Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Já no plano visível, mergulhamos nas entrelinhas daquele texto surreal, permitindo que
nossas mentes se afundassem, sem receios, sem limites. O processo de desenvolvimento
do cerne da nossa interpretação foi intenso, e muito prazeroso, resultando na leitura dos
parágrafos posteriores.
Ilustrado esse ponto, vejamos agora o plano invisível: O artista estaria calcado numa
metáfora do nascimento, uma vez que o planeta, denotando um formato oval,
assemelha-se ao útero materno. Enquanto o homem, o “ser nascente”, estaria lutando
para romper aquela placenta invisível, sem sequer sofrer uma interferência auxiliadora
da mãe Terra, haja vista sua deformidade e abatimento.
Aos poucos vamos expondo nossa visão, tentando apresentar a interação de todos os
signos do texto imagético. Acreditamos que, a figura demonstrada no lado direito da
imagem seja uma mulher, baseando-se em sua ligeira semelhança estética e na criança
que se protege em suas pernas. Ela, por sua vez, aponta para o planeta, tal como Deus e
Adão foram representados na Capela Sistina, por Michelangelo. Diante dessa comparação,
essa figura pode ser constituída como divina, ou, a responsável pela criação da Terra. Ou
seja, a própria criadora estaria assistindo a destruição de sua criação. Isso já nos levaria
à idéia renascentista, cuja temática principal era a sobreposição da razão humana sobre
as questões divinas. Mas não foi nesta possibilidade que mergulhamos a fundo.
Retomando nossa linha de raciocínio, vejamos, agora, sob uma ótica contextual histórica:
A suposta mulher aponta, especificamente, para o continente europeu, o qual manteve
uma hegemonia político-social até o fim da Segunda Guerra. Diante dessa decadência
européia no término da guerra, podemos firmar um contraste em relação ao homem que
rompe no continente norte-americano. Esse contraste pode ser caracterizado por dois
fenômenos naturais da vida: O nascimento, representado na América, e a morte,
simbolizada pela Europa.
Ainda em relação à Segunda Guerra Mundial, nós podemos destacar outro traço marcante
na pintura de Dali: No extremo norte do continente africano, observa-se o pender de uma
lágrima límpida.
Na parte inferior do lado direito, observa-se uma criança, agarrada aos pés da suposta
mãe. Esta criança, devido a sua aparência de terrível espanto pelo o que vê, proporciona
uma série de indagações por parte do receptor.
Agora, nos transportando para o plano de fundo da pintura, podemos deduzir que um
deserto é o ambiente que abrange todo o foco figurativo principal. No lado direito do
quadro, enxerga-se ao longe a figura de uma pessoa, provavelmente acenando um
“adeus”para algo.
O que seria? Dentro de nossa concepção, percebemos que possa ser um “adeus” ao poder
hegemônico do Velho Mundo, uma vez que a figura está posicionada no lado do
hemisfério oriental do planeta Terra, o qual engloba a maior parte do continente
europeu, além de outros.
Ainda no plano longínquo da pintura, com base em uma ampliação, observamos, agora no
lado esquerdo, uma figura aparentemente vestida de vermelho e preto, o que remete,
psicologicamente, à personagem satânica.
Cremos que aquela presença maligna no lado do hemisfério ocidental do planeta Terra
poderia ser justificada. Talvez seja porque o surgimento do poder capitalista esteja
voltado para os E.U.A. O sentimento capitalista remete a busca incessante do poder,
baseada na árdua competição. Essa questão é retratada de forma magistral no filme “O
advogado do diabo”, dirigido por Taylor Hackford. Al Pacino, que interpreta o diabo em
forma humana, oferece todo seu mundo de belezas e suntuosidades efêmeras a um
jovem talentoso advogado, provocando sua vaidade e levando-o para a destruição. Assim
estaria representado o capitalismo no quadro de Dali: O próprio Satã.
É interessante apreciar cada objeto dentro da tela, tentando aplicar uma significação
àquilo. E assim fizemos em relação ao a uma figura que nos remete a idéia de um
obelisco, no canto direito da pintura, ao longe.
Ora, obeliscos eram, no Antigo Egito, representações de poder. Dentro do
desenvolvimento da nossa interpretação, essa figura se encaixaria perfeitamente, uma
vez em que haveria, incutido no foco central, uma demonstração acalorada da mudança
geográfica do poder.
Por fim, analisamos o objeto que parece ser uma tenda, a qual paira sobre o mundo. Algo
muito enigmático, considerado por nós o grande mistério da pintura. Nos sentindo como
Édipo diante da Esfinge, arriscamos sermos devorados e formamos uma interpretação, na
tentativa de desvendá-la, evitando, claro, fugir do que já havíamos nos baseado. Quem
sabe não nos coroam como reis, tal qual Édipo ao descobrir o enigma?
Aquele objeto de bordas pontiagudas seria uma representação onírica. Segundo Freud, no
seu maravilhoso livro “A interpretação dos sonhos”, sonhos relacionados a cavidades ou a
coisas que se abrem como uma flor, estão ligados ao órgão sexual feminino. Já o órgão
sexual masculino seria representado por objetos pontiagudos. A cor preta estaria voltada
para o negativismo. Ou seja, atentando para aquele dado objeto na pintura, imagina-se
essa possibilidade, que “só Freud explica”, como muitos costumam dizer.
Como relacionar essa explicação com o que já foi deduzido? Ora, a pintura está envolta
num sentido de nascimento. E nada mais coerente do que a junção de representações
oníricas dos órgãos feminino e masculino em uma mesma figura. Figura esta que, por
conseguinte, está acima do mundo, como se fosse a responsável pela sua geração. Estaria
ela impregnada de um colorido negro e uma aura sombria, pois, devido à destruição
causada pelo homem, estaria incidindo em si o reflexo negativo de sua criação.
Fontes Bibliográficas: