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Entrevista com Jaime Crespo

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[Sete perguntas de amigo para amigo com o
cãodidato

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5/1/2009

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Joaquim Castanho
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Jaime Crespo

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Entrevista com Jaime Crespo

Por, Joaquim Castanho


Sete perguntas de amigo para amigo com o cãodidato
"Apenas os que arriscam ir mais longe

podem descobrir até onde podem chegar."

T. S. Eliot

1. Sinceramente não percebo o que leva alguém


a agir em esclarecido benefício de uma comunidade que quase sempre se
lhe antagonizou, pôs obstáculos vários e pujantes à realização pessoal
como profissional, sobretudo a favor daquelas gerações que são
descendentes dos membros daquela "comunidade" cujos componentes
tudo fizeram, de quanto estava ao seu alcance, para os prejudicar, para
que não singrassem na vida como na profissão, mas Jaime Crespo discorda
de mim, embora sejamos "amigos políticos" de longa data, que remonta
às andanças para a Associação de Estudantes da Escola Secundária de S.
Lourenço, em Portalegre, à militança ativa na (extinta) UDP, às
manifestações de solidariedade com os trabalhadores da (também
extinta) Fábrica dos Lanifícios de Portalegre, da redação e distribuição de
manifestos culturais para a evolução ética no meio estudantil, da partilha
de leituras e ideias, nas tertúlias de tasca como de café, onde
consolidávamos e divulgávamos a solução, ou pensamento libertário, para
as grandes questões sociais do nosso dia a dia, eis que agora o venho
encontrar desobstruído e desacomodado, a candidatar-se ao Parlamento
Europeu (PE), pelo RUE – Comissão Nacional de Rutura com a União
Europeia –, precisamente numa lista conjunta com o POUS – Partido
Operário de Unidade Socialista –, o partido político com o qual o RUE
emparceira nesta complexa descruzada das soberanias subalternizadas do
Velho Continente a espairecer-se nas modas novas da democracia – mas
não muito.
Ora por estas e outras razões, entre as quais saliento a coragem de pugnar
por algo que preocupa a todos – senão atenda-se aos resultados de
sondagens recentemente divulgadas que indicam que dois em cada três
portugueses consideram que teríamos mais possibilidades de enfrentar a
atual crise se não tivéssemos adotado o Euro (€) –, chegámos à "fala", do
que aqui fica a prova, e se dá dela recatado testemunho...
Jaime: tu não és propriamente um imberbe nestas bailações e
contradanças, pelo que me deixa expectante a tua candidatura ao PE num
alinhamento político POUS/RUE, que deve ter bastantes dificuldades em
romper a barreira da indiferença nos órgãos de comunicação social
montada pelos papistas e arautos do establishment partidário nacional...
Portanto, será que ela pretende reiterar o sentimento coletivo de que
seríamos efetivamente melhores cidadãos europeus se discutíssemos
abertamente, pelo sufrágio direto e consequentes referendos, as
condições e particularidades da nossa adesão, sem os constrangimentos
regimentais da abdicação por carambola partidária, da nossa anuência ou
rejeição perante o Tratado Constitucional Europeu (TCE), perante a
evidência dessa Europa que nos não representa nem defende, por ser
feita a partir de cima, manufaturada e arquitetada pelos tecelões da alta
malha financeira, pelas pítias do desenvolvimento neoliberal da
aristocrática elite dos baronatos do poder, pelas negociatas irreversíveis
do argumento capitalista de um modelo social falido cujos efeitos
secundários são incontestavelmente conhecidos, não só por acoitarem a
atual crise, dita mundial, mas que é usada como álibi para encetar ou
implementar políticas, reformas, de opressão e exploração do principal
setor produtivo das sociedade, os trabalhadores, os operários e
assalariados de todos os países do Velho Continente? Será que o que está
em causa nestas eleições para o PE, não é tanto unir os trabalhadores
contra a Europa, mas sim contra uma determinada Europa que
propositadamente os omite das suas decisões fundamentais? Será que
esta tua candidatura não vem intentar que a melhor participação política
que a cidadania europeia pode ter é uma, aquela que conscientemente
integra e apela para a discussão responsável da participação ativa e
democrática?

Jaime Crespo –
(onde o cãodidato se dispõe a jeito e mostra de tudo um pouco: obra
malfeita, obra a fazer, obra por fazer, é só obrar, e até, vejam lá, o seu
saco azul e as suas t-shirts, ou talvez melhor fora dizer suas cãomisolas)
Com certeza que não te estás a referir à "Comunidade" do inesquecível
Luiz Pacheco, nem a nenhuma das suas pachecadas. Bem, confesso que
não compreendo muito bem a 1ª frase desta tua questão. Vou entendê-la
como que estejas a referir-te aos partidos políticos em geral e à geração
que tomou conta da política em Portugal a seguir ao 25 de Abril em
particular.
Sendo assim, dir-te-ei que estas organizações, o POUS e a RUE não são
nem se encaixam nesse modelo de organização política tradicional. São,
digamos, uma equipa de casados (porque separados não fazem duas
equipas) à qual calhou em sorte defrontar as equipas da 1ª divisão. O
treinador é cábula, não tem o curso nem percebe muito de táticas e os
jogadores faltam muito aos treinos, preferindo gastar o seu tempo pelos
centros comerciais e tascas da zona.
Claro que se conhece a filiação trotskista
Do POUS e a sua inscrição na IV Internacional, mas que de dentro do seu
beco procura abrir portas e renovar alguns debates mal concluídos na
política portuguesa e encontrar uma saída para o aparente impasse em
que a classe trabalhadora se encontra. A RUE aparece nessa senda de
alargar o debate a pessoas de outras tendências mas que comungam
algumas opiniões sobre a União Europeia e sobre a situação atual dos
trabalhadores.
Admiro a tua memória vivaz e muito me apraz recordar esses velhos e
saudosos tempos de Portalegre e curiosamente relembras três factos os
quais cada um constituiu um marco importante no meu crescimento e na
aprendizagem da vida. De todas essas memórias a que mais me marcou
como lição de vida foi aquele operário da Fábrica dos Lanifícios a dizer-nos
ao balcão do bar dos trabalhadores que tinham aguentado mais 1 ou 2
dias de greve devido ao comunicado que nós dois escrevemos e
distribuímos à porta da fábrica solidarizando os estudantes com a luta
deles. Compreendi aí que os nossos atos têm consequências e criam
expectativas nas pessoas e depois de tomarmos uma certa posição não
podemos sair dela frustrando essas pessoas. Com a Associação de
Estudantes recordo-te que apenas partilhámos uma lista e tu integraste
uma outra, e essa sim, saiu vencedora. Aí aprendi que em política amigos,
amigos, política à parte, ou seja, que quando se faz política esta não se faz
com amigos mas com aliados estratégicos, e foi porque compreendi isso
que a nossa amizade continuou, de outro modo talvez tivesse ficado por aí
e teria sido pena.
Autorretrato de Frida Kahlo, dedicado a Leon Trotsky

Na militância da UDP descobri o significado da palavra "estalinismo" e


execrei a partir daí todas as ditaduras e todas as formas de totalitarismos
morais. Definitivamente tornei-me anarquista apesar de uma boa parte
daqueles anarquistas com quem contactámos na altura, exceção ao
saudoso Emídio Santana, ao Zé Tavares, ao Luiz Temido e ao Ricardo (não
sei onde nenhum destes três anda), a maioria dos outros se tenham
revelado uns bons pulhas que têm como exemplo maior dessa pulhice o
João Freire que se serviu da Anarquia enquanto lhe deu jeito e agora se
transformou num arrivista neoliberal. E nós a colaborarmos e a
vendermos com prejuízo a revista "A Ideia" para esse sacaninha. Enfim, é
a vida…
Quanto ao Euro €, não passa de mais um mito que nos foi impingido e
que, como costume português, engolimos sem refilar. A perceção de que
a atabalhoada entrada de Portugal no € foi má para o povo foi visível logo
na altura com o brutal aumento do custo de vida, mas toldada com a
chegada de massivas ajudas financeiras a Lisboa e logo distribuídas e
esbanjadas pelos afilhados do costume.
Convém explicitar, para não cairmos na tentação enganosa em que muita
gente se enreda, por exemplo a candidata ao Parlamento Europeu,
Laurinda Alves que acha que "essas ajudas" nos chegam devido à bondade
e ao amor que os outros povos constituintes da União Europeia,
especialmente a Alemanha, a Inglaterra, a França e a Espanha têm por
nós. Ora a verdade é que esses fundos são constituídos em parte pelos
lucros provenientes da destruição do nosso setor produtivo que de algum
modo poderia competir com setores desses países, por exemplo a enorme
zona marítima que Portugal controlava e que é riquíssima em variedade e
qualidade de peixe, somos hoje o 2º país, "per capita", a nível mundial a
consumir peixe, temos uma das maiores áreas marítimas... Mas não temos
frota pesqueira porque a sua destruição foi uma das imposições para a
nossa adesão, ao tempo denominada, CEE, isto em benefício da frota
espanhola que desde longa data cobiçavam as nossas águas. O mesmo
aconteceu a setores agrícolas como a produção de leite e seus derivados e
a produção de azeite. Sem termos consentido com a união ibérica, a
Espanha hoje de facto controla a nossa economia sem o ónus de ter que
nos governar. Por outro lado tivemos ainda que nos submeter à imposição
das privatizações dos setores chave da economia: banca e energia que
passaram de almofada económica do estado português para as mãos de
grupos especuladores internacionais. Ora como se constata os famosos
fundos europeus mais não são do que parte da riqueza que nos foi
retirada.
Por outro lado ao destruir o setor produtivo português, as constantes
mudanças à Constituição, as alterações do código laboral, tudo medidas
para cumprimento de diretrizes da Comissão Europeia, voltou a criar de
Portugal uma bolsa de desempregados que vão constituindo uma bolsa de
mão de obra barata e fonte de emigração para o capitalismo europeu. De
notar que não emigravam tantos portugueses como está a acontecer
desde a década final de Salazar, os anos sessenta.
Vamos então às perguntas propriamente ditas que a pregação vai longa…
Ao resolver aceitar o convite formulado pelo POUS de compor a sua lista
ao PE como membro da RUE, fi-lo porque estou em concordância e
sintonia com as posições basilares destas duas organizações sobre a U.E.,
que não devemos confundir com Europa, e suas instituições. Em poucas
palavras: defendemos o fim desta U. E. e a consequente dissolução das
estruturas que lhe estão associadas. Ao contrário de outros que dizem que
são contra as políticas da U. E. mas que mudando as políticas já seriam a
favor, nós achamos que esta organização enferma de vários erros de
construção, quase todos apontados por ti na pergunta, não sendo possível
qualquer regeneração por dentro. Nasceu torta e não há modo de a
endireitar, é para ir abaixo.
No entanto a RUE não aparece em Portugal como um fenómeno isolado,
por obra e graça do divino espírito santo, ou através da ação de algum
iluminado. É um movimento que aparece e começa a crescer do facto de
diversos trabalhadores, de todas as áreas de atividades, de alguns
dirigentes sindicais, sindicatos e organizações ou partidos políticos,
porque finalmente começaram a aperceber-se que a prometida
equiparação entre profissões na UE. se está a fazer não por cima, isto é,
elevando os salários e dando mais garantias e direitos aos trabalhadores
dos países economicamente mais fracos e mais mal pagos, mas o
contrário, o nivelamento está a ser feito por baixo, ou seja, ao abrigo das
leis e do corpus legislativo comunitário, sob a máscara da livre circulação
de pessoas, bens e empresas, sob o pretexto de combater o
protecionismo isolacionista dos Estados-nação e de fomentar e facilitar a
livre concorrência, sob uma falsa áurea de mais liberdade, pois o que se
verificou foi a transferência de trabalhadores e empresas dos países mais
pobres para os países mais ricos e evoluídos em termos de direitos e
garantias laborais, substituindo os trabalhadores no ativo nesses países
mas cumprindo a legislação laboral dos países de origem ou de
recrutamento, levando ao desemprego dos trabalhadores naturais ou há
muito estabelecidos nesses países, como é o caso de muitos portugueses
em França e na Alemanha que estavam habituados a ter os salários iguais
aos dos trabalhadores nacionais desses países, os mesmos direitos, etc. e
se veem agora substituídos por compatriotas, espanhóis, italianos pessoas
da Europa de Leste, que por salários menores, trabalham mais horas e
quase não têm direitos. Ora esta situação está a tornar-se explosiva em
muitos locais e não pode de maneira nenhuma ser aceite de bom grado
pelos trabalhadores e pelas suas organizações sindicais. Por isso temos
assistido ao aumento da contestação social por quase toda a UE., têm-se
realizado manifestações enormes, como não se realizavam há décadas, o
1º de maio deste ano foi o mais participado dos últimos anos em vários
países, etc., e similarmente assiste-se também a um degradar da situação
social com o aumento da violência, muitas vezes partindo de grupos
provocadores, ao mesmo tempo que os órgãos de comunicação social,
todos (os de grande divulgação) nas mãos do capital querem fazer-nos
crer e confundir que aquilo que é o renascer da velhinha luta de classes e
protestos laborais afinal não passam de manifestações xenófobas e
racistas. É evidente que toda esta exposição que fiz da situação leva ao
aproveitamento das extremas-direitas racistas e xenófobas, por isso todos
os cuidados são poucos na apreciação dos tempos que correm. Esta é mais
uma falha grave que aponto a este modelo de UE. que é o facto de ao
invés de promover o cosmopolitismo e a diversidade de culturas, tem
promovido uma unicidade cultural amorfa e o ódio ao que é diferente, ao
que pensa de outra maneira, ao estrangeiro. Pouco falta para termos
novamente acesas as fogueiras da inquisição e os diferentes a serem
obrigados a rapar o cabelo e a usar símbolos distintivos nas roupas. Ou
seja, tudo o que os arautos desta UE. nos prometeram está a sair ao
contrário. Chegámos assim a uma Europa que não é mais o velho
continente mas sim um (mentiroso) incontinente velho.
Perante este cenário que atinge todos os trabalhadores, inclusivamente
aqueles que até há pouco se consideravam com profissões a salvo de
qualquer risco, quadros altamente qualificados, pessoas com diplomas
universitários e hoje se encontram desempregados ou com uma situação
laboral indefinida e precária, não se pode nem se deve ficar quieto à
espera de ver o que acontece, sob pena de nos acontecer o mesmo que à
nêspera do Mário Henrique Leiria que ficou quieta na cama à espera de
ver o que acontecia, veio de lá a velha e comeu-a.
Assim e na sequência dessas manifestações de desagrado ocorridas por
toda a UE. e até fora deste espaço, há um encontro em Paris (em janeiro
último) dessas forças mobilizadas para a luta política contra este estado
de coisas e é neste contexto que se dá o aparecimento da RUE e das suas
duas grandes reivindicações: rutura com a U.E., pois neste quadro político
todas as linhas são ditadas pela comissão europeia, não tendo os governos
nacionais autonomia que vá muito mais além da de uma câmara
municipal, propondo-se como alternativa a união livre e solidária dos
povos e nações livres europeias (e quem sabe até alargar esta união para
lá da Europa) e para já, no imediato, como medida urgente e inadiável, a
proibição dos despedimentos.
É meu entender que o ser humano só se completa no exercício do seu
mister, seja ele qual for, escritor ou cantoneiro da Câmara.
As pessoas querem trabalho (com direitos) não querem desemprego, as
pessoas querem salários dignos não querem subsídios de sobrevivência.
Aliás considero a subsidiodependência tão grave como as outras
dependências, alcoolismo ou toxicodependência, pois tal como estas
retira a dignidade ao ser humano.
Quanto à referendagem popular de toda a tralha jurídico-social-política-
económica-etc. Até agora produzida pelas diversas estruturas da UE. não
vejo qualquer interesse nesse tipo de referendos. Ficaríamos na mesma
pois ser-nos-ia servida uma papinha já pronta e requentada. Depois, se
mesmo assim o povo dissesse não, como aconteceu na Irlanda, os
políticos grandes mestres na arte da oratória haveriam de inventar
explicações de maneira a contornar a vontade do povo, repetindo o
referendo até que o resultado desse sim, como vai acontecer na Irlanda,
quer executando a finta de passar as decisões aos parlamentos nacionais
como aconteceu agora na Polónia, que curiosamente foi quem mais
resistência opôs à assinatura do Tratado de Lisboa e agora resolveu
ratificar esse mesmo tratado no seu parlamento nacional, à margem do
povo.
O facto é que estamos a lidar com batoteiros, é um jogo de feira viciado,
ou roleta de casino, em que se sabe que o jogador-apostador só pode
ganhar até um certo ponto, a partir do qual entram os truques e a batota.
O péssimo presente não pode augurar um bom futuro, ou as pessoas se
convencem que têm poder nas suas mãos nuas, limpas ou calosas, e
começam a resolver a sua vidinha ou se ficam sentados à espera que um
político qualquer trate do assunto por elas então estão tramadas.
Pela parte que me toca achei que o momento para agir é agora ou nunca,
e por isso aí estou, numa luta desigual de um davidezinho contra um
goliazão.

Finalizando, respondo-te à questão proposta de como ultrapassar a


barreira mediática que apenas se interessa pelas futilidades da sociedade
e que evoluiu, de certa forma, em sentido contrário ao pensamento
pessoano que dizia "isso da fama é para as atrizes". De facto nos dias que
correm só se existe, para o bem e para o mal, nos círculos mediáticos. Para
isso é necessária grande dose de loucura, quem não se recorda do
Professor Marcelo a mergulhar nas águas merdosas do Tejo (?), ou o
folclore do Bloco de Esquerda e as suas causas fraturantes, ou então ter
muito dinheiro, muitos milhões de euros para gastar e são gastos, basta
olharmos para os outdoors um pouco expostos por todo o país, apesar da
lastimável falta de imaginação e qualidade fotográfica apresentadas,
ninguém duvide que aquelas coisas custam os olhos da cara, ou o traseiro,
a quem os encomenda. Hoje, uma simples candidata à câmara de Nisa por
um dos partidos do bloco central tem atrás de si um staff de assessores de
imagem, analistas de opinião, etc. quem paga esta dinheirama? O Zé
Pagode! Todos nós através dos impostos que deveriam ser canalizados
para os serviços essenciais ao povo, a saúde, a justiça e o ensino. Três
pilares basilares nos quais deve assentar a verdadeira democracia e o
acesso aos quais cada vez mais é sonegado aos membros mais pobres da
população. è como se haja inscrito na memória , ou código genético, uma
lei não escrita mas por todos aceite que é a lei do funil, em teoria entram
todos, na prática são luxos aos quais apenas um determinado número de
privilegiados tem acesso.
Depois está o POUS/RUE que continua a fazer as coisas com o mesmo
amadorismo com que nós fizemos os nossos ainda famosos comunicados e
manifestos pretensiosamente culturais e educativos nos nossos tempos de
Portalegre. Agora já há uns computadores e umas impressoras mas não
podemos competir com os outros tendo nós um orçamento de 720€ para
fazer a campanha. O que chateia é as pessoas estarem tão fartas destes
políticos que acabam por colocar todos no mesmo saco e julgam que os
nossos 720€ são uma fachada que esconde um determinado saco azul
vindo não se sabe de onde…
Mesmo assim podíamos ter sido mais audazes e efetuar uma campanha
mais interveniente. Os tempos de antena televisão e rádio deveriam ter
sido melhor preparados; eu sei que estamos a fazer política e os nossos
instrumentos são as nossas ideias mas se não soubermos, ou não
queiramos, comunicar essas ideias às pessoas muito bem, então reunamo-
nos num círculo de velhos saudosos a discutir política de 15 em 15 dias.
Não conheço nenhum político que não tenha sido também um bom
comunicador. Querer manter a coesão e unidade dos trabalhadores em
torno das suas organizações: comissões de trabalhadores, sindicatos é
uma boa ideia mas não passa de uma ideia peregrina nos dias que correm.
a maior parte das comissões de trabalhadores, sindicatos e até delegados
sindicais estão comprometidos uns com o bloco central outros com o PCP
ou com o Bloco de Esquerda e estão lá para cumprir as diretrizes dessas
forças partidárias. Não há sindicalismo livre em Portugal. Fazer uma
campanha como nós temos feito, de sensibilização e de auscultação de
algumas comissões de trabalhadores e sindicatos é quase inútil. Se as
atuais organizações dos trabalhadores constituem hoje o muro de Berlim à
sua liberdade então há que implodir esse muro, há que falar diretamente
com os trabalhadores, há que contactar as pessoas na rua. Esta foi a nossa
opção de campanha, maniatados pelo curto orçamento, é a campanha
possível, enfim, vivemos a ilusão precária daqueles pequenos clubes que
por um bambúrrio da sorte e do destino de repente se veem a jogar na 1ª
divisão... Depois da ilusão do momento vem a verdade da realidade e as
derrotas em quase todos os jogos. Há apresentadores de telejornal que
desconhecem nem se dão ao trabalho de perguntar o significado das
nossas siglas depois dizem asneiras mas nada faz mal no país da
brincadeira. Temos um muro de silêncio a isolar-nos do povo, temos que
ser nós, com imaginação a ultrapassar esse muro.
Depois quando chegamos às pessoas estas estão tão escaldadas com os
partidos e políticos tradicionais que colocam todos no mesmo saco. Mas os
políticos não são todos iguais nem a forma de agir e fazer política.
Estamos nisto porque somos sérios e o que se pede é que as pessoas olhem
para a política como um assunto demasiado sério para ser analisado com
a mesma ligeireza com que se analisam Benfica ou o

Sporting.

É que estão a colocar as suas vidas e o futuro dos seus filhos, do seu país,
nas mãos de crápulas sem o mínimo de pudor e menos escrúpulos. Olhem
bem e verifiquem quem são aqueles políticos que enriqueceram de um dia
para o outro e retirem as suas ilações.
Deixem por uma vez de votar naqueles que os média lhes apresentam
como especialistas disto e daquilo, pessoas credíveis e arrisquem votar em
forças alternativas, que somos nós POUS/RUE. Ao fim e ao cabo foram os
especialistas e os políticos credíveis que dirigiram o mundo à crise em que
está.

2. Natural de Tolosa,
Uma freguesia do concelho de Nisa e Distrito de Portalegre, podias ter
ficado pelo curso que tiraste no Magistério Primário de Portalegre, feito as
célebres Ações de Formação Complementar da praxe, que te facultariam a
licenciatura, preferiste porém aventurar-te nos orientais confins do
"império da lusofonia" não só para exercer o mister profissional de
professor do 1º Ciclo, como também para complementar a tua formação

na Universidade de Macau,

Onde te licenciaste em Estudos Portugueses, na variável de ensino do


Português como língua estrangeira, e que te valeu o Prémio Ho Yin, por
teres sido então o melhor aluno desse curso, circunstância de reconhecido
mérito a que acrescentas-te, mais tarde, em 1999, precisamente em
vésperas da devolução desta parte do território nacional à administração
chinesa, o primeiro lugar no Concurso Literário "Macau 1999",(texto já
anteriormente publicado neste blog) promovido e patrocinado pelo STDM
e pelo órgão de comunicação social macaense Ponto Final, exatamente
com a obra de "ficção histórica" intitulada Macau, 1999, ou A Crónica da
Arca Redescoberta, que nos reporta, referencia e recupera à esfera da
semântica camoniana, com acento tónico n' Os Lusíadas, sugere-me que,
de acordo com as coincidências cronológicas, mais ou menos de dez em
dez anos qualquer coisa acontece na tua vida que a reformula e marca
profunda e irremediavelmente, tal como aconteceu com o 25 de Abril, por
volta dos teus dez anos, depois a ida para Macau, onde estiveste
sensivelmente outros dez anitos, estadia que culminou com o já referido

galardão literário,

e agora, passados outros tantos dez "estivais primaveras", a tua


candidatura ao PE nas listas do POUS/RUE... Ora, este número – o dez, e o
digital binário 10, seu descendente – anda de mãos dadas com a amizade,
com a amizade entre os indivíduos, como com as famílias, entre os iguais
como entre os diferentes, nos géneros como nas espécies: será que para
além dos enunciados políticos inquestionáveis que assistem a um ato de
participação democrática desta natureza, há também nele, ou por ele
refletido, aquele manifesto afeto de companheirismo solidário com os
setores operários europeus, aquela amizade que mete no mesmo barco
de dificuldades os trabalhadores dos 27 países da UE, e que assim se veem
respeitados na sua luta e tipologia de inclusão, numa simples e convicta
candidatura do e pelo RUE?
Jaime Crespo –

Pois, Tolosa, Nisa, Portalegre, Gáfete, Alpalhão, Castelo de Vide, Arez,


Amieira, Comenda, etc. são locais onde ainda preservo alguns amigos e da
minha revisitação, sempre que possível, o que é sempre pouco para os
meus desejos. Devido à minha pitosguice não posso conduzir então para ir
visitar esses locais memoráveis estou sempre dependente de terceiros. Vou

deles guardando os cheiros…

Gostaria de pertencer ao grupo dos felizardos e poder responder-te que


tenho uma vida plenamente realizada porque fiz e faço aquilo que mais
gosto. Mas infelizmente não é verdade, nem para mim nem para outros
95%, ou mais, dos seres humanos. Os privilegiados fazem de facto o que
gostam e querem, os outros limitam-se a arranjar um emprego que
assegure o dinheirito para o bife, o pão e a pinga. É o que eu faço.
Digamos que a canção da minha vida é aquela do José Mário Branco,
"inquietação", se não estou em erro sobre poema da Natália Correia. E o
livro "o livro do desassossego" do inevitável Pessoa.
Temos uma escolha: ou fazemos o que gostamos, como o Pacheco, mas
vivemos toda a vida na pedinchice e na penúria, talvez escrevendo textos
por encomenda o que também não atesta muito da liberdade e coerência
do sobrevivente. Ou como eu, amochámos, vamos vivendo com a úlcera e
a depressão e de quando em vez temos uma farra de liberdade.
Só os verdadeiros génios podem realmente ser livres, ou os muito ricos…
Nesse contexto, o curso do magistério primário surgiu na minha vida como
uma tábua de salvação. Na verdade os meus pais não tinham dinheiro
para me enviar para a universidade, daí eu ter tentado cursar eletricidade
na velhinha e grandiosa Escola Industrial e Comercial de Portalegre,
apesar de na altura já ter o apanascado nome de escola secundária de s.
Lourenço. O que aconteceu é que entre mim e a eletricidade havia uma
repelência mútua, ainda hoje me custa trocar uma lâmpada, daí que tenha
penado uma autêntica via-sacra de três anos no 11º ano. E nem sequer
tive direito à glória da cruz, mas foi por um triz... Aparece então o
magistério, o qual frequentei sem denodo nem aplicação, fui mais uma
alminha anónima e anódina que por lá passou. Enfim, lá me formei com
uma nota miserável que ainda hoje me envergonha.
Depois sim, os anos entre o dourado e o cinzento de Macau que se para
algo serviram foi para me abrir os olhos sobre a palete colorida de que é
composto o mundo, constituí família e retomei o gosto de estudar por
estudar, de fazer o que realmente gosto, mas lá está, já tinha a rede de
suporte ou a almofada, a profissão de professor que me fornecia a
sobrevivência.

Os prémios a que te referes têm apenas o significado de servir como


compensação de ter ousado pelo menos uma vez na vida optar pelo prazer
daquilo que gostamos. Rapidamente voltou tudo à cruel normalidade.
Quanto ao caráter mítico ou supersticioso do número 10, a mim nada me
diz, sou materialista mas também curioso nesses aspetos menos
explicitáveis da existência. Ora, pelas tuas contas daqui por 10 anos serei
finalmente eurodeputado, apesar de preferir antes o adjetivo de euro
milionário…
De facto o objetivo maior da aceitação em fazer esta campanha junto com
a RUE e o POUS é ao mesmo tempo uma necessidade cívica e um
imperativo de solidariedade e unidade com aqueles, que afinal como eu,
que de seu apenas têm a sua força e a sua inteligência para dispôr ao
serviço de outros: somos a classe trabalhadora!
Neste momento existe uma urgência de todos os trabalhadores
retomarem a luta, uma luta livre de tutelas e a reformular em muitos
casos as suas organizações por excelência, os sindicatos, os quais
necessitam ser limpos daqueles dirigentes aburguesados aos lugares e que
mais não têm feito que empenhar a palavra e o futuro daqueles que
deviam representar, nas mãos dos dirigentes da burguesia e do capital,
através dos pactos de estabilidade ou da concertação social mais não têm
feito que resignar da luta, retirar benefícios pessoais e abandonar os
trabalhadores ao seu destino, sem rebuços em lhes mentir quando afinal
toda a gente vê que de acordo em acordo os seus direitos vão sendo cada
vez mais reduzidos e o desemprego é hoje o horizonte mais certo no
amanhã de cada um, seja trabalhador do setor privado ou do setor
público.
Ou seja, esta deixou de ser uma luta dos trabalhadores assalariados e com
os salários mais baixos para se tornar a luta de todos os que trabalham
por um salário, sejam operários, professores, polícias, enfermeiros ou
médicos. A precariedade, a falta de segurança no emprego e o trabalho
sem direitos é hoje um problema que atravessa transversalmente toda a
sociedade, diz respeito a todos e deixou de ser uma ação romântica do
intelectual que se solidariza com os pobrezinhos: passou também a ser um
problema inerente à vida desse intelectual.
Isto numa altura em que milhões por toda a União Europeia, para não
falar no resto do mundo, até desse pouco que tinham, a força do seu
trabalho, dela se viram privados. Como já referi, o ser humano, é minha
convicção que se realiza na sua plenitude enquanto adulto ao desenvolver
uma atividade, ao ter um emprego, mesmo que não goste muito daquilo
que faz, sente-se útil e realizado dentro da sociedade ao desempenhar
uma função. Ao privarem uma pessoa do seu trabalho, não é só o emprego
que lhe estão a retirar, estão a retirar-lhe toda a sua dignidade. As pessoas
querem empregos e salários justos, não querem sobreviver de subsídios.
Aliás o subsídio rapidamente leva a uma nova dependência, a
subsídiodependência, limbo no qual muitos portugueses vivem desde a
entrada na união europeia. Esta nova dependência vem criar problemas
novos quanto a mim muito mais graves que as velhas dependências, o
álcool ou a droga, pois como elas cria um homem sem vontade, amorfo,
indo mais longe roubando o próprio instinto de pertença a um grupo,
empurra-o de uma forma cruel e definitiva para a solidão da miséria.
Daí os nossos princípios basilares de ação política: proibição dos
despedimentos e rutura com a união europeia.
Sobre o 1º muita gente nos interroga e como se mantêm empresas falidas
em funcionamento? Havendo uma nova política em que o controlo dessas
empresas passará para as comissões de trabalhadores, uma nova política
em que o Estado terá que ter o controle efetivo das atividades básicas e
essenciais da economia, a banca, o setor energético, etc., setores
geradores de riqueza para que se possam manter os postos de trabalho e
os serviços públicos essenciais a toda a população. Enfim, um estado que
possa garantir a paz, o pão, a liberdade, a educação, a saúde, a justiça,
etc. Um estado que disponibilize aos pobres o dinheiro que atirou aos
bolsos dos banqueiros e dos especuladores da bolsa. Um estado que
garanta e gaste dinheiro em salários de pessoas que produzem e não em
subsídios de desemprego para manter as pessoas sem nada fazer e a
aguardar uma morte lenta. Um estado que defenda e proteja os nossos
setores produtivos e isso só pode ser feito executando a segunda medida,
rutura e saída da união europeia. Aqui muitos questionam-nos que o que
propomos é afinal um regresso ao "orgulhosamente sós". Nada mais falso
e longe da realidade, o que propomos é uma união livre e solidária de
povos soberanos e livres, propomos uma economia da cooperação em
contrapartida ao atual modelo económico da concorrência. Propomos uma
Europa de iguais e não esta em que os ricos, Alemanha, França e
Inglaterra, exatamente os mesmos que estiveram na base que veio dar a
atual união e que começou numa aliança no pós 2ª guerra mundial
destinada a proteger e retomar os interesses da burguesia postos em
perigo pela queda dos regimes e o perigo de uma revolução que os ventos
de leste ameaçavam e também pela necessidade que esses países sentiam
em controlar os bens energéticos (carvão) e produtivos (aço) mas esta
história está brilhantemente contada num artigo de José Guimarães e que
postei no fongsoi, impõem os seus interesses aos pequenos e pobres.
Estas são as nossas propostas políticas e que diferem e muito das
propostas de todos os outros partidos, de esquerda ou direita, porque
propomos o fim desta união que apenas serve os interesses do grande
capital e ao contrário da extrema-direita propomos estados de povos
soberanos mas solidários não o racismo nem a xenofobia, mas o
cosmopolitismo, a multiculturalidade e a liberdade.
Ora esta luta não é dos portugueses, é como tu muito bem referes, comum
aos povos trabalhadores dos 27 países que compõem a atual União,
atrevo-me mesmo a dizer que é uma luta que não se pode restringir ao
espaço da atual União Europeia, nem sequer da Europa. É uma luta que
extravasa todas as fronteiras. Os capitalistas não quiseram uma economia
globalizada para melhor trafulharem? Então vamos servir-lhes uma luta
de classes também ela global. Nunca a frase de Marx "trabalhadores de
todo o mundo, uni-vos!" talvez tenha estado tão atual e seja tão
justificável.

3. Enrico Malatesta

(EM) enunciou a sociedade acrática assente em três pilares fundamentais:


a liberdade, o bem-estar e o amor. E creio que não existe ninguém no
mundo capaz de contestar quão importantes estes valores são na
superintendência da felicidade individual como na coletiva. Portanto, para
EM, a ordem social testemunhada pela estrutura confederativa
(organizada sucessivamente por pessoas, associações, federações e
confederações) seria o produto, a capacidade de multiplicação desses três
fatores, aliás contemplados pela visão doutrinária anarquista, muitos mais
do que simples variáveis independentes do processo analítico e filosófico,
mas itens orientadores da conduta e ação sócio-política, enquanto
unidade curricular que fecundaria os demais saberes moleculares ao
indivíduo como à sociedade, invariavelmente aberta e evolutiva, o que,
grosso modo, faria ativar e geraria uma dinâmica consolidadora positiva,
pois quanto maior fosse grau de bem-estar individual, grupo
socioprofissional ou comunidade, então também melhor seria o seu nível
de Liberdade, e quanto mais esclarecidos fossem estes dois patamares de
franqueza humana, maior seriam as capacidades afetivas e de confiança
entre os seres humanos e as suas instituições, nomeadamente as que
espelham poder tutelar da confederação UE, predispondo-o assim a amar
as coisas e as ideias, a respeitar a integridade e a dignidade da natureza
como das artes, dos animais, plantas, rios, oceanos, paisagens, territórios
e culturas, de forma superlativa e sustentável. Enfim, se o ciclo existencial
for totalmente virado para a felicidade humana dentro de um universo
satisfatoriamente harmonioso e feliz, a globalização como a Europa Ideal
deixariam de ser apenas uma utopia para se transfigurarem numa
realidade inevitável, tão-só e apenas numa tosca, rústica e irrefutável
realidade, onde viver estaria sempre para lá de qualquer luta de classes,
qualquer desempenho social de afirmação étnica ou nacional, conduta de
relativa qualidade local, mas simplesmente mais um nó na rede da malha
planetária que nos sustém e suporta num cosmos adverso e pertinaz...
E o que te pergunto é o seguinte: o que achas que para EM, se atualmente
ainda estivesse entre nós, fosse um cidadão europeu vivinho da costa e a
debitar o seu pensamento ativo, teria mais valor estratégico na edificação
da Europa democrática da atualidade – a ação direta, a atividade de rua,
ou o subtil e constante cultivo da liberdade? A configuração e combate
pela formatação de uma sociedade, digamos europeia, construtivamente
mais justa e igualitária, mais harmoniosa e consciente, mais emancipada e
associativista, mais sustentável e preservadora do ecossistema, e como
alguns tentam rotular infamemente mais radical ou, ao contrário, mais
ordeira e corrupta, mais despesista e patrioteira, mais xenófoba e
corporativista, mais financeira e elitista, mais secretista e assimétrica,
mais opressiva e fechada? Aliás, se foram os moderados populares liberais
da indústria automóvel e petrolífera, betuminosa e cimenteira, bancária e
consumista, exploradora e destrutiva do meio ambiente, que nos lixaram
o presente e comprometeram o futuro, porque é que hão-se ser eles a
denominar-se conservadores e nós, os que tentamos limpar a merda que
eles fizeram, os extremistas e radicais? A sustentabilidade da espécie
humana alcança-se melhor por quem defende, pratica e cultiva a
liberdade ou, ao invés, por quem a decepa, a amputa e denigre, por quem
oprime e explora o seu semelhante, ou por quem o incentiva a libertar-se
da escravatura ao bloco central da sapiência embusteira e farisaica?

Jaime Crespo –
Curioso lembrares-te do Malatesta, ele que foi um dos meus heróis de
juventude. Talvez por encarnar um pouco de Corto Maltese, Sandokan,
Marco Pólo, Simon Bolívar, entre outros. Um misto de filósofo e
aventureiro.
Não consigo aventurar-me a imaginar quais seriam as suas posições caso
vivesse hoje. Como era um homem inteligente com certeza que atualizaria
o seu pensamento doutrinário. No entanto nada encontra no seu ideário
que o levasse a uma união europeia como esta. Relembremos que contra
muitos dos seus companheiros, em nome do seu internacionalismo,
recusou apoiar as forças aliadas durante a 1ª guerra mundial mantendo-se
quase orgulhosamente só nessa posição de princípio. Portanto sem
futurologias é de crer que o seu pensamento conduziria a uma posição
parecida com a da RUE/POUS de rutura com a União Europeia da
competitividade e a favor da solidariedade e cooperação entre os povos.
Acho imensa piada quando me falam de políticas, partidos e políticos
credíveis. Ora quando se fala dessa gente credível, fala-se de Barroso,
Leite, Sócrates, dos Soares e dos Alegres, dos Portas etc. do PS e do PSD e
do CDS, das políticas que nos conduziram ao atual estado de crise. É isto o
ser credível? Vou ali e já venho. No entanto não devemos apontar apenas
o dedo aqueles que no bloco central têm aproveitado para se irem
governando e encaminhando as suas vidas enriquecendo o seu currículo e
sobretudo as suas contas bancárias. Há que chamar a contas todos
aqueles que em nome dos trabalhadores, PCP, Bloco de Esquerda, centrais
sindicais, têm aproveitado os lugares que ocupam no sistema e a eles se
têm adaptado perfeitamente, esquecendo os seus propósitos iniciais. Se
hoje os trabalhadores estão na situação em que estão muito podem
agradecer a estes partidos e sindicatos que permaneceram impávidos e
serenos, sem mexer uma palha em defesa daqueles que lhes concederam
os votos e confiança.

Falas muito bem nos três pilares fundamentais: a liberdade, o bem-estar e


o amor, enunciados por Malatesta, mas sem emprego estável, salário
justo e determinado número de direitos e garantias como sejam a saúde, a
educação, a justiça… enfim, na precariedade dos tempos que correm, sem
que o indivíduo ao deitar saiba que situação o aguarda ao acordar, esses
pilares passam a ser o medo, a subjugação e a intranquilidade. Nestas
circunstâncias ninguém consegue atingir a decantada liberdade.
Citando Lenine "ou se pensa pela própria cabeça ou se segue a cabeça de
quem manda em nós". Esta é a situação atual, tal qual a vejo.
Mas retomando Enrico Malatesta e para terminar esta resposta com ele,
os três pilares fundamentais por ele enunciado: liberdade, bem-estar e
amor como eram conseguidos? 1º Através de pequenas redes ou núcleos
criadas e controladas pelos trabalhadores quer nos seus locais de trabalho
quer nos seus bairros, redes que se iriam alargando de uma forma
horizontal criando uma igualdade plena e de facto. Ora isto é exatamente
o contrário de como a atual União Europeia foi construída e é governada:
de um topo de sábios ou privilegiados num sentido descendente, até às
bases ignaras e incapazes de decidir as suas vidas. É não só o contrário das
propostas de Malatesta como a negação de todo e qualquer princípio
democrático.

4. Recorre-se frequentemente à ideia de que esta crise económica e


financeira foi consequência de erros humanos, carências de escrúpulo,
falhas éticas, faltas de fiscalização e inoperante atividade reguladora, quer
dizer, incompetência e desleixo de tutela e supervisionamento de quem
tinha institucionalmente competência e obrigação de executar, fiscalizar e
tutelar os meandros da economia e alta finança. Diz-se, à laia de quem
sacode a água do seu capote, que no primeiro quartel do século passado
também houve idêntica tramontana, que isto das crises vão e vêm como
às marés, e que temos não de as evitar mas de arranjar maneira, não de
lhes sobreviver, mas igualmente de as aproveitar para garantir um pé-de-
meia substancial de forma a enriquecer quem de porfia e manha menos se
acanha. Criam-se PINs prà'qui, QRENs prà'li, leis de bases e livros brancos
pra isto e prà'quilo, códigos laborais e penais de meter dó e que só servem
para escurecer a esperança na qualidade de vida e dum futuro melhor, a
quem cai na patetice de ouvir os discursos e assistir às apresentações de
planos e estratégias de desenvolvimento, que o desemprego é uma chaga
social, embora se esqueça que ele é a consequência direta do cancro
político e parlamentar que quotidianamente alimentamos com os
impostos e sufrágios, mas ninguém se lembra que o que está
verdadeiramente em causa não é só a resolução da crise atual, mas
também a evitação de qualquer outra crise igual, nas causas como nas
consequências, no futuro, seja ele próximo como longínquo! Que à
maioria dos políticos do establishment isso seja de somenos, porque lhes
interessa, pois lhe garantem a utilidade social típica do quanto-pior-
melhor, até é compreensível; agora, que aos da outra banda, por oposição
extremista também denominados, isso não aquente nem arrefente, é que
é de estranhar, uma vez que pouco têm perder além de arriscar a perder o
nada que têm. Portanto, como é que assistindo ao que assistimos, e
havendo institutos, fundações, tribunais, ministérios, regulamentos e
relatórios para tudo e alguma coisa sem valor nenhum, não há, quer a
título europeu como nacional, aquilo que pode, a talho de coice,
denominar-se o Instituto da

Sustentabilidade,

por cujo âmbito e competência, estivesse a cargo o estudo e avaliação de


sustentabilidade geral (económica, social, ambiental, financeira, cultural,
administrativa, estrutural, conjuntural, etc.), que filtrasse todas as
iniciativas, programas, projetos, políticas emitidas pelos poderes,
governos e demais órgãos de soberania, empresas e grupos
empreendedoristas, que tivessem influência ou condicionassem a vida e
evolução das sociedades e países? Se algum dos candidatos ao PE pela
lista do POUS/RUE for eleito, estará ele ou ela disponíveis para pugnar
pelas diretivas e legislação europeia que facilitem e obriguem a criação de
tal Instituto da Sustentabilidade? Estás sensibilizado e comprometido
como futuro nacional, europeu e planetário a ponto de batalhar pela sua
concretização?
Jaime Crespo – Nas questões que a
partir de agora me colocas, relacionadas com problemas ambientais e do
necessário equilíbrio entre espécies de forma a preservar a vida, questões
do foro ecológico, digamos assim, as respostas que te concedo apenas me
vinculam a mim, não ao POUS nem à RUE, pois sinceramente nem sei
quais as suas posições sobre estes assuntos. Posto desta forma o caso,
passemos pois ao que interessa. As explicações que nos são servidas em
écrans doirados, por "comentadores credíveis", sobre a atual crise, com
algumas, poucas, nuances, são as mesmas que o PCP difundiu para
explicar o desastre do comunismo no Leste europeu e com dimensões
humanas muito mais graves no Vietname, China e Cuba quando os ditos
regimes comunistas por lá também soçobrarem. No Vietname e Camboja
já se conhece a enorme dimensão da tragédia, mas como ficam lá longe
das nossas vistas ninguém liga.
O erro é não só humano mas sobretudo de sistema, temos um sistema que
não funciona ou funciona mal, há que ter a coragem de o substituir por
outro.
Direi que propositadamente, ou não, foi deixado crescer um sistema
dentro do sistema, temos o sistema capitalista cujo fim é explorar recursos
e fazer, para si riqueza, e deixou que se desenvolvesse dentro dele uma
espécie de cancro, motivado pela ganância e pelo lucro fácil e que já não
está em si mesmo preocupado com a exploração de recursos mas inventar
falsos recursos, o que agora chamam de fundos tóxicos, com o fito de
enriquecer fabulosamente no menor espaço de tempo possível e depois
quiçá desaparecer, ou se o ego fosse muito grande adquirir e pavonear-se
com qualquer coleção de obras de arte de gosto mais ou menos duvidoso,
onde cabe tudo. Todo este sistema paralelo funcionava perfeitamente
dentro do, digamos, sistema "normal" capitalista das engenharias
financeiras e investimento de capitais em bolsa. A diferença é que antes
esses capitais eram investidos em empresas conhecidas de todos e os
dividendos obtidos conforme o desempenho dessa mesma empresa. Ora
no caso agora em apreço tudo era fictício, era tudo uma descomunal
burla, permitida pelos próprios governos que estão metidos neste lamaçal
até às orelhas. Ao pé destes meninos o saudoso Alves dos Reis ou a D.
Branca seriam meninos de coro e com certeza mais dois aldrabões
canonizadas pelo Papa.
Tal como nos tempos do coletivismo comunista quem se arriscasse a
opinar de modo diferente do estabelecido era socialmente condenado, isto
quando não o era judicialmente, tornava-se num ser inexistente.
Também hoje, em torno da ideia de União Europeia foi criado um mito tal
e uma tamanha unanimidade de pensamento que leva os poderes a
tentarem calar e a marginalizar quem pensa de maneira diferente.
É também contra este unanimismo que me candidato.
Como já revelei as nossas grandes prioridades prendem-se com estes dois
problemas basilares: emprego com direitos para todos e saída da união
europeia. Sem estes dois problemas resolvidos é inútil tentar resolver seja
mais aquilo que for.
Também por aí a nossa lista pretende marcar a diferença, ao contrário de
fornecermos um cardápio para todos os gostos, dos velhos aos jovens,
para homens e para mulheres, para nacionais e para imigrantes, etc. de
promessas que nunca serão comprimidas, o nosso compromisso com o
eleitorado é batalhar por estes dois pontos. Resolvidos estes, então vamos
ao resto.
Existem como é óbvio preocupações com a preservação do meio ambiente
e com as questões que a sustentabilidade levanta. É óbvio que se não
conseguirmos um planeta sustentável tudo o resto é desnecessário pois
não há vida para lá desse enorme lá.
Como muito bem referes fazem-se leis para isto, para aquilo mas que além
de agravarem os problemas de quem já vive rodeado deles nada mais faz
ou resolvem.
Por outro lado criam-se grupos de trabalho e comissões de sábios para isto
e mais aquilo que também não resolvem puto de problema nenhum.
Utilizando o que eles chamam de mecenato inventam-se ONG' s
nomeadamente na área do ambiente e da ecologia mas que se formos
seguir o rasto aos dinheirinhos e subsídios que elas recebem verificaremos
que ou estão dependentes dos governos ou pior ainda das multinacionais,
o que desde logo lhes retira qualquer hipótese de independência e em
pouco tempo a ecologia e o ambiente deixa de ser a prioridade deles,
apesar de continuarem por ele a fazer propaganda, mas valores € mais
altos se levantam.
Se a criação de um Instituto da Sustentabilidade, e julgo que terá neste
campo que ser algum como "nações unidas" do ambiente, com as virtudes
desta retirando-lhe os vícios, se for composto por pessoas reputadas nas
suas áreas e que tenham dívidas apenas para com a ciência e o saber, se
esse Instituto se formar de uma maneira clara e limpa com fundos
também claros e limpos de modo a garantir o seu funcionamento de forma
independente de países e de interesses económicos e se permitir que a sua
prática se reflita apenas e só na defesa da vida e na melhoria das
condições ambientais em que todos vivemos, não tenho dúvidas em dar a
minha palavra de que estarei na linha da frente para defender não só a
sua criação mas a necessidade urgente de um organismo desse tipo
funcionar.
Para a criação de mais um sorvedouro de dinheiros públicos com medidas
a pedido e controlado ou pelos políticos ou pelas multinacionais, não, para
esse peditório já dei.
Ainda, os sistemas económicos até agora experienciados, a saber: o
capitalismo de estado, travestido de socialismo, aplicado sobretudo na
URSS e países seus satélites e na China; ou o capitalismo propriamente
dito, o capitalismo individual e liberal que está agora em moda de
magazine um pouco por todo o mundo, aquele capitalismo que advoga o
milagre americano" em que qualquer um pode ser qualquer coisa, tudo o
que queira, desde que tenha iniciativa empresarial, presume-se que boas
iniciativas e melhores informações sobre as oscilações bolsistas. Ambos
estes sistemas políticos não servem a um Homem ser humano na sua
realização plena enquanto ser natural. Essa sustentabilidade de que falas
é absolutamente impossível nos atuais modelos políticos que se baseiam
precisamente no seu contrário, a insustentabilidade.
A política do lucro, do lucro quanto mais fácil e num menor espaço de
tempo é a bússola orientadora dos atuais modelos económicos que levam
a uma rápida e por vezes irreversível degradação do meio-ambiente.
Repara, quando agora os maiores empresários defendem a jornada de
trabalho sem limites, trabalho aos sábados e domingos, onde fica por
exemplo a sustentabilidade familiar sustentáculo da sociedade humana?
Acho muito bem e darei o melhor de mim na defesa do "Instituto da
Sustentabilidade", mas para isso são necessários novos rumos, trilhar
novos caminhos para a economia, encontrar soluções em que o lucro fácil
não seja a solução.
África constitui talvez hoje o melhor exemplo de tudo o que não deve ser
feito, recursos naturais a saque, muitos dos quais de um modo
irrecuperável ou que demorará muitos anos a recuperar os estragos, um
povo mantido em miséria extrema, predisposto a tudo, inclusivamente
matar, para garantir a própria sobrevivência.
Infelizmente é este o nosso mundo. Por algum lado teremos de começar
mas sem uma verdadeira alteração de políticas não há Instituto que nos
valha. Repara que muitas vezes as "boazinhas" ONG's, cheias de boas
intenções, tal como delas está o Inferno cheio, ao prestarem as suas
migalhas de ajuda aos povos miseráveis de África, da Ásia ou América
Latina, mais não fazem, ainda que de forma inconsciente o perpetuar de
situações de exploração e subdesenvolvimento humano.
Instituto para a Sustentabilidade, força, vamos a ele mas para trabalhar
sem equívocos e alterar o que de facto tem de ser mudado.
Quanto à eleição de um deputado, se bem que remotamente hipotético,
está em discussão no seio da lista qual será a sua ação, se ocupa o lugar e
até se manteremos a candidatura até às urnas, é ma discussão em aberto.
Depois essa eleição não me preocupa minimamente porque luto por
convicções, tal como os meus camaradas da lista, dentro ou fora do
parlamento são essas convicções que nos movem, ainda que apenas
lutássemos contra moinhos de vento, essa luta é imprescindível.
Um Observatório da Sustentabilidade, sim! Mas num contexto limpo, não
o destes políticos nepóticos. A minha ideia é que esse Observatório poderá
e deverá ser criado e gerido por Universidades e sábios de prestígio dentro
dessa área, mas sustentado, volto a repetir por políticas limpas e essas
políticas limpas só se conseguem com políticos também eles limpos, ou
seja, nenhum dos atuais dirigentes europeus.

5. O gagaísmo civilizacional é aquela corrente, teoria de vida e atitude


sócio-cognitiva que defende que o velhinho é que é bom, eivada pelo
cultura do lamechismo, instituída pela estética da tradição do arroto
clássico, disseminada pela educação do (as)sim/não maniqueísta
(fortes/fracos, bonitos/feios, ricos/pobres, bons/maus, brancos/pretos,
inteligentes/burros, notas positivas/notas negativas, etc., etc.) e
engordada pelo efeito primário do sempre assim foi, sempre assim há de
ser, que põe os que pensam por si no índex dos terrorismos e
marginalidades, e arrola os copistas da enciclopédia da asneira na lista dos
doutorandos premiáveis sob tutela e magistério artístico e intelectual do
diletantismo saloio endinheirado – e arredores –, que subscreve a
democracia como um sistema perfeito desde que a participação individual
e coletiva se esgote no voto e alicerce na representatividade
corporativista. Porém, eu não acredito, ou por outra, oponho-me
deverasmente a acreditar que a competência e responsabilidade
sociopolítica do indivíduo democrata se limite ao bandeirismo tachista,
além do que considero inevitável que a sociedade portuguesa só terá
significação e respeitabilidade aos níveis europeu como global, se for
composta por pessoas conscientes e emancipadas, livres e capazes de
discernir por si mesmas a diferença entre cidadania democrática e
carneirismo regimental, sendo para isso necessário haver uma educação e
cultura combativa dos criancismos, ao contrário daquela que tem sido
fomentada pelas diretivas sistémicas modelares e programáticas
ministeriais da escola pública que tem, em matéria formativa do cidadão e
da portugalidade, assentado o seu esforço e financiamento no insistente
plano estratégico da híper valorização dos saberes fazer e saberes
aprender/ensinar, em detrimento intencional do conhecimento ético, dos
saberes estar e saberes ser, que são igualmente saberes fundamentais de
uma sociedade que vê a escolaridade contínua e para toda a vida, não
como um descarado placebo estatístico de novas oportunidades do
desenrasca e do chicoespertismo, mas sim como uma atitude de
adaptação humana às necessidades do seu tempo, condições ambientais e
exigências conjunturais económicas e geopolíticas. Portanto, acho
estranho que não sejam contemplados nos parâmetros de avaliação
educativa e académica a atividade extracurricular dos alunos que se
preocupam com o Estado social e integram grupos de intervenção civil,
associações de bombeiros e de doadores de sangue, de voluntariado
gerontológico, ambiental, paisagístico, artístico, etnográfico, de vigilância
florestal, de divulgação de boas práticas sanitárias, alimentares,
desportivas, de combate à iliteracia, de auxílio burocrático e
administrativo às populações interiores, e por aí fora, não só não
valorizando a responsabilidade e maturidade sociais, como ao invés,
penalizando pelo método de avaliação por testes e cumprimento de
papagueação dos conteúdos ou itens programáticos da unidade curricular,
prejudicando-os invariavelmente pois é certo e sabido que é "marrão" não
faz outra coisa qualquer, para não prejudicar o seu nível de "obediência
cognitiva e intelectual". Tem o RUE alguma proposta para alterar o atual
status quo educativo e cultural europeu? Pedro Ramus, fez uma revolução
cultural europeia com a introdução do livro enquanto instrumento
didático e pedagógico por excelência... Está o POUS/RUE disposto a
pugnar no PE para que esse papel seja agora transferido para os
computadores pessoais, do género Magalhães ou doutro formato
parecido, uma vez que são menos dispendiosos em termos de recursos
naturais e gasto de CO2, menos prejudiciais à saúde e pesados para os
alunos, como mais económicos os manuais eletrónicos para as famílias do
que os em suporte papel? Quer a classe docente portuguesa melhorar a
educação e suas consequências sociais ou só a sua remuneração? Está o
RUE disposto a cercear o gagaísmo local, regional, nacional e europeu ou,
pelo contrário, contentar-se-ão os seus deputados a serem apenas mais
oposição à Europa dentro da Europa como fazem os partidos das grandes
famílias ideológicas e demais movimentos europeus quando não têm as
rédeas do poder em suas mãos? Combater o elitismo europeu não passa
também por alterar o modus operandi educativo e sistemático do ensino
nacional ou comunitário?

Jaime Crespo –

Ora todo esse gagaísmo de que falas corresponde a todas as lutas que
embora timidamente travámos na Portalegre da nossa infância. Tal como
nessa altura continuo fiel a essas lutas. Tal como nem tudo o que é velho,
nem todos os clássicos são maus também há por aí muita ideia travestida
de nova e que de novo nada tem e outras que mesmo sendo novas nada
valem. Portando temos que ter os sentidos bem afinados para podermos
aferir a cada momento. Depois também como referes o mundo não é
maniqueísta, ou não deve ser e sobretudo em arte ou nas ciências
humanas em que apesar de tudo só fatores estéticos e subjetivos têm a
sua importância, é mais importante a multiplicidade que a unanimidade.
A RUE está com os professores na defesa da Escola Pública, de qualidade e
para todos, ao contrário deste governo apoiado por comentadores
acoitados nos diversos órgãos de comunicação social que pretendem
destruir essa escola e criar boas escolas privadas para quem tem dinheiro
e deixar aos pobres uma escola pública degradada e sem qualidade.
A Escola Pública de que falo é aquela que tem lugar para todos e onde
todos se possam sentir felizes, uma escola em que a meta da excelência
seja ditada pelas condições individuais de cada jovem ou criança e não
pelas competências uniformizadas do ministério da educação.
Os professores como todos os seres humanos também são pessoas de
hábitos e como é normal tendem a desconfiar e a rejeitar o que lhes muda
as rotinas de forma radical como seja a introdução das novas tecnologias
no ensino.
Mas o mal-estar instalado na educação em Portugal vai muito mais longe
que essa matéria. Esse mal-estar vai contra aqueles que roubam a
dignidade às pessoas e as querem reduzir a meros executantes de políticas
orientadas e determinadas pelos nomeados chefes. Nenhum sistema de
ensino poderá sobreviver com professores acéfalos. Mais que pedagogia
(ainda que a não possa dispensar) um professor tem que ter
conhecimentos e tem que ser uma pessoa criticamente ativa. Esta
conversa levar-nos-ia à formação e seleção de professores mas isso é outra
conversa.
Tal como já falei na resposta que dei sobre o ambiente, também aqui, na
área da educação, há prioridades e etapas a serem cumpridas para não
darmos com os burros na água, aliás coisa que está muito perto de
acontecer.
Os portugueses estão infelizmente muito formatados na sua maneira de
pensar pelo futebol, e se sobre uns gajos a darem uns pontapés na bola é
fácil opinar o problema é que transportam essa facilidade em opinar para
todas as outras áreas e então todos opinam sem procurar antes terem
conhecimento de causa sobre o que opinam.
Ora, num país em que talvez 5% das escolas do 1º ciclo têm acessos para
crianças que se deslocam em cadeiras de rodas, o estarmos a pedir já a
substituição dos velhinhos manuais por "Magalhães" é uma loucura
eleitoralista e que no futuro o país vai pagar caro.
Quero ser claro e dizer eu estou a falar num país em que as maiorias das
escolas não estão preparadas para receber as suas crianças e jovens. Frio
de inverno calor insuportável no verão, quadros em que o giz muito
dificilmente escreve, técnicos de terapias diversas fazem falta mas não
trabalham nas escolas, estão desempregados ou trabalham como caixas
nos supermercados do Eng.ª Belmiro ganhando o ordenado mínimo,
psicólogos, terapeutas da fala, técnicos de motricidade, técnicos de
linguagem gestual e de escrita Braille, técnicos de nutrição, etc. são ainda
um mito na maioria das escolas portuguesas.
Há que dotar as escolas destas condições básicas que apontei (e de outras
que eventualmente me tenham escapado) e depois então sim, vamos
avançar para as novas tecnologias e para os computadores pessoais,
contra os quais nada tenho e a partir de amanhã iniciarei trabalho no
"Magalhães" com os meus alunos. Já que os pais e o país gastou uma
fortuna para ajudar uns amigos do 1º ministro a safarem as suas
empresas, enfim, do mal, o menos, vamos aproveitar aquilo que pudermos
para a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.

Uma escola pública nos termos que eu e a RUE defende, de qualidade e


para todos e em que são as condições individuais das crianças e jovens a
ditar a excelência, é claro que se trata de uma escola perigosa para o
elitismo e que trás em si o germe destruidor de uma sociedade
verdadeiramente democrática.
Apesar de tudo isso e como o "Magalhães" existe, apesar de existir pelos
piores motivos: salvar economicamente JP Sá Couto, com os nossos
dinheirinhos e ser uma amostra de computador que de tão míni pode
causar riscos de saúde às crianças; já se falarmos do programa e-escolas a
conversa é outra em relação à qualidade dos computadores que as
negociatas essas continuam a fazer-se nas costas do zé-povinho; mas
apesar disso como técnico do ensino não o vou desperdiçar e aos poucos
estou a descobrir com os meus alunos as melhores práticas que dele
podemos tirar no interesse do desenvolvimento cognitivo, cultural,
organizativo e até lúdico das crianças. É uma mais-valia que nunca poderá
substituir aquelas falhas graves que te apontei anteriormente mas que
terá com toda a certeza um papel importante no desenvolvimento da
escola pública em Portugal e sobretudo ao dotar dos mesmos meios
crianças de classes sociais e proveniências diferentes, ajudando pelo
menos a atenuar algumas diferenças e iniciando alguns passos ainda
tímidos no aniquilamento das chamadas elites.
Tudo isto nunca ganhará sentido se não concretizarmos redes de apoio às
famílias disfuncionais permitindo que as crianças cresçam e sejam felizes
junto dos seus progenitores e que não sejam institucionalizadas,
conhecendo bem cedo as amarguras do abandono e da solidão.
Sei que o mundo não é um arco-íris de felicidade e o paraíso, se existe em
algum lugar, será na literatura que permite-nos todos os sonhos, a
realidade é bem dura, mas é também por aí que teremos que enveredar
novos rumos ajudando indivíduos marginais a inserirem-se na sociedade e
a ajudar também na sustentabilidade que" todos" procuramos e
desejamos.

6. A violência quer ela se manifeste em gangs de subúrbio, entre e pelas


"matilhas" de bairro, entre géneros, famílias, etnias, ideologias, clubes,
rua contra rua, bandas ou margens contra bandas e margens, corporação
contra corporação, sociedades contra sociedades, entre grupos de
interesses opostos, sob antagonismos religiosos, económicos, culturais,
partidários, de teoria de vida, biológicos ou personalistas, é aquela atitude
social que reinsere a agressividade pessoal no plano da funcionalidade
argumentativa, e portanto politicamente evitável desde que os políticos
nacionais e europeus não recorram a ela frequentemente e ultrapassem a
fase egocêntrica do seu desenvolvimento humano, se abstraiam do medo
criancista do outro e executem, ao invés de apenas subscreverem e
legislarem através de cópia e arremedo de imitação, as diretivas das
Nações Unidas (ONU), para aplicação dos Direitos Humanos, e não só
contemplá-los cada país europeu na restrita redação das suas
Constituições fundamentais, enquanto modelo de referência, mas sim
criando os organismos vocacionados para a sua implementação geral e
local, estudo, análise, avaliação, promoção de conteúdos, divulgação e
publicação de resultados e níveis, ou graus, satisfação, realidade e défice,
aconselhamento nas governâncias nacionais e regionais, como também na
fiscalização e mediação entre veículos e contentores de violências:
organismo esse que funcionaria como um estruturado e estruturante
observatório de reportagem e previsão de clima de violência multinacional
e continental, tal como já sucedem nos planos do mercado e da economia,
da Bolsa e supervisão financeira ou bancária, com Banco Central Europeu
e restantes Bancos Nacionais, bem como na meteorologia, digamos, que
se manteria inequivocamente atento ao fenómeno, agindo em
conformidade com o seu estado nos Estados e evolução, na UE, de per si
ou nas relações consequentes à sua natureza multiétnica e plurinacional.
Sobretudo porque em matéria de violência a reação é sempre pior que
ação, a emenda pior que o soneto, quer nos cinjamos à esfera do pessoal
como à do coletivo, não nos restringindo apenas a combatê-la em nome
da ordem e segurança, mas igualmente a evitá-la por métodos científicos
e políticos, muitíssimo distantes nos conteúdos como desarticulados nas
estratégias, espalhados à toa pelos diferentes planos nacionais e tão-só e
unicamente relatados pelos RSI (Relatórios de Segurança Interna) que
somente informam do que aconteceu depois de ter acontecido, que tal
como o arrependimento só é deveras quando antecede o ato, e não
depois de o ter consumado, se índole criminosa for, atentando assim nas
causas, motivos, variantes independentes, contornos particulares e
característica de modelo e evolução, de forma consciente, continuada,
precisa e responsável, antes que essa violência seja detonada e onde quer
que a hipótese dela ocorra.
Este Observatório Europeu da Violência (OV), cujo âmbito e composição
seriam duplamente europeus e nacionais, formando uma estrutura em
rede com o centro nevrálgico na interceção entre o PE e o CE (Concelho
Europeu), não se resumiria à reunião de percentagens iguais destas duas
instituições, como de organismos universitários, judiciais e científicos
cimeiros e nacionais, de equivalência aos órgãos de soberania, como das
força de segurança, entidades judiciárias, universitárias e de investigação
e ciência.
Ora, se confrontado com a efetiva eleição dos candidatos do RUE para o
PE, estarias resolvido e empenhado a levar por diante a aprovação e
concretização deste OV, mobilizando as diferentes sensibilidades
parlamentares não só para o debate da proposta, mas também para
encontrar o consenso necessário à sua prossecução concreta, e
viabilidade? O que é mais racional, sustentável, económico, humano e
legítimo: é arrear nos insurretos desordeiros ou prevenir na resolução das
causas que os geram e motivam, disseminam, multiplicam e "justificam"?
Há alguma destinada prevalência objetiva e interesse social em manter
pujante e ativo o conteúdo significativo do ditado aldeão que indica meter
trancas na porta só depois de ela ser arrombada? Ou, pelo contrário,
devemos optar, não só por ficar mais barato, eficaz e rentável para a
sociedade, para a UE, como sucede no caso do cancro, prevenir a violência
implementando e estabelecendo um elevado grau de respeitabilidade e
observância dos Direitos Humanos, da Carta para Igualdade de Género,
Direitos dos Animais, das Plantas, nomeadamente instituindo o seu
estatuto de identidade jurídica, e a Ética da Terra, promovendo,
reforçando e divulgando as boas práticas complementares? É assim tão
difícil compreender a Lei dos Profetas que indica que devemos fazer aos
demais somente aquilo que queremos, ou não nos importamos, que eles
nos façam a nós? Ou deve-se, em matéria de segurança e ordem pública,
como o touro que oferece a outra face depois de esbofeteado porque
sabe que ao fazê-lo atingirá com os chifres mortíferos o seu agressor,
numa demonstração plena da beatitude taurina e caridosa da sua
"ordenada" natureza? Da sua passividade portentosa de gladiador da paz?
É o OV um problema ou uma solução do ponto de vista sociopolítico
multinacional e europeu? Ou só se pode interessar pela paz e harmonia
social quem anda de crucifixo e caldeirinha a enxofrar as mentes e está
iniciado pelas espadeiradas templárias nos aljubarrotas da secularidade
medieval? É a UE uma iniciativa do presente para evitar as
insustentabilidades futuras, ou apenas a anónima herdeira dos herdeiros
dos sócios da sociedade do aço e do carvão? Está ela assente na lucidez da
ética, do conhecimento e da ciência atuais, ou é ela a rebuscada
reminiscência do gagaísmo gerontológico e obscurantista medieval? O que
é preferível no combate racionalmente organizado ao crime á violência: a
força do argumento ou o argumento da força? Queremos uma Europa da
cidadania e do conhecimento, ou uma Europa das corporações e da
ignorância?

Jaime Crespo –
E vai esse observatório observar a violência do colarinho branco? Aquela
que é perpetrada pela famosa elite? a violência da mentira e das falsas
promessas desta nossa política de doutores & engenheiros? Se assim é
vamos nessa! Como já respondi antes vejo o problema num ponto de vista
global e de prioridades. Há um sistema em crise que não dá resposta às
necessidades das pessoas.
Neste contexto não vejo que a criação de observatórios, grupos,
comissões, etc., dentro e nos moldes e gerido pelos atuais políticos e suas
nefastas políticas, traga às populações benefícios de alguma ordem.
Depois o próprio problema em si é demasiado complexo para que eu o
trate aqui de uma maneira simplista.
Tende a haver duas correntes: uma que a violência advém das condições
miseráveis em que uma larga faixa de população vive; outros defendem
que ela advém das comunidades estrangeiras a viver em Portugal, como se
todos os portugueses fossem uma espécie de três pastorinhos. E mesmo
esses mentiram com todos os dentes que tinham na boca.
Ainda temos que contar com outros aspetos como sejam as provocações
organizadas por elementos das forças comandadas pelos governos que
lançam confusões violentas muitas vezes para camuflar protestos sinceros
e justos. Há os grupos de criminosos altamente organizados e sofisticados
que também usam por vezes esses gangs de jovens em ações de violência
para que outros interesses passem sem incómodos.
Enfim, como se trata de um problema demasiado complexo para o grau de
conhecimentos que tenho sobre ele, exigiria um estudo mais aprofundado,
de momento não tenho muito mais para avançar sobre o assunto, agora
aquela escola pública, para todos, adaptando-se às condições de cada
criança ou jovem, aquela escola que constitua um espaço de felicidade e
de conhecimento de que falei atrás terá um importante papel no combate
a todas as formas de violência.
Indivíduos informados são indivíduos menos violentos portanto penso que
o combate à violência também passa por uma informação livre ao dispor
de todos e não aquela informação que temos hoje, uma calda mal
condimentada e passada ao passe-vito, esta informação pela mentira
conduz à violência.
Como também já deixei expresso na resposta anterior, as crianças
nascidas em famílias disfuncionais, seja essa disfunção motivada por
alcoolismo, toxicodependência, miséria extrema, imigração mal integrada,
etc. sou defensor do princípio de que deverão ser as próprias famílias,
sempre, a cuidar das crianças, apenas em casos extremos se deverá
recorrer à institucionalização das crianças.
Sei que estamos a falar de seres humanos e que o ser humano é o animal
com comportamentos mais imprevisíveis no mundo. Há pessoas com um
grau tal de indigência e marginalidade que muito difícil se conseguirá fazer
com elas algo de válido. Mas nunca ninguém deverá ser posto de parte.
Cabe sempre à (s) maioria (s) respeitarem a (s) minoria (s). Cabe-nos a nós
cidadãos comuns e de classe média preparar os rumos para acolher os
desafortunados desta vida e todos aqueles que vindos de outras paragens
escolheram o nosso país para fazer aqui a sua vida.
É uma tarefa bastante difícil e complicada, sei que custa deixar para trás o
preconceitozinho pequeno-burguês e a tacanhice ancestral do medo pela
diferença.
Existe hoje uma nova caça às bruxas, mas um pouco mais civilizada e sem
fogueiras. Transformámos as bruxas em ciganos, pretos e toda e qualquer
espécie que não comungue da nossa falam e tenha costumes diferentes.
E voltamos a apontar o dedo aos estrangeirados.
Triste sorte para os filhos daqueles que um dia ousaram enfrentar o
mostrengo da realidade física mas que continuaram pela calada da noite a
agarrarem-se às fraldas das camisas de dormir e a temer o mostrengo que
há na cabeça de cada um.
Quando conseguirmos ultrapassar o monstro que há em nós então passos
decisivos poderão ser dados na luta contra a verdadeira violência, aquela
que gera milhões, é controlada pelos colarinhos brancos e não vive de
certeza na Zona J nem no Aleixo.
Tal como respondi em relação ao Instituto da Sustentabilidade, respondo-
te quanto à criação de um Observatório da Violência, estou totalmente de
acordo desde que não tema em tornar as medidas necessárias, exija novas
políticas sociais e de integração, não tenha medo de enfrentar nem o
preconceito, nem os lóbis de opinião pré-estabelecidos.
Mais uma vez aviso para o facto de que não sendo o mundo um organismo
maniqueísta, também não é flor que se cheire às boas. Mais que as ideias
aqui expostas o virar desta situação implica muito trabalho, muita força de
vontade e uma indomável certeza de que mudar o estado de coisas é
possível.
Não sou santo e direi mesmo que tenho mais vocação de pecador, mas se
queremos realmente existir de cabeça erguida não podemos acomodar-
nos e deixar andar que os políticos encartados e a polícia resolvam o
assunto. Se não formos nós a tomarmos os nossos destinos em mãos bem
podemos esperar sentados que eles o façam.
Neste caso, a criação do Observatório contra a Violência na minha
modesta opinião só tem sentido se nascer da "chamada sociedade civil".
Pessoas que pela sua postura, saber e conduta sejam capazes de agrupar e
respeitar as diversas comunidades e povos, respeitando a cultura de cada
um, criando um verdadeiro multiculturalismo e não uma
multiculturalidade de decreto mas eficácia nenhuma. Também em todas
as culturas há que ter a coragem de desistir do que incomoda ou insulta o
outro, o passo inicial é compreender o outro, criticá-lo, não o aceitar na
sua totalidade pois isso pode significar o perigoso desistir da sua própria
cultura.
Devemos estar conscientes de que uma ação apenas porque é praticada
desde há muito é boa e deve ser continuada, temos irremediavelmente
que ser capazes de englobar uma perspetiva evolucionista e progressiva.
Sei que estou a falar difícil e pouco claro até, mas o tema é delicado e
complicado. A convivência entre seres humanos não é sempre uma festa
nem tem de o ser. Mas melhorar é possível e julgo que pela arte é o
caminho da multiculturalidade e da compreensão entre os povos.
Numa sociedade competitiva até ao extremo, em que desaparecem os
ancestrais laços de solidariedade e as pessoas estão inseguras quanto ao
seu dia futuro, em que se vive a correr para não perder um qualquer tgv,
não de futuro e progresso, mas de uma cada vez maior alienação. Numa
sociedade assim não há lugar para contemplar e falar das coisas belas e
boas da vida. É uma sociedade feia e que só pode dar nascimento ao
monstruoso e horrível, há violência.
Voltamos à vaca fria, o que temos que começar a fazer é eleger outras
pessoas, com outras políticas e mudar este sistema opressivo de morte
lenta. "Morrer pelas ideias, sim, mas de morte lenta”, Georges Brassens.

7. Pela contínua necessidade de sucesso empresarial, político, económico,


patriótico, cultural, religioso, ideológico, de identidade, afirmação,
proliferação e expansão, como de crescimento, a espécie humana cultivou
exaustivamente e até de forma absolutista o antropocentrismo, que em si
é a síntese do especismo terráqueo, através da seleção maniqueísta das
espécies, mondando as más para melhor singrarem as que considerava
boas, eliminando as indesejáveis para tornar o mundo mais apetecível,
propício e maravilhoso para as preferidas, tendo para recorrido a diversas
guerras, entre as quais podemos nomear a II Guerra Mundial, em que
Hitler tentou impor o modelo ariano ao Velho Continente e ao mundo, a
variados Planos Agrícolas, como o de Salazar para o trigo alentejano, cuja
província, o Alentejo, denominou o Celeiro de Portugal, a inúmeras
desinfestações, como sucedeu com a campanha do DTT, a infindáveis
vacinações, à semelhança das brasileiras sobre os índios contra a papeira,
nativos esses a quem quase acabou com a raça sobre a Terra, sistemas de
monda química e abate de refugo, combate de pragas e sulfatares
indiscriminados por meios aéreos, uso e abuso de inseticidas, pesticidas,
germicidas, e até fumigações "incendiárias" com e sobre florestas, sobre
solos e subsolos, oceanos, rios, albufeiras, lençóis freáticos, atmosfera,
minas e boças subterrâneas. Ou seja, tanto o conhecimento fez, e tanto o
progresso andou, que em vez de sarar as misérias do mundo, pelo
contrário, antes as agravou.
Atualmente, em que dezenas de espécies sucumbem dia a dia, perdendo-
se para todo o sempre algum valioso capital genético da vida terrena, que
dificilmente a circunstancial repetição fará novamente repetir, havendo
em contrapartida o considerável crescimento das espécies predadas ou
endógenas, que lhes serviam de alimento, como por influência do
aquecimento global se multiplicam as endogenias e proliferam aquelas
outras que se dão bem com o caldo morno da modernidade, como vírus
nocivos, micróbios, bactérias novas e velhas, além do ressuscitar de elos
antes eliminados, por perniciosos, da cadeia evolutiva, que estão a ocupar
livremente os nichos ecológicos da sua predileção, à semelhança do que
se passa no ambiente político com o ressuscitar dos nazismos e
estalinismos conhecidos, dos quais, um deles, de natureza porcina, anda a
tapar as bocas do mundo por mor das pestes, pandemias e viroses
noticiadas nos dias de hoje, e que têm como principal vítima o ser
humano, o indivíduo enquanto membro de uma espécie, especialmente
os mais fracos e pobres, dependentes e frágeis, com carências múltiplas,
sem recursos sustentáveis nos planos económicos, sanitários,
habitacionais, ambientais, científicos, civilizacionais e, pasme-se senhor,
religiosos, como é o caso da Índia e Paquistão onde a purificação se
processa pelo mergulho dos crentes num rio imundo. Todavia, na nossa
santa pátria por Comba Dão aspergida, como na secular Europa dos
genocídios imperiais, nada tem sido feito para evitar o surto de
germinações que têm vindo a ocupar os "territórios" dos seus predadores
diretos e naturais, exatamente eliminados por nós por motivos especistas
e onde, mais grave ainda, os temos vindo a substituir por organismos
geneticamente modificados, que são um passo largo na desertificação,
bem como infiltrado diversas espécies colonizadores, que à semelhança
das hortênsias açorianas, dos eucaliptais e pinheirais do "continente" têm
aberto rombos, frechas, buracos irreversíveis no equilíbrio ambiental,
polvilhando o espaço campestre e urbano de frutos sem pevide e
melancias de reprodução assistida...
Ora, o que se pergunta, e para acabar esta "conversa eletrónica" que já vai
demasiado longa, é se não achas que deve existir pelo menos no país e
restantes parceiros da UE, um organismo tutelar da biodiversidade
europeia, que tenha em atenção e estudo, formatando modelos de
defesa, formulando estratégias, alinhe performances de evolução e cultive
na opinião pública o biocentrismo, que é a única corrente ambiental que
não vê o ecossistema como uma ferramenta funcional ao serviço do
homem, ou seja, a criação de um Observatório da Biodiversidade (OB),
que à semelhança do OV, venha a orientar e definir as políticas agrícolas,
energéticas, piscícolas, de ordenamento do território, de gestão aquífera,
da orla costeira e bacia hidrográfica, florestal e bancos de sementes,
agroquímica e da indústria alimentar, de avaliação e controlo das
densidades populacionais, não só que ponha um fim no atual caos
existente, como obste a novas "catástrofes" no universo genético terreno?
Pode a humanidade continuar a dar-se ao luxo narcisista e
antropocêntrico de considerar que tudo quanto existe à face da Terra e
para lá dela, só tem razão de ser se for em sua função, benefício ou
serventia para satisfação das suas necessidades básicas? Devemos arriscar
o bem-estar de todos apenas para enriquecer e melhorar a vida, ou grau
de ostentação, de uma camada social, ou elite de eleitos e fenomenais
privilegiados europeus? Há alguma justificação plausível e racional,
científica e ética, para lixarmos o planeta acreditando na salvação divina
ou que Deus descerá à Terra outra vez, não para nos livrar do pecado, mas
da extinção que nem outro meteorito que mandou os dinossauros à viola?
Anda o Olimpo a preparar mais alguma fisgada certeira contra a
controversa natureza só para que os astronautas portugueses dobrem os
cabos necessários para alcançar as Índias? Será preciso morrer metade da
humanidade para a restante parte veja o que Galileu viu séculos atrás: que
não somos o centro do Universo? Enfim, pode o RUE pugnar pela
implementação do OB na UE? Supondo que quem concorre se arrisca a ser
eleito, e essa é única esperança que assiste à democracia, estarias
disposto a batalhar no PE por um organismo similar?

Jaime Crespo –

A História é o que é e o tempo não nos permite regressar atrás. É muitas


vezes a oportunidade de um muito breve momento. Contudo permite-nos
refletir sobre nós mesmos e sobre a nossa ação.
O Homem é pela sua natureza um fazedor, de artefactos, de ideias, enfim,
tenta modificar e adaptar o mundo a si próprio, à sua maneira de viver, ao
seu conforto.
É-me difícil e até muito complicado efetuar julgamentos sobre
acontecimentos históricos, para mais quando nos separa desses
acontecimentos o imenso véu do tempo.
A este propósito gosto sempre de recordar uma história contada por
Miguel Torga, a propósito um dos meus escritores preferidos, talvez devido
ao caráter telúrico da sua escrita, de um telúrico agreste e inóspito
bastante diferente do acalentador ambiente do nosso Alentejo. Pois
contava Miguel Torga que numa deslocação ao Brasil, onde proferiu uma
conferência na qual terá dissertado sobre este enigma de ser português,
aqui e no mundo, quando se passou à fase das perguntas ao conferencista,
ele ter-se-á sentido um tanto incomodado pela irreverência própria da
juventude de uma estudante que o questionou de um modo algo brusco
dizendo"seus avós são os responsáveis diretos pela eliminação de milhares
de índios e para que muitos continuem a viver em condições miseráveis de
sobrevivência", ao que Torga terá retorquido " minha boa menina, se tudo
isso aconteceu, então deve-se aos seus avós porque os meus nunca saíram
de Trás-os-Montes e ainda hoje por lá vivem".
Descontextualizar os acontecimentos históricos ou analisá-los perante
conhecimentos posteriores é complicado e pode até levar ao ridículo.
Os mesmos portugueses que sem medo enfrentam superstições, o
desconhecimento do mar e das marés, tornam o Mundo de facto um lugar
global, depois tem também uma vertente negativa que vem da ganância
sôfrega e da feira da avidez concentracionária de riquezas, onde valeu
tudo, a mentira, o crime, o roubo, a escravatura.
Mas como dizes, o Homem tem por tendência de encarar o problema do
Mundo, que é apenas uma parte do seu próprio problema, de uma forma
antropocêntrica, sendo levado nessa sua análise a esquecer-se do resto
dos seres vivos e de todos os outros elementos naturais como um todo e
leva-o a uma apropriação desses bens em seu próprio benefício.
No entanto de todas estas práticas não deixou de tirar as suas lições. E é
também esta dimensão humana, para a reflexão, a experimentação, o
conhecimento que eu prefiro realçar, apesar de também nem sempre as
coisas correrem pelo melhor, há a capacidade de procurar e conseguir "dar
a volta ao texto".
Evidentemente que algum conhecimento sobre a matéria da necessidade
de se usar dos bens naturais de maneira mais cautelosa, equilibrada e
frugal. Apareceram entre outros Schumacher e o seu "small is beatifull",
Hubert Reeves com uma grande obra "um pouco mais de azul" e também
a sua teoria do cuidado que temos ao tocar seja no que for, pois tudo
acaba por estar interligado e que ficou conhecida pela "teoria da
borboleta", Goodwin e as suas cidades sustentáveis e para não me
estender muito, no campo da política, uma política justa, de igualdade, de
parcerias, que nos é trazida entre outros por Noam Chomsky.
Ora não sendo fácil, prevejo mesmo lutas bastante difíceis e renhidas, uma
coisa é certa, cada vez mais as pessoas têm a noção da importância de
olhar para o planeta de uma forma global e no qual todos os organismos
têm a sua função e indispensabilidade. Daí a noção de uma necessária
biodiversidade e mais que isso, a consciência de que é necessário não ficar
de braços cruzados e lutar por ela.
Agora, amigo Joaquim, bem podes tirar o cavalinho da chuva que não será
do seio deste parlamento europeu que algo de bom virá sobre essas
matérias.
O atual parlamento europeu tem um poder muito limitado. Limita-se a
legislar sobre a marcha dos cágados para a Índia e a conceder aval às
medidas, essas sim importantes e gravosas para o ambiente e para os
trabalhadores, emanadas pela comissão europeia.
A união europeia e suas instituições têm um fito, organizar, proteger e
expandir o capitalismo a nível global. Não é uma globalidade humana mas
apenas o desenvolvimento do capitalismo a todo o Mundo.
Ora encontramos na génese do capitalismo tudo o que de negativo
apontas na tua pergunta.
E vê-se pelo que aconteceu em Portugal em que tinha uma agricultura e
atividade pesqueira de subsistência e o que foi feito foi pagar a essas
pessoas para deixarem essas atividades para assim abrirem a exploração
da agropecuária e das pescas à exploração intensiva sobretudo às
multinacionais espanholas desses setores.
Portanto e para concluir esta resposta, com esta união europeia e a
política que vem da sua génese criativa que propõe a exploração dos
recursos naturais de forma intensiva e subsidiando novas culturas do que
se convencionou chamar OGM (organismos geneticamente modificados),
daí o eu defender que ao permanecermos nesta união europeia e
insistindo em acolher as suas políticas, podes ter a certeza que um dia
destes apanhamos algo bem pior que uma papeira. E Nefertiti não tinha
papeira.

8.
E finalmente o "ancore" da oitava pergunta, que alarga as vistas para o
infinito, e sem qual nenhuma das demais sete teria qualquer sentido:
haveria alguma crise capaz de sobreviver e resistir a estas três estratégias
europeias de consolidação democrática – Instituto da Sustentabilidade,
Observatório da Violência e Observatório da Biodiversidade? Hum?!?...
Jaime Crespo –
As estratégias que apontas são de facto europeias, têm a marca dos seus
grandes pensadores e filósofos, mas não só, felizmente outros povos nos
têm dado lições nestas matérias e muitas vezes povos que o nosso
eurocentrismo leva a menosprezar os seus conhecimentos de experiência
feitos.
Por exemplo conheces maior simplicidade e ao mesmo tempo argúcia na
observação do mundo que a leitura do "papalagui"? Ou do "macunaíma"?
Não reconheço nenhuma destas estratégias na união europeia:
Consolidação democrática, para que a mesma se desenvolvesse seria
necessário fazer uma união a partir da base (dos povos em liberdade) e daí
chegar às inúteis "elites". Ora o que temos é a consolidação da democracia
"burguesa" que ocupa os cargos, faz as leis e manda a bem ou a mal as
forças ditas da ordem cumpri-las. Nas inaugurações de fábricas vês quase
sempre meio ministério a degustar os vivas e abraços populares, mais o
pastelinho de bacalhau e o Porto de honra. Quando passada meia dúzia de
anos a mesma fábrica fecha quem lá aparece? Nem uns simples
funcionários dos centros de emprego a registar as pessoas e poupar-lhes
horas nas filas. Ainda assim o exemplo mais flagrante que contraria a
proclamada democracia é o caso do referendo irlandês. Para o bem ou
para o mal o povo votou, e disse claramente não ao tratado de Lisboa, o
que pelas próprias regras da comissão europeia inviabilizava a sua
execução. Foi isso que aconteceu? Os senhores políticos da comissão
europeia logo trataram de inventar umas desculpas e vai ser sob uma
ignóbil chantagem que o povo irlandês vai voltar a sufragar o Tratado. E
irá a tantos referendos quantos os necessários a que o resultado seja um
magnífico Sim! É isto democracia? E nos outros países pelo sim pelo sim,
não fosse aparecer outro incómodo não, depressa alteraram as
constituições e passaram a ser os parlamentos nacionais a sufragar os
tratados da união. Quando e onde o povo português já se pronunciou
sobre alguma medida vinda da união europeia? Enfim, serve a dita cuja
para alguns cujos abocanharem alguns milhares (ou milhões) de euros,
para a arraia-miúda ficam os cêntimos. Consolidação democrática na
Europa? (nesta união europeia?) puf!
Instituto da Sustentabilidade, Observatório da Violência e Observatório da
Biodiversidade, constituem quanto a mim instrumentos indispensáveis à
consolidação democrática na Europa, mas sempre fora desta União
falsificada e das suas políticas burguesas.
Esta união com a necessidade de ter sempre à mão uma grande massa de
trabalhadores indiscriminados e dispostos a fazerem qualquer trabalho
por qualquer preço, tem permitido uma emigração sem condições e que
vem ocupar os antigos antros de miséria de onde entretanto os nacionais
já se mudaram para outros antros mais modernos, chamados os bairros
sociais. Com esta política os senhores da união aumentaram a violência
adjunta da miséria, aumentaram os sentimentos xenófobos e racistas
numa Europa de tradição cosmopolita e agravaram todo o desfile de
misérias humanas que me coíbo de acrescentar.
Quando eles falam de sustentabilidade é precariedades que estão a dar
aos trabalhadores.
Quando se referem a biodiversidade é quando aumentam mais uns
milhares de hectares de exploração de transgénicos.
A crise é o cenário de fundo que fazia falta a esta representação horrenda
em que os trabalhadores são os figurantes que desconhecem o seu papel e
de camarote temos os especuladores na bolsa, os banqueiros, etc. a
gozarem o espetáculo.
Na verdade estamos nas mãos de mafiosos políticos ao serviço do capital,
a crise não é ultrapassável sem uma nova revolução popular e que aí sim,
consolide os valores de que falas:Consolidação democrática (Instituto da)
Sustentabilidade, (Observatório da Violência) Paz e (Observatório da)
Biodiversidade.
Afinal este Parlamento Europeu serve para quê? Ou de que falamos
quando falamos deste Parlamento Europeu e das suas competências?
Muitos arrivistas do comentário político e que antes apontavam
exatamente ao PE a sua evidente ineficácia, agora que são candidatos ao
mesmo parlamento, quer pelo Bloco de Esquerda ou pela CDU, mas
também por novos partidos, "flocos de aveia" sem passado nem ideologia
e que aparecem a soldo do capital para confundir o mais desatento Zé
Votante, ou ainda os partidos da direita, da mais moderada à mais
reacionária, racista e xenófoba, agora de modo geral todos começaram
milagrosamente a encontrar virtudes no PE, desde que sejam os seus a
ocupar esses lugares.
Por isso somos diferentes e temos a coragem de não esconder do Povo a
inutilidade desse Parlamento.
Concretizemos então o que é a realização concreta dos poderes dos
deputados ao Parlamento Europeu:

1.
O que o PE pode propor são alterações às Diretivas ou propostas da
Comissão Europeia;

2.
Estas propostas de alteração têm que estar contidas no âmbito dos
tratados da União Europeia e ser aprovadas pela maioria dos deputados;

3.
A Comissão Europeia aceita as propostas de alteração aprovadas pela
maioria dos deputados do PE, e, em seguida, elas são de novo aprovadas
no PE;

4.
A Comissão Europeia é ainda livre de as aceitar ou não, evocando o
cumprimento de Diretivas anteriores e dos Tratados Europeus.
Portanto, e terminando que a palheta já vai no Pisão, a conversa em redor
deste sistema de PE e da consequente política que lhe subjaz, recorda-me
o teu conto "o morto a cavalo num burro". Trata-se de conversa fiada
destes malandrecos avençados na política e tidos pelos média da moda e
apresentados ao Povo como gente credível, decente e com ideias políticas
arejadas porque livres de ideologias apenas defendem a que importa: o
capitalismo burguês.
Mas se o povo assim o entender, ou for levado a isso, queira continuar a
votar em partidos modernaços e políticos credíveis, pois que o faça, terá
aquilo que merece: continuar a comer da mesma merda.
Por isso e para terminar, reafirmo aqui os lemas pelos quais me irei bater
até ao próximo dia 7 e muito para lá dele, pois a luta continua:

- Pela proibição dos despedimentos!


- Pela União livre das nações soberanas de toda a Europa!
- Pela rutura com a União Europeia!
Construção de uma política alternativa, ao serviço dos trabalhadores e que
respeite o meio ambiente!

Falou jaime crespo, português de Tolosa, 45 anos de idade, professor do 1º


CEB, ex-emigrante, escritor nas horas vagas e pensador a tempo inteiro. E
cãodidato a ir ladrar para o canil europeu!
(versão revista, aumentada, ilustrada e piorada. não corrigida pois neste
país de engenheiros e grandes engenharias civis e financeiras, já ninguém
se preocupa com a ortografia... isso é coisa para o Malaca Casteleiro e os
brasileiros)

(as t-shirts aqui mostradas e usadas diariamente pelo entrevistado, mai-lo


saco azul foram adquiridas na loja do cão azul, a preta com o A e a
vermelha com um painel do pintor mexicano Diego Rivera foram
adquiridas na loja radical jack. a cabeça é a do próprio cãodidato e quando
não é então foi substituída pelo livro "A Divina Coméda", de Dante
Alighieri.)

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