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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET

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Escrevinhação n. 880
E EIS A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR...

Redigido em 26 de março de 2011, dia de São Ludgero e de


Santa Lúcia Fillipini.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Faz o que for justo. O resto virá por


si só”. (Goethe)

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No começo deste ano de 2011, da Graça de Nosso

Senhor, assisti, por descuido, o filme “Última parada - 147”.

Antes de ir adiante, lembro que não pretendo através destas

turvas linhas tecer qualquer comentário sobre a obra como

um todo. Não, meu intento é outro. À sua maneira, o referido

filme narra a história de um jovem que testemunhou o

assassinato de sua mãe e que tem a sua vida ceifada

abruptamente em uma lotação. A última parada de seus dias.

No filme em questão, há uma breve cena que

marcou minha alma, a qual nos leva a escrevinhar essas

linhas. Essa se passa na casa de sua tia. Estava o garoto

deitado e o tio, ao chegar do trabalho, abriu uma gaveta da

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cozinha e depara-se com a imagem das facas, todas elas, com

suas pontas quebradas. Pontas estas que foram cerradas pelo

garoto que, ingenuamente, o fez no intuito de evitar que

alguém daquela casa fosse apunhalado. Em meio à silenciosa

troca de olhares entre os tios e destes com o pequeno Sandro,

eis que é levantada a pergunta que não quer calar: “[...] então

quer dizer agora ele pode fazer o que quiser?” É isso?

E assim seguiu a película, onde o único obstáculo

que, vez por outra, impedia o garoto, que se fez rapaz, de

fazer o que queria, era a dureza das ruas e da vida. Em

nenhum momento vemos no correr do filme uma voz firme

que procurava, realmente, enveredá-lo pelo caminho reto.

Sim, aparecia em um momento ou outro uma voz

falando-lhe o que é o certo e o que é errado, porém, tais

vozes, apresentavam-se muito mais com aqueles ares de

bom-mocismo politicamente correto do que como as palavras

e ações de alguém que realmente deseja proteger e fazer

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crescer aquele que está perdido em sua trágica circunstância

existencial.

Doravante, essa é a pergunta que todos devemos

nos fazer quando o assunto é educação, pois essa,

muitíssimas vezes, é a situação em que nos encontramos.

Não estamos a nos referir as situações de abandono, mas

sim, às várias situações em que nossas crianças e jovens

estão fazendo uma série de más escolhas e a única coisa que

fazemos é dizer palavras doces que não encontram no solo da

realidade as ações necessárias para que suas letras dêem

frutos.

Ora, amar, muitas das vezes, significa ser firme e,

porque não, duro para com a pessoa amada para que ela

desperte à realidade da vida e de seus atos para que acorde

de seu estado de dormência. Significa que temos que ser

duros, mesmo que estejamos com o nosso coração apertado,

querendo muito mais afagar o mancebo do que corrigi-lo. De

mais a mais, quem educa, sabe muito bem que aquele que

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apenas quer posar de paizão, de super-protetor, não é um

amigo verdadeiro, mas sim, um reles bajulador, cônscio ou

não de que está fazendo mais mal para os pequenos do que

as doces palavras utilizadas por eles são capazes de encobrir.

Isso mesmo! A diferença que há entre o terno amor

e bajulação é muito sutil aos olhos viciados das almas que

vagueiam pelos prados modernos. Não é por menos que

quando um jovem, ou adolescente, comete alguma infração

mais ou menos grave, mais do que depressa, uma multidão

de “otoridades” colocam-se em sua defesa, bajulando-o, com

expressões do gênero “[...] nós sabemos que você não quis

fazer isso. Nós sabemos que essa sua atitude foi apenas uma

reação compreensível a esse sistema injusto. Mas seria

interessante que você repensa-se o que você fez. E não faça

mais o que você fez. Você promete pro tio”? Pergunta tola: qual

a eficácia educativa de atitudes similares a essa? Bem, se o

objetivo for perverter moralmente o infante, a eficácia é plena.

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Qualquer um que procure ver a vida com os

próprios olhos sabe muito bem que em inúmeras ocasiões

nós estamos errados em algo e que merecemos uma punição

proporcional ao erro cometido, como também somos cientes

de que nem tudo o que almejamos podemos obter no tempo

de nosso querer. Tal percepção da realidade é o que podemos

chamar de civilidade, pré-requisito elementar para se atingir

a plena maturidade. Entretanto, para se chegar a tal, é

fundamental que tais quesitos sejam ensinados as tenras

gerações, de uma maneira clara, através de gestos, atos,

palavras e exemplos que estejam, razoavelmente, uns em

sintonia com as outros.

Mas, ao que tudo indica, o caminho que estamos

trilhando atualmente em nossa civitas é bem diverso, visto

que, poucos são os que realmente desejam carregar o ônus de

dizer as tenras gerações o que deve ser dito e fazer com elas,

e por elas, o que fundamental que seja feito. Mas, na real,

como isso pode acontecer em uma sociedade onde a maioria

deseja apenas posar de bom-moço? Como fazer o que se deve

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em uma sociedade onde o populismo pedagogesco tomou

conta de todas as letras? Eis aí, outra questão a ser meditada

com a necessária serenidade. Afinal, pode-se fazer tudo o que

se quer? Se não, quem, e como, está sendo ensinado o

contrário disso? Quem?

Pax et bonum
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