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As Misericórdias
As Misericórdias 203
Norte a entestar na Capélla da Sancta Mizericordia, e tem treze
varas e meia8». Esta igreja foi duramente atingida pela 3ª invasão
francesa.
Em 1840 foi deliberado que se construísse uma grade que
fechasse a capela-mor e se fizesse de novo o altar do Espirito
Santo e se restaurasse o retábulo do mesmo altar, «por uma e
outra cousa se acharem em estado de grande ruina originado da
Invasão Francesa»9. Em 1911 encontrava-se inteiramente
arruinada. O telhado e o madeiramento foram retirados e vendidos
conjuntamente com a Casa do Despacho por 432$50 (doc. nº 99)
Grav. 91 - Antiga igreja da 10
.
Misericórdia de Pombal
A Misericórdia era igualmente proprietária da igreja de Nossa
11
Senhora do Monte do Carmo (a igreja do Carmo) e da Capela de S. Luzia.
O Hospital já funcionava antes de 1811 - «N’outro tempo havia aqui hum
Hospital, cujas despezas se fazião pelos rendim.tos da Mizericordia, q. tem hum
bom fundo, mas como por ora nada há, estão
os pobres privados deste Beneficio, emq.to
não se liquidar alguma couza»12. Deve ser,
pois, dos finais do séc. XVIII. A confirmá-lo
está a afirmação feita em 1805: «(...) sendo a
freguesia de S. Martinho de Pombal das mais
extenças deste Bispado, e de maior nº de
Freguezes, a maior p.te destes pobrissimos,
porq. sendo acometida a d.ta Fregª de huma
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Estrada de Coimbra para aí fazer novo edifício. Não se concretizará o projecto.
Como referimos atrás, só em 1889 surgirá um novo Hospital num edifício junto à
Ponte Pedrinha (frente aos Correios) doado por D. Emília Godinho Valdez.
Passará a dispor de uma enfermaria masculina (4 camas) e uma feminina (2
camas), além de um quarto particular. Em 1930 recebe mais um piso.
Os estatutos da Misericórdia de Pombal irão desaparecer na voragem dos
acontecimentos de 1811, razão pela qual segue os da sua congénere de Lisboa,
entretanto mandados vir15. Só terá novos estatutos em 1872, aprovados pelo
Conselho do Distrito em 1873. De lá respigámos alguns dos seus artigos:
«Capitulo 1º
Art. 1º - A irmandade terá a invocação de Nossa Senhora da Misericordia. O seu
anno economico principia em dois de Julho, dia da Vizitação de Nossa Senhora a
Santa Isabel.
Art. 2º - (o número de irmãos) nunca será inferior a quarenta, e deverão ter as
seguintes qualidades:-
Primeiro - Serem de boa consciencia, de bons costumes religiosos e caritativo,
não podendo admittir-se os que tiverem sido convencidos em juizo, como authores
ou cumplices em algum crime grave.
(...) Capitulo 4º - Da administração da Irmandade
Artigo 1º - A Meza deverá ser composta de um Provedor, um Secretario e um
Mordomo ou Thesoureiro e quatro irmãos.
Artigo 2º -Haverá tambem um Cartorario, um andador, enfermeiro, enfermeira e
todo a mais pessoa perciza
(...) Artigo 55 º - Junto os irmãos na egreja da Misericordia, sahirá a irmandade
incorporada (no funeral), indo o andador de balandrau com a campainha,
seguindo-se a bandeira da irmandade levada pelo irmão que a Meza precedente
tiver nomeado, acompanhado por dois brandões levados por irmãos da mesma
forma nomeados, seguindo-se depois os irmãos em boa ordem, indo o Mordomo
com vara preta, deregindo a irmandade, no fim o procurador e secretario com mais
varas pretas e de traz d'elles o esquife levado por irmãos; e d'esta maneira irão no
acompanhamento dando o logar costumado aos clerigos e confrarias.
(...) Artigo 58º - A obrigação do enterramento dos mortos comprehende o das
pessoas indigentes que fallecerem no hospital ».
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Havia igualmente inúmeras esmolas.
Um dos seus maiores benfeitores foi frei Valentim Alexandre de Carvalho,
religioso do Convento do Cardal, onde foi professor. Por testamento feito em 1764,
deixa à Misericórdia foros, vinhas, pinhais, olivais, etc. 16.
O quadro seguinte permite determinar a importância das nossas misericórdias
entre si e face às suas congéneres do distrito de Leiria17:
QUADRO XX
Rendimento anual das Misericórdias - 1852
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continuamente 32 velas e 4 tochas de quilo e meio de cera. Das 3 procissões,
salienta-se a de 5ª feira à noite, chamada «dos fogareus» ou «dos archotes» e a de
6ª feira ou «do enterro». Era costume figurarem ao vivo S. João Baptista, Maria
Madalena, Verónica e as 3 Marias19.
Vejamos nessa data a estrutura das principais despesas:
QUADRO XXII
Despesas das Misericórdias - 1852
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funcionava pelo menos em 163324. Desconhecemos
quando deixou de funcionar, pois a última referência
que localizámos diz respeito a 175025 e sabemos
que em 1887 não existia.
Das suas despesas nos dá conta o Provedor em
1835 - «he feita com esmolas a pobres, e a
enfermos, que não tem meios para accudir á sua
doença, a passageiros que vem com Guias de
outras Mizericordias, e finalmente em festas da
Igreja, que se costumão fazer annualmente pela
26
Semana Santa, e em dia de Santa Izabel» .
Declara-se em 1870 que « são soccorridas
aproximadamente todos os annos cem pessoas
27
com remedios e esmolas» .
Quanto à Misericórdia de Abiúl pouco ou nada
sabemos, a não ser que em 1620 já funcionaria, de
Grav. 94 - Igreja da Misericórdia do Louriçal acordo com a data inscrita no altar28. Nas Inquirições
de 1721 diz-se em relação a Abiúl:- «Há hua caza de
Stª Mizª e Caza de hospital suposta que nella se não curem por falta de
rend(i)m(ent)os e do anno em q foi fundada ou por quem nam pude alcansar
29
not(ici)a» .
No entanto as Memórias Paroquiais de 1758 dão-nos algumas pistas sobre a
sua formação no reinado de D. João III - «Nesta villa ha huma Igreja, q. no prezente
tempo serve de Caza da Mizericordia. Digo no prezente tempo, porquanto há
tradição de (...) de livros antigos, q. se achão no archivo da mª Santa Caza, q. esta
fora antiguamente huma capella dedicada ao Divino Espirito Santo com sua
Irmandade, e como quer q. fossem aumentandose em numero os Irmãos e com as
entradas destes e tãobem com os (...) q. se comprassem alguns bens; com outros
q. os legados pios deyxarão alguns defuntos, forão crescendo os rendimentos de
sorte q. se concordarão a nobreza e povo em fazer supplica a Sua Mag.e q. lhe
convertesse em caza de Misericordia a referida Capela, e lhes desse para seu
governo, e estabelicimento hum Estatuto ou Compromisso. Anuio a Mag.e do Snr.
Dom João terceyro aos rogos dos sobreditos (....)»30.
Sabe-se que esta Misericórdia se regia pelo compromisso da Misericórdia de
Lisboa, a exemplo da de Pombal.
Também no relato de 1721 se afirma que «há hum pequeno hospital com
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acomodação pª quatro camas, q. mais raras vezes
tem ezercido, assim por ser esta terra de sertão de
pouco frequentada passagem de Peregrinos»31.
A Misericórdia de Abiúl é dissolvida pelo
Governo Civil de Leiria por alvará de 28 de Agosto
de 1869, sob a acusação de irregularidades
cometidas e os seus bens são incorporados na sua
congénere de Pombal no ano seguinte.
Sobre a Misericórdia da Redinha calcula-se que
já funcionava em 1622, mas em 1839 não possuía
estatutos por terem desaparecido a quando da 3ª
invasão francesa32. Sobre a sua actividade diz-se Grav. 95 - Misericórdia de Abiúl
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Competia também à confraria um conjunto de cuidados perante a morte de um
confrade:- promover os sacramentos ao moribundo, efectuar a trasladação de
casa para a igreja, bem como acompanhar o velório e o enterro.
As confrarias do Carmo, do Rosário e das Almas são extintas em 1868 pelo
Governo Civil de Leiria38 e os seus bens incorporados na Misericórdia de Pombal 2
anos depois. A do Santíssimo terá a mesma sorte em 1871 e os bens entregues à
Junta da Paróquia de Pombal. Todas elas possuíam avultados bens.
_______________
2 – MORA, Amadeu C., Esboço Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Pombal, ed. Santa
seguintes - Notícias remetidas à Academia Real (de História) debaixo da Real Protecção do mui alto e
muito poderozo Rei N. Snr. D. João o 5º», feita em Leiria em 1721 pelo Provedor de Leiria Brás Raposo
da Fonseca.
4 – LIMA, Baptista, Terras de Portugal, vol V, Lisboa 1937, art. Pombal e BAPTISTA, João
Maria, Chorographia Moderna de Portugal, vol. IV, Lisboa, 1876, pg. 136.
5 – Muitos dos que se dirigiam às Caldas da Rainha, com frequência traziam uma guia passada
pelas Misericórdias das suas terras, em que se pedia o auxílio das autoridades do percurso; aqui
recebiam a dormida e a esmola; além disso, a Misericórdia de Pombal mandava-os conduzir a Leiria ou
a Abiúl ou Redinha. in MORA, Amadeu C., op. cit., 1953, pgs. 25 e 26.
6 – LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. VII, Lisboa, 1876, pg. 132.
de Dezembro de 1870.
8 – Cerca de 15 metros.
11 – Servia para as reuniões mais solenes da Misericórdia (as normais eram na Sala do
Despacho) e nela passou a celebrar-se a missa quando entrou em ruína a Igreja da Misericórdia.
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Sofreu sérios danos terríveis na 3ª invasão.
175.
13 – Processo de Breve Papal de 1805 citado in MORA, Amadeu C., op. cit., 1953, pgs. 58 e 59.
14 – Arquivo Distrital de Leiria, caixa 61 - Oficio da Câmara Municipal de Pombal para o Sub
15 – idem, caixa 50, maço 9 - Mappa demonstrativo das Mizericordias, 4 de Setembro de 1839.
de Dezembro de 1870.
11 de Setembro de 1835.
lugares e aldeas, etc., tomo I, Lisboa, 1747, pgs. 12 e 13. O púlpito seiscentista da igreja da
32 – idem, caixa 50, maço 9 - Mappa demonstrativo das Mizericordias, 4 de Setembro de 1839.
de 1870.
34 – SÁ, Isabel dos Guimarães, art. As confrarias e as misericórdias in História dos Municípios
e do poder local, dir. César Oliveira, ed. Círculo de Leitores, col. Grandes Temas de História, Lisboa,
As Misericórdias 211
1996, pg. 57.
35 – Arquivo Distrital de Leiria, caixa 45, maço 33 e caixa 73 - Actas do Conselho do Governo
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