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Fortaleza, Ceará - Sexta-feira 21 de junho de 2002

LEMBRANÇAS de um Quixote do
Cinema

Os tempos eram outros. As dificuldades, maiores. Mas foi


em meio às adversidades mais usuais que Eusélio Oliveira
conseguiu coordenar o projeto pioneiro de ensino do
audiovisual no Ceará. Fundador da Casa Amarela, verdadeiro
Quixote do Cinema na Terra da Luz, Eusélio Oliveira foi
entrevistado diversas vezes pelo Diário do Nordeste. Como
merecido reconhecimento ao trabalho fundamental de Eusélio
para a consolidação do fazer cinematográfico no Estado, o
Diário publica uma de suas últimas entrevistas, onde ele
explica como foi criada a Casa Amarela, fala da perseguição
que sofreu durante a ditadura militar e revela traços de sua
forte personalidade.

Como foi o processo para a criação da Casa Amarela?

Para fazer isso tenho que me reportar a uma fase de


pré-história do cinema no contexto da universidade. Em 1965,
quando eu era presidente da Federação Norte/Nordeste de
Cine Clubes e Darcy Costa era o presidente do Cine Clube de
Fortaleza, nós encaminhamos uma proposta de criação de um
Centro de Estudos Cinematográficos dentro da universidade.
Na época, o reitor transitório era Renato Braga e o processo
chegou ao Conselho Universitário com orçamento de seis
milhões de cruzeiros, obviamente foi engavetado.

— E depois dessa fase como foi o prosseguimento?

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Eusélio- Quando em 1967 eu era professor do Curso de


Arte Dramática na disciplina de Estética e Audiovisual,
realizou-se em Fortaleza a sexta Jornada Nacional de Cinema,
onde houve um grande encontro de cine-clubes brasileiros.
No final, foi encaminhada uma noção à UFC reinterando a
criação de um Centro de Estudos Cinematográficos. Isso é
importante e a nova geração não sabe que foi o único órgão a
surgir no contexto de uma universidade quanto era tão
clandestino falar em cinema e teatro. Então, entre 71 e 74,
lecionei na Comunicação Social, ficando também na linha de
extensão, quando da administração de Carlos D'Alge. Ele, na
verdade, foi o pró-reitor que nos deu condições de implantar
um trabalho voltado para a discussão da cultura
cinematográfica na UFC.

— Afinal, quando foi realmente criada a Casa Amarela?

Eusélio- É comum as pessoas perguntarem isso. A Casa


Amarela surgiu com um desdobramento desse trabalho.
Finalmente, no dia 21 de junho de 1971, eu consegui uma
saleta em cima, onde funcionou o primeiro restaurante
universitário e hoje funciona o Caen. Foi lá que iniciamos os
trabalhos. Assim o Céu, a quadra era em baixo, e o inferno
cultural era em cima, uma inversão.

— Quais eram os objetivos iniciais da Casa Amarela?

Eusélio- A proposta era primeiramente criar um circuito de


divulgação cinematográfica para formação de platéia, numa
herança do cineclubismo. Criar espaço. Era uma necessidade
da comunidade universitária de participar do debate e do
consumo do cinema como processo cultural e não como
mercadoria que leva o rótulo de que “cinema é a melhor
diversão”. A Casa Amarela influenciou porque além de

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desenvolver atividades culturais, ofereceu vários cursos, onde


não só os estudantes universitários, como a comunidade em
geral, tinham oportunidade de conhecer a linguagem
cinematográfica.

— A Casa Amarela era ligada a qual departamento?

Eusélio- Isso é importante mencionar. Inicialmente, ao


Departamento de Difusão Artístico-Cultural da Pró-Reitoria
de Extensão. O contexto da Universidade abrigou a cultura de
uma maneira estranha. Ela tem hoje uma estrutura de órgãos
suplementares: Casa José de Alencar, imprensa, Editora e
Museu de Arte Universitário. São três órgãos suplementares,
ligados diretamente ao reitor. Nós ficamos marginalizados no
contexto da universidade. Passamos à condição de
professores de 1º e 2º Graus. Nós éramos “recibados”, doutor,
nós não tínhamos nenhum segurança. Éramos prestadores de
serviço e, às vezes, o salário atrasava. Era uma quantia
insignificante.

— E hoje é insignificante?

Eusélio- Não. Hoje, depois da administração do Pedro


Teixeira Barroso, os professores das Casas de Cultura foram
efetivados realmente como professores, caso contrário,
estaríamos tão marginalizados quanto no início.

— Por que o nome Casa Amarela?

Eusélio- Em 1974, o diretor do Centro de Geologia da

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Universidade, ofereceu uma velha casa para nós


trabalharmos. Era um casarão todo desbotado. Quando me
perguntaram onde trabalhava eu dizia que estava numa casa
anêmica, desassistida, que está com a febre amarela da
cultura brasileira. Não sei se foi devido a isso. Mas eu tenho
uma carga de humor que, às vezes, as pessoas pensam que é
agressão, mas não é. É meu temperamento. Eu sou
capricorniano.

—- Você teve problemas com o regime militar?

Eusélio- Eu não gosto nem de me lembrar disso. Mas teve


um episódio em que um segurança observou a minha meia
vermelha e disse para mim: “Olha, a sua ideologia está aí!” E
eu respondi que minha ideologia não estava na canela, mas
sim na cabeça. Mas esta é uma parte cômica. As prisões,
entretanto, foram muitas.

— Quais os momentos mais marcantes da Casa Amarela?

Eusélio- Foi o início do trabalho de


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