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RITOS DE

PASSAGEM

RITOS DE PASSAGEM –

Os Ritos de passagem são celebrações tradicionais que marcam mudanças de


status de uma pessoa no seio de sua comunidade.

Os ritos de passagem são realizados de diversas formas dentro das


comunidades, dependendo da situação celebrada; eles podem ser desde
rituais místicos ou religiosos até assinatura de papéis (ou ainda os dois juntos).

Em todas as sociedades desde as mais primitivas, determinados momentos na


vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas
como ritos de iniciação ou ritos de passagem.

Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o


indivíduo, representavam igualmente a sua progressiva aceitação e
participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, assim, tanto o cunho
individual quanto o coletivo.

Tradicionalmente, entre os povos indígenas além do casamento, os ritos de


passagem mais importantes eram:

• - Para as moças, o resguardo após a primeira menstruação, quando


eram informadas sobre o perigo inerente ao sangue menstrual que pode
indevidamente atrair, pelo cheiro, os espíritos monstruosos aquáticos.
Nestes períodos as mulheres não podem ir ao rio, à roça, cozinhar.
• - Os rapazes passavam por um rigoroso aprendizado e período de
reclusão quando pretendiam tornar-se xamãs.
• Os ritos de fim de luto eram a ocasião de reunir muita gente de
diferentes grupos locais, e assim ao mesmo tempo em que
despachavam o espírito do morto, liberando-o para subir ao céu, os
Galibi reconstituíam o seu mundo social e simbólico e de renovação
cósmica

O termo foi popularizado pelo antropólogo alemão Arnold van Gennep no início
do século vinte. A expressão francesa “Rites de Passage” foi adotada por
antropólogos e escritores europeus para definir todos os rituais e cerimônias
que propiciam a passagem de uma pessoa para uma nova forma de vida ou
um novo status social. Segundo o escritor Arnold van Gennep, os ritos de
passagem são cerimônias que existiram e existem em todas as culturas,
antigas ou contemporâneas primitivas ou urbanas, acompanhando cada
mudança de idade, de lugar, de estado ou de posição social. Infelizmente, nas
sociedades modernas estas celebrações foram sendo reduzidas - algumas
delas mesmo ignoradas - e outras deturpadas. Vivemos nossas vidas, do berço
até o túmulo, com apenas algumas poucas cerimônias marcando nossas
transições, como batizado, casamento e enterro. O nascimento de uma criança
era considerado antigamente um ato divino, presenciado, assistido e celebrado
apenas por mulheres (parteiras, sacerdotisas, amigas) com cantos, orações e
invocações das Deusas “responsáveis” pela gestação e o parto. Por
considerarem a Criação um atributo da Mãe Cósmica, os povos antigos
honravam as mulheres como detentoras do dom divino da procriação, por isso
o ofício sagrado de trazer uma criança ao mundo era uma função natural e
exclusiva das mulheres. As habilidades das parteiras eram ensinadas de mãe
para filha, e os preparativos para o parto decorriam em uma atmosfera de
harmonia e oração, a mãe amparada por ervas, massagens com óleos
aromáticos, cânticos e oferendas para as Deusas. O recém-nascido era
apresentado às Divindades e abençoado pelas mulheres presentes, invocando
atributos e qualidades para a sua vida (foi daí que se originou a lenda das
“fadas madrinhas”). O próprio ato de concepção era planejado, preparando os
pais para se conectarem com o espírito do seu futuro filho através de rituais,
mudanças na alimentação, jejuns, purificações e orações. Acreditava-se que ao
se comunicarem com o espírito da criança, antes dela nascer, os pais criavam
laços afetivos mais fortes, facilitando o relacionamento e aceitação recíproca.
Mesmo hoje os nativos norte-americanos perfazem rituais para chamar e se
comunicar com o espírito do futuro filho.

A primeira celebração após o nascimento de uma criança era para honrar a


mãe (feita pelas mulheres), enquanto os homens festejavam o pai.

Para as mulheres, o rito de passagem se dava geralmente no momento da


primeira menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil,
estava apta a preparar-se para o casamento.

Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele


fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento
de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como
membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da
comunidade (pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente
misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã.

Outras teorias foram desenvolvidas por Mary Douglas e Victor Turner na


década de 1960.

Hoje, os ritos de passagem são outros, mas as crenças antigas têm o seu
sentido e os seus valores preservados. Isso cria ambivalência positiva e
etnicidade.

Batismo e festas de aniversário de 15 anos, por exemplo, são resquícios desse


tipo de cerimônia, que hoje representam muito mais um compromisso social do
que a marcação do início de uma nova fase na vida do indivíduo.

As crianças passam pelo batismo e se preparam devidamente para a primeira


comunhão, posteriormente para a crisma, o jovem passa pelo fenômeno da
adolescência; o adulto para o casamento, para uma iniciação e finalmente para
a morte.

Variadas cerimônias marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte-


americanos, algumas tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens
guerreiros era trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o
sangue derramado eram, dessa forma, considerados como uma retribuição à
Terra das dádivas que a tribo recebera até ali. Outras cerimônias seguiam-se,
ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram
considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no
reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos.

Entre os povos modernos, os Judeus são as comunidades que mais cultivam


as tradições dos Ritos de Passagem; aqui estão alguns exemplos:

Tradições Judaicas

• Brit-milá (literalmente aliança da circuncisão), também chamado de bris


milá (na pronúncia asquenazi) é o nome dado à cerimônia religiosa
dentro do judaísmo na qual o prepúcio dos recém-nascidos é cortado ao
oitavo dia como símbolo da aliança entre Deus e o povo de Israel.
Também é nesta cerimônia que o menino recebe seu nome. Costuma-se
realizar o brit em um café da manhã festivo.
• Zeved-habat ou Simchat bat são os termos que designam a cerimônia
de recebimento do nome das meninas judias, sendo paralela ao ritual de
brit milá para meninos, mas sem a circuncisão por questões obvias. Na
cerimônia de Zeved habat , o pai da menina comparece no primeiro
shabat após o nascimento desta . O rabino abençoa os pais da menina ,
que recebe o seu nome hebraico.
• B'nai Mitzvá (filhos do mandamento) é o nome dado à cerimônia que
insere o jovem judeu como um membro maduro na comunidade judaica.
Quando uma criança judia atinge a sua maturidade (aos 12 anos de
idade, mais um dia para as meninas; e aos 13 anos e um dia para os
rapazes), passa a tornar-se responsável pelos seus atos, de acordo com
a lei judaica. Nessa altura, diz-se que o menino passa a ser Bar Mitzvá
("filho do mandamento"); e a menina passa a ser Bat Mitzvá ("filha do
mandamento").Ao completar 13 anos, o jovem judeu é chamado pela
primeira vez para a leitura da Torah (conhecido como Pentateuco pelos
cristãos). Ao ser chamado pela primeira vez, o jovem pode, a partir daí,
integrar o miniam (quórum mínimo de 10 homens adultos para
realização de certas cerimônias judaicas).
• ``Kidushin´´ a Consagração do casamento Casamento, casório Judaico
é o vínculo estabelecido entre duas pessoas judias, mediante o
reconhecimento de D'us e é Realizado Dentro dos conceitos
estabelecidos da Torá do Talmud e da Halachá O Casamento judeu
diferente de um casamento cristão ou de Outras religiões tem todo um
Significado em cada Etapa desde O dia do Casamento até O. Segundo
as Tradiçoes Rabínicas Deus perdoa Completamente Qualquer pecado
que os Noivos teriam cometido para começar uma vida de Noivado Pura
e livre de pecados.
• Shivá ou Shiv'ah ("sete") é o nome dado dentro do judaísmo para se
referir ao período de sete dias de luto mantidos pela morte de uma
pessoa próxima. A palavra "Shivá" significa "sete", e se refere ao
período de sete dias de luto fechado, contados a partir do dia do enterro.
A tradição tem origem na Torá, quando José "chorou sete dias" pelo seu
pai, Jacob (Gênesis 50:10). Durante uma semana, os enlutados ficam
em casa, abstendo-se de quaisquer atividades profissionais ou de lazer.
Parentes e amigos fazem visitas de condolências à casa dos enlutados,
e três vezes por dia (de manhã, à tarde e a noite) realizam-se serviços
religiosos. A instituição da Shivá tem como finalidade dar à família forças
psicológicas e espirituais para continuar depois da perda de um ente
querido. O enlutado não esta só; muito pelo contrário, ele faz parte da
"comunidade" dos "enlutados de Sion". É esta consciência de grupo que
lhe dá conforto, que lhe permite emergir fortalecido, preparado para
enfrentar as vicissitudes da vida, e pronto para reassumir suas
responsabilidades perante o seu povo.

Todas essas cerimônias, no entanto, marcavam pontos de desprendimento.


Velhas atitudes eram abandonadas e novas deviam ser aceitas. A convivência
com algumas pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam
a constituir o grupo de relacionamento direto. Muitas vezes, a cada uma dessas
cerimônias, a pessoa trocava de nome, representando que aquela identidade
que assumira até então, não mais existia - ela era uma nova pessoa.

Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos


subsistiram embora muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. No
entanto, a troca do símbolo pela ostentação pura e simples, acaba criando a
desestruturação do padrão social.

Tomando o batizado cristão como exemplo, poder-se-ia perguntar quantas


pessoas que batizam os seus filhos são, realmente, cristãs. Quantas
pretendem realmente cumprir a promessa solene, feita em frente ao seu
sacerdote, de manter a criança na fé dos seus antepassados? Obviamente,
nas sociedades primitivas, tais promessas eram obrigações indiscutíveis e
sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivência da tribo
como unidade coerente, o que não era, ao menos, aceitável

Religiões afro-brasileiras

Os ritos de passagem são inseridos em algumas das religiões afro-brasileiras,


mas onde estão mais presentes é no Culto de Ifá, Candomblé e Culto aos
Egungun, que seguindo as tradições africanas fazem o ritual do nascimento,
ritual do nome quando uma criança é apresentada ao Orun e ao Tempo, ritual
de iniciação ou feitura de santo, algumas fazem o ritual do casamento, o ritual
fúnebre e o ritual do Axexê quando a pessoa iniciada morre.

A Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de


santo propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás incorporam os
Falangeiros de Orixás, usa-se o termo fazer a cabeça onde pode existir a
catulagem e pintura, porém a cabeça não é raspada completamente, e não tem
imposição do adoxú. A reclusão nesses casos é de três a sete dias, é feita a
instrução esotérica, aprendizado das rezas e pontos riscados e cantados, e é
feita a apresentação pública.

Nas religiões afro-brasileiras, vários termos são usados para designar


iniciação.

Cada uma das religiões tem seus termos próprios, iniciação, feitura, feitura de
santo, raspar santo, são mais usados nos terreiros de candomblé, Candomblé
de Caboclo, Cabula, Macumba, Omoloko, Tambor de Mina, Xangô do
Nordeste, Xambá. Nestes casos o período de iniciação é de no mínimo sete
anos, se inserem os rituais de passagem, que indicam os vários procedimentos
dentro de um período de reclusão que geralmente é de 21 dias (mas pode
variar dependendo da religião), o aprendizado de rezas, cantigas, línguas
sagradas, uso das folhas (folhas sagradas), catulagem, raspagem, pintura,
imposição do adoxú e apresentação pública, é individual e faz parte dos
preceitos de cada pessoa que entra para a religião dos orixás no Batuque usa-
se o termo fazer a cabeça ou feitura. No Culto de Ifá e no Culto aos Egungun
usam o termo iniciação porém os preceitos são diferentes das outras religiões.

A princípio, nessas cerimônias, tem que haver o desprendimento total, na


iniciação deve-se morrer para renascer com outro nome para uma nova vida,
no candomblé Ketu o Orunkó do Orixá (só dito em público no dia do nome), no
Candomblé bantu além do nome do Nkisi (jamais revelado), tem a dijína pelo
qual será chamado o iniciado pelo resto da vida.

Quando uma pessoa iniciada morre é feito o deligamento do Egum, Nvumbe na


cerimônia fúnebre e no Axexê, conhecido pelos nomes de sirrum e zerim, que
varia dependendo do grau iniciático do morto.

Ts importante é a Iniciação, aqui o cidadão profano passa por um cerimonial


simbólico que lhe dá as condições para se integrar na Maçonaria iniciado para
uma nova vida,

Dentro dos rituais da Ordem, o iniciado, além da primeira iniciação ele vai, na
medida em que ele atinge determinados requisitos, passar por outras iniciações
que se completam ao longo de sua vida maçônica

No Grande Oriente do Brasil, o numero de iniciações que correspondem aos


graus atingidos varia de acordo com o Rito adotado:

Como cada um pode perceber, os Rituais de passagem fazem parte da vida do


ser humano em toda sua dimensão, quer sendo ele na vida social, familiar,
filosófica ou religiosa.

As práticas podem divergir quanto à forma apresentadas, mas a essência


filosófica é sempre a mesma – Todas essas cerimônias, marcavam pontos de
desprendimento ou marcas que devemos ultrapassar para que tenhamos
condições de atingir o ideal maior para o ser humano que ingressou em uma
comunidade que busca atingir é a tão esperada evolução espiritual que nos
propiciará o descanso eterno.

Se cada ser humano entender as mensagens que nos são passadas pelos
costumes e tradições herdadas dos antepassados, certamente conseguiremos
atingir os portais da iniciação maior.

Obras consultadas

BALDUS Herbert, Lendas dos índios do Brasil – Editora Globo, Porto Alegre,
1982

ASSIS CARVALHO e CASTELLANI, José, Ritos e Rituais, Editora “A Trolha”


Ltda – Londrina, Paraná, 2003

DOTEL DOS SANTOS,Sebastião. Dicionário Ilustrado de Maçonaria, Editora


Essinger Ltda – Rio de Janeiro 1984

FERNANDES, Florestan A Organização Social dos Tupinambás, Editora


Pensamento, São Paulo, 1985

MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, Editora


Martins Fontes, São Paulo, 1989.

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