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Análise a respeito do Rodoanel

Evaristo Almeida – coordenador do Setorial de Transportes e Mobilidade


Urbana do PT-SP

O Rodoanel é muito importante do ponto de vista da logística para o


Brasil, pois a obra vai tirar a carga de passagem da cidade de São Paulo.
No caso do trecho norte também absorverá parte do trânsito da Marginal
Tietê, o que o configurará como um trecho quase urbano.

É uma rodovia anelar ao redor de São Paulo, que ligará as dez principais
rodovias que cortam o Estado, com 176 quilômetros de extensão. Foi
dividido em 4 trechos, oeste, sul, leste e norte. O trecho norte teve início
em 1998 e estava previsto para terminar no ano 2000, mas só foi
inaugurado em 2002. O trecho sul, teve início de “mentirinha” em 2006,
mas de fato em 2007 e foi inaugurado inacabado em 2010. Ainda hoje há
obras por fazer. O leste será construído pela empresa que ganhou a
concessão dos trechos sul e leste, o consórcio SPMAR, do grupo Bertin,
com prazo de 36 meses para entregar as obras. O norte será construído
pelo Estado, sendo que o governo está prometendo terminá-lo em 2014.

O governo federal custeou R$ 1,2 bilhão do trecho sul e vai aportar R$ 1,5
bilhão do norte. Assim os governos Lula e Dilma terão desembolsado R$
2,7 bilhões para o Rodoanel e ajudado a construir 105 quilômetros.

Na construção dos dois trechos iniciais do Rodoanel, pelo governo


estadual, houve vários eventos que vão contra a boa gestão. O Tribunal
de Contas da União fez dois relatórios do trecho sul e um do oeste em que
relatam irregularidades, como superfaturamento, projeto básico
incompleto, pagamento por obras não realizadas, mudança de método
construtivo, antecipação de pagamentos, entre outros.

Obras que constavam no trecho oeste, como a instalação das barreiras


sonoras, somente agora estão sendo instaladas, por força da justiça e no
bairro rico de Tamboré, enquanto na Vila Imperial, o povo continuará
tendo de conviver com o barulho. No trecho sul durante a construção
houve aterramento da represa Billings, matança de animais, utilização de
material inadequado, queda de vigas sobre a Rodovia Régis Bittencourt. A
obra está inacabada, faltando guard rail, passarela incompleta, e apesar
de recente, o pavimento já está tendo de ser reparado. Também há falta
de segurança com a inexistência de telefones, falta de iluminação e de
policiamento, conforme matérias da imprensa.

O trecho leste a ser construído pela empresa privada passará por áreas de
mananciais e agrícolas, passando pelas cidades de Ribeirão Pires, Mauá,
Suzano, Poá, Itaquaquecetuba e Arujá. Deverá desapropriar 1.071 imóveis.

O trecho norte é o mais emblemático a ser construído. Ele cortará a Serra


da Cantareira, passando por três municípios, Arujá, Guarulhos e São Paulo.
O projeto inicial previa que o Rodoanel passaria ao norte da Cantareira.
Houve resistência por receio da rodovia incentivar a ocupação dessa área
de proteção ambiental. O traçado apresentado pelo governo traz o
traçado mais ao sul da Cantareira, pegando uma região povoada e
causando impactos ambientais no entorno. Ele passa por áreas de
mananciais que são importantes para a cidade.
Em São Paulo a desapropriação estimada pelo governo é de 1.844 imóveis,
em Guarulhos 937 e 3 em Arujá.

Principais impactos do Rodoanel trecho norte:

a) Desapropriações que quebra laços sociais e afetivos na área onde as


pessoas moram;
b) Aumento da poluição sonora e ambiental para os moradores que
nãos serão desalojados;
c) Ocupação de 98 hectares de área para a obra. Com 44 quilômetros
de extensão com mais de 40 metros de largura ,que serão
impermeabilizados, piorando os efeitos das enchentes em São
Paulo. A estimativa é de 1.760.000 metros quadrados de área
concretada, o equivalente a 213 estádios de futebol;
d) Aumento da poluição próxima à Serra da Cantareira, que trará
efeitos ainda não mensurados sobre a fauna e flora local;
e) Aumento do tráfego local, pois a Avenida Raimundo Pereira
Magalhães e a Avenida Inajar de Souza já se encontram saturadas
de veículos e o viário local ficará sobrecarregado;
f) Aterramento de fontes d’água;
g) Segregação da população de áreas habitadas que serão cortadas
pela rodovia.

Algumas sugestões, entre outras, para mitigar os efeitos do Rodoanel

a) O governo do Estado formar uma Comissão com moradores,


parlamentares e representantes do Estado, para uma negociação a
respeito da obra;
b) Repensar o traçado, priorizando túneis e viadutos para minimizar os
impactos sociais e ambientais, como foi feito na Rodovia Imigrantes,
minimizando a utilização do método de corte e aterro que tem
impacto maior ambiental e social;
c) O governo estadual apresentar um plano de realocação da
população atingida, onde conste quantas moradias serão
construídas, local e data de mudança, para que não ocorra o mesmo
da Jacu Pêssego em que a população se viu ameaçada de despejo,
perante pagamento de uma quantia irrisória,
d) Remuneração de forma correta os imóveis, para quem quiser
comprar em outro local;
e) Apresentação de um estudo mais detalhado do efeito da poluição
na Serra da Cantareira;
f) Apresentação de um plano do entorno local, pois a Avenida
Raimundo Pereira Magalhães que se encontra em péssima condição
e a Inajar de Souza, ficarão mais saturadas do que são com o
trânsito desviado da Marginal Tietê para essas vias locais. É preciso
readequá-las assim como a Avenida Elísio Teixeira Leite, a Avenida
Deputado Cantídio Sampaio, a Avenida Imirim, a Itaberaba e a
Engenheiro Caetano Álvares, para absorver o aumento do trânsito
gerado pelo Rodoanel;
g) Compensação social, com construção de praças, parque, áreas de
lazer e readequação urbanística do entorno da obra;
h) Plantio dos 500 hectares concomitantemente à construção da
rodovia, na zona norte, em Guarulhos e Arujá,
i) Apresentação de um plano do governo estadual para utilização do
transporte ferroviário e hidroviário de cargas no Estado, visto que
93% do transporte estadual é rodoviário; para não ser preciso a
construção de mais rodoaneis, como em Chicago, que tem cinco e
todos congestionados;

Finalizando

Não somos contra o Rodoanel, entendemos a importância da obra, dado o


alto grau de dependência rodoviária no Estado. Queremos que este seja
o último anel viário a circundar São Paulo, sendo que para isso é preciso
repensar a matriz de transporte no Estado e no país.

O governo estadual pode começar com a construção do ferroanel, que


tirará os trens de carga da região metropolitana, aumentando a utilização
desse modal; potencializando a hidrovia Tietê-Paraná para transportar 20
milhões de toneladas anual, que é sua capacidade instalada, ao invés das 5
milhões que são transportadas atualmente. Efetivar um plano ferroviário
estadual através da criação da DF, Diretoria Ferroviária, na Secretaria de
Logística e Transportes, para construção de novas ferrovias e melhor
utilização das que cortam o Estado.

Recomendamos ao governo federal solicitar contrapartidas sociais e


ambientais na construção do Rodoanel trecho norte, face ao aporte de
recursos que estará realizando e os impactos advindos da obra; para que a
população a ser assentada o seja de forma digna e adequada. O DNIT
fiscalizar a obra, para que no processo de construção não ocorra
irregularidades como as relatadas pelo TCU e quando inaugurada esteja
de fato terminada.

O Brasil passou toda a década de 1980 atolado na crise da dívida externa e


na de 1990, preso na mentalidade fiscal da teologia fundamentalista
neoliberal. Somente com o governo Lula é que as amarras foram desfeitas
e o país voltou a construir grandes obras. O Estado de São Paulo está
sendo beneficiado com o investimento do orçamento da União no caso do
Rodoanel e financiamento do BNDES, Caixa Econômica e bancos
multilaterais internacionais de fomento, como o BID, JBIC e BIRD, no caso
do Metrô e da CPTM.

Deveremos sugerir que na avaliação dos impactos não se restrinja apenas


ao ambiental, mas também ao social, o EIA-RIMAS (com S no final de
social), que dê diretrizes á população que será atingida, com
planejamento de realocação e readequação local, reduzindo os efeitos
para as famílias que sairão das áreas diretamente afetadas e para as que
continuarão morando no local após as obras.

O Partido dos Trabalhadores segue junto com a sociedade para que os


impactos do Rodoanel sejam reduzidos e a população contemplada em
suas reivindicações.

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