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Os critérios que determinam a norma (padrões de uso) de uma língua se estabelecem ao longo
do tempo principalmente pela ação da escola e dos meios de comunicação. Esses dois instrumentos
sociais levam os falantes de um idioma a aceitar como "certo" o modo de falar da camada da
população que, em virtude de sua situação social privilegiada, tem maior prestígio na sociedade. Essa
variedade – chamada língua culta - usualmente é falada e escrita em situações mais formais pelas
pessoas de maior instrução e de maior escolaridade. Os documentos oficiais (leis, sentenças judiciais
etc.), os livros e relatórios científicos, os contratos, as cartas comerciais, os discursos políticos etc. são
exemplos de textos escritos nessa variedade lingüística.
A língua coloquial, por outro lado, é uma variante mais espontânea, utilizada nas relações
formais entre os falantes. É a língua do cotidiano, sem preocupações com as regras rígidas da
gramática normativa. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões
populares, frases feitas, gírias etc.
Uma comparação entre a língua culta e a língua coloquial permite notar que, em certos
aspectos, as diferenças entre as duas são bastante evidentes; mas, em outros, os limites não são
claros e fica difícil, nesses casos, definir o que é culto e o que é coloquial.
No quadro a seguir, estão resumidas, de forma bastante simplificada, as diferenças mais
facilmente observáveis entre essas duas variedades lingüísticas.
No segundo quadrinho, o falante usou palavras que seu ouvinte não conhecia; ou seja, o falante
adequou sua linguagem. Isso impossibilitou que o cozinheiro entendesse a pergunta.
É interessante notar que, nesse contexto (situação de comunicação), podem ser feitas duas
"leis" para explicar a inadequação:
1 – hipótese - O falante foi incapaz de adequar a linguagem ao ouvinte; ele não teve habilidade
lingüística para perceber que, ao fazer a pergunta ao cozinheiro, deveria falar de maneira mais simples.
Assim, por exemplo: "Quem foi o indivíduo danoso que preparou essa massa podre e nojenta?
2 – hipótese - O falante estava indignado com a péssima qualidade da comida, mas, para evitar
confusão, ele, intencionalmente, construiu a frase de modo que o cozinheiro não a entendesse
mesmo. Nessa hipótese, ele teria usado a frase apenas para desabafar sua irritação.
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas.
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. © Grana Drummond. www.carlosdrummond.com.br Boitempo. Rio de Janeiro, Record.
b. De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra esquipático talvez tenha surgido da junção das
palavras esquisito e antipático. Considerando essa possibilidade, estabeleça relação entre
esquipáticas (verso 11) e o conteúdo da 3ª estrofe.
c. Explique o último verso do poema: "O português são dois; o outro, mistério.",