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Amor de Perdição

Camilo Castelo Branco

Capítulo 1
Em 1779, Domingos Botelho, “fidalgo de linhagem e um dos mais antigos solarengos de
Vila Real de Trás-os-Montes”, casou em Lisboa, sendo então juiz de fora em Cascais, com D.
Rita Preciosa, da corte de D. Maria I, tendo em 1784 sido transferido para Vila Real, como
desejava e onde D. Rita foi recebida com honra por toda a fidalguia local, que ela desprezava,
habituada que estava à fidalguia requintada de Lisboa.
Enciumado sem razão, conseguiu, Domingos Botelho, por volta de 1790, transferência
para Lamego, onde D. Rita também detestava estar, pelo que, em 1801, o casal e os cinco
filhos (2 rapazes e 3 raparigas) passaram a viver em Viseu. Os filhos varões estudavam em
Coimbra, onde Simão dava largas ao seu “génio sanguinário”
Com 15 anos, Simão regressa a Viseu, onde continua os distúrbios arruaceiros,
ganhando assim a aversão dos pais. Por um desses incidentes tem de fugir para Coimbra, a
aguardar o perdão do pai.

Capítulo 2
De volta a Viseu, depois de preso em Coimbra por propaganda dos princípios da
revolução francesa, Simão, já com 17 anos, apaixona-se aí por Teresa de Albuquerque, sua
vizinha, “rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida”, de 15 anos, cujo pai (Tadeu de
Albuquerque) odiava os Botelho por questões judiciais.
Namoram-se os jovens às ocultas, mas, descobertos, Teresa é ameaçada de convento e
Simão volta para Coimbra, para estudos, porém com carta de Teresa, trazida por uma
mendiga.
Com surpresa geral, Simão é em Coimbra um brilhante estudante, “convertido aos
deveres, à honra, à sociedade e a Deus pelo amor”.

Capítulo 3
Tadeu de Albuquerque apressa o casamento de seu sobrinho Baltasar com Teresa, mas
ela repele o primo, dizendo amar outro homem, que Baltazar sabe ser Simão, de cujas “garras”
a pretende salvar. Sabedor da conversa entre os dois jovens, Tadeu opõe-se a que Teresa dê o
coração ao filho do seu maior inimigo e diz-lhe que poderá esperar num convento a morte dele
para depois ser desgraçada à sua vontade. Teresa promete “tornar-se morta para todos os
homens, menos para seu pai”.

Capítulo 4
Por carta, Teresa conta a Simão o referido no capítulo anterior. Dias depois, Tadeu
anuncia à filha que, nesse mesmo dia, casará com Baltasar. Teresa pergunta ao pai se ele será
feliz com o seu sacrifício, pedindo-lhe a seguir, arrebatadamente, que a mate, em vez de a
forçar ao casamento. Tadeu resolve então metê-la num convento e diz ao sobrinho que não
pode dar-lhe Teresa, por ela já não ser sua filha.
Baltasar pede ao tio que não enclausure Teresa e que espere a vinda de Simão a Viseu.
Tadeu assim faz e de tudo dá Teresa notícia a Simão, o qual, refervendo-lhe desta vez o
sangue, resolve matar Baltasar, ideia que todavia abandona, pois assim perderia Teresa para
sempre, preso como assassino.

Capítulo 5
Teresa sai da sala onde se festejava o seu aniversário e dirige-se à porta do jardim para
se encontrar com Simão, mas, vendo um vulto a segui-la, só tem tempo para pedir a Simão que
volte no dia seguinte. Simão interpela um vulto que encontra, mas não se dá a conhecer e se
retira ante a ameaça de uma pistola.
Simão, desconfiado com o vulto, que lhe pareceu ser Baltasar, hesita em voltar ao
quintal de Teresa, mas carta sossega-o e atiça-lhe a coragem. Mariana, filha do ferrador João
da Cruz, na casa do qual Simão se albergara, avisa este da desgraça que antevia.
João da Cruz, que devia favores à família Botelho, conta a Simão que Baltasar lhe
oferecera dinheiro para o matar, mas ele recusara. Diz-lhe que se acautele, pois espera uma
cilada da parte de Baltasar.

Capítulo 6
Baltasar, com dois homens seus, monta espera a Simão na noite seguinte. João da Cruz,
antecedendo Simão na sua visita ao quintal de Teresa, estabelece plano para o livrar da
armadilha. Simão consegue sair sem ser visto pelos homens de Baltasar e o ferrador manda-o
seguir para casa, enquanto ele e o arrieiro, que acompanhara o jovem, procuraram chegar ao
local onde pensam terem-se escondido os da espera, antes de Simão, mas não o conseguem,
pelo que Simão é ferido a tiro. João da Cruz mata os dois homens emboscados.

Capítulo 7
Simão piora do ferimento, com Teresa aflita por nada saber dele, encerrada no quarto,
por ordem do pai, que resolve interná-la num convento local antes de a mandar para o
convento de Monchique, no Porto. Teresa contacta com a vida monacal, com grande desilusão
sobre as suas virtudes, e consegue enviar carta a Simão.

Capítulo 8
Só, no quarto de Simão e como sua enfermeira, Mariana diz-lhe que sabe tudo sobre a
espera e que todos os dias pede ao Senhor dos Passos que dê remédio à sua paixão por
Teresa. Sonhara que vira muito sangue derramado e uma pessoa amiga a ser enterrada.
Confirmando que Simão está sem dinheiro, Mariana combina com o pai maneira de lho
fornecer. Simão vislumbra que é amado por Mariana, o que o lisonjeia.

Capítulo 9
Simão, ouvindo de Mariana que o coração lhe diz que os trabalhos dele ainda estão no
começo, suspeita que Mariana o quer afastar de Teresa, para se fazer amar por ele. O ferrador
volta a casa com dinheiro que a “mãe” de Simão mandara entregar, mas que é afinal dinheiro
de Mariana.
Teresa escreve do convento, dizendo da atmosfera viciosa que ali se vive: “Creio que em
toda a parte se pode orar e ser virtuosa, menos neste convento”. Repete que não quer
professar.
Tadeu de Albuquerque comunica à filha a partida para o convento do Porto. Teresa
procura avisar Simão, mas a mendiga que lhe leva a carta é apanhada. Simão toma todavia
conhecimento da novidade pela mesma mensageira. Desvairado, quer dirigir-se ao convento
para libertar Teresa, mas Mariana oferece-se para levar uma carta. Simão aceita e ela parte.

Capítulo 10
Mariana fala no convento com Teresa, que está de partida para o Porto, e acha-a “linda
como nunca vira outra”. Teresa quer pagar-lhe o serviço com um dos seus anéis, que Mariana
recusa. Simão ao saber da partida de Teresa, quer ir vê-la, e João da Cruz, embora não
aprovando a decisão, prontifica-se para lhe arranjar um homem que o acompanhe para o
rapto. A chorar, Mariana pede-lhe que não saia, porque o coração lhe diz que não o tornará a
ver. Simão insiste em sair, não aceitando a companhia de João da Cruz, nem de ninguém. Mas
a rogos do ferrador, promete não sair nessa noite, nem no dia seguinte.
Simão sai, no entanto, noite alta. Mariana, assomando a uma janela, despede-se dele…
até ao Juízo Final, e fica-se a orar pela sua salvação.
Simão chega ao convento ainda de noite. De madrugada chega a comitiva que há-de
acompanhar Teresa e na qual vem Baltasar, que Simão interpela e com luta, matando-o com
um tiro à queima roupa. Os criados cercam Simão. Surge João da Cruz e diz a Simão que fuja.
Simão recusa e entrega-se à prisão, na pessoa do meirinho geral, que lhe quer dar a fuga, o
que ele de novo recusa por querer assumir a responsabilidade plena do seu acto.

Capítulo 11
Domingos Botelho sabe pelo juiz de fora da prisão do filho e diz-lhe que lhe dê o
tratamento devido a qualquer criminoso, sem contemplações. Admirando-se o juiz, afirma-lhe
o corregedor Botelho desconhecer o homem de quem lhe falava.
Um criado da casa traz o almoço a Simão, a mando da mãe e às escondidas do pai, “um
homem enfurecido”. Desculpa-se a mãe de não ter dinheiro para lhe enviar, pelo que Simão
vem a saber que o dinheiro que recebera era do ferrador. Recusa o almoço.
Mariana, em pranto, vem perguntar a Simão se precisa de alguma coisa e ele pede uma
mesinha, uma cadeira, um tinteiro e papel, ficando então a saber que Teresa fora levada para
o Porto, desmaiada. Mariana diz a Simão que ele não há-de morrer ao desamparo, pois ela
será para ele uma irmã.

Capítulo 12
A família de Simão retira-se de Viseu para Vila Real. Simão é condenado à forca.
Mariana, ao saber da sentença, enlouquece, e no seu delírio pede que a matem primeiro.
Simão compreende finalmente que ela o “amava até ao extremo de morrer”.

Capítulo 13
Teresa, a caminho do Porto, sabe da prisão de Simão e pede à criada que a
acompanhava que a deixe fugir, para ir dizer o último adeus a Simão, mas a criada dissuade-a.
Teresa conta toda a sua história à abadessa, sua tia, que a aconselha a procurar pela
docilidade a piedade do pai para com Simão.
Teresa definha a pouco e pouco, desejando com alegria a morte. Sabendo da
condenação de Simão, consegue fazer-lhe chegar uma carta, em que diz morrer com ele.
Sabedor da doença grave da filha, Tadeu de Albuquerque resolve tirá-la do convento,
até porque Simão ia ser transferido para a cadeia da relação do Porto. Mas Teresa ainda
recebe a última carta de Simão a pedir-lhe que não morra, porque a sentença ia-lhe ser
comutada ou anulada. Teresa já não quer morrer e exclama que, se tiver de morrer, melhor
teria sido não ter recebido a carta, com Simão a pedir-lhe que vivesse.

Capítulo 14
Tadeu de Albuquerque apresenta-se à porta do convento para levar a filha e recebe a
nova de que ela está muito melhor, mas incapaz de aguentar a viagem demorada de cinco
dias, como era a do Porto a Viseu. Tadeu diz querer levar Teresa do Porto (por Simão já aí se
encontrar), mas Teresa, cujo estado físico o surpreende, recusa-se a sair do convento, onde
quer morrer, acrescentando, ante a insistência do pai, a quem confessa já saber da presença
de Simão: “A minha glória neste longo martírio seria uma forca ao lado da do assassino”.
Tadeu fica irado, exige a saída da filha e o despedimento da criada, mas nada consegue, por a
tudo se oporem as regras conventuais. Procura depois demover as autoridades judiciais do
porto do perdão a Simão, mas nada consegue também.

Capítulo 15
Na cadeia, Simão escreve as suas meditações. Aparece de surpresa João da Cruz com a
notícia de que Mariana recobrara o juízo. Simão entrega-lhe carta para Teresa, que chega ao
destino, com possibilidades de recebimento de outras, com o que Simão se alegra.
O ferrador informa que a filha viera com ele, para ficar ao serviço de Simão, mas este
observa que ela corre perigo, sozinha no Porto. João elogia a bravura da filha e declara
reconhecer ser sina de Mariana ter “paixão de alma” por Simão. Este lança-se nos braços de
João, exclamando: “Pudesse eu ser marido de sua filha, meu nobre amigo!”. O ferrador fica
emocionado.

Capítulo 16
O irmão de Simão vai visitá-lo à prisão, mas é recebido friamente. Um corregedor amigo
informa-o de que a pena de Simão será comutada em dez anos de degredo na Índia, já que era
impossível absolvê-lo, por ele “soberbamente” se confessar culpado, e de que Teresa
recobrara a saúde. O corregedor escreve depois a Domingos Botelho, a informá-lo de que lhe
mandara um abraço pelos filhos (Manuel e a concubina deste, que ele supusera sua irmã).
Botelho parte para Vila Real, onde trata do repatriamento da amante do filho para os
Açores e da prisão de Manuel como desertor.

Capítulo 17
João da Cruz, saudoso da filha, resolve ir ao Porto vê-la. Chega, porém um viajante
encapotado que lhe desfecha o bacamarte no peito, por crime de morte antigo. João morre e
Simão é informado, por carta, do sucedido. Mariana fica como louca e Simão pede-lhe que
continue a seu lado.

Capítulo 18
Mariana recolhe a herança do pai, que entrega a Simão, a quem diz segui-lo no degredo.
Simão observa-lhe que não ser para ela o que ela merecia: ser seu marido, e pede-lhe que não
o acompanhe. Mas Mariana está determinada e replica que, quando vir não ser precisa,
acabará com a vida.
Simão aceita a decisão de Mariana e, desde então, um “secreto júbilo endoidecia o
coração de Mariana”. Simão, por intercessão do pai, é autorizado a expiar a pena na cadeia de
Vila Real, o que não aceita, por desejar “a liberdade de degredo”.

Capítulo 19
Teresa escreve a Simão, a pedir-lhe que aceite os dez anos de cadeia, na esperança de
poderem um dia casar; no degredo, perdê-lo-á para sempre. Simão responde-lhe ser preferível
a morte para ambos. Teresa despede-se, já nos últimos dias de vida.
À notícia do embarque, Simão passa a ter “medonhos” lances de loucura e de letargia.

Capítulo 20
Simão embarca para a Índia com Mariana. Um desembargador amigo entrega-lhe algum
dinheiro em ouro, enviado pela mãe e que ele de imediato manda distribuir por todos os
outros degredados. À partida, no convés, com os olhos postos no convento de Monchique,
Simão descobre o vulto de Teresa, que na véspera lhe enviara a trança de cabelos.
Teresa despede-se das freiras, entrega a Constança, sua criada privativa, as cartas de
Simão, para que lhas faça chegar. Vinda de bote, a mendiga, fiel mensageira entre os dois,
entrega o maço de cartas a Simão, que se despede de Teresa com um aceno de lenço
correspondido. É o instante da morte de Teresa, como Simão vem a saber pelo comandante do
navio.
Recolhe-se Simão, com Mariana, ao beliche. É tão grande a sua dor que o comandante
exclama: “ A invenção humana não criou ainda um quadro tão atroz”.

Conclusão
De madrugada, Simão lê, finalmente, a última carta de Teresa - uma pungente
despedida. Assalta-o febre violenta, diagnosticada como febre maligna, mortal.
Nove dias volvidos, de tormenta também no mar, Simão morre e Mariana beija-o pela
primeira e última vez. O corpo é lançado à água e, acto contínuo, Mariana faz o mesmo,
morrendo abraçada ao jovem que tanto amara em silêncio e dedicação.
A correspondência foi recolhida, a boiar na água. Assim Camilo a pôde transcrever.

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