Você está na página 1de 3

3° CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE BIODIESEL - RBTB

Produção de biodiesel a partir do óleo da borra do café.


Julião Pereira*, Carolina P. Prados, Pedro Ivo B. M. Franco, Maria Isabel R. Alves, Affonso C.
Gonçalves Jr., Maria Inês G. Leles, Nelson R. Antoniosi Filho.
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás,
Campus Samambaia, C. P. 131, CEP 74001-970 – Goiânia – GO
nelson@quimica.ufg.br ¹

Palavras Chave: Biodiesel, Óleos, Café.

Introdução comprimento, nitrogênio de make-up e temperatura


do detector de 385°C.
A transesterificação de óleos ou gorduras vegetais Conhecendo a composição em ácidos graxos do
ou animais para produção de biodiesel vem sendo óleo realizou-se a reação de transesterificação para
amplamente explorada no mundo. O Brasil se obtenção do biodiesel etílico de óleo de borra de
destaca pela variedade de matérias-primas café. A reação foi realizada pela rota etílica com
potenciais na produção do biocombustível. Uma catálise básica e 90 minutos de reação sob agitação
matéria-prima em potencial é a fração lipídica da de 200 rpm em agitador Nova Ética modelo 430.
borra de café, uma vez que o Brasil é um dos Para averiguar a qualidade do biodiesel obtido, este
maiores produtores e consumidores desta bebida no foi submetido à reação de derivatização com
mundo. Somente a produção de café solúvel é MSTFA e injetado do cromatógrafo a gás GC 2010
responsável pela geração de 304 mil toneladas de Shimadzu equipado com detector por ionização em
borra úmida.1 chama e injetor automático. O sistema de injeção
Sabe-se que o óleo de café é rico em matéria utilizado foi o split com razão de 1:20 para um
insaponificável, uma excelente característica para volume de 1 µL e temperatura do detector a 360°C.
produção de biodiesel, uma vez que a formação de O forno foi submetido a uma rampa de temperatura
sabão pode competir com a formação de ésteres de 60 a 385°C com uma coluna DB-5HT de 25 m de
metílicos ou etílicos de ácidos graxos (biodiesel). comprimento e temperatura do detector de 385°C.
Visando garantir a qualidade da matéria-prima é Tanto o óleo bruto da borra de café quanto o
importante, que se conheça a composição em biodiesel foram submetidos à análise por
ácidos graxos do óleo, pois isso influência em termogravimetria (TG) e calorimetria exploratória
diversas características do biocombustível, como diferencial (DSC), para elucidar o perfil de
índice de cetanos, estabilidade oxidativa, ponto de degradação térmica, a estabilidade térmica e o
entupimento de filtro a frio, lubricidade e ponto de congelamento. Tanto as análises de TG
viscosidade.2 quanto as de DSC foram efetuadas em atmosfera
Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar a fração de ar sintético com fluxo de 50 mL.min -1, as análises
lipídica da borra de café como matéria-prima para a de TG foram realizadas em cadinhos de α-Alumina
produção de biodiesel. de 140 μL, em uma dinâmica de 25°C até 800°C
Materiais e Métodos com razão de aquecimento de 10°C.min-1. As
análises de DSC foram realizadas em cadinho de
A amostra de borra de café, resultante da alumínio de 40 μL com tampa furada, de maneira
produção da bebida café, foi coletada no próprio dinâmica de 30°C à -60°C, com razão de
laboratório e seca em estufa por 24 h a 110°C. A aquecimento de -5°C min-1.
borra de café, agora isenta de água, foi então Resultados e Discussão
submetida à extração por Soxhlet utilizando n-
hexano como solvente. O procedimento foi realizado A extração do óleo da borra de café apresentou um
de acordo com o método oficial para determinação rendimento em massa de 33,3%. Um rendimento,
de teor de óleo em frutas e sementes oleaginosas.3 extremamente satisfatório uma vez que os grãos
Realizada a extração do óleo, partiu-se para a crus apresentam um teor médio de óleo de 15 %
elucidação de sua composição. Para tal, realizou-se aproximadamente.2 Supõe-se que o aumento do
uma transesterificação do óleo em microescala pelo rendimento em massa é devido ao acúmulo de óleo
procedimento de Hartman e Lago.4 Injetou-se a fase durante o processo de torra e extração da parte
de ésteres metílicos de ácidos graxos no solúvel no preparo do café.
cromatógrafo a gás GC 7890 equipado com A análise cromatográfica do óleo permitiu
detector por ionização em chama e injetor conhecer sua composição percentual em ácidos
automático Agilent. Utilizou-se injeção do tipo split graxos (Tabela 1), o que é essencial para se
com razão de 1:30 com temperatura de 300°C e estabelecer o tipo de biocombustível que pode ser
hidrogênio 5.0 como gás de arraste. Empregou-se obtido a partir do óleo de borra de café.
programação de temperatura do forno de 180°C até Observa-se que a presença de ácidos graxos
250°C e uma coluna HP-88 de 100 metros de insaturados é predominante, o que pode levar a um
BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL 09 E 10 DE NOVEMBRO DE 2009
HOTEL BRASÍLIA ALVORADA
3° CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE BIODIESEL - RBTB
alto número de cetano e menor temperatura de
ponto de entupimento de filtro a frio ao biodiesel que
será produzido.5
Tabela 1 - Composição percentual em ácidos
graxos do óleo de borra de café
Ácido Graxo (%)
P (C-16:0) 32,10
S (C18:0) 7,73
O (C-18:1 cis9) 10,55
V (C-18:1 cis11) 0,48
L (C-18:2) 46,15
Ln (C-18:3) 2,18
Ar (C-20:0) 0,81
TOTAL 100,0 Figura 2 - Curva TG (superior) e DTG (inferior) do
óleo de café (linha cheia) e Biodiesel do óleo de
café (linha pontilhada).
As curvas DSC mostram que o ponto de O cromatograma do biodiesel de óleo de borra de
congelamento tanto para óleo bruto (linha cheia) café (Figura 3) produzido utilizando as mesmas
quanto para biodiesel (linha pontilhada) são de condições reacionais de transesterificação utilizada
0,93°C e 0,92°C respectivamente. para outros óleos evidencia um biocombustível com
Nota-se também que na curva do biodiesel há um quantidade de picos na região dos triacilglicerídeos,
pico em torno de -26°C que possivelmente deve-se entre 19 e 23 min, o que demonstra que o
a algum produto de conversão do óleo. rendimento em ésteres não foi adequado. A
posterior determinação da acidez do óleo evidenciou
que a mesma era elevada, o que indica que há uma
grande quantidade de ácidos graxos livres nesse
tipo de amostra, afetando a qualidade final do
biodiesel etílico produzido.
u V( x 1 , 0 0 0 , 0 0 0 )
1 . 5 0C h r o m a t o g r a m

1 .2 5

1 .0 0

0 .7 5

0 .5 0
Figura 1 - Curva DSC do óleo de café (linha cheia -
A) e Biodiesel do óleo de café (linha pontilhada - B). 0 .2 5

0 .0 0
Pela a análise das curvas TG é possível identificar 5 .0 7 .5 1 0 .0 1 2 .5 1 5 .0 1 7 .5 2 0 .0 2 2 . 5 m in
uma redução da estabilidade térmica da amostra
após sua transesterificação, sendo essa diminuição Figura 3 - Cromatograma do biodiesel de óleo de
de cerca de 30°C, o que é evidenciado com curva borra de café.
DTG (derivada primeira da curva TG). O óleo bruto
Observa-se, portanto, que o óleo de borra de café
tem sua estabilidade térmica em 180°C e o biodiesel
apresenta-se como matéria-prima promissora na
em 150°C, o que coincide com os resultados
obtidos para a maioria dos óleos graxos.6 produção de biodiesel, principalmente pelo seu
As curvas DTG demonstram que o óleo bruto se baixo custo e alta disponibilidade. Entretanto, as
decompõe em quatro etapas, sendo que sua maior condições de síntese do biodiesel pela rota etílica
decomposição de perda de massa ocorre em devem ser mais exploradas para obter um
480°C. Já o biodiesel apresenta somente duas biocombustível de melhor qualidade com um maior
etapas de decomposição sendo que a de maior rendimento em ésteres.
perda de massa ocorre em 475°C.
Agradecimentos
MCT, FINEP, FUNAPE, CNPq e CAPES.

Bibliografia
1
Gil, S. R.; Borre, R. B.; Reinert, F. Transesterificação da
fração lipídica Da borra de café. Dissertação (Mestrado) –
Instituto de Química – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
RJ, p. 52-57, 61, 2008.
2
Camargos R. R. S.; Avaliação da viabilidade de se produzir
biodisel através de transesterificação de óleo de grãos de café
defeituosos. Dissertação (Mestrado) – Escola de engenharia –
Universidade Federal de Minas Gerais, MG, p.27-33, 39-41,
2005.
BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL 09 E 10 DE NOVEMBRO DE 2009
HOTEL BRASÍLIA ALVORADA
3° CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE BIODIESEL - RBTB
3
IUPAC. Standard Methods for the Analysis of Oils, Fats and
Derivatives – Determination of oil content (extraction
method), 1988.
4
Antoniosi Filho, N.R. Análise de FAMES por HRGC. In:
Análise de óleos e gorduras vegetais utilizando métodos
cromatográficos de alta resolução e métodos computacionais.
Tese (Doutorado) – Instituto de Química – Universidade de
São Carlos, SP, p. 38-43;61; 97, 1995.
5
Moura, C.V.; et al; Biodiesel from babassu (Orbignya sp.)
synthesized via ethanolic route. Química Nova. v. 30, n.3, p.
600-603. São Paulo, 2007.
6
Çaynk, S., Guru, M., Biçer, A., Keskin, A., Içingür, Y.;
Biodiesel production from pomace oil and improvement of its
properties with synthetic manganese additive.Fuel, n 88, p.
534-538, 2009.

BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL 09 E 10 DE NOVEMBRO DE 2009


HOTEL BRASÍLIA ALVORADA

Você também pode gostar