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17/3/2011 Caderno 3 - Há 60 anos nascia o C…

HISTÓRIA (2/11/2008)

Há 60 anos nascia o CCF


2/11/2008

Em 1948, nascia o Clube de Cinema de Fortaleza, um dos primeiros


a serem criados no Brasil

O primeiro clube de cinema do qual se tem notícia foi o “The Film


Society” de Londres, fundado em 1925 por nomes ilustres como H.G.
Wells, George Bernard Shaw, Augustus John, John Maynard Keynes e
outros dignatários desejosos de assistir a filmes franceses, alemães e
russos, aos quais os exibidores comerciais não tinham acesso. O Quem é essa mulher?
movimento se espalhou rapidamente. De forma considerável, o interesse Momento crítico entre Jane
Greer e Robert Mitchum em
pelos filmes estrangeiros foi satisfeito depois pela expansão dos cinemas ´Fuga do Passado´, filme
de arte. exibido no Clube de
Cinema de Fortaleza, um
dos primeiros cineclubes da
Um pouco de História cidade

As “film societies” proliferaram, a maior parte através do uso de películas em 16mm e de projetores fáceis
de operar e de livrarias especializadas. Muitos grupos de cinéfilos estavam centralizados em escolas,
universidades, clubes, hospitais, empresas e nas vizinhanças. Em 1961, para ficarmos só nesse ano como
marco, as “film societies” ou clubes de cinema existiam em 46 países com um total de associados estimados
em quatro milhões! Nos anos 1970, registraram-se milhares desses grupos nos EUA. Contrastando com a
natureza rotineira e impessoal das exibições comercias, esse clubes propiciavam aos entusiastas de cinema a
perspectiva histórica de assistirem a fitas selecionadas e de analisarem e discutirem qualidades técnicas e/ou
estéticas. Os cineclubes também fomentavam os experimentos para a realização de filmes. Estas achegas
podem ser lidas em maior extensão nos livros de Rudoph Arnheim (“Film as Art”), Bela Balazs (“Theory of
the Film”), André Bazin (“Qu´est que le Cinéma?”), Renato May (“El Lenguage del Film”), George
Bluestone (“Novels into Film”) e Ralph Stephenson (“Cinema as Art”), todos já traduzidos para o vernáculo
e disponíveis nas melhores livrarias.

Gênese do CCF

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Em verdade, o Clube de Cinema de Fortaleza nasceu antes de 1948, fruto das inquietações de seu primeiro
presidente, Darcy Xavier da Costa (1923-86), e ambos estão tão intrinsecamente ligados a ponto de não
podermos dissociar um do outro. De resto, fã de cinema desde cedo, o menino Darcy já se valia de uma
caixa de sapatos e carretel e projetava na parede branca uma seqüência de fotogramas (obtidos lá com os
operadores de velho Majestic) através de pequena abertura, servindo-lhe de lente uma lâmpada cheia d
´água, enquanto um espelho aproveitava a réstia de sol como fonte emissora de luz.

O engenho primitivo foi melhorado depois mediante o uso de um jogo de lentes de antiga luneta, doada, se
bem nos lembramos, pelo seu companheiro Rubens de Azevedo. Muitos garotos também utilizavam
conjuntos semelhantes para brincar de “passar filmes”, numa época ainda sem TV, mas o projetor de Darcy
era dos melhores e devia fazer inveja aos colegas “inventores” lá do quarteirão. Contou isso em crônica
nostálgica, no JD do saudoso Dórian Sampaio, o próprio Rubens.

Darcy, ocioso assinalar, cresceu vendo e estudando cinema e até fazendo depois experimentos com
filmadora de 8mm. Fascinava-o essa alternância inteligente de luz e sombra, esse poder das imagens em
movimento com toda sua trama semiológica - elementos essenciais dessa arte de síntese ou “arte impura”
porque condensaria todas as outras, como a denominou propriamente o festejado crítico e professor Paulo
Emílio Salles Gomes.

Bem poderia ter sido Darcy um dos nossos cineastas pioneiros, não fosse verdadeira temeridade à época
largar tudo para dedicar-se a fazer cinema. Se hoje sabemos das dificuldades encontradas por profissionais
da terra visando à obtenção de recursos financeiros para seus filmes, imagine-se pensar nisso nos anos
1950!

O idealizador e fundador do CCF seguiu outros caminhos na vida profissional, mas jamais abandonou o
cinema. Vinculou-o definitivamente à sua vida quando procurou o jornalista e poeta Antônio Girão Barroso,
então redator dos “Diários Associados” e crítico intermitente de filmes, para transmitir-lhe a idéia da criação
de um clube de cinema de Fortaleza. Levou-a depois a outros entusiastas da 7ª Arte: Wagner Barreira,
Otacílio Colares e Aderbal Freire e deles recebeu entusiástica acolhida da qual resultou a formalização do
CCF e o trabalho iniciado já em princípios de 1942.

Os primeiros tempos

Conhecemos Darcy ainda adolescente, quando julgávamos pretensiosamente entender de cinema porque
sabíamos enredos de filmes, títulos originais, nomes de intérpretes e realizações, datas de filmagens, duração
das películas etc. Darcy deu um rumo diferente a esse nosso interesse pelo cinema, herdado aliás do nosso
saudoso genitor, J.V. de Miranda Leão, médico ilustre, professor Emérito da Faculdade de Medicina do

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Ceará, poliglota e entusiasta da arte das imagens. Foi ele quem levou o filho para assistir em 1942 às
filmagens de um episódio de “It´s All True”, de Orson Welles, lá no Mucuripe, e depois para ver as “prises
de vues” do grande cineasta na Praia do Meireles, quando vimos Welles vadeando naquele espaço quase
deserto. Tempos depois ganhamos um livro sobre D.W. Griffith, o pai do cinema narrativo, mestre pioneiro
do filme de ação e mentor cinematográfico de Sergei Einsenstein, a quem o cineasta russo sempre deu
imenso crédito. Por causa desses dois nomes, Darcy e o querido genitor, fomos levados a estudar obras
essenciais do cinema e aí não as largamos mais.

Nosso encontro com Darcy se deu em fevereiro de 1949 quando da primeira exibição do CCF na “Alliance
Française”. Levou-nos até ele a notícia de jornal sobre a projeção do filme “Silêncio nas Trevas” (The Spiral
Staircase), do cineasta teuto-americano Robert Siodmak. Fomos até lá. Darcy fez a apresentação do filme,
omitindo naturalmente o “plot”, mas detendo-se em aspectos para nós até então desconhecidos da direção
cinematográfica, como o da utilização do espaço-fora-da-tela do “raccord”, do contracampo oculto ou do
olhar em “off”. Quanta coisa a aprender em matéria de cinema!

Expansão das Atividades

As sessões do CCF se tornaram obrigação semanal dos cinéfilos, enquanto artigos eram reproduzidos na
imprensa local e nos miniprogramas do CCF e enviados para publicação pelo CEC de Belo Horizonte, onde
pontificavam nomes como os dos pranteados críticos Cyro Siqueira e Maurício Gomes Leite, este o
realizador de “Vida Provisória” (1968). Privamos com eles na 1° jornada de Cineclubes na capital mineira,
onde representamos o CCF em 1960. Ocorreram depois outras jornadas, uma delas em Fortaleza, com o
CCF à frente, dela participando figuras de relevo vindas de outros Estados.

Nos primeiros anos Darcy era quem projetava os filmes e os rebobinava após a sessões, primeiro na
“Alliance” e em seguida no IBEU, a partir de 1953, e depois na ACI. Lembramo-nos da satisfação de
Darcy com a aquisição da “Bell & Howell” e, mais adiante, com a projetora húngara, quando já contava
com a ajuda de José Gomes, eficiente operador. Mesmo com Darcy ausente, por motivo de alguma viagem,
não havia quebra da continuidade das atividades do CCF. Mantinha-se a apresentação de cada filme e
procedia-se a debates esclarecedores ao final das exibições. Na vinda dos filmes muito ajudou o CCF a
atuação do Cosme Alves Neto do MAM do Rio de Janeiro, bem assim a Unifrance, o Consulado dos EUA,
o Instituto Goethe e o Consulado Holandês, a quem devemos a exibição do antológico “A Casa”, de Louis
A.van Gasteren. Houve também a colaboração da Embaixada do Canadá e até do Museu da Imagem e do
Som.

Minicursos e Seminários

Coube ao CCF a primazia da realização de seminários e cursos de iniciação cinematográfica para sócios e
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cinéfilos de modo geral. Vieram até Fortaleza professores como Rafael Menezes, dirigentes cineclubistas
como Carlos Vieira, cineastas como Nelson Pereira dos Santos, o crítico Van Jafa e até o bossanovista
Sérgio Ricardo, também diretor de “Juliana do Amor Perdido” (1970), para citarmos alguns nomes
chegados à lembrança.

Uma das colaborações mais efetivas para nossos cursos foi a do USIS, quando nos foram cedidos filmes
sobre direção cinematográfica, produção, montagem, cinematografia e direção artística. Neles foi possível
ver em pleno trabalho mestres de cada uma dessas especialidades, como John Ford, David O. Selznick, Lee
Garmes, Ted Scaife, William Cameron Menzies, Rudolph Sternad, Jacques Tourneur, Edward Dmytryk,
Robert Siodmak. Foram momentos memoráveis na vida do Clube de Cinema.

Registrem-se também o seminário ministrado na UFC e outro com respaldo da Secretaria de Cultura. De
todo aquele movimento pioneiro ficaram as palestras, exposições e as análises críticas de filmes publicadas
nos boletins do CCF e nos jornais a partir de 1953. Aliás, devemos a Darcy e a Manuelito Eduardo a
página domingueira em “Unitário” (1958 - 1960), na qual foi possível contribuir para maior conhecimento da
importância do cinema em nosso meio e para a formação de uma consciência crítica, ponto de apoio de
qualquer cultura cinematográfica.

Queremos destacar ainda a publicação da seção “Balaio” (para a qual colaboraram Tavares da Silva e
Tarciso Tavares) e do quadro de cotações da semana da Gazeta de Notícias, então sob direção do próprio
Darcy. Muitos dos cinéfilos de hoje, jornalistas e críticos são direta ou indiretamente “filhos” das atividades
desenvolvidas pelo CCF.

Fazemos esta referência para mostrar como todos quantos se dedicarem ao cinema entre nós, seja à teoria,
à pratica ou à sua divulgação, são devedores de uma forma ou de outra ao trabalho pioneiro, persistente e
eficaz de Darcy Costa e ao seu exemplo como dirigente capaz e dedicado. Não admira a homenagem
prestada a ele pelos seus amigos do CCF, quando foi indicado para integrar o Conselho Superior de
Cultura, no Rio de Janeiro. Um justo reconhecimento vindo de fora. Resta-nos dar o nome de Darcy a uma
rua, sala e filmoteca. É muito pouco um troféu Samburá. Quanto a nós, orgulhamo-nos de termos sido seu
colaborador direto enquanto o CCF esteve sob sua esclarecida direção.

Estes os apontamentos, obviamente incompletos, vindos à memória como registro de um período rico em
nossas vidas, mas já perdido no tempo fugidio, quando recordamos Darcy Costa e o legado do CCF. Sua
morte, sentida até hoje por familiares, amigos e colaboradores, abriu lacuna difícil de ser preenchida. Sirva,
no entanto, seu exemplo como fonte de inspiração para todos quantos quiserem valer-se das lições por ele
deixadas como cineclubista, cultor de cinema, pai, amigo e cidadão, para tornarem suas vidas mais dignas de
serem vividas. Os ensinamentos dele ficaram. Cumpre-nos não deixá-los esquecidos.

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L.G. DE MIRANDA LEÃO


Crítico de Cinema
*Para saber mais, leia Artigo publicado pelo ´Claro´ (Informativo da Casa Amarela, ano I, n°3,
dez/1994 - jan/1995).

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© 2011 Editora Verdes Mares

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