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A razão pela qual posso falar sobre a escola e o futuro, é que eu fiz a escola
toda e cheguei ao que na altura eu chamava futuro. E eis o que aprendi:
Os 12 anos de estudo entre o 1º e o 12º ano de escolaridade
contaram 10% para o meu ingresso na universidade. (Imaginem se
eu soubesse que todo o meu esforço só valería ǥȌ
O curso que fiz na universidade não me garantiu um emprego, e
muito menos segurança.
De todos os que cresceram comigo apenas uma minoria trabalha
na área para a qual estudou.
Quando me tornei adulta e tive de trabalhar para ganhar dinheiro,
parecia que não sabia fazer nada. Tinha muito medo de errar, e
sentia que nada me tinha preparado para os desafios que encontrei.
Sabia muita matéria. Mas não sabia nada sobre relacionamentos,
sobre mim mesma, e sobre coisas muito simples, como cozinhar,
fazer amizades duradouras, ou arrumar a casa. Não sabia cuidar de
crianças. Não sabia como o mundo funcionava. Apenas tinha
fantasias baseadas nas coisas que me tinham dito.
Verifiquei ao meu redor, que a maior parte das pessoas à minha
volta, independentemente do que tinham estudado, não sabiam o
essencial: VIVER.
O que eu gostava de ter sabido antes
Não me dei conta do quanto as notas interessavam tanto que acabei por basear muita
da minha auto-‐imagem em torno de uma forma de me avaliar que não tinha em conta
quem eu sou.
Não me dei conta de que na mesma ordem de ideias comecei a ter preconceitos sobre
os outros baseados nas suas prestações, esquecendo-‐me de dar tampo a entender a
realidade dos outros.
Não me apercebi da imensa quantidade de informação que me era vedada enquanto
eu estava na escola ou em casa a estudar por não estar integrada na realidade da vida
dos adultos.
Sei que tudo isto me escapou porque me fez sofrer depois. E só depois compreendi que
a escola não me colocava em contacto comigo e com a minha vida, nem com a vida á
minha volta, nem com a vida enquanto diversidade orgânica.
Fui educada para trabalhar. Fui avaliada para me pautar e perceber a minha fasquia.
A Escola fez parte de uma coisa maior. De uma cultura que me rodeava e todos pareciam de
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A vida e o futuro
Relações
Missão e
realização
Família
Vida
Sustento Emoções
Evolução e Desafios e
consciência dificuldades
Uma porta para mim
Eu quero dormir e acordar para dias que valham a pena. Só vou ser criança uma vez na vida e
mereço ter uma infância realmente feliz.
Quero brincar. E aprender. Correr e viver estímulos.
Preciso de rotinas, para de vez em quando as poder quebrar.
Sou único e não me dou bem em sistemas que me tratam como um standard. Porque eu não
sou igual a ninguém.
Eu mereço respeito, aprovação, valorização por quem eu sou, e não por quem os outros
pensam que conhecem, baseados em conteúdos e aprendizagens que não me dizem nada,
porque eu gosto de outras coisas.
Eu sou uma pessoa completa e a minha vida desaproveita-‐se quando tudo em mim se centra
na escola.
Eu quero ser amado a maior parte do dia. E não educado a maior parte do dia.
Porque é pelo amor dos outros que aprendo a gostar de mim completamente e na escola eu
preparo-‐me para ser um trabalhador, e não um Ser de Amor.
Educar para a vida é dar ferramentas para a Vida.
Mundos no Mundo
Enquanto tento encontrar soluções para as minhas crianças, sou a mãe que levou 36 anos
para aprender coisas que podiam ter feito tanta diferença na minha vida, apenas porque
quem me criou não sabia que a vida podia ser melhor.
E continuo a ver esse comboio que vai descontrolado em direcção a um tremendo vazio de
humanidade em que as pessoas se esqueceram de parar para questionar um bocado a
forma como tudo parece normal, e é afinal tão artificialmente estruturado em torno de
trabalho, mercados, dinheiro, e dependência de uma forma de viver que é desumana.
Se eu for capaz, quero fazer da minha casa uma escola de viver onde cada filha descubra
que já é mestre de si mesma.
Aprender com a experiência e fazer melhor
Educar para a felicidade é muito diferente de educar para um ritmo de vida desumano e condições
precárias de vida, com uma luta constante.
Educar para a felicidade, pode não ser compatível com educar para o absurdo em que se tornaram as
vidas das pessoas. Tanto que às vezes tudo já parece normal. Mas não é.
E as crianças sentem isso, de muitas maneiras que expressam, em linguagens, que nem sempre
estamos disponíveis para interpretar.
É com um olhar extremamente injusto e pouco esclarecido que a maior
parte dos adultos e a própria estrutura do ensino em geral olha para as
crianças.
A interpretação que se faz do comportamento dos miúdos é que ou são
obedientes e cumpridores ou são mal comportados e precisam de uma
disciplina mais dura.
E quanto mais os miúdos expressam descontentamento, ansiedade,
raiva, agressividades, maldade, inquietação e má gestão de conflitos nas
relações; mais parece preciso disciplina e pesada punição.
Em última análise, decidimos que as nossas crianças têm energia a mais,
ou que são doentes de todas as doenças em que nós mesmos os
mergulhámos enquanto eles apenas fazem de espelho complexo do que
lhes damos.
ǥ Ǥ -‐nos
uma mensagem clara. E somos nós, quem se recusa a aprender a lição.
EDUCAR PARA O TRABALHO EDUCAR PARA A VIDA
Valorização do trabalho repetitivo Valorização da diversidade
Insistência em matérias abstractas Aposta em actividades concretas
Hiper-‐valorização das avaliações Investimento na auto-‐confiança
Ambição: Trabalho e recursos no futuro Ambição: Ser humano completo
Livros, fichas, secretárias, silêncio, testes
Preparar profissionais habilitados Tudo é matéria de prática e observação
Escola como espaço principal Preparar seres humanos inteiros
Ritmo de aprendizagem igual para todos Crianças envolvidas no mundo real
Aposta no acumular de conhecimentos Ritmo personalizado
Centro total no estudo para testes Aposta na utilidade dos conhecimentos
90% das matérias utilizam a capacidade Importância dos sentimentos
de fixar e interpretar Fixar e interpretar mas também
participar, inventar, criar, brincar
Um adulto para muitas crianças Um adulto para pequeno ´nº de crianças
Horários rígidos e pouco naturais
Actividades extracurriculares Respeito pelo bio-‐ritmo
secundárias Tudo o que se aprende é importante
Sociedade e Quando somos criados num ambiente doentio, nem sabemos
dissociação pô-‐lo em causa, e no entanto, as evidências acumulam-‐se.
Que adultos e crianças nunca parem de aprender. A escola é para a vida inteira.
Que adultos aprendam a lição dos mestres que as crianças são: Ensinando a abrandar o
ritmo, a trabalhar a flexibilidade e a repensar prioridades.
Que o objectivo das nossas vida seja a sustentabilidade e a educação para uma vida
equilibrada em lugar de trabalharmos para pagar a vida, que já tínhamos.
Que seja prioridade crescermos e educarmo-‐nos juntos, adultos, crianças, idosos.
Que seja prioridade voltarmos a conhecer a linguagem da terra, de onde o nosso
alimento vem. A linguagem das pessoas, porque somos seres de grupo.
Que seja prioridade um sentido ecológico de viver, um sentido de maturidade e de
integração.
Que trabalhar e ser pago não possa continuar a ser aquilo que nos move.
Que todos sejam alunos e professores de alguma coisa a vida inteira
Que todos os talentos sejam disciplinas nucleares, para que cada um possa dar o
melhor de si.
É tempo de luto, por um sistema económico em que acreditámos mas faliu, uma fonte
energética finita que está no fim e que era um pilar deste sistema económico.
Mas é tempo de nascer para a evidência de que temos vivido aquém da nossa natureza.
Somos SERES HUMANOS. Não somos massa laboral. Não somos números. Somos
PESSOAS. Há que ganhar coragem e saír de um sistema que engole os nossos sonhos.
Não estamos todos preparados para o Ensino Doméstico.
Mas estamos todos preparados para nos prepararmos para novas formas de educar, com
objectivos diferentes do que simplesmente criar:
Pensar fora da Caixa. Viver fora da Caixa. Educar fora da Caixa.