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Especial: Debate
Leninistas X trotskistas
Reflexões sobre questões “Proletários de todos os países, uni-
vos!”, convocaram Marx e Engels.
antigas para motivar um Entretanto, a difícil e necessária
obrigação de unir a classe traba-
exame da atual política lhadora não pode nos isentar de
debater problemas antigos do mo-
de aliança dos comunistas vimento. Como 2011 é ano sem e-
leições, seria importante ter claro
os argumentos de cada campo e ao
mesmo tempo aprofundar os esfor-
ços pela formação da Frente Anti-
capitalista e Anti-imperialista.
Nesta edição especial do PerCeBer,
publicamos opiniões fortemente
sustentadas por argumentos para
defender diferentes pontos de vista.
Stálin, Lênin. Trotski, figuras de proa da Revolução Russa
de 1917: o PCB é programaticamente marxista-leninista
Seminário na Itália
Comunistas revolucionários hoje, isto é trotskistas!
CLAUDIO MASTROGIULIO (Itália)
Alvaro Bianchi*
*
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas, diretor do
Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) e secretário de redação da revista Outubro.
1
Miguel Urbano Rodrigues. Apontamentos sobre Trotsky: o mito e a realidade. O Diario.info, 11 dez.
2008. Disponível em: http://www.odiario.info/articulo.php?p=973&more=1&c=1
2
de E. H. Carr sobre a revolução bolchevique.2 Carr não era marxista e, em alguns pontos
de sua narrativa, parece concordar com as posições de Trotsky, embora deixe claras
suas inúmeras críticas. Mas afirmar que ele se encontrava fascinado pela vida e obra do
revolucionário russo é no mínimo um exagero. Além do mais, infelizmente, Carr
morreu há mais de 25 anos. Será que o espectro de sua enciclopédica pesquisa ainda
assombra Urbano Rodrigues?
O suposto paradoxo apontado por Urbano Rodrigues parece encontrar apoio na
identificação feita por ele entre antistalinismo e anticomunismo. Mas não há razão
nenhuma para estabelecer tal identidade a não ser que o comunismo seja identificado
com o stalinismo. Esse parece ser o ponto. Apegado a velhas idéias que há muito foram
submetidas à critica devastadora o jornalista identifica o programa do comunismo e seu
projeto de emancipação, com seu oposto, o stalinismo e o regime que ele deu lugar na
União Soviética. A simpatia do jornalista por Stalin é assumida e em vários momentos
se expressa apologeticamente. Protestando contra a satanização de Stalin, o jornalista
escreveu:
“Sem a sua [de Stalin] acção à frente do Partido e do Estado, a
URSS não teria sobrevivido à agressão bárbara do Reich nazi, sem
ela a pátria de Lenine não se teria transformado em poucas décadas
na segunda potencia mundial, impulsionando um internacionalismo
que apressou a descolonização, incentivou e defendeu revoluções no
Terceiro Mundo e estimulou poderosamente a luta dos trabalhadores
nos países desenvolvidos do Ocidente.”
Não deixa de ser chocante que antes de ousar escrever sua engajada defesa do
secretário-geral, Urbano Rodrigues apresente como uma façanha o fato de ter “sido dos
primeiros comunistas portugueses a criticar o dogmatismo subjectivista de Stáline num
livro apreendido pela ditadura brasileira”. Chocante não é o fato de ele achar que a
crítica ao “dogmatismo subjetivista” vá ao âmago do fenômeno stalinista e sim o fato
dessa crítica superficial ter sido feita “em 1968”, ou seja, doze anos depois do relatório
Khrushchev e das referências aos “excessos” Stalin terem se tornado freqüentes na
imprensa comunista internacional! O fato de Urbano Rodrigues estar no Brasil quando
de sua façanha a torna ainda mais chocante essa “crítica”. No final dos anos 1950 e
início dos anos 1960 a crítica ao stalinismo era corrente em diversas tendências da
esquerda brasileira, não apenas trotskistas. Também no interior do Partido Comunista
Brasileiro, organização que sempre se manteve fiel às diretrizes da União Soviética,
2
E. H. Carr. The Bolshevik Revolution 1917-1923. New York : MacMillan, 1950-1953, 3v.
3
essa era uma crítica frequente. A façanha de estar doze anos atrasado inocenta Urbano
Rodrigues do quê?
Mas a crítica de Urbano Rodrigues a Stalin, mesmo atrasada, estava longe de ser
profunda. Ela limitava-se a “sua postura perante o marxismo e a condenação dos seus
métodos e crimes”. Mas Stalin permanecia para o jornalista como “um revolucionário
cuja contribuição para a transição do capitalismo para o socialismo na União Soviética
foi decisiva”. O programa político do stalinismo permaneceria, assim, válido.
Necessário seria, então, corrigir os excessos e mudar a “postura perante o marxismo”.
Nos anos 1960 era essa a versão esclarecida do stalinismo. Hoje, quando a maior parte
dos partidos comunistas definha perdendo peso social e relevância política essa é sua
versão senil.
Evidentemente, não são os “intelectuais da burguesia” os que incomodam
Urbano Rodrigues e sim as “dezenas de organizações trotskistas na Europa e sobretudo
na América Latina”. É significativo que esse novo ataque ao trotskismo ocorra
justamente quando essas organizações revelam uma forte tendência ao crescimento e à
expansão, tendência simetricamente oposta à apresentada pelos antigos partidos
comunistas.
encontrou em Stalin sua encarnação, assim como após sua morte entrou seus
sucedâneos. Por outro lado, o stalinismo sempre foi, para Trotsky não a encarnação do
mal, mas um programa político consubstanciado nas teorias do socialismo em um só
3
Leon Trotsky. Ma vie. Paris: Gallimard, 1953, p. 592.
4
Leon Trotsky. Ce que je pense de Staline. In: Oeuvres. Grenoble: Institut Leon Trotsky, 1986, p. 214.
4
país e da revolução por etapas. Por essa razão, não é impróprio falar de stalinismo ou de
partidos stalinistas após o relatório Khrushchev, quando os crimes de Stalin e o culto à
personalidade foram denunciados mas seu programa político preservado.
Para tornar mais preciso esse conceito do stalinismo é necessário acrescentar que
ele se define, também, pela simples negação – teórica, política e, em seus momentos,
física – de seu antagonista. O stalinismo é, também, um antitrotskismo. Assim como o
stalinismo reciclou-se, também o antitrotskismo o fez. Nos infames Processos de
Moscou, Trotsky foi acusado nos de ser agente da Gestapo e liderar movimentos de
sabotagem ao Estado soviético. Para Urbano Rodrigues “esse tipo de calúnias é tão
absurdo, como expressão de um ódio irracional, como o esforço realizado por escritores
anticomunistas e alguns governos para criminalizarem o comunismo como sistema
comparável ao fascismo”. E tem razão.
Para além dos insultos e grotescas acusações, uma parte do arsenal do
antitrotskismo consistiu no uso de passagens dos escritos de Lenin nos quais o dirigente
do Exército Vermelho era alvo da crítica. Mas tarde essas passagens foram reunidas em
coletâneas.5 Isso, entretanto, foi insuficiente e prontamente se revelou necessário
reescrever toda a história da revolução russa, operação que encontrou sua forma mais
acabada na infame História do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevique),
publicada em 1938. A autoria desse livro de “história” era atribuída a uma comissão
nomeada pelo Comitê Central, mas dez anos depois um artigo publicado na imprensa
soviética atribuiu a verdadeira autoria a Stalin.6
5
P. ex. V. I. Lenin. Trotzky julgado por Lenine. Rio de Janeiro: Calvino, s.d..
6
Central Comitte of the C.P.S.U(b). History of the Communist Party of the Soviet Union (Bolsheviks).
Nova York, International Publisher, 1939. Para os antecendentes desse livro, bem como para a questão de
sua autoria, ver Raymond Garthoff. The Stalinist revision of History: the case of Breast-Litovsk. World
Politics, v. 5, n.1, p. 66-85, 1952.
7
O arqui ou arqueostalinismo ainda persiste. Em uma bizarra biografia de Stalin na qual seu autor
procura construir uma aparência de cientificidade citando alguns estudos pouco conhecidos ao mesmo
tempo em que trunca e descontextualiza as citações de praxe, é afirmado: “Com efeito, em 1936, estava
evidente para qualquer pessoa, analisando lucidamente a luta de classes no nível internacional, que
Trotski tinha degenerado a ponto de se tornar um joguete das forças anticomunistas de todo gênero”. O
mesmo biografo justifica os processos contra Piatakov afirmando que ele “tinha utilizado em grande
escala especialistas burgueses para sabotar as minas”. A acusação é ridícula, mas o autor a torna mais
grave, uma vez que a atribúi aos trotskistas, sem mencionar que no final da década de 1930 Piatakov
havia rompido com Trotsky (ver Ludo Martens. Stalin: um novo olhar. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p.
178 e 185).
5
8
Robert H McNeal. The revival of Soviet anti-trotskysm. Studies in comparative Communism. V. X, n.
1-2, p. 5-17, 1977. Gabriel García Higueras. Trotsky em El espejo de la história. Lima: Tarea Educativa,
2005, p. 228
9
M. I. Basmanov. La esencia antirrevolucionaria del trotskismo contemporâneo. La Habana: Ciencias
Sociales, 1977; Os trotskistas e a juventude. 2 ed. Lisboa : Estampa, 1975; La fraseología “izquierdista”
al servicio de los enemigos de la paz: el trotskismo y la distensión internacional. Moscovo: Nóvosti,
1975, M. I. Basmanov et al. El falso profeta: Trotski y el trotskismo. Moscou: Progresso, 1986; e Léo
Figuères. O trotskismo. 2 ed.. Lisboa: Estampa, 1974.
10
A vertente liberal pode ser ilustrada por Joel Carmichael. Trotsky: an appreciation of his life. London:
Hodder and Stoughton, 1975. A vertente pós-soviética é representada, dentre outros, por Dmitrii
Antonovich Volkogonov. Trotsky: the eternal revolutionary. New York: The Free Press, 1996; Ian D.
Thatcher. Trotsky. London: Routledge, 2003 e Geoffrey Swain. Trotsky. Londres: Longman, 2006.
Embora Urbano Rodrigues goste de inventar paradoxos, não se deu conta do paradoxo que representa a
existência, ao lado do antitrotskismo staliniano de outros – liberal e pós-soviético – que apresentam
grande coincidência de argumentos com o primeiro, embora com propósitos diferentes.
11
Kostas Mavrakis. Du trotskysme: questions de theorie et d histoire. Paris: F. Maspero, 1971 e J. V.
Stalin. On the opposition, 1921-1927. Pequim: Foreign Languages Press, 1974. Alguns desses textos de
Stalin foram republicados logo a seguir em Portugal Josef Stalin. Escritos sobre o trotskismo, 1924-1937:
Trotskismo ou leninismo?. [Lisboa]: Pensamento e Acção, 1975 e Trotskismo ou leninismo. Lisboa: Seara
Vermelha, 1976.
6
Urbano Rodrigues dá mais uma volta nesse parafuso. Seu artigo é um pequeno
manual do antitrotskismo. Não acrescentou nada de novo ao debate, reprisou temas e
argumentos e, conforme será demonstrado a seguir, reproduziu de modo acrítico a
contestada versão da historiografia staliniana. O argumento central do jornalista é muito
simples: Trotsky e Lenin discordaram em várias oportunidades e polemizaram de modo
muito duro.12 Mas o que há de novo em afirmar que a posição de ambos era diferente na
12
Quem quer que conheça as obras de Lenin e Trotsky saberá que não havia uma “veemência verbal
pouco comum”, como afirma Urbano Rodrigues. Os termos utilizados no debate não diferem daqueles
que dirigiram a outros bolcheviques em ocasiões diversas. Podem-se censurar os excessos retóricos que
marcavam o modo russo de conduzir o debate político, mas enquanto Lenin viveu essa veemência não se
transformou em insultos ou falsas acusações como ocorreu com a publicística staliniana após 1924.
13
Alfred Rosmer. Moscou sous Lénine. Paris: Maspero, 1970 e Gerard Rosenthal. Avocat de Trotsky.
Amadora: Bertrand, 1975.
7
De volta a Brest-Litovsk
14
Isaac Deutscher. Trotski. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, 3 v.; Pierre Brouè. Trotsky.
Paris: Fayard, 1988; Tony Cliff. Trotsky. Londres: Bookmarks, 1990, 4v.; e Jean-Jacques Marie. Trotsky:
révolutionnaire sans frontières. Paris: Payot, 2006. Urbano Rodrigues cita Deustcher, mas claramente
desconhece a obra de Brouè, Cliff e Marie, uma vez que afirma que nas últimas décadas não foram
publicados “livros importantes que acrescentem algo de significante”. Sobre esses autores é preciso
esclarecer que Deutscher afastou-se das idéias de Trotsky e da Quarta Internacional, o que fica evidente
no terceiro volume de sua biografia.
15
Central Comitte of the C.P.S.U(b). History of the Communist Party of the Soviet Union (Bolsheviks).
Nova York, International Publisher, 1939, p. 218.
16
Last Plea of Bukharin. The Slavonic and East European Review, v. 17, n. 49, 1938, p. 128-129.
8
narrativa de Bukharin que, apesar da tortura e chantagem nas quais esta havia sido
forjada, ele não implicou Trotsky em nenhum complô. Sobre esse ponto, Bukharin,
desafiando seus algozes ao menos uma vez, não disse nada que já não estivesse
registrado nos anais da história, uma vez que o mesmo havia, em 1923, notificado o
partido sobre essas conversas e o assunto havia sido comentado pelo jornal Pravda em
1924.17 Mas para os dirigentes soviéticos a “confissão” de Bukharin embora forjada era
manual também ignorava as resoluções do partido e dos soviets que haviam sido
tomadas e criava outras que nunca tiveram nem poderiam ter tido lugar, uma vez que
Lenin era, em fevereiro, minoria no Comitê Central Bolchevique. A conclusão óbvia
dessa fantasiosa história era que Trotsky não passava de um traidor:
“No dia 18 de fevereiro, as negociações de paz em Brest-Litovsk
foram rompidas. Embora Lenin e Stalin, em nome do comitê Central
do Partido tivesse insistido que a paz deveria ser assinada, Trotsky,
que liderava a delegação soviética em Brest-Litovsk, traiçoeiramente
violou as instruções diretas do Partido Bolchevique. Ele anunciou
que a República Soviética recusava concluir a paz nos termos
propostos pelos alemães. Ao mesmo tempo informou os alemães que
17
Raymond Garthoff. Op. cit., p. 71.
18
Central Comitte of the C.P.S.U(b). Op. cit., p. 216.
19
Idem, p. 217.
20
V. I. Lenin. Una seria lección y una seria responsabildad. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v.
XXVIII, p. 285.
9
21
Central Comitte of the C.P.S.U(b). Op. cit., p. 216.
22
Isaac Deutscher. Trotski: o profeta armado, 1879-1921. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1984, p. 397 e Sydney D Bailey. Stalin’s falsification of history: the case of the Brest Litovsk treaty.
Russian Review, v. 14, n. 1, 1955, p. 26.
10
soviets locais sobre o tema da paz. Apenas dois foram a favor da paz – Petrogrado e
Sebastopol – e os demais votaram a favor da Guerra revolucionária.23
apresentar suas teses, Lenin encaminhou proposta pela qual o Comitê Central autorizava
a protelar por todos os meios a assinatura da paz.25 A resolução de Lenin foi aprovada e
Serge escreveu a respeito que “Zinoviev, Stalin e Sokolnikov apoiaram Lenin. Lomov e
Kretinski votaram pela guerra; a fórmula apoiada por Trotski, Bukharin e Uritski –
prolongar as negociações – obteve a maioria dos votos.”28 Mas Serge parece confundir
duas votações diferentes. Além do mais todos os historiadores são unânimes em afirmar
que Lenin encaminhou e votou na proposta de prolongar as negociações. Há também
um grande acordo sobre o número de votos que a proposta de Trotsky recebeu. A
23
John W. Wheeler-Bennett. Brest-Litovsk: the Forgotten Peace, March 1918 . London : Macmillan,
1938, p. 191 (o livro de Wheeler-Bennett, um historiador conservador, permanece até o momento uma
fonte incontornável pela sua riqueza de detalhes ) e Leon Trotsky. Ma vie. Paris: Gallimard, 1953, p. 453-
454.
24
V.I. Lenin. Para La historia de uma paz infortunada. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v.
XXVIII, p. 118-126.
25
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. Op. cit., p. 132.
26
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 132.
27
Isaac Deutscher. Op. cit., p. 398.
28
Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 199.
11
questão é, então se ela recebeu o apoio de Lenin na votação. Deutscher não afirma se
Lenin votou ou não na posição de Trotsky e Carr escreve não ser possível determinar
como votaram os membros do comitê central, mas Jean-Jaques Marie em uma pesquisa
mais recente afirma que para “Lenin, desmobilizar o exército sem concluir a paz era ir
demasiado longe: ele vota contra”.29 O 3º Congresso dos Soviets realizado pouco depois
29
Isaac Deuscher. Trotski: o profeta armado, 1879-1921. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p.
398-399; E. H. Carr. Op. cit., v. 3 e Jean-Jacques Marie. Op. cit., p. 156. Agradeço a Gabriel García
higueras por ter me chamado a atenção sobre a interpretação de Jean-Jacques Marie.
30
John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., p. 192-193. Embora não cite a fonte do diálogo Wheeler-Bennett
baseia sua reconstrução evidentemente em relato de Trotsky (cf. Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 454).
31
Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 220.
12
32
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. Op. cit., p. 130. Ver, tb., Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 451.
33
Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 440.
34
Rosa Luxemburg. La responsabilitè historique. In: Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 43.
35
Rosa Luxemburg. La tragédie russe. In: Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 47.
36
Karl Libknecht. Militarismo, guerre, revolution. Paris: Maspero, 1970, p. 189. Leon Trotsky cita essa
mesma passagem com a exceção da primeira e da última frase (cf. Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 461-
462) e, com base nela, comenta a evolução política de Libekknecht. Vis haud ingrata é uma violência não
indesejada.
13
politicamente uma derrota. Quando Rakovsky escreveu seu artigo, em 1926, já se sabia
o resto da história. Comprometidos com a frente ocidental, os alemães não tinham força
para aniquilar o poder dos soviets. Pretendiam apoderar-se das reservas de trigo e
carvão da Ucrânia, necessárias para a continuidade da guerra e deslocar seus exércitos
para o Oeste o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, a irrepreensível conduta
bolchevique em Brest-Litovsk alimentou a revolução na própria Alemanha. Em
novembro de 1918 soviets de operários e soldados foram constituídos em Berlim, o
Kaiser Guilherme II foi derrubado, a república proclamada e o tratado imposto aos
soviéticos cancelado.38
Sob vários aspectos a política de Trotsky era extremamente realista. Ele estava
disposto esgotar todo o tempo possível, adiando ao máximo a assinatura da paz, mesmo
correndo o risco de uma nova ofensiva alemã. Sua posição implicava em uma firme
oposição à política da guerra revolucionária e pretendia ganhar tempo. Nesses pontos
ela era completamente coincidente com os propósitos de Lenin. Trotsky, entretanto, não
era tão favorável quanto Lenin a aceitar as condições dos alemães. Mas também não
considerava que a fórmula “nem paz, nem guerra” fosse um princípio e estava disposto
a assinar a paz aceitando as condições, caso ficasse claro que os alemães promoveriam
uma nova ofensiva sobre o território soviético.
As negociações com os alemães deixaram de avançar na segunda semana de
janeiro e se tornaram rapidamente inúteis.39 Os alemães insistiam que a Ucrânia
37
Christian Rakovsky. The Foreign Policy of Soviet Russia. Foregin Affairs, Jun. 1926, p. 577.
38
Ver os documentos em John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., appendix X-XI.
39
Ver a esse respeito John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., cap. VI.
14
operários. Eufórico, Lenin escrevia: “Correm rumores de que Karl Liebknecht foi posto
em liberdade e pronto liderará o governo alemão”40 Os alemães responderam com uma
provocação, assinando uma paz em separado com a Rada, um governo que não existia
mais.
A agitação operária em Berlim e Viena teve o paradoxal efeito de fortalecer a
facção belicista entre os negociadores alemães. Guilherme II ordenou, então ao chefe da
delegação alemã em Brest-Litovsk, Von Kuhlmann, que apresentasse um ultimato aos
russos.41 Em 28 de janeiro (10 de fevereiro pelo calendário ocidental) o general
40
V. I. Lenin. Por radio. A todos, en especial a la delegación de paz en Brest Litovsk. In: Obras
completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 190.
41
Cf. Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 204-205.
42
V. I. Lenin. A Trotski. Delegación rusa de paz. Brest-Litovsk. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976,
v. XXVIII, p. 201.
43
Apud John W Wheeler-Bennett. Op. cit., p. 227.
15
44
Judah L. Magnes. Russia and German at Brest Litovsk: a documentary history of peace negociations.
Nova York: The Rand School of Social Sciences, 1919, p. 134 (grifos meus). Segundo Bailey, essa
resolução foi proposta por Sverdlov, o qual estava incondicionalmente aliado a Lenin nesse debate (cf.
Sydney D Bailey. Stalin’s falsification of history: the case of the Brest Litovsk treaty. Russian Review, v.
14, n. 1, 1955, p. 27).
16
mas não se assinou a paz. Eu tinha proposto com toda a clareza que
se assinasse a paz de Brest”.45
Lenin considerava que essa diferença com Trotsky era “historia passada, que não
vale a pena recordar”.46 De fato, era história que havia sido resolvida mediante votações
no Comitê Central e no Congresso dos Soviets. O desacordo de Lenin com Trotsky era
agora outro e não dizia respeito à assinatura da paz com os alemães e sim à assinatura
da paz com o governo da Rada na Ucrânia, reinstituído em Kiev pelos alemães. No
Congresso do Partido, Trotsky era favorável a aceitar os termos do acordo impostos
pelos alemães, mas encaminhou um adendo à proposta de Lenin recusando
explicitamente a assinatura de qualquer futuro acordo de paz com a Rada. Lenin se
manifestou contrariamente a essa proposta, mas não se declarou favorável a assinatura
de qualquer acordo com a Rada. Argumentou, pelo contrário, que “tudo depende da
correlação de forças e do momento em que se produza a ofensiva de uns ou outros
países imperialistas contra nós.”47
Após o Congresso adotar uma resolução na qual as novas condições para a paz
impostas pelos alemães foram aceitas, teve lugar a eleição do Comitê Central do partido
Bolchevique. O resultado dessa eleição é muito importante para avaliar o peso político
dos diferentes dirigentes soviéticos. Lenin e Trotsky foram os mais votados, com 37
votos cada um; Bukharin obteve 36; Smirnov, 32; Zinoviev, 30; Skolnikov, 25; Stalin,
21; Radek, 19; e Obolensky, 7. Com a exceção de Lenin, que morreu em 1924 devido as
seqüelas provocas por um atentado, todos os demais foram executados por ordem de
Stalin.48
45
Transcrevemos o texto conforme Urbano Rodrigues. A íntegra do informe de Lenin com a referida
passagem está em V. I. Lenin. Palabras finales para el informe político del Comitê Central. 8 de marzo.
In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 315-323. Em uma nota de rodapé Urbano
Rodrigues esclarece que sua citação de Lenin foi extraída de “V. I. Lenine, Textos extraídos das Obras
Completas de Lenine, Ed. Estampa, Lisboa 1977, pág 260”. Não existe livro com esse título e, por isso,
permanece desconhecida a fonte do jornalista Urbano Rodrigues. Na mesma cidade, na mesma editora e
no mesmo ano, foi publicada uma coletânea de Lenin intitulada Contra o trotskismo (Lisboa: Estampa,
1977).
46
Idem, p. 319.
47
V. I. Lenin. Intervenciones contral las enmiendas de Trotski a la resolución sobre La guerra y La paz. 8
de marzo. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 325.
48
Cf. Raymond L. Garthoff. Op. cit., p. 78.
17
49
Idem.
18
lúcidos e críticos que são Lenin, Trotsky e seus amigos”.50 Também não poupava
para ela, total a ponto de referir-se à “teoria da ditadura segundo Lenin e Trotsky” e,
logo adiante, para simplificar, unir exageradamente os dois personagens em um só,
escrevendo sobre a “teoria de Lenin-Trotsky”.52 A referência conjunta a “Lenin e
Trotsky” era comum também nos textos de Karl Liebknecht.53 Nem Luxemburg, nem
Liebknecht fizeram ao longo de seus escritos referência a Stalin, até então um completo
desconhecido. Sabe-se que os dirigentes da Liga Spartacus não eram epígonos de
Trotsky. Seriam eles, então, os “historiadores burgueses” aos quais o jornalista faz
referência?
A relação entre Lenin e Trotsky foi sempre psicologicamente tensa, mas de
mútuo respeito e admiração. Seria um equívoco comparar essa relação, com os
profundos laços de amizade que uniram Marx e Engels. Politicamente, os dois
dirigentes soviéticos divergiram entre si um grande número de vezes, mas a partir de
1917 a convergência estratégica entre ambos tornou-se profunda. Lenin retornou à
Rússia em abril e anunciou sua nova posição na qual abandonava a palavra de ordem de
“ditadura democrática do proletariado e dos camponeses”. Em agosto do mesmo ano,
Trotsky aderiu ao Partido Bolchevique. Uma nova fase dessa complexa relação teve
início. Essa convergência não impediu que tivessem idéias próprias e muitas vezes
conflitantes sobre vários pontos. Suas personalidades eram fortes e defendiam seus
pontos de vista de modo enfático. Não eram os únicos a proceder desse modo no
interior do Partido Bolchevique.
Após a morte de Lenin teve início uma dura luta política e ideológica no interior
do Partido Bolchevique. Para sustentar as novas posições de poder ocupadas depois da
morte de Lenin, Zinoviev, Kamenev e Stalin lançaram uma ofensiva sobre a história da
revolução russa, procurando diminuir o lugar de Trotsky nela e afastá-lo do legado
lenineano. Lenin anteviu esse movimento e, por essa razão, em seu testamento escreveu
que o fato de Trotsky não ser um velho bolchevique não o desmerecia e era coisa que
50
Rosa Luxemburg. La revolution russe. Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 58 e 70.
51
Idem, p. 65.
52
Idem. 83 e 87
53
Karl Liebknecht. Op. cit., p. 188, 189.
20
deveria ser deixada para trás. Certamente não o foi. Trotsky respondeu com todas suas
energias esse ataque levado a cabo sobre o terreno da história e produziu como resposta
algumas das obras-primas da historiografia marxista: A revolução desfigurada (1929),
Minha vida (1930) e História da Revolução Russa (1932). Mas por razões de ordem
política optou por diminuir suas opiniões sempre que estavam confrontadas com Lenin.
Continuar a insistir com isso é um erro. Lenin e Trotsky precisam recuperar seu lugar
real como homens de grande envergadura política, moral e intelectual, mas também
como seres humanos que cometiam erros e refletiam a respeito deles. Mas para tal é
preciso responder vivamente cada vez que as velhas e desgastadas idéias do
antitrotskismo staliniano reaparecem. Golpe a golpe; verso a verso.
Segue mais
abaixo:
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O trotskismo ao serviço da CIA
contra os países socialistas
20 de Outubro de 1992
Ludo Martens
Nos anos 30, Stáline levantou uma questão essencial: Será que depois de o socialismo
ter sido instaurado num país, enquanto ditadura das massas trabalhadoras, a restauração
do capitalismo continua a ser possível nesse país? Trótski respondeu que a restauração
do capitalismo era impossível sem uma insurreição armada da burguesia e sem uma
guerra civil prolongada. A sua tese sobre a impossibilidade da restauração do capitalismo
visava eliminar a vigilância política e ideológica e favorecer uma atitude conciliadora para
com o oportunismo, tanto no interior do partido como em relação ao inimigo de classe na
sociedade.
Desde a Revolução Cultural que os marxistas-leninistas reafirmaram que um partido
comunista pode degenerar politicamente e ser invadido por concepções e teorias
burguesas e pequeno-burguesas. O revisionismo é a adopção de ideias da burguesia e da
pequena-burguesia embrulhadas numa terminologia marxista-leninista. Quando o
1
revisionismo consegue dominar um partido comunista, este torna-se no instrumento
principal de uma progressiva restauração burguesa nos domínios ideológico, político e
económico.
Ernest Mandel,* o líder principal da chamada IV Internacional, lançou-nos à cara que
esta era uma teoria «stalinista», que servia unicamente para justificar a arbitrariedade.
Ele insiste muito nesta ideia mestra de Trótski.
*
Mandel, Ernest Ezra (1923-1995), nascido na cidade alemã de Frankfurt, tornou-se membro da IV
Internacional (trotskista) em 1940, na Bélgica, onde os pais, judeus polacos, se tinham refugiado. Depois da
II Guerra ingressa na central sindical belga FGTB e integra o Partido Socialista Belga, de onde é expulso
em 1964. Funda mais tarde a Liga Revolucionária dos Trabalhadores (1971), que dará origem ao Partido
Operário Socialista (1984) e depois à Liga Comunista Revolucionária, secção da IV Internacional. Em
Portugal, o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, é um dos principais seguidores de Mandel,
sendo autor de vários escritos sobre o pensamento deste líder trotskista (ver, por exemplo,
http://www.ernestmandel.org/fr/surlavie/txt/ernest_mandel_et_la_pulsation_de_histoire.htm). (N. Ed.)
1
Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Ed. Union générale d’Editions, 1976, Collection 10-18, p. 26.
2
destes estados operários burocratizados. Ela beneficia de um apoio, aliás fortemente
limitado, por parte do grande capital internacional. Mas no conjunto, esta
convergência de interesses é insuficiente para poder impor, a curto ou a médio prazo,
uma qualquer restauração do capitalismo.»2
Os marxistas-leninistas identificaram há muito as quatro forças sociais que formam a
base da restauração: a primeira é a camada dos burocratas, tecnocratas e elementos
corruptos no seio do partido e do aparelho do Estado; a segunda são as forças políticas e
ideológicas das velhas classes reaccionárias; a terceira são os novos elementos burgueses
e exploradores surgidos na sociedade socialista; e por último, as forças imperialistas que
actuam aberta ou clandestinamente nos países socialistas. Com Reagan, a ingerência e a
infiltração do imperialismo redobraram nos países socialistas. Mandel nega a existência
das duas primeiras forças e minimiza as duas últimas.
De resto, ele recorreu ao mesmo argumento para apoiar a contra-revolução na URSS:
«Para onde vai a União Soviética de Gorbatchov? Excluamos, antes de mais, a
eventualidade de uma restauração do capitalismo na URSS. Da mesma forma que o
capitalismo não poder ser gradualmente suprimido, tão pouco pode ser gradualmente
restaurado.»3
Os trotskistas difundiram com alarido a sua teoria sobre a impossibilidade da
restauração enquanto existisse alguma resistência por parte do partido comunista e do
aparelho do Estado contra as forças anticomunistas. Desde os anos 30 que esta «teoria»
lhes serviu para justificar o apoio a todas as correntes oportunistas e contra-
revolucionárias. Durante os anos 30 e 40, os trotskistas apoiaram todas as correntes e
facções oportunistas que desencadearam a luta contra a direcção marxista-leninista do
partido. Em 1956 aplaudiram o «antistalinismo corajoso» de Khruchov, converteram-se
em propagandistas do reaccionário tsarista Soljenítsine, apoiaram todas as forças
nacionalistas reaccionárias e fascistas, todos os dissidentes pró-ocidentais, propagaram
galhardamente todas as teorias anticomunistas do círculo de Gorbatchov, chegando a
encher dois terços do seu jornal com artigos de direita publicados no Notícias de
Moscovo e na revista Sputnik.4 Resumindo, em nome da teoria da impossibilidade da
restauração, os trotskistas apoiaram todos os contra-revolucionários até ao dia em que já
nada subsistia das ideias revolucionárias e as instituições socialistas criadas e defendidas
por Lénine e Stáline.
Uma vez terminada a batalha, Mandel refere de passagem, hipocritamente, a hipótese
de uma restauração. Em 12 de Outubro de 1989, numa única entrevista, consegue
defender as duas posições... «Excluo um restabelecimento gradual, pacífico,
imperceptível do capitalismo. Isso é uma ilusão reformista. Será preciso quebrar a
resistência operária (…)» Mais adiante, cita a trotskista Catherine Samary, que afirma
que não é de excluir uma restauração, mas ela será feita «exclusivamente segundo o
modelo turco (…)».5 Mas esta alusão à possibilidade de uma restauração não tem
qualquer reflexo na política trotskista, que se mantém fiel ao princípio da destruição de
tudo o que se assemelhe com o comunismo. Assim, três meses mais tarde, em finais de
Dezembro de 1989, no momento do assalto final da contra-revolução, os trotskistas
2
Mandel, Inprecor, n.°295, 16-29, Outubro, 1989, p. 20.
3 Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev? Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, pp. 20 e 23.
4
Rood, n.°14, 15 Agosto de 1989
5
Rood, 24 de Outubro de 1989, pp. 6-7.
3
lançam a seguinte consigna na primeira página: «Solidariedade com a revolução que
começa no Leste!»6
«A glasnost é um trotskismo…»
6
Rood, n.° 24, 26 de Dezembro de 1989, p.1.
7 Mandel, Inprecor, n.° 295, 16-29, Outubro de 1989, p. 20.
4
no campo da contra-revolução. Stáline representa uma «contra-revolução violenta»,
declarou em Manágua.8 E assim, graças ao esforço conjunto de Mandel e Gorbatchov,
nesse ano bendito de 1990 iniciou-se a verdadeira revolução.
Eis a declaração de Mandel a Temps Nouveaux:
«Temps Nouveaux: Gorbatchov proclama de facto que a perestroika é uma
verdadeira nova revolução?
Mandel: Sim, proclama-o efectivamente, e isso é mais uma vez muito positivo. O
nosso movimento defende desde há 55 anos a mesma tese, e por essa razão foi
qualificado de contra-revolucionário. Hoje compreendemos melhor, tanto na URSS
como em boa parte do movimento comunista internacional, onde se encontravam os
verdadeiros contra-revolucionários e onde se encontravam os verdadeiros
revolucionários.»9
Não foi preciso esperar dois anos para ver a União Soviética cair nas mãos da máfia
tsarista e pró-norte-americana, ver o recrudescimento das forças fascistas e tsaristas na
Rússia e nas outras repúblicas, e assistir a guerras civis reaccionárias entre as diferentes
facções burguesas. O que ilumina na perfeição o rosto dos «revolucionários» da glasnost
e da perestroika e mostra para que forças políticas Mandel – esse profissional do
anticomunismo – trabalha.
Catherine Samary, outra estrela da IV Internacional, afirmou à imprensa soviética que
Gorbatchov aplicava o programa desenvolvido por Trótski. Fez o elogio da glasnost
nestes termos: «No vosso país ainda não foi publicada a Plataforma da Oposição de
Esquerda, que combateu Stáline e propôs um caminho alternativo para a construção do
socialismo. De facto, neste momento, estão a adoptar as suas ideias: construir a
democracia socialista autêntica e a autogestão.»10
Embora sendo um ardente partidário da glasnost, Mandel considerou ser seu dever
apoiar as forças ainda mais à «esquerda» de Gorbatchov, e foi de Iéltsine e Sákharov que
se tornou porta-voz!
No início de 1989, Mandel apresentou Iéltsine como o representante dos
trabalhadores, o homem da democratização que exprime as ideias da classe
politicamente consciente da URSS! No seu livro sobre Gorbatchov, escreve: «A
eliminação de Iéltsine [em 11 de Novembro de 1987] enquanto dirigente do PCUS
representa um grave retrocesso no processo de democratização da URSS.»11 «Iéltsine é
hoje a personalidade política mais popular entre os trabalhadores soviéticos. (...)
Dezenas de milhares de crachás com a inscrição “Reintegrem Iéltsine!” foram
espontaneamente fabricados. Tudo isto indica a vontade de uma camada politicamente
8
Inprecor, 11-24, Setembro de 1992, p. 19.
9
Temps Nouveaux, n.° 38, 1990, pp. 41-42.
10
Catherine Samary, Argumenti e fakti, 2 de Dezembro de 1989, Inprecor, n.°302, 9-23, Fevereiro de
1990, p. 27.
11
Mandel, Où va l’URSS de Gorbatchev? Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, p. 303.
5
consciente de conservar e ampliar as liberdades democráticas parciais obtidas durante
o período entre 1986 e 1988.»12
Em 3 de Abril de 1989, Mandel saúda «o surgimento de uma esquerda mais radical e
massiva. Três linhas de força, progressistas, sobressaem na plataforma de Iéltsine e
Sákharov: contra os privilégios da burocracia; por mais igualdade; e por um sistema
multipartidário.»13
Sákharov, esse representante da «esquerda radical», tinha na prática o estatuto de
agente oficial da CIA na União Soviética desde há muitos anos. Apoiara com entusiasmo
a agressão norte-americana ao Vietname. Considerava que os norte-americanos teriam
podido vencer essa guerra «se tivessem demonstrado um espírito mais determinado e
consequente no plano militar e sobretudo no plano político.»14
Quanto a Iéltsine, durante a sua primeira viagem aos Estados Unidos, a imprensa
internacional havia comentado as suas afirmações elogiosas sobre o capitalismo norte-
americano e relatado os contactos com a CIA. Até um jornal belga de direita, como o De
Gazet van Antwerpen, considerou que Iéltsine tinha exagerado ao declarar: «O
capitalismo não está a apodrecer, pelo contrário, desabrocha. Podemos comprar tudo
por pouco dinheiro. À noite, nas ruas, não se corre o menor perigo. Até junto dos sem-
abrigo encontrei uma atitude optimista perante a vida.»15 Depois destas declarações tão
abertamente anti-socialistas, Iéltsine continuou a ser saudado por Mandel como «a
esquerda radical democrática» do partido comunista da URSS!
Com efeito, no início de 1990, a imprensa trotskista manifestou mais uma vez o seu
apoio à ala «radical-democrática» da oposição na União Soviética: «O Moskóvskaia
Pravda, de 23 de Fevereiro de 1990, publicou “a plataforma democrática” da oposição
radical-democrática dirigida por Iéltsine. A plataforma reclama o exercício do poder
pelos sovietes, eleitos na base de um sistema multipartidário, a abolição do “papel
dirigente do PC” e a adopção de uma lei que institua o sistema multipartidário.»16
Notamos que os trotskistas continuaram a insistir nos pontos desenvolvidos por
Iéltsine, os quais coincidiam com a sua linha «revolucionária». Mandel chegou mesmo a
declarar que Iéltsine era o novo Trótski: «Na actualidade, o reformador Boris Iéltsine
representa a tendência que é favorável à redução do enorme do aparelho burocrático.
Deste modo, ele segue as pegadas de Trótski.»17
Quando, em Agosto de 1991, Ianáiev improvisou o seu estranho golpe, Iéltsine montou
profissionalmente um verdadeiro golpe de Estado, que destruiu toda a legalidade do
sistema existente com o apoio de uma desmesurada mobilização internacional de todas
as forças imperialistas. Mandel e os trotskistas estavam, evidentemente, ao lado de
Iéltsine.
«A mobilização galvanizada por Iéltsine e a rejeição do antigo sistema explicam o
fracasso do que parece mais ter sido um golpe de força do que um golpe de Estado. Era
preciso não hesitar em se opor ao golpe e, neste sentido, lutar ao lado de Iéltsine. O
12
Idem, Ibidem, pp. 305-306.
13
Inprecor, n.° 285, 3 Abril de 1989, p. 4.
14
Sákharov, Mon pays et le monde, Ed. Seuil, 1975, p.75.
15
Gazet van Antwerpen, 18 de Setembro de 1989, p. 6.
16Inprecor, n°304,
9-22, Março de 1990, p. 36.
17
Mandel, Financieel-Ekonomische Tijd, 23 de Março de 1990: Ernest Mandel: «Gorbatchev is te
vergelijken met Roosevelt en De Gaulle».
6
desenvolvimento da auto-organização, do pluralismo político e da total liberdade de
expressão são as únicas garantias de uma democracia em relação às opções essenciais
futuras. Somos a favor da nacionalização dos bens do partido comunista e dos
sindicatos oficiais.»18
Nesta altura, para todos os anticapitalistas honestos, era evidente que Iéltsine
representava a facção ultraliberal e pró-norte-americana da nova burguesia russa e se
preparava para reabilitar a herança tsarista. No entanto, os trotskistas aclamaram o golpe
de Estado contra-revolucionário de Iéltsine porque abria caminho à «auto-organização»,
quer dizer, à auto-organização das massas contra o partido comunista, e por que
introduzia o «pluralismo», quer dizer, a liberdade para os partidos liberais, sociais-
democratas, fascistas e tsaristas... Liberdade para os partidos burgueses, acompanhada
da inevitável repressão contra as organizações comunistas, podendo conduzir
eventualmente à sua interdição, como acontece em todo o sistema burguês «pluralista».
Um ano mais tarde, já ninguém podia negar, inclusive nos círculos da grande
burguesia internacional, o carácter de extrema-direita e pró-imperialista de Iéltsine.
Como verdadeiros provocadores anticomunistas, os trotskistas ousaram então titular:
«Estará Boris Iéltsine a seguir as pegadas de Ióssif Stáline?».19 Este exemplo mostra
bem que estes anticomunistas não se detêm perante nenhuma baixeza ou canalhice.
Apoiaram até ao fim o liberal Iéltsine no seu combate anticomunista, comparando-o com
seu venerado chefe revolucionário, o grande Trótski; alguns meses depois, concluída a
restauração capitalista e tendo Iéltsine saudado a memória dos antigos tsares, os
trotskistas declaram que, na realidade, Iéltsine se parece com o seu pior inimigo: Stáline.
Em Abril de 1989, Mandel publicou um livro em que escreve tudo o que pensa de
positivo sobre Gorbatchov, Iéltsine e sobretudo da glasnost. Recorde-se que, na altura, a
burguesia escondia a custo o seu entusiasmo pelas mudanças introduzidas por
Gorbatchov. A senhora Thatcher já tinha exclamado que era uma partidária da glasnost e
da perestroika. A burguesia anunciava o fim do comunismo e o início de uma grande era
de paz, de democracia e liberdade. Na sua linguagem de «esquerda» pérfida, Mandel
apoiou como sempre a corrente burguesa na moda. No seu livro escreve: «O pesadelo do
stalinismo e do brejnevismo está definitivamente superado. O povo soviético, o
proletariado internacional e toda a humanidade pode dar um suspiro de alívio.»20
Nessa altura, o nosso partido tinha sublinhado que a contra-revolução no Leste
Europeu e na União Soviética constituía uma vitória estratégica do imperialismo, que
provocaria um desastre para os povos dos antigos países socialistas, reforçaria a opressão
do Terceiro Mundo, cujos povos seriam as primeiras vítimas das mudanças em curso, e
que acentuaria todas as contradições do mundo capitalista. Os trotskistas titularam
então: «A loucura da direcção do PTB agrava-se».21 No mesmo jornal, explicavam «o
suspiro de alívio da humanidade», prometendo um futuro sem intervenções militares
18
Inprecor, número especial, 29 de Agosto de 1991, pp. 1-3.
19 Harry Mol, Rood, n.°2, 22 de Janeiro de 1992, p. 20.
20
Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev?, Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, p. 23.
21
Rood, 9 de Janeiro de 1990, p. 10.
7
imperialistas aos povos do Terceiro Mundo! «Os movimentos de massas no Leste
Europeu constituem também uma ameaça (…) para o imperialismo. Uma intervenção
estrangeira do imperialismo no Terceiro Mundo torna-se agora mais difícil.»22 E
quando um ano depois a coligação imperialista desencadeou a sua agressão bárbara
contra o Iraque, os trotskistas apregoaram que se batiam tanto contra Saddam Hussein
como contra os aliados. Entretanto, no Leste Europeu e na União Soviética, verificava-se
que o «suspiro de alívio» era afinal um grito de horror ante o desemprego, a miséria, a
pobreza, o nacionalismo reaccionário e a guerra civil.
Desenvolvendo a sua ideia do «suspiro de alívio» do povo soviético, Mandel imaginou
fechar o seu livro com chave de ouro. Eis, em resumo, a última página:
«A evolução actual confirma que a análise e as predições feitas por Lev Trótski, há
quase meio século, eram bastante realistas e verdadeiras: “Assim que o proletariado
começar a entrar em acção, o aparelho stalinista ficará suspenso no ar. Se tentar, apesar
de tudo, oferecer resistência, não deverá recorrer a medidas de guerra civil, mas antes a
medidas de carácter policial. Trata-se em todo o caso, não de uma insurreição contra a
ditadura do proletariado, mas da ablação de uma excrescência perniciosa dentro dela.”»
E ainda: «A revolução que a burocracia prepara contra ela própria não será uma
revolução social, como a de Outubro de 1917: não se tratará de mudar as bases
económicas da sociedade, nem de substituir uma forma de propriedade por uma outra.
Assim acontecerá.»23
É louvável que Mandel tenha associado o velho Trótski às suas análises da glasnost
(que, apenas um ano depois, o irá desmascarar como um anticomunista irredutível).
Com efeito, os grotescos artifícios contra-revolucionários de Mandel levam até às
últimas consequências os propósitos antibolcheviques mais sofisticados de Trótski. Em
300 páginas de análises, Mandel conclui que a «predição» de Trótski podia agora
concretizar-se graças à glasnost. Há meio século, Trótski esforçava-se para provocar uma
insurreição antibolchevique. Como a ditadura do proletariado estava firmemente
estabelecida, como o partido bolchevique mobilizava energicamente as massas operárias
e camponesas, Trótski teve de recorrer a uma aliciante demagogia de «esquerda»:
quando derrubarmos o partido «stalinista», a ditadura do proletariado restará intacta,
apenas amputaremos uma «excrescência burocrática». A insurreição eliminará um
parasita de um corpo são. Não haverá mais classes reaccionárias ou revanchistas no
corpo da sociedade soviética, nem novas forças burguesas: o corpo socialista erguer-se-á
contra o «parasita stalinista». Trótski teve que assegurar aos operários que a sua
insurreição não alteraria as bases económicas do socialismo, que estava fora de questão
restabelecer a propriedade privada. Evidentemente! Cinquenta anos mais tarde, Mandel
dará as mesmas garantias na seguinte citação com que conclui o seu livro: a glasnost e a
«democratização» da sociedade soviética, levados até a fim, manterão e melhorarão a
ditadura do proletariado, e não mudarão a base económica da sociedade. Dois anos
depois pudemos assistir às convulsões contra-revolucionárias criminosas, que foram
apresentadas e justificadas com estes propósitos benignos.
22
Ibidem, p. 12.
23 Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev?, Ed. La Brèche, Montreuil, 1989 , p. 340.
8
A «revolução política antiburocrática» trotskista
Há 60 anos que os trotskistas alegam que querem derrubar «a burocracia» nos países
socialistas através de uma «revolução política». O ódio de Trótski ao sistema socialista
manifesta-se na forma como qualifica a direcção bolchevique da União Soviética: a
«casta dos arrivistas rapaces», a «oligarquia totalitária», «a nova aristocrática», «o
gang criminoso de Stáline»,24 «a casta dos novos opressores e parasitas», «a
burocracia totalitária», «a clique autocrática», «a hierarquia de incapazes e
escória».25 Encontramos a mesma linguagem na literatura fascista nos finais dos anos
30.
Segundo Trótski, a mobilização de todas as forças de oposição à «burocracia»
conduzirá a uma «revolução política» que livrará a sociedade socialista autêntica dos
parasitas da burocracia. Esta teoria, segundo as afirmações do grupo de Mandel,
constitui em si o núcleo da doutrina trotskista: «A teorização da degenerescência
burocrática da URSS e da revolução política é o avanço programático mais importante
do movimento trotskista. A revolução política e as tarefas que implica a sua preparação
são as verdadeiras razões da existência da IV Internacional.»26
O significado real da teoria da «revolução política» foi demonstrado nas lutas dos
anos 30. Toda a burguesia ocidental exprimiu então a sua apreciação positiva das
«análises penetrantes da revolução traída», feitas por Trótski. Na realidade, Trótski
manifestou-se como um anticomunista enraivecido e as suas afirmações contra o partido
bolchevique e contra Stáline foram e continuam a ser aplaudidas pelos ideólogos do
imperialismo.
Limitemo-nos a um exemplo altamente significativo. Em 1982, Henri Bernard,
professor emérito da Academia Real Militar da Bélgica, publicou um livro para alertar a
opinião pública contra o perigo de uma agressão soviética. Disse-nos o seguinte: «1939
parece-se com 1982, os nazis de então são os comunistas de hoje, o antifascista Einstein
tem o seu sucessor no anticomunista Soljenítsine.»27
Para nos demonstrar a ameaça terrível que pesava sobre o Ocidente em 1982, Henri
Bernard considerou útil guiar-nos numa digressão através da história da União Soviética
desde 1927. Eis algumas frases colhidas ao longo do percurso: «No plano privado,
Lénine era, tal como Trótski, um ser humano. A sua vida sentimental não era
desprovida de fineza. Trótski devia normalmente suceder a Lénine. Apesar de algumas
divergências de opinião, Lénine manteve sempre uma grande afeição por Trótski.
Pensava nele como o seu sucessor. Achava que Stáline era demasiado brutal. No plano
interno, Trótski manifestava-se contra a burocracia apavorante que paralisava o
aparelho comunista. Por último, Trótski afirmava que um regime só poderia
24
Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Union générale. d’Editions, Paris, 1976, collection 10-18,
pp.193, 256, 257 e 247.
25
Trotski, La lutte antibureaucratique en URSS, Union générale. d’Editions, 1975, pp. 300, 301, 169 e 213.
26
Turpin Pierre: Le trotskisme aujourd’hui, Ed. L’Harmattan, Paris, 1988, p. 61-62.
27
Bernard Henri, 1982, p. 9.
9
desenvolver-se com uma maior liberdade de opinião e um espírito crítico construtivo.
Artista, homem de letras, inconformista e frequentemente profeta, não podia entender-
se com os dogmáticos primários do Partido.»28
Eis como fala um dos principais chefes do serviço de informações militares sobre os
méritos de Trótski.
A partir de 1938, quando a agressão hitleriana pesava como uma ameaça constante
sobre a União Soviética, num momento em que o partido comunista travava uma luta
decisiva contra os derrotistas e capitulacionistas, e em que mobilizava todas as suas
forças para a batalha gigantesca que se aproximava, Trótski fazia agitação como
provocador, e as suas afirmações tornaram-se armas nas mãos dos agentes nazis. Em
1938, todos os comunistas e patriotas soviéticos se entregavam de corpo e alma às tarefas
políticas e militares na expectativa da agressão nazi. Os apelos dementes de Trótski à
insurreição armada só poderiam encontrar eco entre os piores inimigos do socialismo.
Eis algumas afirmações feitas por Trótski entre 1938 e 1949:
«Só é possível assegurar a defesa do país destruindo a clique autocrática dos
sabotadores e derrotistas». (3 de Julho de 1938).29 Neste momento, ante a ameaça nazi,
as tensões eram muito fortes na União Soviética. Certos grupos oportunistas, para os
quais os sacrifícios eram demasiado pesados, e certos grupos contra-revolucionários
conceberam planos para um golpe de Estado. A depuração, inteiramente necessária face
à de uma guerra de resistência, foi dirigida contra estas forças. Trótski ofereceu-lhes um
novo argumento de agitação contra o partido, afirmando que a derrota da URSS face aos
nazis seria certa se Stáline e os stalinistas permanecessem no poder. Consequentemente,
era preciso destruir a direcção do partido através de uma insurreição. Estes propósitos
correspondiam exactamente às intenções dos nazis, que pretendiam provocar uma guerra
civil para realizar mais facilmente os seus planos de invasão.
«Só o derrubamento da clique bonapartista do Krémlin poderá permitir a
regeneração do poderio militar da URSS. Aqueles que defendem directa ou
indirectamente o stalinismo, que exageram o poderio do seu exército, são os piores
inimigos da revolução socialista e dos povos oprimidos.» (10 de Outubro de 1938).30
Assinale-se que os nazis alemães acreditaram nesta propaganda, que os animou na sua
determinação de acabar com bolchevismo. Mas após seis meses de guerra tiveram que
reconhecer que haviam subestimado o potencial militar e a combatividade dos
soviéticos...
«Só uma insurreição do proletariado soviético contra a tirania infame dos novos
parasitas pode salvar o que ainda subsiste das conquistas do Outubro nos fundamentos
da sociedade». (14 de Novembro de 1938).31
«As conquistas da Revolução de Outubro não servirão o povo se este não se mostrar
capaz de agir contra burocracia stalinista como antes fez com a burocracia tsarista e a
burguesia. (...) Isto só pode ser feito de uma única maneira: pelos operários, os
camponeses e os soldados do Exército Vermelho que se levantarão contra a nova casta
28
Ibidem, pp. 48-49.
29 Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Union générale d’Editions, Paris, 1976, collection 10-18, p.169
30
Idem, ibidem, p. 188.
31
Idem, ibidem, p. 206.
10
de opressores e parasitas. Para preparar um levantamento em massa, é preciso um
novo partido, a IV Internacional». (Maio de 1940).32
O leitor terá reparado na data em que esta prosa delirante foi produzida: Maio de
1940. Havia já sete meses que a Inglaterra e a França tinham declarado guerra à
Alemanha de Hitler; dois meses antes, a Finlândia, aliada da Alemanha, tinha capitulado
perante a União Soviética após três meses de guerra. Stáline tenta por todos os meios
ganhar tempo, mas sabe que a partir deste momento a agressão nazi pode acontecer a
qualquer momento. É neste contexto que Trótski lança as suas provocações mais infames
e criminosas: apela à insurreição popular, depois a uma insurreição do exército contra a
«nova casta dos parasitas», termos que eram muito populares na altura entre os
hitlerianos. Seria possível os bolcheviques não concluírem que Trótski tinha degenerado
ao ponto de agir como um agente de Hitler?
Todas as suas declarações anticomunistas, durante o período entre 1938 e 1940,
mostravam que Trótski e os seus pequenos grupos de acólitos se tinham transformado
em provocadores, consciente e inconscientemente, ao serviço dos nazis. Mas não
puderam exercer a menor influência no desenrolar dos combates. Graças a um trabalho
gigantesco de organização da população e de mobilização do Exército Vermelho e das
formações de guerrilheiros, graças aos esforços sobre-humanos no domínio da produção
militar e da construção de novas fábricas, os bolcheviques conseguiram preparar
eficazmente o país para a confrontação inevitável com os criminosos nazis.
No final da guerra antifascista, um pouco por todo o mundo, os pequenos grupos
trotskistas estavam completamente desacreditados e isolados.
Foi Khruchov quem permitiu aos anticomunistas trotskistas levantar a cabeça,
atacando a obra gigantesca do camarada Stáline nos termos retomados à reacção
mundial. A linha de Khruchov, aprofundada e desenvolvida por Bréjnev, resultou hoje na
restauração do capitalismo selvagem.
Hoje podemos dizer que quem não é capaz de reconhecer o carácter provocador,
anticomunista e pró-fascista das referidas teses de Trótski, nada tem de comunista.
Vejamos agora quais as forças políticas e sociais que os trotskistas apoiaram em nome
da sua «revolução política», desde a Segunda Guerra Mundial.
Quando os nazis ocuparam uma parte da URSS em 1941, fundaram e apoiaram na
Ucrânia um movimento nacionalista e pró-nazi que massacrou centenas de milhares de
judeus, polacos e comunistas. Em 1944, no momento da retirada, os nazis deixaram
grupos fascistas ucranianos, dirigidos por oficiais alemães nazis, atrás das linhas do
Exército Vermelho. O grupo de Mandel aclamou esta contra-revolução nazi, como
fazendo parte da «revolução política antiburocrática». Inacreditável? Julguem vós
próprios:
Em 1988, o grupo de Mandel escreveu o seguinte: «Durante a Segunda Guerra
Mundial, a IV Internacional subestimou gravemente as potencialidades revolucionárias
do movimento nacionalista ucraniano. A Internacional só se apercebeu da existência do
32
Idem, ibidem, pp. 302-303.
11
movimento revolucionário de libertação nacional cinco anos depois da guerra, quando
os guerrilheiros ucranianos travavam o seu último combate».33
Aqui, os trotskistas revelaram-se abertamente como provocadores ao serviço dos
nazis. Os trotskistas retomaram para o efeito a mentira difundida desde 1945 pelos
serviços secretos norte-americanos, segundo a qual os nacionalistas ucranianos tinham
combatido «contra Hitler e contra Stáline». O que aconteceu na realidade?
Numa revista para antigos combatentes da Frente Oeste, um oficial alemão da
Waffen-SS relatou a sua experiência na Ucrânia. Ele reconhece que o povo ucraniano
«estava muito desiludido com a política alemã durante a ocupação». Antes da sua
retirada, o exército alemão formara a divisão Galitzia da Waffen-SS, composta por
ucranianos e dirigida por militares alemães. O chefe do Exército Insurreccional
Ucraniano, Melnik, tomou «a decisão muito responsável de lutar nas duas frentes:
contra os soviéticos e contra os alemães.» (Contra os alemães que... já estavam em
retirada). O oficial nazi descreve então os combates em que participou com os «seus
ucranianos» contra o Exército Vermelho, em Julho de 1944. «O facto de soldados
alemães e ucranianos terem combatido juntos contra o inimigo comum conferiu uma
nova dimensão à história das relações germano-ucranianas.»34
A «revolução política» trotskista torna-se realmente maravilhosa com a Waffen-SS na
sua vanguarda!
33
Turpin Pierre: Le trotskisme aujourd’hui, Ed. L’Harmattan, Paris, 1988, p.23.
34 Berkenkruis, Junho de 1992, n.° 6, pp. 4-5, artigo antes publicado em Der Freiwillige, de Outubro de 1956.
35
Rood, 6 de Junho de 1989, p. 2.
36
Inprecor, XIe Congrès mondial de la IVe Internationale, Novembro de 1979, p.250.
12
decretado a «neutralidade» da Hungria… o que era precisamente a palavra de ordem
mais avançada, formulada pela Rádio Europa Livre.37 A imprensa trotskista saudou as
grandes manifestações anticomunistas do Verão de 1989 na Hungria. Assim, Mandel
escreve: «Nesta semana, um milhão de pessoas manifestou-se, em Budapeste, para
prestar homenagem à memória do camarada Imre Nagy, líder comunista do governo
dessa revolução que foi fuzilada pelos stalinistas».38 (Entre parênteses, a imprensa
fascista também saudou a memória de Nagy, esse eminente nacionalista executado pelos
stalinistas…). Mais adiante, o mesmo jornal trotskista afirma: «Imre Nagy pagou com a
vida a sua acção corajosa ao lado dos conselhos de operários da grande Budapeste.
Estes conselhos exigiam a democracia no quadro do socialismo.»39
No livro A URSS e a Contra-Revolução de Veludo dedicámos um capítulo à análise da
contra-revolução de 1956 na Hungria.
37
Martens Ludo, L’URSS et la contre-révolution de velours, Ed. EPO, Bruxelles, 1990, p. 107.
38 Rood, 20 de Junho de 1989, p. 6.
39
Rood, n.°12, 20 de Junho de 1989, p. 12.
40
Inprecor, n.° 105, 6 de Julho de 1981, p. 14.
41
Sean Connoly, Inprecor, n.° 108, 14 de Setembro de 1981, p. 24.
42
Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.
13
realidade se aproxima mais desta teoria».43 Em 12 de Novembro, Mandel desenvolve o
mesmo raciocínio, levando-o até ao absurdo (ou ao sórdido, como queiram). Compara a
contra-revolução checoslovaca… com a Grande Revolução de Outubro! No seu relatório,
os trotskistas escrevem: «Mais brilhante que nunca, o nosso camarada Ernest Mandel
reafirma que não há nenhuma dúvida: o que nós vivemos agora na Checoslováquia e
na RDA é uma verdadeira revolução, com uma magnitude e uma profundidade sem
precedentes desde a revolução russa de 1917».44
Peter Uhl fez também uma excelente descrição da «revolução política» na
Checoslováquia, enquanto revolução anticomunista, levada a cabo por uma frente de
todas as forças reaccionárias: «Havia quem visse na Carta 77 um passo na direcção da
revolução política. É o meu caso. Outros viam nela um meio para propagar a palavra
de Cristo. Foi um verdadeiro laboratório de tolerância.» «Desde que se diga que somos
contra o “comunismo”, contra o stalinismo, contra a burocracia, toda a gente está de
acordo».45 Bela descrição esta da frente que reagrupava os clérico-fascistas, os
nacionalistas reaccionários, os sociais-democratas, os agentes da Rádio Europa Livre e
os três trotskistas de serviço.
Acrescentemos que os trotskistas nos ensinaram, em 1989, que «a história da
Checoslováquia realizou uma vingança estrondosa: Dubcek foi reabilitado».46 Ainda
que os verdadeiros comunistas possam divergir de opinião, quando se trata de apurar se
a intervenção soviética de 1968 foi ou não justificada, são unânimes em considerar a
«Primavera de Praga» como uma contra-revolução de tipo social-democrata.
Em A URSS e a Contra-Revolução de Veludo consagrámos um capítulo à
Checoslováquia entre 1969 e 1989. A relação entre as ideias sociais-democratas de
Dubcek em 1969 e as da «revolução de veludo» de Havel-Uhl é aí analisada. Também
comentamos os pontos de vista de Castro, que apoiou a intervenção, e de Mao, que a
condenou.
43
Petr Uhl, Inprecor, n.° 304, 9-22 de Março de 1990, p. 26.
44 Rood, 26 de Dezembro de 1989, p. 5.
45
Inprecor, n.° 296, 30 de Outubro - 12 de Novembro de 1989, p. 4.
46
Rood, 26 de Dezembro de 1989, p. 8.
47
Inprecor, n.° 296, 30 de Outubro - 12 de Novembro de 1989, p. 4.
48
Mandel, Inprecor, n.° 297, 13-26 de Novembro de 1989, p.3.
14
«Estou realmente entusiasmado com tudo o que acontece em Berlim. Tudo o que Rosa
Luxemburg, Trótski e Lénine sempre desejaram pode agora realizar-se. É a primeira
revolução, desde a revolução na Holanda no século XVI, que não está ameaçada por
uma intervenção militar estrangeira. Estamos perante a primeira geração alemã, após
cerca de 200 anos, que é completamente antimilitarista e antinacionalista. O que
estimula o meu entusiasmo é a magnitude e a força excepcional deste movimento
popular. Dos 500 mil habitantes de Leipzig, 200 ou 300 mil saíram à rua todas as
segundas-feiras, durante oito semanas consecutivas. Na Alemanha Oriental, a corrente
anti-socialista é particularmente fraca. Em sete mil slogans, nem sequer um por cento
era anti-socialista. Ninguém pode dizer se a próxima revolução irá ter lugar na Rússia,
França, África do Sul ou em Espanha, mas é certo que as revoluções no Leste alemão e
na Checoslováquia terão repercussões».49
Para ilustrar o carácter «socialista» d0 movimento em curso, a IV Internacional cita
uma declaração… de um grupo social-democrata. Ora, a social-democracia alemã é uma
força de choque do imperialismo alemão, poderosa, em crescimento e expansionista. A
estratégia e as tácticas utilizadas por Willy Brandt, para infiltrar e influenciar, dividir e
destruir o partido comunista da RDA, tiveram um papel importante na degenerescência
oportunista do SED.
Eis o texto citado pelos trotskistas: «A democratização necessária da RDA pressupõe
a contestação do monopólio do poder e da pretensão à verdade do partido dominante.
Para nós, a formação de um partido social-democrata é muito importante. São nossas
orientações programáticas: Estado de direito; democracia parlamentar e
multipartidarismo; economia social de mercado com uma rigorosa proibição dos
monopólios; liberdade de criação de sindicatos independentes.»50
Deste modo, os trotskistas chegaram ao ponto de apresentar, como ilustração do
carácter «proletário» da «revolução política» em curso, um programa que propugna
abertamente o regime burguês... Apesar de Mandel afirmar que menos de um por cento
dos slogans era contra o socialismo!
Mandel definiu três critérios para distinguir os partidários do «stalinismo» das forças
favoráveis ao rumo para o «socialismo democrático e autogestionário»: a atitude em
relação à glasnost de Gorbatchov, ao partido comunista e à repressão na praça Tien An
Men.51
Viva a glasnost
49
Humo, 21 de Dezembro de 1989, pp. 18-20.
50
Grupo Iniciativa para um Partido Social-Democrata na RDA, 12 de Setembro de 1989, in Inprecor,
n.° 297, 13-26 de Novembro de 1989, p. 10.
51
Inprecor, n.°295, 16-29 de Outubro de 1989, pp. 15-16.
52
Mandel, Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, p. 15.
15
No livro A URSS e a Contra-Revolução do Veludo reservámos um capítulo inteiro
para demonstrar que os cinco anos da glasnost prepararam de forma sistemática os
espíritos para a restauração do capitalismo integral; que a glasnost ressuscitou os ideais
da grande burguesia russa de 1917; que a glasnost deu a palavra a todos os
anticomunistas, a agentes da CIA como William Colby, seu antigo director, ou ao
reverendo Moon, aos adeptos do tsarismo e da Igreja Ortodoxa tsarista, a antigos
colaboradores nazis, aos homens de Vlássov e de Bandera.
Mandel falaria das «liberdades democráticas» em geral, sem carácter de classe, no
momento em que Gorbatchov dava liberdade a todos os contra-revolucionários que
queriam enterrar definitivamente as últimas estruturas e influências socialistas. A ideia
mais elementar do leninismo é que o socialismo é uma ditadura de classe, que une os
trabalhadores contra as forças da burguesia, contra as forças da exploração.
«Reconhecemos que toda a liberdade», afirma Lénine, «se ela não se subordina aos
interesses da libertação do trabalho do jugo do capital, é um logro».53
53
«I Congresso de Toda a Rússia sobre Ensino Extra-Escolar», V.I. Lénine, Obras Escolhidas em três
tomos, Ed. Avante!, Lisboa 1986, t. 5, pág. 257. (N. Ed.)
54
Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.
16
reformistas? Iremos suprimir a social-democracia? (…) Nenhuma democracia operária
autêntica será possível sem a liberdade de constituir um sistema multipartidário.»55
Sim, é verdade que Lénine proibiu os partidos sociais-democratas, isto é, os
mencheviques e os socialistas-revolucionários. Isto porque, na guerra civil, eles
combateram ao lado do tsarismo, da burguesia e das forças intervencionistas; e porque
foram esmagados juntamente com as forças feudais e burguesas. Lénine sublinhou várias
vezes que um representante inteligente da grande burguesia, como Miliukov,
compreendia perfeitamente que, numa primeira fase, só um partido de «esquerda»,
social-democrata, teria possibilidades de arrastar as massas para a luta antibolchevique.
É por isso que Miliukov contentar-se-ia com mera legalização de um partido social-
democrata...
55
Inprecor, número especial, IX Congresso Mundial, 1979, pp. 236-237.
56 Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.
17
os chamados “conservadores” na Roménia, na Checoslováquia, na Alemanha de Leste,
as minorias neo-stalinistas na Polónia e na Hungria.»57
Em Abril de 1989, Mandel saúda os notórios progressos na Polónia e na Hungria da
restauração burguesa, designada «experiência pluralista». Havel é o seu herói e os
opositores à restauração são os seus inimigos obstinados. «Num momento em que na
Polónia e na Hungria têm lugar experiências de pluralismo, a direcção de Praga
reafirma o princípio do “papel dirigente do partido” (…) A imprensa da Alemanha de
Leste continua a apoiar a repressão na Checoslováquia e pressiona para a constituição
do eixo Praga-Berlim-Bucareste contra a perestroika. O Neues Deutschland descreveu
Havel como um provocador». «Enviem mensagens de solidariedade a Vaclav Havel na
prisão».58 Para os trotskistas, toda a repressão das forças anti-socialistas, todas as
prisões de agentes subversivos ao serviço da CIA, como Havel, é um crime monstruoso.
Em Maio de 1989, os estudantes anticomunistas de Pequim aclamaram Gorbatchov
com gritos de «Viva a glasnost e a perestroika» e «Viva o Solidarnosc». Quando o motim
contra-revolucionário de 4 de Junho de 1989 foi reprimido, Mandel juntou-se à extrema-
direita internacional, dirigida na ocasião pelo Kuomintang, partido fascista reinante em
Taiwan. Numa primeira reacção aos acontecimentos de Pequim, o grupo de Mandel
escreveu: «A casta burocrática não recua perante os crimes mais repugnantes. Esta
lição da história já foi escrita com sangue nos muros de Berlim em 1953, em Praga em
1968, em Gdansk em 1970 e em Varsóvia em 1981. A dimensão dos horrores em Pequim
só pode ser comparada com a forma como a revolução húngara foi esmagada em 1956.
(…) Os verdugos de Pequim ainda não ganharam a batalha. Hesitaram demasiado
tempo! Hoje, o povo chinês revolta-se. A insurreição alastra através do país. O exército
desmorona-se, há a ameaça de uma verdadeira guerra civil».59 Tal como os fascistas de
Taiwan, os trotskistas esperavam ver desenvolver-se na China uma «verdadeira guerra
civil» contra a «classe burocrática». Mais tarde, o próprio Mandel produziu uma análise
«teórica» em que afirma: «A comuna (!) de Pequim de Abril-Maio de 1989 foi o início de
uma revolução política autêntica que tentou substituir o poder corrupto e ineficaz de
uma clique de déspotas burocratas pelo verdadeiro poder das massas populares. (…) As
massas que se insurgiram em Pequim não tinham nenhum interesse em restaurar o
capitalismo. Também não tinham a intenção de o fazer».60
Felizmente que os trotskistas não foram os únicos a salvar a honra, como logo se
apressaram a declarar: «Só a ala esquerda do Partido Comunista da URSS salvou a
honra do comunismo». «Sentimo-nos orgulhosos de estarmos hoje ombro a ombro com
outros comunistas no nosso protesto contra a repressão sangrenta na China. A
primeira reacção foi de Boris Iéltsine. “O que está a acontecer na China é um crime”,
declarou este membro do Soviete Supremo recentemente eleito.»61 Eis pois Mandel de
novo orgulhoso por estar na companhia de Iéltsine.
No ensaio «Tien An Men 1989: da deriva revisionista ao levantamento contra-
revolucionário» fornecemos provas sobre o verdadeiro carácter do movimento de
Pequim.
57
Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p 3.
58 Inprecor, n.° 287, 1 de Maio de 1989, pp. 8-9.
59
Rood, 6 de Junho de 1989, p. 2.
60
Rood, 20 de Junho de 1989, pp. 6-7.
61
Rood, 20 de Junho de 1989, pp. 6 e 12.
18
Fang Li-Zhi, o pai espiritual incontestável do «protesto» estudantil de Pequim,
declarou em 17 de Janeiro de 1989: «O socialismo, na sua mistura Lénine-Stáline-Mao,
foi completamente desacreditado. Será que uma economia livre pode ser compatível
com a forma especificamente chinesa de governo ditatorial? A ditadura socialista está
intimamente ligada a um sistema de propriedade colectiva e a sua ideologia é contrária
ao tipo de direito de propriedade requerido por uma economia livre.» Três dos
principais dirigentes do movimento de Pequim, Yan Jiaqi, Wuer Kiaxi e Wang Runnan,
refugiaram-se em França e criaram a Federação para a Democracia. No seu programa
definem como objectivo: «Desenvolver uma economia de iniciativa privada e pôr fim à
ditadura do partido único». Em nome do multipartidarismo, os três juntaram-se ao
partido fascista de Tawain, o Kuomintang. Wuer Kiaxi, que teve grande destaque na
imprensa trotskista, encontrou-se em 29 de Janeiro de 1990, na República Popular da
China, com o chefe da espionagem taiwanesa, John Chang, a quem afirmou: «O diálogo
entre os chineses anticomunistas é o primeiro passo para a unidade». Yan Jiaqi e Wang
Runnan também estiveram em Taiwan. Yan declarou: «O facto de Taiwan ter um
governo democrático é para nós importante. Parece-me que esta é a base fundamental
para a unificação de Taiwan e da China continental». Yueh Wu, o líder do dito
«Sindicato Operário Independente», tão caro aos trotskistas, chegou a Taiwan em 16 de
Junho de 1990, a convite da... Liga Mundial Anticomunista.62
Assim, no seu intuito de distinguir os stalinistas, que defendem os princípios do
marxismo-leninismo, dos partidários do «socialismo multipartidário», Mandel definiu
um terceiro critério: «Outro indicador é a atitude em relação à repressão sangrenta da
Comuna de Pequim. No campo daqueles que condenaram os massacres da Praça Tien
An Men estão quase todos os partidos favoráveis à glasnost.63
62
«Tien An Men 1989: de la dérive révisionniste à l’émeute contre-révolutionnaire», in Etudes
marxistes, n.°12, Setembro de 1991, Bruxelas, pp. 62-63.
63
Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, pp.15-16.
19
democratização pluralista, o controlo institucionalizado pelas massas». «Assim não lhe
resta senão a luta burocrática contra a burocracia. É caminhar para um fracasso certo,
como já vimos na URSS e na República Popular da China».64 Isto mostra bem que o
ódio dos trotskistas ao «regime burocrático de partido único» atinge também o «partido
único cubano». Se a abordagem táctica é diferente, é porque os trotskistas consideram
que assim serão mais eficazes a destruir o movimento comunista na América do Sul,
infiltrando o Partido Comunista Cubano e os partidos próximos de Cuba. Isto já
aconteceu em resultado do trabalho destrutivo realizado durante dez anos por estes
anticomunistas no interior da Frente Sandinista. Agora esperam poder aproximar-se da
ala «progressista, antiburocrática e reformista» do Partido Comunista Cubano. Têm a
esperança de que o longo convívio dos cubanos com os soviéticos possa ter sido suficiente
para formar partidários da glasnost e do multipartidarismo.
Entretanto tivemos oportunidade de verificar na Europa de Leste e na União Soviética
no que resultaram os judiciosos conselhos de Mandel: triunfo da contra-revolução,
restabelecimento integral do capitalismo, ressurgimento do fascismo e do nacionalismo
reaccionário, um capitalismo selvagem, onde super-ricos passam ao lado de uma massa
de milhões de pessoas lançadas na miséria desumana e na guerra civil. Não duvidamos
de que o Partido Comunista Cubano tomará as medidas que se impõem para impedir a
infiltração destes contra-revolucionários e anticomunistas profissionais.
Segue mais
abaixo:
64
Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, pp. 18-19.
20
Trotskismo
Teses e reflexões de Trotsky, o líder revolucionário comunista
Renato Cancian*
O conjunto de seus escritos e publicações enfoca quatro temas centrais, que tiveram
grande influência no ideário e nos movimentos socialistas:
Todos esses temas integram a teoria da Revolução Permanente que, segundo o próprio
Trotsky, não deve ser considerada uma contribuição original porque está baseada no
pensamento e teorias formuladas por Karl Marx, Friedrich Engels e também por
Vladimir Lênin.
A teoria da Revolução Permanente veio a público logo após a revolução abortada de 1905,
na Rússia czarista, a partir de um breve texto intitulado "Balanços e Perspectivas". De
acordo com a teoria marxista, a revolução socialista será alcançada após um processo
histórico e mediante algumas etapas, cuja finalização ocorre quando se liquida com a
sociedade de classes.
Rússia czarista
A base empírica que sustentava a tese de Trotsky era um minucioso estudo das
características do desenvolvimento social e econômico da Rússia sob o regime czarista.
O Estado russo era um aparelho político cuja estrutura e funções serviam aos
interesses da aristocracia czarista. Ou seja, o aparelho estatal russo era um Estado
absolutista.
A revolução de 1905 mostrou, porém, que o proletariado tinha força para promover a
ruptura da ordem social. Com essa análise, Trotsky defendeu a tese de que o
proletariado industrial russo, embora sendo uma minoria da população, poderia vencer. E
a concretização da revolução provaria, portanto, que não seria necessário atravessar a
fase de domínio da burguesia e do regime democrático de tipo parlamentar.
Expansão internacional
Trotsky refinou suas teses e análises sobre o tema publicando, em 1924, o texto
intitulado "As Lições de Outubro", cujo conteúdo ratifica a tese de que a construção do
Estado e sociedade socialista não poderia ficar permanentemente circunscrita a um
território nacional. O risco era de não conseguir se consolidar em sua plenitude devido
ao aparecimento de contradições internas e externas. Ou seja, se o Estado soviético
continuasse no isolamento correria o perigo de sucumbir.
De acordo com a perspectiva de Trotsky, a Revolução de Outubro de 1917 deveria
expandir-se internacionalmente de modo a provocar a chamada revolução mundial.
Embora Trotsky tenha acertado ao assinalar o potencial revolucionário do proletariado
de um país atrasado, como era o caso da Rússia, sua tese sobre a necessidade da
revolução mundial como condição de sobrevivência do Estado socialista russo não se
comprovou.
O teor das análises de Trotsky sobre esse último tema fez com que os líderes
bolcheviques, Stalin, Zinoviev e Kamenev, rompessem com ele. Com a morte de Lênin, em
1924, Stalin assume o poder e envia Trotsky para o exílio. No último ano de exílio, em
1929, Trotsky consegue terminar de escrever a teoria da Revolução Permanente.
*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política -
1972-1985".
__________________
Segue mais
abaixo:
Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I
Trotskismo X Leninismo
Lições da História
Harpal Brar
Tradução – Pedro Castro
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Partido do Proletariado
Capítulo 3
Teoria da Revolução
Capítulo 4
Conclusão da Parte I
Parte I
"Em sua luta pelo poder, o proletariado não tem outra arma senão a organização"
Lênin
Capítulo 1
Introdução à Parte I
É nosso dever não tratar o trotskismo como uma piada (mesmo que
corretamente tratemos certos trotskistas como tal), porém como uma ideologia que
está causando sérios danos ao movimento da classe operária. Devemos refutar esta
ideologia burguesa cientificamente e provar aos operários (não apenas a nós mesmos)
que o trotskismo é uma ideologia burguesa contra-revolucionária que é anticomunista
e antileninista, embora por motivos de conveniência e dissimulação prefira operar sob
a bandeira do 'marxismo-leninismo'.
Após a morte de Lênin, o trotskismo fez outra tentativa de dar a volta por cima
e substituir o leninismo. Sofreu um completo desastre, como será visto nos capítulos
sobre os processos de Moscou. Foi derrotado.
Desde a metade dos anos 50, o trotskismo fez outra tentativa de substituir o
leninismo com algum grau moderado de sucesso. Isto porque o trotskismo foi
ressuscitado e ganhou novo fôlego de vida graças à traição do marxismo-leninismo
pelo grupo de renegados revisionistas dirigentes da União Soviética. No 20° Congresso
do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar um golpe de Estado que
levou ao poder o grupo de renegados e pelegos chefiados por N. S. Kruchev, cujo
principal objetivo era restaurar o capitalismo na União Soviética. Isto não poderia ser
É sob este prisma que o ataque ao camarada Stalin tem de ser entendido. Os
revolucionários de todo o mundo tinham tremendo respeito e afeição pelo grande
marxista-leninista que manteve alta a bandeira do marxismo-leninismo, a bandeira da
revolução proletária. Stalin defendeu, o mais resoluta e corajosamente, a ditadura do
proletariado na União Soviética contra os inimigos da classe operária dentro e fora do
movimento da classe operária. Mao Tse-tung, o grande líder da revolução chinesa,
disse o seguinte no 60° aniversário do nascimento de Stalin:
Seria de surpreender, então, que aquela "campanha frenética contra Stalin por
dirigentes do PCUS capacitasse os trotskistas, que tinham se tornado fazia tempo
cadáveres políticos, a se soerguerem outra vez e clamarem pela 'reabilitação' de
Trotsky"? (Segundo Comentário sobre a Carta Aberta do Comitê Central do PCUS, pelo
Partido Comunista da China, 13 de setembro de 1963].
Tendo em vista o que foi dito, torna-se dever de todo revolucionário marxista-
leninista encetar uma feroz e implacável luta contra o trotskismo, que nada mais é do
que uma influência ideológica da burguesia dentro das fileiras da classe operária.
Porém, a fim de encetar uma luta contra o trotskismo, devemos antes de tudo
saber a natureza do trotskismo, os métodos por ele adotados e as formas pelas quais
ele faz seu aparecimento repulsivo de tempos em tempos.
"O novo trotskismo não é uma mera repetição do velho trotskismo; suas plumas
foram arrancadas e ele está um tanto murcho; é incomparavelmente mais brando no
espírito e mais moderado na forma do que o velho trotskismo; porém, na essência, ele
indubitavelmente mantém todos as características específicas do velho trotskismo. O
novo trotskismo não se atreve a apresentar-se como uma força militante contra o
leninismo; prefere operar sob a bandeira comum do leninismo, sob o slogan de
interpretar e aprimorar o leninismo. Isto porque ele é débil. Não pode ser considerado
um acidente que o aparecimento do novo trotskismo coincidiu com o desaparecimento
de Lênin. No tempo de vida de Lênin, ele não teria se atrevido a dar este passo
arriscado" (Problemas do leninismo).
Mais adiante, na mesma carta, Trotsky descreve Lênin como: "um explorador
profissional de todo tipo de atraso no movimento da classe operária russa".
Aqui, da boca do próprio Trotsky, tem-se em forma pura a verdadeira visão que
Trotsky tinha do leninismo: ele considera "o edifício inteiro do leninismo" como tendo
sido "construído sobre mentiras e falsificação" e considera Lênin como um "explorador
profissional de todo tipo de atraso no movimento da classe operária russa ".
A verdade é que o trotskismo está tão longe do leninismo como a terra está
longe do céu. A verdade é que o trotskismo lutou contra o leninismo no passado e está
lutando contra o leninismo agora. Antes da Revolução de Outubro ele lutou contra o
leninismo abertamente; desde a Revolução de Outubro engajou-se numa luta não tão
aberta contra o leninismo. Atualmente luta contra o leninismo indiretamente,
desfechando ataques odiosos contra Stalin e o "stalinismo". Por quê? Porque
denunciar Stalin é uma precondição necessária à denúncia do leninismo e do
bolchevismo, da ditadura do proletariado e da construção do socialismo na URSS
durante o tempo de Lênin e Stalin. Stalin foi um grande marxista-leninista que aplicou
o leninismo com sucesso, nas condições prevalecentes na URSS e no mundo, por três
décadas. Foi sob sua liderança leninista, e enfrentando a direta oposição trotskista,
que o povo soviético construiu o socialismo na Rússia e levou os povos do mundo à
guerra antifascista. Estas são realizações certamente gloriosas. Se são negadas, o que
então resta do leninismo? Não está claro, então, para todo o mundo, que este ataque
ao 'stalinismo' é certamente um ataque ao leninismo, que ele representa outra - ainda
outra! - tentativa de Trotsky de substituir o leninismo pelo trotskismo? É assim que o
Trotskismo usa o 'leninismo' para lutar contra o leninismo.
qual foi sua estratégia e tática para a revolução russa? Seria necessário investigar a
posição de Trotsky e seus seguidores sobre a controvérsia em torno da questão da
construção do socialismo em um só país e depois passar a revisar a reação de Trotsky e
seus seguidores frente à derrota de sua política de oposição à construção do
socialismo em um só pais: Trotsky e seus seguidores, por exemplo, recorreram às
atividades anti-Partido, ao terror e ao assassinato, ao vandalismo e à sabotagem para
realizar o que tinha sido derrotado pela esmagadora maioria do proletariado
soviético? Eles deram ou não deram as mãos aos fascistas, para o propósito de atacar
o Estado dos operários, pelos quais seu ódio era tão extremo que eles estavam
dispostos a fazer aliança com os nazistas? Eles tentaram ou não tentaram sabotar os
movimentos da Frente Popular ao redor do mundo, antes da Segunda Guerra
Mundial? Eles sabotaram ou não, com sucesso, a Frente Popular na Espanha, com isso
contribuindo para a vitória dos fascistas liderados por Franco naquele país? Também
examinaremos o ponto de vista de Trotsky e do resto da oposição a respeito da
revolução chinesa.
Segue mais
abaixo:
Capítulo 2
Partido do Proletariado:
Importância do Partido
"Em sua luta pelo poder, o proletariado não tem outra arma senão sua
organização. Desunido pelo regime da competição anárquica no mundo burguês,
esmagado pelo trabalho forçado para o capital, constantemente empurrado para o
fundo do poço da completa indigência, selvageria e degeneração, o proletariado
somente pode tornar-se, e inevitavelmente tornar-se-á, uma força invencível, quando
sua unificação ideológica, pelos princípios do marxismo, seja consolidada pela unidade
material de uma organização que reunirá milhões de trabalhadores em um exército da
classe operária" (Lênin:One Step Forward Two Steps Back).
Trotskismo x Leninismo
(1) devoção e energias criativas das grandes massas nas fábricas, nas minas e
nas terras. Sem a cooperação e a participação das massas, o tipo de transformação
social bem sucedida realizada na URSS teria sido impossível. Foi por causa da
cooperação e participação do povo soviético que a União Soviética fez tremendos
avanços em todos os campos - econômico, militar, ideológico e cultural - a despeito do
fato de que a revolução não tinha especialistas próprios e teve que se valer de
especialistas que restaram do tzarismo e do capitalismo, muitos dos quais eram os
maiores inimigos do bolchevismo e, conseqüentemente, da Revolução de Outubro.
Sem o sincero apoio, cooperação, entusiasmo e trabalho heróico de milhões e milhões
das massas russas, o tremendo avanço feito pela URSS não teria sido alcançado.
(2) direção de um partido revolucionário. Não seria exagero dizer que o Estado
soviético não teria sobrevivido, muito menos desenvolvido, nessas condições, se os
operários russos não tivessem sido dirigidos por um partido revolucionário -um partido
que à base da qualidade de seus líderes, do seu auto-sacrifício e heroísmo, ganhou sua
confiança; um partido que eles estavam dispostos a seguir em todos os estágios da
luta, antes, durante e depois da revolução.
qual o proletariado necessita de seu partido - um partido de ferro, que seja temperado
na luta.
"A ditadura do proletariado", diz Lênin, "é uma luta obstinada - sangrenta e
sem sangue, violenta e pacífica, militar e econômica, educacional e administrativa-
contra as forças e tradições da velha sociedade. A força do hábito de milhões e dezenas
de milhões é uma força muito terrível. Sem um partido de ferro temperado na luta, sem
um partido que detenha a confiança de todos que são honestos na dada classe, sem
um partido capaz de proteger e influenciar o ânimo das massas, é impossível conduzir
tal luta com sucesso" (Lênin, ibid., p. 44).
naturalmente, atingir o leninismo. Assim foi que Trotsky e seus seguidores pensaram
desacreditar as políticas leninistas do Partido Bolchevique dirigido por Stalin. Este foi
de fato um exemplo clássico do uso do nome de Lênin para lutar contra o leninismo -
contra seu conteúdo interno completo - um exemplo óbvio de brandir a bandeira
vermelha com o objetivo de opor-se a ela e um exemplo óbvio dos costumeiros
embustes fraudulentos trotskistas.
É neste contexto que o ataque de Trotsky a Stalin deve ser entendido. Não era
um ataque dirigido contra Stalin como um indivíduo, porém contra alguém que
durante o curso da luta tinha emergido como o porta-voz mais representativo do
Partido Bolchevique que estava mantendo, defendendo e aplicando o leninismo. O
alvo principal dos ataques de Trotsky, portanto, não era Stalin, porém o Partido
Bolchevique. Era o bolchevismo-leninismo revolucionário que estava sob ataque. Era
um ataque aos métodos e formas de organização do Partido Bolchevique - um ataque
às políticas leninistas fundamentais perseguidas pelo Partido.
É assim que a questão se coloca no que diz respeito às relações de Trotsky com
o Partido Bolchevique, antes e depois da Revolução e antes, bem como depois, da
morte de Lênin.
do partido eram selecionados pelo Comitê Central, e todos os comitês tinham o direito
de co-opção. No Segundo Congresso do Partido do Trabalho Social Democrático da
Rússia (RSDLP), realizado em Londres em 1903, este conflito veio à baila e Trotsky,
aliado da ala direita do Congresso, opôs-se violentamente ao ponto de vista de Lênin
sobre as questões organizacionais. Lênin foi derrotado nesta questão por uma maioria
de dois ou três votos.
"Nós somos o Partido de uma classe, e, portanto, quase toda a classe (e nos
tempos de guerra, no período de guerra civil, toda a classe) deve agir sob a liderança
de nosso partido, deve aderir a nosso partido tão estreitamente quanto possível.
Porém, seria manilovismo e khvostism4 pensar que em qualquer época sob o
capitalismo quase toda a classe, ou toda a classe, seria capaz de alcançar o nível de
consciência e atividade de seu destacamento avançado ... esquecer esta distinção entre
o destacamento avançado e o total das massas que gravitam em torno dele, esquecer
o dever constante do destacamento avançado, de elevar estratos sempre mais amplos
a esse nível avançado, significa simplesmente enganar a si próprio, fechar os olhos à
imensidão de sua tarefa" (Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás).
atenção ao meu desejo de ser cooptado; você é um autocrata porque você recusou-se a
entregar o poder à velha gangue."
E mais adiante:
"À medida que seguimos com a construção de um partido real, o operário com
consciência de classe deve aprender a distinguir a mentalidade do soldado do exército
proletário da mentalidade do intelectual burguês que ostenta sua conversa anarquista,
deve aprender a insistir que os deveres de um membro do partido não são apenas da
infantaria, mas da 'gente de cima' também" (Lênin: Um Passo Adiante, Dois Passos
Atrás).
O ódio de Trotsky à disciplina levou-o a assumir uma visão tão oportunista dos
princípios organizacionais a ponto de opor-se a Lênin no Segundo Congresso. Este
mesmo individualismo pequeno-burguês, equivalente ao 'anarquismo aristocrático',
com seu ódio extremo à disciplina, levaria Trotsky várias vezes a opor-se ao Partido
Bolchevique, formando uma aliança com os fascistas, com o propósito de derrubar o
Estado soviético. Disto falaremos mais adiante.
Trotsky mais tarde diria que a "Revolução foi traída" na União Soviética por
Stalin. Apenas assinalaremos que, se as idéias oportunistas de Trotsky tivessem
prevalecido, não teria havido o Partido Bolchevique e, portanto, nenhuma revolução
que pudesse ser "traída ".
Lênin da forma mais selvagem e mais abusiva. Porque Lênin tinha anteriormente
falado sobre a divisão do trabalho no interior do partido, baseado no fato de que
diferentes ramos de atividade revolucionária exigiam diferentes habilidades, Trotsky
dirigiu um violento ataque a Lênin, denunciou a divisão do trabalho na fábrica
moderna que reduz os operários a meras engrenagens da máquina. E este, ele
assinalava, era o objeto real de Lênin - uns poucos dirigentes ditatoriais no topo com
os operários do Partido reduzidos a meras "engrenagens" na máquina. Esta era uma
queixa feita por Trotsky sempre que ele não conseguia o que queria. Se o Partido
concordava com Trotsky, todas as coisas no Partido estavam bem; no momento em
que as políticas de Trotsky eram rejeitadas pelo Partido, este imediatamente se
transformava numa monstruosidade e uma 'burocracia' terrível, formidável,
insuportável, a ser combatida e liquidada. Tal era a manifestação do individualismo
pequeno-burguês exibido por Trotsky. Este concluiu a polêmica antes mencionada
assim:
Este parágrafo sozinho é suficiente para mostrar que Trotsky, que reivindicava
ser um leninista quando queria liquidar o 'stalinismo' e remover Stalin, na época em
que Lênin estava ocupado em construir o Partido Bolchevique, queria liquidar o
leninismo e remover Lênin..
"Todos esses 'horríveis clichês' sobre jacobinismo expressam nada mais do que
oportunismo. Um jacobino que está inseparavelmente ligado à organização do
proletariado, que é consciente de seus interesses de classe, é um social-democrata
revolucionário. Um girondino que se sente atraído por professores e ginasianos, que
tem medo da ditadura do proletariado e que suspira sobre o valor absoluto das
demandas democráticas é um oportunista" [Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás).
"Por que não deveria esta história brincalhona dotar a democracia burguesa
revolucionária de um líder da escola do marxismo revolucionário? Ora, não foi o
marxismo "legal" que providenciou um líder para os liberais? De fato, por que não?"
Camaradas, pergunto a vocês: para alguém que tenha tal visão de Lênin e sua
política, será difícil ver porque mantém uma visão similar à de Stalin e sua política? É
desnecessário provar, camaradas, que para alguém que chamou Lênin de futuro líder
das classes médias russas, não era nada difícil acusar Stalin de ajudar o campesinato
rico e dizer que o 'stalinismo' "deveria ser liquidado a todo custo, do contrário o
Partido está ameaçado de decadência moral e teórica". O fato é que Trotsky fez este
apelo contra o leninismo - contra "a suspeição maliciosa e moralmente repugnante de
Lênin, esta caricatura da intolerância trágica do jacobinismo", em 1906. Ele repetiu
este apelo muitas vezes, até a Revolução de Outubro. A Revolução de Outubro foi ao
mesmo tempo uma contestação muito profunda do trotskismo, e enfraqueceu o
trotskismo. O trotskismo foi "depenado" e tomou uma aparência um tanto
"esfarrapada". Foi precisamente por essa razão que, após a morte de Lênin, o
trotskismo adotou a tática de não atacar o leninismo abertamente, isto é, a tática de
não lançar assaltos frontais ao leninismo. Em lugar disso, adotou a tática desonesta de
atacar o leninismo em nome e à guisa de defender o leninismo. É neste contexto,
camaradas, que o ataque ao camarada Stalin deve ser entendido. É uma continuação
do ataque do trotskismo ao leninismo.
"Gente como Trotsky, com suas frases cheias de entusiasmo sobre o Partido
Operário Social-Democrata da Rússia, com sua reverência aos liquidacionistas,
que nada têm em comum com o Partido Social-Democrata. são o mal da nossa época...
Em realidade são emissários da capitulação aos liquidacionistas. ansiosos para formar
um Partido Operário na linha de Stolypin."
Tal era a atitude de Trotsky para com o Partido Revolucionário durante os anos
da reação seguinte à derrota da revolução de 1905, isto é, Trotsky ajudou os
liquidacionistas que se levantaram pela liquidação do Partido. Ele foi "mais nocivo" do
que os liquidacionistas durante este período e por esta razão Lênin empreendeu uma
luta implacável contra o liquidacionismo oculto de Trotsky, que era "mais nocivo" do
que o liquidacionismo aberto dos liquidacionistas.
Nos dias do velho Iskra (1901-3), esses vacilantes, que passam rapidamente dos
economicistas para os iskraístas e retornam outra vez, foram apelidados de "vira-
casacas tushinos" (nomes dados nos tempos turbulentos da Rússia para pessoas que
passavam sempre de um campo para outro).
"A única base que os 'renegados tushinos' têm para sustentar que estão acima
dos grupos era que eles 'tomam emprestadas' suas idéias de um grupo um dia e de
outro no dia seguinte. Trotsky foi um ardente iskraísta em 1901-3, e Ryazanov
descreveu seu papel no Congresso de 1903 como o de um 'porrete de Lênin'.6 Ao final
de 1903, Trotsky era um ardente menchevique, isto é, ele desertou dos iskraístas e foi
para os economicistas. Ele disse que 'entre a velha e a nova Iskra há um abismo'. Em
1904-5, ele desertou dos mencheviques e ocupou uma posição vacilante, ora
cooperando com Martynov (o economicista), ora proclamando sua teoria esquerdista
absurda da 'Revolução Permanente'. Em 1906-7 ele se aproximou dos bolcheviques e,
na primavera de 1907, declarou que estava de acordo com Rosa Luxemburgo.
A geração mais jovem de operários deve saber exatamente com quem estão
tratando, quando os indivíduos se apresentam a eles com propostas incrivelmente
pretensiosas, relutando absolutamente a levar em conta as decisões do Partido, que
desde 1908 tem definido e estabelecido nossa atitude frente ao liquidacionismo, ou
com a experiência do movimento da classe operária atual na Rússia, que tem
conseguido a unidade da maioria sobre a base do reconhecimento pleno das decisões
acima citadas" (Lênin, CW Vol 20, pp. 346-47).
O que Lênin pensava das pessoas, como Trotsky, que zombavam da disciplina
do Partido?
"Quem quer que enfraqueça ao mínimo que seja a disciplina de ferro do Partido
do proletariado (especialmente durante a época de sua ditadura), realmente ajuda a
burguesia contra o proletariado" (CW Vol. 31, p. 45).
Lênin continuava:
"Pode-se negar que, mesmo que as 'novas tarefas e métodos' fossem indicados
por Trotsky tão corretamente quando ele de fato indicou incorretamente, o simples
enfoque de Trotsky para a questão teria causado prejuízo a si próprio, ao Partido, ao
movimento sindical, ao trabalho de treinamento de milhões de membros de sindicatos
e à República?" (Lênin, CW Vol 32, p. 74, Outra Vez sobre os Sindicatos, a Situação
Atual e os Erros de Trotsky e Bukharin).
Este incidente alarmou tanto Lênin que ele tentou no 10° Congresso do
PCUS(B) passar uma resolução especial contra a "formação de blocos separados,
grupos e facções dentro do Partido. Lênin era de opinião de que os membros do
Partido estavam autorizados a divergirem uns dos outros e resolverem suas diferenças
através das discussões. Mas uma vez que se chegasse a uma decisão, após uma
discussão exaustiva, e a crítica estivesse exaurida, a unidade de propósito e ação dos
membros do Partido era necessária, pois sem esta unidade um Partido do proletariado
e a disciplina proletária são inconcebíveis. Isto Trotsky nunca poderia entender.
Quando estava em minoria, ele corria a formar uma facção dentro do Partido - assim
pondo em risco o Partido e a República Soviética.
como Trotsky, que trabalhavam pela destruição do Partido Bolchevique, pode-se dizer
que objetivamente trabalharam pela continuação da autocracia tzarista e pelo
imperialismo feudal-militarista tzarista.
Notas
uma formulação que abre a porta ao oportunismo pelo fato de que o oportunismo
tem 'causas profundas' é o mais puro khvostismo (reboquismo). Quando o camarada
Trotsky opôs-se ao camarada Lieber, ele entendia que as regras constituíam a
'desconfiança organizada' do todo para a parte, da vanguarda para o destacamento
atrasado; porém, quando o próprio camarada Trotsky colocou-se ao lado do
camarada Lieber, ele esqueceu isto e começou mesmo a justificar a fraqueza e a
instabilidade de nossa organização desta desconfiança (desconfiança do
oportunismo) ao falar sobre 'causas complexas', o 'nível de desenvolvimento do
proletariado' etc. Aqui está outro dos argumentos de Trotsky: 'E muito mais fácil para
o jovem intelectual, organizado de uma forma ou de outra, ingressar nas fileiras do
Partido'. Isso mesmo. Por isso a formulação pela qual mesmo elementos
desorganizados podem proclamar-se filiados ao Partido sofre da vagueza típica do
intelectual, e não a minha formulação, que remove o direito de 'ingressar por si' nas
fileiras. O camarada Trotsky diz que se o Comitê Central 'não reconhecesse' uma
organização de oportunistas seria somente por causa do caráter de certas pessoas e
que, uma vez estas pessoas fossem conhecidas como indivíduos políticos, elas seriam
perigosas e poderiam ser removidas por um boicote geral do Partido. Isto é apenas
verdadeiro em casos em que a pessoa tem de ser removida do Partido (e somente
meia verdade, porque um partido organizado remove membros por votação e não
por boicote). É absolutamente inverídico diante dos casos mais freqüentes: quando a
remoção seria absurda e quando tudo o que se precisa é de controle. Para os
propósitos de controle, o Comitê Central pode, em certas condições,
deliberadamente, admitir no Partido uma organização que não era muito confiável
mas que era capaz de trabalhar: pode fazer isso com o objetivo de testá-la ou tentar
dirigi-la para o caminho correto, de corrigir suas aberrações parciais para uma linha
apropriada etc. Isto não seria perigoso se em geral o 'auto-ingresso' nas fileiras do
Partido não fosse permitido. Seria muitas vezes útil para uma expressão (e discussão)
aberta, responsável e controlada de visões e táticas erradas. 'Porém, se as definições
legais têm de corresponder a relações reais, a formulação do camarada Lênin deve ser
rejeitada', dizia o camarada Trotsky e outra vez ele falava como um oportunista.
Relações reais não são uma coisa morta, elas vivem e se desenvolvem. Definições
legais podem corresponder ao desenvolvimento progressivo dessas relações, porém
elas podem também (se essas definições são más) 'corresponder' a retrocesso ou
estagnação. O último caso é o do camarada Martov" (Um Passo Adiante, Dois Passos
Atrás, ênfase inteiramente de Lênin).
Capítulo 3
Teoria da Revolução:
(Lênin )
"O papel de vanguarda combatente só pode ser preenchido por um Partido que seja
guiado pela teoria mais avançada"
(Lênin)
"...a prática tateia no escuro se seu caminho não é iluminado pela teoria
revolucionária"
(Stalin)
A posição leninista-bolchevique
Porém, o proletariado sozinho não poderia cumprir com sucesso sua tarefa de
dirigir a revolução democrática burguesa e conduzi-la até o final sem a assistência e a
participação ativa de um aliado confiável1. Este aliado confiável, sustentavam os
bolcheviques, não poderia ser outro senão o campesinato. O campesinato estava
interessado no sucesso da revolução, pois somente tal perspectiva poderia capacitá-lo
a ajustar as contas com a classe latifundiária e obter a posse de suas terras.
Lênin trata do papel do campesinato russo - o papel que tinha sido atribuído a
ele por sua posição de classe na revolução vindoura - nos seguintes termos:
Uma coisa que deve ser ressaltada sobre Trotsky é que, a cada vez que ele
assumia uma posição incorreta e oportunista, ele sempre a cobria com o uso de frases
'esquerdistas' e ultra-'revolucionárias'. Ele foi, por exemplo, a favor de se saltar
arbitrariamente sobre o primeiro estágio da revolução russa. Ele foi contra o
estabelecimento da ditadura do proletariado e do campesinato como pré-requisito
necessário ao estabelecimento da ditadura do proletariado. Por quê? Porque, ele
argüia, "estamos vivendo na era do imperialismo, e o imperialismo não opõe a nação
burguesa ao velho regime, mas a nação proletária à burguesa" (Trotsky, Nossa
Revolução, 1906).
Em vista do que foi dito antes, as duas conclusões que emergem são:
"Trotsky repete sua teoria 'original' de 1905 e se recusa a parar para pensar
porque, por dez anos inteiros, a vida passou por esta bela teoria."
Foram precisos apenas dois anos para provar a correção da avaliação de Lênin
do papel do campesinato.
Por causa de sua teoria da 'revolução permanente' - com sua negação do papel
do campesinato, com sua falta de fé na habilidade do proletariado em dirigir as amplas
massas da classe trabalhadora para realizar a vitória do socialismo em um só país, com
sua crença religiosa, acientífica e não marxista, de que a vitória do socialismo só seria
possível no caso de uma revolução simultânea "nos mais importantes países da
Europa" - Trotsky nunca foi capaz de compreender o contexto peculiar da Revolução
de Outubro. É necessário para nós tratarmos deste contexto peculiar da Revolução de
Outubro e à luz destes aspectos peculiares determinar as respectivas posições
(irreconciliáveis) do leninismo e do trotskismo.
Estes dois aspectos são da maior importância para nós, pois não apenas
representam a essência da Revolução de Outubro e uma brilhante aplicação da teoria
de Lênin da ditadura do proletariado e sua teoria da revolução proletária como
também revelam a natureza altamente oportunista da teoria da 'revolução
permanente' de Trotsky.
E mais adiante:
(2) Este saque é repartido entre dois ou três saqueadores mundiais poderosos,
armados até os dentes (América do Norte, Inglaterra e Japão), que envolvem todo o
mundo em sua guerra pela repartição do seu saque" (ibid.);
(4) Onde esta brecha tem lugar? No elo mais fraco da cadeia da frente mundial
do imperialismo, onde o imperialismo é fraco e as forças revolucionárias exercem força
suficiente para efetuar uma tal brecha;
"O desenvolvimento econômico e político desigual", dizia Lênin, "é uma lei
absoluta do capitalismo. Daí, a vitória do socialismo é possível primeiro em alguns ou
mesmo em um único país capitalista, tomado isoladamente. O proletariado vitorioso
daquele país, tendo expropríado os capitalistas e organizado sua própria produção
socialista, deveria posicionar-se contra o resto do mundo, o mundo capitalista, atrair
para sua causa as classes oprimidas de outros países, apoiando as revoltas naqueles
países contra os capitalistas e, caso seja necessário, investir mesmo com força armada
contra as classes exploradoras e seus Estados." Pois "a livre união das nações no
socialismo é impossível sem uma luta mais ou menos prolongada e obstinada pelas
repúblicas socialistas contra os Estados atrasados" (Lênin: SW Vol. 5, p. 141, The
United States of Europe Slogan).
E adiante:
que afirmam que o socialismo não pode ser vitorioso em um único país, e aliás um país
atrasado.
Aquele que não entender este aspecto peculiar da Revolução de Outubro nunca
entenderá a natureza internacional da revolução, ou sua força internacional colossal,
ou sua política externa peculiar" (Stalin, Problems of Leninism).
Pode-se argüir que o livro de Trotsky Nossa Revolução foi publicado em 1906,
quando era difícil determinar precisamente o caráter da revolução russa, que ele
contém alguns erros e que, portanto, não correspondia à visão de Trotsky mais tarde.
Porém, examinemos a visão de Trotsky contida em outro dos seus panfletos, O
Programa da Paz. Este panfleto foi publicado antes da Revolução de Outubro e
reimpresso em 1924 no livro de Trotsky O Ano de 1917. Neste panfleto Trotsky ataca a
teoria de Lênin da revolução proletária sobre a vitória do socialismo em um só país e
opõe a ela sua teoria de um Estados Unidos da Europa. Trotsky argumenta que a
vitória do socialismo só é possível se tal vitória for alcançada em vários dos principais
estados europeus, que deve combiná-los, então, em um Estados Unidos da Europa. De
acordo com Trotsky, uma revolução na Rússia não poderia ser vitoriosa sem uma
revolução proletária na Alemanha. Nem poderia haver revolução vitoriosa na
Alemanha sem uma revolução em outros países europeus avançados. Trotsky disse:
"A afirmação, repetida várias vezes em 'Um Programa de Paz', de que uma
revolução proletária não pode ser conduzida a uma conclusão vitoriosa dentro dos
limites de um só país, pode parecer a alguns leitores ter sido refutada pela experiência
de quase cinco anos de nossa república Soviética. Porém, tal conclusão seria infundada.
O fato de que o Estado dos operários tem se mantido contra todo o mundo em um só
país, e em um país atrasado, atesta a força colossal do proletariado que em outros
países, mais avançados, mais civilizados, seria capaz de operar verdadeiros milagres.
Porém, embora tenhamos resistido no sentido político e militar, como um Estado, não
Parece, então, que, por mais malabarismos que se façam, não temos somente
'não empreendemos' a tarefa de criar uma sociedade socialista como 'nem chegamos
perto disso'. Parece que algumas pessoas tem estado esperando por 'acordos com o
mundo capitalista', porém também parece que nada sairá destes acordos, pois, por
mais que se queira, um 'avanço genuíno da economia socialista' não será possível até
que o proletariado tenha sido vitorioso nos 'mais importantes países da Europa'.
Bem, então, desde que não há ainda nenhuma vitória no Ocidente, a única
'escolha' que permanece para a revolução na Rússia é: apodrecer ou degenerar em um
Estado burguês.
Não é por acidente que Trotsky tenha estado falando já por dois anos sobre a
'degeneração' de nosso Partido.
Não é por acidente que no último ano Trotsky tivesse previsto a ruína de nosso
país.
Como se pode conciliar esta 'proposta' estranha' com a visão de Lênin de que a
Nova Política Econômica (NEP) nos capacitaria a 'lançar as fundações da economia
Socialista' ?
E claro que estas duas visões não podem ser conciliadas. A 'revolução
permanente' de Trotsky é a negação da teoria de Lênin da revolução proletária; e,
inversamente, a teoria de Lênin da revolução proletária é a negação da teoria da
'revolução permanente'.
em outubro de 1917. Afirmam, além disso, que, em abril de 1917, Lênin dera seu
ponto de vista pela 'revolução permanente de Trotsky'. É necessário cuidado com esta
afirmação, pois, se ela fosse verdadeira, seria correto dizer que Lênin foi um trotskista.
Mais do que isso - não haveria algo como mar-xismo-leninismo, e sim marxismo-
trotskismo. Assim, pode-se ver claramente, camaradas, que os trotskistas não se
contentam em tentar fazer o trotskismo parecer compatível com o leninismo - eles
estão de fato tentando substituir o leninismo pelo trotskismo. Não é a primeira vez
que o trotskismo faz tal tentativa, nem será a última. Contudo, podemos dizer com
certeza que, como todas as anteriores, a tentativa atual do trotskismo de substituir o
leninismo e afirmar-se como a única ideologia proletária (!) (tanto quanto as futuras),
será esmagada.
"A guerra criou uma cisão entre o campesinato, que estava lutando para
ganhar terra e paz, e os partidos pequeno-burgueses; a guerra colocou o campesinato
sob a direção da classe operária e de sua vanguarda, o Partido Bolchevique. Isto tornou
possível, não a ditadura da classe operária e do campesinato, mas a ditadura da classe
operária, apoiando-se no campesinato. O que Rosa Luxemburgo e Trotsky defenderam
contra Lênin em 1905 (isto é, a 'revolução permanente'], provou, na realidade, ser o
segundo estágio do desenvolvimento histórico."
Não é verdade que a teoria da 'revolução permanente', que foi posta de lado
pela Revolução de 1905, tenha provado estar correta no 'segundo estágio do
desenvolvimento histórico', isto é, durante a Revolução de Outubro. O desenvolvimento
total demonstrou e provou a bancarrota total da teoria da 'revolução permanente' e
sua absoluta incompatibilidade com os fundamentos do leninismo.
Notas
Segue mais
abaixo:
Capítulo 4
Conclusão da Parte I
À luz do que já foi dito, torna-se nosso dever imperativo, camaradas, rejeitar o
trotskismo, denunciá-lo e opor-nos a ele como uma ideologia burguesa perniciosa. Isto
é de especial importância para nós, vivendo como vivemos em um país imperialista,
pois a aceitação do trotskismo pelos operários pode apenas levá-los a fazer uma
aliança com sua 'própria' burguesia imperialista. Por que isso? Porque, de acordo com
o trotskismo "um avanço genuíno da economia socialista ... tornar-se-á possível
somente após a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa", e
mais:
"Sem o apoio de Estado direto do proletariado europeu, a classe operária ... não
será capaz de manter-se no poder e transformar seu domínio temporário em uma
ditadura socialista duradoura. Disto não podemos duvidar por um instante sequer."
Assim, de acordo com o trotskismo, a revolução socialista não pode ter êxito
em países capitalistas menos avançados; o socialismo não pode ser construído nesses
países - não até depois da 'vitória do proletariado nos países mais importantes da
Europa'.
conservadora"; visto que "a revolução proletária não pode ser levada a uma conclusão
vitoriosa, dentro dos limites de um só país", e assim por diante.
os EUA por anos, e os EUA como empreendendo apenas uma guerra defensiva! É fácil
para o proletariado britânico acreditar nestas mentiras por duas razões:
(b) porque há 'comunistas' tais como os trotskistas, que dão eco às mentiras do
imperialismo.
A IS, ansiosa para recrutar na base do oportunismo, grita: 'Vitória para a FLN! Derrota
ao bloqueio de Nixon!' (Socialist Worker, 3 de junho de 1972). Outros, como o PC,
clamam pela 'paz' e implementação do Acordo de Genebra de 1954. A premissa é que o
povo operário não deveria dirigir suas próprias vidas e que as burocracias políticas
deveriam negociar em seu nome. Outra premissa é que a luta pelo socialismo no Vietnã
está fora de questão 'agora'. Os bolcheviques mais degenerados superam este
problema identificando 'libertação nacional' com 'socialismo'. Em qualquer caso, uma
falsificação monstruosa. Esses enfoques são exemplificados pelas seguintes
pérolas: '...quando a questão do poder americano estiver resolvida, sabemos que tipo
de regime e de políticas a FLN escolherá - e será forçada a escolher pela lógica de sua
situação. Porém, isto é, no momento, outra luta, a luta real pelo socialismo' (IS 32,
Neither Washington neither Moscow-But Vietnam?).
Finalmente, a única solução para este bárbaro conflito é una solução socialista:
contra o imperialismo americano, contra a FLN e os burocratas de Hanói, pela
confraternização das tropas estadunidenses e vietnamitas, pela derrota de ambos os
lados em seus países de origem, pela irrupção de uma guerra civil de classe contra
classe na retaguarda imperialista - isto é, pelo estabelecimento de um autogoverno de
amplitude mundial".
Este panfleto fala por si, e nenhum comentário é necessário sobre esta peça
revoltante do trotskismo contra-revolucionário - ele corrobora tudo que já foi dito2. Há
dois pontos, contudo, que gostaria de mencionar a título de esclarecimento, a fim de
desembaraçar a trama de confusão traçada por este panfleto.
Mais do que isso, a virada na linha trotskista sobre o Vietnã coincidiu com a
viagem de Nixon à China. Os trotskistas tinham espalhado propaganda no sentido de
que os chineses estavam se encontrando com Nixon para 'tratar' da questão do Vietnã,
sem consulta ao povo vietnamita. Esta era parte integral de sua propaganda diária
contra este bastião do socialismo. A verdade é que o governo, o Partido e o povo
chinês tinham demonstrado na pratica que eram os mais confiáveis aliados do povo
vietnamita e que nunca fariam um 'negócio' com o imperialismo dos EUA à custa do
povo vietnamita. Nixon foi à China em reconhecimento da posição enfraquecida do
imperialismo dos EUA. O imperialismo dos EUA não poderia por muito tempo recusar-
se a reconhecer a realidade da existência da China. Nixon pode ter esperado todo tipo
de "negócios' (todos os reacionários fazem isso) porém certamente não conseguiria
um na China. Os trotskistas, no intuito de difamar a China e difundir calúnias
maliciosas, começaram a gritar que "os burocratas chineses estão traindo a luta do
povo vietnamita". A fim de tornar convincente esta calúnia maliciosa, os trotskistas
contra-revolucionários tinham de dar a impressão de que apoiavam a FLN. Esta, então,
é a explicação. A verdade é que foram os burocratas trotskistas que o tempo todo
fizeram o melhor que podiam para solapar a luta do povo vietnamita. Os camaradas
chineses, por outro lado, tinham dado apoio total, tanto material quanto político, ao
povo vietnamita.
Notas
Chris Hani foi um lutador. Ele nasceu na pobreza no Transkel rural. Sua mãe era
analfabeta e seu pai, um mineiro que trabalhava a centenas de milhas de distância,
no
Transvaal. Ele dedicou sua vida à derrubada do regime racista branco na África do
Sul, e por esta dedicação ele foi assassinado.
Porém, Hani não foi apenas um lutador. Ele foi também um stalinista perverso.
Hani foi responsável pela supressão dos motins e pelo encarceramento dos
guerrilheiros dissidentes da ANC no notório campo de prisão Quatro em Angola, que
era dirigida por pessoal treinado pela KGB e pela rancorosa polícia secreta da
Alemanha Oriental, a Stasi.
O fato de que a imprensa liberal está agora cheia de elogios a este 'homem
supremamente honesto' mostra quão profundamente verdadeiro é o velho ditado
de que 'quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas'.
Nos anos 30, as câmaras de tortura da URSS, seu Gulag e o governo de mentiras
de Stalin foram defendidas e justificadas pelos liberais e stalinistas como 'mal
menor'. Assim, hoje os liberais, os stalinistas e os terceiro-mundistas parecem estar
preparados para esquecer que, se Hani tivesse subido ao poder, teria sido como uma
peça da máquina do Estado impondo uma tirania de ferro sobre a classe operária.
Mesmo após 1989 é ainda possível ser ambas as coisas, um lutador contra o
capitalismo e um inimigo do socialismo da classe operária. Chris Hani o provou."
Imagens da peça
“Sombras do Passado”, exibida
no aniversário de 89 anos do PCB
http://pcbcascavel.wordpress.com