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Enredo
Por sofrer uma enorme privação desenvolvimentista durante maior parte de sua vida,
quando chega a Nuremberg, Kaspar retribui os olhares curiosos dos moradores da região sua
própria feição de espanto e estranheza diante daquilo que não estava habituado a ver, escutar,
sentir e perceber.
Ignorado esse lado que fazia Kaspar desconhecer as coisas ou ter novas lógicas sobre elas,
uma das tentativas de fazer de Kaspar um ser civilizado foi através da linguagem. As tentativas
de ensinar Kaspar a falar pareciam ter sucesso ao passo que ele conseguia repetir e fazer novas
construções frasais.
Entretanto, o que se percebe, durante o filme, é que Kaspar não conseguia desenvolver
totalmente novas questões somente através da linguagem e da comunicação porque sua
concepção das coisas não amadurecia com a mesma velocidade que aprendia novas palavras e
conceitos.
Era exigida de Kaspar uma representação que sua natureza desconhecia. Aprendia
palavras, mas nem sempre aprendia o que elas significavam, sua construção de signo lingüístico
permanecia, muitas vezes, incompleta, já que sabia a parte acústica, mas não era capaz de
identificar totalmente o conceito.
Da mesma forma, via coisas que nem sempre entendia como eram feitas. Não tinha, por
exemplo, noção de distância, de altura, de espaço, e isso o deixava confuso.
A explicação deste fato dá-se em FERREIRA (2007) quando diz que “o ato próprio de
conhecer é uma síntese vivida pelo ser humano entre a percepção do objeto de conhecimento e o
conceito que é criado sobre esse objeto. É a construção da representação, que se torna, nesse ato,
uma fusão vivenciada, fruto de uma tensão dialética que ocorre entre percepção e conceito”
(p.18).
Kaspar Hauser não compreendia as concepções que a sociedade esperava dele porque lhe
faltavam os processos sociais de aprendizagem necessários para que fosse possível apreender
certas noções, como as abstratas e as culturais, por exemplo.
Através do filme de Kaspar Hauser, foi possível notar claramente que a linguagem
despida das práticas sociais não se revela de maneira completa e totalmente funcional. Não basta
adquirir linguagem se não existir nenhuma relação dela com a sociedade lingüística que se está
inserido. A linguagem perde parcela de função quando não está em contato com as
representações necessárias para a compreensão e a construção do conhecimento.
Referência Bibliográfica
GEERTZ, Clifford: A interpretação das culturas, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989
FERREIRA, Delson. Manual de sociologia. dos clássicos à sociedade da informação . 2. ed. São