de mais
tura intelectual de Antero instaurou entre nós e situando os conflitos sociais como natureza de cada notável neste projecto de Martins é o carácter global,
uma experiência de ruptura cultural, tanto mais Estado. Sem prejudicar conclusões de ordem política, que o aproxima do que hoje designaríamos de reorde-
virulenta quanto é mais tardia em relação a to- como as que extraiu no “Portugal Contemporâneo”: namento do território rural, e o facto de se inserir num

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Em 1910 abolia-se enfim a realeza. Fez-se então uma verdadeira República? Não se fez.

Fora prematuro, sem dúvida alguma, o socialismo de Antero de Quental, pois que, antes de revolucionar

de uma maneira profunda o regime social da produção, é necessário possuir-se algum que produza

com um mínimo de eficácia, e era isso o que faltava entre nós. antónio sérgio
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projecto global acerca da economia (…) Nas conclusões um remake tardio de Proudhon. Transporta esse espí- Afinal, a burguesia “adequada”, de natureza indus-
do relatório que precede o articulado da lei reitera a sua rito crítico para a revista Seara Nova, que fundou com trial, só se alavancou na República e, verdadeiramente,
crítica à política económica do fontismo, a identifica- Raul Proença e muitas outras figuras da nova intelec- apenas no fascismo. E no pós segunda Guerra Mundial
ção exclusiva entre desenvolvimento e viação” (Pereira, tualidade dos anos 20. triunfou, aproveitando o proteccionismo aduaneiro e a
2001: 148). E cita Oliveira Martins: “Despertou-nos Curiosamente, na Seara Nova, no seu primeiro nú- compressão dos salários, garantismo da Ditadura. Não é
do sono histórico o silvo da locomotiva e estonteados mero (Outubro de 1921), escrevia-se, pela pena de Pro- por acaso que Salazar e Caetano adoptam os conhecidos
por ele supusemos que o progresso estava em construir ença, que: “Todas as suas simpatias vão, pois, para os Planos de Fomento.
estradas e caminhos de ferros, esquecemos tudo o res- que lutam dentro da ordem, dos métodos democráticos Como já depois do 28 de Maio reconheceria António
to. Não pensávamos que as facilidades de viação, se fa- e desse espírito de realidades sem o qual são inteiramen- Sérgio:
voreciam a corrente de saída dos produtos indígenas, te ilusórias quaisquer reformas sociais, pelo triunfo do “Em 1910 (5 de Outubro) abolia-se enfim a reale-
favoreciam igualmente a corrente de entrada dos foras- socialismo” (cit. in Santos, 1979: 23). za. Fez-se então uma verdadeira República? Não se fez.
teiros, determinando internacionalmente condições de Mas muito mais do que divulgar o seu “arremedo Fora prematuro, sem dúvida alguma, o socialismo de
concorrência para que não estávamos preparados e para de socialismo”, o ensaísta tinha a ambição de sugerir a Antero de Quental, pois que, antes de revolucionar de
que não soubemos preparar-nos” (ibid.). Esclarecidos, a burguesia adequada para o Fomento. E essa seria aquela uma maneira profunda o regime social da produção, é
ferrovia não era só por si Fomento. que impusesse ao Estado a política de Fixação, a pro- necessário possuir-se algum que produza com um míni-
Sérgio, martiniano, foi em demanda do agente polí- dução, para além do comércio ultramarino, visto como mo de eficácia, e era isso o que faltava entre nós; a propa-
tico. Sérgio não só bebeu a inspiração de Martins sobre complementar. ganda, porém, surgira abstracta e atrasada, não somente
o vírus nacional do anti-produtivismo como lhe tomou “Desgraçadamente”, na óptica do seareiro Sérgio, em relação a Antero, mas em relação a um Herculano
o programa, exposto em 1885: «As linhas gerais desse a perda do Brasil como colónia não tinha sido suficien- e um Garrett. Não passava de formalismo político (de
programa (…) era a colonização do sul do reino, despo- te para dinamizar a produção interna do país. Entre a simples negação, por assim dizer, da monarquia e do
voado e inculto, derivando para aí a emigração agrícola perda do Brasil e a legislação africana de Sá da Ban- clericalismo) sem conteúdo concreto reformador na eco-
minhota e açoriana; e protecção pautal à indústria fabril, deira, mediaram apenas catorze anos. Sá da Bandeira nomia e na educação. (…) reformas que favorecessem,
desenvolvendo a produção interna para nos libertar das legislou o fim da escravatura em África e lançou as enfim, a passagem do oligarquismo e comunitarismo do
importações; a instrução técnica ou profissional e o re- bases da colonização e administração das possessões Estado a um regime progressivo de que beneficiasse o
gulamento do trabalho nas suas relações com o capital; o africanas. A juntar a isso, as remessas dos emigrantes, povo.” (Sérgio, 1929: 144-5)
fomento das instituições cooperativas de crédito, de se- a dívida externa do fontismo, e o comércio colonial,
guros de produção e consumo; a protecção às pescarias prolongaram a agonia do modelo em que a classe do- Essa visão precisava de uma “boa” burguesia. Para
nacionais, explorando convenientemente a riqueza das minante, fundada na finança e no negócio ultramarino, desconsolo da tese, saiu a burguesia “errada”.
costas e preparando também o viveiro de mareantes; a ditava a sua lei. O colonialismo africano era incipien-
restauração da marinha mercante nacional, e finalmente te, como seria, mas mesmo assim a burguesia vivia do 3. A sopa do Sidónio
a ordenação do sistema colonial» (Martins, 1881: 12). capitalismo agrícola e da dívida, na idolatria do livre- É sempre muito falível projectar cenários não acon-
António Sérgio foi muito além de vagas incursões câmbio. Essa era a burguesia execrada. E a adequada? tecidos. Sérgio, apesar da sua aproximação ao sidonismo,
pelo socialismo cooperativo baseado no crédito popular, Qual seria? foi um homem da República. Ministro da Instrução na

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sua ponta final, almejava o Fomento juntamente com as
Apenas a ilusão poderia afiançar a ideia de um caminho
liberdades cívicas. Intelectual exilado e perseguido pela
Ditadura, foi até preso em provecta idade por apoiar de progresso num quadro democrático. No estertor da República
Humberto Delgado, no “reino cadaveroso”, no “reino
da estupidez”, como chamava ao rincão pátrio. António não havia sujeitos políticos bastantes para o efeito.
Sérgio projectava um cenário de fomento em democra- A burguesia industrial, tendo vivido a crise da monarquia
cia. Chegou a apresentar um projecto de programa po-
lítico ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista e a agitação da república, escolheu o “estado forte”
(MUNAF), no pós segunda Guerra Mundial. Contudo,
os equívocos sobre a natureza do regime político foram
de tomo. à agitação social na primeira República, pretendiam o Segundo paradoxo: a burguesia “adequada” corpo-
Fernando Rosas pôde escrever que “os discípulos autoritarismo puro e duro. rizou o Fomento, relativo ao quadro europeu da época,
liberais de Martins, como Basílio Teles, António Sér- Daí que os mentores da ideologia do Fomento, na sacrificando as condições de vida do campesinato e do
gio e vários Seareiros dos anos 20 (…) admitiram uma virada do século XX, se confrontam postumamente com operariado. O Fomento trouxe as condições materiais de
espécie de parênteses autoritário, uma «ditadura das alguns paradoxos. sobrevivência popular ao nível do pauperismo absoluto.
competências» temporária, para regenerar financeira, Primeiro paradoxo, já referido: a burguesia “adequa- Bem longe da ideia de um progresso material das classes
económica e politicamente a República” (Rosas, 2000: da” era “autoritária”, completamente imbricada com o populares.
46). A atracção pelo major Sidónio Pais fez vingar em poder político que condicionava as empresas, que con- Terceiro paradoxo: o fortíssimo fluxo emigratório
um escasso ano o seu pronunciamento militar, a queda dicionava o mercado interno. Este proteccionismo do fez colidir a Fixação do investimento com o Transporte
do gabinete, a censura e a repressão, a sua eleição como Estado foi erigido não apenas com as condições gerais do povo. Talvez fosse a subversão do conceito, mas era
Presidente do que nomeava como “República Nova”, do regime autoritário, mas especificamente com a le- a dura realidade. Pensou-se que o desenvolvimento da
com apoio compósito, mas marcadamente de direita. O gislação do “condicionamento industrial”, tendente a produção interna limitaria a sangria populacional do
seu assassinato, em Dezembro de 1918, fechou esse epi- impedir a concorrência aos fabricantes instalados. país que era uma constante histórica. Tal não aconteceu,
sódio reaccionário, mas deixou no ar o ensaio do 28 de Apenas a ilusão poderia afiançar a ideia de um cami- mantendo-se forte emigração para os mares do Sul e,
Maio que aí viria. nho de progresso num quadro democrático. No estertor inesperadamente, para a Europa nos anos de sessenta.
A pergunta vai por si: seria possível essa burguesia da República não havia sujeitos políticos bastantes para António Sérgio reflectia as cicatrizes pátrias quando es-
do “empreendimento”? E a resposta é dada pela Histó- o efeito. A burguesia industrial, tendo vivido a crise da crevia a propósito dessa matriz nacional: “a exportação
ria: não havia burguesia “adequada” para a industriali- monarquia e a agitação da república, escolheu o “esta- do gado humano” (Sérgio, 1915: 50).
zação que tivesse interesse num regime liberal do tipo do forte”. É uma conclusão a posteriori, exactamente. Quarto paradoxo: a industrialização realizou-se
anglo/francês. Contudo, é forçoso deduzir que as alegações de Sérgio sem reforma agrária, a menina dos olhos dos Seareiros.
Ao pânico e horror que mesmo Sérgio demonstrou e dos seus notáveis Seareiros não tinham plano próprio Sérgio tinha apoiado com entusiasmo o projecto de lei
pela revolução russa de 1917 correspondia um ódio de- alternativo. Plano alternativo seria plano de poder di- da Reforma Agrária de Ezequiel de Campos, em 1925.
cuplicado nos capitães da indústria do tempo, que face verso, nunca gizado. Essa lei, tributária de um “Projecto de Lei do Fomento

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apesar da máquina repressiva fascista – do corporativismo e da PIDE, anti-sindical, imposta

aos trabalhadores da indústria, redundando numa compressão brutal dos salários – o sector
industrialista do regime só triunfou após 1945. Só no final dos anos 50 o país teve o seu

rendimento interno maioritariamente oriundo do sector secundário

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Rural”, de 1887, da autoria de Oliveira Martins, a que os industrialistas viam no Estado forte e esclarecido as Percebe-se hoje que essa seria a última hipótese
se fez já referência, não foi adiante. Mas, naturalmente, condições pioneiras do desenvolvimento económico do do projecto de Fomento, daquilo que se convencionou
despertou o ódio dos agrários que, com a implantação país” (Rosas, ibid.: 43). chamar o “projecto nacional desenvolvimentista”, do
da Ditadura no ano seguinte, impediram qualquer apli- Daí que se deva sublinhar que apesar da máquina desenvolvimento da indústria, da reforma agrária, da
cação dessa intenção distributiva e produtiva. Essa ânsia repressiva fascista – do corporativismo e da PIDE, anti- substituição de importações, já sem colónias, nem o sor-
pela divisão dos latifúndios ficou bem marcada quando sindical, imposta aos trabalhadores da indústria, redun- vedouro da guerra colonial, em vidas e orçamento. Um
António Sérgio dedica o seu ensaio emblemático “As dando numa compressão brutal dos salários – o sector Estado auto-suficiente, com a revolução industrial clás-
Duas Políticas Nacionais” aos “companheiros da Seara industrialista do regime só triunfou após 1945. Só no sica completa. Da mina à máquina complexa.
Nova e a Ezequiel de Campos”. O mesmo Ezequiel de final dos anos 50 o país teve o seu rendimento interno Curiosamente, mesmo que se tome apenas o enun-
Campos que, nessa sopa de Sidónio, viria a ser ministro maioritariamente oriundo do sector secundário e só nos ciado, era o desfazer da utopia equívoca de Sérgio e a
do Estado Novo. anos 60 se começou a reduzir o peso da agricultura para chamada do proletariado à primeira linha da ideologia
Estes paradoxos só enunciam os limites políticos das níveis europeus. do Fomento. Apontando para uma etapa de democracia
perspectivas centradas apenas na Política de Fixação. Os industrialistas perceberam, ainda assim, os li- progressiva, prévia a um esperado e ulterior regime so-
Mas isso devia-se a uma ideia estratégica demasiado mites da possível industrialização, no confronto com o cialista, cuja transição era indefinida e indefinível. Até
nacionalista e pouca atenta à evolução internacional. mercado externo. Nos anos 60, verificou-se a entrada porque «a liquidação do poder dos monopólios terá de
Os enredos do atraso interno inviabilizaram que Por- acentuada de capital estrangeiro na indústria da me- ser acompanhada por uma política de rápido desenvol-
tugal tomasse qualquer linha da frente do industrialis- trópole e na exploração de matérias-primas nas coló- vimento industrial, onde a direcção superior do Estado
mo europeu, que progredia aceleradamente, apesar das nias. Estes factos pressionaram o regime à negociação não só não exclua como anime a iniciativa das empresas
guerras. da EFTA, zona de comércio mais liberal e ancorada na privadas» (Cunhal, 1964: 37).
Ferreira Dias e seus prosélitos deram então o rosto Europa. A ideia de Europa como alternativa a África Parcialmente, a perspectiva política foi realizada
da indústria ao debate estratégico interno à burguesia desponta aí. em 1974/1975, embora por escasso período. A re-
instalada no fascismo, combatendo os sectores agraris- forma agrária não foi completa e ficou localizada no
tas e a banca comercial. Isto, sob a administração da 4. Cunhal e a reciclagem Alentejo; o capital estrangeiro ficou intocado, mas,
ditadura e o esteio conservador e militarista do Estado. do Fomento êxito maior, o sector nacionalizado pela revolução de
Praticamente, sob a arbitragem do Ditador. Quando, já em 1964, Álvaro Cunhal formula a propos- Abril liquidou o capital privado dos grandes grupos.
Ferreira Dias encabeçou a “Junta de Electrificação ta de “revolução democrática e nacional”, tinha em vista Mas a revolução falhou na estratégia: os trabalhado-
Nacional” nos anos 30. O papel de combate que aí de- uma aliança anti-monopolista, abrangendo, para além dos res não asseguraram a direcção e as classes intermé-
sempenhou pelo progresso da indústria e os seus escri- trabalhadores, o campesinato, a pequena e média burgue- dias viraram-se contra o PREC (“Processo Revolu-
tos, em especial com o livro “Linha de Rumo” de 1945, sia do comércio e da indústria. A Revolução não visava cionário em Curso”), sobretudo aquelas de quem se
guindam-no à designação comum de “pai da indústria”. apenas substituir a ditadura fascista pela democracia. Iria esperava serem a “gema do bolo” anti-monopolista. A
O engenheiro assumiu o expoente dos industrialistas. mais além. O Estado, sob coligação de forças progressis- pressão político-militar das potências EUA, Alema-
“Lídimos continuadores de um autoritarismo moder- tas, tomaria conta dos grupos económicos industriais e nha e outras, escreveu a derrota de um poder progres-
nizante que radica no pensamento de Oliveira Martins, financeiros e expropriaria o capital estrangeiro. sista muito frágil.

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Assinale-se que desde o pós segunda Guerra Mun-
A privatização das empresas nacionalizadas na revolução
dial que os textos de Cunhal, documentos partidários
ou pessoais, acentuam bastante a questão do progresso de Abril, iniciada com o cavaquismo e continuadas no guterrismo
nacional, do desenvolvimento acelerado dos recursos
próprios do território. Cunhal fê-lo a propósito do es- e seguintes governos, restabelece os grandes grupos económicos.
tudo da “Questão Agrária”, também no relatório ao II Com algumas novidades, esse restabelecimento é também o
Congresso (ilegal), em Julho de 1946, e noutros artigos.
O que terá sequência desenvolvida no “Rumo à Vitória”, regresso das dinastias imperantes sob o fascismo.
de 1964.
Esse foco no desenvolvimento não se alimentava
apenas do imperativo marxista do crescimento da pro- da Espanha fascista e da Grécia reaccionária, mas mercado atlântico, rapidamente liquidaram a indústria
dução para aproximar uma sociedade abundante, ca- a grande distância dos restantes países, se Por- pesada nacional, aceleraram uma “desindustrialização”
vando o antagonismo máximo com a burguesia que se tugal tem uma indústria incipiente e uma agri- de tudo o que não fossem unidades ligeiras de consumo,
apodera do excedente. Essa insistência bebia muito na cultura indigna do nosso século, isso não se deve montagens e fábricas ligadas a serviços.
inconformação pelo declínio e na avaliação, fundamen- à pobreza irremediável dos recursos naturais, Esse cenário já tinha sido antecipado, logo em 1977,
tada, diga-se, de que a classe dirigente traía o progresso mas ao facto de que Portugal é dominado por um por Francisco Pereira de Moura:
nacional. pequeno número de grupos monopolistas e lati- “O regime anterior (Estado Novo) procurava
A refutação da ideia de Portugal como um país pobre fundiários que em benefício próprio sacrificam os responder a este desafio da integração euro-
por natureza e a defesa da exploração dos recursos pelas interesses do povo e do país.” (Cunhal, 1964: 19) peia pelo fortalecimento, rápido e por todos os
obras de infra-estruturas e pela indústria pesada apro- processos e com as maiores ajudas oficiais, dos
ximam objectivamente o dirigente comunista dos “in- À alvorada de Abril correspondeu um compasso grandes grupos – a ver se surgia, a tempo, uma
dustrialistas”. Ferreira Dias nunca pensara que a classe crepuscular depois da crise revolucionária: ainda assim, estrutura portuguesa que aguentasse o embate
operária poderia cumprir o programa dos engenheiros. mais de uma década de “normalização”. internacional. Ora para os trabalhadores portu-
Como escreveria Cunhal, directo ao alvo: gueses teria agora interesse a rápida consolida-
“O conveniente aproveitamento das riquezas 5. Finados pela decadência ção dessas grandes empresas nacionalizadas (…);
nacionais, a industrialização, a modernização da A privatização das empresas nacionalizadas na revo- a finar-se, ressurgirá ou em mãos de estrangei-
agricultura, a libertação dos encargos parasitá- lução de Abril, iniciada com o cavaquismo (1985 a 1995), ros, ou reconstruindo-se como grandes grupos
rios do Estado, são condições para se produzir e continuadas no guterrismo (1995-2002) e seguintes económicos portugueses – e então reaparecerá
o necessário para o bem-estar do povo e a inde- governos, restabelece os grandes grupos económicos. a tendência para a sucção que existiu até 1974.”
pendência do país. Essa obra não pode porém ser Com algumas novidades, esse restabelecimento é tam- (Moura, 1977: 46)
realizada na actual ordem económica e política. E bém o regresso das dinastias imperantes sob o fascismo,
não pode sê-la porque, se Portugal se encontra no como temos vindo a demonstrar ao longo deste livro. E As “privatizações” terminaram brutalmente o ciclo
último lugar da escala europeia, próximo apenas esses grupos, no quadro do mercado europeu e do sub- do “desenvolvimentismo” nacional. A grande burguesia

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É justificada a interrogação sobre a crónica mediocridade da elite económica

e o seu ciclo de finados, vendendo a propriedade ao capital estrangeiro.

Ou de súbita aportação a Angola, sem retorno de capitais lusos, residentes em paraísos fiscais.

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acabou por fazer uma nova síntese entre a Fixação e o Nem mesmo estas gerações esperavam as mudanças da O atraso a vencer situa-se nas relações sociais, na or-
Transporte, claramente dimensionada pelo Transpor- globalização financeira e económica na dimensão actual, dem da propriedade concentrada. A oportunidade é o
te. Aqui filia-se a finança e a distribuição, o turismo, o tampouco julgavam ser possível que uma potência como trabalho complexo, destinado aos mercados envolventes
entreposto europeu, a emigração, os serviços. O país a China desafiasse a liderança económica mundial. em primeiro lugar. Sem fantasmas de iberismos ou de
foi apresentado como modelo de serviços, superando Faz-se ainda, hoje por hoje, o luto de uma burguesia europeísmos. Sem preconceito acerca do socialismo ou
a etapa comercial, agrícola e industrial. A integração que não logrou ser potência na divisão internacional do da democracia parlamentar. Espaços largos, onde pode
europeia desterritorializou o espaço nacional, mercado trabalho. Curam-se ainda as saudades do proletariado e funcionar a conquista dessa geminação política.
periférico da eurolândia. seus aliados sociais que não tiveram tempo, nem condi- A necessária e futura produção industrial local tende
Esse “modelo” de serviços depreciou o factor tra- ções políticas, para ensaiar uma via autónoma. Tivemos a centrar-se nas vantagens comparativas da oferta. No
balho, fez regredir o quadro das profissões especiali- a modernização, sem evolução, do capitalismo depen- caso português, a intuição é que seja o mar, a referên-
zadas, manuais e intelectuais. Longe de ser uma etapa dente e rentista, tão ao século XIX. cia, não a exclusividade. Ironia das ironias, poderá ser a
mais avançada, diminui os ganhos de produtividade no O adeus à grande indústria, o adeus à potência per- política da Fixação no mar, no mesmo mar que sempre
quadro do comércio externo. A estrutura económica dida, foi também o adeus à carpida decadência de um lhe foi adverso. O mar é recurso de indústria, energia,
fornece reduzidos serviços de gama de valor elevado, ex-império. Outros dirão que enterrado o salazarismo, ciência e tecnologia. O mar territorial ocupa uma área
sobretudo que conduzam a incorporação acelerada de distante o nacionalismo serôdio, já longe da pressão ma- considerável, fazendo dele o espaço económico saliente.
ciência e técnica. Não são por isso de estranhar as la- terial das colónias africanas, foi-se a “mania das grande- Sérgio não lhe chamaria a “última colónia” mas a con-
mentações gerais sobre a estagnação portuguesa, que zas”. Hoje ninguém proclama, como Sérgio, em 1926, a quista de “novo solo” a trabalhar.
quase constituem já um novo género documental. vontade de “irmos reatar sob forma nova (para além de Hoje não temos de escolher a burguesia adequada.
Os avanços educativos do regime democrático trou- três séculos de um viver sem alma, no Reino Cadavero- Só podemos escolher a propriedade social, a maioria dos
xeram uma maior literacia do povo. Contudo, corres- so da Estupidez) – a faina augusta dos Descobridores” interesses organizados democraticamente. A mini-pro-
ponde-lhe a maior indiferenciação de perfil de trabalho. (Sérgio, 1926: 57). A interpretação da realidade nacional priedade, a média iniciativa individual, não perturbam,
Como todo o debate de Sérgio parece aqui deslocado, e passou a interrogar-se, agora e mais, sobre a viabilida- antes desenvolvem o primado do que é comum.
no entanto ainda vizinho deste ciclo histórico. de do país. É uma versão neo-decadentista e pessimista Sérgio talvez lhe chamasse utopia. Mas não vamos
Os equívocos de Sérgio foram, em grande medida, muito ligada à questão de saber se na Europa mora Por- perder mais um século. Já gastámos todas as estirpes de
também os equívocos das gerações que fizeram a tran- tugal, aonde e como. É justificada a interrogação sobre a domínio. Os cobardes alti-falantes da imutabilidade da
sição do regime colonialista fascista para a democracia. crónica mediocridade da elite económica e o seu ciclo de geopolítica não se cansam de ver que a geopolítica se
Não havia capitalistas em Portugal para o país saltar no finados, vendendo a propriedade ao capital estrangeiro. rompe onde se cumpre a intencionalidade popular. E é
trampolim mundial para a linha da frente das economias Ou de súbita aportação a Angola, sem retorno de capi- essa soberania que é constituinte das transições histó-
modernas. E face à integração dos mercados e às escalas tais lusos, residentes em paraísos fiscais. ricas: isto também pertence a uma política da Fixação.
requeridas pelas novas tecnologias, mesmo que tivesse António Sérgio costumava citar uma frase, já exaus-
sido conduzido pelo proletariado e pela Constituição ta, de Antero: “A nossa fatalidade é a nossa história”.
socializante, deixara de ser possível a um pequeno país Estamos em condições, hoje navegantes das redes de
ter a produção de A a Z da indústria pesada e ligeira. dados, de olharmos a história como factor de liberdade.

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