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Jair Freitas Feitosa.2
É muito comum em nossa cidade encontrarmos por onde andamos placas e mais
placas com a indicação de escritórios de profissionais de várias áreas com a apresentação
do referido como sendo "Doutor". Alguns alunos nos questionaram se isto é correto. Não
sabemos até que ponto alguém pode utilizar como identificação a denominação de Doutor
sem possuir legalmente o título. Muitos defendem essa utilização argumentando que faz
parte de uma tradição e que em nosso país isto serve para impor respeito e diferenciá-los
dos demais.
No item doze surgem os requisitos básicos para alguém ingressar num curso de
doutorado. O parecer possui as preocupações e os valores representados pelos autores e sua
época:
O nosso interesse nos leva a uma abordagem filosófica que nos possibilitará
identificar o aspecto subjacente no tratamento das pessoas sob a insígnia do "Mito do
Doutor". Nos parece ser uma forma de distinção muito mais fundamentada em nossa
tendência para assumir uma postura de submissão do que um simples tratamento. Quantas
vezes nos deparamos com cenas em que pessoas que possuem uma posição socioeconômica
mais destacada são tratadas com a distinção do título sem nem mesmo possuir alguma
graduação superior. As pessoas que possuem a titulação de Doutor não se comportam, no
geral, de maneira a demonstrar ou impor a sua titulação como imprescindível nas suas
relações.
Daí em diante o professor faz uma análise em busca da identificação das causas e
conseqüências desse tipo de atitude, continua ele:
Devemos apontar outras fontes sobre a origem desse título ou desse tratamento.
Ainda que caiba nesta discussão a tentativa de assegurar para si essa deferência, expomos o
argumento utilizado por poucos que já tentaram refletir e encontrar uma justificativa que
pelo menos pareça plausível. Essas poucas pessoas dizem que estamos nos referindo apenas
a um tratamento, a uma forma respeitosa de tratar aqueles que cientificamente
desenvolveram, até certo grau, um conhecimento para atuar profissionalmente e que se
entendem como merecedoras dessa distinção. Mesmo assim não se obtém a separação entre
tratamento e a exigência de ser tratado segundo o título que por ventura venha a possuir.
Bom, se a defesa desse argumento se baseia na tentativa de romantizar ou deslocar do
campo da erudição a importância do tipo de tratamento, não convence, pois esse tratamento
possui uma significação que deve ser utilizada devidamente. Ainda que estejamos falando
de origem acadêmica e não puramente histórica, pois ao contrário seremos enredados numa
discussão puramente despropositada sendo que o significado da palavra e do que ela
representa nos remete ao âmbito em que ela se circunscreve. Então, continuamos a defender
o conhecimento da palavra e o seu significado para que as pessoas possam ter a
possibilidade de usá-la de acordo com as suas necessidades e objetividades, e não por
imposição de um conjunto de cidadãos sobre os outros.
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Lenilson Ferreira, Professor da Escola Superior Cândido Mendes, Mestrando em Ciências
Pedagógicas do Instituto Superior de Estudos Pedagógicos (ISEP).
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Grifo nosso. Chamo a atenção para essa atitude do professor em assumir que só os médicos,
pela especificidade do seu curso e pela maior deferência ao seu status social, merecem o
tratamento. A naturalização de um tratamento nos impede de discuti-lo e negá-lo, pois promove a
inalteração impossibilitando a modificação essencial.
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Agora voltemos aos aspectos que discutem a origem do título, continua o professor:
Nas origens sociais dessa distinção encontramos explicações que nos colocam
diante de nosso comportamento baseado num senso resultante da colonização. Veja a
seqüência do raciocínio do professor Lenilson:
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Advogado - Doutor por Direito e Tradição. Por: Dr. JÚLIO CARDELLA, (Tribuna do Advogado de
Outubro de 1986, pág. 5)
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A lei está em vigor, assim como tantas outras da época do Império, que
não foram revogadas, como o nosso Código Comercial de 1850.
Para finalizar as colocações de Júlio Cardella apresento sua nota no final do artigo:
Muitos colegas não têm o hábito de antepor ao próprio nome, em seus
cartões e impressos, o título de DOUTOR, quando em verdade, devem
faze-lo, porque a História nos ensina que somos os donos de tal título,
por DIREITO E TRADIÇÃO, e está chegada a hora de reivindicarmos o
que é nosso; este título constitui adorno por excelência da classe
advocatícia.
NOTA DO AUTOR: Nada, absolutamente nada, tenho contra a laboriosa
classe médica. Apenas procurei evidenciar o que a lei e a tradição
revelam, sem quebra de ética em nossa conduta. Serve, entretanto, este
articulado, de endereço certo aos que, por ignorância ou má-fé, teimam
em não se curvar à evidência dos fatos..."
DECIDE
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Destaque nosso.
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Fomos questionados: se alguém que agisse afirmando ser o que não é, estaria
incorrendo num crime de falsidade ideológica? A resposta a essa pergunta evidente se
revela envolta em elementos bastante contraditórios. O que sabemos é que alguns
conselhos federais estão criando resoluções de amplitude nacional informando a todos os
associados que utilizem a denominação de "Doutor" antes de seu nome como forma de
identificação (veja as resoluções acima). Justificam tal atitude em decorrência de não haver
uma legislação específica que regulamente a utilização do título. E baseado no que diz o
texto do CREFITO-2: "e considerando a não existência no direito positivo brasileiro,
consubstanciado na Lei nº 465, de 10.02.1965, de preceitos legais disciplinando a
concessão do título de Doutor.", contrapondo com o Parecer nº 977/65, C.E.Su, aprovado
em 3-12-65, que tem por objetivo regulamentar os cursos de pós-graduação de Mestrado e
Doutorado, e a L.D.B lei N. 9.394 - DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996, art. 44, que
regulamenta a pós-graduação, podemos questionar: se os cursos de pós-graduação estão
regulamentados em lei, dentre eles o Doutorado, como podemos aceitar que não exista uma
definição na utilização tanto do título como da sua simbolização?
Mas se os conselhos autorizaram os seus afiliados a utilizarem a designação, então
eles estão livres para agirem assim, dentro da lei, como afirmam os conselhos federais das
profissões. Ninguém, portanto, segundo esses conselhos, estaria agindo fora da lei ou
contra a lei.
Enfim, pretendemos esclarecer que este título na sua origem possuía uma
designação que ocorria através do reconhecimento à competência demonstrada por um
pensador que foi capaz de acrescentar originalmente informações à sua área de atuação.
Depois, começou a ser outorgado a alguém que possuía um determinado curso superior, por
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Podemos, então, sugerir a criação de uma significação semelhante para quem não é
Doutor e que deseja utilizar-se dessa designação como forma de tratamento: Doutor por
tradição, Doutor por Resolução ou coisa parecida.