Você está na página 1de 101

PerCeBer Informes da Revolução

Partido Comunista Brasileiro www.pcb.org.br


. N° 202 – 31.03.2011

Especial: Debate
Leninistas X trotskistas
Reflexões sobre questões “Proletários de todos os países, uni-
vos!”, convocaram Marx e Engels.
antigas para motivar um Entretanto, a difícil e necessária
obrigação de unir a classe traba-
exame da atual política lhadora não pode nos isentar de
debater problemas antigos do mo-
de aliança dos comunistas vimento. Como 2011 é ano sem e-
leições, seria importante ter claro
os argumentos de cada campo e ao
mesmo tempo aprofundar os esfor-
ços pela formação da Frente Anti-
capitalista e Anti-imperialista.
Nesta edição especial do PerCeBer,
publicamos opiniões fortemente
sustentadas por argumentos para
defender diferentes pontos de vista.
Stálin, Lênin. Trotski, figuras de proa da Revolução Russa
de 1917: o PCB é programaticamente marxista-leninista

O PCB, fundamentalmente, tem ori- sunindo e criando confusões, é a qua-


gem no marxismo-leninismo, que não lidade de seu pensamento de sua ação,
concebemos em diminuir em favor de que se pode resumir na seguinte ex-
conceitos stalinistas, trotskistas ou re- pressão: pela unidade da classe traba-
visionistas de qualquer tipo. É a análi- lhadora, contra o capitalismo e o impe-
se segundo as categorias marxistas e a rialismo.
forma de organização leninista que es-
trutura nosso pensamento e ações. O comunista, portanto, é proletário,
unificador, anticapitalista e anti-
É nosso dever vigiar para que a classe imperialista.
trabalhadora não se deixe arrastar por
concepções burguesas, que levam à
conciliação de classes, ou seja, à sub-
missão dos trabalhadores aos patrões,
nem pelos conceitos pequeno-
burgueses, radicais na linguagem mas
incompetentes na ação e instigados a
mais desunir que unir, presa fácil de
mastins da opressão, como a CIA e a
imprensa capitalista e imperialista.

O que distingue o verdadeiro comunis-


ta dos que alegam estar a serviço do
socialismo mas jogam contra ele, de-
Vamos ao debate!
VIDA DOS PARTIDOS

Seminário na Itália
Comunistas revolucionários hoje, isto é trotskistas!
CLAUDIO MASTROGIULIO (Itália)

Ocorreu em Rimini, de 10 a 12 de setem-


bro, o seminário sobre a atualidade do
trotskismo, organizada pelo Partido da
Alternativa Comunista (PdAC) em cola-
boração com as demais seções européias
da LIT - QI. [...] Neste ano os três dias
de estudo e debates envolveram, além
dos militantes e simpatizantes, também
companheiros e companheiras que par-
ticipavam pela primeira vez em uma reu-
nião do PdAC, interessados em conhecer
o partido. A sala era cheia, com todos os
lugares ocupados. sobre o governo burguês de Kerensky partido de vanguarda, no quadro de uma
em outubro de 1917. crise capitalista sem precedentes.
A atualidade do trotskismo A quarta foi feita por Fabiana Stefanoni: A comunicação conclusiva, “Construir a
para as lutas de hoje “Trotsky contra o stalinismo: da última Quarta Internacional hoje, construir a
O seminário deste ano, partindo do se- batalha com Lenin à Oposição de Es- LIT”, apresentada pelo companheiro Fe-
tuagésimo aniversário do assassinato de querda”. O centro foi a análise concreta lipe Alegria, dirigente do PRT-IR, seção
Trotsky mostrou a absoluta atualidade do da diferença tática e estratégica existente espanhola da LIT, enfatizou o sentido da
pensamento e da obra de Trotsky [...]. entre a melhor tradição do bolchevismo batalha da LIT como instrumento para a
não com a intenção de santificar a figura (Lenin e Trotsky) e... o stalinismo. reconstrução da Quarta Internacional.
do revolucionário russo mas, ao contrá- Em seguida, Alberto Madoglio ocupou-
rio, tendo presente como o processo de se de “Trotsky contra o fascismo e as Um debate com dezenas
reconstrução histórica é absolutamente Frentes Populares (1927-1933)”, reto- de intervenções... e, por fim,
necessário para uma análise do presente. mando a capitulação stalinista, primeiro uma "festa trotskista"
O seminário desenvolveu-se em torno de ao nazismo (1933), e depois às princi- [...] O seminário não foi apenas uma se-
uma série de comunicações de temas in- pais potências capitalistas liberais (polí- quência de comunicações, mas envolveu
terligados. tica das frentes populares na França e ativamente os presentes em um debate
A primeira comunicação foi uma intro- Espanha). Um tema de grande atuali- com algumas dezenas de intervenções.
dução à vida e à obra de Trotsky, feita dade pela retomada desta política de co- Entre estas, muitos jovens (entre os
por Davide Margiotta, na qual se des- laboração da esquerda governista com o quinze e os dezoito anos que aderiram ao
creve a figura do revolucionário e o pano adversário de classe. PdAC depois de uma breve experiência no
de fundo dos acontecimentos que carac- Na sexta, Valerio Torre falou de “Trotsky PRC)... Significativamente, o convidado
terizaram sua vida. e a batalha pela Quarta Internacional mais aplaudido foi Ciro D'Alessio, dos
A segunda, a cargo de Patrizia Camma- (1933-1940)”, aquela que Trotsky defi- operários em luta na Fiat de Pomigliano,
rata, apresentou e descreveu em detalhes niu como a mais importante das batal- que trouxe o testemunho da luta de classe
as circunstâncias tratadas no filme sobre has travadas em sua vida. Uma batalha simbolicamente mais importante desta
Trotsky, projetado sucessivamente, com que o conduziu, junto a outros, à sua fase. Presentes também companheiros e
imagens de arquivo e com uma entre- criação política mais significativa e ao companheiras de outras seções da LIT:
vista com o falecido historiador trotskista mesmo tempo mais difícil: a Quarta In- não apenas da Europa, mas inclusive da
francés Pierre Broué. ternacional. Pela mesma razão histórica nossa seção brasileira, o PSTU.
Na terceira, “Trotsky e o bolchevismo: de a LIT reúne hoje o potencial para o sur- E no sábado, merecido repouso depois de
1903 à vitória de outubro de 1917”, Rug- gimento e o desenvolvimento do partido horas de estudo e de debate: música e
gero Mantovani tratou o período que vai revolucionário mundial. cantos em uma noite que, dado o sentido
do segundo congresso do POSDR [Par- Na sétima, “Trotsky, o partido e o pro- do seminário, não podia ser denominada
tido Operário Social-Democrata Russo] e grama revolucionário: ontem e hoje”, de outra forma que festa comunista revo-
a cisão entre bolcheviques e menchevi- Francesco Ricci, tomou em consideração lucionária, isto é "festa trotskista". De:
ques até a vitória do proletariado russo a efetiva atualidade do trotskismo e do http://www.partitodialternativacomunista.org/
48 CORREIO INTERNACIONAL
Antitrotskismo: manual do usuário

Alvaro Bianchi*

Tomei conhecimento, com retardo de alguns dias, do artigo publicado pelo


publicista português Miguel Urbano Rodrigues em O Diário.info, com data de 11 de
dezembro de 2008, a respeito de Leon Trotsky.1 E embora minha reação seja

extemporânea creio necessário divulgá-la. Urbano Rodrigues é um veterano jornalista


que durante seu exílio no Brasil trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo e na revista
Visão. É também conhecido comunista e ocupou a frente do jornal Avante! após a
Revolução dos Cravos, além de ter sido deputado na década de 1990 em Portugal. Mas
o que motiva esta resposta não é a trajetória militante do jornalista, nem a difusão de
seus textos no Brasil e Portugal e sim as idéias que tem lugar no artigo. Pode se objetar
que não são idéias novas. De fato, como será visto mais adiante, trata-se da reprise de
velhos temas do antitrotskismo sobre os quais se torna necessário voltar mais uma vez.
Em seu artigo, intitulado “Apontamentos sobre Trotsky: o mito e a realidade”,
Urbano Rodrigues resmunga inconformado sobre um suposto paradoxo: ninguém hoje
fala de Mikhail Gorbachev, mas “Trotsky continua a ser um tema que fascina muitos
intelectuais da burguesia, alguns progressistas, e dezenas de organizações trotskistas na
Europa e sobretudo na América Latina”. Admirado com esse “paradoxo” o articulista
interroga-se: Por que essa sobrevivência de algumas teses do trotskismo no debate
contemporâneo se contraditoriamente os partidos e movimentos trotskistas não são uma
“força política com influência real no rumo de qualquer país”?
O “paradoxo” anunciado por Urbano Rodrigues é, evidentemente, artificial. O
que tem a ver Gorbachov com Trotsky? Acaso o primeiro era um partidário,
simpatizante ou mero admirador do segundo? Acaso as idéias de ambos eram similares
em algum ponto? E quais são os tais “intelectuais da burguesia” fascinados por Trotsky?
Em que “grandes universidades do Ocidente” eles estão? Que livros publicaram? Que
artigos escreveram? Talvez o jornalista esteja fazendo referência ao monumental estudo

*
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas, diretor do
Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) e secretário de redação da revista Outubro.
1
Miguel Urbano Rodrigues. Apontamentos sobre Trotsky: o mito e a realidade. O Diario.info, 11 dez.
2008. Disponível em: http://www.odiario.info/articulo.php?p=973&more=1&c=1
2

de E. H. Carr sobre a revolução bolchevique.2 Carr não era marxista e, em alguns pontos

de sua narrativa, parece concordar com as posições de Trotsky, embora deixe claras
suas inúmeras críticas. Mas afirmar que ele se encontrava fascinado pela vida e obra do
revolucionário russo é no mínimo um exagero. Além do mais, infelizmente, Carr
morreu há mais de 25 anos. Será que o espectro de sua enciclopédica pesquisa ainda
assombra Urbano Rodrigues?
O suposto paradoxo apontado por Urbano Rodrigues parece encontrar apoio na
identificação feita por ele entre antistalinismo e anticomunismo. Mas não há razão
nenhuma para estabelecer tal identidade a não ser que o comunismo seja identificado
com o stalinismo. Esse parece ser o ponto. Apegado a velhas idéias que há muito foram
submetidas à critica devastadora o jornalista identifica o programa do comunismo e seu
projeto de emancipação, com seu oposto, o stalinismo e o regime que ele deu lugar na
União Soviética. A simpatia do jornalista por Stalin é assumida e em vários momentos
se expressa apologeticamente. Protestando contra a satanização de Stalin, o jornalista
escreveu:
“Sem a sua [de Stalin] acção à frente do Partido e do Estado, a
URSS não teria sobrevivido à agressão bárbara do Reich nazi, sem
ela a pátria de Lenine não se teria transformado em poucas décadas
na segunda potencia mundial, impulsionando um internacionalismo
que apressou a descolonização, incentivou e defendeu revoluções no
Terceiro Mundo e estimulou poderosamente a luta dos trabalhadores
nos países desenvolvidos do Ocidente.”

Não deixa de ser chocante que antes de ousar escrever sua engajada defesa do
secretário-geral, Urbano Rodrigues apresente como uma façanha o fato de ter “sido dos
primeiros comunistas portugueses a criticar o dogmatismo subjectivista de Stáline num
livro apreendido pela ditadura brasileira”. Chocante não é o fato de ele achar que a
crítica ao “dogmatismo subjetivista” vá ao âmago do fenômeno stalinista e sim o fato
dessa crítica superficial ter sido feita “em 1968”, ou seja, doze anos depois do relatório
Khrushchev e das referências aos “excessos” Stalin terem se tornado freqüentes na
imprensa comunista internacional! O fato de Urbano Rodrigues estar no Brasil quando
de sua façanha a torna ainda mais chocante essa “crítica”. No final dos anos 1950 e
início dos anos 1960 a crítica ao stalinismo era corrente em diversas tendências da
esquerda brasileira, não apenas trotskistas. Também no interior do Partido Comunista
Brasileiro, organização que sempre se manteve fiel às diretrizes da União Soviética,

2
E. H. Carr. The Bolshevik Revolution 1917-1923. New York : MacMillan, 1950-1953, 3v.
3

essa era uma crítica frequente. A façanha de estar doze anos atrasado inocenta Urbano
Rodrigues do quê?
Mas a crítica de Urbano Rodrigues a Stalin, mesmo atrasada, estava longe de ser
profunda. Ela limitava-se a “sua postura perante o marxismo e a condenação dos seus
métodos e crimes”. Mas Stalin permanecia para o jornalista como “um revolucionário
cuja contribuição para a transição do capitalismo para o socialismo na União Soviética
foi decisiva”. O programa político do stalinismo permaneceria, assim, válido.
Necessário seria, então, corrigir os excessos e mudar a “postura perante o marxismo”.
Nos anos 1960 era essa a versão esclarecida do stalinismo. Hoje, quando a maior parte
dos partidos comunistas definha perdendo peso social e relevância política essa é sua
versão senil.
Evidentemente, não são os “intelectuais da burguesia” os que incomodam
Urbano Rodrigues e sim as “dezenas de organizações trotskistas na Europa e sobretudo
na América Latina”. É significativo que esse novo ataque ao trotskismo ocorra
justamente quando essas organizações revelam uma forte tendência ao crescimento e à
expansão, tendência simetricamente oposta à apresentada pelos antigos partidos
comunistas.

Velhos e velhíssimos argumentos

É verdade que a demonização não contribuiu para a compreensão do fenômeno


staliniano. Embora estivesse carregada de um juízo muito rigoroso sobre a
personalidade do secretário-geral a crítica de Trotsky à burocracia soviética contribuiu
de modo decisivo para uma visão política e social do fenômeno stalinista e do próprio
Stalin que se afastava de toda tentativa de moralização e satanização. Para Trotsky, o
“stalinismo é, acima de tudo, o trabalho automático de um aparelho sem personalidade
no declínio da revolução”.3 E em outra oportunidade escreveu de modo lapidar: “Stalin
não é uma personalidade: ele é a personificação da burocracia”.4 A burocracia soviética

encontrou em Stalin sua encarnação, assim como após sua morte entrou seus
sucedâneos. Por outro lado, o stalinismo sempre foi, para Trotsky não a encarnação do
mal, mas um programa político consubstanciado nas teorias do socialismo em um só

3
Leon Trotsky. Ma vie. Paris: Gallimard, 1953, p. 592.
4
Leon Trotsky. Ce que je pense de Staline. In: Oeuvres. Grenoble: Institut Leon Trotsky, 1986, p. 214.
4

país e da revolução por etapas. Por essa razão, não é impróprio falar de stalinismo ou de
partidos stalinistas após o relatório Khrushchev, quando os crimes de Stalin e o culto à
personalidade foram denunciados mas seu programa político preservado.
Para tornar mais preciso esse conceito do stalinismo é necessário acrescentar que
ele se define, também, pela simples negação – teórica, política e, em seus momentos,
física – de seu antagonista. O stalinismo é, também, um antitrotskismo. Assim como o
stalinismo reciclou-se, também o antitrotskismo o fez. Nos infames Processos de
Moscou, Trotsky foi acusado nos de ser agente da Gestapo e liderar movimentos de
sabotagem ao Estado soviético. Para Urbano Rodrigues “esse tipo de calúnias é tão
absurdo, como expressão de um ódio irracional, como o esforço realizado por escritores
anticomunistas e alguns governos para criminalizarem o comunismo como sistema
comparável ao fascismo”. E tem razão.
Para além dos insultos e grotescas acusações, uma parte do arsenal do
antitrotskismo consistiu no uso de passagens dos escritos de Lenin nos quais o dirigente
do Exército Vermelho era alvo da crítica. Mas tarde essas passagens foram reunidas em
coletâneas.5 Isso, entretanto, foi insuficiente e prontamente se revelou necessário

reescrever toda a história da revolução russa, operação que encontrou sua forma mais
acabada na infame História do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevique),
publicada em 1938. A autoria desse livro de “história” era atribuída a uma comissão
nomeada pelo Comitê Central, mas dez anos depois um artigo publicado na imprensa
soviética atribuiu a verdadeira autoria a Stalin.6

Exceto por alguns renitentes arquistalinistas, o antitrotskismo depurou seus


aspectos mais grotescos e procurou apresentar-se de modo mais sofisticado após a
morte de Stalin.7 Sua intensidade, entretanto paradoxalmente aumentou, dando lugar a

5
P. ex. V. I. Lenin. Trotzky julgado por Lenine. Rio de Janeiro: Calvino, s.d..
6
Central Comitte of the C.P.S.U(b). History of the Communist Party of the Soviet Union (Bolsheviks).
Nova York, International Publisher, 1939. Para os antecendentes desse livro, bem como para a questão de
sua autoria, ver Raymond Garthoff. The Stalinist revision of History: the case of Breast-Litovsk. World
Politics, v. 5, n.1, p. 66-85, 1952.
7
O arqui ou arqueostalinismo ainda persiste. Em uma bizarra biografia de Stalin na qual seu autor
procura construir uma aparência de cientificidade citando alguns estudos pouco conhecidos ao mesmo
tempo em que trunca e descontextualiza as citações de praxe, é afirmado: “Com efeito, em 1936, estava
evidente para qualquer pessoa, analisando lucidamente a luta de classes no nível internacional, que
Trotski tinha degenerado a ponto de se tornar um joguete das forças anticomunistas de todo gênero”. O
mesmo biografo justifica os processos contra Piatakov afirmando que ele “tinha utilizado em grande
escala especialistas burgueses para sabotar as minas”. A acusação é ridícula, mas o autor a torna mais
grave, uma vez que a atribúi aos trotskistas, sem mencionar que no final da década de 1930 Piatakov
havia rompido com Trotsky (ver Ludo Martens. Stalin: um novo olhar. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p.
178 e 185).
5

uma verdadeira “síndrome antitrotskista”, nas palavras do historiador Gabriel García


Higueras. A partir de meados dos anos 1960, respondendo, evidentemente ao
crescimento do movimento trotskista, novos textos foram publicados. Robert McNeal,
listou 29 livros contra Trotsky e o trotskismo publicados pela União Soviética entre
1965 e 1975 e García Higueras enumerou dez traduções para o espanhol desses
trabalhos.8 Dentre essa literatura se destacam o incansável Mikhail Basmanov, além do
não menos cansativo Leo Figuères.9 Nesse período surgiu, também uma nova variante
do antitrotskismo, a liberal e, mais recentemente, outra pós-soviética.10 Os maoístas

também deram sua esquizofrênica contribuição. Enquanto na França Kostas Mavrakis


se esforçava para comprovar que sua crítica a Trotsky se distanciava da grosseira
representação staliniana, em Pequim, onde não eram dados a tergiversar, dispensavam
intermediários e publicavam uma alentada coletânea de textos de Stalin contra Trotsky e
as oposições.11

Muito embora parte dessa bibliografia tenha eliminado as características mais


brutais desse tipo de literatura, o antitrotskismo manteve ao longo do tempo alguns
argumentos reiterados à exaustão. Não acrescentou novos e esclarecedores documentos,
nem interpretações originais. Também não reagiu à publicação dos alentados estudos de
E. H. Carr e de Isaac Deutscher, limitando-se a contrapor aos novos documentos e
argumentos, simplesmente aquilo que estes desmentiam. Grosso modo, essa literatura
não foi além daquilo que já estava na História do Partido Comunista da União
Soviética (Bolchevique), depurando, em suas melhores versões, seus excessos.

8
Robert H McNeal. The revival of Soviet anti-trotskysm. Studies in comparative Communism. V. X, n.
1-2, p. 5-17, 1977. Gabriel García Higueras. Trotsky em El espejo de la história. Lima: Tarea Educativa,
2005, p. 228
9
M. I. Basmanov. La esencia antirrevolucionaria del trotskismo contemporâneo. La Habana: Ciencias
Sociales, 1977; Os trotskistas e a juventude. 2 ed. Lisboa : Estampa, 1975; La fraseología “izquierdista”
al servicio de los enemigos de la paz: el trotskismo y la distensión internacional. Moscovo: Nóvosti,
1975, M. I. Basmanov et al. El falso profeta: Trotski y el trotskismo. Moscou: Progresso, 1986; e Léo
Figuères. O trotskismo. 2 ed.. Lisboa: Estampa, 1974.
10
A vertente liberal pode ser ilustrada por Joel Carmichael. Trotsky: an appreciation of his life. London:
Hodder and Stoughton, 1975. A vertente pós-soviética é representada, dentre outros, por Dmitrii
Antonovich Volkogonov. Trotsky: the eternal revolutionary. New York: The Free Press, 1996; Ian D.
Thatcher. Trotsky. London: Routledge, 2003 e Geoffrey Swain. Trotsky. Londres: Longman, 2006.
Embora Urbano Rodrigues goste de inventar paradoxos, não se deu conta do paradoxo que representa a
existência, ao lado do antitrotskismo staliniano de outros – liberal e pós-soviético – que apresentam
grande coincidência de argumentos com o primeiro, embora com propósitos diferentes.

11
Kostas Mavrakis. Du trotskysme: questions de theorie et d histoire. Paris: F. Maspero, 1971 e J. V.
Stalin. On the opposition, 1921-1927. Pequim: Foreign Languages Press, 1974. Alguns desses textos de
Stalin foram republicados logo a seguir em Portugal Josef Stalin. Escritos sobre o trotskismo, 1924-1937:
Trotskismo ou leninismo?. [Lisboa]: Pensamento e Acção, 1975 e Trotskismo ou leninismo. Lisboa: Seara
Vermelha, 1976.
6

Urbano Rodrigues dá mais uma volta nesse parafuso. Seu artigo é um pequeno
manual do antitrotskismo. Não acrescentou nada de novo ao debate, reprisou temas e
argumentos e, conforme será demonstrado a seguir, reproduziu de modo acrítico a
contestada versão da historiografia staliniana. O argumento central do jornalista é muito
simples: Trotsky e Lenin discordaram em várias oportunidades e polemizaram de modo
muito duro.12 Mas o que há de novo em afirmar que a posição de ambos era diferente na

conferência de Zimmerwald, em 1916, assim como em Brest-Litovsk, em 1917, e no


tocante aos sindicatos soviéticos, em 1921? Poderiam ser enumerados outros muitos
casos, talvez o mais importante dos quais seja o desacordo no Segundo Congresso do
POSDR e as críticas do jovem Trotsky à concepção de partido de Lenin. Mas não há
nada a esse respeito que Basmanov, Figuères e Mavrakis não tenham dito, e antes deles
o infame manual de história do Partido Bolchevique.
De modo pouco imaginativo Urbano Rodrigues decidiu retornar a velhos e
gastos argumentos. Não citou nenhuma pesquisa recente sobre o tema, nem trouxe
nenhuma nova informação; apenas repetiu. Sua descrição dos desacordos a respeito de
Brest Litovsk é, nesse sentido, exemplar e, por essa razão, será aqui melhor discutida.
Referindo-se aos desacordos no interior do partido Bolchevique, o jornalista acusa
Alfred Rosmer e Rosenthal de terem omitido “que meses depois da sua adesão ao
Partido Bolchevique, quando já exercia funções de grande responsabilidade, como
dirigente, Trotsky divergiu de Lenine em questões de grande importância em momentos
cruciais.” A acusação pode justificar-se com relação a Rosmer. De fato, em seu livro
Moscou sous Lénine, o comunista francês não destaca essas diferenças, preferindo
enfatizar aquelas que existiam com Bukharin e os “comunistas de esquerda”. Mas é
completamente injustificada com relação a Rosenthal, que começa sua narrativa em
1927!13 Além disso, Urbano Rodrigues poderia ter destacado o fato de que Isaac

Deutscher, Pierre Brouè, Tony Cliff e Jean-Jacques Marie, simpatizantes de Trotsky e

12
Quem quer que conheça as obras de Lenin e Trotsky saberá que não havia uma “veemência verbal
pouco comum”, como afirma Urbano Rodrigues. Os termos utilizados no debate não diferem daqueles
que dirigiram a outros bolcheviques em ocasiões diversas. Podem-se censurar os excessos retóricos que
marcavam o modo russo de conduzir o debate político, mas enquanto Lenin viveu essa veemência não se
transformou em insultos ou falsas acusações como ocorreu com a publicística staliniana após 1924.
13
Alfred Rosmer. Moscou sous Lénine. Paris: Maspero, 1970 e Gerard Rosenthal. Avocat de Trotsky.
Amadora: Bertrand, 1975.
7

autores de incontornáveis biografias a respeito, detalharam à exaustão essas


diferenças.14

De volta a Brest-Litovsk

Tem razão o jornalista, quando afirma que a “participação de Trotsky em Brest


Litowski continua a ser tema polémico”. O stalinismo falsificou abertamente a história
para criar boa parte dessa polêmica. Na História do Partido Comunista da União
Soviética (Bolchevique) uma fantasiosa versão referente às polêmicas que tiveram
ocasião no Partido Bolchevique à época das negociações em Brest-Litovsk foi
apresentada. De acordo com essa versão, Trotsky, os “comunistas de esquerda” e os
socialistas revolucionários de esquerda tramaram um complô para prender e assassinar
Lenin, Stalin e Sverdlov:
“Mas o recente processo do anti-soviético ‘Bloco de Direitistas e
Trotskistas’ (início de 1938) revelou agora que Bukharin e o grupo
de “comunistas de esquerda” liderado por ele, juntamente com
Trotsky e os socialistas-revolucionários ‘de esquerda’, conspiravam
contra o governo soviético. Agora é sabido que Bukharin, Trotsky e
seus companheiros conspiradores tinham determinado romper a Paz
de Brest-Litovsk, prender V. I. Lenin, J. V. Stalin e Y. M. Sverdlov,
assassiná-los e formar um novo governo com bukharinistas,
trotskistas e socialistas revolucionários ‘de esquerda’” 15

O livro cometia a proeza de falsificar os Processos de Moscou. No próprio juízo


contra o “Bloco de Direitistas e Trotskistas”, Bukharin desmentiu essa versão, negando
categoricamente qualquer plano para assassinar Lenin. Bukharin, entretanto, reconheceu
que os “comunistas de esquerda” Karelin e Kamkov compareceram a uma reunião na
qual os socialistas revolucionários fizeram a proposta de prender Lenin por 24 horas e
assumir o comando da revolução, rompendo os acordos de Brest-Litovsk. Também
afirmou que ambos comunistas rejeitaram veementemente a proposta. 16 Fica claro na

14
Isaac Deutscher. Trotski. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, 3 v.; Pierre Brouè. Trotsky.
Paris: Fayard, 1988; Tony Cliff. Trotsky. Londres: Bookmarks, 1990, 4v.; e Jean-Jacques Marie. Trotsky:
révolutionnaire sans frontières. Paris: Payot, 2006. Urbano Rodrigues cita Deustcher, mas claramente
desconhece a obra de Brouè, Cliff e Marie, uma vez que afirma que nas últimas décadas não foram
publicados “livros importantes que acrescentem algo de significante”. Sobre esses autores é preciso
esclarecer que Deutscher afastou-se das idéias de Trotsky e da Quarta Internacional, o que fica evidente
no terceiro volume de sua biografia.
15
Central Comitte of the C.P.S.U(b). History of the Communist Party of the Soviet Union (Bolsheviks).
Nova York, International Publisher, 1939, p. 218.
16
Last Plea of Bukharin. The Slavonic and East European Review, v. 17, n. 49, 1938, p. 128-129.
8

narrativa de Bukharin que, apesar da tortura e chantagem nas quais esta havia sido
forjada, ele não implicou Trotsky em nenhum complô. Sobre esse ponto, Bukharin,
desafiando seus algozes ao menos uma vez, não disse nada que já não estivesse
registrado nos anais da história, uma vez que o mesmo havia, em 1923, notificado o
partido sobre essas conversas e o assunto havia sido comentado pelo jornal Pravda em
1924.17 Mas para os dirigentes soviéticos a “confissão” de Bukharin embora forjada era

insuficiente, foi necessário, assim, falsificá-la, atribuindo-lhe o que nunca disse.


A História do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevique) também
confundia as posições de Trotsky e Bukharin a respeito da paz, embora fossem
significativamente diferentes. Segundo o manual,
“Os aliados nesse sinistro esquema eram Trotsky e seu cúmplice
Bukharin, o ultimo juntamente com Radek e Pyatakov liderando um
grupo hostil ao partido, mas camuflado sob o nome de “comunistas
de esquerda”. Trotsky e o grupo dos “comunistas de esquerda”
deram início a uma feroz luta no partido contra Lenin, exigindo a
continuação da guerra. Essas pessoas faziam claramente o jogo da
Alemanha imperialista e dos contra-revolucionários no país, pois
agiram para expor a jovem república soviética, a qual não tinha
ainda um exército, às garras do imperialismo germânico.”18

Segundo a História staliniana Lenin declarou que Bukharin e Trotsky “ajudaram


o imperialismo alemão e entorpeceram o crescimento e desenvolvimento da revolução
alemã.”19 No texto original Lenin fez referência a Bukharin e outros “comunistas de
esquerda”, mas não citou uma única vez a Trotsky.20 Além de adulterar citações, o

manual também ignorava as resoluções do partido e dos soviets que haviam sido
tomadas e criava outras que nunca tiveram nem poderiam ter tido lugar, uma vez que
Lenin era, em fevereiro, minoria no Comitê Central Bolchevique. A conclusão óbvia
dessa fantasiosa história era que Trotsky não passava de um traidor:
“No dia 18 de fevereiro, as negociações de paz em Brest-Litovsk
foram rompidas. Embora Lenin e Stalin, em nome do comitê Central
do Partido tivesse insistido que a paz deveria ser assinada, Trotsky,
que liderava a delegação soviética em Brest-Litovsk, traiçoeiramente
violou as instruções diretas do Partido Bolchevique. Ele anunciou
que a República Soviética recusava concluir a paz nos termos
propostos pelos alemães. Ao mesmo tempo informou os alemães que

17
Raymond Garthoff. Op. cit., p. 71.
18
Central Comitte of the C.P.S.U(b). Op. cit., p. 216.
19
Idem, p. 217.
20
V. I. Lenin. Una seria lección y una seria responsabildad. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v.
XXVIII, p. 285.
9

a República Soviética não lutaria e continuaria a desmobiliar seu


exército. Isso foi monstruoso. Os imperialistas alemães não poderia
desejar anda mais desse traidor dos interesses do país dos soviets.”21

Embora o manual de historia stalinista faça um amálgama entre as idéias de


Trotsky e Bukharin, durante as negociações três eram as posições no interior do partido
Bolchevique: Lenin, apoiado por Zinoviev e Stalin, propunha que fossem aceitas todas
as condições dos alemães nas negociações; Bukharin e os chamados “comunistas de
esquerda”, defendiam a ruptura das negociações e a declaração de uma “guerra
revolucionária” contra as potências imperialistas; Trotsky, por sua vez, advogava uma
política na qual os bolcheviques deveriam se retirar das negociações e decretar a paz
unilateralmente, sem aceitar as condições dos alemães.
A política de Trotsky, resumida pela palavra-de-ordem “nem paz, nem guerra”,
era uma tentativa de ganhar tempo nas negociações apostando na estabilização do poder
soviético e num levante dos trabalhadores ocidentais contra a guerra. A recusa à “paz”
significava, nessa perspectiva, a rejeição das condições impostas pelos alemães e a
denúncia de seus propósitos belicistas e anexionistas. A posição do representante do
novo Estado soviético nas negociações era, certamente, a mais complexa e implicava
uma fina percepção das mudanças na política das grandes potências e o
acompanhamento dos acontecimentos no movimento operário europeu e, não menos
importante, no desenrolar da guerra no front ocidental.
Embora Lenin não concordasse com todas as conseqüências da posição de
Trotsky, não foi com esta que debateu de modo mais firme e sim com a posição de
Bukharin. A posição deste último parecia ser majoritária na base do partido,
principalmente em Moscou. Em uma reunião realizada no dia 8 de janeiro com os
delegados bolcheviques que participariam da reunião do 3º Congresso dos Soviets, a
posição de Bukharin obteve 32 votos, a de Trotsky, 16 e a de Lenin, francamente
minoritária, recebeu 15 votos.22 A seguir foi feita uma consulta com duas centenas de

21
Central Comitte of the C.P.S.U(b). Op. cit., p. 216.
22
Isaac Deutscher. Trotski: o profeta armado, 1879-1921. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1984, p. 397 e Sydney D Bailey. Stalin’s falsification of history: the case of the Brest Litovsk treaty.
Russian Review, v. 14, n. 1, 1955, p. 26.
10

soviets locais sobre o tema da paz. Apenas dois foram a favor da paz – Petrogrado e
Sebastopol – e os demais votaram a favor da Guerra revolucionária.23

Um áspero debate teve lugar a respeito no interior do Comitê Central, durante


sua sessão de 11 de janeiro de 1918. As teses escritas por Lenin para essa reunião
criticavam de modo minucioso “os argumentos em favor de uma guerra revolucionária
imediata”, mas não faziam menção a Trotsky ou a sua posição nos debates.24 Após

apresentar suas teses, Lenin encaminhou proposta pela qual o Comitê Central autorizava
a protelar por todos os meios a assinatura da paz.25 A resolução de Lenin foi aprovada e

apenas Zinoviev, propenso a aceitar rapidamente as condições dos alemães, votou


contra ela. Lenin mantinha, entretanto, seus desacordos com o representante dos soviets
em Brest Litovsk, como fica claro em seu discurso nessa reunião. Segundo Lenin, a
posição de Trotsky era “uma demonstração de política internacional. Ao retirar nossas
tropas o que conseguimos é entregar aos alemães a República Socialista da Estônia”.26

Lenin considerava que a posição de Trotsky poderia tornar-se perigosa, embora no


momento não fosse, e levar a concessões ainda maiores.
Depois de aprovada a moção de Lenin com o voto de Trotsky, este último
apresentou outra proposta de resolução que não era contraditória com a anterior:
“Interrompemos a guerra e não assinamos a paz – desmobilizamos o Exército”, por
nove votos contra sete.27 As versões sobre essa votação são bastante contraditórias.

Serge escreveu a respeito que “Zinoviev, Stalin e Sokolnikov apoiaram Lenin. Lomov e
Kretinski votaram pela guerra; a fórmula apoiada por Trotski, Bukharin e Uritski –
prolongar as negociações – obteve a maioria dos votos.”28 Mas Serge parece confundir

duas votações diferentes. Além do mais todos os historiadores são unânimes em afirmar
que Lenin encaminhou e votou na proposta de prolongar as negociações. Há também
um grande acordo sobre o número de votos que a proposta de Trotsky recebeu. A

23
John W. Wheeler-Bennett. Brest-Litovsk: the Forgotten Peace, March 1918 . London : Macmillan,
1938, p. 191 (o livro de Wheeler-Bennett, um historiador conservador, permanece até o momento uma
fonte incontornável pela sua riqueza de detalhes ) e Leon Trotsky. Ma vie. Paris: Gallimard, 1953, p. 453-
454.
24
V.I. Lenin. Para La historia de uma paz infortunada. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v.
XXVIII, p. 118-126.
25
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. Op. cit., p. 132.
26
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 132.
27
Isaac Deutscher. Op. cit., p. 398.
28
Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 199.
11

questão é, então se ela recebeu o apoio de Lenin na votação. Deutscher não afirma se
Lenin votou ou não na posição de Trotsky e Carr escreve não ser possível determinar
como votaram os membros do comitê central, mas Jean-Jaques Marie em uma pesquisa
mais recente afirma que para “Lenin, desmobilizar o exército sem concluir a paz era ir
demasiado longe: ele vota contra”.29 O 3º Congresso dos Soviets realizado pouco depois

aprovou resoluções semelhantes, bem como o relatório de Trotsky sobre as negociações


de Brest Litovsk no qual sua linha era apresentada e defendida.
Foi com essas resoluções e nenhuma outra que Trotsky partiu novamente para
Brest. Mas antes de fazê-lo reuniu-se privadamente com Lenin e concordou com este de
que se sob certas circunstâncias, dentre as quais a retomada das operações militares
pelos alemães, abandonaria sua política em favor de Lenin. Este último, então,
perguntou: “Mas nesse caso você não apoiaria a palavra-de-ordem de guerra
revolucionária, não é mesmo?” A resposta de Trotsky foi taxativa: “Sob circunstância
alguma”. “Então”, ponderou Lenin, “o experimento pode não ser tão perigoso”. E a
seguir concluiu jocosamente: “Nós só corremos o risco de perder Estônia ou Letônia em
troca de uma boa paz com Trotsky”.30 Obviamente, uma conversa como essa não

poderia se sobrepor, a não ser em uma autocracia, às decisões do Comitê Central e do


Congresso dos Soviets. Foi portanto com o mandato imperativo outorgado pelo partido
e pelos soviets que Trotsky conduziu seu comportamento nas negociações de Brest
Litovsk.
Durante os primeiros momentos das negociações a posição de Trotsky se revelou
a mais adequada e um ponto de convergência entre as diferentes posições no interior do
partido. Também permitiu evitar uma ruptura que pareceu a todos premente. Lenin, sem
dúvida, a considerava um mal menor quando comparada à posição de Bukharin como
fica claro em suas teses e nas diferentes ênfases de seu discurso. A posição de Trotsky,
sintetizada na expressão “nem paz, nem guerra”, pretendia “esgotar as potencialidades
revolucionárias e convencer os proletários do Ocidente da intransigência dos
bolcheviques com respeito ao imperialismo austro-alemão.”31

29
Isaac Deuscher. Trotski: o profeta armado, 1879-1921. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p.
398-399; E. H. Carr. Op. cit., v. 3 e Jean-Jacques Marie. Op. cit., p. 156. Agradeço a Gabriel García
higueras por ter me chamado a atenção sobre a interpretação de Jean-Jacques Marie.
30
John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., p. 192-193. Embora não cite a fonte do diálogo Wheeler-Bennett
baseia sua reconstrução evidentemente em relato de Trotsky (cf. Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 454).
31
Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 220.
12

Não era fácil, entretanto, convencer o proletariado europeu das intenções do


novo governo soviético. Na social-democracia alemã ninguém entendia a atitude dos
bolcheviques. Lenin relatou possuir um documento no qual as posições de duas frações
do centro da social-democracia alemã estavam expressas: uma delas achava que os
bolcheviques haviam se vendido ao alto-comando alemão e que as negociações de
Brest-Litovsk eram jogo de cena; a outra, da qual Kautsky era mais próximo, não
questionava a integridade dos bolcheviques, mas considerava sua conduta um “enigma
psicológico”.32 Mesmo na Rússia, liberais, mencheviques e populistas consideravam as
negociações com os alemães como puro jogo de cena.33

A atitude de Rosa Luxemburg a respeito das negociações em Brest-Litovsk


ilustra essa confusão. Em janeiro de 1918, a revolucionária alemã escreveu que os
russos estavam escolhendo entre reforçar a Entente ou o imperialismo alemão.34

Acreditava que a primeira consequencia do armistício era o deslocamento de tropas para


o Oeste e o recrudescimento do insano morticínio que caracterizava a guerra
imperialista. Esta opinião perdurou e ela voltou a escrever, em setembro do mesmo ano,
que a capitulação dos bolcheviques em Brest-Litovsk teve como conseqüência um
enorme reforço da política imperialista pangermânica e o enfraquecimento da revolução
alemã.35 Porém, o amigo de Luxemburg, Karl Liebknecht compreendeu melhor os

objetivos da política de Trotsky em Brest Litovsk:


“É fácil condenar agora os erros de Lenin e Trotsky. Não é exato
que a evolução futura da solução atual será pior do que seria um
retorno ao começo de fevereiro em Brest. O contrário é o verdadeiro.
Tal retorno teria feito aparecer a imposição final como uma vis haud
ingrata. O cinismo espantoso, a crueldade bestial da exigência final
alemã fizeram desaparecer todas as suspeitas. Do ponto de vista da
propaganda revolucionária o efeito estimulante compensou muito o
efeito calmante.”36

O texto de Liebknecht permite compreender o impacto do adiamento do acordo


sobre a consciência do proletariado europeu. A postergação do desfecho permitiu

32
V.I. Lenin. Discursos sobre la guerra y la paz en una reunión del CC Del POSDR(b), 11 (24) de enero
de 1918. Acta. Op. cit., p. 130. Ver, tb., Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 451.
33
Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 440.
34
Rosa Luxemburg. La responsabilitè historique. In: Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 43.
35
Rosa Luxemburg. La tragédie russe. In: Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 47.
36
Karl Libknecht. Militarismo, guerre, revolution. Paris: Maspero, 1970, p. 189. Leon Trotsky cita essa
mesma passagem com a exceção da primeira e da última frase (cf. Leon Trotsky. Ma vie. Op. cit., p. 461-
462) e, com base nela, comenta a evolução política de Libekknecht. Vis haud ingrata é uma violência não
indesejada.
13

denunciar as intenções belicistas alemãs e seu propósito de aniquilar o regime dos


soviets. Escrevendo em 1926 a respeito da política externa soviética Christian Rakovsky
registrou: “Se a vitória material ficou com a Alemanha e a Áustria, a vitória moral
coube à delegação soviética”.37 A frase de Rakovsky não era tentativa de salvar

politicamente uma derrota. Quando Rakovsky escreveu seu artigo, em 1926, já se sabia
o resto da história. Comprometidos com a frente ocidental, os alemães não tinham força
para aniquilar o poder dos soviets. Pretendiam apoderar-se das reservas de trigo e
carvão da Ucrânia, necessárias para a continuidade da guerra e deslocar seus exércitos
para o Oeste o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, a irrepreensível conduta
bolchevique em Brest-Litovsk alimentou a revolução na própria Alemanha. Em
novembro de 1918 soviets de operários e soldados foram constituídos em Berlim, o
Kaiser Guilherme II foi derrubado, a república proclamada e o tratado imposto aos
soviéticos cancelado.38

Sob vários aspectos a política de Trotsky era extremamente realista. Ele estava
disposto esgotar todo o tempo possível, adiando ao máximo a assinatura da paz, mesmo
correndo o risco de uma nova ofensiva alemã. Sua posição implicava em uma firme
oposição à política da guerra revolucionária e pretendia ganhar tempo. Nesses pontos
ela era completamente coincidente com os propósitos de Lenin. Trotsky, entretanto, não
era tão favorável quanto Lenin a aceitar as condições dos alemães. Mas também não
considerava que a fórmula “nem paz, nem guerra” fosse um princípio e estava disposto
a assinar a paz aceitando as condições, caso ficasse claro que os alemães promoveriam
uma nova ofensiva sobre o território soviético.
As negociações com os alemães deixaram de avançar na segunda semana de
janeiro e se tornaram rapidamente inúteis.39 Os alemães insistiam que a Ucrânia

estivesse representada na reunião pelo governo burguês da Rada. Trotsky havia


questionado essa participação, mas a aceitou enquanto esse governo manteve-se no
poder em Kiev. No dia 21 de janeiro (3 de fevereiro) Trotsky recebeu por radio uma
mensagem de Lenin: “A Rada de Kiev caiu. Todo o poder na Ucrânia está em mãos do
soviet.” A mensagem também informava a respeito dos sucessos obtidos na Finlândia,
na região do Don e, finalmente, em Berlim e Viena, onde haviam sido criado soviets

37
Christian Rakovsky. The Foreign Policy of Soviet Russia. Foregin Affairs, Jun. 1926, p. 577.
38
Ver os documentos em John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., appendix X-XI.
39
Ver a esse respeito John W. Wheeler-Bennett. Op. cit., cap. VI.
14

operários. Eufórico, Lenin escrevia: “Correm rumores de que Karl Liebknecht foi posto
em liberdade e pronto liderará o governo alemão”40 Os alemães responderam com uma

provocação, assinando uma paz em separado com a Rada, um governo que não existia
mais.
A agitação operária em Berlim e Viena teve o paradoxal efeito de fortalecer a
facção belicista entre os negociadores alemães. Guilherme II ordenou, então ao chefe da
delegação alemã em Brest-Litovsk, Von Kuhlmann, que apresentasse um ultimato aos
russos.41 Em 28 de janeiro (10 de fevereiro pelo calendário ocidental) o general

Hoffmann, representante do Estado Maior alemão nas negociações deu o passo


decisivo, exibindo um mapa no qual eram mostradas as anexações propostas pelos
alemães e anunciando o ultimatum. Trotsky consultou Lenin a respeito e este respondeu
em um telegrama: “Você conhece nosso ponto de vista; só foi confirmado ultimamente,
principalmente depois da carta de Ioffe. Repetimos uma vez mais que não ficou nada da
Rada de Kiev e que os alemães se verão obrigados a reconhecer isso, se já não o
fizeram. Mantenha-nos informados. Lenin.”42

Quando os representantes da Alemanha e da Rússia soviética se reuniram


novamente para apreciar o ultimato anunciado por Hoffmann, Trotsky anunciou, com
base no mandato recebido pelo partido e pelos soviets, que o governo soviético
considerava unilateralmente encerrada a guerra:
“Entrego aos Delegados da Aliança [Potências Centrais] a seguinte
declaração escrita e assinada: ‘Em nome do Conselho dos
Comissários do Povo, o governo da República Federal Russa
informa os Governos e povos unidos em Guerra contra nós, os
países da Aliança e neutrais, que se recusando a assinar uma paz de
anexações, a Rússia declara, por seu lado, que o estado de guerra
com a Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária está
encerrado. As tropas russas estão recebendo neste momento uma
ordem para a desmobilização geral em todas as linhas do front.”43

A reação dos alemães foi de espanto. Todos ficaram em silêncio tentando


compreender o que acontecia, até que o general Hoffmann gritou escandalizado:
“Unerhort! (Inacreditável!)” A teatral retirada dos bolcheviques tinha o claro propósito

40
V. I. Lenin. Por radio. A todos, en especial a la delegación de paz en Brest Litovsk. In: Obras
completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 190.
41
Cf. Victor Serge. O ano I da Revolução Russa. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 204-205.
42
V. I. Lenin. A Trotski. Delegación rusa de paz. Brest-Litovsk. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976,
v. XXVIII, p. 201.
43
Apud John W Wheeler-Bennett. Op. cit., p. 227.
15

de evidenciar a culpa dos alemães no fracasso das negociações de paz. No dia 14 de


fevereiro, já em Moscou, Trotsky apresentou seu relatório sobre as negociações em
Brest-Litovsk para o Comitê Central Executivo dos Soviets. Ao final da sessão, uma
declaração oficial informou que “uma resolução foi votada a qual aprovou o conjunto
da política da Delegação a Brest-Litovsk do Conselho de Comissários do Povo”.44

Imediatamente os alemães anunciaram que uma nova ofensiva sobre o território


soviético teria lugar dentro de dois dias, violando o acordo inicial assumido em Brest
Litovsk que previa um aviso com sete dias de antecedência. A ofensiva teve início no
dia 17 de fevereiro. Na reunião do Comitê Central realizada no mesmo dia Trotsky
votou com os “comunistas de esquerda” uma moção contrária a novas negociações de
paz esperando notícias mais precisas sobre o avanço alemão. Mas no dia seguinte,
quando essas notícias chegaram, Trotsky votou com Lenin. Quando os alemães
apresentaram suas condições ainda piores para uma paz, Trotsky apesar de considerá-las
humilhantes votou novamente, na reunião do Comitê Central do dia 23 de fevereiro, a
favor da proposta pacifista defendida por Lenin. Embora a paz tivesse sido assinada em
3 de março, as exigências dos alemães continuaram e não estava descartado um ataque
alemão. Mesmo assim o 7º Congresso Extraordinário do Partido Bolchevique da Rússia
aprovou, em 6 de março, a ratificação do acordo, mais uma vez com o voto de Trotsky.
Foi nessa ocasião que Lenin pronunciou o discurso citado por Urbano Rodrigues:
“Devo referir-me agora à posição do camarada Trotsky. Na sua
actuação devemos distinguir duas fases: quando iniciou as
negociações de Brest, utilizando-as excelentemente para a agitação,
todos estivemos de acordo com ele. Trotsky citou parte de uma
conversa comigo, mas devo acrescentar que concordamos manter-
nos firmes até ao ultimato dos alemães, mas cederíamos após ele. Os
alemães intrujaram-nos porque de sete dias roubaram-nos cinco. A
táctica de Trotsky foi correcta enquanto se destinou a ganhar tempo;
tornou-se equívoca quando se declarou o fim do estado de guerra,

44
Judah L. Magnes. Russia and German at Brest Litovsk: a documentary history of peace negociations.
Nova York: The Rand School of Social Sciences, 1919, p. 134 (grifos meus). Segundo Bailey, essa
resolução foi proposta por Sverdlov, o qual estava incondicionalmente aliado a Lenin nesse debate (cf.
Sydney D Bailey. Stalin’s falsification of history: the case of the Brest Litovsk treaty. Russian Review, v.
14, n. 1, 1955, p. 27).
16

mas não se assinou a paz. Eu tinha proposto com toda a clareza que
se assinasse a paz de Brest”.45

Lenin considerava que essa diferença com Trotsky era “historia passada, que não
vale a pena recordar”.46 De fato, era história que havia sido resolvida mediante votações

no Comitê Central e no Congresso dos Soviets. O desacordo de Lenin com Trotsky era
agora outro e não dizia respeito à assinatura da paz com os alemães e sim à assinatura
da paz com o governo da Rada na Ucrânia, reinstituído em Kiev pelos alemães. No
Congresso do Partido, Trotsky era favorável a aceitar os termos do acordo impostos
pelos alemães, mas encaminhou um adendo à proposta de Lenin recusando
explicitamente a assinatura de qualquer futuro acordo de paz com a Rada. Lenin se
manifestou contrariamente a essa proposta, mas não se declarou favorável a assinatura
de qualquer acordo com a Rada. Argumentou, pelo contrário, que “tudo depende da
correlação de forças e do momento em que se produza a ofensiva de uns ou outros
países imperialistas contra nós.”47

Após o Congresso adotar uma resolução na qual as novas condições para a paz
impostas pelos alemães foram aceitas, teve lugar a eleição do Comitê Central do partido
Bolchevique. O resultado dessa eleição é muito importante para avaliar o peso político
dos diferentes dirigentes soviéticos. Lenin e Trotsky foram os mais votados, com 37
votos cada um; Bukharin obteve 36; Smirnov, 32; Zinoviev, 30; Skolnikov, 25; Stalin,
21; Radek, 19; e Obolensky, 7. Com a exceção de Lenin, que morreu em 1924 devido as
seqüelas provocas por um atentado, todos os demais foram executados por ordem de
Stalin.48

“As cabeças pensantes da revolução”

45
Transcrevemos o texto conforme Urbano Rodrigues. A íntegra do informe de Lenin com a referida
passagem está em V. I. Lenin. Palabras finales para el informe político del Comitê Central. 8 de marzo.
In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 315-323. Em uma nota de rodapé Urbano
Rodrigues esclarece que sua citação de Lenin foi extraída de “V. I. Lenine, Textos extraídos das Obras
Completas de Lenine, Ed. Estampa, Lisboa 1977, pág 260”. Não existe livro com esse título e, por isso,
permanece desconhecida a fonte do jornalista Urbano Rodrigues. Na mesma cidade, na mesma editora e
no mesmo ano, foi publicada uma coletânea de Lenin intitulada Contra o trotskismo (Lisboa: Estampa,
1977).

46
Idem, p. 319.
47
V. I. Lenin. Intervenciones contral las enmiendas de Trotski a la resolución sobre La guerra y La paz. 8
de marzo. In: Obras completas. Madri: Akal, 1976, v. XXVIII, p. 325.
48
Cf. Raymond L. Garthoff. Op. cit., p. 78.
17

Um ponto central no argumento de Urbano Rodrigues é sua interpretação da


passagem acima transcrita do informe político de Lenin ao 7º Congresso. Segundo o
jornalista:
“A transcrição (parte de uma intervenção extensa) é esclarecedora
porque a posição assumida por Trotsky (‘nem paz nem guerra’),
ignorando as instruções de Lenine, levou os alemães a romper a
trégua e desencadear uma ofensiva de consequências desastrosas,
ocupando enormes extensões do país. Quando o Tratado de Paz foi
finalmente assinado, as condições impostas foram muito mais
severas do que as inicialmente apresentadas pelo Império Alemão.”

A transcrição é mesmo uma pequena parte de um texto muito mais extenso. Na


edição das Obras completas, são trinta páginas nas quais em sua maior parte Lenin
rebate os argumentos favoráveis à “guerra revolucionária” e em apenas três delas se
dedica a discutir a posição de Trotsky. Lenin jamais afirmou que Trotsky agiu
“ignorando (su)as instruções”. A razão para nunca ter afirmado isso é simples: não
poderia fazê-lo a menos que sugerisse que Trotsky deveria ter rompido a disciplina do
partido e dos soviets e o mandato para não assinar a paz que estes lhe haviam outorgado
na reunião do dia 11 de janeiro. Lenin não concordava integralmente com a proposta
aprovada nessa reunião, mas havia aquiescido com sua implementação e, por essa razão,
não deixou de aprovar o conjunto da ação do representante dos soviets em Brest-
Litovsk, conforme a moção votada pelo Comitê Executivo dos Soviets aqui citada. É
por esse motivo que Lenin afirmou que “todos estivemos de acordo com ele (Trotsky)”.
No 7º Congresso, como visto anteriormente, o desacordo de Lenin com Trotsky
dizia respeito ao acordo com a Rada ucraniana: “Às novas demandas que formula
Trotsky, de que ‘prometa não assinar a paz com Vinnichenko [o líder da Rada]’, lhe
respondo de que maneira nenhuma me comprometerei com qualquer coisa
semelhante”.49 A paz com a Rada, de fato não foi assinada, como queria Trotsky. Os

alemães logo depuseram o governo ucraniano e o substituíram por um novo títere,


deixando claro, desta vez que não tinham o menor interesse na auto-determinação
ucraniana, como argumentavam na mesa de negociações em Brest-Litovsk.
A versão da infame História do Partido Comunista da União Soviética
(Bolchevique) é, nesse aspecto, condizente e similar em seus termos com a de Urbano
Rodrigues, uma vez que ela afirma, como já visto, que Trotsky “traiçoeiramente violou
as instruções diretas do Partido Bolchevique”. Que “instruções” são essas às quais tanto

49
Idem.
18

Stalin como Urbano Rodrigues coincidentemente fazem referência? Elas só poderiam


provir da conversa particular entre Lenin e Trotsky sobre a qual ambos fizeram
referências no debate do 7º Congresso, mas que não era do conhecimento do partido até
esse momento, ou, então, do telegrama de Lenin, do dia 28 de janeiro no qual ele dizia
apenas: “Você conhece nosso ponto de vista”. Trotsky conhecia esse “ponto de vista”,
sabia a diferença que existe entre um “ponto de vista” e uma instrução e, least but not
least, estava ciente de que a posição de Lenin era, até então, minoritária no partido.
O estudo dos debates no interior do partido Bolchevique, à luz do contexto
histórico no qual tiveram lugar, pode demonstrar a complexidade situação vivida e das
posições políticas neles defendidas. Brest-Litovsk não foi uma exceção. A historiografia
stalinista simplificou enormemente esses debates apresentando-os sempre de modo
maniqueísta. Urbano Rodrigues não fez diferente. Desse e de outros episódios nos quais
Lenin e Trotsky divergiram, todos analisados de modo constrangedoramente superficial
e a partir dos mesmos precários documentos concluiu:
“a tentativa dos seus epígonos e de Historiadores burgueses de o
guindar a ‘companheiro de Lenine’, colocando-o ao nível do líder da
Revolução, falseia grosseiramente a História. Trotsky não foi nem o
revolucionário puro que os trotskistas veneram como herói da
humanidade, nem o traidor fabricado por Stáline.”

Evidentemente não faltaram aqueles que procuraram canonizar Trotsky ou


transformar o trotskismo em uma espécie de religião. Tendências similares podem ser
encontradas em outros movimentos políticos vinculados à história do movimento
operário, mas nenhum deles foi tão longe na mistificação como o stalinismo. As quatro
mais importantes biografias sobre Leon Trotsky escritas a partir de perspectivas que
simpatizam com o revolucionário russo – a de Deutscher, Cliff, Brouè e Marie – estão
muito longe de considerar Trotsky um revolucionário puro e analisam de modo
detalhado as diferenças entre ele e Lenin.
Mas afirmar que Trotsky não era, aos olhos do movimento comunista
internacional de sua época, “companheiro de Lenin”, isto sim “falseia grosseiramente a
História”. Antes mesmo da fundação da Internacional Comunista os nomes de Lenin e
Trotsky vinham juntos na imprensa socialista. Rosa Luxemburgo, conhecedora
profunda dos assuntos russos, por exemplo, escrevia, em 1918, a respeito das “cabeças
pensantes da revolução russa, Lenin e Trotsky” e referia-se aos “políticos geralmente
19

lúcidos e críticos que são Lenin, Trotsky e seus amigos”.50 Também não poupava

elogios ao registrar: “Toda a coragem, a energia, a perspicácia revolucionária, a lógica


da qual um partido revolucionário pode fazer prova em um momento histórico, tiveram
Lenin, Trotsky e seus amigos”.51 A identidade estratégica entre Lenin e Trotsky era,

para ela, total a ponto de referir-se à “teoria da ditadura segundo Lenin e Trotsky” e,
logo adiante, para simplificar, unir exageradamente os dois personagens em um só,
escrevendo sobre a “teoria de Lenin-Trotsky”.52 A referência conjunta a “Lenin e
Trotsky” era comum também nos textos de Karl Liebknecht.53 Nem Luxemburg, nem

Liebknecht fizeram ao longo de seus escritos referência a Stalin, até então um completo
desconhecido. Sabe-se que os dirigentes da Liga Spartacus não eram epígonos de
Trotsky. Seriam eles, então, os “historiadores burgueses” aos quais o jornalista faz
referência?
A relação entre Lenin e Trotsky foi sempre psicologicamente tensa, mas de
mútuo respeito e admiração. Seria um equívoco comparar essa relação, com os
profundos laços de amizade que uniram Marx e Engels. Politicamente, os dois
dirigentes soviéticos divergiram entre si um grande número de vezes, mas a partir de
1917 a convergência estratégica entre ambos tornou-se profunda. Lenin retornou à
Rússia em abril e anunciou sua nova posição na qual abandonava a palavra de ordem de
“ditadura democrática do proletariado e dos camponeses”. Em agosto do mesmo ano,
Trotsky aderiu ao Partido Bolchevique. Uma nova fase dessa complexa relação teve
início. Essa convergência não impediu que tivessem idéias próprias e muitas vezes
conflitantes sobre vários pontos. Suas personalidades eram fortes e defendiam seus
pontos de vista de modo enfático. Não eram os únicos a proceder desse modo no
interior do Partido Bolchevique.
Após a morte de Lenin teve início uma dura luta política e ideológica no interior
do Partido Bolchevique. Para sustentar as novas posições de poder ocupadas depois da
morte de Lenin, Zinoviev, Kamenev e Stalin lançaram uma ofensiva sobre a história da
revolução russa, procurando diminuir o lugar de Trotsky nela e afastá-lo do legado
lenineano. Lenin anteviu esse movimento e, por essa razão, em seu testamento escreveu
que o fato de Trotsky não ser um velho bolchevique não o desmerecia e era coisa que

50
Rosa Luxemburg. La revolution russe. Oeuvres. Paris, Maspero, 1962, v. II, p. 58 e 70.
51
Idem, p. 65.
52
Idem. 83 e 87
53
Karl Liebknecht. Op. cit., p. 188, 189.
20

deveria ser deixada para trás. Certamente não o foi. Trotsky respondeu com todas suas
energias esse ataque levado a cabo sobre o terreno da história e produziu como resposta
algumas das obras-primas da historiografia marxista: A revolução desfigurada (1929),
Minha vida (1930) e História da Revolução Russa (1932). Mas por razões de ordem
política optou por diminuir suas opiniões sempre que estavam confrontadas com Lenin.
Continuar a insistir com isso é um erro. Lenin e Trotsky precisam recuperar seu lugar
real como homens de grande envergadura política, moral e intelectual, mas também
como seres humanos que cometiam erros e refletiam a respeito deles. Mas para tal é
preciso responder vivamente cada vez que as velhas e desgastadas idéias do
antitrotskismo staliniano reaparecem. Golpe a golpe; verso a verso.

Segue mais
abaixo:
Para a História do Socialismo
Documentos
www.hist-socialismo.net

Tradução do francês por CN, 26.01.2011


(Original em: http://www.archivesolidaire.org/scripts/article.phtml?section=A1AAAE&obid=10040)

_____________________________
O trotskismo ao serviço da CIA
contra os países socialistas

20 de Outubro de 1992
Ludo Martens

Depois do triunfo da contra-revolução burguesa no Leste Europeu e na União


Soviética, não pode haver divergências de opinião entre comunistas sobre a verdadeira
natureza do trotskismo.
O desenvolvimento do processo contra-revolucionário no Leste e na União Soviética
permite atestar o significado de classe do discurso que os trotskistas mantêm desde há 60
anos. É hoje fácil de perceber, no seu fraseado de «esquerda», a verdadeira natureza e o
verdadeiro objectivo desta corrente. Basta simplesmente reler as declarações trotskistas
de há dois ou três anos para que a verdade nos salte aos olhos. O trotskismo é uma
corrente ideológica cuja essência é o anticomunismo desenfreado, uma corrente que
recruta elementos progressistas da pequena burguesia para os doutrinar no
anticomunismo, uma corrente que trava um único combate com perseverança,
continuidade e convicção: o combate contra o marxismo-leninismo e contra o movimento
comunista internacional.
Demonstraremos estas afirmações através do estudo das posições trotskistas aquando
das contra-revoluções de «veludo», que conduziram à restauração do capitalismo no
Leste da Europa e na União Soviética.

«A restauração do capitalismo é impossível!»

Nos anos 30, Stáline levantou uma questão essencial: Será que depois de o socialismo
ter sido instaurado num país, enquanto ditadura das massas trabalhadoras, a restauração
do capitalismo continua a ser possível nesse país? Trótski respondeu que a restauração
do capitalismo era impossível sem uma insurreição armada da burguesia e sem uma
guerra civil prolongada. A sua tese sobre a impossibilidade da restauração do capitalismo
visava eliminar a vigilância política e ideológica e favorecer uma atitude conciliadora para
com o oportunismo, tanto no interior do partido como em relação ao inimigo de classe na
sociedade.
Desde a Revolução Cultural que os marxistas-leninistas reafirmaram que um partido
comunista pode degenerar politicamente e ser invadido por concepções e teorias
burguesas e pequeno-burguesas. O revisionismo é a adopção de ideias da burguesia e da
pequena-burguesia embrulhadas numa terminologia marxista-leninista. Quando o

1
revisionismo consegue dominar um partido comunista, este torna-se no instrumento
principal de uma progressiva restauração burguesa nos domínios ideológico, político e
económico.
Ernest Mandel,* o líder principal da chamada IV Internacional, lançou-nos à cara que
esta era uma teoria «stalinista», que servia unicamente para justificar a arbitrariedade.
Ele insiste muito nesta ideia mestra de Trótski.

«Só idiotas manifestos...»

Em 1934, Stáline demonstrou que a linha do grupo oportunista Zinóviev-Kámenev


conduziria necessariamente ao restabelecimento do capitalismo na União Soviética. A
história provou que as críticas de Stáline a Trótski, ao grupo de Zinóviev-Kámenev e de
depois aos seguidores de Bukhárine, eram inteiramente pertinentes. A refutação das suas
ideias ao longo dos anos 20 e 30 permitiu conservar a ditadura do proletariado e
construir o socialismo, bem como forjar as forças políticas e militares necessárias para
defender vitoriosamente o socialismo da agressão fascista. Um quarto de século mais
tarde, os revisionistas Khruchov e Bréjnev retomaram grande parte das ideias de Trótski,
Zinóviev e Bukhárine. E apenas dois anos depois da reabilitação oficial destas figuras por
Gorbatchov, a restauração do capitalismo tornou-se um facto consumado.
Mas é preciso recordar que, em 1934, Trótski replicou a Stáline: «Só idiotas
manifestos seriam capazes de acreditar que as relações capitalistas, ou seja a
propriedade privada dos meios de produção incluindo a terra, podem ser
restabelecidas na URSS por via pacífica e desembocar num regime de democracia
burguesa. Na realidade, se isso fosse possível, o capitalismo só poderia ser restaurado
na Rússia em resultado de um violento golpe de Estado contra-revolucionário, que
exigiria dez vezes mais vítimas que a Revolução de Outubro e a guerra civil.»1 Dez vezes
mais, o que faria entre 50 e 90 milhões de mortos para que o capitalismo pudesse ser
reintroduzido na Rússia...

1989: «A restauração impossível a médio prazo»

Mesmo em 1989, quando já estavam em campo as forças abertamente contra-


revolucionárias, Mandel insistia que o espectro da restauração capitalista não passava de
uma mentira «stalinista» para justificar a «repressão». Em 1989, a Polónia e a Hungria
já tinham tombado para o lado do imperialismo, porém, Mandel escrevia: «A pequena e
média burguesia representa apenas uma pequena minoria da sociedade em cada um

*
Mandel, Ernest Ezra (1923-1995), nascido na cidade alemã de Frankfurt, tornou-se membro da IV
Internacional (trotskista) em 1940, na Bélgica, onde os pais, judeus polacos, se tinham refugiado. Depois da
II Guerra ingressa na central sindical belga FGTB e integra o Partido Socialista Belga, de onde é expulso
em 1964. Funda mais tarde a Liga Revolucionária dos Trabalhadores (1971), que dará origem ao Partido
Operário Socialista (1984) e depois à Liga Comunista Revolucionária, secção da IV Internacional. Em
Portugal, o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, é um dos principais seguidores de Mandel,
sendo autor de vários escritos sobre o pensamento deste líder trotskista (ver, por exemplo,
http://www.ernestmandel.org/fr/surlavie/txt/ernest_mandel_et_la_pulsation_de_histoire.htm). (N. Ed.)
1
Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Ed. Union générale d’Editions, 1976, Collection 10-18, p. 26.

2
destes estados operários burocratizados. Ela beneficia de um apoio, aliás fortemente
limitado, por parte do grande capital internacional. Mas no conjunto, esta
convergência de interesses é insuficiente para poder impor, a curto ou a médio prazo,
uma qualquer restauração do capitalismo.»2
Os marxistas-leninistas identificaram há muito as quatro forças sociais que formam a
base da restauração: a primeira é a camada dos burocratas, tecnocratas e elementos
corruptos no seio do partido e do aparelho do Estado; a segunda são as forças políticas e
ideológicas das velhas classes reaccionárias; a terceira são os novos elementos burgueses
e exploradores surgidos na sociedade socialista; e por último, as forças imperialistas que
actuam aberta ou clandestinamente nos países socialistas. Com Reagan, a ingerência e a
infiltração do imperialismo redobraram nos países socialistas. Mandel nega a existência
das duas primeiras forças e minimiza as duas últimas.
De resto, ele recorreu ao mesmo argumento para apoiar a contra-revolução na URSS:
«Para onde vai a União Soviética de Gorbatchov? Excluamos, antes de mais, a
eventualidade de uma restauração do capitalismo na URSS. Da mesma forma que o
capitalismo não poder ser gradualmente suprimido, tão pouco pode ser gradualmente
restaurado.»3
Os trotskistas difundiram com alarido a sua teoria sobre a impossibilidade da
restauração enquanto existisse alguma resistência por parte do partido comunista e do
aparelho do Estado contra as forças anticomunistas. Desde os anos 30 que esta «teoria»
lhes serviu para justificar o apoio a todas as correntes oportunistas e contra-
revolucionárias. Durante os anos 30 e 40, os trotskistas apoiaram todas as correntes e
facções oportunistas que desencadearam a luta contra a direcção marxista-leninista do
partido. Em 1956 aplaudiram o «antistalinismo corajoso» de Khruchov, converteram-se
em propagandistas do reaccionário tsarista Soljenítsine, apoiaram todas as forças
nacionalistas reaccionárias e fascistas, todos os dissidentes pró-ocidentais, propagaram
galhardamente todas as teorias anticomunistas do círculo de Gorbatchov, chegando a
encher dois terços do seu jornal com artigos de direita publicados no Notícias de
Moscovo e na revista Sputnik.4 Resumindo, em nome da teoria da impossibilidade da
restauração, os trotskistas apoiaram todos os contra-revolucionários até ao dia em que já
nada subsistia das ideias revolucionárias e as instituições socialistas criadas e defendidas
por Lénine e Stáline.
Uma vez terminada a batalha, Mandel refere de passagem, hipocritamente, a hipótese
de uma restauração. Em 12 de Outubro de 1989, numa única entrevista, consegue
defender as duas posições... «Excluo um restabelecimento gradual, pacífico,
imperceptível do capitalismo. Isso é uma ilusão reformista. Será preciso quebrar a
resistência operária (…)» Mais adiante, cita a trotskista Catherine Samary, que afirma
que não é de excluir uma restauração, mas ela será feita «exclusivamente segundo o
modelo turco (…)».5 Mas esta alusão à possibilidade de uma restauração não tem
qualquer reflexo na política trotskista, que se mantém fiel ao princípio da destruição de
tudo o que se assemelhe com o comunismo. Assim, três meses mais tarde, em finais de
Dezembro de 1989, no momento do assalto final da contra-revolução, os trotskistas

2
Mandel, Inprecor, n.°295, 16-29, Outubro, 1989, p. 20.
3 Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev? Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, pp. 20 e 23.
4
Rood, n.°14, 15 Agosto de 1989
5
Rood, 24 de Outubro de 1989, pp. 6-7.

3
lançam a seguinte consigna na primeira página: «Solidariedade com a revolução que
começa no Leste!»6

De um lado «a burocracia», do outro «as massas»

Esta tese da impossibilidade da restauração serviu durante 60 anos de camuflagem


aos trotskistas, permitindo-lhe desertar decorosamente para o lado dos anticomunistas.
Com efeito, Stáline e depois dele Mao Tsé Tung afirmaram sempre que a luta de
classes continua no socialismo, que a luta entre a via socialista e a via capitalista
mantém-se durante um largo período histórico e que a restauração do capitalismo é,
deste modo, sempre possível. O socialismo, para se poder manter e progredir, precisa de
um partido comunista autenticamente marxista-leninista, um partido que depura, em
intervalos regulares, as suas fileiras das correntes oportunistas. O socialismo deve
defender-se dos seus inimigos, dos restos das antigas classes reaccionárias, dos novos
elementos burgueses que nascem no novo regime e dos agentes do imperialismo.
Atacando estas ideias, Mandel e os trotskistas desenvolveram uma «teoria» original,
que reconhece que a luta de classes existe na realidade no socialismo… mas ela opõe a
«burocracia» às «massas populares». Denunciando a «burocracia» como uma violência
só igualada pelos fascistas, os líderes trotskistas apoiam todas as oposições reaccionárias
contra o socialismo, afirmando que estas exprimem a vontade das «massas populares».
Arvorando-se em advogados de todas as forças burguesas e anticomunistas, os trotskistas
colocam de um lado a «burocracia», que quer «suprimir as liberdades democráticas», e
do outro lado as forças da «revolução política», que aspiram ao «socialismo autêntico».
Assim escreveu Mandel em Outubro de 1989: «O objectivo principal das lutas políticas
em curso não é a restauração do capitalismo. O que está em causa é ou o avanço em
direcção à revolução política antiburocrática ou a supressão parcial ou total das
liberdades democráticas que as massas conquistaram durante a glasnost. A luta
principal não opõe as forças pró-capitalistas às forças anticapitalistas, mas a
burocracia ao povo.»7
Pretendendo que a luta «opõe a burocracia às massas populares», Mandel apoia
aberta e explicitamente as forças liberais, sociais-democratas, monárquicas e fascistas na
sua luta contra os últimos resquícios do socialismo.

«A glasnost é um trotskismo…»

Num momento em que a burguesia internacional já reconhecia que o restabelecimento


do capitalismo na URSS estava praticamente concluído, Mandel teve as honras da
imprensa anticomunista soviética. O seu descaramento levou-o a afirmar que Gorbatchov
era um grande revolucionário que tinha adoptado as teses trotskistas. De seguida,
Mandel declara que agora todos os comunistas podem compreender quem são os
verdadeiros revolucionários e quem são os contra-revolucionários. Trótski, os trotskistas,
Gorbatchov e gorbatchovianos estão no campo da revolução, Stáline e os stalinistas estão

6
Rood, n.° 24, 26 de Dezembro de 1989, p.1.
7 Mandel, Inprecor, n.° 295, 16-29, Outubro de 1989, p. 20.

4
no campo da contra-revolução. Stáline representa uma «contra-revolução violenta»,
declarou em Manágua.8 E assim, graças ao esforço conjunto de Mandel e Gorbatchov,
nesse ano bendito de 1990 iniciou-se a verdadeira revolução.
Eis a declaração de Mandel a Temps Nouveaux:
«Temps Nouveaux: Gorbatchov proclama de facto que a perestroika é uma
verdadeira nova revolução?
Mandel: Sim, proclama-o efectivamente, e isso é mais uma vez muito positivo. O
nosso movimento defende desde há 55 anos a mesma tese, e por essa razão foi
qualificado de contra-revolucionário. Hoje compreendemos melhor, tanto na URSS
como em boa parte do movimento comunista internacional, onde se encontravam os
verdadeiros contra-revolucionários e onde se encontravam os verdadeiros
revolucionários.»9
Não foi preciso esperar dois anos para ver a União Soviética cair nas mãos da máfia
tsarista e pró-norte-americana, ver o recrudescimento das forças fascistas e tsaristas na
Rússia e nas outras repúblicas, e assistir a guerras civis reaccionárias entre as diferentes
facções burguesas. O que ilumina na perfeição o rosto dos «revolucionários» da glasnost
e da perestroika e mostra para que forças políticas Mandel – esse profissional do
anticomunismo – trabalha.
Catherine Samary, outra estrela da IV Internacional, afirmou à imprensa soviética que
Gorbatchov aplicava o programa desenvolvido por Trótski. Fez o elogio da glasnost
nestes termos: «No vosso país ainda não foi publicada a Plataforma da Oposição de
Esquerda, que combateu Stáline e propôs um caminho alternativo para a construção do
socialismo. De facto, neste momento, estão a adoptar as suas ideias: construir a
democracia socialista autêntica e a autogestão.»10

O apoio de Mandel a Iéltsine

Embora sendo um ardente partidário da glasnost, Mandel considerou ser seu dever
apoiar as forças ainda mais à «esquerda» de Gorbatchov, e foi de Iéltsine e Sákharov que
se tornou porta-voz!
No início de 1989, Mandel apresentou Iéltsine como o representante dos
trabalhadores, o homem da democratização que exprime as ideias da classe
politicamente consciente da URSS! No seu livro sobre Gorbatchov, escreve: «A
eliminação de Iéltsine [em 11 de Novembro de 1987] enquanto dirigente do PCUS
representa um grave retrocesso no processo de democratização da URSS.»11 «Iéltsine é
hoje a personalidade política mais popular entre os trabalhadores soviéticos. (...)
Dezenas de milhares de crachás com a inscrição “Reintegrem Iéltsine!” foram
espontaneamente fabricados. Tudo isto indica a vontade de uma camada politicamente

8
Inprecor, 11-24, Setembro de 1992, p. 19.
9
Temps Nouveaux, n.° 38, 1990, pp. 41-42.
10
Catherine Samary, Argumenti e fakti, 2 de Dezembro de 1989, Inprecor, n.°302, 9-23, Fevereiro de
1990, p. 27.
11
Mandel, Où va l’URSS de Gorbatchev? Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, p. 303.

5
consciente de conservar e ampliar as liberdades democráticas parciais obtidas durante
o período entre 1986 e 1988.»12
Em 3 de Abril de 1989, Mandel saúda «o surgimento de uma esquerda mais radical e
massiva. Três linhas de força, progressistas, sobressaem na plataforma de Iéltsine e
Sákharov: contra os privilégios da burocracia; por mais igualdade; e por um sistema
multipartidário.»13
Sákharov, esse representante da «esquerda radical», tinha na prática o estatuto de
agente oficial da CIA na União Soviética desde há muitos anos. Apoiara com entusiasmo
a agressão norte-americana ao Vietname. Considerava que os norte-americanos teriam
podido vencer essa guerra «se tivessem demonstrado um espírito mais determinado e
consequente no plano militar e sobretudo no plano político.»14
Quanto a Iéltsine, durante a sua primeira viagem aos Estados Unidos, a imprensa
internacional havia comentado as suas afirmações elogiosas sobre o capitalismo norte-
americano e relatado os contactos com a CIA. Até um jornal belga de direita, como o De
Gazet van Antwerpen, considerou que Iéltsine tinha exagerado ao declarar: «O
capitalismo não está a apodrecer, pelo contrário, desabrocha. Podemos comprar tudo
por pouco dinheiro. À noite, nas ruas, não se corre o menor perigo. Até junto dos sem-
abrigo encontrei uma atitude optimista perante a vida.»15 Depois destas declarações tão
abertamente anti-socialistas, Iéltsine continuou a ser saudado por Mandel como «a
esquerda radical democrática» do partido comunista da URSS!
Com efeito, no início de 1990, a imprensa trotskista manifestou mais uma vez o seu
apoio à ala «radical-democrática» da oposição na União Soviética: «O Moskóvskaia
Pravda, de 23 de Fevereiro de 1990, publicou “a plataforma democrática” da oposição
radical-democrática dirigida por Iéltsine. A plataforma reclama o exercício do poder
pelos sovietes, eleitos na base de um sistema multipartidário, a abolição do “papel
dirigente do PC” e a adopção de uma lei que institua o sistema multipartidário.»16
Notamos que os trotskistas continuaram a insistir nos pontos desenvolvidos por
Iéltsine, os quais coincidiam com a sua linha «revolucionária». Mandel chegou mesmo a
declarar que Iéltsine era o novo Trótski: «Na actualidade, o reformador Boris Iéltsine
representa a tendência que é favorável à redução do enorme do aparelho burocrático.
Deste modo, ele segue as pegadas de Trótski.»17
Quando, em Agosto de 1991, Ianáiev improvisou o seu estranho golpe, Iéltsine montou
profissionalmente um verdadeiro golpe de Estado, que destruiu toda a legalidade do
sistema existente com o apoio de uma desmesurada mobilização internacional de todas
as forças imperialistas. Mandel e os trotskistas estavam, evidentemente, ao lado de
Iéltsine.
«A mobilização galvanizada por Iéltsine e a rejeição do antigo sistema explicam o
fracasso do que parece mais ter sido um golpe de força do que um golpe de Estado. Era
preciso não hesitar em se opor ao golpe e, neste sentido, lutar ao lado de Iéltsine. O

12
Idem, Ibidem, pp. 305-306.
13
Inprecor, n.° 285, 3 Abril de 1989, p. 4.
14
Sákharov, Mon pays et le monde, Ed. Seuil, 1975, p.75.
15
Gazet van Antwerpen, 18 de Setembro de 1989, p. 6.
16Inprecor, n°304,
9-22, Março de 1990, p. 36.
17
Mandel, Financieel-Ekonomische Tijd, 23 de Março de 1990: Ernest Mandel: «Gorbatchev is te
vergelijken met Roosevelt en De Gaulle».

6
desenvolvimento da auto-organização, do pluralismo político e da total liberdade de
expressão são as únicas garantias de uma democracia em relação às opções essenciais
futuras. Somos a favor da nacionalização dos bens do partido comunista e dos
sindicatos oficiais.»18
Nesta altura, para todos os anticapitalistas honestos, era evidente que Iéltsine
representava a facção ultraliberal e pró-norte-americana da nova burguesia russa e se
preparava para reabilitar a herança tsarista. No entanto, os trotskistas aclamaram o golpe
de Estado contra-revolucionário de Iéltsine porque abria caminho à «auto-organização»,
quer dizer, à auto-organização das massas contra o partido comunista, e por que
introduzia o «pluralismo», quer dizer, a liberdade para os partidos liberais, sociais-
democratas, fascistas e tsaristas... Liberdade para os partidos burgueses, acompanhada
da inevitável repressão contra as organizações comunistas, podendo conduzir
eventualmente à sua interdição, como acontece em todo o sistema burguês «pluralista».
Um ano mais tarde, já ninguém podia negar, inclusive nos círculos da grande
burguesia internacional, o carácter de extrema-direita e pró-imperialista de Iéltsine.
Como verdadeiros provocadores anticomunistas, os trotskistas ousaram então titular:
«Estará Boris Iéltsine a seguir as pegadas de Ióssif Stáline?».19 Este exemplo mostra
bem que estes anticomunistas não se detêm perante nenhuma baixeza ou canalhice.
Apoiaram até ao fim o liberal Iéltsine no seu combate anticomunista, comparando-o com
seu venerado chefe revolucionário, o grande Trótski; alguns meses depois, concluída a
restauração capitalista e tendo Iéltsine saudado a memória dos antigos tsares, os
trotskistas declaram que, na realidade, Iéltsine se parece com o seu pior inimigo: Stáline.

«Um grande suspiro de alívio»

Em Abril de 1989, Mandel publicou um livro em que escreve tudo o que pensa de
positivo sobre Gorbatchov, Iéltsine e sobretudo da glasnost. Recorde-se que, na altura, a
burguesia escondia a custo o seu entusiasmo pelas mudanças introduzidas por
Gorbatchov. A senhora Thatcher já tinha exclamado que era uma partidária da glasnost e
da perestroika. A burguesia anunciava o fim do comunismo e o início de uma grande era
de paz, de democracia e liberdade. Na sua linguagem de «esquerda» pérfida, Mandel
apoiou como sempre a corrente burguesa na moda. No seu livro escreve: «O pesadelo do
stalinismo e do brejnevismo está definitivamente superado. O povo soviético, o
proletariado internacional e toda a humanidade pode dar um suspiro de alívio.»20
Nessa altura, o nosso partido tinha sublinhado que a contra-revolução no Leste
Europeu e na União Soviética constituía uma vitória estratégica do imperialismo, que
provocaria um desastre para os povos dos antigos países socialistas, reforçaria a opressão
do Terceiro Mundo, cujos povos seriam as primeiras vítimas das mudanças em curso, e
que acentuaria todas as contradições do mundo capitalista. Os trotskistas titularam
então: «A loucura da direcção do PTB agrava-se».21 No mesmo jornal, explicavam «o
suspiro de alívio da humanidade», prometendo um futuro sem intervenções militares

18
Inprecor, número especial, 29 de Agosto de 1991, pp. 1-3.
19 Harry Mol, Rood, n.°2, 22 de Janeiro de 1992, p. 20.
20
Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev?, Ed. La Brèche, Montreuil, 1989, p. 23.
21
Rood, 9 de Janeiro de 1990, p. 10.

7
imperialistas aos povos do Terceiro Mundo! «Os movimentos de massas no Leste
Europeu constituem também uma ameaça (…) para o imperialismo. Uma intervenção
estrangeira do imperialismo no Terceiro Mundo torna-se agora mais difícil.»22 E
quando um ano depois a coligação imperialista desencadeou a sua agressão bárbara
contra o Iraque, os trotskistas apregoaram que se batiam tanto contra Saddam Hussein
como contra os aliados. Entretanto, no Leste Europeu e na União Soviética, verificava-se
que o «suspiro de alívio» era afinal um grito de horror ante o desemprego, a miséria, a
pobreza, o nacionalismo reaccionário e a guerra civil.
Desenvolvendo a sua ideia do «suspiro de alívio» do povo soviético, Mandel imaginou
fechar o seu livro com chave de ouro. Eis, em resumo, a última página:
«A evolução actual confirma que a análise e as predições feitas por Lev Trótski, há
quase meio século, eram bastante realistas e verdadeiras: “Assim que o proletariado
começar a entrar em acção, o aparelho stalinista ficará suspenso no ar. Se tentar, apesar
de tudo, oferecer resistência, não deverá recorrer a medidas de guerra civil, mas antes a
medidas de carácter policial. Trata-se em todo o caso, não de uma insurreição contra a
ditadura do proletariado, mas da ablação de uma excrescência perniciosa dentro dela.”»
E ainda: «A revolução que a burocracia prepara contra ela própria não será uma
revolução social, como a de Outubro de 1917: não se tratará de mudar as bases
económicas da sociedade, nem de substituir uma forma de propriedade por uma outra.
Assim acontecerá.»23
É louvável que Mandel tenha associado o velho Trótski às suas análises da glasnost
(que, apenas um ano depois, o irá desmascarar como um anticomunista irredutível).
Com efeito, os grotescos artifícios contra-revolucionários de Mandel levam até às
últimas consequências os propósitos antibolcheviques mais sofisticados de Trótski. Em
300 páginas de análises, Mandel conclui que a «predição» de Trótski podia agora
concretizar-se graças à glasnost. Há meio século, Trótski esforçava-se para provocar uma
insurreição antibolchevique. Como a ditadura do proletariado estava firmemente
estabelecida, como o partido bolchevique mobilizava energicamente as massas operárias
e camponesas, Trótski teve de recorrer a uma aliciante demagogia de «esquerda»:
quando derrubarmos o partido «stalinista», a ditadura do proletariado restará intacta,
apenas amputaremos uma «excrescência burocrática». A insurreição eliminará um
parasita de um corpo são. Não haverá mais classes reaccionárias ou revanchistas no
corpo da sociedade soviética, nem novas forças burguesas: o corpo socialista erguer-se-á
contra o «parasita stalinista». Trótski teve que assegurar aos operários que a sua
insurreição não alteraria as bases económicas do socialismo, que estava fora de questão
restabelecer a propriedade privada. Evidentemente! Cinquenta anos mais tarde, Mandel
dará as mesmas garantias na seguinte citação com que conclui o seu livro: a glasnost e a
«democratização» da sociedade soviética, levados até a fim, manterão e melhorarão a
ditadura do proletariado, e não mudarão a base económica da sociedade. Dois anos
depois pudemos assistir às convulsões contra-revolucionárias criminosas, que foram
apresentadas e justificadas com estes propósitos benignos.

22
Ibidem, p. 12.
23 Mandel: Où va l’URSS de Gorbatchev?, Ed. La Brèche, Montreuil, 1989 , p. 340.

8
A «revolução política antiburocrática» trotskista

Há 60 anos que os trotskistas alegam que querem derrubar «a burocracia» nos países
socialistas através de uma «revolução política». O ódio de Trótski ao sistema socialista
manifesta-se na forma como qualifica a direcção bolchevique da União Soviética: a
«casta dos arrivistas rapaces», a «oligarquia totalitária», «a nova aristocrática», «o
gang criminoso de Stáline»,24 «a casta dos novos opressores e parasitas», «a
burocracia totalitária», «a clique autocrática», «a hierarquia de incapazes e
escória».25 Encontramos a mesma linguagem na literatura fascista nos finais dos anos
30.
Segundo Trótski, a mobilização de todas as forças de oposição à «burocracia»
conduzirá a uma «revolução política» que livrará a sociedade socialista autêntica dos
parasitas da burocracia. Esta teoria, segundo as afirmações do grupo de Mandel,
constitui em si o núcleo da doutrina trotskista: «A teorização da degenerescência
burocrática da URSS e da revolução política é o avanço programático mais importante
do movimento trotskista. A revolução política e as tarefas que implica a sua preparação
são as verdadeiras razões da existência da IV Internacional.»26

Provocações ao serviço dos nazis

O significado real da teoria da «revolução política» foi demonstrado nas lutas dos
anos 30. Toda a burguesia ocidental exprimiu então a sua apreciação positiva das
«análises penetrantes da revolução traída», feitas por Trótski. Na realidade, Trótski
manifestou-se como um anticomunista enraivecido e as suas afirmações contra o partido
bolchevique e contra Stáline foram e continuam a ser aplaudidas pelos ideólogos do
imperialismo.
Limitemo-nos a um exemplo altamente significativo. Em 1982, Henri Bernard,
professor emérito da Academia Real Militar da Bélgica, publicou um livro para alertar a
opinião pública contra o perigo de uma agressão soviética. Disse-nos o seguinte: «1939
parece-se com 1982, os nazis de então são os comunistas de hoje, o antifascista Einstein
tem o seu sucessor no anticomunista Soljenítsine.»27
Para nos demonstrar a ameaça terrível que pesava sobre o Ocidente em 1982, Henri
Bernard considerou útil guiar-nos numa digressão através da história da União Soviética
desde 1927. Eis algumas frases colhidas ao longo do percurso: «No plano privado,
Lénine era, tal como Trótski, um ser humano. A sua vida sentimental não era
desprovida de fineza. Trótski devia normalmente suceder a Lénine. Apesar de algumas
divergências de opinião, Lénine manteve sempre uma grande afeição por Trótski.
Pensava nele como o seu sucessor. Achava que Stáline era demasiado brutal. No plano
interno, Trótski manifestava-se contra a burocracia apavorante que paralisava o
aparelho comunista. Por último, Trótski afirmava que um regime só poderia

24
Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Union générale. d’Editions, Paris, 1976, collection 10-18,
pp.193, 256, 257 e 247.
25
Trotski, La lutte antibureaucratique en URSS, Union générale. d’Editions, 1975, pp. 300, 301, 169 e 213.
26
Turpin Pierre: Le trotskisme aujourd’hui, Ed. L’Harmattan, Paris, 1988, p. 61-62.
27
Bernard Henri, 1982, p. 9.

9
desenvolver-se com uma maior liberdade de opinião e um espírito crítico construtivo.
Artista, homem de letras, inconformista e frequentemente profeta, não podia entender-
se com os dogmáticos primários do Partido.»28
Eis como fala um dos principais chefes do serviço de informações militares sobre os
méritos de Trótski.
A partir de 1938, quando a agressão hitleriana pesava como uma ameaça constante
sobre a União Soviética, num momento em que o partido comunista travava uma luta
decisiva contra os derrotistas e capitulacionistas, e em que mobilizava todas as suas
forças para a batalha gigantesca que se aproximava, Trótski fazia agitação como
provocador, e as suas afirmações tornaram-se armas nas mãos dos agentes nazis. Em
1938, todos os comunistas e patriotas soviéticos se entregavam de corpo e alma às tarefas
políticas e militares na expectativa da agressão nazi. Os apelos dementes de Trótski à
insurreição armada só poderiam encontrar eco entre os piores inimigos do socialismo.
Eis algumas afirmações feitas por Trótski entre 1938 e 1949:
«Só é possível assegurar a defesa do país destruindo a clique autocrática dos
sabotadores e derrotistas». (3 de Julho de 1938).29 Neste momento, ante a ameaça nazi,
as tensões eram muito fortes na União Soviética. Certos grupos oportunistas, para os
quais os sacrifícios eram demasiado pesados, e certos grupos contra-revolucionários
conceberam planos para um golpe de Estado. A depuração, inteiramente necessária face
à de uma guerra de resistência, foi dirigida contra estas forças. Trótski ofereceu-lhes um
novo argumento de agitação contra o partido, afirmando que a derrota da URSS face aos
nazis seria certa se Stáline e os stalinistas permanecessem no poder. Consequentemente,
era preciso destruir a direcção do partido através de uma insurreição. Estes propósitos
correspondiam exactamente às intenções dos nazis, que pretendiam provocar uma guerra
civil para realizar mais facilmente os seus planos de invasão.
«Só o derrubamento da clique bonapartista do Krémlin poderá permitir a
regeneração do poderio militar da URSS. Aqueles que defendem directa ou
indirectamente o stalinismo, que exageram o poderio do seu exército, são os piores
inimigos da revolução socialista e dos povos oprimidos.» (10 de Outubro de 1938).30
Assinale-se que os nazis alemães acreditaram nesta propaganda, que os animou na sua
determinação de acabar com bolchevismo. Mas após seis meses de guerra tiveram que
reconhecer que haviam subestimado o potencial militar e a combatividade dos
soviéticos...
«Só uma insurreição do proletariado soviético contra a tirania infame dos novos
parasitas pode salvar o que ainda subsiste das conquistas do Outubro nos fundamentos
da sociedade». (14 de Novembro de 1938).31
«As conquistas da Revolução de Outubro não servirão o povo se este não se mostrar
capaz de agir contra burocracia stalinista como antes fez com a burocracia tsarista e a
burguesia. (...) Isto só pode ser feito de uma única maneira: pelos operários, os
camponeses e os soldados do Exército Vermelho que se levantarão contra a nova casta

28
Ibidem, pp. 48-49.
29 Trotski: L’appareil policier du stalinisme, Union générale d’Editions, Paris, 1976, collection 10-18, p.169
30
Idem, ibidem, p. 188.
31
Idem, ibidem, p. 206.

10
de opressores e parasitas. Para preparar um levantamento em massa, é preciso um
novo partido, a IV Internacional». (Maio de 1940).32
O leitor terá reparado na data em que esta prosa delirante foi produzida: Maio de
1940. Havia já sete meses que a Inglaterra e a França tinham declarado guerra à
Alemanha de Hitler; dois meses antes, a Finlândia, aliada da Alemanha, tinha capitulado
perante a União Soviética após três meses de guerra. Stáline tenta por todos os meios
ganhar tempo, mas sabe que a partir deste momento a agressão nazi pode acontecer a
qualquer momento. É neste contexto que Trótski lança as suas provocações mais infames
e criminosas: apela à insurreição popular, depois a uma insurreição do exército contra a
«nova casta dos parasitas», termos que eram muito populares na altura entre os
hitlerianos. Seria possível os bolcheviques não concluírem que Trótski tinha degenerado
ao ponto de agir como um agente de Hitler?
Todas as suas declarações anticomunistas, durante o período entre 1938 e 1940,
mostravam que Trótski e os seus pequenos grupos de acólitos se tinham transformado
em provocadores, consciente e inconscientemente, ao serviço dos nazis. Mas não
puderam exercer a menor influência no desenrolar dos combates. Graças a um trabalho
gigantesco de organização da população e de mobilização do Exército Vermelho e das
formações de guerrilheiros, graças aos esforços sobre-humanos no domínio da produção
militar e da construção de novas fábricas, os bolcheviques conseguiram preparar
eficazmente o país para a confrontação inevitável com os criminosos nazis.
No final da guerra antifascista, um pouco por todo o mundo, os pequenos grupos
trotskistas estavam completamente desacreditados e isolados.
Foi Khruchov quem permitiu aos anticomunistas trotskistas levantar a cabeça,
atacando a obra gigantesca do camarada Stáline nos termos retomados à reacção
mundial. A linha de Khruchov, aprofundada e desenvolvida por Bréjnev, resultou hoje na
restauração do capitalismo selvagem.
Hoje podemos dizer que quem não é capaz de reconhecer o carácter provocador,
anticomunista e pró-fascista das referidas teses de Trótski, nada tem de comunista.

Mandel apoia os nazis ucranianos

Vejamos agora quais as forças políticas e sociais que os trotskistas apoiaram em nome
da sua «revolução política», desde a Segunda Guerra Mundial.
Quando os nazis ocuparam uma parte da URSS em 1941, fundaram e apoiaram na
Ucrânia um movimento nacionalista e pró-nazi que massacrou centenas de milhares de
judeus, polacos e comunistas. Em 1944, no momento da retirada, os nazis deixaram
grupos fascistas ucranianos, dirigidos por oficiais alemães nazis, atrás das linhas do
Exército Vermelho. O grupo de Mandel aclamou esta contra-revolução nazi, como
fazendo parte da «revolução política antiburocrática». Inacreditável? Julguem vós
próprios:
Em 1988, o grupo de Mandel escreveu o seguinte: «Durante a Segunda Guerra
Mundial, a IV Internacional subestimou gravemente as potencialidades revolucionárias
do movimento nacionalista ucraniano. A Internacional só se apercebeu da existência do

32
Idem, ibidem, pp. 302-303.

11
movimento revolucionário de libertação nacional cinco anos depois da guerra, quando
os guerrilheiros ucranianos travavam o seu último combate».33
Aqui, os trotskistas revelaram-se abertamente como provocadores ao serviço dos
nazis. Os trotskistas retomaram para o efeito a mentira difundida desde 1945 pelos
serviços secretos norte-americanos, segundo a qual os nacionalistas ucranianos tinham
combatido «contra Hitler e contra Stáline». O que aconteceu na realidade?
Numa revista para antigos combatentes da Frente Oeste, um oficial alemão da
Waffen-SS relatou a sua experiência na Ucrânia. Ele reconhece que o povo ucraniano
«estava muito desiludido com a política alemã durante a ocupação». Antes da sua
retirada, o exército alemão formara a divisão Galitzia da Waffen-SS, composta por
ucranianos e dirigida por militares alemães. O chefe do Exército Insurreccional
Ucraniano, Melnik, tomou «a decisão muito responsável de lutar nas duas frentes:
contra os soviéticos e contra os alemães.» (Contra os alemães que... já estavam em
retirada). O oficial nazi descreve então os combates em que participou com os «seus
ucranianos» contra o Exército Vermelho, em Julho de 1944. «O facto de soldados
alemães e ucranianos terem combatido juntos contra o inimigo comum conferiu uma
nova dimensão à história das relações germano-ucranianas.»34
A «revolução política» trotskista torna-se realmente maravilhosa com a Waffen-SS na
sua vanguarda!

Com a contra-revolução em Berlim e em Budapeste

A grande maioria da população alemã apoiou activamente o regime hitleriano ao longo


da guerra. Cinco anos depois da derrota, a influência dos nazis era ainda muito presente,
tanto na Alemanha Ocidental como na Oriental. A Ocidente os antigos nazis e os seus
colaboradores continuaram à frente das grandes empresas, da magistratura e do exército.
A guerra fria, desencadeada pelos EUA e a Inglaterra, alimentava o anticomunismo dos
nostálgicos da Nova Ordem na RDA. Quando em 1953, em Berlim-Leste rebenta uma
revolta dirigida por antigos nazis e apoiada pela rede do general Gehlen, antigo chefe dos
serviços secretos nazis que passara para a CIA, Mandel aclamou esta «luta
antiburocrática». «A casta burocrática não recua ante os crimes mais revoltantes. Esta
lição da história já foi escrita com sangue nos muros de Berlim em 1953».35
Na Hungria, o regime fascista de Horthy tinha dominado o país sem interrupção desde
1919 até 1944. Em 1956 rebenta a contra-revolução húngara, desencadeada pelos
fascistas com o apoio da CIA. Mandel aplaudiu: «A revolução húngara de Outubro-
Novembro de 1956 foi a que chegou mais longe na via da revolução política
antiburocrática plenamente desenvolvida».36
Acrescentemos que aqueles que, em 1989, em Budapeste, proclamaram o reino da
livre iniciativa e pediram a adesão à NATO, estavam assim a realizar o programa da
insurreição anticomunista de 1956. Saudaram a memória do «herói nacional», Imre
Nagy, que, em 31 de Outubro de 1956, tinha rompido com o Pacto de Varsóvia e

33
Turpin Pierre: Le trotskisme aujourd’hui, Ed. L’Harmattan, Paris, 1988, p.23.
34 Berkenkruis, Junho de 1992, n.° 6, pp. 4-5, artigo antes publicado em Der Freiwillige, de Outubro de 1956.
35
Rood, 6 de Junho de 1989, p. 2.
36
Inprecor, XIe Congrès mondial de la IVe Internationale, Novembro de 1979, p.250.

12
decretado a «neutralidade» da Hungria… o que era precisamente a palavra de ordem
mais avançada, formulada pela Rádio Europa Livre.37 A imprensa trotskista saudou as
grandes manifestações anticomunistas do Verão de 1989 na Hungria. Assim, Mandel
escreve: «Nesta semana, um milhão de pessoas manifestou-se, em Budapeste, para
prestar homenagem à memória do camarada Imre Nagy, líder comunista do governo
dessa revolução que foi fuzilada pelos stalinistas».38 (Entre parênteses, a imprensa
fascista também saudou a memória de Nagy, esse eminente nacionalista executado pelos
stalinistas…). Mais adiante, o mesmo jornal trotskista afirma: «Imre Nagy pagou com a
vida a sua acção corajosa ao lado dos conselhos de operários da grande Budapeste.
Estes conselhos exigiam a democracia no quadro do socialismo.»39
No livro A URSS e a Contra-Revolução de Veludo dedicámos um capítulo à análise da
contra-revolução de 1956 na Hungria.

Com o Solidarnosc, o «poder operário»

Na Polónia, o Solidarnosc foi apresentado pelos trotskistas como uma organização


empenhada na luta contra a burocracia stalinista e pelo socialismo proletário! A IV
Internacional escreveu em 1981: «Cada vez mais, o Solidarnosc funciona
objectivamente, pelo menos a nível local e regional, como um órgão de duplo poder; a
revolução política antiburocrática já começou, de facto, na Polónia. A experiência
polaca ilustra o conteúdo proletário revolucionário das reivindicações democráticas e
nacionais nos estados operários burocratizados.»40 Ainda em 1981, os trotskistas
queixaram-se de que o Solidarnosc não queria tomar o poder, apesar de representar uma
alternativa, o poder dos trabalhadores. «As pessoas estão desarmadas pela
incapacidade de Solidarnosc de tomar o poder. (...) Seria particularmente trágico neste
momento que o ódio do totalitarismo pudesse servir para desarmar os trabalhadores
confrontados com a ditadura totalitária. Surgiu um poder contra o Estado: o poder dos
trabalhadores polacos.»41 E quando em 1989, com o apoio de Reagan, Bush, Thatcher e
de todos os serviços de secretos ocidentais, o Solidarnosc se preparava para tomar o
poder, Mandel ainda não mudara de opinião sobre a natureza do Solidarnosc, e afirma:
«A legalização do Solidarnosc é uma vitória para a classe operária.»42

Com a CIA na Checoslováquia

Em 1990, na Checoslováquia, o conhecido colaborador da Rádio Europa Livre e da


CIA, Vaclav Havel, toma o poder. Ele nomeará o trotskista Peter Uhl como director da
agência de imprensa checoslovaca e porta-voz oficial do novo Estado burguês pró-norte-
americano! Uhl escreve então: «Pode-se discutir em que medida a teoria de Trótski
sobre a revolução política se justificou. Eu penso que é na Checoslováquia que a

37
Martens Ludo, L’URSS et la contre-révolution de velours, Ed. EPO, Bruxelles, 1990, p. 107.
38 Rood, 20 de Junho de 1989, p. 6.
39
Rood, n.°12, 20 de Junho de 1989, p. 12.
40
Inprecor, n.° 105, 6 de Julho de 1981, p. 14.
41
Sean Connoly, Inprecor, n.° 108, 14 de Setembro de 1981, p. 24.
42
Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.

13
realidade se aproxima mais desta teoria».43 Em 12 de Novembro, Mandel desenvolve o
mesmo raciocínio, levando-o até ao absurdo (ou ao sórdido, como queiram). Compara a
contra-revolução checoslovaca… com a Grande Revolução de Outubro! No seu relatório,
os trotskistas escrevem: «Mais brilhante que nunca, o nosso camarada Ernest Mandel
reafirma que não há nenhuma dúvida: o que nós vivemos agora na Checoslováquia e
na RDA é uma verdadeira revolução, com uma magnitude e uma profundidade sem
precedentes desde a revolução russa de 1917».44
Peter Uhl fez também uma excelente descrição da «revolução política» na
Checoslováquia, enquanto revolução anticomunista, levada a cabo por uma frente de
todas as forças reaccionárias: «Havia quem visse na Carta 77 um passo na direcção da
revolução política. É o meu caso. Outros viam nela um meio para propagar a palavra
de Cristo. Foi um verdadeiro laboratório de tolerância.» «Desde que se diga que somos
contra o “comunismo”, contra o stalinismo, contra a burocracia, toda a gente está de
acordo».45 Bela descrição esta da frente que reagrupava os clérico-fascistas, os
nacionalistas reaccionários, os sociais-democratas, os agentes da Rádio Europa Livre e
os três trotskistas de serviço.
Acrescentemos que os trotskistas nos ensinaram, em 1989, que «a história da
Checoslováquia realizou uma vingança estrondosa: Dubcek foi reabilitado».46 Ainda
que os verdadeiros comunistas possam divergir de opinião, quando se trata de apurar se
a intervenção soviética de 1968 foi ou não justificada, são unânimes em considerar a
«Primavera de Praga» como uma contra-revolução de tipo social-democrata.
Em A URSS e a Contra-Revolução de Veludo consagrámos um capítulo à
Checoslováquia entre 1969 e 1989. A relação entre as ideias sociais-democratas de
Dubcek em 1969 e as da «revolução de veludo» de Havel-Uhl é aí analisada. Também
comentamos os pontos de vista de Castro, que apoiou a intervenção, e de Mao, que a
condenou.

A revolução proletária na RDA!

A partir de Setembro de 1989, a burguesia revanchista da República Federal Alemã


apoiou com enormes recursos financeiros, com as suas estações de televisão e de rádio, a
agitação anticomunista na RDA. O grupo de Mandel alega que «começou uma
verdadeira revolução política».47
Duas semanas depois, Mandel saúda a «revolução proletária» na RDA! «O
recrudescimento do movimento de massas que abalou a RDA tem a magnitude de uma
verdadeira revolução. Este movimento ultrapassa tudo o que já se viu na Europa desde
Maio de 1968, talvez mesmo desde a revolução espanhola. O carácter proletário da
revolução que começou na RDA é demonstrado pela grande efervescência nas
fábricas».48 Um mês depois, em Dezembro de 1989, a excitação de Mandel atinge o auge:

43
Petr Uhl, Inprecor, n.° 304, 9-22 de Março de 1990, p. 26.
44 Rood, 26 de Dezembro de 1989, p. 5.
45
Inprecor, n.° 296, 30 de Outubro - 12 de Novembro de 1989, p. 4.
46
Rood, 26 de Dezembro de 1989, p. 8.
47
Inprecor, n.° 296, 30 de Outubro - 12 de Novembro de 1989, p. 4.
48
Mandel, Inprecor, n.° 297, 13-26 de Novembro de 1989, p.3.

14
«Estou realmente entusiasmado com tudo o que acontece em Berlim. Tudo o que Rosa
Luxemburg, Trótski e Lénine sempre desejaram pode agora realizar-se. É a primeira
revolução, desde a revolução na Holanda no século XVI, que não está ameaçada por
uma intervenção militar estrangeira. Estamos perante a primeira geração alemã, após
cerca de 200 anos, que é completamente antimilitarista e antinacionalista. O que
estimula o meu entusiasmo é a magnitude e a força excepcional deste movimento
popular. Dos 500 mil habitantes de Leipzig, 200 ou 300 mil saíram à rua todas as
segundas-feiras, durante oito semanas consecutivas. Na Alemanha Oriental, a corrente
anti-socialista é particularmente fraca. Em sete mil slogans, nem sequer um por cento
era anti-socialista. Ninguém pode dizer se a próxima revolução irá ter lugar na Rússia,
França, África do Sul ou em Espanha, mas é certo que as revoluções no Leste alemão e
na Checoslováquia terão repercussões».49
Para ilustrar o carácter «socialista» d0 movimento em curso, a IV Internacional cita
uma declaração… de um grupo social-democrata. Ora, a social-democracia alemã é uma
força de choque do imperialismo alemão, poderosa, em crescimento e expansionista. A
estratégia e as tácticas utilizadas por Willy Brandt, para infiltrar e influenciar, dividir e
destruir o partido comunista da RDA, tiveram um papel importante na degenerescência
oportunista do SED.
Eis o texto citado pelos trotskistas: «A democratização necessária da RDA pressupõe
a contestação do monopólio do poder e da pretensão à verdade do partido dominante.
Para nós, a formação de um partido social-democrata é muito importante. São nossas
orientações programáticas: Estado de direito; democracia parlamentar e
multipartidarismo; economia social de mercado com uma rigorosa proibição dos
monopólios; liberdade de criação de sindicatos independentes.»50
Deste modo, os trotskistas chegaram ao ponto de apresentar, como ilustração do
carácter «proletário» da «revolução política» em curso, um programa que propugna
abertamente o regime burguês... Apesar de Mandel afirmar que menos de um por cento
dos slogans era contra o socialismo!

A Glasnost e o multipartidarismo contra os «stalinistas»

Mandel definiu três critérios para distinguir os partidários do «stalinismo» das forças
favoráveis ao rumo para o «socialismo democrático e autogestionário»: a atitude em
relação à glasnost de Gorbatchov, ao partido comunista e à repressão na praça Tien An
Men.51

Viva a glasnost

«Definimos a glasnost como o processo de mudanças políticas que alargam o campo


de exercício das liberdades democráticas», escreveu Mandel.52

49
Humo, 21 de Dezembro de 1989, pp. 18-20.
50
Grupo Iniciativa para um Partido Social-Democrata na RDA, 12 de Setembro de 1989, in Inprecor,
n.° 297, 13-26 de Novembro de 1989, p. 10.
51
Inprecor, n.°295, 16-29 de Outubro de 1989, pp. 15-16.
52
Mandel, Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, p. 15.

15
No livro A URSS e a Contra-Revolução do Veludo reservámos um capítulo inteiro
para demonstrar que os cinco anos da glasnost prepararam de forma sistemática os
espíritos para a restauração do capitalismo integral; que a glasnost ressuscitou os ideais
da grande burguesia russa de 1917; que a glasnost deu a palavra a todos os
anticomunistas, a agentes da CIA como William Colby, seu antigo director, ou ao
reverendo Moon, aos adeptos do tsarismo e da Igreja Ortodoxa tsarista, a antigos
colaboradores nazis, aos homens de Vlássov e de Bandera.
Mandel falaria das «liberdades democráticas» em geral, sem carácter de classe, no
momento em que Gorbatchov dava liberdade a todos os contra-revolucionários que
queriam enterrar definitivamente as últimas estruturas e influências socialistas. A ideia
mais elementar do leninismo é que o socialismo é uma ditadura de classe, que une os
trabalhadores contra as forças da burguesia, contra as forças da exploração.
«Reconhecemos que toda a liberdade», afirma Lénine, «se ela não se subordina aos
interesses da libertação do trabalho do jugo do capital, é um logro».53

Abaixo o partido único!

A glasnost deu a palavra a todas as correntes anticomunistas, e permitiu também que


todas as forças capitalistas e pró-imperialistas se organizassem e lutassem abertamente
pela restauração. Em 1989, Mandel aclamou a organização de partidos anticomunistas e
contra-revolucionários na URSS. «O início de eleições autênticas, que se verifica hoje na
URSS, é um grande passo em frente. Mas é preciso que haja eleições realmente livres,
com liberdade para constituir tendências, fracções e partidos diversos, sem restrições
ideológicas.»54
Entre 1989 e 1990, Mandel assistiu à realização do seu maior sonho: a legalização «de
partidos diversos, sem restrições ideológicas»; e a nova burguesia soviética manifestou-
se através dos partidos sociais-democratas, liberais, democratas-cristãos, nacionalistas-
tsaristas, etc. Este pluralismo burguês marcou a liquidação final do socialismo e a
restauração completa do capitalismo. Hoje, a prática da luta de classes mostrou o
carácter e a natureza desta reivindicação principal fundamental dos trotskistas,
formulada desde 1979. No seu IX Congresso Mundial, o grupo de Mandel aprovou uma
resolução que «reinventa», quase palavra por palavra, as teses anticomunistas do
renegado Kautsky, contra as quais Lénine lançou a sua célebre polémica. Deste modo,
comprova-se, mais uma vez, a verdade muitas vezes repetida pelo partido bolchevique e
pelo camarada Stáline: O trotskismo é a social-democracia de direita, adornada com um
fraseado de «esquerda». No capítulo «Partido único ou pluripartidarismo», Mandel
afirma: «Se dissermos que só os partidos e organizações que não tenham programas
burgueses (e pequeno-burgueses?) podem ser legalizados, onde é que iremos traçar a
linha de demarcação? Os partidos cujos membros sejam maioritariamente oriundos da
classe operária, mas que ao mesmo tempo tenham uma ideologia burguesa, deverão
ser proibidos? Qual é a linha de demarcação entre um “programa burguês” e a
“ideologia reformista”? Devemos desde logo proibir igualmente os partidos

53
«I Congresso de Toda a Rússia sobre Ensino Extra-Escolar», V.I. Lénine, Obras Escolhidas em três
tomos, Ed. Avante!, Lisboa 1986, t. 5, pág. 257. (N. Ed.)
54
Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.

16
reformistas? Iremos suprimir a social-democracia? (…) Nenhuma democracia operária
autêntica será possível sem a liberdade de constituir um sistema multipartidário.»55
Sim, é verdade que Lénine proibiu os partidos sociais-democratas, isto é, os
mencheviques e os socialistas-revolucionários. Isto porque, na guerra civil, eles
combateram ao lado do tsarismo, da burguesia e das forças intervencionistas; e porque
foram esmagados juntamente com as forças feudais e burguesas. Lénine sublinhou várias
vezes que um representante inteligente da grande burguesia, como Miliukov,
compreendia perfeitamente que, numa primeira fase, só um partido de «esquerda»,
social-democrata, teria possibilidades de arrastar as massas para a luta antibolchevique.
É por isso que Miliukov contentar-se-ia com mera legalização de um partido social-
democrata...

«Não reprimir a contra-revolução!»

O trotskismo nunca perde de vista o seu único inimigo: o marxismo-leninismo e o


movimento comunista internacional. Assim, negando galhardamente o perigo de uma
restauração, Mandel concentra os seus ataques contra aqueles que denunciam os
processos contra-revolucionários em curso e que enfrentam efectivamente a contra-
revolução em marcha.
Ao longo de 1989, duas tendências políticas ousaram enfrentar a contra-revolução em
ascensão. Em primeiro lugar, na Europa de Leste, forças com orientações oportunistas
desde há muitos anos, do tipo khruchovianas, que praticaram o seguidismo em relação à
União Soviética e se deram conta das intenções reais de Gorbatchov. Em segundo lugar, o
Partido Comunista da China, que reprimiu a revolta anti-socialista em Pequim.
Para acelerar o processo de restauração na União Soviética, Gorbatchov deu
deliberadamente luz verde a todas as forças anticomunistas na Europa de Leste. Levando
a glasnost à sua conclusão lógica, Gorbatchov queria impedir que os autênticos
comunistas dos países do Leste e da União Soviética pudessem formar uma frente anti-
restauracionista. Ao mesmo tempo, a restauração integral do capitalismo na Europa de
Leste deveria encorajar e ajudar os «reformadores» da URSS.
Numa altura em que a restauração estava praticamente terminada na Polónia e na
Hungria, Mandel afirma: «A Europa de Leste está a ser actualmente abalada por uma
crise sem precedentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao contrário do que
uma análise superficial poderia fazer crer, a burguesia europeia não vê com bons olhos
esta desestabilização. Ela não tem a esperança de recuperar o capitalismo na Europa
de Leste».56 Um ano mais tarde, a afirmação de que o imperialismo não tem a esperança
de recuperar os países de Leste seria suficiente para qualificar Mandel como o bobo da
contra-revolução. Procurou justificar assim a sua ajuda a todas as forças anti-socialistas
que se lançavam no assalto contra a «burocracia». Ao mesmo tempo, Mandel minava
toda a vigilância em relação à nova burguesia e ao imperialismo.
Em contrapartida, Mandel mantinha uma vigilância cerrada em relação às fracas
forças comunistas que tentavam resistir à ofensiva da burguesia! «Assistimos à
coordenação de uma espécie de “frente internacional” anti-gorbatchoviana, que inclui

55
Inprecor, número especial, IX Congresso Mundial, 1979, pp. 236-237.
56 Mandel, Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p. 4.

17
os chamados “conservadores” na Roménia, na Checoslováquia, na Alemanha de Leste,
as minorias neo-stalinistas na Polónia e na Hungria.»57
Em Abril de 1989, Mandel saúda os notórios progressos na Polónia e na Hungria da
restauração burguesa, designada «experiência pluralista». Havel é o seu herói e os
opositores à restauração são os seus inimigos obstinados. «Num momento em que na
Polónia e na Hungria têm lugar experiências de pluralismo, a direcção de Praga
reafirma o princípio do “papel dirigente do partido” (…) A imprensa da Alemanha de
Leste continua a apoiar a repressão na Checoslováquia e pressiona para a constituição
do eixo Praga-Berlim-Bucareste contra a perestroika. O Neues Deutschland descreveu
Havel como um provocador». «Enviem mensagens de solidariedade a Vaclav Havel na
prisão».58 Para os trotskistas, toda a repressão das forças anti-socialistas, todas as
prisões de agentes subversivos ao serviço da CIA, como Havel, é um crime monstruoso.
Em Maio de 1989, os estudantes anticomunistas de Pequim aclamaram Gorbatchov
com gritos de «Viva a glasnost e a perestroika» e «Viva o Solidarnosc». Quando o motim
contra-revolucionário de 4 de Junho de 1989 foi reprimido, Mandel juntou-se à extrema-
direita internacional, dirigida na ocasião pelo Kuomintang, partido fascista reinante em
Taiwan. Numa primeira reacção aos acontecimentos de Pequim, o grupo de Mandel
escreveu: «A casta burocrática não recua perante os crimes mais repugnantes. Esta
lição da história já foi escrita com sangue nos muros de Berlim em 1953, em Praga em
1968, em Gdansk em 1970 e em Varsóvia em 1981. A dimensão dos horrores em Pequim
só pode ser comparada com a forma como a revolução húngara foi esmagada em 1956.
(…) Os verdugos de Pequim ainda não ganharam a batalha. Hesitaram demasiado
tempo! Hoje, o povo chinês revolta-se. A insurreição alastra através do país. O exército
desmorona-se, há a ameaça de uma verdadeira guerra civil».59 Tal como os fascistas de
Taiwan, os trotskistas esperavam ver desenvolver-se na China uma «verdadeira guerra
civil» contra a «classe burocrática». Mais tarde, o próprio Mandel produziu uma análise
«teórica» em que afirma: «A comuna (!) de Pequim de Abril-Maio de 1989 foi o início de
uma revolução política autêntica que tentou substituir o poder corrupto e ineficaz de
uma clique de déspotas burocratas pelo verdadeiro poder das massas populares. (…) As
massas que se insurgiram em Pequim não tinham nenhum interesse em restaurar o
capitalismo. Também não tinham a intenção de o fazer».60
Felizmente que os trotskistas não foram os únicos a salvar a honra, como logo se
apressaram a declarar: «Só a ala esquerda do Partido Comunista da URSS salvou a
honra do comunismo». «Sentimo-nos orgulhosos de estarmos hoje ombro a ombro com
outros comunistas no nosso protesto contra a repressão sangrenta na China. A
primeira reacção foi de Boris Iéltsine. “O que está a acontecer na China é um crime”,
declarou este membro do Soviete Supremo recentemente eleito.»61 Eis pois Mandel de
novo orgulhoso por estar na companhia de Iéltsine.
No ensaio «Tien An Men 1989: da deriva revisionista ao levantamento contra-
revolucionário» fornecemos provas sobre o verdadeiro carácter do movimento de
Pequim.

57
Inprecor, n.° 283, 6 de Março de 1989, p 3.
58 Inprecor, n.° 287, 1 de Maio de 1989, pp. 8-9.
59
Rood, 6 de Junho de 1989, p. 2.
60
Rood, 20 de Junho de 1989, pp. 6-7.
61
Rood, 20 de Junho de 1989, pp. 6 e 12.

18
Fang Li-Zhi, o pai espiritual incontestável do «protesto» estudantil de Pequim,
declarou em 17 de Janeiro de 1989: «O socialismo, na sua mistura Lénine-Stáline-Mao,
foi completamente desacreditado. Será que uma economia livre pode ser compatível
com a forma especificamente chinesa de governo ditatorial? A ditadura socialista está
intimamente ligada a um sistema de propriedade colectiva e a sua ideologia é contrária
ao tipo de direito de propriedade requerido por uma economia livre.» Três dos
principais dirigentes do movimento de Pequim, Yan Jiaqi, Wuer Kiaxi e Wang Runnan,
refugiaram-se em França e criaram a Federação para a Democracia. No seu programa
definem como objectivo: «Desenvolver uma economia de iniciativa privada e pôr fim à
ditadura do partido único». Em nome do multipartidarismo, os três juntaram-se ao
partido fascista de Tawain, o Kuomintang. Wuer Kiaxi, que teve grande destaque na
imprensa trotskista, encontrou-se em 29 de Janeiro de 1990, na República Popular da
China, com o chefe da espionagem taiwanesa, John Chang, a quem afirmou: «O diálogo
entre os chineses anticomunistas é o primeiro passo para a unidade». Yan Jiaqi e Wang
Runnan também estiveram em Taiwan. Yan declarou: «O facto de Taiwan ter um
governo democrático é para nós importante. Parece-me que esta é a base fundamental
para a unificação de Taiwan e da China continental». Yueh Wu, o líder do dito
«Sindicato Operário Independente», tão caro aos trotskistas, chegou a Taiwan em 16 de
Junho de 1990, a convite da... Liga Mundial Anticomunista.62
Assim, no seu intuito de distinguir os stalinistas, que defendem os princípios do
marxismo-leninismo, dos partidários do «socialismo multipartidário», Mandel definiu
um terceiro critério: «Outro indicador é a atitude em relação à repressão sangrenta da
Comuna de Pequim. No campo daqueles que condenaram os massacres da Praça Tien
An Men estão quase todos os partidos favoráveis à glasnost.63

Os «stalinistas» de Pyongyang até Havana

Em Outubro de 1989, Mandel classificou como forças «stalinistas» os partidos


comunistas da China, da República Democrática Alemã, do Vietname, da Roménia, da
Checoslováquia, da Bulgária, do Japão, da Índia (PCI-marxista), da Coreia do Norte, da
Albânia, de Portugal, os grupos que designou como pró-albaneses e maoístas, e também
o Partido Comunista Cubano.
Quando afirma que «o partido comunista cubano ocupa uma posição à parte»,
Mandel refere-se à sua táctica particular em relação a Cuba com vista à destruição do
partido comunista. Isto ressalta claramente ao desenvolver a seguinte tese: «Os ataques
de Fidel Castro e da direcção cubana contra a glasnost, ou seja, contra o processo de
democratização parcial em curso na URSS, são contrários aos interesses do
proletariado soviético, aos do proletariado mundial e aos da revolução cubana. Eles
ameaçam provocar uma grave crise de legitimidade da direcção cubana perante uma
parte das massas, sobretudo dos jovens». «Os entraves à liberdade de pensamento
multiplicam-se em Cuba». O partido comunista «substitui» as massas. «Esta penosa
regressão ideológica é, a longo prazo, suicidária». Castro não pode lutar eficazmente
contra «a degenerescência burocrática do Estado cubano» porque «rejeita a glasnost, a

62
«Tien An Men 1989: de la dérive révisionniste à l’émeute contre-révolutionnaire», in Etudes
marxistes, n.°12, Setembro de 1991, Bruxelas, pp. 62-63.
63
Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, pp.15-16.

19
democratização pluralista, o controlo institucionalizado pelas massas». «Assim não lhe
resta senão a luta burocrática contra a burocracia. É caminhar para um fracasso certo,
como já vimos na URSS e na República Popular da China».64 Isto mostra bem que o
ódio dos trotskistas ao «regime burocrático de partido único» atinge também o «partido
único cubano». Se a abordagem táctica é diferente, é porque os trotskistas consideram
que assim serão mais eficazes a destruir o movimento comunista na América do Sul,
infiltrando o Partido Comunista Cubano e os partidos próximos de Cuba. Isto já
aconteceu em resultado do trabalho destrutivo realizado durante dez anos por estes
anticomunistas no interior da Frente Sandinista. Agora esperam poder aproximar-se da
ala «progressista, antiburocrática e reformista» do Partido Comunista Cubano. Têm a
esperança de que o longo convívio dos cubanos com os soviéticos possa ter sido suficiente
para formar partidários da glasnost e do multipartidarismo.
Entretanto tivemos oportunidade de verificar na Europa de Leste e na União Soviética
no que resultaram os judiciosos conselhos de Mandel: triunfo da contra-revolução,
restabelecimento integral do capitalismo, ressurgimento do fascismo e do nacionalismo
reaccionário, um capitalismo selvagem, onde super-ricos passam ao lado de uma massa
de milhões de pessoas lançadas na miséria desumana e na guerra civil. Não duvidamos
de que o Partido Comunista Cubano tomará as medidas que se impõem para impedir a
infiltração destes contra-revolucionários e anticomunistas profissionais.

Segue mais
abaixo:

64
Inprecor, n.° 295, 16-29 de Outubro de 1989, pp. 18-19.

20
Trotskismo
Teses e reflexões de Trotsky, o líder revolucionário comunista

Renato Cancian*

Leon Trotsky comandou o Exército Vermelho

O trotskismo é um termo comumente empregado para designar as teses e reflexões


teóricas sobre a práxis e a teoria revolucionária comunista elaborada por Leon Trotsky
(em russo: Lev Davidóvitch Trótskii). Intelectual marxista e líder revolucionário
bolchevique, Trotsky nasceu em 1879, na Ucrânia, e morreu em 1940, no México.

O conjunto de seus escritos e publicações enfoca quatro temas centrais, que tiveram
grande influência no ideário e nos movimentos socialistas:

- a lei do desenvolvimento combinado e desigual;


- a crítica à degeneração do Estado soviético (devido à burocratização);
- a elaboração das características constitutivas da sociedade socialista;
- o internacionalismo.

Todos esses temas integram a teoria da Revolução Permanente que, segundo o próprio
Trotsky, não deve ser considerada uma contribuição original porque está baseada no
pensamento e teorias formuladas por Karl Marx, Friedrich Engels e também por
Vladimir Lênin.

Teoria da Revolução Permanente

De acordo com o próprio Trotsky, a teoria da Revolução Permanente foi inspirada no


pensamento de um judeu russo, chamado L. Helfand, que depois emigrou para a
Alemanha e adotou o pseudônimo de Parvus. Ao tomar conhecimento das reflexões de
Parvus, Trotsky enriqueceu sua teoria agregando novas contribuições à análise.

A teoria da Revolução Permanente veio a público logo após a revolução abortada de 1905,
na Rússia czarista, a partir de um breve texto intitulado "Balanços e Perspectivas". De
acordo com a teoria marxista, a revolução socialista será alcançada após um processo
histórico e mediante algumas etapas, cuja finalização ocorre quando se liquida com a
sociedade de classes.

Entre os adeptos do marxismo, acreditava-se que era imprescindível a etapa relacionada


ao desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e, por conseguinte, da burguesia e
do modelo de democracia parlamentar, para depois chegarmos ao socialismo. Trotsky
rejeitou, porém, essa tese e defendeu o princípio segundo o qual era possível "pular"
algumas etapas do processo revolucionário.

Rússia czarista

A base empírica que sustentava a tese de Trotsky era um minucioso estudo das
características do desenvolvimento social e econômico da Rússia sob o regime czarista.
O Estado russo era um aparelho político cuja estrutura e funções serviam aos
interesses da aristocracia czarista. Ou seja, o aparelho estatal russo era um Estado
absolutista.

O desenvolvimento econômico fomentado pelo Estado russo no final do século 19


acarretou um acelerado processo de industrialização que, embora tardio em comparação
com outros países europeus, provocou o aparecimento das fábricas e, por conseguinte, o
surgimento do proletariado industrial.

Conforme as teses de Trotsky, o desenvolvimento econômico da Rússia era do tipo


"desigual" e "combinado" e foi estimulado por influências externas. A Rússia foi
obrigada a avançar por "saltos", mas a conseqüência desse tipo de modernização foi a
coexistência de estruturas produtivas novas e arcaicas. Desse modo, entende-se por que
a classe média manteve-se exígua e a burguesia industrial permaneceu estritamente
dependente, fraca e temerosa diante do aparelho estatal.

A revolução de 1905 mostrou, porém, que o proletariado tinha força para promover a
ruptura da ordem social. Com essa análise, Trotsky defendeu a tese de que o
proletariado industrial russo, embora sendo uma minoria da população, poderia vencer. E
a concretização da revolução provaria, portanto, que não seria necessário atravessar a
fase de domínio da burguesia e do regime democrático de tipo parlamentar.

Trotsky salientou, porém, que a consolidação da revolução socialista na Rússia só seria


viável se ocorressem processos revolucionários similares em outros países. Esta última
tese se baseava no fato de que sem o apoio de outros Estados, o atraso tecnológico,
industrial e cultural da Rússia se revelaria um obstáculo à consolidação de um Estado
socialista naquele país.

Expansão internacional

As principais teses contidas na teoria da Revolução Permanente se concretizaram com a


Revolução de Outubro de 1917. O Estado absolutista russo foi derrubado por um
processo revolucionário socialista liderado pelo proletariado. Porém, a necessidade da
expansão internacional da revolução socialista não teve aceitação entre os principais
líderes revolucionários russos.

Trotsky refinou suas teses e análises sobre o tema publicando, em 1924, o texto
intitulado "As Lições de Outubro", cujo conteúdo ratifica a tese de que a construção do
Estado e sociedade socialista não poderia ficar permanentemente circunscrita a um
território nacional. O risco era de não conseguir se consolidar em sua plenitude devido
ao aparecimento de contradições internas e externas. Ou seja, se o Estado soviético
continuasse no isolamento correria o perigo de sucumbir.
De acordo com a perspectiva de Trotsky, a Revolução de Outubro de 1917 deveria
expandir-se internacionalmente de modo a provocar a chamada revolução mundial.
Embora Trotsky tenha acertado ao assinalar o potencial revolucionário do proletariado
de um país atrasado, como era o caso da Rússia, sua tese sobre a necessidade da
revolução mundial como condição de sobrevivência do Estado socialista russo não se
comprovou.

O teor das análises de Trotsky sobre esse último tema fez com que os líderes
bolcheviques, Stalin, Zinoviev e Kamenev, rompessem com ele. Com a morte de Lênin, em
1924, Stalin assume o poder e envia Trotsky para o exílio. No último ano de exílio, em
1929, Trotsky consegue terminar de escrever a teoria da Revolução Permanente.

Em 1930, o líder revolucionário é expulso definitivamente da Rússia e dez anos depois é


assassinado no México a mando do próprio Stalin.

*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política -
1972-1985".

__________________

Segue mais
abaixo:
Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Trotskismo X Leninismo
Lições da História

Harpal Brar
Tradução – Pedro Castro

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 1


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Parte I

Sobre o Partido de Vanguarda da Classe Operária e a Teoria de


Lênin da Revolução versus a Teoria de Trotsky da 'Revolução
Permanente'

Capítulo 1

Introdução à Parte I..................................................................................................................................................2

Capítulo 2

Partido do Proletariado

A Idéia de Lênin de um Partido Proletário de Novo Tipo e o Liquidacionismo de Trotsky.........................9

Capítulo 3

Teoria da Revolução

Teoria da Revolução de Lênin versus Teoria da 'Revolução Permanente' de Trotsky................................. 27

Capítulo 4

Conclusão da Parte I

O Trotskismo - Inimigo da Revolução Proletária e dos Movimentos de Libertação Nacional...................45

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 2


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Parte I

Sobre o Partido de Vanguarda da Classe Operária e a Teoria de Lênin da Revolução


versus a Teoria de Trotsky da 'Revolução Permanente'

"Em sua luta pelo poder, o proletariado não tem outra arma senão a organização"

"Sem uma teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário"

Lênin

Capítulo 1

Introdução à Parte I

O trotskismo é uma ideologia burguesa dentro das fileiras da classe operária. A


menos e até que o trotskismo seja sepultado ideologicamente, até que seja afastado
do movimento da classe operária, ele continuará a causar grande confusão e dano e
continuará, portanto, a desagregar a organização do proletariado para uma revolução
proletária. Daí a necessidade de extirpar o trotskismo. Daí a necessidade de entender o
trotskismo como uma tendência ideológica.

No momento, na Inglaterra, o trotskismo é apenas uma tendência ideológica


burguesa, errônea, antileninista e anticomunista no interior do movimento da classe
operária, obtendo apoio à base de uma plataforma antileninista e anticomunista,
mesmo quando seus antileninismo e anticomunismo são camuflados sob a máscara de
luta contra o 'stalinismo' ou contra a 'burocracia stalinista'. É por causa da natureza
antileninista de seu programa que a intelligentsia pequeno-burguesa e aqueles de
orientação individualista, particularmente os jovens universitários, consideram o
trotskismo muito atraente. Daí a esmagadora composição pequeno-burguesa da
maioria das organizações trotskistas na Inglaterra. Contudo, a despeito da composição
pequeno-burguesa da maioria das organizações trotskistas, é inegável que o
trotskismo continua a desfrutar de apoio entre certos segmentos da classe operária.
Por quê? Porque o trotskismo, em conseqüência da bancarrota do revisionista Partido
Comunista da Grã-Bretanha (PCGB), tornou-se capaz de apresentar-se como uma
alternativa da 'esquerda militante' ao revisionismo; porque o movimento marxista-
leninista neste país é realmente muito fraco; e porque não há ainda um verdadeiro
partido marxista-leninista revolucionário do proletariado.

Quando o movimento marxista-leninista crescer, entretanto, e o trotskismo se


tornar correspondentemente fraco, o trotskismo cessará de ser apenas outra
tendência - antileninista, anticomunista, errônea, contudo uma tendência - e tenderá
cada vez mais a se tornar, como Stalin previu, "uma gangue frenética e sem princípios
de vândalos, diversionistas, espiões e assassinos, agindo sob as instruções dos serviços
de inteligência... "-ou seja, um destacamento avançado da burguesia. O trotskismo

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 3


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

transformou-se precisamente em tal destacamento da burguesia na década de 1930.


Fez uma aliança com o fascismo; tentou ao máximo provocar a derrubada do primeiro
Estado da classe operária, ou seja, a URSS - e não há nenhuma dúvida em nossas
mentes de que bastaria a necessidade surgir novamente para o trotskismo reverter à
posição que ocupou nos anos 30. De tendência burguesa no movimento da classe
operária, seria transformado em um destacamento avançado da burguesia.

Esta é a razão pela qual devemos realizar um estudo do conteúdo do


trotskismo e da razão de sua degeneração. Expor o trotskismo como uma ideologia
contra-revolucionária, uma ideologia que é antileninista e que pode, se seguida pelos
operários, apenas levar à sua própria escravização, é da maior importância, do ponto
de vista do desenvolvimento do movimento revolucionário neste país. Alguns
camaradas sinceros algumas vezes afirmam que 'o trotskismo é contra-revolucionário,
não precisamos perder tempo com ele. Todo mundo sabe que ele é contra-
revolucionário.' Esta visão é incorreta. Nem todo mundo sabe que o trotskismo é
contra-revolucionário. O trotskismo exerce considerável influência. É, portanto, nosso
dever, cientificamente, arrancar a máscara de ultra-esquerda' de sua face e expor sua
real feição de direita. E devemos expor isso recorrendo à verdade e à documentação
histórica, não a mexericos - o método favorito dos trotskistas.

É nosso dever não tratar o trotskismo como uma piada (mesmo que
corretamente tratemos certos trotskistas como tal), porém como uma ideologia que
está causando sérios danos ao movimento da classe operária. Devemos refutar esta
ideologia burguesa cientificamente e provar aos operários (não apenas a nós mesmos)
que o trotskismo é uma ideologia burguesa contra-revolucionária que é anticomunista
e antileninista, embora por motivos de conveniência e dissimulação prefira operar sob
a bandeira do 'marxismo-leninismo'.

Lênin encetou uma luta persistente e implacável contra o trotskismo, e o


trotskismo foi derrotado e lançado ao monte de lixo, que era o seu lugar, pelos
acontecimentos que levaram à Revolução de Outubro. O próprio fato de que, poucas
semanas antes da Revolução de Outubro, Trotsky tenha sido forçado pelos
acontecimentos - pela realidade - a abandonar sua posição anterior, juntando-se ao
Partido Bolchevista, e aceitar o programa do Partido Bolchevista, basta para provar
que o trotskismo foi completamente desacreditado e refutado.

Após a morte de Lênin, o trotskismo fez outra tentativa de dar a volta por cima
e substituir o leninismo. Sofreu um completo desastre, como será visto nos capítulos
sobre os processos de Moscou. Foi derrotado.

Desde a metade dos anos 50, o trotskismo fez outra tentativa de substituir o
leninismo com algum grau moderado de sucesso. Isto porque o trotskismo foi
ressuscitado e ganhou novo fôlego de vida graças à traição do marxismo-leninismo
pelo grupo de renegados revisionistas dirigentes da União Soviética. No 20° Congresso
do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar um golpe de Estado que
levou ao poder o grupo de renegados e pelegos chefiados por N. S. Kruchev, cujo
principal objetivo era restaurar o capitalismo na União Soviética. Isto não poderia ser

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 4


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

realizado, entretanto, sem ao mesmo tempo desacreditar as conquistas da construção


socialista durante os 30 anos anteriores ao 20° Congresso do Partido e desacreditar
também o homem sob cuja liderança essas conquistas da construção socialista tinham
sido alcançadas.

É sob este prisma que o ataque ao camarada Stalin tem de ser entendido. Os
revolucionários de todo o mundo tinham tremendo respeito e afeição pelo grande
marxista-leninista que manteve alta a bandeira do marxismo-leninismo, a bandeira da
revolução proletária. Stalin defendeu, o mais resoluta e corajosamente, a ditadura do
proletariado na União Soviética contra os inimigos da classe operária dentro e fora do
movimento da classe operária. Mao Tse-tung, o grande líder da revolução chinesa,
disse o seguinte no 60° aniversário do nascimento de Stalin:

"Stalin é o líder da revolução mundial. Isto é de suprema importância. É um


grande acontecimento que a humanidade tenha sido abençoada com Stalin. Enquanto
o tivermos, as coisas irão bem. Como todos sabem, Marx morreu e depois também
Engels e Lênin. Se não houvesse Stalin, quem daria a orientação? Porém tê-lo - isto é
realmente uma bênção. Agora existe no mundo uma União Soviética, um Partido
Comunista e também um Stalin. Assim, os acontecimentos do mundo podem ir bem."

Isto realmente resume os sentimentos do povo revolucionário em todo o


mundo sobre a questão de Stalin. Precisamente por esta razão tornou-se uma
necessidade suprema para os inimigos da classe operária atacarem o camarada Stalin
antes que pudessem derrotar o leninismo na terra de Lênin, antes que eles pudessem
capturar a fortaleza por dentro e pavimentar o caminho para a restauração capitalista.
O ataque do grupo renegado revisionista não foi um ataque a Stalin como indivíduo.
Foi um ataque ao Partido Bolchevique, um ataque a seus métodos e formas de
organização, um ataque à construção socialista conduzida sob a liderança do Partido
Bolchevique, dirigido pelo camarada Stalin, um ataque à vitória da União Soviética sob
a liderança do Partido Bolchevique e de Stalin na guerra antifascista. Foi somente
quando Stalin emergiu através da luta como o porta-voz mais representativo do
Partido Bolchevique que ele atraiu para si o ódio de todos os reacionários. E é nesta
oposição e em seu ataque ao Partido Bolchevique e à ditadura do proletariado que os
dirigentes renegados revisionistas na União Soviética são indistinguíveis dos
trotskistas.

Seria de surpreender, então, que aquela "campanha frenética contra Stalin por
dirigentes do PCUS capacitasse os trotskistas, que tinham se tornado fazia tempo
cadáveres políticos, a se soerguerem outra vez e clamarem pela 'reabilitação' de
Trotsky"? (Segundo Comentário sobre a Carta Aberta do Comitê Central do PCUS, pelo
Partido Comunista da China, 13 de setembro de 1963].

Assim, como uma conseqüência do 20° Congresso do Partido, o trotskismo,


longamente desacreditado e sepultado pela população mundial, foi exumado do seu
túmulo para causar confusão no seio do proletariado.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 5


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Em um país como a Inglaterra, onde os trotskistas estão mais enraizados do


que em qualquer outro país avançado da Europa ocidental, eles estão relativamente
bem situados para iludir a classe operária e as massas militantes.

Tendo em vista o que foi dito, torna-se dever de todo revolucionário marxista-
leninista encetar uma feroz e implacável luta contra o trotskismo, que nada mais é do
que uma influência ideológica da burguesia dentro das fileiras da classe operária.

Porém, a fim de encetar uma luta contra o trotskismo, devemos antes de tudo
saber a natureza do trotskismo, os métodos por ele adotados e as formas pelas quais
ele faz seu aparecimento repulsivo de tempos em tempos.

A essência do trotskismo repousa no fato de que há uma ideologia burguesa,


não proletária, que é irremediavelmente oposta ao leninismo, ao bolchevismo
revolucionário. Esta verdade deve ser plenamente compreendida pelos revolucionários
e proletários de todas as partes. O trotskismo é oposto ao leninismo em questões tão
importantes como a natureza e o papel do Partido, a teoria da revolução e o papel da
direção. De 1903 até a Revolução de Outubro, o trotskismo como uma ideologia estava
engajado em uma severa luta contra o leninismo e contra o bolchevismo. De fato, o
trotskismo nunca cessou de se empenhar numa luta feroz contra o leninismo.
Enquanto antes da Revolução de Outubro o trotskismo engajou-se em um ataque
aberto, frontal, ao leninismo, durante e após a Revolução de Outubro ele adotou a
política de sub-reptício solapamento do leninismo, sempre sob a camuflagem de
'louvar' Lênin e o leninismo, é claro. Isto porque o trotskismo tinha se tornado fraco e
se mostrado inútil por três revoluções na Rússia - A Revolução de 1905, a Revolução de
Fevereiro de 1917 e a Grande Revolução Socialista de Outubro, também de 1917. O
leninismo, por outro lado, tinha emergido vitorioso e tinha comprovado sua correção,
tendo resistido ao teste de três revoluções. Assim o camarada Stalin descreveu o fraco
trotskismo, pós Revolução de Outubro:

"O novo trotskismo não é uma mera repetição do velho trotskismo; suas plumas
foram arrancadas e ele está um tanto murcho; é incomparavelmente mais brando no
espírito e mais moderado na forma do que o velho trotskismo; porém, na essência, ele
indubitavelmente mantém todos as características específicas do velho trotskismo. O
novo trotskismo não se atreve a apresentar-se como uma força militante contra o
leninismo; prefere operar sob a bandeira comum do leninismo, sob o slogan de
interpretar e aprimorar o leninismo. Isto porque ele é débil. Não pode ser considerado
um acidente que o aparecimento do novo trotskismo coincidiu com o desaparecimento
de Lênin. No tempo de vida de Lênin, ele não teria se atrevido a dar este passo
arriscado" (Problemas do leninismo).

Agora se deve acrescentar algo a esta profunda observação do camarada Stalin


sobre as características específicas do novo trotskismo, a saber, que o trotskismo não
mais se atreveu a desfechar ataques diretos, abertos ou sub-reptícios, contra o
leninismo. Ao contrário, agora perseguiu o mesmo objetivo de atacar o leninismo e
tentar substituí-lo pelo trotskismo pelo método indireto e dissimulado, e por isso
incomparavelmente mais perigoso e nocivo, de atacar todos os fundamentos do

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 6


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

leninismo ao atacar Stalin e o 'stalinismo', sempre, é claro, em nome de defender o


leninismo.

O caráter real do trotskismo é o uso de frases 'esquerdistas' com o propósito de


encobrir uma falta de fé na classe operária e nas amplas massas do povo e uma
capitulação ao capitalismo. A essência do trotskismo é revelada não por sua
fraseologia ultra-'esquerdista', mas por suas atividades muito distantes da
esquerda: fraseologia ultra-'esquerdista' para encobrir as ações ultracontra-
revolucionárias -tal é a natureza do trotskismo.

Há muitas pessoas que, tendo sido doutrinadas pelas lendas e mentiras


burguês-trotskistas, tendem a dizer: 'Trotsky foi um camarada em armas junto a Lênin;
Trotsky nunca disse qualquer coisa contra Lênin; Trotsky foi um bolchevique que
esteve engajado na defesa do leninismo na luta deste contra o stalinismo' e assim por
diante. Porém, tal visão é equivocada e mostra uma falta de consciência completa,
assim como uma ignorância completa da verdade histórica. Que Trotsky lutou
ferozmente contra o leninismo e o bolchevismo revolucionário e que Lênin desfechou
uma luta sem tréguas contra o trotskismo contra-revolucionário durante um longo
período (de 1903 a 1917 - antes da Revolução de Outubro e depois) são fatos
históricos bem conhecidos que 'escaparam à atenção' dos trotskistas, porque eles não
querem saber a verdade ou porque são, para usar a terminologia de Lênin,
completamente ignorantes e jovens de calças curtas que nunca aprenderam ou leram
qualquer história do bolchevismo revolucionário, mas simplesmente ocorreu irem aos
círculos trotskistas "onde a moda é andar nu", no que se refere ao conhecimento do
leninismo e de tudo que ele representa. Que Trotsky desfechou ataques perversos
contra o leninismo e Lênin não é uma 'invenção' de Stalin, como os trotskistas
usualmente afirmam, pode ser deduzido dos seguintes trechos de uma carta de
Trotsky a Chkiedze, escrita em 1913:

"O edifício inteiro do leninismo é construído sobre mentiras e falsificação e


carrega dentro de si os elementos venenosos de sua própria decadência."

Mais adiante, na mesma carta, Trotsky descreve Lênin como: "um explorador
profissional de todo tipo de atraso no movimento da classe operária russa".

Aqui, da boca do próprio Trotsky, tem-se em forma pura a verdadeira visão que
Trotsky tinha do leninismo: ele considera "o edifício inteiro do leninismo" como tendo
sido "construído sobre mentiras e falsificação" e considera Lênin como um "explorador
profissional de todo tipo de atraso no movimento da classe operária russa ".

E no entanto, isso não impediu que Trotsky, após a morte de Lênin,


reivindicasse ser o maior lutador leninista contra a "burocracia stalinista". Nem
impediu que os trotskistas de hoje, em sua incessante luta contra o leninismo, que
igualmente apresentam-se incessantemente como defensores do leninismo contra a
"burocracia stalinista", usem o nome do grande Lênin e afirmem falsidades tão
completas como a de que Trotsky foi camarada em armas de Lênin e um grande
leninista.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 7


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

A verdade é que o trotskismo está tão longe do leninismo como a terra está
longe do céu. A verdade é que o trotskismo lutou contra o leninismo no passado e está
lutando contra o leninismo agora. Antes da Revolução de Outubro ele lutou contra o
leninismo abertamente; desde a Revolução de Outubro engajou-se numa luta não tão
aberta contra o leninismo. Atualmente luta contra o leninismo indiretamente,
desfechando ataques odiosos contra Stalin e o "stalinismo". Por quê? Porque
denunciar Stalin é uma precondição necessária à denúncia do leninismo e do
bolchevismo, da ditadura do proletariado e da construção do socialismo na URSS
durante o tempo de Lênin e Stalin. Stalin foi um grande marxista-leninista que aplicou
o leninismo com sucesso, nas condições prevalecentes na URSS e no mundo, por três
décadas. Foi sob sua liderança leninista, e enfrentando a direta oposição trotskista,
que o povo soviético construiu o socialismo na Rússia e levou os povos do mundo à
guerra antifascista. Estas são realizações certamente gloriosas. Se são negadas, o que
então resta do leninismo? Não está claro, então, para todo o mundo, que este ataque
ao 'stalinismo' é certamente um ataque ao leninismo, que ele representa outra - ainda
outra! - tentativa de Trotsky de substituir o leninismo pelo trotskismo? É assim que o
Trotskismo usa o 'leninismo' para lutar contra o leninismo.

Se o trotskismo luta contra o leninismo abertamente ou não tão abertamente é


uma questão de detalhe técnico. Pertence ao reino da metodologia. Porém, a
realidade crua permanece imutável, isto é, o trotskismo ocupa-se em atacar o
leninismo (reconhecidamente, de maneira mais sofisticada do que antes de 1917, mas
de qualquer forma atacando o leninismo).

Em resumo, o trotskismo é antileninista, antibolchevique. É contra-


revolucionário.

O leninismo, por outro lado, é o bolchevismo revolucionário:

"O bolchevismo é o marxismo da era do imperialismo e da revolução proletária.


Para ser mais exato, o leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral,
a teoria e a tática da ditadura do proletariado em particular" (Stalin, Fundamentos do
Leninismo).

Estas duas ideologias - o trotskismo de um lado e o leninismo do outro -são


inconciliavelmente hostis uma à outra. Não se pode aceitar uma dessas ideologias sem
ao mesmo tempo descartar a outra. Não se pode ser um leninista sem rejeitar o
trotskismo. Nem se pode ser um trotskista sem rejeitar o leninismo. É uma coisa ou
outra: trotskismo ou leninismo.

Propomo-nos agora a fundamentar essas afirmações. Para fazê-lo, isto é,


mostrar a natureza real do trotskismo, mostrá-lo em sua forma oportunista, contra-
revolucionária, despindo-o de toda sua fraseologia ultra-esquerdista, será necessário
recorrer, ainda que brevemente, à teoria e à prática de Trotsky e seus seguidores, isto
é, ao ponto de vista teórico e prático do trotskismo sobre os acontecimentos e
movimentos mais importantes de um período bem mais longo que meio século. Qual
foi, por exemplo, a posição adotada por Trotsky a respeito do Partido Bolchevique, e

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 8


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

qual foi sua estratégia e tática para a revolução russa? Seria necessário investigar a
posição de Trotsky e seus seguidores sobre a controvérsia em torno da questão da
construção do socialismo em um só país e depois passar a revisar a reação de Trotsky e
seus seguidores frente à derrota de sua política de oposição à construção do
socialismo em um só pais: Trotsky e seus seguidores, por exemplo, recorreram às
atividades anti-Partido, ao terror e ao assassinato, ao vandalismo e à sabotagem para
realizar o que tinha sido derrotado pela esmagadora maioria do proletariado
soviético? Eles deram ou não deram as mãos aos fascistas, para o propósito de atacar
o Estado dos operários, pelos quais seu ódio era tão extremo que eles estavam
dispostos a fazer aliança com os nazistas? Eles tentaram ou não tentaram sabotar os
movimentos da Frente Popular ao redor do mundo, antes da Segunda Guerra
Mundial? Eles sabotaram ou não, com sucesso, a Frente Popular na Espanha, com isso
contribuindo para a vitória dos fascistas liderados por Franco naquele país? Também
examinaremos o ponto de vista de Trotsky e do resto da oposição a respeito da
revolução chinesa.

Segue mais
abaixo:

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 9


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Capítulo 2

Partido do Proletariado:

A Idéia de Lênin de um Partido Proletário de Novo Tipo e o liquidacionismo de


Trotsky

Importância do Partido

"Em sua luta pelo poder, o proletariado não tem outra arma senão sua
organização. Desunido pelo regime da competição anárquica no mundo burguês,
esmagado pelo trabalho forçado para o capital, constantemente empurrado para o
fundo do poço da completa indigência, selvageria e degeneração, o proletariado
somente pode tornar-se, e inevitavelmente tornar-se-á, uma força invencível, quando
sua unificação ideológica, pelos princípios do marxismo, seja consolidada pela unidade
material de uma organização que reunirá milhões de trabalhadores em um exército da
classe operária" (Lênin:One Step Forward Two Steps Back).

Devido à luta do leninismo contra o individualismo pequeno-burguês e o


'anarquismo aristocrático', é agora uma conclusão inescapável para nós, marxistas-
leninistas que, para haver uma revolução proletária deve haver um partido do
proletariado para conduzir o proletariado e as amplas massas dos milhões de
trabalhadores para fazerem tal revolução. Esta verdade, sobre a qual não é necessário
insistir demais, está confirmada pela história das revoluções proletárias na Rússia, na
China etc.

Tomemos a Rússia, por exemplo. Com a grande Revolução socialista de


Outubro, o total da humanidade deu um gigantesco passo adiante. A Revolução de
Outubro conduziu a uma nova era - a era da revolução proletária e da queda do
capitalismo. Após a Revolução de Outubro, dentro de muito pouco tempo, a Rússia
atrasada, ignorante e bárbara tornou-se um Estado socialista altamente desenvolvido
cultural e economicamente, cuja economia planejada e desenvolvimento econômico
tornou-se tema de estudo nas mãos de economistas de todo o mundo. Os aplausos à
Revolução de Outubro levaram o proletariado russo, inicialmente atrasado, à cabeça
do movimento proletário mundial, transformaram a Rússia de uma 'prisão de povos'
em uma livre fraternidade de povos. Como tal transformação, declarada absurda pela
maioria dos próprios lideres 'socialistas', foi possível? Como, no curto espaço de 20
anos, sem qualquer ajuda de fora, enfrentando a mais furiosa hostilidade dos
capitalistas e da oposição trotskista, a URSS foi capaz de avançar à base de seus
próprios recursos e construir uma sociedade socialista?

Trotskismo x Leninismo

Foi possível graças a:

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 10


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

(1) devoção e energias criativas das grandes massas nas fábricas, nas minas e
nas terras. Sem a cooperação e a participação das massas, o tipo de transformação
social bem sucedida realizada na URSS teria sido impossível. Foi por causa da
cooperação e participação do povo soviético que a União Soviética fez tremendos
avanços em todos os campos - econômico, militar, ideológico e cultural - a despeito do
fato de que a revolução não tinha especialistas próprios e teve que se valer de
especialistas que restaram do tzarismo e do capitalismo, muitos dos quais eram os
maiores inimigos do bolchevismo e, conseqüentemente, da Revolução de Outubro.
Sem o sincero apoio, cooperação, entusiasmo e trabalho heróico de milhões e milhões
das massas russas, o tremendo avanço feito pela URSS não teria sido alcançado.

(2) direção de um partido revolucionário. Não seria exagero dizer que o Estado
soviético não teria sobrevivido, muito menos desenvolvido, nessas condições, se os
operários russos não tivessem sido dirigidos por um partido revolucionário -um partido
que à base da qualidade de seus líderes, do seu auto-sacrifício e heroísmo, ganhou sua
confiança; um partido que eles estavam dispostos a seguir em todos os estágios da
luta, antes, durante e depois da revolução.

Sem o partido, o proletariado não poderia realizar a ditadura do proletariado


nem manter, consolidar e expandir esta ditadura a fim de assegurar a criação das
condições materiais e espirituais para a vitória completa do socialismo, a criação das
condições para a transição da sociedade da fase mais baixa do comunismo (socialismo)
para a fase mais elevada do comunismo, isto é, a criação das condições para o
desaparecimento gradual do Estado, quando a humanidade será capaz de
implementar a fórmula: "de cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de
acordo com suas necessidades" (Marx, Crítica do Programa de Gotha).

Em 1920, Lênin teve oportunidade de enfatizar a importância de um Partido


verdadeiramente revolucionário e disciplinado, inseparavelmente conectado com e
desfrutando a confiança e apoio da classe operária:

"Certamente, quase todo mundo agora entende que os bolcheviques não


poderiam ter-se mantido no poder por dois meses e meio, muito menos dois anos e
meio, sem a disciplina mais rigorosa, verdadeiramente férrea, em nosso Partido, e sem
o apoio mais pleno e sem reservas a este pela massa total da classe operária, isto é, de
todos os seus elementos pensantes, honestos, dispostos ao auto-sacrifício e influentes,
capazes de arrastar consigo o estrato mais atrasado" (Lênin, CW, Vol 31, p. 23, 'Left
Wing' Communism - An Infantile Disorder).

A fim de realizar, manter e expandir a ditadura do proletariado, é necessário


criar "entre as massas proletárias uma força cimentadora e um baluarte contra as
influências corrosivas das forças elementares pequeno-burguesas e contra os hábitos
pequeno-burgueses" (Stalin, Foundations of Leninism). É necessário imbuir o
proletariado a compreender-se como uma força capaz de conduzir a humanidade a seu
objetivo de uma sociedade comunista sem classes. Porém, a sociedade sem classes só
pode ser alcançada através de uma era da mais obstinada luta de classe, durante a

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 11


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

qual o proletariado necessita de seu partido - um partido de ferro, que seja temperado
na luta.

"A ditadura do proletariado", diz Lênin, "é uma luta obstinada - sangrenta e
sem sangue, violenta e pacífica, militar e econômica, educacional e administrativa-
contra as forças e tradições da velha sociedade. A força do hábito de milhões e dezenas
de milhões é uma força muito terrível. Sem um partido de ferro temperado na luta, sem
um partido que detenha a confiança de todos que são honestos na dada classe, sem
um partido capaz de proteger e influenciar o ânimo das massas, é impossível conduzir
tal luta com sucesso" (Lênin, ibid., p. 44).

Quando falamos de disciplina de ferro em um partido de vanguarda do


proletariado verdadeiramente revolucionário, isto significa uma 'cega' disciplina? Tal
disciplina de ferro exclui todo debate e toda possibilidade de conflito de opiniões
dentro do partido? Não, não é isso que significa. A disciplina verdadeiramente de ferro
não apenas não exclui o debate, a crítica e a possibilidade de conflito de opinião
dentro do partido, mas, ao contrário, pressupõe tal crítica, debate e conflito de
opiniões. A disciplina de ferro em um partido verdadeiramente revolucionário está
baseada na submissão consciente e voluntária de seus membros e em sua unidade de
vontade e unidade de ação. Sem tal unidade de vontade e unidade de ação, sem
submissão voluntária e consciente, a disciplina de ferro é impossível. Eis o que Lênin
diz sobre a questão da manutenção da disciplina em um partido revolucionário:

"E antes de tudo apresenta-se a questão: como manter a disciplina de um


partido do proletariado? Como testá-la? Primeiro, pela consciência de classe da
vanguarda proletária e por sua devoção à revolução, por sua perseverança, auto-
sacrifício e heroísmo. Segundo, por sua capacidade de ligar-se com, manter-se em
contato com e, até certo ponto, se necessário, unir-se com as massas mais amplas dos
trabalhadores - primeiramente com o proletariado, porém também com as massas
laboriosas não proletárias. Terceiro, pela correção da direção política exercida por esta
vanguarda, pela correção de suas estratégia e tática políticas, desde que as amplas
massas estejam convencidas, por sua própria experiência, de que elas estão corretas.
Sem essas condições, a disciplina em um partido revolucionário, que seja realmente
capaz de ser o partido da classe avançada, cuja missão é derrotar a burguesia e
transformar o conjunto da sociedade, não pode ser realizada. Sem estas condições,
toda tentativa de estabelecer a disciplina inevitavelmente cairá por terra e terminará
em chavões e caretas. Por outro lado, estas condições não podem surgir todas de uma
só vez. Elas são criadas somente pelo esforço prolongado e pela experiência duramente
adquirida. Sua criação é facilitada pela teoria revolucionária correta que, por sua vez,
não seja um dogma, mas assuma forma final somente em conexão íntima com a
atividade prática de um movimento verdadeiramente de massa e verdadeiramente
revolucionário" [ibid. p. 24-25).

Para os marxistas-leninistas, para os revolucionários verdadeiramente


proletários, o papel de um partido de vanguarda do proletariado e as conexões que tal
partido deve manter com as massas mais amplas dos trabalhadores nunca devem ser
superestimadas. Porém, para os intelectuais pequeno-burgueses é quase impossível

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 12


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

compreender a importância de um partido revolucionário do proletariado. Esses


intelectuais pequeno-burgueses nunca foram e nunca serão (mesmo que se digam
'socialistas') capazes de compreender o grande papel desempenhado pelo Partido
Bolchevique durante todos os estágios - antes, durante e depois - da revolução. A
massa da intelligentsia pequeno-burguesa é somente capaz de ver os dirigentes e uma
massa de seguidores: Lênin fez isto, ou Stalin fez aquilo. Eles se recusam,
obstinadamente, à maneira da intelligentsia de inclinação individualista, a reconhecer
a importância e o papel do Partido, o papel deste instrumento singular, criado sob a
direção de Lênin, que conduziu o povo russo através de todas as dificuldades ao
estabelecimento da ditadura do proletariado, a lutar contra a agressão armada
imperialista estrangeira, em comunhão com os reacionários e traidores internos - os
guardas brancos - e, finalmente, a construir o socialismo em um país atrasado.

Foi precisamente esta incapacidade da intelligentsia pequeno-burguesa e


mesmo de alguns "socialistas" que levou Lênin a salientar repetidamente o importante
papel representado pelo Partido Bolchevique e suas ligações e relações com as massas.
Isso provocou a seguinte observação de Lênin:

"Não seria melhor se as saudações em honra do poder soviético e dos


bolcheviques fossem freqüentemente acompanhadas por uma análise profunda das
razões pelas quais os bolcheviques foram capazes de construir a necessária disciplina
do proletariado revolucionário?"

Mostramos antes a importância de uma vanguarda revolucionária - um partido


do proletariado - que é inseparavelmente ligado às massas trabalhadoras, proletárias e
não proletárias. E reiteramos que os intelectuais pequeno-burgueses (entre esses
intelectuais pequeno-burgueses devem ser incluídos os trotskistas) não podem senão
reduzir as questões organizacionais e políticas a um nível pessoal-individual. Eles são
incapazes de ver a luta entre duas linhas sobre questões políticas, organizacionais e
táticas como outra coisa que não seja uma luta entre dois indivíduos. É por isso que, a
partir de 1923, os aristocratas citados viu apenas uma luta entre Trotsky e Stalin por
domínio pessoal.

Isto, esperamos provar recorrendo a fatos históricos e documentação (e não


pelo método adotado pelos trotskistas, a saber, o de simples conversa fiada e
mentiras), está errado e continua a ser assim. A luta entre Stalin e Trotsky não foi
uma luta entre dois indivíduos mas uma luta entre duas linhas; foi uma luta entre o
leninismo revolucionário e o trotskismo contra-revolucionário; foi uma continuação,
após a morte de Lênin, da mesma luta entre o leninismo e o trotskismo que tinha
ocorrido durante o tempo de vida de Lênin, cobrindo um período de 20 anos. A única
diferença era que agora Lênin estava morto, o leninismo estava sendo mantido pelo
Partido Bolchevique e na sua direção estava Stalin. Trotsky e seus seguidores, tendo
em vista a fraca posição do trotskismo, consideraram necessário efetuar uma mudança
em sua tática. Não era mais possível aos trotskistas atacarem o leninismo aberta e
diretamente, como eles tinham sido capazes de fazer antes de 1917. Eles então
adotaram a sutil e tortuosa - e daí mais nociva - tática de atacar as políticas leninistas
do Partido Bolchevique à guisa de estarem atacando o 'stalinismo', a fim de,

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 13


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

naturalmente, atingir o leninismo. Assim foi que Trotsky e seus seguidores pensaram
desacreditar as políticas leninistas do Partido Bolchevique dirigido por Stalin. Este foi
de fato um exemplo clássico do uso do nome de Lênin para lutar contra o leninismo -
contra seu conteúdo interno completo - um exemplo óbvio de brandir a bandeira
vermelha com o objetivo de opor-se a ela e um exemplo óbvio dos costumeiros
embustes fraudulentos trotskistas.

É neste contexto que o ataque de Trotsky a Stalin deve ser entendido. Não era
um ataque dirigido contra Stalin como um indivíduo, porém contra alguém que
durante o curso da luta tinha emergido como o porta-voz mais representativo do
Partido Bolchevique que estava mantendo, defendendo e aplicando o leninismo. O
alvo principal dos ataques de Trotsky, portanto, não era Stalin, porém o Partido
Bolchevique. Era o bolchevismo-leninismo revolucionário que estava sob ataque. Era
um ataque aos métodos e formas de organização do Partido Bolchevique - um ataque
às políticas leninistas fundamentais perseguidas pelo Partido.

Não Trotsky versus Stalin, mas trotskismo versus leninismo, esta é a


formulação verdadeira das relações de Trotsky com a revolução russa; Trotsky versus
o Partido Bolchevique com sua política leninista.

É assim que a questão se coloca no que diz respeito às relações de Trotsky com
o Partido Bolchevique, antes e depois da Revolução e antes, bem como depois, da
morte de Lênin.

Em praticamente todos os maiores acontecimentos, a linha de Trotsky estava


em conflito com a linha adotada pelo Partido Bolchevique, e a prática provou que, m
cada uma dessas ocasiões, sua linha estava inteiramente incorreta e totalmente
fracassada. Todavia, isto não impediu Trotsky, após a morte do grande Lênin, de
bradar, com sua usual imodéstia, que o Partido Bolchevique tinha estado errado e ele
tinha estado certo todo o tempo. Pode-se entender que, quando os trotskistas
atualmente dizem mentiras e são indulgentes com a vaidade pequeno burguesa, eles
estão apenas emulando - ou melhor, tentando emular - o seu próprio líder, Trotsky.

A luta de Lênin para construir um partido revolucionário do proletariado e a luta de


Trotsky para obstruir a construção do partido

Após a revolução bolchevique, Trotsky fingiu aprovar, naturalmente, o Partido


Bolchevique - o Partido que, antes de 1917, ele tinha feito de tudo para impedir que se
formasse. Durante o período em que Lênin estava ocupado desenvolvendo o Partido,
Trotsky maliciosamente atacou Lênin e esgotou seu nada pequeno vocabulário de
injúrias em opor-se a tudo que Lênin estava tentando fazer. Lênin estava tentando
construir um partido revolucionário centralizado, capaz de conduzir seu trabalho em
desafio à polícia tzarista. Sob as condições então prevalecentes na Rússia tzarista, era
impossível construir tal partido de forma democrática aberta, sem, ao mesmo tempo,
sujeitar os membros do partido a freqüentes prisões nas mãos da polícia secreta
tzarista. Por isso, Lênin acreditava que a filiação ao Partido não deveria estar aberta a
qualquer um que manifestasse desejo de ingressar no Partido1. Vários comitês urbanos

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 14


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

do partido eram selecionados pelo Comitê Central, e todos os comitês tinham o direito
de co-opção. No Segundo Congresso do Partido do Trabalho Social Democrático da
Rússia (RSDLP), realizado em Londres em 1903, este conflito veio à baila e Trotsky,
aliado da ala direita do Congresso, opôs-se violentamente ao ponto de vista de Lênin
sobre as questões organizacionais. Lênin foi derrotado nesta questão por uma maioria
de dois ou três votos.

Camaradas, valerá a pena verificar em um pouco mais de detalhes os


acontecimentos deste Congresso. Os três principais itens da agenda deste Congresso
eram:

1. A adoção do programa do Partido;

2. A adoção dos estatutos do Partido (constituição), e

3. A eleição dos dirigentes.

Embora os oportunistas no Congresso fossem totalmente contrários ao


programa do Partido, e particularmente à inclusão no Programa do Partido da questão
da ditadura do proletariado, das demandas sobre a questão camponesa e do direito
das nações de autodeterminação, eles não deram prioridade à luta sobre a questão da
adoção do programa. A principal luta entre as duas alas (a primeira sendo a ala
revolucionária dirigida por Lênin e apoiada por Plekhanov2 e outros iskraístas estáveis;
a outra sendo a ala oportunista dirigida por Martov e apoiada por Trotsky e outros
iskraístas1 instáveis, o centro (isto é, o "pântano" - e os antiiskraístas, isto é, os
economistas e os bundistas) que teve lugar no Segundo Congresso do Partido foi
desenvolvida em torno da questão dos estatutos do Partido e da eleição dos
dirigentes. As diferenças mais contundentes surgiram sobre a formulação do primeiro
parágrafo dos estatutos, que tratava da filiação ao Partido - quem poderia ser um
membro do Partido? Qual seria a natureza e a composição do Partido? Qual seria a
natureza organizacional do Partido? Essas foram as questões que surgiram em conexão
com o parágrafo Io dos estatutos do Partido.

A formulação de Lênin versus a formulação de Martov das condições de filiação ao


Partido

De acordo com a formulação de Lênin, poder-se-ia ser membro do Partido


somente se fossem satisfeitas as seguintes três condições:

a) aceitação do programa do Partido;

b) apoio financeiro ao Partido; e

c) pertencer a uma das organizações do Partido, isto é, participar ativamente


da organização.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 15


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

De acordo com a formulação de Martov, apoiado por Trotsky e outros


oportunistas, somente as primeiras duas condições deveriam ser preenchidas para
qualificar a filiação ao partido.

A terceira era, em sua visão, inteiramente desnecessária e, portanto, poderia


ser dispensada.

Lênin considerava o Partido como um destacamento organizado de vanguarda


da classe operária e considerava, portanto, que seus membros não poderiam
simplesmente ingressar no Partido. Ao contrário, eles tinham de ser admitidos no
Partido por uma de suas organizações e, conseqüentemente, teriam de se submeter à
disciplina do Partido. Mas de acordo com a formulação de Martov, seria possível filiar-
se ao Partido, se não se pertencesse a uma de suas organizações, não se teria de
submeter-se à disciplina do Partido.

Assim, a formulação de Martov, diferente da Lênin, continha todos os pré-


requisitos para escancarar a porta do Partido a todos os tipos de oportunistas,
elementos instáveis e não proletários, e assim converter o Partido, de organização
disciplinada, monolítica e militante da classe trabalhadora, em organização
heterogênea, amorfa e frouxa do tipo burguês, isto é, convertê-la de destacamento de
vanguarda da classe operária em destacamento atrasado da classe operária. Tanto era
assim que Martov e outros oportunistas exigiram até que a qualquer grevista fosse
dado automaticamente o direito de filiar-se ao Partido. Do mesmo modo, afirmava-se
que todo intelectual que simpatizasse com o Partido, todo professor
simpatizante, todo estudante do curso secundário, assim como qualquer participante
de uma manifestação, pudesse ter o direito de declarar-se membro do Partido.

Com a adoção do programa, o Congresso assentava os fundamentos da unidade


ideológica do Partido. Tinha também de adotar regras partidárias para garantir os
fundamentos da unidade organizacional e colocar um fim no amadorismo e na
perspectiva paroquiana dos círculos, na desunião organizacional e na ausência de
estrita disciplina no Partido.

A formulação de Martov era o oposto disso. Não somente deixava a porta do


Partido aberta aos elementos instáveis, anarquistas, individualistas, mas também
obliterava a linha divisória entre o Partido e a classe. A distinção entre o destacamento
avançado e o resto da classe operária não poderia desaparecer até que as classes
desaparecessem. Quem tivesse qualquer outra visão, sejam quais fossem as suas
intenções, estaria tentando obliterar a distinção entre o Partido e a classe e, ao fazê-lo,
privar o proletariado de seu 'estado-maior'. Como disse Stalin:

"A classe operária sem um partido é um exército sem estado-maior. O Partido é


o estado-maior do proletariado" (Fundamentos do leninismo).

Comentando a formulação de Martov, Lênin disse:

"Nós somos o Partido de uma classe, e, portanto, quase toda a classe (e nos
tempos de guerra, no período de guerra civil, toda a classe) deve agir sob a liderança

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 16


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

de nosso partido, deve aderir a nosso partido tão estreitamente quanto possível.
Porém, seria manilovismo e khvostism4 pensar que em qualquer época sob o
capitalismo quase toda a classe, ou toda a classe, seria capaz de alcançar o nível de
consciência e atividade de seu destacamento avançado ... esquecer esta distinção entre
o destacamento avançado e o total das massas que gravitam em torno dele, esquecer
o dever constante do destacamento avançado, de elevar estratos sempre mais amplos
a esse nível avançado, significa simplesmente enganar a si próprio, fechar os olhos à
imensidão de sua tarefa" (Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás).

Se a formulação de Martov tivesse se enraizado no Partido Bolchevique, teria


levado o Partido a tornar-se "inundado de professores e estudantes ginasianos e à sua
degeneração em uma 'formação' frouxa, amorfa, desorganizada, perdida em um mar
de simpatizantes, que teriam obliterado a linha divisória entre o Partido e a classe e
frustrado a tarefa partidária de elevar as massas desorganizadas ao nível do
destacamento avançado"(Stalin).

Trotsky desempenhou um papel oportunista de destaque nesta controvérsia5.


Ele ombreou-se com Martov em lançar ataques destrutivos à formulação de Lênin.
Opôs-se à concepção de Lênin do Partido como a soma total das organizações do
Partido e cada membro do partido como um membro das organizações do partido. Ele
se opôs à idéia do Partido como um todo único, com corpos dirigentes mais altos e
mais baixos. Ele negou o princípio da minoria submetendo-se às decisões da maioria.
Tal foi a posição oportunista assumida por Trotsky e Martov sobre a questão da
organização. Sua posição não era senão uma expressão concentrada do espírito de
círculo e individualismo pequeno-burguês, que se considera acima da disciplina e vê
com maus olhos a idéia da minoria submetendo-se às decisões da maioria.

Na verdade, a aplicação do principio da minoria submetendo-se à maioria e o


princípio das instâncias dirigentes mais baixas sendo orientadas pelas decisões das
instâncias mais altas, e o princípio do trabalho de direção do partido por um centro,
levaram às acusações de "burocracia" "formalismo", "aparelhos e engrenagens",
levantadas pelos senhores Trotsky, Martov e outros oportunistas. Eis como Lênin
descreveu estes anarquistas em seu livro Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás.

"Este anarquismo aristocrático é particularmente característico do niilista russo.


Ele vê a organização do Partido como uma 'fábrica' monstruosa; ele considera a
subordinação da parte do partido ao todo e a minoria à maioria como 'sujeição' ..., a
divisão do trabalho sob a direção de um centro evoca dele uma grita tragicômica
contra o povo sendo transformado em 'engrenagem e rodas'... a menção à direção
organizacional do partido provoca uma careta de desprezo e a observação desdenhosa
...de que bem se poderia dispensar por completo todas as regras. Está claro, penso, que
os gritos sobre esta tão-falada burocracia são apenas um disfarce para a insatisfação
com a composição pessoal dos órgãos centrais, uma folha de parreira ... você é um
burocrata porque você foi nomeado pelo Congresso e não por minha vontade, mas
contra ela; você é um formalista porque se apóia nas decisões formais do Congresso, e
não em meu consentimento; você está agindo de forma grosseiramente mecânica
porque apelou para a maioria 'mecânica' do Congresso do Partido e não prestou

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 17


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

atenção ao meu desejo de ser cooptado; você é um autocrata porque você recusou-se a
entregar o poder à velha gangue."

Notaremos que este era o tema recorrente de Trotsky e seus colaboradores em


seus ataques ao Partido Bolchevique sob a direção do camarada Stalin. Porém, "estes
gritos sobre esta tão-falada burocracia ", provaremos que não eram nada mais do
que "um disfarce para a insatisfação" com a derrota de sua teoria falida, a saber, a de
que era impossível construir o socialismo na URSS.

Trotsky e Martov eram incapazes de entender o significado de uma organização


proletária e sujeitar-se à sua disciplina. Para eles, a disciplina era para os 'muitos' e não
para uns 'poucos escolhidos'. E, por certo, eles se incluíam entre os últimos. Quando os
delegados ao Segundo Congresso elegeram o Comitê Central e o Corpo Editorial
do Iskra, o Congresso recusou-se a endossar o velho Corpo Editorial, como queriam
esses cavalheiros, e daí a zombaria de Lênin sobre a cooptação na passagem acima
citada - eles pegavam em armas porque a composição pessoal desses dois corpos não
era do seu agrado. Eles se recusavam a aceitar as decisões do Congresso, justificando-
se com o uso de frases como "não somos servos", minando assim as próprias bases da
unidade das fileiras do Partido. Nenhum partido como este pode preservar a unidade
de suas fileiras sem a imposição de uma disciplina proletária (quanto à natureza desta
disciplina, veja acima), que é imposta igualmente a todos membros do partido,
dirigentes e dirigidos; que é imposta aos "poucos escolhidos", tanto quanto aos
"muitos". Sem isto, o partido não pode preservar sua integridade nem a unidade de
suas fileiras.

"A ausência completa de argumentos sensatos da parte de Martov e Cia. contra


o Corpo Editorial nomeado pelo Congresso é revelada da maneira mais clara por sua
própria palavra de ordem: 'nós não somos servos'... A mentalidade do intelectual
burguês que se considera um dos 'poucos escolhidos' permanecendo acima da
organização de massa e da disciplina de massa é expressa aqui com clareza notável...
Parece ao individualismo da intelligentsia que toda organização e disciplina proletária
é servidão."

E mais adiante:

"À medida que seguimos com a construção de um partido real, o operário com
consciência de classe deve aprender a distinguir a mentalidade do soldado do exército
proletário da mentalidade do intelectual burguês que ostenta sua conversa anarquista,
deve aprender a insistir que os deveres de um membro do partido não são apenas da
infantaria, mas da 'gente de cima' também" (Lênin: Um Passo Adiante, Dois Passos
Atrás).

Tal é a importância da disciplina proletária em um partido proletário.

Fizemos um exame mais detalhado da controvérsia que envolveu a questão da


participação no Segundo Congresso do RSDLP, com o propósito de mostrar:

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 18


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

1. que a posição de Martov, Trotsky e Cia. sobre as questões de organização era


oportunista e, se tivesse prevalecido, certamente teria causado grande dano, confusão
e desorganização ao Partido;

Diz Lênin: "Do ponto de vista do camarada Martov, a fronteira do Partido


permaneceria muito indefinida, pois 'qualquer grevista' poderia 'proclamar-se membro
do Partido'. Qual era a utilidade dessa imprecisão? Uma ampla extensão do título. Seu
perigo é que introduz uma idéia desorganizadora, a confusão entre classe e Partido"
(Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás).

2. que o individualismo pequeno-burguês e o "anarquismo aristocrático" de


Martov e Trotsky tornaram impossível para eles retificarem sua posição oportunista
em matéria de organização;

3. que a mentalidade pequeno-burguesa de Martov e Trotsky, com seu


supremo desprezo e desconsideração pela disciplina e regras de organização
proletária, tornava impossível para eles submeterem-se à disciplina e respeitarem as
regras organizacionais proletárias;

4. que, conseqüentemente, Martov, Trotsky e Cia. eram contra qualquer forma


de organização que fizesse da imposição de tal disciplina (proletária) tema de um de
seus princípios organizacionais;

5. que, para intelectuais pequeno-burgueses, um Partido férreo, com uma


disciplina férrea, não significa nada mais e nada menos que 'burocracia';

6. que objetivamente (desejos subjetivos são irrelevantes aqui), Martov e


Trotsky eram contra a revolução, pois sem um Partido disciplinado, revolucionário, não
pode haver revolução alguma; e

7. que, em matéria de organização, Trotsky não era apenas um 'antistalinista'


batalhando contra a 'burocracia stalinista' mas também um antileninista, que tinha
batalhado contra a 'burocracia leninista'.

O ódio de Trotsky à disciplina levou-o a assumir uma visão tão oportunista dos
princípios organizacionais a ponto de opor-se a Lênin no Segundo Congresso. Este
mesmo individualismo pequeno-burguês, equivalente ao 'anarquismo aristocrático',
com seu ódio extremo à disciplina, levaria Trotsky várias vezes a opor-se ao Partido
Bolchevique, formando uma aliança com os fascistas, com o propósito de derrubar o
Estado soviético. Disto falaremos mais adiante.

Trotsky mais tarde diria que a "Revolução foi traída" na União Soviética por
Stalin. Apenas assinalaremos que, se as idéias oportunistas de Trotsky tivessem
prevalecido, não teria havido o Partido Bolchevique e, portanto, nenhuma revolução
que pudesse ser "traída ".

Em seguida ao Segundo Congresso do RSDLP, Trotsky escreveu um texto


polêmico intitulado Nossas Tarefas Políticas, no qual ele atacava a política total de

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 19


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Lênin da forma mais selvagem e mais abusiva. Porque Lênin tinha anteriormente
falado sobre a divisão do trabalho no interior do partido, baseado no fato de que
diferentes ramos de atividade revolucionária exigiam diferentes habilidades, Trotsky
dirigiu um violento ataque a Lênin, denunciou a divisão do trabalho na fábrica
moderna que reduz os operários a meras engrenagens da máquina. E este, ele
assinalava, era o objeto real de Lênin - uns poucos dirigentes ditatoriais no topo com
os operários do Partido reduzidos a meras "engrenagens" na máquina. Esta era uma
queixa feita por Trotsky sempre que ele não conseguia o que queria. Se o Partido
concordava com Trotsky, todas as coisas no Partido estavam bem; no momento em
que as políticas de Trotsky eram rejeitadas pelo Partido, este imediatamente se
transformava numa monstruosidade e uma 'burocracia' terrível, formidável,
insuportável, a ser combatida e liquidada. Tal era a manifestação do individualismo
pequeno-burguês exibido por Trotsky. Este concluiu a polêmica antes mencionada
assim:

"Esta suspeição perversa e moralmente repugnante de Lênin, esta caricatura


superficial da intolerância trágica do jacobinismo... deve ser liquidada a todo custo, de
outro modo o Partido estará ameaçado de decadência moral e teórica" (Trotsky, Our
Political Tasks, 1906).

Este parágrafo sozinho é suficiente para mostrar que Trotsky, que reivindicava
ser um leninista quando queria liquidar o 'stalinismo' e remover Stalin, na época em
que Lênin estava ocupado em construir o Partido Bolchevique, queria liquidar o
leninismo e remover Lênin..

O partido centralizado revolucionário que Lênin estava tentando construir tinha


alguma semelhança com os jacobinos, o partido revolucionário da pequena burguesia
da revolução francesa. Porém, também tinha uma diferença muito importante em
relação aos jacobinos, porque era um partido da classe operária; era a vanguarda não
da pequena burguesia, porém da classe operária russa - a classe que tinha sido
exortada a dirigir o povo russo contra a tirania e o despotismo. Como já se afirmou, era
impossível, dentro dos confins da Rússia autocrática, construir um partido
revolucionário capaz de dirigir a classe operária russa e as amplas massas do povo nas
condições de uma democracia completa e aberta. Teria de ter, por força das condições
prevalecentes na Rússia, alguma semelhança com os jacobinos, embora com a
importante diferença já mencionada.

Esta acusação de jacobinismo provocou o seguinte comentário de Lênin e


conferiu a Trotsky o merecido título de oportunista:

"Todos esses 'horríveis clichês' sobre jacobinismo expressam nada mais do que
oportunismo. Um jacobino que está inseparavelmente ligado à organização do
proletariado, que é consciente de seus interesses de classe, é um social-democrata
revolucionário. Um girondino que se sente atraído por professores e ginasianos, que
tem medo da ditadura do proletariado e que suspira sobre o valor absoluto das
demandas democráticas é um oportunista" [Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás).

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 20


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Deixe-nos dar outro exemplo, camaradas, do mesmo livro, Our Political


Tasks, de Trotsky, que constitui a maior prova do menchevismo de Trotsky e de seu
ódio às políticas bolcheviques de Lênin. Trotsky neste livro aprova uma questão
colocada pelo menchevique Axelrod, que argüia:

"Por que não deveria esta história brincalhona dotar a democracia burguesa
revolucionária de um líder da escola do marxismo revolucionário? Ora, não foi o
marxismo "legal" que providenciou um líder para os liberais? De fato, por que não?"

Em outras palavras, Lênin era o provável líder da classe burguesa russa!

Camaradas, pergunto a vocês: para alguém que tenha tal visão de Lênin e sua
política, será difícil ver porque mantém uma visão similar à de Stalin e sua política? É
desnecessário provar, camaradas, que para alguém que chamou Lênin de futuro líder
das classes médias russas, não era nada difícil acusar Stalin de ajudar o campesinato
rico e dizer que o 'stalinismo' "deveria ser liquidado a todo custo, do contrário o
Partido está ameaçado de decadência moral e teórica". O fato é que Trotsky fez este
apelo contra o leninismo - contra "a suspeição maliciosa e moralmente repugnante de
Lênin, esta caricatura da intolerância trágica do jacobinismo", em 1906. Ele repetiu
este apelo muitas vezes, até a Revolução de Outubro. A Revolução de Outubro foi ao
mesmo tempo uma contestação muito profunda do trotskismo, e enfraqueceu o
trotskismo. O trotskismo foi "depenado" e tomou uma aparência um tanto
"esfarrapada". Foi precisamente por essa razão que, após a morte de Lênin, o
trotskismo adotou a tática de não atacar o leninismo abertamente, isto é, a tática de
não lançar assaltos frontais ao leninismo. Em lugar disso, adotou a tática desonesta de
atacar o leninismo em nome e à guisa de defender o leninismo. É neste contexto,
camaradas, que o ataque ao camarada Stalin deve ser entendido. É uma continuação
do ataque do trotskismo ao leninismo.

O Bloco de Agosto de liquidacionistas e Trotsky

Em seguida à derrota da Revolução de 1905 na Rússia, aflorou um grupo de


"socialistas" da ala direita chamado de liquidacionistas, porque queriam liquidar o
Partido centralizado que era capaz de dirigir as massas na revolução. Os
liquidacionistas declaravam que a era das revoluções havia acabado e somente
poderia haver progresso lento, dentro do ambiente da Constituição tzarista. Portanto,
argüiam os liquidacionistas, o Partido centralizado do proletariado, com sua rede de
organizações secretas, deveria ser desmontado, e eles apelaram pela criação de um
Partido Liberal Trabalhista, operando legalmente para reformas dentro do contexto do
tzarismo. Os bolcheviques, encabeçados por Lênin, empreenderam uma luta severa
contra os liquidacionistas, cujas fileiras incluíam Trotsky. Este não advogava
abertamente o liquidacionismo, mas por todas as formas prestou assistência ativa aos
liquidacionistas, por sua 'submissão' e 'capitulação aos liquidacionistas'. Foi assim que
Lênin descreveu a posição de Trotsky:

"Gente como Trotsky, com suas frases cheias de entusiasmo sobre o Partido
Operário Social-Democrata da Rússia, com sua reverência aos liquidacionistas,

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 21


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

que nada têm em comum com o Partido Social-Democrata. são o mal da nossa época...
Em realidade são emissários da capitulação aos liquidacionistas. ansiosos para formar
um Partido Operário na linha de Stolypin."

"Os liquidacionistas reais escondem-se atrás de sua fraseologia e fazem todo


esforço para frustrar o trabalho dos antiliquidacionistas, isto é, os
bolcheviques. Trotsky e os trotskistas e oportunistas como ele são mais nocivos do que
todos os liquidacionistas. pois os liquidacionistas convencidos expõem suas visões
abertamente e é fácil para os trabalhadores reconhecerem os erros destas visões.
Contudo, Trotsky e os semelhantes a ele enganam os operários, escondem o mal e
tornam impossível expô-lo e remediá-lo" [ênfase minha].

Tal era a atitude de Trotsky para com o Partido Revolucionário durante os anos
da reação seguinte à derrota da revolução de 1905, isto é, Trotsky ajudou os
liquidacionistas que se levantaram pela liquidação do Partido. Ele foi "mais nocivo" do
que os liquidacionistas durante este período e por esta razão Lênin empreendeu uma
luta implacável contra o liquidacionismo oculto de Trotsky, que era "mais nocivo" do
que o liquidacionismo aberto dos liquidacionistas.

O ano de 1912 viu o começo de uma agitada atividade revolucionária em toda a


Rússia. Em resposta a esta agitação, em janeiro de 1912, os bolcheviques convocaram
uma conferência de todas as organizações clandestinas do Partido para discutir a
política e as linhas de orientação a serem seguidas adiante na luta revolucionária. A
conferência decidiu fortalecer as organizações clandestinas na Rússia, as organizações
partidárias foram instruídas a aumentarem sua atividade na direção da educação
socialista dos operários, no sentido de capacitar a classe operária a dirigir as massas
em sua luta para a derrota da autocracia tzarista e para o estabelecimento de uma
república democrática - uma ditadura democrática da classe operária e do
campesinato.

E qual foi a resposta de Trotsky à Conferência de Praga de 1912 dos


bolcheviques? Sua resposta foi promover uma reunião em Viena, em agosto de 1912,
de todos os grupos russos que viviam no exílio que se opunham aos bolcheviques,
única coisa que unia esses grupos. Todos esses grupos eram favoráveis à liquidação
das organizações partidárias clandestinas, à liquidação do Partido revolucionário do
proletariado e sua substituição por um "Partido Operário da Linha Stolypin".

Os grupos representados - a Organização Socialista Judaica (o 'Bund'), os Social-


Democratas Letões, o Partido Socialista Polonês pequeno-burguês, Trotsky e uns
poucos seguidores dele - vieram a chamar-se o "Bloco de Agosto". O Bloco de Agosto
notabilizou-se por ter, em sua conferência em Viena, aprovado resoluções
antibolcheviques e contra-revolucionárias. Para todos os propósitos práticos, a
Conferência de Viena do Bloco de Agosto revelou-se abortiva, pois nenhum dos grupos
representados nesta conferência tinha qualquer conexão significativa com as
organizações clandestinas dos trabalhadores na Rússia. Porém a conferência mostrou-
se de valor inestimável, por expor ao ridículo o menchevismo oportunista de Trotsky e
outros participantes nessa conferência farsesca em Viena.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 22


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Em maio de 1914, Lênin escreveu um artigo intitulado Rompimento da Unidade


sob a Camuflagem dos Clamores pela Unidade. Nesse artigo Lênin faz uma brilhante
exposição das frases "altissonantes e vazias" de Trotsky, seu facciosismo, seu
liquidacionismo e a derrota do Bloco de Agosto, de Trotsky. Lênin termina seu artigo
com uma descrição inesquecível de Trotsky. Essa descrição é considerada muito
importante para o entendimento do oportunismo de Trotsky. Citá-la-ei, portanto, na
integra, e minha esperança é de que os camaradas não a verão como uma digressão
desnecessária. Foi assim que Lênin descreveu Trotsky, em maio de 1914:

"Os antigos participantes do movimento marxista conhecem muito bem a


personalidade de Trotsky, e não vale a pena falar-lhes sobre isto. Porém, a geração
mais jovem dos operários não a conhece, e é, portanto, necessário discuti-la, pois sua
trajetória é típica de todos os cinco grupelhos no exterior, que de fato são também
vacilantes entre os liquidacionistas e o Partido.

Nos dias do velho Iskra (1901-3), esses vacilantes, que passam rapidamente dos
economicistas para os iskraístas e retornam outra vez, foram apelidados de "vira-
casacas tushinos" (nomes dados nos tempos turbulentos da Rússia para pessoas que
passavam sempre de um campo para outro).

Quando falamos de liquidacionismo, falamos de uma tendência ideológica


definida, que gerou, ao longo de vários anos, ramos do menchevismo e do
economicismo, nos vinte anos de história do marxismo, e está conectada com a política
e ideologia de uma classe definida - a burguesia liberal.

"A única base que os 'renegados tushinos' têm para sustentar que estão acima
dos grupos era que eles 'tomam emprestadas' suas idéias de um grupo um dia e de
outro no dia seguinte. Trotsky foi um ardente iskraísta em 1901-3, e Ryazanov
descreveu seu papel no Congresso de 1903 como o de um 'porrete de Lênin'.6 Ao final
de 1903, Trotsky era um ardente menchevique, isto é, ele desertou dos iskraístas e foi
para os economicistas. Ele disse que 'entre a velha e a nova Iskra há um abismo'. Em
1904-5, ele desertou dos mencheviques e ocupou uma posição vacilante, ora
cooperando com Martynov (o economicista), ora proclamando sua teoria esquerdista
absurda da 'Revolução Permanente'. Em 1906-7 ele se aproximou dos bolcheviques e,
na primavera de 1907, declarou que estava de acordo com Rosa Luxemburgo.

No período da desintegração, após longa vacilação 'não faccionista', ele outra


vez foi para a direita e, em agosto de 1912, entrou em um bloco com os
liquidacionistas. Agora ele desertou outra vez, embora na essência reitere suas idéias
esfarrapadas.

Tais tipos são característicos como fragmentos dos fundamentos históricos de


ontem, quando o movimento operário de massa da Rússia estava ainda adormecido e
qualquer grupelho estava 'livre' para apresentar-se como tendência, grupo, facção, em
uma palavra, uma 'grande potência' falando, negociando em amálgama com outros.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 23


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

A geração mais jovem de operários deve saber exatamente com quem estão
tratando, quando os indivíduos se apresentam a eles com propostas incrivelmente
pretensiosas, relutando absolutamente a levar em conta as decisões do Partido, que
desde 1908 tem definido e estabelecido nossa atitude frente ao liquidacionismo, ou
com a experiência do movimento da classe operária atual na Rússia, que tem
conseguido a unidade da maioria sobre a base do reconhecimento pleno das decisões
acima citadas" (Lênin, CW Vol 20, pp. 346-47).

Esta é uma descrição perfeita não só de Leon Trotsky, o maior "vira-casaca


tushino" de sua época, mas também de seus seguidores dos nossos dias, isto é, os
trotskistas da Internacional Socialista (IS), do Grupo Marxista Internacional (IMG), da
Liga Operária Socialista (SLL) etc., que acreditam em uma coisa hoje e outra amanhã,
que tomam emprestadas suas idéias de Trotsky hoje e do Partido Operário no dia
seguinte, que denunciam a Frente de Libertação Nacional do Vietnã do Sul hoje e
'apóiam-na' no dia seguinte (ver o capitulo sobre a Revolução Chinesa).

Trotsky continuou a se opor a Lênin, na tentativa deste de construir o partido


da vanguarda revolucionária do proletariado, até 1917, e não foi senão apenas umas
poucas semanas antes da Grande Revolução Socialista de Outubro que Trotsky juntou-
se ao Partido Bolchevique. Contudo, este fato histórico bem conhecido é
convenientemente 'esquecido', desprezado e obscurecido pelos trotskistas mentirosos
e pela inteligência radical burguesa que, fugindo de enfrentar a verdade histórica,
quase diariamente afirma ad nauseam que Trotsky foi um bolchevique - um leninista.
Podemos perguntar à inteligência burguesa radical e aos aristocratas trotskistas: como
é que alguém que foi sempre um 'bolchevique', sempre um 'leninista', simplesmente
sempre se opôs a Lênin? Este é um tipo estranho de 'bolchevismo-leninismo'! De
acordo com esta formulação, tem-se de permanecer fora do Partido Bolchevique e
opor-se perpetuamente a Lênin para ser chamado de um 'bolchevique leninista'. Não é
estranho? Não, senhores trotskistas e intelectuais burgueses, isso não é possível. A
resposta a nossa questão é: Trotsky nunca foi um bolchevique, nunca um leninista. Ele
foi um antibolchevique, um antileninista.

Trotsky nunca deixou sua posição menchevique sobre questões


organizacionais, isto é, sobre o Partido, mesmo após juntar-se ao Partido Bolchevique.
Em 1921, quando a proposta de Trotsky de que os sindicatos deveriam ser modificados
e transformados em órgãos estatais foi rejeitada pelo Comitê Central do Partido,
Trotsky dirigiu-se à casa onde o Comitê Central estava reunido e tentou ganhar uns
poucos apoiadores ao seu propósito de luta contra o Comitê Central. Este incidente
mostra a profunda discordância e aversão dos intelectuais burgueses pelo Partido e
pela disciplina do Partido.

O que Lênin pensava das pessoas, como Trotsky, que zombavam da disciplina
do Partido?

"Quem quer que enfraqueça ao mínimo que seja a disciplina de ferro do Partido
do proletariado (especialmente durante a época de sua ditadura), realmente ajuda a
burguesia contra o proletariado" (CW Vol. 31, p. 45).

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 24


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Sim, camaradas, Trotsky enfraquecia "a disciplina férrea do Partido", não ao


mínimo, ao máximo grau, antes e depois da Revolução de Outubro.

O incidente sindical e o comportamento de Trotsky levaram Lênin a dizer:

"Pensem, simplesmente! Após dois plenos do Comitê Central (9 de novembro e


7 de dezembro) que foram devotados a uma discussão detalhada, longa e acalorada do
projeto original do esboço das Teses do Camarada Trotsky e da política sindical inteira
que ele advoga para o Partido, um membro do Comitê Central (isto é, Trotsky), um
entre dezenove, elege um grupo de fora do Comitê Central e apresenta o 'trabalho'
'coletivo' deste grupo como uma 'plataforma', aconselhando o Congresso do Partido a
'escolher entre as duas tendências'!

Lênin continuava:

"Pode-se negar que, mesmo que as 'novas tarefas e métodos' fossem indicados
por Trotsky tão corretamente quando ele de fato indicou incorretamente, o simples
enfoque de Trotsky para a questão teria causado prejuízo a si próprio, ao Partido, ao
movimento sindical, ao trabalho de treinamento de milhões de membros de sindicatos
e à República?" (Lênin, CW Vol 32, p. 74, Outra Vez sobre os Sindicatos, a Situação
Atual e os Erros de Trotsky e Bukharin).

Este incidente alarmou tanto Lênin que ele tentou no 10° Congresso do
PCUS(B) passar uma resolução especial contra a "formação de blocos separados,
grupos e facções dentro do Partido. Lênin era de opinião de que os membros do

Partido estavam autorizados a divergirem uns dos outros e resolverem suas diferenças
através das discussões. Mas uma vez que se chegasse a uma decisão, após uma
discussão exaustiva, e a crítica estivesse exaurida, a unidade de propósito e ação dos
membros do Partido era necessária, pois sem esta unidade um Partido do proletariado
e a disciplina proletária são inconcebíveis. Isto Trotsky nunca poderia entender.
Quando estava em minoria, ele corria a formar uma facção dentro do Partido - assim
pondo em risco o Partido e a República Soviética.

Para resumir, camaradas, sobre a questão do Partido, o trotskismo não seguia a


posição do leninismo, ele tinha uma posição antileninista. Sem uma organização de
vanguarda (o Partido), o proletariado nunca chegaria ao poder. A organização é a arma
mais potente que o proletariado tem para sua própria libertação. Sem organização,
sem o Partido, não haverá revolução proletária. Sobre esta importante questão do
Partido de vanguarda do proletariado, a posição do trotskismo é similar àquela dos
políticos burgueses radicais e sindicais liberais. Sobre a matéria de organização, o
trotskismo se posiciona pelo liberalismo, isto, é, a criação de tipos de organização do
Partido Operário com a finalidade de serem máquinas eleitorais dentro do capitalismo,
e pela destruição dos partidos do tipo bolchevique -os partidos comunistas
revolucionários com disciplina férrea.

Se se posicionam pela desorganização do Partido de vanguarda do proletariado,


como o trotskismo faz na prática, onde está o bolchevismo de tais pessoas? De pessoas

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 25


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

como Trotsky, que trabalhavam pela destruição do Partido Bolchevique, pode-se dizer
que objetivamente trabalharam pela continuação da autocracia tzarista e pelo
imperialismo feudal-militarista tzarista.

Mesmo que não tivéssemos nada contra o trotskismo, camaradas, a posição do


trotskismo sobre a questão do Partido de vanguarda do proletariado por si só
condená-lo-ia, confirmaria e provaria nossa acusação de que o trotskismo é uma
tendência antileninista, antibolchevique, dentro do movimento da classe operária que,
quando o movimento marxista-leninista se desenvolve, é conduzido, por sua lógica
interna, cada vez mais, a terminar se tornando um destacamento avançado da
burguesia. Mas não se aflijam, camaradas, a posição do trotskismo sobre a organização
não é a única coisa que constitui seu antibolchevismo e antileninismo. E isto leva-me
ao segundo tópico com que desejo terminar esta parte, a saber, a teoria de Lênin da
revolução e a teoria 'absurdamente esquerdista' de Trotsky, da 'revolução
permanente'.

Notas

1. Este princípio é verdadeiro para todas as circunstâncias e é agora aceito


universalmente pelos partidos marxistas-leninistas em todo o mundo. A experiência
histórica e as necessidades da luta demandam que a filiação ao partido de vanguarda
não deve ser aberta a qualquer um que queira filiar-se a ele - a pessoa deve ser
admitida no partido pelo próprio partido. Somente os revisionistas, trotskistas e
diversos outros elementos burgueses violam este principio de organização leninista.

2. Após este Congresso, Plekhanov, seguindo a política de "matar com bondade",


afastou-se de Lênin e juntou-se a Martov e Cia.

3. Estas condições de filiação ao partido são violadas pelos revisionistas e


trotskistas hoje tal como eram há 60 anos.

4. Manilovismo e khvostismo: manilovismo vem do nome de Manilov, em Almas


Mortas, de Gogol, e significa acomodação complacente e devaneios sentimentais e
vazios. Khvostismo significa reboquismo.

5. Comentando sobre as "concepções anarquistas" contidas na formulação de


Martov e descrevendo as visões oportunistas de Martov, Trotsky e outros, Lênin disse
isto, especificamente sobre os argumentos oportunistas de Trotsky:

"A esta categoria de argumentos (argumentos oportunistas - acrescento) que


surgem inevitavelmente quando se tenta justificar a formulação de Martov,
pertence, em particular, a declaração do camarada Trotsky... de que 'o oportunismo
é criado pelas mais complexas (ou: é determinado por mais profundas) causas do que
por uma ou outra cláusula nas regras; é produzido pelo nível relativo de
desenvolvimento da democracia burguesa e do proletariado...' A questão não é que
cláusulas nas regras podem produzir oportunismo; a questão é forjar com a ajuda
das regras uma arma mais ou menos contundente contra o oportunismo. Quanto
mais profundas as causas, mais contundente deve ser a arma. Portanto, justificar

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 26


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

uma formulação que abre a porta ao oportunismo pelo fato de que o oportunismo
tem 'causas profundas' é o mais puro khvostismo (reboquismo). Quando o camarada
Trotsky opôs-se ao camarada Lieber, ele entendia que as regras constituíam a
'desconfiança organizada' do todo para a parte, da vanguarda para o destacamento
atrasado; porém, quando o próprio camarada Trotsky colocou-se ao lado do
camarada Lieber, ele esqueceu isto e começou mesmo a justificar a fraqueza e a
instabilidade de nossa organização desta desconfiança (desconfiança do
oportunismo) ao falar sobre 'causas complexas', o 'nível de desenvolvimento do
proletariado' etc. Aqui está outro dos argumentos de Trotsky: 'E muito mais fácil para
o jovem intelectual, organizado de uma forma ou de outra, ingressar nas fileiras do
Partido'. Isso mesmo. Por isso a formulação pela qual mesmo elementos
desorganizados podem proclamar-se filiados ao Partido sofre da vagueza típica do
intelectual, e não a minha formulação, que remove o direito de 'ingressar por si' nas
fileiras. O camarada Trotsky diz que se o Comitê Central 'não reconhecesse' uma
organização de oportunistas seria somente por causa do caráter de certas pessoas e
que, uma vez estas pessoas fossem conhecidas como indivíduos políticos, elas seriam
perigosas e poderiam ser removidas por um boicote geral do Partido. Isto é apenas
verdadeiro em casos em que a pessoa tem de ser removida do Partido (e somente
meia verdade, porque um partido organizado remove membros por votação e não
por boicote). É absolutamente inverídico diante dos casos mais freqüentes: quando a
remoção seria absurda e quando tudo o que se precisa é de controle. Para os
propósitos de controle, o Comitê Central pode, em certas condições,
deliberadamente, admitir no Partido uma organização que não era muito confiável
mas que era capaz de trabalhar: pode fazer isso com o objetivo de testá-la ou tentar
dirigi-la para o caminho correto, de corrigir suas aberrações parciais para uma linha
apropriada etc. Isto não seria perigoso se em geral o 'auto-ingresso' nas fileiras do
Partido não fosse permitido. Seria muitas vezes útil para uma expressão (e discussão)
aberta, responsável e controlada de visões e táticas erradas. 'Porém, se as definições
legais têm de corresponder a relações reais, a formulação do camarada Lênin deve ser
rejeitada', dizia o camarada Trotsky e outra vez ele falava como um oportunista.
Relações reais não são uma coisa morta, elas vivem e se desenvolvem. Definições
legais podem corresponder ao desenvolvimento progressivo dessas relações, porém
elas podem também (se essas definições são más) 'corresponder' a retrocesso ou
estagnação. O último caso é o do camarada Martov" (Um Passo Adiante, Dois Passos
Atrás, ênfase inteiramente de Lênin).

6. Na realidade, a designação de Ryazanov era incorreta. Como a Nota 5 mostra, no


Segundo Congresso, Trotsky desempenhou um papel oportunista sobre a questão
importante do Partido e juntou-se a todos os outros oportunistas em oposição a Lênin.

1 Nota do tradutor: seguidores da linha editorial do jornal "Iskra" ("Centelha"), órgão


oficial do RSDLP.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 27


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Capítulo 3

Teoria da Revolução:

Teoria da Revolução de Lênin versus Teoria da 'Revolução Permanente' de Trotsky

"Sem uma teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário"

(Lênin )

"O papel de vanguarda combatente só pode ser preenchido por um Partido que seja
guiado pela teoria mais avançada"

(Lênin)

"...a prática tateia no escuro se seu caminho não é iluminado pela teoria
revolucionária"

(Stalin)

Divergências entre os bolcheviques, os mencheviques e Trotsky sobre o caráter da


revolução russa

A posição menchevique sobre o caráter da revolução russa

Os mencheviques (os socialistas reformistas) defendiam que a revolução


vindoura na Rússia era uma revolução burguesa e que, em razão de sua natureza
democrático-burguesa, a revolução deveria ser conduzida pela burguesia liberal. O
proletariado não deveria estabelecer relações estreitas com o campesinato, mas com a
burguesia liberal. A tática do proletariado deveria ser ajudar a burguesia liberal a
assumir o poder do Estado. O proletariado não deveria assumir a liderança da
revolução, pois uma exibição vigorosa do ardor revolucionário pelo proletariado
poderia jogar a burguesia liberal nos braços da autocracia. O proletariado não deveria
tomar parte em qualquer governo revolucionário provisório, pois isso equivaleria a
repetir o erro cometido pelos socialistas franceses ao juntarem-se ao governo burguês.
Ao contrário, o proletariado deveria exercer pressão de fora, para compelir a
burguesia liberal a levar a revolução burguesa-democrática até o fim.

Para resumir, os mencheviques argüiam, o proletariado deveria desempenhar


um papel subsidiário - o papel de um apêndice da burguesia liberal. Ele não deveria
assumir um papel de dirigente e não deveria estabelecer relações estreitas com o
campesinato, pois isto poderia "levar as classes burguesas a recuarem da revolução e
assim diminuir sua abrangência".

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 28


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

A posição leninista-bolchevique

Por outro lado, os bolcheviques, os socialistas revolucionários, defendiam que,


a despeito do caráter burguês-democrático da revolução iminente, era principalmente
o proletariado que estava interessado em sua vitória completa, pois a vitória desta
revolução capacitaria o proletariado a organizar-se, a crescer politicamente e ganhar
experiência na direção política das massas trabalhadoras e, portanto, passar do estágio
da revolução burguesa para aquele da revolução socialista. O proletariado estava mais
interessado na vitória completa da revolução democrática burguesa do que a
burguesia, porque "em certo sentido, uma revolução burguesa é mais vantajosa para o
proletariado do que para a burguesia" (Lênin, Duas Táticas da Social-Democracia na
Revolução Democrática). Portanto, o proletariado deveria assumir a direção da
revolução.

Porém, o proletariado sozinho não poderia cumprir com sucesso sua tarefa de
dirigir a revolução democrática burguesa e conduzi-la até o final sem a assistência e a
participação ativa de um aliado confiável1. Este aliado confiável, sustentavam os
bolcheviques, não poderia ser outro senão o campesinato. O campesinato estava
interessado no sucesso da revolução, pois somente tal perspectiva poderia capacitá-lo
a ajustar as contas com a classe latifundiária e obter a posse de suas terras.

Lênin trata do papel do campesinato russo - o papel que tinha sido atribuído a
ele por sua posição de classe na revolução vindoura - nos seguintes termos:

"O campesinato inclui um grande número de semiproletários, assim como


elementos pequeno-burgueses. Isto causa certa instabilidade e compele o proletariado
a unir-se em um partido estritamente de classe. Porém a instabilidade do campesinato
difere radicalmente da instabilidade da burguesia, pois no presente o campesinato não
está tão interessado na preservação absoluta da propriedade privada quanto no
confisco dos latifúndios, uma das principais formas de propriedade privada. Embora
isto não leve o campesinato a tornar-se socialista ou cessar de ser pequeno-burguês, o
campesinato é capaz de tornar-se um integral e muito radical adepto da revolução
democrática. Tal se tornará o campesinato, inevitavelmente, somente se o progresso
dos acontecimentos revolucionários do qual ele está sendo esclarecido não for
interrompido pela traição da burguesia e derrota do proletariado. Sujeito a essas
condições, o campesinato tornar-se-á inevitavelmente um baluarte da revolução e da
república, pois apenas uma revolução completamente vitoriosa pode dar ao camponês
todas as coisas na esfera da reforma agrária - tudo aquilo que o camponês deseja, com
que ele sonha e de que ele se encontra verdadeiramente necessitado" (Duas Táticas da
Social-Democracia na Revolução Democrática).

Além disso, os bolcheviques defendiam que a burguesia liberal deveria


ser isolada, pois sem o isolamento dessa classe traidora e instável não haveria uma
revolução democrática burguesa com sucesso, sob a direção do proletariado. Tratando
da objeção menchevique de que as táticas bolcheviques "levariam as classes

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 29


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

burguesas a se retraírem da revolução e com isso diminuírem seu entusiasmo" e


rejeitando estas objeções como "táticas de traição à revolução" e como "táticas que
converteriam o proletariado em apêndice infeliz das classes burguesas", Lênin
escreveu:

"Aqueles que realmente entendem o papel do campesinato em uma revolução


russa vitoriosa sequer sonhariam em dizer que o alcance da revolução diminuiria se a
burguesia se retraísse dela. Pois na verdade, a revolução russa começará a assumir seu
alcance real, assumirá realmente o mais amplo alcance revolucionário possível na
época da revolução democrática burguesa, apenas quando a burguesia se distanciar
dela e quando as massas do campesinato se tornarem revolucionárias ativas, lado a
lado com o proletariado. Para que ela possa ser consistente-mente conduzida a sua
conclusão, nossa revolução democrática deve apoiar-se em forças que sejam capazes
de paralisar a inevitável inconsistência da burguesia, isto é, capaz precisamente de
'causar-lhe a retirada da revolução'." (Duas Táticas...)

De acordo com os bolcheviques, a vitória decisiva sobre o tzarismo resultaria


no estabelecimento de um governo provisório que seria uma ditadura revolucionária
do proletariado e do campesinato. Seria função de tal governo assegurar a vitória
decisiva sobre o tzarismo, esmagar pela força a resistência da autocracia, neutralizar a
instabilidade da burguesia, empreender as reformas agrária e outras democráticas e,
assim, conduzir a revolução democrática burguesa até o fim. Citando a famosa tese de
Marx que: "após uma revolução, toda organização provisória do Estado requer uma
ditadura e por sinal uma ditadura enérgica", Lênin chega à conclusão de que:

"Uma vitória decisiva da revolução sobre o tzarismo é a ditadura revolucionária


do proletariado e do campesinato...

E tal vitória será precisamente uma ditadura, isto é, deve inevitavelmente


apoiar-se na força militar, em armar as massas, em uma insurreição e não em
instituições de um tipo ou de outro, estabelecidas de modo legal ou pacífico. Somente
pode ser uma ditadura, para a realização das mudanças que são urgentes e
absolutamente indispensáveis, pois o proletariado e o campesinato enfrentarão a
resistência desesperada dos latifundiários, da grande burguesia e do tzarismo. Sem
uma ditadura, é impossível quebrar a resistência e repelir as tentativas contra-
revolucionárias. Porém, certamente, será uma ditadura democrática, não uma
ditadura socialista. Não será capaz (sem uma série de estágios intermediários do
desenvolvimento revolucionário) de afetar os fundamentos do capitalismo" [Duas
Táticas...).

E, finalmente, os bolcheviques não tinham a intenção de clamar por um freio


no momento de consumação da revolução democrática burguesa. Eles acreditavam
que não haveria barreiras insuperáveis entre a revolução democrática burguesa e a
socialista. Eles defendiam que, em conseqüência do cumprimento das tarefas
democráticas, o proletariado e outras massas exploradas teriam de começar uma luta
pela revolução socialista. Para os bolcheviques, a república democrática burguesa não
era um fim em si, mas um meio para um fim, isto é, uma república socialista; a

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 30


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

república democrática burguesa era um passo necessário na direção de uma república


socialista - um estágio intermediário no desenvolvimento do movimento
revolucionário em sua marcha adiante inexorável para o estabelecimento da ditadura
do proletariado. Contudo, isto seria realizado somente se o proletariado estivesse na
chefia de todo o povo, particularmente o campesinato, na fase da revolução
democrática, e na direção dos trabalhadores e explorados no período da luta pelo
socialismo. Em seu livro Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução
Democrática, escrevendo sobre o escopo da revolução burguesa e as tarefas do
partido proletário, Lênin brilhantemente resumiu a estratégia e a tática do partido do
proletariado no período da revolução democrática burguesa e tratou de uma vez por
todas, de modo mais claro, da questão da relação entre a revolução burguesa e a
revolução socialista. Ele escreveu:

"O proletariado deve levar até o fim a revolução democrática, aliando-se à


massa do campesinato a fim de esmagar pela força a resistência da autocracia e
paralisar a instabilidade da burguesia. O proletariado deve perseguir a revolução
socialista, aliando-se à massa dos elementos semiproletários da população, no sentido
de esmagar pela força a resistência da burguesia e paralisar a instabilidade do
campesinato e da pequena burguesia. Tais são as tarefas do proletariado, que os novos
iskraístas [isto é, os mencheviques - nota do autor] sempre apresentam de forma tão
estreita em seus argumentos e resoluções sobre o escopo da revolução. E adiante:

"Na direção de toda a população, e particularmente o campesinato - pela


liberdade completa, por uma revolução democrática consistente, por uma república!
Na direção de todos os trabalhadores e explorados - pelo socialismo! Tal deve ser, na
prática, a política do proletariado revolucionário, tal é o slogan de classe que deve
permear e determinar a solução de todos os problemas táticos, de todos os passos
práticos do partido dos operários durante a revolução" [Duas Táticas...).

Essa era a teoria da revolução continuada - a teoria da revolução democrática


burguesa passando para a revolução socialista.

A posição de Trotsky: sua teoria da 'revolução permanente'

Trotsky ocupou uma posição 'intermediária', que era formalmente diferente


tanto da dos bolcheviques quanto da dos mencheviques, porém, na essência e
objetivamente, mais próxima da dos últimos, para todos os propósitos práticos. Ele
concordava com os bolcheviques, em sua avaliação sobre a burguesia liberal russa
(capitalistas), e não queria saber dela. Ao mesmo tempo, estava em completo acordo
com os mencheviques, em sua avaliação sobre o campesinato. Portanto, não tinha
nada a fazer também com o campesinato. O campesinato não poderia ser um aliado
confiável, ele argüiu. O movimento espontâneo e a insurreição do campesinato podia
ajudar a classe operária em sua luta contra o despotismo tzarista, porém não era o
mesmo que o campesinato desempenhar o papel de um aliado revolucionário da
classe operária revolucionária, em sua luta contra a autocracia. O tzarismo, de acordo
com Trotsky, poderia apenas ser substituído por um governo dos operários. Em
nenhuma hipótese poderia ser substituído por uma ditadura conjunta da classe

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 31


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

operária e do campesinato. E, ao ascender ao poder, deveria ser função deste governo


dos operários atacar a propriedade privada, incluindo as posses dos camponeses. Com
seu ataque sobre a propriedade privada, o governo dos operários alienaria e
despertaria a hostilidade e a resistência (graças a Trotsky) da maioria da população, ou
seja, do campesinato. A resistência do campesinato poria em risco a própria existência
do governo dos operários. Porém, por outro lado, o governo dos operários estimularia
a classe operária dos países europeus industrialmente avançados a desfechar uma luta
implacável contra suas 'próprias' burguesias, a capturar o poder do Estado e
estabelecer o socialismo. E, por sua vez, a classe operária vitoriosa dos países
europeus ocidentais avançados viria em ajuda ao governo dos operários na Rússia e
ajudaria estes a esmagar pela força a resistência do campesinato. Trotsky chamou esta
teoria de teoria da 'revolução permanente', e ela foi causa e objeto de severas
controvérsias entre Lênin e Trotsky.

Uma coisa que deve ser ressaltada sobre Trotsky é que, a cada vez que ele
assumia uma posição incorreta e oportunista, ele sempre a cobria com o uso de frases
'esquerdistas' e ultra-'revolucionárias'. Ele foi, por exemplo, a favor de se saltar
arbitrariamente sobre o primeiro estágio da revolução russa. Ele foi contra o
estabelecimento da ditadura do proletariado e do campesinato como pré-requisito
necessário ao estabelecimento da ditadura do proletariado. Por quê? Porque, ele
argüia, "estamos vivendo na era do imperialismo, e o imperialismo não opõe a nação
burguesa ao velho regime, mas a nação proletária à burguesa" (Trotsky, Nossa
Revolução, 1906).

Em vista do que foi dito antes, as duas conclusões que emergem são:

(1) A hostilidade de Trotsky e sua falta de fé no campesinato, sua incapacidade


de apreciar o papel revolucionário que o campesinato é capaz de desempenhar em
certo estágio do desenvolvimento da revolução.

(2) Desta incapacidade de apreciar o papel revolucionário do campesinato


seguia seu desejo subjetivo de saltar sobre o estágio democrata-burguês da revolução
e estabelecer o socialismo diretamente. Daí a exortação a um governo dos operários,
para substituir o tzarismo. O que isso significava, na prática, era que o primeiro estágio
da revolução não deveria ser a maioria do povo russo, particularmente o campesinato,
contra o tzar, mas apenas a classe operária (constituindo uma pequena minoria na
população da Rússia) contra o tzar e a "nação burguesa", inclusive o campesinato.

A aceitação desta teoria da 'revolução permanente' teria significado uma


aceitação da contra-revolução permanente, pois teria significado uma negação do
papel revolucionário que o campesinato era capaz de desempenhar e desempenhou;
teria significado privar a classe operária russa de um aliado extremamente importante
e confiável e tornar o campesinato um instrumento da burguesia liberal. Trotsky
alegaria mais tarde que a revolução foi traída por Stalin. No momento, simplesmente
diremos que não teria havido revolução alguma e, conseqüentemente, nenhuma
'traição', se Trotsky tivesse sido seguido, se sua teoria da 'revolução permanente'
tivesse sido posta em prática, pois não teria havido nenhuma revolução na Rússia sem

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 32


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

o papel revolucionário desempenhado pelo campesinato russo. Lênin rejeitou a teoria


da 'revolução permanente' em seu Duas Linhas da Revolução (1915), no qual ele
escreveu:

"Trotsky repete sua teoria 'original' de 1905 e se recusa a parar para pensar
porque, por dez anos inteiros, a vida passou por esta bela teoria."

E adiante: "Trotsky está de fato ajudando os políticos trabalhistas liberais na


Rússia que, ao 'repudiarem' o papel do campesinato, pretendem recusar o despertar do
campesinato."

Foram precisos apenas dois anos para provar a correção da avaliação de Lênin
do papel do campesinato.

Tendo em vista esta avaliação de Trotsky e sua conseqüente rejeição do


campesinato como uma força revolucionária e, finalmente, sua rejeição dos estágios
no desenvolvimento de uma revolução, não é de forma alguma surpreendente que os
trotskistas de hoje, na Inglaterra, bem como em outros lugares, ataquem a Frente de
Libertação Nacional (FLN) do Vietnã do Sul e seu programa. Não é surpreendente que
eles caracterizem e rejeitem o programa da FLN como um programa burguês e lancem
injúrias sobre ele, ou que deixem de ver seu caráter revolucionário antiimperialista.
Eles se recusam a aprender com a própria vida e 'se recusam a parar para pensar por
quê', durante nada menos de 60 anos, 'a vida passou por esta bela teoria', a teoria da
'revolução permanente'. Mas disto falaremos mais adiante.

A teoria da 'revolução permanente' levou Trotsky a chegar à seguinte conclusão


em 1906, que ele repetiria em 1922:

"Na ausência do apoio direto do Estado por parte do proletariado europeu, a


classe operária russa não será capaz de ascender ao poder e transformar seu domínio
temporário em uma ditadura socialista estável. Não há dúvida sobre isso" (Trotsky, Our
Revolution, 1906).

Trotsky chegou à conclusão acima em 1906. Desta posição ele nunca se


afastou. De acordo com ele, a revolução russa não poderia sobreviver, muito menos
construir o socialismo, sem a ajuda do movimento operário vitorioso dos países da
Europa ocidental. Com este ponto de vista, o que se deveria fazer, se a classe operária
européia não tivesse êxito em fazer uma revolução social? Veremos que, à medida que
as chances de uma revolução socialista nos países europeus ocidentais se
enfraqueceram (e não podemos aqui entrar nas razões de não ter ocorrido uma
revolução européia), Trotsky começou a advogar uma política de aventureirismo
desesperado, alternada, de tempos em tempos, com uma política de completa
capitulação ao capitalismo monopolista internacional. Isto era conseqüência natural e
lógica de sua posição incorreta e totalmente oportunista, ao considerar a estratégia e
as táticas da revolução russa. Se se tomasse a posição, como Trotsky fez, de que a
revolução russa não poderia sobreviver sem o apoio da revolução social européia, só

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 33


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

se poderia chegar às seguintes conclusões na hipótese de a classe operária européia


não conseguir chegar ao poder:

Uma - que por algum tipo de aventureirismo a revolução deveria ser


'exportada' para os países europeus ocidentais;

Duas - rendição completa ao capitalismo monopolista internacional. Trotsky


chegou a essas duas conclusões e advogou-as de vez em quando. Aventureirismo de
mãos dadas com o capitulacionismo, ambos resultantes de uma falta de fé nas
massas e de uma superestimação dos reacionários, é a essência do trotskismo.

Por causa de sua teoria da 'revolução permanente' - com sua negação do papel
do campesinato, com sua falta de fé na habilidade do proletariado em dirigir as amplas
massas da classe trabalhadora para realizar a vitória do socialismo em um só país, com
sua crença religiosa, acientífica e não marxista, de que a vitória do socialismo só seria
possível no caso de uma revolução simultânea "nos mais importantes países da
Europa" - Trotsky nunca foi capaz de compreender o contexto peculiar da Revolução
de Outubro. É necessário para nós tratarmos deste contexto peculiar da Revolução de
Outubro e à luz destes aspectos peculiares determinar as respectivas posições
(irreconciliáveis) do leninismo e do trotskismo.

Os aspectos peculiares da Revolução de Outubro

Quais são os aspectos peculiares da Revolução de Outubro?

A Revolução de Outubro tem dois aspectos peculiares cujo entendimento é


uma precondição para compreender o significado nacional e internacional, desta
revolução. Estes dois aspectos são:

(1) a ditadura do proletariado aconteceu na Rússia com base numa aliança


entre o proletariado e o campesinato trabalhador, o campesinato sendo liderado pela
classe operária;

(2) a ditadura do proletariado estabeleceu-se em um único país - e um país


atrasado, do ponto de vista de seu desenvolvimento capitalista - enquanto o
capitalismo era preservado em outros países, alguns dos quais capitalisticamente
altamente desenvolvidos.

Estes dois aspectos são da maior importância para nós, pois não apenas
representam a essência da Revolução de Outubro e uma brilhante aplicação da teoria
de Lênin da ditadura do proletariado e sua teoria da revolução proletária como
também revelam a natureza altamente oportunista da teoria da 'revolução
permanente' de Trotsky.

Examinemos então estes aspectos, brevemente:

(1) A aliança entre o proletariado e o campesinato, este sendo liderado pelo


proletariado.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 34


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

A questão das alianças é de imensa importância. Quem as massas


trabalhadoras da cidade e do campo apóiam; de quem elas se tornarão reserva -
reserva do proletariado ou da burguesia? Nisto reside a realidade, o resultado, da
revolução. As revoluções francesas de 1848 e 1871 tiveram um fim ruim porque o
campesinato tornou-se reserva da burguesia. A Revolução de Outubro foi vitoriosa
porque o campesinato tornou-se reserva do proletariado, porque o proletariado foi
capaz de evitar que o campesinato fosse reserva da burguesia. Como Stalin disse:

"Aquele que não entende isso nunca entenderá o caráter da Revolução de


Outubro, ou a natureza da ditadura do proletariado ou as características peculiares da
política interna de nosso poder proletário" (Problemas do leninismo).

Assim, pode-se ver que a ditadura do proletariado é uma aliança de classes do


proletariado e do campesinato, este dirigido pelo proletariado, para a derrubada
revolucionária do capitalismo e para realizar a vitória final do socialismo. Portanto, não
é uma questão, como dizem alguns, de superestimar 'levemente' ou subestimar
'levemente' o papel do campesinato, é uma questão que diz respeito ao próprio
caráter e aos fundamentos da ditadura do proletariado. Qual é, então, a teoria de
Lênin da ditadura do proletariado? Assim Lênin a formulou:

"A ditadura do proletariado é uma forma especial de aliança de classes entre o


proletariado, a vanguarda dos trabalhadores e os numerosos estratos de trabalhadores
não proletários (a pequena burguesia, os pequenos proprietários, o campesinato, a
intelligentsia etc.) ou a maioria destes; é uma aliança contra o capital, uma aliança
visando a completa derrubada do capital, a supressão completa da resistência da
burguesia e de qualquer tentativa de sua parte de restauração, uma aliança visando o
estabelecimento final e a consolidação do socialismo" (Lênin).

E mais adiante:

Se traduzirmos a expressão latina, científica, histórica e filosófica "ditadura do


proletariado" para uma linguagem mais simples, ela significa simplesmente o seguinte:
apenas uma classe definida, a saber, os operários urbanos e operários industriais em
geral, é capaz de dirigir a massa total dos trabalhadores e explorados na luta pela
derrubada do jugo do capital, no processo desta derrubada, na luta para manter e
consolidar a vitória da luta total para a completa abolição das classes" (Lênin).

Tal é a teoria de Lênin da ditadura do proletariado, e a Revolução de


Outubro "representa a aplicação da teoria de Lênin da ditadura do
proletariado" (Stalin).

Estas, então, são as características do primeiro aspecto da Revolução de


Outubro.

Qual é a posição do trotskismo à luz do primeiro aspecto peculiar da Revolução


de Outubro, isto é, como a questão é vista pela teoria da 'revolução permanente' de
Trotsky?

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 35


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Não nos preocuparemos em enunciar detalhadamente a posição de Trotsky em


1905 quando ele expressou o slogan "Não tzar, mas governo dos operários", isto é,
uma revolução sem o campesinato! Nem nos deteremos longamente sobre a posição
de Trotsky em 1915, quando, a partir do fato de que "estamos vivendo na era do
imperialismo" e que o imperialismo "estabelece não a nação burguesa em oposição ao
velho regime, mas o proletariado em oposição à nação burguesa", ele chegou à
conclusão, em seu artigo, A Luta pelo Poder, de que o papel do campesinato estava
destinado a declinar, que o campesinato não estava mais destinado a desempenhar o
papel importante que tinha até aí sido atribuído a ele. que o slogan do confisco de
terra não tinha mais a importância do passado. Como é geralmente sabido, Lênin
naquela época repreendeu Trotsky nos seguinte termos, por defender tal tese:

"Trotsky está de fato ajudando os políticos trabalhistas liberais na Rússia, que


ao 'negarem' o papel do campesinato pretendem assim recusar-se a despertar o
campesinato para a revolução".

Passemos, portanto, às ultimas obras de Trotsky sobre este tema - obras do


período após o estabelecimento da ditadura do proletariado. Tomemos, por exemplo,
o Prefácio de Trotsky ao seu livro O Ano de 1905, escrito em 1922. Eis o que diz Trotsky
neste Prefácio à sua teoria da 'revolução permanente':

"Foi precisamente durante o intervalo entre 9 de janeiro e a greve geral de


outubro de 1905 que a visão do caráter do desenvolvimento revolucionário da Rússia,
que veio a ser conhecida como a teoria da 'revolução permanente', cristalizou-se no
pensamento do autor. Esta expressão complexa representava a idéia de que a
Revolução Russa, cujos objetivos imediatos eram de natureza burguesa, não deveria,
entretanto, parar quando estes objetivos tivessem sido conquistados. A revolução não
seria capaz de resolver seus problemas burgueses imediatos exceto colocando o
proletariado no poder. E este, assumindo o poder, não seria capaz de confinar-se aos
limites burgueses da revolução. Ao contrário, precisamente a fim de assegurar sua
vitória, a vanguarda proletária foi forçada no próprio estágio inicial de seu domínio a
fazer incursões profundas não apenas na propriedade feudal porém da propriedade
burguesa também. Com isto, entrou em colisão hostil não somente com todos os
grupos burgueses que apoiaram o proletariado durante os primeiros estágios da luta
revolucionária, porém também com as amplas massas do campesinato, que tinham
sido vitais para a sua ascensão ao poder. As contradições na posição de um governo
dos operários em um país atrasado, com esmagadora maioria de camponeses, só
podem ser resolvidas numa escala internacional, na arena da revolução proletária
mundial."

Tal é a teoria de Trotsky da 'revolução permanente'. Tal é a posição do


trotskismo sobre a ditadura do proletariado. Esta é a situação no que diz respeito à
teoria da 'revolução permanente', à luz do primeiro aspecto peculiar da Revolução de
Outubro, a saber, que a ditadura do proletariado foi estabelecida na Rússia com base
numa aliança entre o proletariado e o campesinato, sendo o proletariado a força-guia
desta aliança.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 36


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Camaradas, há alguma coisa em comum entre a teoria de Lênin da ditadura do


proletariado e a teoria de Trotsky da 'revolução permanente'? Não é preciso provar
que nada há em comum entre as duas. Basta comparar a citação anterior, do Prefácio
de Trotsky, com as duas citações dos escritos de Lênin "para perceber o grande abismo
que existe entre a teoria de Lênin da ditadura do proletariado e a teoria de Trotsky da
'revolução permanente'".

Permita-me, camaradas, resumir este ponto, o da comparação entre a teoria de


Lênin da ditadura do proletariado com a teoria de Trotsky da 'revolução permanente',
com a linguagem imortal do camarada Stalin. O camarada Stalin disse:

"Lênin falou da aliança entre o proletariado e o estrato trabalhador do


campesinato como a base da ditadura do proletariado. Trotsky vê uma 'colisão hostil'
entre a 'vanguarda do proletariado' e as 'amplas massas dos camponeses'.

Lênin fala da direção das massas trabalhadoras e exploradas pelo proletariado.


Trotsky vê 'contradições na posição de um governo dos operários em um país atrasado,
com uma maioria esmagadora de camponeses'.

De acordo com Lênin, a revolução retira sua força principalmente dentre os


operários e camponeses da própria Rússia. De acordo com Trotsky, a força necessária
pode ser encontrada somente 'na arena da revolução proletária mundial'.

Mas e se a revolução mundial estiver fadada a chegar com algum atraso?

Há alguma fagulha de esperança para nossa revolução? Trotsky não vê fagulha


de esperança, pois 'as contradições na posição de um governo dos operários' ... podem
ser resolvidas apenas ... na arena da revolução proletária mundial. De acordo com este
plano, há porém uma proposta esquerdista para a nossa revolução: vegetar em suas
próprias contradições e apodrecer enquanto espera pela revolução mundial.

O que é a ditadura do proletariado, de acordo com Lênin?

A ditadura do proletariado é um poder que se apóia em uma aliança entre o


proletariado e as massas trabalhadoras do campesinato 'pela completa derrubada do
capital' e pelo 'estabelecimento e consolidação final do socialismo'.

O que é a ditadura do proletariado, de acordo com Trotsky?

A ditadura do proletariado é um poder que entra em 'colisão hostil... com as


amplas massas do campesinato' e busca a solução de suas 'contradições' somente 'na
arena da revolução proletária mundial'.

Que diferença há entre a 'teoria da revolução permanente' e a teoria bem


conhecida do menchevismo, que repudia o conceito de ditadura do proletariado?

Na substância, não há diferença.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 37


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Não há duvida sobre isso. A 'revolução permanente' não é uma mera


subestimação das potencialidades revolucionárias do movimento camponês. A
'revolução permanente' é uma subestimação do movimento camponês que leva ao
repúdio da teoria de Lênin da ditadura do proletariado.

A 'revolução permanente' de Trotsky é uma variedade do menchevismo"


[Problems of Leninism).

É assim que se configura a questão, a respeito do primeiro aspecto peculiar da


Revolução de Outubro. Passemos ao segundo aspecto peculiar daquela revolução:

(2) A vitória da revolução em um único país - capitalisticamente pouco


desenvolvido - enquanto o capitalismo é preservado em outros países
capitalisticamente mais avançados.

Lênin, com seus estudos do imperialismo, chegou à lei do desenvolvimento


econômico e político desigual dos diversos países capitalistas. De acordo com esta lei,
o desenvolvimento capitalista dos diversos países não acontece de acordo com um
plano definido, com o que um país capitalista está sempre adiante de outros,
enquanto outro permanece regularmente atrás dele. Ao contrário, o desenvolvimento
de países capitalistas ocorre espasmodicamente - por saltos adiante no
desenvolvimento de alguns e interrupções no desenvolvimento de outros. Esta
situação conduz a esforços 'inteiramente legítimos', por parte daqueles países que
costumavam estar à frente dos outros mas ficaram para trás, para recuperarem suas
velhas posições e a esforços igualmente 'legítimos', por parte dos países que saltaram
adiante, para efetuar uma mudança da situação e galgar novas posições. Estes dois
esforços igualmente 'legítimos' e irreconciliáveis não podem senão levar a conflitos
armados e a guerras inter-imperialistas. Foram estas contradições que geraram as
Primeira e Segunda Guerras Mundiais. A Alemanha, de país atrasado com capitalismo
pouco desenvolvido, saltou adiante da França e pressionou a Inglaterra no mercado
mundial. Os esforços 'legítimos' da Inglaterra e da França para manterem-se nas velhas
posições e os esforços 'legítimos' da Alemanha para alcançar novas posições levaram à
Primeira Guerra Mundial inter-imperialista.

A lei do desenvolvimento desigual origina-se do seguinte:

(1) "O capitalismo transformou-se num sistema mundial de opressão colonial e


de estrangulamento financeiro da maioria esmagadora da população do mundo por
um punhado de 'países avançados'. (Lênin, Prefácio à edição francesa de Imperialism,
the Highest Stage of Capitalism, SW Vol. 5, p. 9).

(2) Este saque é repartido entre dois ou três saqueadores mundiais poderosos,
armados até os dentes (América do Norte, Inglaterra e Japão), que envolvem todo o
mundo em sua guerra pela repartição do seu saque" (ibid.);

(3) Por causa da intensificação da contradição catastrófica dentro do sistema do


imperialismo, resultando em guerras imperialistas e no crescimento dos movimentos

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 38


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

revolucionários, a frente mundial do imperialismo torna-se facilmente vulnerável à


revolução, e uma brecha nesta frente, em países individuais se torna provável;

(4) Onde esta brecha tem lugar? No elo mais fraco da cadeia da frente mundial
do imperialismo, onde o imperialismo é fraco e as forças revolucionárias exercem força
suficiente para efetuar uma tal brecha;

(5) Portanto, a vitória do socialismo em um país (mesmo um país onde o


capitalismo é pouco desenvolvido), enquanto o capitalismo é preservado em outros
países (mais desenvolvidos no sentido capitalista) torna-se provável.

"O desenvolvimento econômico e político desigual", dizia Lênin, "é uma lei
absoluta do capitalismo. Daí, a vitória do socialismo é possível primeiro em alguns ou
mesmo em um único país capitalista, tomado isoladamente. O proletariado vitorioso
daquele país, tendo expropríado os capitalistas e organizado sua própria produção
socialista, deveria posicionar-se contra o resto do mundo, o mundo capitalista, atrair
para sua causa as classes oprimidas de outros países, apoiando as revoltas naqueles
países contra os capitalistas e, caso seja necessário, investir mesmo com força armada
contra as classes exploradoras e seus Estados." Pois "a livre união das nações no
socialismo é impossível sem uma luta mais ou menos prolongada e obstinada pelas
repúblicas socialistas contra os Estados atrasados" (Lênin: SW Vol. 5, p. 141, The
United States of Europe Slogan).

E adiante:

"O desenvolvimento do capitalismo ocorre de maneira extremamente desigual


nos vários países. Não pode ser diferente sob o sistema de produção de
mercadorias. Disto segue-se inevitavelmente que o socialismo não pode alcançar a
vitória simultaneamente em todos os países. Alcançará vitória primeiro em um ou
alguns países, enquanto outros permanecerão burgueses ou pré-burgueses por algum
tempo" (Lênin, Military Programme of the Proletarian Revolution).

Tais são os fundamentos da teoria de Lênin da revolução proletária.

Os oportunistas (sejam eles trotskistas, revisionistas ou social-democratas) de


todos os países afirmam que uma revolução proletária só pode começar em países
altamente industrializados. Mais do que isto - de acordo com eles, a vitória do
socialismo em um só país, particularmente um país onde o capitalismo não é
altamente desenvolvido, está totalmente fora de questão. Lênin lutou contra esta
teoria oportunista já no período da Primeira Guerra Mundial, e, apoiando-se na lei do
desenvolvimento desigual do capitalismo, opôs aos oportunistas a sua teoria da
revolução proletária. O que distingue a teoria de Lênin da revolução proletária das
várias teorias oportunistas?

A possibilidade e a probabilidade da vitória do socialismo em um só país -


mesmo se aquele país não é altamente desenvolvido no sentido capitalista - é o que
distingue a teoria de Lênin da revolução proletária de todas as teorias oportunistas

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 39


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

que afirmam que o socialismo não pode ser vitorioso em um único país, e aliás um país
atrasado.

A Revolução de Outubro forneceu eloqüente prova da correção da teoria de


Lênin da revolução proletária e prova igualmente eloqüente das incorreções e da
natureza oportunista das varias teorias de acordo com as quais a vitória do socialismo
não pode ser conquistada em um único país, particularmente em um país atrasado:

"O segundo aspecto peculiar da Revolução de Outubro", dizia Stalin, repousa no


fato de que esta revolução representa um modelo da aplicação prática da teoria de
Lênin da revolução proletária.

Aquele que não entender este aspecto peculiar da Revolução de Outubro nunca
entenderá a natureza internacional da revolução, ou sua força internacional colossal,
ou sua política externa peculiar" (Stalin, Problems of Leninism).

Como a teoria da 'revolução permanente' de Trotsky se relaciona com a teoria


da revolução proletária de Lênin?

Em seu livro Nossa Revolução (1906), Trotsky escreveu:

"Sem o apoio estatal direto do proletariado europeu, a classe operária da Rússia


não será capaz de manter-se no poder e transformar seu domínio temporário em uma
ditadura socialista sustentável. Disso não podemos duvidar um só instante."

Qual o significado desta citação?

Seu significado é que o socialismo não pode ser vitorioso em um só país -a


Rússia, neste exemplo - "sem o apoio direto do proletariado europeu". Seu significado
é que na Rússia o proletariado não podia"manter-se no poder", construir sozinho o
socialismo, antes da tomada do poder pelo proletariado europeu.

Há qualquer coisa em comum entre esta "teoria" e a teoria de Lênin da


revolução proletária sobre a vitória do socialismo em um só país, mesmo que este país
não seja altamente desenvolvido no sentido capitalista?

É quase desnecessário dizer que não há nada em comum entre as duas.

Pode-se argüir que o livro de Trotsky Nossa Revolução foi publicado em 1906,
quando era difícil determinar precisamente o caráter da revolução russa, que ele
contém alguns erros e que, portanto, não correspondia à visão de Trotsky mais tarde.
Porém, examinemos a visão de Trotsky contida em outro dos seus panfletos, O
Programa da Paz. Este panfleto foi publicado antes da Revolução de Outubro e
reimpresso em 1924 no livro de Trotsky O Ano de 1917. Neste panfleto Trotsky ataca a
teoria de Lênin da revolução proletária sobre a vitória do socialismo em um só país e
opõe a ela sua teoria de um Estados Unidos da Europa. Trotsky argumenta que a
vitória do socialismo só é possível se tal vitória for alcançada em vários dos principais
estados europeus, que deve combiná-los, então, em um Estados Unidos da Europa. De

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 40


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

acordo com Trotsky, uma revolução na Rússia não poderia ser vitoriosa sem uma
revolução proletária na Alemanha. Nem poderia haver revolução vitoriosa na
Alemanha sem uma revolução em outros países europeus avançados. Trotsky disse:

"O único argumento histórico mais ou menos concreto apresentado contra o


slogan de um Estados Unidos da Europa foi formulado na Social-Democracia
Suíça (nesta época o órgão central dos bolcheviques) na seguinte sentença:
'Desenvolvimento econômico e político desigual é uma lei absoluta do capitalismo'.
Disto a Social-Democracia sacava a conclusão de que era possível a vitória do
socialismo em um só país e que, portanto, não havia por que colocar a criação de um
Estados Unidos da Europa como condição para a ditadura do proletariado em cada
país separado. Que o desenvolvimento capitalista em diferentes países é desigual é um
argumento absolutamente incontestável. Mas esta desigualdade é em si
extremamente desigual. O nível capitalista da Inglaterra, Áustria, Alemanha ou França
não é idêntico. Mas em comparação com a África e a Ásia, todos estes países
representam a 'Europa' capitalista, que se tornou madura para a revolução social. Que
nenhum país isolado deveria 'esperar' por outros em sua própria luta é uma idéia
elementar, que é útil e necessário repetir, a fim de evitar a substituição da idéia da
inação internacional expectante pela idéia de ação internacional simultânea. Sem
esperar pelos outros, comecemos e continuemos nossa luta em nosso solo nacional,
confiantes em que nossa iniciativa dará ímpeto ã luta em outros países; mas se isto não
acontecer, é sem esperanças, à luz da experiência histórica e à luz do raciocínio teórico,
pensar que uma Rússia revolucionária, por exemplo, poderia manter-se frente a uma
Europa conservadora, ou que uma Alemanha socialista poderia permanecer isolada em
um mundo capitalista".

Assim, o que temos diante de nós é a velha teoria da "revolução permanente",


que demanda uma vitória simultânea da revolução proletária nos mais importantes
países da Europa. A teoria de Trotsky da 'revolução permanente' excluía a teoria de
Lênin da revolução proletária; a teoria de Trotsky da desesperança 'permanente' nada
tem em comum com a teoria de Lênin da revolução proletária após a vitória do
socialismo em um só país.

Talvez a citação anterior do livro de Trotsky O Ano de 1917 também não


corresponda à visão mais madura de Trotsky. Examinemos, então, seus últimos
trabalhos, aqueles escritos após a vitória da revolução proletária na Rússia, em um
único país. Tomemos, por exemplo, o Posfácio de Trotsky à nova edição de seu
panfleto A Programme of Peace, escrito em 1922. Eis o que diz Trotsky neste posfácio:

"A afirmação, repetida várias vezes em 'Um Programa de Paz', de que uma
revolução proletária não pode ser conduzida a uma conclusão vitoriosa dentro dos
limites de um só país, pode parecer a alguns leitores ter sido refutada pela experiência
de quase cinco anos de nossa república Soviética. Porém, tal conclusão seria infundada.
O fato de que o Estado dos operários tem se mantido contra todo o mundo em um só
país, e em um país atrasado, atesta a força colossal do proletariado que em outros
países, mais avançados, mais civilizados, seria capaz de operar verdadeiros milagres.
Porém, embora tenhamos resistido no sentido político e militar, como um Estado, não

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 41


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

empreendemos, nem chegamos perto, da tarefa de criar uma sociedade socialista...


Enquanto a burguesia permanecer no poder nos outros países europeus, seremos
compelidos, em nossa luta contra o isolamento econômico, a buscar um acordo com o
mundo capitalista; ao mesmo tempo pode-se dizer que, certamente, acordos assim
podem ajudar-nos a mitigar alguns de nossos males econômicos, dar um ou outro
passo adiante, porém, um genuíno avanço da economia socialista na Rússia tornar-se-
á possível somente após a vitória do proletariado nos países mais importantes da
Europa" (ênfase minha).

Permitam-me, camaradas, concluir este argumento citando o que o camarada


Stalin teve a dizer sobre a citação acima do posfácio de Trotsky a seu panfleto
A Programme of Peace:

"Assim fala Trotsky", diz Stalin, "claramente ignorando a realidade e


teimosamente tentando salvar sua 'revolução permanente' do naufrágio final.

Parece, então, que, por mais malabarismos que se façam, não temos somente
'não empreendemos' a tarefa de criar uma sociedade socialista como 'nem chegamos
perto disso'. Parece que algumas pessoas tem estado esperando por 'acordos com o
mundo capitalista', porém também parece que nada sairá destes acordos, pois, por
mais que se queira, um 'avanço genuíno da economia socialista' não será possível até
que o proletariado tenha sido vitorioso nos 'mais importantes países da Europa'.

Bem, então, desde que não há ainda nenhuma vitória no Ocidente, a única
'escolha' que permanece para a revolução na Rússia é: apodrecer ou degenerar em um
Estado burguês.

Não é por acidente que Trotsky tenha estado falando já por dois anos sobre a
'degeneração' de nosso Partido.

Não é por acidente que no último ano Trotsky tivesse previsto a ruína de nosso
país.

Como se pode conciliar esta 'proposta' estranha' com a visão de Lênin de que a
Nova Política Econômica (NEP) nos capacitaria a 'lançar as fundações da economia
Socialista' ?

Como se pode conciliar esta desesperança 'permanente', por exemplo, com as


seguintes palavras de Lênin:

'O socialismo não é mais uma questão do futuro distante, ou um quadro


abstrato, ou um ícone. Nós ainda mantemos nossa velha má opinião sobre os ícones.
Trouxemos o socialismo para a vida cotidiana, e aqui devemos ser capazes de manter
nossas posições. Esta é a tarefa de nossos dias, a tarefa de nossa época. Permitam-
me concluir expressando a convicção de que. por difícil que seja esta tarefa, por nova
que seja quando comparada com nossas tarefas anteriores, e por mais dificuldades
que encerre, nós todos - não em um dia. porém no curso de vários anos - todos nós

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 42


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

juntos a cumpriremos a qualquer preço; e a Rússia da NEP será transformada na


Rússia Socialista" (Lênin, SW Vol 9, p. 381).'

Como se pode conciliar esta desesperança 'permanente', por exemplo, com as


seguintes palavras de Lênin:

'Na realidade, o poder do Estado sobre todos os meios de produção de larga


escala, o poder do Estado nas mãos do proletariado, a aliança deste proletariado
com os muitos milhões de pequenos e muito pequenos camponeses, a direção do
campesinato assegurada pelo proletariado etc. - não é isso tudo que é necessário no
sentido de construir uma sociedade socialista completa a partir das cooperativas e
apenas das cooperativas, que antigamente tratamos como ambulantes e que sob
certo aspecto temos o direito de tratar como tal agora, sob a NEP? Não é isso tudo
que ó necessário para o propósito de construirmos uma sociedade socialista
completa? Isto não é ainda a construção da sociedade socialista, mas é tudo que é
necessário para esta construção.' (SW Vol. 9, p. 403).

E claro que estas duas visões não podem ser conciliadas. A 'revolução
permanente' de Trotsky é a negação da teoria de Lênin da revolução proletária; e,
inversamente, a teoria de Lênin da revolução proletária é a negação da teoria da
'revolução permanente'.

Falta de fé na força e capacidades de nossa revolução, falta de fé na força e


capacidades do proletariado russo - isto é o que está na raiz da teoria da 'revolução
permanente'.

Até aqui, só um aspecto da teoria da 'revolução permanente' tem sido


geralmente notado - a falta de fé nas potencialidades revolucionárias do movimento
camponês. Agora, para fazer justiça, isto deve ser acrescido de outro aspecto - a falta
de fé na força e capacidades do proletariado na Rússia.

Que diferença há entre a teoria de Trotsky e a teoria menchevique ordinária, de


que a vitória do socialismo em um só pais, e por sinal um país atrasado, é impossível
sem a vitória preliminar da revolução proletária 'nos principais países da Europa
ocidental'?

De fato, não há diferença.

Não pode haver dúvida sobre isso. A teoria de Trotsky da 'revolução


permanente' é uma variedade do menchevismo."

Esta é a situação no que se refere ao segundo aspecto peculiar da Revolução de


Outubro.

Os trotskistas e a intelligentsia burguesa, em sua tentativa desesperada de fazer


crer que a teoria da 'revolução permanente' é compatível com o leninismo, muitas
vezes afirmam que a preocupação com Trotsky era que ele ia muito mais adiante; que,
embora a teoria de Trotsky estivesse errada para o ano 1905, ela provara estar correta

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 43


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

em outubro de 1917. Afirmam, além disso, que, em abril de 1917, Lênin dera seu
ponto de vista pela 'revolução permanente de Trotsky'. É necessário cuidado com esta
afirmação, pois, se ela fosse verdadeira, seria correto dizer que Lênin foi um trotskista.
Mais do que isso - não haveria algo como mar-xismo-leninismo, e sim marxismo-
trotskismo. Assim, pode-se ver claramente, camaradas, que os trotskistas não se
contentam em tentar fazer o trotskismo parecer compatível com o leninismo - eles
estão de fato tentando substituir o leninismo pelo trotskismo. Não é a primeira vez
que o trotskismo faz tal tentativa, nem será a última. Contudo, podemos dizer com
certeza que, como todas as anteriores, a tentativa atual do trotskismo de substituir o
leninismo e afirmar-se como a única ideologia proletária (!) (tanto quanto as futuras),
será esmagada.

Uma tentativa de manipular o trotskismo para fazê-lo parecer compatível com


o leninismo foi feita já em 1924, por Radek. Stalin, como resultado desta tentativa,
chamou Radek de "diplomata podre".Eis o que Radek disse:

"A guerra criou uma cisão entre o campesinato, que estava lutando para
ganhar terra e paz, e os partidos pequeno-burgueses; a guerra colocou o campesinato
sob a direção da classe operária e de sua vanguarda, o Partido Bolchevique. Isto tornou
possível, não a ditadura da classe operária e do campesinato, mas a ditadura da classe
operária, apoiando-se no campesinato. O que Rosa Luxemburgo e Trotsky defenderam
contra Lênin em 1905 (isto é, a 'revolução permanente'], provou, na realidade, ser o
segundo estágio do desenvolvimento histórico."

Nenhuma refutação melhor das afirmações contidas na citação anterior pode


ser encontrada em qualquer lugar senão nas seguintes linhas do camarada Stalin:

"Aqui [isto é, na citação de Radek] todas as declarações são distorções. Não é


verdade que a guerra "tornou possível, não a ditadura da classe operária e do
campesinato, mas a ditadura da classe operária, apoiando-se no campesinato'. Na
realidade,, a Revolução de Fevereiro de 1917 foi a materialização da ditadura do
proletariado e do campesinato, entrelaçada de forma peculiar com a ditadura da
burguesia. Não é verdade que a teoria da 'revolução permanente', que Radek
modestamente evita mencionar, tenha sido defendida em 1905 por Rosa Luxemburgo e
Trotsky. Na verdade, esta teoria foi defendida por Parvus e Trotsky. Agora, dez meses
mais tarde, Radek corrige-se e considera necessário reprovar Parvus pela teoria da
'revolução permanente'. Porém, com toda a justiça, Radek deveria ter também
reprovado o parceiro de Parvus, Trotsky.

Não é verdade que a teoria da 'revolução permanente', que foi posta de lado
pela Revolução de 1905, tenha provado estar correta no 'segundo estágio do
desenvolvimento histórico', isto é, durante a Revolução de Outubro. O desenvolvimento
total demonstrou e provou a bancarrota total da teoria da 'revolução permanente' e
sua absoluta incompatibilidade com os fundamentos do leninismo.

Discursos adocicados e diplomacia podre não podem ocultar o imensa abismo


que existe entre a teoria da 'revolução permanente' e o leninismo."

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 44


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Notas

1. "O problema das massas trabalhadoras da pequena burguesia, tanto urbana


quanto rural, o problema de atrair essas massas para o lado do proletariado, é de
excepcional importância para a revolução proletária. A quem a população
trabalhadora da cidade e do campo apoiará na luta pelo poder, a burguesia ou o
proletariado; de quem se tornará reserva, reserva da burguesia ou reserva do
proletariado - disto depende o destino da revolução e a estabilidade da ditadura do
proletariado. A Revolução na França em 1848 e 1871 acabou fracassando
principalmente porque as reservas camponesas provaram estar do lado da
burguesia. A Revolução de Outubro foi vitoriosa porque foi capaz de privar a
burguesia de suas reservas camponesas, porque foi capaz de conquistar estas
reservas para o lado do proletariado e porque, nesta revolução, o proletariado
provou ser a única força-guia para as vastas massas da população laboriosa da cidade
e do campo.

Quem não entender isto nunca compreenderá o caráter da Revolução de


Outubro, ou a natureza da ditadura do proletariado, ou as características peculiares
da política interna de nosso poder proletário" (Stalin, Problems of Leninism).

Segue mais
abaixo:

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 45


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Capítulo 4

Conclusão da Parte I

O Trotskismo - Inimigo da Revolução Proletária e dos Movimentos de Libertação


Nacional

À luz do que já foi dito, torna-se nosso dever imperativo, camaradas, rejeitar o
trotskismo, denunciá-lo e opor-nos a ele como uma ideologia burguesa perniciosa. Isto
é de especial importância para nós, vivendo como vivemos em um país imperialista,
pois a aceitação do trotskismo pelos operários pode apenas levá-los a fazer uma
aliança com sua 'própria' burguesia imperialista. Por que isso? Porque, de acordo com
o trotskismo "um avanço genuíno da economia socialista ... tornar-se-á possível
somente após a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa", e
mais:

"Sem o apoio de Estado direto do proletariado europeu, a classe operária ... não
será capaz de manter-se no poder e transformar seu domínio temporário em uma
ditadura socialista duradoura. Disto não podemos duvidar por um instante sequer."

Assim, de acordo com o trotskismo, a revolução socialista não pode ter êxito
em países capitalistas menos avançados; o socialismo não pode ser construído nesses
países - não até depois da 'vitória do proletariado nos países mais importantes da
Europa'.

Porém, o que acontece se o proletariado de um país atrasado é vitorioso em


fazer uma revolução, porém seu sucesso não é seguido pela "vitória do proletariado
nos países mais importantes da Europa"?Resposta do trotskismo: "...porém, se isto não
acontecer (isto é, se a vitória do proletariado em um país atrasado, tal como a Rússia
era antes de 1917, não é seguida pela vitória do proletariado europeu) seria sem
esperanças, à luz da experiência histórica e à luz do raciocínio teórico, pensar que uma
Rússia revolucionária (ou, pela mesma razão, qualquer outro país atrasado), por
exemplo, pudesse manter-se frente a uma Europa conservadora, ou que uma
Alemanha socialista poderia permanecer isolada em um mundo capitalista".

Em outras palavras, o conselho do trotskismo para o proletariado vitorioso de


um país atrasado, nestas circunstâncias, seria: rendam-se incondicionalmente -
capitulem - façam sua paz com sua 'própria' burguesia e com o imperialismo, pois sua
posição é "desesperadora"; desde que em seu país, à luz da experiência histórica e à
luz do raciocínio teórico" vocês não podem manter-se "frente à Europa

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 46


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

conservadora"; visto que "a revolução proletária não pode ser levada a uma conclusão
vitoriosa, dentro dos limites de um só país", e assim por diante.

Esta posição do trotskismo, incorporada à teoria de Trotsky da 'revolução


permanente', constitui sua real essência contra-revolucionária. Nenhuma quantidade
de palavreado ultra-'esquerdista' pode ocultar a essência contra-revolucionária do
trotskismo. É esta posição do Trotskismo que o torna o mais firme apoiador do
imperialismo; se sua opinião fosse seguida pelo proletariado vitorioso de um país
atrasado, ela levaria à restauração do capitalismo nesse país e assim fortaleceria o
imperialismo. O efeito do fortalecimento do imperialismo, por sua vez, tornaria ainda
mais difícil "a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa". Assim,
nunca teremos a ditadura do proletariado em dado país, nem estaremos nunca mais
próximos a uma Europa socialista, graças à recomendação do trotskismo. O resultado
só poderia ser o fortalecimento do imperialismo e a sua capacitação a manter mais
facilmente o proletariado sob seu domínio. O proletariado europeu estará mais
próximo da vitória precisamente quando o imperialismo tiver se tornado fraco, e não
em conseqüência de seu fortalecimento. A estrada do trotskismo, a estrada da teoria
da 'revolução permanente', leva à reação permanente e à contra-revolução
permanente - é a estrada da desesperança permanente.

A teoria de Trotsky da 'revolução permanente', por causa de sua negação do


papel revolucionário do campesinato, sustenta que naqueles países em que o
feudalismo é ainda força predominante, o feudalismo só pode ser substituído por um
governo dos operários; em outras palavras, o trotskismo nega os estágios da revolução
- nega o estágio intermediário de uma revolução democrática do povo, isto é, uma
revolução que põe fim ao feudalismo mas não institui ainda o socialismo, uma
revolução que se torna socialista somente após ter cumprido suas tarefas
democráticas, e no curso da qual tem lugar um realinhamento necessário das forças de
classe. O trotskismo nega a teoria da revolução democrática nova, que é a teoria
marxísta-leninista da revolução por estágios, assim como a teoria marxista-leninista da
revolução continuada. O trotskismo acredita, e não poderia senão acreditar, por conta
de sua negação do papel revolucionário do campesinato, em saltar subjetivamente os
estágios1 da revolução. O resultado disso é duplo: (1) ele está se preparando para as
tarefas futuras e negligenciando as tarefas do presente; e (2) deixa de dar apoio às
lutas de libertação nacional, tais como a heróica luta do povo vietnamita pela
libertação nacional, sob o pretexto de que o Programa da Frente de Libertação
Nacional do Vietnã do Sul é 'burguês'. Ao fazê-lo, o trotskismo age como uma força
desorganizadora dentro do movimento de solidariedade com os povos dos países
oprimidos, coloca uma cunha entre o proletariado europeu e os povos oprimidos do
mundo, em sua luta contra o imperialismo, e fornece um apoio todo-poderoso ao
imperialismo. Tal, por exemplo, tem sido o caso com o movimento neste país pela
solidariedade com o heróico povo vietnamita. Os trotskistas, ombreados com os
revisionistas, têm feito tudo que podem para sabotar o movimento de solidariedade e
têm tido algum sucesso. Não estou escrevendo uma história completa do movimento
de solidariedade ao Vietnã. Isto deveria ser feito em outro lugar e em outra época.
Porém, serão oportunos uns poucos exemplos, para demonstrar as posições contra-

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 47


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

revolucionárias a que a aceitação da teoria da 'revolução permanente' tem levado os


trotskistas.

Os trotskistas têm todo o tempo se recusado a apoiar o programa da FLN, sob o


argumento de que seria um 'programa burguês'. Eles fazem isso porque, sendo
seguidores da teoria da 'revolução permanente', que nega o papel revolucionário do
campesinato, não reconhecem os estágios da revolução vietnamita. Eles
subjetivamente querem saltar ou passar por cima do estágio de libertação nacional.
Em outras palavras, querem o socialismo estabelecido na metade sul do Vietnã antes
que o povo vietnamita tenha alcançado a libertação nacional, com a derrota dos
agressores imperialistas dos EUA e antes que tenham completado as tarefas
democráticas da revolução vietnamita. De acordo com os trotskistas, o domínio do
feudalismo e do imperialismo no Vietnã do Sul só pode ser substituído por um governo
dos operários. Tudo isso soa muito revolucionário, porém, em essência, é um contra-
senso reacionário. O resultado de perseguir tal curso, como advogam os trotskistas,
seria que não apenas o socialismo não pode ser estabelecido no Vietnã do Sul, como
nem mesmo se pode conseguir a libertação nacional. A vasta maioria do povo do
Vietnã do Sul, que tem lutado uma batalha gloriosa contra o imperialismo e pela
salvação nacional, o tem feito porque estão todos de acordo e unidos em sua
determinação de derrotar a agressão dos EUA, alcançar a libertação nacional e
estabelecer uma república democrática popular. Neste estágio, um programa
socialista poderia somente ter o efeito de causar uma cisão na frente única contra o
imperialismo; neste estágio, um programa socialista prestaria a mais profunda ajuda
ao imperialismo. Assim, pode-se ver que, quando os trotskistas condenam a FLN, estão
prestando um precioso serviço ao imperialismo dos EUA. É a isto que eqüivale seu
palavreado ultra-'esquerdista': a derrocada da luta de libertação, transformada em
servilismo ao imperialismo.

Os trotskistas têm a todo tempo injuriado o grande líder do povo indochinês,


camarada Ho Chi Minh. O que fez o camarada Ho Chi Minh para merecer tal
tratamento? A resposta é que ele agiu de uma forma altamente revolucionária,
conduzindo o povo vietnamita de vitória em vitória, levou-o a estabelecer o socialismo
na República Democrática do Vietnã e, assim, provou na prática a natureza falida e
reacionária da teoria da 'revolução permanente', de acordo com a qual o socialismo
não pode ser construído em um único país atrasado. Em outras palavras, ele fez o
mesmo que já tinha sido feito na URSS, sob a liderança de Stalin. Será de admirar que
os trotskistas chamem o camarada Ho Chi Minh de "burocrata stalinista"? Qualquer
um que não siga a teoria derrotista e reacionária da 'revolução permanente' é
um 'burocrata stalinista', no que diz respeito a esses degenerados, os trotskistas.

Ao chamarem Ho Chi Minh de burocrata e lançarem injúrias à FLN, os


trotskistas são capazes de apresentar à classe trabalhadora, aqui, a luta do povo
vietnamita como uma luta reacionária que, portanto, não vale a pena apoiar. O
resultado é que o movimento de solidariedade é subvertido e o proletariado britânico
continua a acreditar nas mentiras expressas sobre essa questão pelo governo
imperialista britânico e pela imprensa imperialista. Estes retratam o povo vietnamita
em luta como assassinos sedentos de sangue que têm empreendido agressões contra

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 48


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

os EUA por anos, e os EUA como empreendendo apenas uma guerra defensiva! É fácil
para o proletariado britânico acreditar nestas mentiras por duas razões:

(a) porque vive em um país imperialista e

(b) porque há 'comunistas' tais como os trotskistas, que dão eco às mentiras do
imperialismo.

Está claro então que os trotskistas são o principal impedimento ao proletariado


britânico cumprir com seus deveres internacionais. O proletariado europeu, inclusive
o britânico, nunca será capaz de fazer uma revolução a menos e até que se torne
completamente imbuído do espírito do internacionalismo proletário, até que ligue
sua própria luta com a luta dos povos oprimidos e proletários pela libertação
nacional e revolução proletária e forneça a mais profunda assistência fraterna a tais
lutas. Não se pode insistir nesta verdade com excessiva freqüência. E aquele que obste
o proletariado britânico a cumprir seu dever está adiando o dia da revolução aqui e é
um contra-revolucionário. Os trotskistas são precisamente tais contra-revolucionários.
Não há como insistir nesta verdade muito freqüentemente.

O que se aplica à luta do povo vietnamita também se aplica, por extensão


lógica, às lutas dos povos oprimidos em todas as partes, e os trotskistas fazem aí o seu
mesmo trabalho desprezível. Para demonstrar a profundidade desta total degeneração
a que chegaram os trotskistas, gostaríamos de citar recente folheto lançado por uma
das organizações trotskistas, o Solidariedade. Quando se lê esta passagem, não se
pode senão ter sentimentos de repulsa por estes trotskistas. Estejam precavidos,
camaradas. De acordo com este panfleto, a guerra do Vietnã não é uma guerra
imperialista de agressão infligida pelo imperialismo dos USA contra o povo vietnamita
amante da paz, mas "um conflito interimperialista". Portanto, exortam os degenerados
autores trotskistas deste panfleto, a "esquerda bolchevique"não deveria tomar partido.
Eles, então, seguem denunciando aqueles que apresentam a guerra como um "esforço
unilateral, um produto do bicho-papão norte-americano". A seguir, o panfleto
denuncia a teoria marxista-leninista da revolução por estágios: "a experiência do
Vietnã... mostra o deplorável enfoque stalinista baseado em dois estágios". Passa
então a difundir a calúnia maliciosa de que, em 1945, "operários sem conta foram
assassinados pelo sanguinário Ho Chi Minh..."

De acordo com os escritores trotskistas deste panfleto "a vitória de qualquer


lado (na guerra do Vietnã) é prejudicial á luta pelo socialismo mundial". Para encobrir
sua deslealdade odiosa, os agentes trotskistas da burguesia terminam seu panfleto
clamando pelo "estabelecimento de um autogoverno de amplitude mundial". Para
familiarizá-los com o trotskismo real, o trotskismo em forma contra-revolucionária sem
disfarces, propomos citar este folheto na íntegra. Não temos dúvidas, camaradas, de
que, quando vocês se informarem do conteúdo deste panfleto, entenderão
completamente nossa posição e concordarão conosco quando dizemos que o
trotskismo é contra-revolucionário e constitui um apoio confiável para o imperialismo.
Eis, então, o que diz este panfleto:

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 49


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

"VIETNÃ — Vitória para quem?

A recente escalada da guerra do Vietnã ilustra plenamente as realidades de


nossa época; a política das grandes potências contra o povo operário. A ofensiva de
nove semanas atrás da DRVN/FLN, lançada com maciça ajuda russa e chinesa contra o
regime de Saigon, alterou o quadro no Sudeste da Ásia. A guerra é um conflito
interimperialista, cuja solução política está sendo decidida em Moscou, Washington,
Pequim e Paris, em detrimento das massas no Vietnã, Camboja, Laos e Estados Unidos.
Incapaz de ver isto, a esquerda bolchevique na Inglaterra nos conclama a tomar
partido neste conflito bárbaro.

"A guerra é apresentada por eles como um esforço imperialista unilateral. um


produto do bicho-papão norte-americano. O lado DRVN/FLN é pintado com cores
incandescentes: '... uma vitória vietnamita no sul seria um grande auxílio à revolução
socialista em outras partes do mundo'. (Red Mole, 15 de maio de 1972).

A IS, ansiosa para recrutar na base do oportunismo, grita: 'Vitória para a FLN! Derrota
ao bloqueio de Nixon!' (Socialist Worker, 3 de junho de 1972). Outros, como o PC,
clamam pela 'paz' e implementação do Acordo de Genebra de 1954. A premissa é que o
povo operário não deveria dirigir suas próprias vidas e que as burocracias políticas
deveriam negociar em seu nome. Outra premissa é que a luta pelo socialismo no Vietnã
está fora de questão 'agora'. Os bolcheviques mais degenerados superam este
problema identificando 'libertação nacional' com 'socialismo'. Em qualquer caso, uma
falsificação monstruosa. Esses enfoques são exemplificados pelas seguintes
pérolas: '...quando a questão do poder americano estiver resolvida, sabemos que tipo
de regime e de políticas a FLN escolherá - e será forçada a escolher pela lógica de sua
situação. Porém, isto é, no momento, outra luta, a luta real pelo socialismo' (IS 32,
Neither Washington neither Moscow-But Vietnam?).

"A experiência do Vietnã (como na Espanha de 1936) mostra o deplorável


enfoque stalinista baseado nos 'dois estágios' (ambos dirigidos, por certo, pelo
'Partido'). Será necessário lembrar a comuna de Saigon de 1945, quando operários
vietnamitas foram assassinados pelo sanguinário Ho Chi Minh em conluio com o
imperialismo francês e britânico? Ali houve uma insurreição socialista incipiente,
sufocada pelos próprios gangsters que a esquerda bolchevique apóia tão histerica-
mente. O esmagamento da resistência camponesa à coletivização na província de Ngh
Na por Hanói, em 1956, é também convenientemente esquecido. Os adolescentes
camponeses recrutados que estão perecendo justamente agora em Hue, Kontum e Na
Loc testemunharam a insensibilidade da nova ofensiva do regime de Hanói; a fuga da
população e a falta óbvia de apoio civil fornecem prova adicional de que a população
nada tem a ganhar com a vitória de qualquer lado.

O que significam todas as mistificações bolcheviques? Elas simplesmente


ocultam a essência do conflito: ambos os lados na guerra do Vietnã
representam os interesses imperialistas. Embora o regime de Hanói tenha uma
dependência ideológica e militar da Rússia e China diferente daquela de Thieu para
com o regime dos EUA, a vitória de qualquer lado será em detrimento da luta pelo

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 50


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

socialismo mundial. A vitória da FLN e de Hanói fortalecerá os imperialismos russo e


chinês contra o imperialismo dos EUA. Um 'acordo negociado' simplesmente estenderá
a guerra por mais uma geração. Deixamos aos patriotas sociais do capitalismo de
Estado escolherem o imperialismo de seu gosto. Assim como advogam 'Vitória ao IRA'
na Inglaterra, eles advogam soluções reacionárias similares em outras partes do
mundo. Seu raciocínio é de que tais 'vitórias' enfraquecem o imperialismo ocidental,
porém os 50 anos passados de lutas de libertação nacional desmentem tais afirmações.
Vitórias obtidas com base em nacionalismo ou raça não têm ligação com o socialismo e
de fato fortalecem as ideologias burguesas e autoritárias, que desmoralizam mais o
povo operário.

Acreditamos que o principal inimigo está em casa. Somos a favor de uma


campanha efetiva contra a colaboração do governo britânico com o imperialismo
norte-americano no Vietnã. Isto não significa, entretanto, apoio ã FLN. Em lugar disto,
que tal uma manifestação contra a Embaixada da Rússia no bairro chique?

Finalmente, a única solução para este bárbaro conflito é una solução socialista:
contra o imperialismo americano, contra a FLN e os burocratas de Hanói, pela
confraternização das tropas estadunidenses e vietnamitas, pela derrota de ambos os
lados em seus países de origem, pela irrupção de uma guerra civil de classe contra
classe na retaguarda imperialista - isto é, pelo estabelecimento de um autogoverno de
amplitude mundial".

Este panfleto fala por si, e nenhum comentário é necessário sobre esta peça
revoltante do trotskismo contra-revolucionário - ele corrobora tudo que já foi dito2. Há
dois pontos, contudo, que gostaria de mencionar a título de esclarecimento, a fim de
desembaraçar a trama de confusão traçada por este panfleto.

(1) Os trotskistas do Solidariedade, os autores do panfleto acima, descrevem


outras organizações trotskistas degeneradas e contra-revolucionárias tais como o
Grupo Marxista Internacional (IMG), que são os editores do Red Mole e a Internacional
Socialista (IS), que produz o Socialist Worker como a 'esquerda bolchevique'. Esta é
uma tentativa de fazer passar as organizações burguesas trotskistas por organizações
do tipo bolchevique e confundir o trotskismo contra-revolucionário com o bolchevismo
revolucionário - o leninismo. A verdade é que as várias organizações trotskistas, em
seu conjunto, constituem não a esquerda bolchevique, mas a direita menchevique.

(2) Os autores deste panfleto produzem algumas citações do Red Mole e


do Socialist Worker. no esforço de mostrarem que o IMG e a IS apoiam a luta do povo
vietnamita contra a agressão imperialista dos EUA e pela libertação nacional. Isto não
é verdade. O IMG e a IS não apoiam a luta do povo vietnamita pela libertação nacional.
Como dito antes, eles têm por anos denunciado a FLN e acumulado ofensas contra o
grande dirigente do povo vietnamita, o camarada Ho Chi Minh. Gente como Tariq Ali,
do IMG, e escórias semelhantes da IS, da Liga Trabalhista Socialista etc., têm muitas
vezes condenado o Camarada Ho Chi Minh como um 'burocrata stalimsta'. Eles
racharam a grande manifestação de 27 de outubro de 1968 sobre o Vietnã, contra a
agressão imperialista dos EUA e se recusaram a marchar até a Embaixada dos Estados

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 51


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Unidos. Em lugar disso, reuniram 50.000 pessoas em um piquenique diversionista no


Hyde Rark Comer. Recusaram-se a aceitar os três slogans da Marcha, isto é,
AGRESSORES DOS EUA FORA DO VIETNÃ AGORA!' 'VITÓRIA À FLN!' e 'LONGA VIDA A
HO CHI MINH!'. Tariq Ali fez objeções aos segundo e terceiro slogans sob o argumento
de que o programa da NLF era burguês e que Ho Chi Minh era um burocrata stalinista.
Dissemos-lhe que, se era isso que ele achava, então que ele conduzisse um cartaz com
slogans desta natureza. Ele não teve coragem, é desnecessário dizer. Tivesse ele
conduzido tal cartaz, as milhares de pessoas reunidas na demonstração tê-lo-iam
linchado. Em lugar disso, sob a pressão dos manifestantes, e em frente às câmeras de
TV, Tariq Ali deu-nos um exemplo de sua hipocrisia, gritando slogans como 'Vitoria à
FLN' e 'Longa Vida a Ho Chi Minh'. Tudo isso feito para iludir as massas e ser capaz de
subverter o movimento de solidariedade.

É inconcebível que esses mesmos trotskistas subitamente tivessem mudado


sua linha. Se tinham mudado, então, deveriam dizê-lo. Se genuinamente mudassem de
linha, então deixariam de ser trotskistas.

Na verdade, entretanto, eles não tinham mudado em nada de linha. A IS 'apóia'


a FLN, como a citação no panfleto da IS 32 mostra, porque ela pensa que a FLN está
engajada em estabelecer o socialismo sem estágios. Este não é realmente um apoio
para a FLN, mas uma tentativa desesperada de explicar sua própria conduta no
passado e salvar a teoria da 'revolução permanente' do naufrágio final. Anos de luta
provaram a correção absoluta do programa da FLN e a bancarrota total da linha dos
trotskistas. Em lugar de agora admitir a bancarrota do trotskismo e alijá-lo, a
bancarrota de sua própria linha por vários anos, os trotskistas da IS preferem distorcer
a linha e o programa da FLN. Os próprios autores deste panfleto são capazes de
perceber esta distorção e por isso descrevem-nos como "bolcheviques degenerados!",
isto é, trotskistas degenerados. O socialismo será estabelecido no Vietnã do Sul
somente após o povo vietnamita ter ultrapassado o estágio da libertação nacional e
completado as tarefas democráticas da revolução vietnamita. Esta é a simples
verdade, senhores trotskistas, que vocês nunca entenderam, nem entenderão no
futuro, a menos que desistam de se ajoelhar em oração diante da 'absurdamente
esquerdista teoria da revolução permanente'.

Do mesmo modo, o IMG não apóia a VLF também. Ambos, a IS e o IMG,


"apoiam" a FLN não pelo que ela sustenta agora atualmente, mas pelo que eles
pensam que ela sustenta, e as duas situações são muito diferentes. Ultimamente eles
tem publicado material que dá a impressão de que os trotskistas começaram a "apoiar'
a FLN porque esta corrigiu sua posição inicial e adotou a linha trotskista. Nada pode
estar mais longe da verdade do que esta absurda sugestão. Qual é, então, a razão para
o 'apoio' aparente que os trotskistas do IMG e da IS estariam dando ultimamente à
FLN? A razão é que a FLN está à beira da vitória: por perseguir seu programa correto,
ela tem derrotado os agressores imperialistas dos EUA. Por isso, os trotskistas
apressam-se a se associar com a iminente vitória total do povo vietnamita. Apressam-
se a apresentar a vitória do povo vietnamita, vitória que eles fizeram tudo que podiam
para sabotar, como sua própria - como o resultado de suas ações de 'solidariedade'.

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 52


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

Mais do que isso, a virada na linha trotskista sobre o Vietnã coincidiu com a
viagem de Nixon à China. Os trotskistas tinham espalhado propaganda no sentido de
que os chineses estavam se encontrando com Nixon para 'tratar' da questão do Vietnã,
sem consulta ao povo vietnamita. Esta era parte integral de sua propaganda diária
contra este bastião do socialismo. A verdade é que o governo, o Partido e o povo
chinês tinham demonstrado na pratica que eram os mais confiáveis aliados do povo
vietnamita e que nunca fariam um 'negócio' com o imperialismo dos EUA à custa do
povo vietnamita. Nixon foi à China em reconhecimento da posição enfraquecida do
imperialismo dos EUA. O imperialismo dos EUA não poderia por muito tempo recusar-
se a reconhecer a realidade da existência da China. Nixon pode ter esperado todo tipo
de "negócios' (todos os reacionários fazem isso) porém certamente não conseguiria
um na China. Os trotskistas, no intuito de difamar a China e difundir calúnias
maliciosas, começaram a gritar que "os burocratas chineses estão traindo a luta do
povo vietnamita". A fim de tornar convincente esta calúnia maliciosa, os trotskistas
contra-revolucionários tinham de dar a impressão de que apoiavam a FLN. Esta, então,
é a explicação. A verdade é que foram os burocratas trotskistas que o tempo todo
fizeram o melhor que podiam para solapar a luta do povo vietnamita. Os camaradas
chineses, por outro lado, tinham dado apoio total, tanto material quanto político, ao
povo vietnamita.

Em adição às razões dadas acima, também devemos rejeitar o trotskismo


porque, de acordo com o trotskismo, uma vitória do socialismo não é possível em um
só país, mesmo que este pais seja o mais avançado capitalisticamente, pois "seria sem
esperanças ... pensar que uma Rússia revolucionária, por exemplo, poderia manter-se
diante de uma Europa conservadora, ou que uma Alemanha socialista poderia
permanecer isolada em um mundo capitalista" (Trotsky).

Em outras palavras, se o proletariado britânico fosse vitorioso em derrubar o


capitalismo e estabelecer a ditadura do proletariado, tudo estaria perdido, a menos
que a vitória do proletariado britânico fosse seguida pela vitória do proletariado em
outros 'países europeus importantes' e talvez nos EUA também. O que o trotskismo
busca, portanto, é uma vitória mundial simultânea do socialismo. Isto é impossível -
um mero sonho. A revolução proletária não pode ter lugar em todo o mundo de uma
só vez; será bem sucedida, diz o leninismo, primeiro em um ou uns poucos países e
depois em outros e eventualmente em todos os países do mundo. De fato, podemos
dizer "à luz da experiência histórica e à luz do raciocínio teórico" que a revolução
mundial não terá lugar simultaneamente. Desde que o curso da revolução não se
desenvolve de acordo com os esquemas preconcebidos do trotskismo, este, em lugar
de admitir sua bancarrota, está advogando que nenhuma revolução deva ser
defendida - que nenhum socialismo deveria ser construído em países individualmente.

E se os revolucionários não aceitam este conselho deles, então, eles são


'traidores e burocratas stalinistas' que estão 'traindo a revolução'. Tal é a natureza
reacionária do trotskismo.

Em suma, camaradas, devemos denunciar e nos opor ao trotskismo, como uma


ideologia burguesa que é contrária à construção do socialismo e da libertação nacional

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 53


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

- uma ideologia que constitui um apoio extremamente confiável ao imperialismo.


Devemos orientar-nos para a consciência de classe do proletariado e ajudá-lo a
educar-se no espírito da intolerância com a ideologia burguesa do trotskismo. É nossa
tarefa enterrar esta ideologia. Se a atual série de palestras contribuir para isto, que é
seu principal objetivo, nós, na Associação dos Trabalhadores Comunistas,
consideraremos uma honra termos desempenhado algum papel.

Notas

1. "É muito nocivo confundir os dois estágios, isto é, as revoluções nacional-


democrática e socialista. O Camarada Mao Tsé-tung criticou a idéia errada de
cumprir ambas de um só golpe e observou que esta idéia utópica pode somente
enfraquecer a luta contra o imperialismo e seus lacaios, a tarefa mais urgente nesta
época. Os reacionários do Kuomintang e os trotskistas tentaram, durante a Guerra
de Resistência, deliberadamente, confundir esses dois estágios da revolução chinesa,
proclamando a "teoria de uma revolução única' e apregoando o 'socialismo' assim
chamado, sem qualquer Partido Comunista. Com esta teoria absurda, eles tentaram
engolir o Partido Comunista, eliminando qualquer revolução e evitando o avanço da
revolução nacional-democrátíca, e usaram isso como pretexto para sua não-
resistência e capitulação ao imperialismo. A teoria reacionária foi varrida há longo
tempo pela história da revolução chinesa" (Lin Piao, Long Live the Victorv of People's
War).

2. Em seu número 557, o documento trotskista pouco conhecido Socialist


Organizer veiculou com alegria maliciosa a seguinte peça revoltante a propósito de
Chris Hani, um dos maiores de todos os lutadores pela libertação do povo negro da
África do Sul, por ocasião de seu assassinato pelas mãos do fascismo da África do Sul:

"Um lutador, porém um stalinista

Chris Hani foi um lutador. Ele nasceu na pobreza no Transkel rural. Sua mãe era
analfabeta e seu pai, um mineiro que trabalhava a centenas de milhas de distância,
no

Transvaal. Ele dedicou sua vida à derrubada do regime racista branco na África do
Sul, e por esta dedicação ele foi assassinado.

Porém, Hani não foi apenas um lutador. Ele foi também um stalinista perverso.

Em 1984, Hani tornou-se comissário político e comandante do braço armado da


ANC, Um khonto we Sizwe. Aquele foi o ano dos motins nos campos angolanos da
ANC. A juventude da 'geração Soweto', que se tornou radical na revolta de 1976,
rebelou-se quando foi rejeitada sua reivindicação de voltar à África do Sul para lutar.

Hani foi responsável pela supressão dos motins e pelo encarceramento dos
guerrilheiros dissidentes da ANC no notório campo de prisão Quatro em Angola, que

Comunidade Josef Stálin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Página 54


Trotskismo x Leninismo - Lições Da história – Parte I

era dirigida por pessoal treinado pela KGB e pela rancorosa polícia secreta da
Alemanha Oriental, a Stasi.

O fato de que a imprensa liberal está agora cheia de elogios a este 'homem
supremamente honesto' mostra quão profundamente verdadeiro é o velho ditado
de que 'quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas'.

Nos anos 30, as câmaras de tortura da URSS, seu Gulag e o governo de mentiras
de Stalin foram defendidas e justificadas pelos liberais e stalinistas como 'mal
menor'. Assim, hoje os liberais, os stalinistas e os terceiro-mundistas parecem estar
preparados para esquecer que, se Hani tivesse subido ao poder, teria sido como uma
peça da máquina do Estado impondo uma tirania de ferro sobre a classe operária.

Mesmo após 1989 é ainda possível ser ambas as coisas, um lutador contra o
capitalismo e um inimigo do socialismo da classe operária. Chris Hani o provou."

Envie-nos sua opinião sobre esse debate


Na próxima edição voltam a lição regular da cartilha
de Marxismo e o Capital em quadrinhos
Lembre-se: em Cascavel,
nós somos a Revolução!

Veja no blog do PCB de


Cascavel: somos pela arte!

Imagens da peça
“Sombras do Passado”, exibida
no aniversário de 89 anos do PCB
http://pcbcascavel.wordpress.com

Cidade, emprego, ambiente, juventude:


por um programa revolucionário
Nenhum direito a menos,
só direitos a mais
Ajude um desempregado: reduza a
jornada de trabalho para 40 horas

Este espaço está sempre aberto para artigos


e manifestações da comunidade Na semana que vem voltaremos
com novo capítulo da cartilha
Jovem: acompanhe o blog da de Marxismo e mais uma
Juventude Comunista de Cascavel: página colecionável de O Capital
http://ujccascavel.blogspot.com em quadrinhos
Twitter:
PCB do Paraná: http://twitter.com/pcbparana
Juventude Comunista de Cascavel: http://twitter.com/#!/j_comunista
ORKUT:
PCB de Cascavel
http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=15747947519423185415
Comunidade:
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=54058996

Você também pode gostar