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CARLOS ANDRÉ DE SOUZA REIS

PÓS-PARTO:
Fisiologia e Complicações

Tucuruí
2008
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
NÚCLEO DE TUCURUÍ – CAMPUS XIII
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
TURMA: 2005
CARLOS ANDRÉ DE SOUZA REIS

PÓS-PARTO:
Fisiologia e Complicações

Trabalho apresentado à disciplina


Prática Supervisionada em Obste-
trícia, como requisito de avaliação
orientado pela professora enfª.
Jacineidy Sousa.

Tucuruí
2008
CARLOS ANDRÉ DE SOUZA REIS

PÓS-PARTO:
Fisiologia e Complicações

Avaliado por:
__________________________________
Prof. Enfermeira Jacineidy Sousa

Data: ____/____/____

Tucuruí – PA
2008
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 5

FISIOLOGIA DO PERÍODO PÓS-PARTO 6

CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 6
PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES NO ORGANISMO MATERNO 7
SISTEMA REPRODUTOR 8
SISTEMA ENDÓCRINO 16
SISTEMA RESPIRATÓRIO 18
SISTEMA CARDIOVASCULAR 18
SISTEMA HEMATOLÓGICO 20
SISTEMA URINÁRIO 21
SISTEMA GASTRINTESTINAL 22
SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO 23
SISTEMA T EGUMENTAR 24
OUTROS SISTEMAS 25
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO IMEDIATO 27
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO MEDIATO 28

COMPLICAÇÕES DO PERÍODO PÓS-PARTO 30

HEMORRAGIA PÓS-PARTO 30
CONCEITO 30
CLASSIFICAÇÃO 31
FATORES PREDISPONENTES 31
INCIDÊNCIA 32
ETIOLOGIA 32
T RATAMENTO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM 33
INFECÇÃO PUERPERAL 36
CONCEITO 36
CLASSIFICAÇÃO E ETIOLOGIA 36
FATORES DE RISCO 38
INCIDÊNCIA 39
T RATAMENTO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM 39
MASTITE 42
CONCEITO 42
CLASSIFICAÇÃO 43
FATORES PREDISPONENTES 43
ETIOLOGIA E INCIDÊNCIA 43
T RATAMENTO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM 44
LESÃO NO CANAL DE PARTO 45
CONCEITO 45
CLASSIFICAÇÃO E ETIOLOGIA 45
FATORES DE RISCO PARA LESÕES NO CANAL DE PARTO 46
T RATAMENTO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM 47

CONCLUSÃO 49

REFERÊNCIAS 50
5

APRESENTAÇÃO

O ciclo gravídico-puerperal apresenta três fases distintas: a fase evolutiva que


corresponde à gestação, a fase resolutiva representada pelo parto e a fase involutiva
relacionada ao puerpério, que será o objeto de estudo deste trabalho acadêmico.
Dessa forma, serão abordados aqui os aspectos fisiológicos das modificações que
ocorrem nos principais sistemas do organismo materno após o parto.
Igualmente, pela sua relevância, trataremos também de algumas complica-
ções desse período, entre elas a mastite, a hemorragia e infecção puerperais e ain-
da as lesões no canal de parto.
Ao longo dos capítulos serão relatados, de forma contextualizada, o segui-
mento do processo de enfermagem, sobretudo nas complicações no puerpério.
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FISIOLOGIA DO PERÍODO PÓS-PARTO

CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
O puerpério é definido como o período do ciclo grávido-puerperal em que as
modificações locais e sistêmicas, provocadas pela gravidez e parto no organismo da
mulher, retornam à situação do estado pré-gravídico (BRASIL, 2001).
Apesar de ser oficialmente definido como um intervalo de seis semanas, o
puerpério vai desde o nascimento do bebê até a normalização de todas as funções
fisiológicas maternas. Dessa forma, é um período de duração variável, sobretudo em
mulheres que ainda estão amamentando ao seio.
Segundo Silva (2007), o puerpério é classificado em:
Puerpério Imediato – inicia-se logo após a dequitação e estende-se até a 2ª
hora após o parto. Também chamado de 4º período do parto ou período de Green-
berg.
Puerpério Mediato – vai desde a 2ª hora até o 10º dia após o parto. Esse pe-
ríodo é marcado pela regressão das modificações nos órgãos genitais.
Puerpério Tardio – inicia-se no 11º dia e estende-se até 42º dia pós-parto.
Seu fim pode também ser marcado pelo reinício dos ciclos menstruais em mulheres
que não amamentam. Para as mulheres que amamentam, esse período pode variar
de 6 a 8 semanas.
O enfermeiro deve estar atento sobretudo no puerpério imediato, visto que é
um período de real risco materno, com possibilidade de grandes hemorragias, prin-
cipalmente por atonia uterina. Expulsa a placenta, por ação da gravidade ou por leve
expressão/compressão do fundo uterino, assegura-se a hemostasia pela retração
uterina persistente (globo de segurança de Pinard), que promove oclusão dos vasos
na porção muscular, constituindo as ligaduras vivas de Pinard. Concomitantemente,
ocorre o tamponamento trombótico dos vasos útero-placentários.
Na eventualidade de sangramento vaginal anormal, a observação será redo-
brada, controlando-se a retração uterina, a perda sangüínea e o estado geral. Os
sinais vitais, especialmente pressão arterial e pulso, devem ser mensurados a cada
15 minutos. Da mesma forma, deverá ser feito controle praticamente contínuo da
retração uterina e do sangramento. A não observância a estas medidas coloca a pu-
érpera em sério risco. O diagnóstico precoce das alterações é fator preponderante
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para o sucesso terapêutico. A sensação de que o parto acabou após o nascimento


da criança e o delivramento placentário é perigosa e inadequada.
É necessário enfatizar que este curto período em que a mulher permanecerá
sob vigilância na unidade onde o parto ocorreu, constitui ótima oportunidade para
um cuidado individualizado dos profissionais de saúde no tocante às orientações
sobre o período puerperal, cuidados, amamentação precoce, contato com o recém-
nascido e outros assuntos correlatos, desde que a mulher esteja em boas condi-
ções. As salas de pré-parto, parto e puerpério imediato (PPP) são ideais para o con-
trole da mulher durante este período.

PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES NO ORGANISMO MATERNO


Ao longo do período gestacional, ocorrem alterações gradativas em todos os
sistemas do organismo feminino, sendo as mais marcantes aquelas que envolvem o
sistema reprodutor e os processos hormonais que regulam suas funções.
A regressão dessas transformações se inicia no puerpério, com a finalidade
de restabelecer o organismo da mulher à situação não gravídica, e é importante sa-
lientar que ocorrem não somente nos aspectos endócrino e genital, mas no orga-
nismo como um todo.
Com base nisso, a mulher neste momento, como em todos os outros, deve
ser vista como um ser integral, não excluindo seu componente psíquico. Ao se exa-
minar uma mulher no puerpério, deve-se inicialmente, se sua situação clínica permi-
tir, fazer uma breve avaliação do seu estado psíquico, e entender o que representa
para ela a chegada de uma nova criança. O estabelecimento de uma adequada em-
patia entre o examinador e sua cliente proporcionará uma melhor compreensão dos
sintomas e sinais apresentados. É comum que neste momento a mulher experimen-
te sentimentos contraditórios e sinta-se insegura. Cabe à equipe de saúde estar dis-
ponível para perceber a necessidade de cada mulher de ser ouvida com a devida
atenção.
De imediato, após o parto, particularmente os laboriosos, a puérpera se apre-
senta extenuada pelo esforço muscular dispendido na expulsão. A face e o tronco
exibem franca sudorese, a respiração é costal e profunda e a freqüência respiratória
reduzida. A paciente sente-se aliviada e, na ausência de estímulos externos (pre-
sença de familiares), o cansaço exige repouso, e o sono é impositivo. Ao despertar,
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causa espanto como se apresenta confiante, esperançosa e, com freqüência, es-


quecida do transe do trabalho de parto.
A seguir, serão apresentadas as principais modificações em cada sistema do
organismo feminino por ocasião do puerpério.

Sistema Reprodutor
O sistema reprodutor recupera-se da gravidez e do nascimento do bebê por
mecanismos únicos e eficazes. Apesar disso, algumas estruturas são alteradas irre-
versivelmente.
Útero – Após o nascimento do bebê e a expulsão da placenta, o útero sofre
alterações profundas e dramáticas que possibilitam seu retorno ao estado não-
gravídico. Essas alterações, que envolvem o miométrio e o endométrio, são devidas
a mecanismos fisiológicos incomuns aos demais órgãos.
A involução, como um processo bem equilibrado, resulta das contrações
musculares e da autólise, também conhecida como autodesintegração ou autodiges-
tão das células e dos tecidos. Graças a esse processo, o miométrio readquire seu
tamanho normal.
Logo após a expulsão da placenta, as contrações miometrais vigorosas en-
colhem o útero praticamente pela metade do seu tamanho pouco antes do início do
trabalho de parto. Esse encurtamento rápido coloca as paredes uterinas em contato
direto, resultando no achatamento da sua cavidade central.
As contrações miometrais têm intervalos e força irregulares. As pacientes
multíparas costumam ter contrações mais vigorosas e desconfortáveis do que as
gestantes primíparas – provavelmente porque o músculo uterino perde alguma elas-
ticidade a cada gravidez e precisa realizar um trabalho mais vigoroso para que as
contrações sejam eficazes. Além disso, a lactante tem contrações mais fortes do que
as mulheres que não estão amamentando, tendo em vista que a ocitocina, além de
controlar a ejeção do leite, também estimula a musculatura uterina. A liberação da
ocitocina faz parte de uma série de eventos que ocorrem com a estimulação dos
mamilos, por exemplo, durante a amamentação.
A involução uterina é rápida e inexorável. Pouco depois do nascimento do be-
bê, o útero pesa de 1.000 a 1.200 g; uma semana depois, seu peso é de 500 g. Em
torno da 6ª semana após o parto, o útero terá voltado ao seu peso não-gravídico
normal de 50 a 70 g.
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O fenômeno involutivo sofre influência de certas condições, podendo ser mais


lento (hipoinvolução) nos casos em que ocorreram grandes distensões durante a
gestação (poliidrâmnio, prenhez múltipla), após cesárea, nas puérperas não-
lactantes e quando se instala infecção (endometrite). Outras vezes, a involução é
mais rápida (hiperinvolução), como ocorre em puérperas lactantes, grandes multípa-
ras e nos casos em que a mobilização e a atividade física se reinstalam precoce-
mente (NEME, 2000).
As dimensões do útero diminuem junto com o peso uterino. Uma hora após o
nascimento do bebê, o fundo do útero é palpável na cicatriz umbilical ou pouco aci-
ma. Verificando e acompanhando o tamanho do útero através da palpação, percebe-
se que diminui cerca de um dedo abaixo em relação ao dia precedente.
Após a dequitação, o fundo uterino, em geral, tangencia a cicatriz umbilical e
suas medidas são: 20 cm para a altura, 9 cm para a largura e 4 cm para a espessu-
ra. A consistência é firme e indolor. O corpo tem forma achatada com suas paredes
anterior e posterior adossadas. Quando restam coágulos e cotilédones, a forma é
mais globosa. O colo apresenta-se flácido, violáceo e, com alguma freqüência, lace-
rado nas comissuras, particularmente na esquerda.
A volta do útero à cavidade pélvica acontece na segunda semana após o par-
to, sendo impossível sua palpação como um órgão abdominal. Embora jamais volte
ao seu tamanho e à configuração da mulher nulípara, o útero em geral readquire as
dimensões e o contorno da paciente não-grávida em torno da sexta semana após o
parto.
Por fim, na autólise, que é o segundo mecanismo responsável pela involu-
ção, as células uterinas hipertrofiadas retornam ao seu formato e tamanho pré-
concepcionais. A autólise é um mecanismo de autodesintegração ou autodigestão
dos tecidos celulares. A quantidade de células uterinas existentes após o nascimen-
to não se modifica com a gravidez; os subprodutos das proteínas celulares autolis-
das são absorvidos e excretados pelo sistema renal.
Endométrio – Durante o período pós-parto a cicatrização e a regeneração
recuperam a estrutura e a função normais do endométrio. Embora a placenta e as
membranas desprendam-se da parede uterina por ocasião do nascimento, a decí-
dua basal permanece na cavidade uterina. Decídua é a parte da mucosa uterina que
se destaca e que é expulsa com a placenta após o parto (SILVA, 2004).
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Nos primeiros estágios da involução, as contrações miometrais comprimem


os vasos sangüíneos de toda a decídua e do local da implantação placentária, pos-
sibilitando a hemostasia.
Após o segundo ou terceiro dia após o parto, a decídua basal diferencia-se
em duas camadas diferentes. A obstrução dos vasos sangüíneos da decídua leva à
necrose da camada superficial, que se desprende e constitui parte da secreção lo-
quial. A camada mais profunda da decídua, ou lâmina basal, permanece aderida à
parede uterina.
Em torno do sétimo dia após o parto, as glândulas endometriais começam a
regenerar-se na camada basal. Cerca de 16 horas após o parto o endométrio está
totalmente recuperado, com exceção do local de implantação placentária. A involu-
ção dessa região e a recuperação dos seus tecidos normais são mais demorados do
que no restante do endométrio.
À medida que o local de implantação placentária cicatriza, o tecido endome-
trial em regeneração substitui lenta e progressivamente a decídua basal. Com oito
semanas, o endométrio mede cerca de 2 mm e ainda não cicatrizou por completo. A
regeneração ocorre aos poucos e não deixa cicatrizes. Caso a cicatrização seja me-
nos eficaz e o local placentário fique retraído, a região disponível para implantação
futura de um óvulo fertilizado poderia ser reduzida significativamente. Isso poderia
contribuir para a redução da quantidade de gestações subseqüentes e para o au-
mento potencial do risco de placenta prévia.
Tubas uterinas – No período pós-parto, as alterações das tubas uterinas o-
correm principalmente no nível celular. Com a normalização gradativa do equilíbrio
hormonal em torno da sexta à oitava semana após o parto, as células epiteliais re-
tornam à condição existente na fase folicular inicial do ciclo menstrual, com aumento
das células ciliares para ajudar no transporte do óvulo.
Ovários – o aspecto histofuncional dos ovários difere em função da lactação.
Nas pacientes que amamentam (totalmente), observa-se aspecto ovariano de quies-
cência relativa, não se identificando, nas primeiras semanas, sinais de crescimento
folicular. Naquelas puérperas que não lactam, o ciclo ovariano se restabelece dentro
de seis semanas, ocorrendo, inicial e sucessivamente, ciclos anovulatórios (endomé-
trio proliferativo), ciclos ovulatórios com insuficiência lútea (endométrio misto) e ci-
clos ovulatórios normais (endométrio secretor).
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Lóquios – são comumente designados como o produto de exsudatos, tran-


sudatos, produtos de descamação e sangue que procedem da ferida placentária
(principalmente), do colo uterino e da vagina.
O volume e a duração dos lóquios correlacionam-se com a cicatrização e a
regeneração do endométrio. Normalmente, as pacientes que realizaram partos cesá-
reos apresentam fluxo loquial menos profuso e duradouro do que as mulheres que
deram à luz por via vaginal. Isso provavelmente ocorre porque alguns dos fragmen-
tos uterinos encontrados nos lóquios foram retirados manualmente durante o parto
cesáreo. Em todas as pacientes, o fluxo loquial tem três estágios progressivos.
ESTÁGIOS DOS LÓQUIOS

Os lóquios progridem por três estágios, cada qual com características especiais que
refletem a cicatrização endometrial progressiva.

Estágio Duração habitual Descrição


Lóquio Rubro Um a quatro dias após o Consiste basicamente em
parto sangue e tecido da decí-
dua. Pode ter um odor
ligeiramente carnoso.
Lóquio Seroso Cinco a sete dias após o Contém líquido seroso,
parto tecido da decídua, leucó-
citos e eritrócitos. Tem
coloração róseo-
acastanhada. É seroso e
inodoro.
Lóquio Branco Uma a três semanas após Consiste basicamente em
o parto leucócitos e células da
decídua. Tem coloração
esbranquiçada, acasta-
nhada ou quase incolor.
Pode ter um odor ligeira-
mente rançoso.

Embora as taxas de secreção loquial sejam variáveis, existem alguns parâme-


tros normais quanto ao volume e à duração dos lóquios em cada estágio. O primeiro
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estágio (lóquio rubro) costuma estender-se até o quarto dia após o parto e contém
uma mistura de muco, tecidos degenerados e sangue.
À medida que o sangramento uterino regride, os lóquios tornam-se mais cla-
ros e serosos e passam ao segundo estágio, conhecido como lóquio seroso. Essa
secreção castanha ou rosada persiste por cinco a sete dias após o parto. Entre o
sétimo e o 14º dia do período pós-parto o desprendimento do local de implantação
placentária pode acarretar um aumento súbito e temporário do volume dos lóquios,
ou até mesmo sangramento. Essa condição autolimitada não deve estender-se por
mais de uma a duas horas. Freqüentemente, o repouso materno reduz esse fluxo. O
último estágio da secreção loquial é o lóquio alvo, que é uma secreção branco-
cremosa, castanha ou incolor consistindo basicamente em soro e leucócitos. Os ló-
quios alvos costumam diminuir após a terceira semana do período pós-parto, mas
podem persistir por seis semanas ou mais. Os lóquios são considerados anormais
caso contenham coágulos maiores do que uma moeda ou fragmentos de tecido. A-
lém disso, os lóquios não devem odor fétido ou repugnante e não podem regredir a
um estágio precedente. Essas alterações poderiam indicar endometrite ou outra in-
fecção.
Cérvice – Nas gestantes que tiveram partos vaginais, o tônus da musculatura
cervical é fraco e a cérvice e o segmento uterino inferior ficam finos e colapsados. O
exame do orifício externo revela lacerações e equimoses minúsculas. O orifício ex-
terno se contrai lentamente, e no segundo e terceiro dias após o nascimento do be-
bê permanece flácido e aberto a cerca de 2 a 3 cm. Ao final da primeira semana,
esse orifício estará contraído a 1 cm e o tônus cervical terá aumentado, dificultando
a introdução de um dedo. Nesse ponto, o edema e a hemorragia cervicais terão re-
gredido significativamente e o canal cervical começa a regenerar-se, à medida que a
cérvice se espessa.
Embora a cérvice readquira sua anatomia funcional normal em torno de seis a
12 semanas após o parto, jamais volta a ter o mesmo aspecto que na mulher primí-
para. O orifício externo permanece alargado e linear, em comparação com o orifício
circular minúsculo da mulher nulípara. Em alguns casos, o orifício assemelha-se à
boca de um peixe, principalmente nos casos em que houve traumatismo cervical
significativo durante o nascimento.
Vagina – Após o parto vaginal, a vagina tem paredes lisas e fica um pouco
mais dilatada e edemaciada, com o tônus muscular reduzido. Aos poucos, a vagina
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se contrai e o edema regride. Ao final da terceira semana após o parto, as rugas re-
aparecem nas paredes vaginais. Essas rugas podem ficar permanentemente acha-
tadas em graus variáveis, jamais voltando ao tamanho e ao estado observados na
mulher nulípara (caracterizada por várias dobras da mucosa). Conseqüentemente, o
canal vaginal raramente volta ao tamanho anterior da mulher nulípara.
O epitélio vaginal também passa por alterações significativas no período pós-
parto. Bem vascularizado e lubrificado durante a gravidez, graças ao aumento da
secreção de estrogênio, esse epitélio torna-se frágil e atrófico em torno da terceira
ou quarta semana após o parto. Nas pacientes que não estiverem amamentando, a
atrofia regride dentro de seis a dez semanas após o parto, à medida que os níveis
do estrogênio normalizarem. Contudo, como as concentrações desse hormônio
permanecem baixas durante a lactação, as nutrizes podem continuar a referir sinto-
mas causados pela atrofia vaginal, dentre os quais estão a redução da lubrificação
vaginal e a diminuição da resposta sexual.
Estruturas externas – O clitóris e os lábios vaginais ficam irreversivelmente
aumentados até certo ponto. Após o parto vaginal, o intróito da vagina permanece
edemaciado e, algumas vezes, equimótico. As lacerações podem ser evidenciadas
no intróito e no períneo, mesmo que não tenha sido realizada episiotomia.
Quando não houver complicações, como hematoma ou infecção, o períneo
cicatriza rapidamente. Em geral, o intróito e o períneo voltam ao estado pré-
concepcional cerca de seis semanas após o parto. Contudo, o intróito pode desen-
volver uma abertura residual que, nos casos típicos, é irreversível.
Estruturas de sustentação muscular da pelve – As estruturas de sustenta-
ção uterina, tais como os ligamentos largo e redondo, são significativamente estira-
das durante a gravidez, à medida que o útero cresce. Durante o parto vaginal, as
estruturas que sustentam o útero, a vagina, a uretra e a bexiga sofrem traumatismo.
Embora a frouxidão dessas estruturas melhorem gradativamente, pode persistir al-
gum relaxamento pélvico além do período pós-parto, causando uma das seguintes
condições:
o Prolapso uterino
o Cistocele
o Retocele
o Enterocele
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Como os efeitos do estiramento são cumulativos, a probabilidade de haver re-


laxamento irreversível das estruturas de sustentação muscular da pelve aumenta a
cada gravidez e nascimento. Os exercícios de Kegel podem ajudar a manter e read-
quirir parte da sustentação muscular pélvica.
Mamas – Durante a gravidez, principalmente sob a influência do estrogênio e
da progesterona secretados pela placenta e a prolactina secretada pela hipófise an-
terior, as mamas ficam várias vezes maiores e suas estruturas glandulares ficam
completamente desenvolvidas. Contudo, tanto o estrogênio como a progesterona
inibem a formação do leite até depois do nascimento da criança. A perda da placen-
ta no momento do nascimento remove a fonte desses dois hormônios e, então, sob
a influência da secreção continuada de prolactina pela hipófise anterior, as mamas
produzem quantidades abundantes de leite (GUYTON, 1988).
As alterações mamárias iniciadas durante a gravidez – inclusive os cresci-
mentos dos mamilos e das aréolas, a maturação dos lobos e ductos e o aumento da
vascularização – progridem após o nascimento do bebê, principalmente nas mulhe-
res que estiverem amamentando. O tamanho das células mamárias e a quantidade
de receptores para a ocitocina também aumentam.
Nos primeiros dois dias após o parto, os alvéolos mamários crescem e de-
senvolvem quantidades significativas de retículo endoplasmático rugoso e aparelhos
de Golgi. Essas duas organelas celulares desempenham funções fundamentais na
produção do leite. O leite é produzido nos alvéolos, que são as unidades secretoras
básicas da mama. Circundados por uma rede capilar, os alvéolos formam grupos de
10 a 100, constituindo os lóbulos. Cada lóbulo é drenado por um ducto lactífero. A
mama contém 15 a 20 desses ductos, que se comunicam ao nível do mamilo e da
aréola, possibilitando o esvaziamento da mama.
Como já citado, a lactação – síntese e secreção do leite humano – resulta da
interação de vários hormônios. O crescimento e o desenvolvimento dos alvéolos são
controlados por estrogênio, progesterona, lactogênio placentário humano, prolactina,
cortisol e insulina. O estrogênio estimula a liberação da prolactina e sensibiliza a
glândula mamária à ação deste último hormônio. Contudo, quando estiver combina-
do com a progesterona, o estrogênio inibe a prolactina.
A redução profunda dos níveis séricos do estrogênio e da progesterona após
a expulsão da placenta suprime essa inibição, possibilitando à prolactina estimular a
iniciação da secreção láctea (conhecida como lactogênese) nos alvéolos.
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A dopamina, que é um neurotransmissor liberado pelo hipotálamo, também i-


nibe a prolactina (daí seu outro nome – fator inibidor da prolactina). Contudo, a esti-
mulação dos mamilos anula a inibição da prolactina. Quando o recém-nascido suga
o mamilo, as terminações nervosas existentes na aréola transmitem mensagens
sensoriais ao hipotálamo, que reduz a produção de dopamina, anulando assim a
inibição da prolactina.

Como a produção de leite é afetada pela estimulação dos mamilos


A estimulação dos mamilos desencadeia uma série de reações que resultam
na produção do leite, conforme se pode observar abaixo. A continuidade da produ-
ção do leite depende da sucção das mamas pelo bebê, que estimula a produção da
ocitocina pela hipófise posterior. Esse hormônio causa a contração das células mio-
epiteliais localizadas em torno dos alvéolos e ductos, transportando o leite aos seios
lactíferos (armazenamento), onde podem ser sugados facilmente pelo bebê.

Hipotálamo reduz
a produção de
dopamina

Hipófise anterior
Sucção estimula aumenta a pro-
o hipotálamo dução de prolac-
tina

Prolactina estimu-
la a produção de
leite

Em alguns casos, por exemplo, quando a paciente preferir alimentar seu bebê
recém-nascido com mamadeiras, a lactação precisa ser suprimida. A inexistência de
sucção e esvaziamento das mamas leva à supressão, que em geral produz a involu-
ção mamária e a interrupção da lactação dentro de uma semana. Sem estimulação,
as células alveolares ficam achatadas e param de secretar leite; dentro de 24 horas,
a estrutura das organelas celulares começa a assumir uma configuração mais nor-
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mal, com redução dos retículos endoplasmáticos rugosos e aparelhos de Golgi. O


fluxo sangüíneo das mamas diminui, contribuindo para o processo de involução. Nos
próximos três meses, os tecidos conjuntivo e adiposo substituem o tecido glandular,
embora a mama conserve parte das glândulas aumentadas. Próximo ao final do pro-
cesso de involução, as mamas costumam readquirir seu tamanho pré-gestacional.
Contudo, a alteração discreta da conformação das mamas pode ser irreversível.

Sistema Endócrino
Assim como ocorre com o sistema reprodutor, o sistema endócrino passa por
profundas alterações no período pós-parto. Algumas dessas adaptações estão rela-
cionadas com as alterações do sistema reprodutor.
Hormônios placentários – Com a eliminação da placenta, os níveis dos
hormônios placentários circulantes diminuem rapidamente. O nível sérico do estro-
gênio cai subitamente nas primeiras três horas após o nascimento do bebê e, em
seguida, diminui de forma mais gradativa até o sétimo dia do período pós-parto,
quando atinge seu patamar mais baixo. Nas mulheres que não estiverem amamen-
tando, o estrogênio começa a aumentar aos níveis normais cerca de duas semanas
após o parto. Nas lactantes, essa elevação é retardada e causa problemas, como a
atrofia da mucosa vaginal. À medida que a paciente amamenta ao seio com menos
freqüência, seus níveis de estrogênio aumentam gradativamente. A ovulação é su-
primida em algumas mulheres, enquanto estiverem amamentando; o nível mais bai-
xo do estrogênio é um fator que contribui para isso.
A concentração sérica da progesterona diminui abaixo dos níveis normais da
fase lútea em tomo do terceiro dia do período pós-parto. Após a primeira semana, a
progesterona não poderá ser detectada na circulação até que as ovulações recome-
cem. Conseqüentemente, os primeiros ciclos menstruais após o parto podem ser
irregulares e mais curtos do que os normais.
Os dois hormônios placentários restantes – HPL e gonadotropina coriônica
humana (hCG) – também diminuem rapidamente. A hCG circulante, que é o hormô-
nio detectado pela maioria dos testes comuns para gravidez, desaparece dentro de
oito a 24 horas após o nascimento tanto nas nutrizes quanto nas mulheres que não
estiverem amamentando. Esse declínio é tão marcante que ao final da primeira se-
mana do período pós-parto o teste urinário para gravidez é negativo. A hCG ou o
HPL deixam de ser produzidos até à gravidez subseqüente.
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Função hipotalâmico-hipofisário-ovariana – A normalização do ciclo mens-


trual é coordenada pelos hormônios secretados pelo hipotálamo (hormônio de libe-
ração das gonadotropinas), pela glândula hipófise (hormônio foliculoestimulante e
hormônio luteinizante) e pelos ovários (estrogênio e progesterona). Embora haja em
geral um período de amenorréia após o parto, alguns especialistas não concordam
quanto aos seus mecanismos fisiológicos ou ao processo que restabelece os ciclos
menstruais.
Nas pacientes que não estiverem amamentando, o intervalo médio antes do
reaparecimento da ovulação é de cerca de 10 semanas; as menstruações costumam
reaparecer dentro de sete a nove semanas. Assim, para a maioria das mulheres que
não estão amamentando o primeiro período menstrual após o parto pode ser anovu-
latório.
A lactação retarda o retomo dos ciclos menstruais normais; a duração desse
intervalo depende da duração e da freqüência da amamentação ao seio. Por exem-
plo, uma mulher que estiver amamentando há seis semanas terá amenorréia mais
duradoura do que a paciente que estiver amamentando há quatro semanas. Da
mesma forma, seis ou mais períodos de amamentação por dia diminuem as chances
de haver um ciclo menstrual normal. Contudo, o estado nutricional precário durante
a lactação pode retardar a normalização da função hipotalâmico-hipofisário-
ovariana.
Nas pacientes que estiverem amamentando, o retomo da ovulação também é
variável. Tanto para essas mulheres quanto para as que não estiverem amamentan-
do o aumento do intervalo antes do primeiro período menstrual após o parto amplia
as chances de haver um ciclo anovulatório. De acordo com um estudo extensivo, o
reaparecimento das ovulações é retardado pela amamentação, mas a lactação não
impede a ovulação precoce.
Reversão das outras alterações – Os declínios rápidos dos níveis do estro-
gênio, progesterona, cortisol e HPL deixam a insulina relativamente livre no período
pós-parto imediato, em comparação com o final da gravidez. Além disso, nos primei-
ros dias após o nascimento a concentração sérica da glicose, que diminui durante a
gestação, permanece baixa. Conseqüentemente, as pacientes com diabetes melito
têm reduções significativas da necessidade de insulina exógena, e algumas não
precisam usar esse hormônio. À medida que os níveis hormonais comecem a estabi-
18

lizar-se, a necessidade da insulina exógena reaparece e a dose necessária aproxi-


ma-se da que era usada antes da gravidez.

Sistema Respiratório
O período pós-parto possibilita, em geral, a regressão completa das altera-
ções respiratórias relacionadas com a gravidez e queixas associadas, tais como falta
de ar, desconforto torácico e costal e redução da tolerância aos esforços físicos.
Regressão das alterações anatômicas – As alterações anatômicas da cavi-
dade torácica e do gradil costal, causadas pelo crescimento progressivo do útero,
regridem gradativamente após o nascimento do bebê. Assim, a expansão pulmonar
plena retoma e o gradil costal readquire seu diâmetro normal. À medida que o nível
de estrogênio diminui, a vascularização do trato respiratório – aumentada pela gravi-
dez – também regride ao estado pré-concepcional.
Regressão das alterações funcionais – À medida que os níveis séricos da
progesterona diminuem, que a demanda de oxigênio é reduzida e que o útero pára
de comprimir o diafragma, ocorrem as seguintes alterações, que possibilitam a nor-
malização da função respiratória:
o O volume corrente (quantidade de ar trocada a cada respiração), o volume
me por minuto (quantidade de ar expelida pelos pulmões por minuto) e a
capacidade vital (quantidade de ar expelida após uma inspiração máxima)
diminuem aos valores pré-concepcionais.
o A capacidade residual funcional (quantidade de ar que permanece no pul-
mões, após uma inspiração tranqüila e normal) aumenta, retomando aos va-
lores pré-concepcionais.

Sistema Cardiovascular
Após o nascimento do bebê, o sistema cardiovascular desenvolve algumas al-
terações detectáveis subjetivamente, à medida que retoma ao estado pré-
concepcional.
Regressão das alterações anatômicas e da ausculta – O crescimento e o
deslocamento do coração regridem, à medida que o útero readquire seu tamanho e
volta à posição normal. As anormalidades das bulhas cardíacas, resultantes das al-
terações anatômicas e hemodinâmicas causadas pela gravidez, também regridem
no período pós-parto.
19

Regressão das alterações hemodinâmicas – O volume sanguíneo e o débi-


to cardíaco, que são significativamente alterados pela gravidez, voltam ao estado
pré-concepcional após o nascimento do bebê. A pressão arterial e o pulso passam
por alterações menos marcantes.
Volume sanguíneo – A perda de sangue que ocorre durante o nascimento
reduz de imediato o volume sanguíneo. O parto vaginal normal está associado à
perda média de 500 ml de sangue, enquanto a cesariana acarreta perdas de 1.000
ou mais. O aumento do volume sanguíneo durante a gravidez permite ao organismo
compensar essa perda significativa. Contudo, o sangramento excessivo por ocasião
do parto pode retardar a recuperação funcional.
Após o nascimento do bebê, os líquidos extravasculares são redirecionados
para a circulação, levando a um aumento do volume plasmático que ajuda a com-
pensar a perda de sangue durante o parto. À medida que a diurese puerperal se de-
senvolve, esse líquido é então excretado pelo sistema renal – primeiro em grandes
quantidades, mais tarde de forma gradativa. O líquido adicional também é excretado
pela transpiração, que é tipicamente aumentada no período pós-parto imediato. A
expulsão da placenta reduz a amplitude do leito vascular materno em 10 a 15%. As-
sim, é necessário um volume sanguíneo menor para a perfusão dos tecidos.
Débito cardíaco – O débito cardíaco, que é acentuadamente aumentado du-
rante a gravidez, permanece em níveis altos por 24 horas após o parto, em seguida
diminui gradativamente ao nível pré-concepcional. Esse declínio é semelhante nas
lactantes e nas mulheres que não estiverem amamentando. A maior parte dessa
redução ocorre nas primeiras duas semanas após o parto.
Pressão arterial e pulso – Logo após o parto, as medições da pressão arte-
rial devem ser apenas um pouco ou nada diferentes das leituras obtidas no terceiro
trimestre da gravidez. A redução da pressão arterial pode indicar hemorragia uterina
não-diagnosticada ou sangramento excessivo durante o parto.
A elevação da pressão arterial pode sugerir uma tendência à pré-eclâmpsia,
principalmente quando estiver acompanhada de cefaléia ou alterações visuais. Os
valores da pressão arterial costumam permanecer relativamente estáveis nas primei-
ras 12 semanas após o parto e, em seguida, aumentam gradativamente até à 24ª
semana, quando voltam aos valores pré-concepcionais.
Cerca de sete a 10 dias após o parto, pode haver bradicardia transitória de 50
a 70 batimentos/minuto. Essa alteração é normal e pode resultar da redução da car-
20

ga de trabalho cardíaco que ocorre após o nascimento do bebê. Por outro lado, a
taquicardia acima de 100 batimentos/minuto deve ser investigada porque pode indi-
car hipovolemia – principalmente nas pacientes com contagens de hemácias baixas
ou decrescentes.
Regressão das alterações varicosas – As dilatações varicosas das pernas,
do ânus ou da vulva podem ocorrer na gravidez devido à redução do retomo venoso
das pernas, à compressão exercida pelo feto e ao esforço realizado durante o traba-
lho de parto e no nascimento. Em algumas mulheres, essas alterações melhoram
significativamente ou regridem por completo após o parto. Contudo, os sinais e sin-
tomas são agravados a cada gestação. Caso os problemas persistam após o perío-
do puerperal, poderá ser necessário fazer uma reparação cirúrgica. Os exercícios
leves aumentam o tônus muscular, que facilita o retorno venoso.

Sistema Hematológico
Os níveis dos componentes sangüíneos podem variar no período pós-parto. A
coagulação, que está aumentada na gravidez e no trabalho de parto, normaliza-se
gradativamente. Contudo, a estimulação da coagulação induzida pelo trabalho de
parto e pelo nascimento aumenta o risco de tromboembolia.
Parâmetros dos glóbulos vermelhos – Logo após o parto, o nível da hemo-
globina e do hematócrito, assim como o hemograma completo, podem variar de pa-
ciente para paciente. Em geral, nas mulheres que deram à luz por via vaginal e não
tiveram complicações esses valores permanecem próximos dos níveis detectados
antes do parto, apesar da perda sangüínea normal nesse período. Esse fenômeno
resulta da hemoconcentração, que acompanha a diurese do período pós-parto. Nas
pacientes que tiveram partos cesáreos, a perda sanguínea maior pode causar redu-
ções dos parâmetros hematológicos logo após o nascimento do bebê.
Nas mulheres saudáveis e bem nutridas, todos os parâmetros dos glóbulos
vermelhos costumam voltar aos níveis pré-concepcionais dentro de seis semanas
após o parto. A redução progressiva ou significativa desses parâmetros nos primei-
ros dias após o parto não é normal e pode indicar sangramento persistente ou ex-
cessivo.
Contagem dos leucócitos – A contagem dos leucócitos (leucometria) au-
menta, principalmente à custa dos granulócitos, nos primeiros 10 a 12 dias após o
parto, podendo chegar a 25.000/mm3. Embora essa alteração seja uma resposta
21

normal ao estresse, pode dificultar o diagnóstico de uma infecção puerperal, que


também eleva a leucometria.
Fatores da coagulação – As alterações dos fatores da coagulação após o
parto são gradativas. Durante toda a gravidez, os níveis dos fatores da coagulação I
(fibrinogênio), VII, IX e X aumentam progressivamente; no final da gravidez, a fibri-
nólise (destruição dos coágulos sanguíneos) diminui. Essas alterações colocam a
paciente sob o risco cada vez maior de desenvolver fenômenos tromboembólicos.
O nascimento do bebê estimula o sistema da coagulação, aumentando ainda
mais o risco no período puerperal imediato. Estudando a velocidade com que os fa-
tores da coagulação voltam ao normal após o parto, alguns pesquisadores descobri-
ram que esses fatores permanecem significativamente aumentados nas primeiras
duas a três semanas após o parto, em seguida diminuem gradativamente e aproxi-
mam-se dos níveis pré-concepcionais após seis semanas. A contagem das plaque-
tas volta ao nível pré-concepcional dentro de duas semanas após o parto.
Contudo, partos traumáticos, infecções ou imobilidade prolongada podem re-
tardar a normalização desses fatores.

Sistema Urinário
A gravidez altera a estrutura anatômica das vias urinárias e a função do sis-
tema urinário. Além disso, o nascimento do bebê pode contribuir com algumas alte-
rações anatômicas. Ao contrário da maioria dos outros sistemas do corpo, o apare-
lho urinário pode continuar com os efeitos da gravidez e do parto por muito tempo
depois do período pós-parto.
Regressão das alterações anatômicas – Por ocasião do parto, a passagem
do feto pela pelve e pela vagina produz graus variáveis de traumatismo da uretra e
da bexiga. Mesmo o traumatismo normal pode causar edema e sangramento mi-
croscópico. As complicações do parto, como nascimento acelerado ou instrumenta-
ção com fórceps, agravam esse traumatismo e podem acarretar laceração da uretra
ou meato urinário. Quando o parto foi cesáreo, há possibilidade de ocorrer trauma-
tismo cirúrgico da bexiga.
O traumatismo obstétrico agravado pela anestesia epidural ou espinhal pode
reduzir o tônus vesical. Caso isso ocorra, a bexiga toma-se menos sensível e isso
reduz o desejo de urinar, contribuindo para a retenção urinária no período pós-parto.
22

A diurese puerperal pode causar hiperdistensão vesical, estase e retenção u-


rinária, possivelmente causando lesão muscular, atonia e infecção das vias uriná-
rias. Contudo, quando não houver essas complicações, o trato urinário inferior read-
quire sua função normal dentro de uma a duas semanas, à medida que o edema e a
diurese regridem, ainda que a distensão vesical possa persistir por três meses.
Em geral, a dilatação da pelve renal, dos cálices e ureteres começa no primei-
ro trimestre e progride, à medida que a gravidez avança. A dilatação da pelve renal
causa distensão ureteral e dificulta a passagem da urina. Nas primeiras 12 a 16 se-
manas após o parto essa dilatação regride gradativamente, embora possa persistir
certa dilatação durante vários anos. Freqüência, urgência e outros sintomas uriná-
rios causados pela compressão da bexiga pelo útero regridem após o parto.
Regressão das alterações funcionais – A gravidez aumenta o fluxo plasmá-
tico renal e a taxa de filtração glomerular (TFG). No final da gestação, a TFG come-
ça a apresentar um declínio gradativo, que persiste até o período pós-parto. Em ge-
ral, esse parâmetro volta ao nível pré-concepcional em torno da sexta semana após
o parto. O fluxo plasmático renal também se normaliza.
Exame simples da urina – Uma proteinúria discreta, causada pela excreção
dos subprodutos protéicos da involução uterina ou do traumatismo obstétrico, é co-
mum após o nascimento, mas deve desaparecer dentro de seis semanas após o
parto. Outra alteração comum do período puerperal é a glicosúria, que em geral re-
gride ao final da primeira semana.

Sistema Gastrintestinal
Como o trato gastrintestinal não está mais sendo obstruído pelo útero em
crescimento e os níveis hormonais declinam rapidamente, esse sistema readquire
suas funções normais logo após o parto.
Apetite – Após o parto vaginal, a maioria das pacientes fica extremamente
faminta devido à suspensão da ingestão alimentar e aos esforços do trabalho de
parto e nascimento – principalmente se foi usada pouca ou nenhuma anestesia. O
apetite tende a voltar ao normal dentro de um a dois dias, embora as mulheres que
estão amamentando possam manter esse apetite e ingestão alimentar aumentados.
Após a cesariana, as pacientes que readquirem o apetite mais lentamente podem
começar a receber uma dieta líquida e, aos poucos, passar a consumir uma dieta
regular, à medida que a função gastrintestinal for normalizada.
23

Motilidade e evacuação intestinais – Durante a gravidez, a motilidade gas-


trintestinal é inibida pelos níveis séricos elevados da progesterona (que relaxa a
musculatura lisa intestinal, diminuindo a peristalse) e pela compressão dos intestinos
pelo útero aumentado. Como o nascimento do bebê elimina esses dois fatores, a
peristalse e a função intestinal normais costumam ser readquiridas rapidamente.
Contudo, a motilidade intestinal pode permanecer mais lenta nos casos de manipu-
lação intestinal durante o parto cesáreo ou devido ao uso dos agentes anestésicos
ou analgésicos.
Em geral, as evacuações intestinais são normalizadas quando a motilidade
dos intestinos estiver recuperada. No entanto, a primeira evacuação intestinal pode
ser retardada por dois a três dias após o parto por motivos independentes da função
intestinal. A paciente pode evitar a evacuação por medo de que cause dor ou lesão
da episiotomia. Em alguns casos, pode-se usar um emoliente fecal, um laxante ou
um supositório para restabelecer a função intestinal normal.
Regressão das outras alterações – O esvaziamento da vesícula biliar, que
estava mais lento na gravidez, é acelerado após o parto, reduzindo o risco de forma-
ção dos cálculos biliares. O fluxo da bile, a carga de trabalho do fígado e o fluxo
sanguíneo hepático diminuem os níveis pré-concepcionais, e as provas de função
hepática devem ser normalizadas.

Sistema Musculoesquelético
Embora as alterações do sistema musculoesquelético causadas pela gravidez
regridam após o nascimento do bebê, as articulações e os músculos podem apre-
sentar alguns efeitos residuais.
Regressão das alterações posturais e articulares – O nascimento do bebê
elimina a sobrecarga mecânica do sistema musculoesquelético e suprime a secre-
ção da relaxina. Nas primeiras seis a oito semanas após o parto, a postura volta ao
normal e as alterações estruturais regridem gradativamente. A causa exata ainda é
desconhecida, mas o crescimento dos pés poderia ser causado pelos efeitos da re-
laxina nas articulações dos pés, assim como pelo ganho ponderal e pelo edema
descendente que podem persistir em alguns casos. Dessa forma, o crescimento dos
pés e o aumento do tamanho dos sapatos tendem a ser sinais permanentes de uma
gravidez pregressa.
24

Regressão das alterações musculares – O crescimento das mamas e dos


músculos da parede abdominal durante a gravidez enfraquece essas estruturas.
Embora essas alterações não sejam irreversíveis, algumas pacientes têm dificulda-
des de readquirir o tônus muscular satisfatório dessas áreas.
No terceiro trimestre, os músculos retos abdominais podem separar-se, cau-
sando diástase dos músculos retos abdominais. Em alguns casos, essa condição
pode ser corrigida pelos exercícios abdominais do período pós-parto. Contudo, tam-
bém pode persistir indefinidamente, a menos que se recupere o tônus muscular a-
dequado. A redução do tônus da musculatura abdominal contribui para o estiramen-
to lombar e a dor lombar baixa.

Sistema Tegumentar
As alterações cutâneas associadas à gravidez regridem parcial ou totalmente
após o nascimento do bebê, à medida que os níveis hormonais diminuem e a pele
não fica mais estirada.
Regressão das alterações relacionadas com fatores hormonais – Durante
o período pós-parto, as alterações pigmentares causadas pela gravidez – inclusive
cloasma (também conhecido como melasma, ou máscara gravídica) e a linha negra
(uma faixa escura na linha média do abdome) regridem gradativamente. Contudo,
em algumas mulheres essas alterações são irreversíveis. A gravidez pode estimular
o desenvolvimento dos nevos pigmentados, levando-os a crescer ou mudar de cor
ou, ainda, à formação de lesões novas. Essas alterações tendem a regredir após o
parto. Os nevos que não voltarem ao seu aspecto pré-concepcional devem ser ava-
liados. O escurecimento dos mamilos, que também é causado pela gravidez, regride
parcialmente no período pós-parto. Qualquer acentuação da acne associada à gra-
videz também regride à medida que se estabilizam os níveis hormonais.
O hirsutismo associado à gravidez também desaparece. Contudo, os pêlos
grossos que se desenvolveram na gravidez tendem a persistir. Algumas pacientes
queixam-se da perda excessiva de cabelos da cabeça após o parto. Isso é uma
compensação para a perda subnormal durante a gravidez; a perda que ocorre no
período puerperal é simplesmente uma compensação da perda que deveria ter ocor-
rido caso a paciente não tivesse engravidado. Esse processo de compensação dura
cerca de um a quatro meses após o parto.
25

Algumas alterações cutâneas vasculares observadas nas gestantes são se-


melhantes às observadas na doença hepática, dentre elas os angiomas aracneifor-
mes e o eritema palmar. Devidas ao aumento do fluxo sanguíneo subcutâneo (cau-
sado pela elevação dos níveis séricos do estrogênio), essas alterações desapare-
cem logo após o nascimento do bebê, à medida que as concentrações do estrogênio
diminuem. As alterações das mucosas que se desenvolvem durante a gravidez (e-
pistaxe, edema e congestão nasais e sangramento gengival) regridem à medida que
o nível do estrogênio diminui. Algumas gestantes desenvolvem gengivite, em certos
casos associadas aos nódulos vasculares na linha gengival. Essa condição, conhe-
cida como epúlide gestacional, costuma regredir dentro de um a dois meses após o
parto.
As estrias ou marcas de estiramento resultam dos níveis elevados dos corti-
cóides e do estiramento mecânico da pele durante a gravidez. Essas marcas inofen-
sivas costumam aparecer no abdome, no dorso, nas coxas e nas mamas. À medida
que o corpo volta ao tamanho normal as estrias se contraem e ficam menos nítidas
dentro de um ano após o parto. Embora se tomem menos evidentes, jamais desapa-
recem por completo.
Sudorese – Nos primeiros dois a três dias após o parto, algumas pacientes
apresentam episódios de sudorese profusa. Essa transpiração, que está associada
aos desvios de líquidos após o parto, é um mecanismo normal que ajuda o sistema
renal a excretar o excesso de líquidos e as escórias metabólicas. Essa alteração
deve regredir na primeira semana após o parto.

Outros Sistemas
As alterações metabólicas, neurológicas e imunológicas causadas pela gravi-
dez regridem rapidamente após o parto.
Sistema metabólico
Durante toda a gravidez, a taxa metabólica basal aumenta até o nascimento
do bebê, quando atinge níveis cerca de 20% acima do normal. Após o parto, a taxa
metabólica basal diminui rapidamente e aproxima-se dos níveis pré-concepcionais
dentro de cinco a seis dias após o parto.
Sistema neurológico
Os efeitos neurológicos da gravidez, que podem ser brandos ou extremamen-
te incômodos, raramente persistem após o nascimento do bebê.
26

Neuropatias por encarceramento


Dentre as alterações neurológicas mais comuns causadas pela gravidez, as
neuropatias por encarceramento são compressões nervosas, em geral causadas
pela retenção de líquidos. À medida que os tecidos frouxos edemaciam, comprimem
os nervos que passam nessa região, produzindo sintomas como dormência, formi-
gamento e perda funcional. Por exemplo, na síndrome do túnel do carpo, o nervo
mediano do punho é comprimido. Com a regressão do edema após o parto, as neu-
ropatias por encarceramento costumam regredir. Em casos raros é necessário reali-
zar uma cirurgia para liberar o encarceramento.
Regressão das outras alterações
Outras queixas neurológicas que ocorrem na gravidez são cefaléia de tensão
e episódios de síncope ou semi-síncope. Essas condições estão associadas ao es-
tresse, à redução do repouso, ao estado nutricional deficiente, ao aumento dos ní-
veis sanguíneos da glicose e às alterações hormonais que acompanham a gravidez.
Como o nascimento do bebê corrige essas alterações, as cefaléias de tensão e os
episódios de síncope diminuem. Com nutrição e repouso adequados no período pós-
parto, esses sintomas regridem por completo.
Sistema imunológico
O sistema imunológico, que está inibido durante a gravidez para evitar que o
organismo rejeite o feto como um corpo estranho, readquire sua função normal no
período pós-parto. Contudo, uma gestante Rh-negativa que deu à luz um bebê Rh-
positivo pode ser sensibilizada ao antígeno Rh das hemácias do recém-nascido e
produzir anticorpos contra o antígeno sensibilizante; isso poderia causar problemas
nas gestações seguintes. Para evitar isso, a paciente Rh-negativa deve receber i-
munoglobulina Rh (D) (RhoGAM) na 28ª semana de gravidez e uma segunda dose
72 horas após o nascimento do bebê.
27

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO IMEDIATO


Pelo risco de ocorrer hemorragias, é recomendável que a puérpera passe es-
se período no Centro Obstétrico ou na sala PPP.
Os cuidados a serem tomados são:
o Preparar a unidade, arrumando a cama;
o Verificação dos sinais vitais, com atenção especial ao pulso e à temperatura
(temperatura acima de 37,5º pode sugerir infecção);
o Observar incisão cirúrgica (existe a possibilidade de formação de hemato-
ma);
o Observar a tonicidade uterina (existe a possibilidade de hipotonia e atonia);
o Administrar ocitocina EV (5 a 20 UI em 500ml de SG 5% em 6 horas);
o Realizar expressão uterina para retirada de coágulos de sangue, se neces-
sário;
o Colocar peso sobre o útero para mantê-lo contraído, se necessário;
o Realizar a higiene da paciente tão logo seja possível (o primeiro banho de-
verá ser assistido).
28

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO MEDIATO


Após o puerpério imediato e estando a puérpera equilibrada hemodinamica-
mente e formado o globo de segurança de Pinard (útero ao nível da cicatriz umbilical
e firmemente contraído), poderá ser encaminhada ao alojamento conjunto, após se-
rem seus sinais vitais avaliados e anotados.
As principais condutas nesse período são:
o Observar as condições de higiene e os lóquios eliminados (quantidade, as-
pecto e odor);
o Observar o tipo de mamilo, atentando para a presença de lesões, feridas,
escoriações, bolhas e sangramento e observando sinais de ingurgitamento;
o Observar a involução uterina (até 10 dias pós-parto é possível apalpar o
fundo do útero). A AU também auxilia no acompanhamento da involução;
o Verificar as condições de cicatrização da ferida cirúrgica abdominal ou peri-
neal;
o Oferecer dieta hipoglicêmica e hiperprotéica tão logo a puérpera (em condi-
ções normais) manifeste o desejo de ingeri-la;
o Orientar sobre a necessidade do sono e repouso adequados para evitar
preocupações desnecessárias;
o Estimular o banho diário, incluindo a lavagem dos cabelos;
o Estimular a ingestão hídrica (a amamentação exclusiva proporciona sede às
puérperas);
o Estimular a deambulação, pois auxilia na peristalse, melhorando o funcio-
namento da bexiga e dos intestinos, além da circulação;
o Observar as eliminações vesico-intestinais;
o Observar a coloração das mucosas;
o Observar diariamente a loquiação (cor, odor e quantidade);
o Observar diariamente o períneo, orientando a puérpera à higienização ade-
quada (água e sabão após a evacuação), a fim de manter a incisão limpa e
seca;
o Em caso de parto cesariano, aumentar a manutenção da incisão suprapúbi-
ca;
o Observar a involução uterina;
o Observar as mamas (identificando possíveis pontos endurecidos) e mamilos
(identificando o tipo: protuso, semiprotuso, de plano e invertido);
29

o Supervisionar a amamentação, atentando à sucção do RN;


o Orientar a puérpera para expor as mamas ao sol por 10 minutos, diariamen-
te;
o Orientar higienização dos mamilos com água (o uso excessivo de sabonetes
favorece o ressecamento e a formação de fissuras);
o Orientar sobre as vantagens do aleitamento materno exclusivo;
o Dar atenção especial aos possíveis sinais de infecção puerperal, como:
Calor local;
Hiperemia;
Endurecimento;
Dor;
Loquiação purulenta e/ou fétida;
Hipertermia (acima de 38º nas 24 horas após o parto);
o Orientar o retorno da atividade sexual para 20 dias após o término da elimi-
nação dos lóquios;
o Orientar sobre os métodos anticoncepcionais.
30

COMPLICAÇÕES DO PERÍODO PÓS-PARTO

O período puerperal imediato é uma fase de estresse fisiológico e psicológico


significativo. A fadiga causada pelo trabalho de parto, a perda de sangue durante o
nascimento do bebê e outras condições desencadeadas pelo nascimento podem
causar complicações – algumas críticas – no período pós-parto.
A profilaxia dessas complicações é o objetivo principal da assistência de en-
fermagem. Evidentemente, quando houver alguma complicação, o profissional deve
atuar no sentido de promover a recuperação da paciente e assegurar que o proble-
ma não ameace a relação que se desenvolve entre a mãe e o recém-nascido.
Cerca de 60% de toda morte materna relacionada à gravidez ocorre durante o
período pós-parto e pesquisas sugerem que 45% dessas mortes acontecem nas
primeiras 24 horas após o parto (SOGC, 2006).
Aqui serão abordadas a hemorragia pós-parto, a infecção puerperal, a mastite
e as lesões no canal de parto.

HEMORRAGIA PÓS-PARTO

Conceito
A hemorragia pós-parto ou puerperal ocorre quando a paciente perde mais de
500 ml de sangue durante ou após o terceiro estágio do trabalho de parto. A perda
sanguínea costuma ser subestimada por ocasião do parto, tendo em vista que é difí-
cil realizar uma determinação exata; em geral, a perda real é duas vezes maior do
que a estimada.
Os vasos maternos que permeiam a musculatura uterina es-
tão aumentados durante a gestação. Quando a placenta se separa,
muitos vasos da decídua são desnudados. Normalmente, a contra-
ção da musculatura uterina comprime esses vasos controlando a
hemorragia. Alguns fatores impedem a eficiência dessas contrações,
tais como retenção placentária, útero hiperdistendido, amniosite ou
algumas drogas (...). Além destes fatores, a hemorragia pós-parto
pode ocorrer por traumatismos pélvicos ou sutura inadequada da e-
pisiotomia (NEME, 2000).
31

Classificação
A hemorragia puerperal pode ser precoce ou tardia. A hemorragia puerperal
precoce ou primária ocorre nas primeiras 24 horas após o parto. A hemorragia tardia
ou secundária (ou ainda retardada) desenvolve-se dois dias a seis semanas após o
parto.
As seqüelas potenciais da hemorragia puerperal são reações transfusionais,
hepatite e insuficiência renal devida à hipotensão prolongada. Em casos raros, as
pacientes que se recuperam de hemorragias puerperais graves sofrem necrose do
lobo anterior da hipófise (síndrome de Sheehan).

Fatores Predisponentes
Objetivando prever a possibilidade de hemorragia puerperal, deve-se estar
atento para os seguintes fatores predisponentes de hemorragia puerperal:
o Parto cesáreo
o Parto a fórceps ou rotação por fórceps intermediário
o Hematoma
o História de hemorragia puerperal e atonia uterina
o Manipulação intra-uterina
o Lacerações do canal de parto
o Remoção manual da placenta
o Multiparidade
o Hiperdistensão do útero, como no recém-nascido grande, na gestação múl-
tipla e no poliidrâmnio
o Potencialização ou indução com ocitocina
o Hipertensão induzida pela gravidez
o Uso do sulfato de magnésio durante o trabalho de parto
o Desprendimento prematuro da placenta
o Anemia pré-natal
o Trabalho de parto prolongado
o Trabalho de parto rápido ou nascimento acelerado
o Retenção de fragmentos placentários
o Inversão uterina
o Subinvolução uterina
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Incidência
Sendo a principal causa de mortalidade materna nos países em desenvolvi-
mento, a sua incidência é de 13% a 18%.

Etiologia
Qualquer condição que provoque traumatismo durante o nascimento do bebê
pode causar hemorragia puerperal. As causas mais comuns são atonia uterina, lace-
rações da vagina, cérvice, períneo ou lábios vaginais e retenção de fragmentos pla-
centários.
Atonia uterina – Essa condição pode ser devida ao crescimento excessivo
do útero causado pelo hidrâmnio, por uma gestação múltipla ou pelo nascimento de
um recém-nascido muito grande. À medida que o útero cresce, suas fibras muscula-
res tomam-se excessivamente estiradas e não podem contrair-se eficazmente para
comprimir os vasos sanguíneos; assim, o útero continua a sangrar, levando a uma
hemorragia.
Outras causas da atonia uterina são trabalho de parto prolongado ou acelera-
do, anestesia geral ou administração do sulfato de magnésio. Além disso, a paciente
com história de hemorragia puerperal tem risco maior de desenvolver atonia uterina.
Lacerações – As lacerações da vagina, da cérvice, do períneo ou dos lábios
vaginais podem causar hemorragia. A laceração cervical é particularmente perigosa
nesse sentido, tendo em vista o aumento da vascularização da cérvice durante a
gravidez e no período pós-parto imediato. As lacerações perineais e vaginais tam-
bém podem contribuir para a perda de sangue no período pós-parto. Contudo, essas
feridas têm mais tendência a causar lesões crônicas, devidas ao enfraquecimento
dos músculos perineais, e podem exigir uma cirurgia num período subseqüente.
Retenção de fragmentos placentários – Algumas vezes, os fragmentos pla-
centários retidos, que são a causa principal de hemorragia puerperal tardia, aderem
ao útero e causam hemorragia, impedindo a contração da musculatura uterina. Nas
pacientes com retenção placentária, toda a placenta permanece no útero, por pelo
menos 30 minutos após o segundo estágio do trabalho de parto.
Outras causas
A hemorragia puerperal também pode ser devida a várias outras causas.
33

Hematoma. Essa coleção de sangue extravasado forma-se quando o sangue


infiltra o tecido conjuntivo subcutâneo da genitália externa (hematoma vulvar) ou o
tecido conjuntivo sob a mucosa vaginal (hematoma vaginal).
Deiscência da episiotomia. A episiotomia pode sofrer deiscência em conse-
qüência de fatores como a pressão gerada por um hematoma vaginal. Além disso, a
paciente obesa ou diabética é mais suscetível à deiscência da episiotomia, tendo em
vista que essas condições dificultam a cicatrização.
Inversão uterina. Quando a superfície interna do útero virar para fora, a con-
seqüência imediata é hemorragia.
Subinvolução uterina. Atonia uterina, a retenção de fragmentos placentários
ou a endometrite puerperal pode causar essa complicação, na qual o útero não volta
ao seu tamanho e às suas condições pré-concepcionais após o parto.

Tratamento e Cuidados de Enfermagem


Na hemorragia pós-parto, o tratamento consiste na melhora da contratilidade
uterina que pode ser conseguida por massagem manual e por drogas ocitócicas.
O diagnóstico precoce e a intervenção imediata e rigorosa são fundamentais
para evitar as complicações graves da hemorragia. Nessa complicação pós-parto
deve ser priorizada a profilaxia, que é a melhor defesa.
Medidas profiláticas. A profilaxia da hemorragia depende da prevenção ou
do tratamento das causas subjacentes. Para detectar fragmentos placentários reti-
dos, a placenta expelida será inspecionada para confirmar sua integridade; caso fal-
tem pedaços, a exploração uterina estará justificada.
Após o desprendimento da placenta, prescreve-se um agente ocitócico para
evitar atonia uterina. Quando estiver administrando esse fármaco, o enfermeiro deve
monitorar os sinais vitais e as contrações uterinas a cada 15 minutos. A massagem
suave do útero ajuda a estimular as contrações uterinas. Caso a administração do
ocitócico e as massagens uterinas não consigam estimular as contrações, deve-se
realizar uma exploração cirúrgica para esvaziamento do útero.
Para evitar hemorragia causada por uma laceração cervical profunda, a lesão
deve ser suturada imediatamente. Contudo, a reparação perfeita é difícil, e algumas
vezes a sutura causa complicações adicionais, como eversão cervical e exposição
das glândulas endocervicais.
34

A perda sanguínea causada por um hematoma costuma ser subestimada e,


portanto, o enfermeiro deve preparar-se para a possibilidade de hemorragia numa
paciente com hematoma vulvar ou vaginal. Contudo, os hematomas pequenos cos-
tumam regredir naturalmente. Para evitar sangramento grave devido a um hemato-
ma, o médico pode fazer uma incisão e drenar a lesão. Como a limpeza cirúrgica
pode causar infecção, é imperativo o uso de técnica asséptica e ensinar à paciente
como realizar a higiene perineal, principalmente se tiver o diagnóstico de déficit de
conhecimento acerca da técnica asséptica e higiene perineal. É provável que um
antibiótico seja prescrito. Nesse procedimento, o médico deverá fazer uma incisão e
drenar a região para evitar hemorragia grave devida à deiscência ela episiotomia.
Caso a deiscência seja devida a uma infecção, o médico prescreverá antibióticos.
Técnica asséptica, trocas freqüentes elas compressas perineais e higiene cuidadosa
são fundamentais ao tratamento da deiscência.
Caso a paciente tenha desenvolvido inversão uterina, será necessário realizar
a recolocação manual imediata – e talvez reposição de sangue e reparação cirúrgica
– para salvar sua vida.
Para evitar a hemorragia devida à subinvolução uterina, o médico poderá
prescrever agentes ocitócicos para estimular a contração uterina ou aumentar o tô-
nus do útero. A curetagem pode ser realizada para retirar fragmentos placentários
retidos. Como a amamentação ao seio estimula as contrações uterinas, a paciente
deve ser estimulada a começar ou manter a amamentação, caso tenha preferido
esse método de alimentação do bebê.
Intervenções gerais. No cuidado de uma paciente com hemorragia puerpe-
ral, é importante realizar exames cuidadosos e freqüentes para detectar precoce-
mente alterações do estado geral. Os seguintes parâmetros devem ser monitorados
cuidadosamente:
o sinais vitais, incluindo-se as determinações da pressão venosa central
(PVC)
o estado do fundo do útero, quantidade e freqüência das massagens uterinas
aplicadas e quaisquer coágulos sanguíneos expelidos
o número e peso das compressas perineais utilizadas, grau de saturação e
tempo necessário para encher uma compressa
o quantidade, cor, consistência e odor dos lóquios
35

o ingestão hídrica e débito urinário de pelo menos 30 ml/hora, com freqüência


da monitoração determinada pelo protocolo do serviço.
Deve-se verificar o nível de consciência da paciente a intervalos freqüentes e
manter cuidadosamente a reposição hídrica, tendo em vista que a paciente terá o
diagnóstico de déficit de volume de líquido relacionado à hemorragia puerperal ativa.
Na administração de agentes ocitócicos, é importante verificar se verificar se os ca-
teteres IV estão permeáveis e documentar a eficácia do tratamento.
Além disso, deve-se anotar os valores da PVC e, quando necessário, realizar
a manutenção desse parâmetro hemodinâmico. Quando for prescrito, realizar a
classificação sanguínea com prova cruzada antes de uma transfusão ou cirurgia.
Como essa paciente tem o diagnóstico de enfermagem de perfusão tissular periféri-
ca alterada relacionada à hipovolemia, deve-se estar esteja preparado para imple-
mentar as seguintes medidas:
o Aumentar a taxa da infusão IV em andamento, ou iniciá-Ia para ampliar o
volume sanguíneo circulante, conforme a prescrição.
o Ajudar a instalar um cateter para PVC, quando for necessário.
o Administrar um agente ocitócico conforme a prescrição e avaliar a eficácia
desse tratamento.
o Administrar oxigênio suplementar a 6l/minuto ou de acordo com a prescri-
ção.
o Passar um cateter urinário, quando for prescrito.
o Abaixar a cabeceira da cama (em geral para a posição de Trendelenburg) e
colocar a paciente na posição supina.
o Monitorar sinais vitais, débito urinário, sangramento e condições gerais da
paciente.
o Massagear o fundo do útero suave, mas firmemente.
o Coletar sangue para hemograma completo, tipo sanguíneo e prova cruzada
antes de uma provável transfusão, de acordo com a prescrição.
o Monitorar os sinais vitais a cada cinco a 15 minutos.
o Oferecer explicações simples e apropriadas à paciente, visando atenuar sua
ansiedade.
o Manter a contagem das compressas perineais aplicadas e documentar o
grau e o tempo de saturação.
36

INFECÇÃO PUERPERAL

Conceito
Define-se como uma infecção do trato genital que se desenvolve no período
pós-parto.
O trabalho de parto e o nascimento do bebê reduzem a resistência à infecção
causada por bactérias encontradas normalmente no corpo. As infecções puerperais
costumam ser devidas às bactérias como estreptococos beta-hemolíticos, estafiloco-
cos, coliformes e vários outros microrganismos. É fundamental que o enfermeiro re-
conheça a possibilidade de que a paciente possa morrer devido a essas infecções.
Além disso, deve saber que medidas profiláticas, incluindo-se as técnicas cuidado-
sas ao lavar as mãos e a orientação da gestante, podem reduzir sobremaneira a in-
cidência das infecções puerperais. A técnica estéril também deve ser usada, quando
houver indicação. Por outro lado, o enfermeiro também deve estar familiarizado com
os sinais e sintomas dessas infecções, para que possa avisar o médico ou o(a) en-
fermeiro(a)-obstetra nas fases iniciais do processo infeccioso e possibilitar a adoção
das medidas oportunas.
A duração do trabalho de parto, a ruptura das membranas, a quantidade de
exames vaginais e a intensidade das manipulações intra-uterinas são diretamente
proporcionais à incidência das infecções. Portanto, a equipe de saúde deve ser rigo-
rosa quanto às técnicas assépticas e à lavagem das mãos quando entrar em contato
com a paciente nos períodos do trabalho de parto, no nascimento e no puerpério.

Classificação e Etiologia
As infecções puerperais desenvolvem-se num local específico (ou lesão) ou
podem estender-se por outros órgãos. Quando houver uma lesão localizada, a in-
fecção limita-se à região infectada inicialmente. A vagina e a cérvice, um hematoma,
a episiotomia e qualquer laceração da vulva, vagina ou períneo são portas de entra-
da potenciais para os microrganismos patogênicos. Uma incisão também pode ser a
fonte da infecção, e a taxa de mortalidade por infecção puerperal é muito maior após
partos cesáreos do que depois de partos vaginais. Alguns estudos demonstraram
que o nível socioeconômico e o uso (ou não) de antibióticos produzem efeitos signi-
ficativos sobre o número de óbitos matemos associados às infecções puerperais.
37

A ampliação da lesão original ocorre quando uma infecção localizada se es-


palha para outras áreas através dos vasos sanguíneos ou linfáticos, acarretando
infecções como salpingite, parametrite, peritonite ou tromboflebite.

Infecções das feridas localizadas


As infecções localizadas podem originar-se de uma ferida interna ou externa.
Quando houver infecção de uma ferida externa, como a episiotomia, as bordas a-
proximadas da lesão tomam-se edemaciadas e afastam-se; em seguida, há drena-
gem de secreção purulenta e possivelmente sanguinolenta da lesão. As feridas in-
ternas, como a laceração vaginal, podem ser infectadas diretamente ou por dissemi-
nação de um foco infeccioso do períneo. Nesse caso, a mucosa vaginal toma-se e-
demaciada e vermelha e, em seguida, há necrose e descamação. A infecção cervi-
cal, que costuma desenvolver-se a partir de uma laceração da cérvice, pode ser o
foco inicial de um processo infeccioso à distância.
Endometrite – Após a expulsão da placenta, o local de implantação placentá-
ria mede menos de 2 mm de largura, contém alguns orifícios pequenos e está infil-
trado com sangue, tomando-o altamente suscetível à penetração bacteriana. A decí-
dua remanescente também é vulnerável às bactérias. A infecção resultante (endo-
metrite) pode envolver toda a mucosa e, algumas vezes, impede a involução uterina.
Salpingite – Essa infecção, que costuma ser causada pelos gonococos, de-
senvolve-se após a disseminação das bactérias dentro da luz das tubas uterinas.
Em geral, essa complicação é evidenciada na segunda semana do período pós-
parto.
Parametrite – Essa infecção, conhecida também como celulite pélvica, envol-
ve o tecido conjuntivo pélvico fibroareolar retroperitoneal; os casos graves podem
acometer os tecidos conjuntivos de todas as estruturas pélvicas. A disseminação
ocorre pelos vasos linfáticos provenientes de uma laceração cervical infectada ou de
uma incisão ou laceração uterina. Contudo, em alguns casos a parametrite é devida
à ascensão de uma infecção que começou numa laceração cervical.
Peritonite – Essa infecção do peritônio tem o mesmo mecanismo da parame-
trite. A peritonite generalizada é uma ameaça grave à vida da paciente; as alças in-
testinais podem ficar grudadas umas às outras pelo exsudato purulento, e algumas
pacientes desenvolvem abscessos em várias localizações pélvicas, reduzindo a ati-
vidade peristáltica e levando ao bloqueio intestinal potencial.
38

Tromboflebite – Essa inflamação venosa ocorre quando uma infecção puer-


peral se espalha pelas veias. Na tromboflebite, forma-se um coágulo ou trombo que
adere à parede do vaso. Essa condição é conhecida como tromboflebite pélvica,
quando envolve as veias uterinas e ovarianas, e como tromboflebite femoral, quando
acomete as veias femorais, poplíteas ou safenas.
Choque séptico (bacteriêmico) – Parametrite, peritonite ou tromboflebite
pode causar infecção sistêmica da corrente sanguínea, resultando em choque bacte-
riêmico, cuja causa mais freqüente são as bactérias Gram-negativas. Nessa condi-
ção, a resistência vascular diminui e provoca uma queda profunda da pressão arteri-
al com perigo de morte iminente.
Na síndrome do choque tóxico, que é um tipo de choque bacteriêmico, o Sta-
phylococcus aureus invade a corrente sanguínea pela microcirculação ou pequenas
abrasões da mucosa vaginal ou cervical. Como as lacerações vaginais e cervicais
são comuns durante o parto vaginal, a paciente tem risco maior de desenvolver a
síndrome do choque tóxico no período pós-parto.

Fatores de risco
Torna-se imprescindível estar atento para os sinais e sintomas de infecção
numa paciente puérpera que tiver qualquer um dos fatores de risco relacionados a
seguir:
Fatores de risco pré-natais
o Anemia
o História de trombose venosa
o Falta de assistência pré-natal
o Nutrição precária
o História de infecção vaginal ou cervical ou doença sexualmente transmissí-
vel não tratada
Fatores de risco intraparto
o Parto cesáreo
o Corioamnionite
o Episiotomia; lacerações perineais ou vaginais
o Parto a fórceps
o Ruptura prolongada das membranas
39

o Vários exames vaginais durante o trabalho de parto, principalmente quando


as membranas estiverem rotas
o Monitoração fetal intra-uterina
o Cuidados perineais inadequados ou falhas da técnica asséptica
Fatores de risco pós-parto
o Controle inadequado das infecções
o Hemorragia puerperal
o Retenção de fragmentos placentários
o Técnica inadequada de lavagem das mãos

Incidência
Durante muitos anos, a infecção puerperal foi uma das causas principais de
morbidade e mortalidade maternas em todo o mundo. Sua incidência é de 1% a 8%.
Quando analisados separadamente, o parto vaginal e a cesariana mostram variação
quando à incidência: 1 e 3% em média, respectivamente. No Brasil, o principal fator
de risco para a infecção atualmente é a cirurgia de cesariana, devido à secção e ex-
posição de vasos, à necrose local por trauma cirúrgico e a contaminação cavitária
por sangue e líquido amniótico. Nosso país tem a maior incidência no mundo de par-
tos cesarianos, o que só faz aumentar o número de novos casos de infecção puer-
peral.

Tratamento e Cuidados de Enfermagem


É importante revisar a história da paciente para detectar fatores de risco. Co-
mo a infecção puerperal está associada à elevação da temperatura, verificar os si-
nais vitais a intervalos regulares. Assim, deve-se suspeitar de uma infecção caso a
paciente tenha temperatura patológica (elevação acima de 38°C em dois dias segui-
dos após o parto, com exceção das primeiras 24 horas, medida por via oral ou axilar
ao menos quatro vezes ao dia). Contudo, é comum haver febre baixa nas primeiras
24 horas após o parto que costuma ser devida à desidratação.
Quaisquer queixas de calafrios, mal-estar ou dor ou desconforto generalizado
devem ser anotadas, porque esses são sinais e sintomas comuns de infecção. Itens
que deverão ser avaliados e examinados: o tônus uterino e a altura do fundo do úte-
ro, além do fluxo loquial, anotando sua quantidade, cor, consistência e odor. Além
40

disso, deve-se obter informações relativas aos padrões de sono e repouso e às con-
dições de hidratação e nutrição da paciente.
Os resultados laboratoriais devem ser documentados. Caso haja infecção,
esses exames em geral demonstram elevação da contagem dos leucócitos e au-
mento da velocidade de hemossedimentação. As culturas de sangue e secreção va-
ginal podem ser realizadas para isolar o agente etiológico; contudo, esse isolamento
costuma ser difícil, porque a cultura de sangue ou material vaginal pode ser conta-
minada.
Infecção localizada da ferida – Examine a paciente para detectar áreas lo-
calizadas de edema, eritema e hiperestesia; secreção purulenta; afastamento das
bordas da ferida e disúria. Deve-se ficar atento para as queixas de dor numa área
específica. A avaliação dos lóquios pode ser importante; por exemplo, numa pacien-
te com infecção localizada da episiotomia, os lóquios podem ter odor fétido e colora-
ção amarelada. Observe a cor, a quantidade, a consistência e o odor dos lóquios.
Endometrite
Verifique se a paciente tem febre (que pode ser baixa ou chegar a 39,4°C),
mal-estar, letargia, anorexia, calafrios, pulso rápido, dor abdominal baixa ou hiperes-
tesia uterina e cólicas puerperais intensas. Os lóquios podem ser normais ou ter o-
dor fétido, escassos ou profusos e sanguinolentos ou serossanguinolentos e casta-
nhos.
Salpingite
Os sinais e sintomas da salpingite são febre com calafrios, aumento da velo-
cidade de hemossedimentação e presença simultânea de dor abdominal baixa com
ou sem hiperestesia de rebote, hiperestesia à mobilização da cérvice e hiperestesia
anexial. Em geral a existência de secreção vaginal não é considerada no diagnóstico
da salpingite.
Parametrite
Além dos sinais e sintomas da endometrite, essa condição pode causar febre
persistente e prolongada e hiperestesia em um ou em ambos os lados do abdome.
Peritonite
O quadro clínico da peritonite também se assemelha ao da endometrite. Ou-
tras anormalidades possíveis são vômitos, diarréia, ansiedade, taquicardia, respira-
ções superficiais e distensão intestinal. Verifique também se o abdome tem defesa,
rigidez e hiperestesia de rebote.
41

Tromboflebite
Avalie a existência de hiperestesia, calor e rubor no segmento de uma veia.
Tente provocar o sinal de Homans. Verifique se há febre baixa e um aumento discre-
to da freqüência do pulso.
Choque séptico
Na paciente com infecção suspeita ou comprovada, deve-se ficar atento aos
sinais de febre, confusão, náuseas, calafrios, vômitos e hiperventilação. Nas fases
iniciais do choque, as determinações da gasometria arterial costumam indicar alca-
lose respiratória. Mais tarde, a paciente torna-se apreensiva, inquieta, irritável, se-
denta, ruborizada e apresenta taquicardia, taquipnéia, hipotermia e anúria. Os resul-
tados da gasometria arterial podem indicar progressão para acidose metabólica com
hipoxemia.
Além da análise da gasometria arterial, o médico solicitará vários exames pa-
ra confirmar o diagnóstico e orientar o tratamento – exames hematológicos, leuco-
metria, dosagens da uréia e creatinina séricas, pressão venosa central, pressões
arterial e capilar pulmonar em cunha e monitoração hemodinâmica.

Implementação das intervenções de enfermagem


Para a paciente com o diagnóstico de enfermagem de risco de infecção rela-
cionado à ruptura da pele ou ao traumatismo dos tecidos, a profilaxia é a melhor in-
tervenção. A técnica asséptica cuidadosa, principalmente a lavagem rigorosa das
mãos, é fundamental. Qualquer alteração do estado da paciente deve ser notificada
e documentada.
Para evitar a contaminação cruzada das pacientes, certifique-se de que cada
paciente tenha seus próprios utensílios sanitários e que os objetos não-descartáveis
sejam lavados após cada uso. Monitore os sinais vitais da paciente. Ensine à paci-
ente a técnica correta da lavagem das mãos e também as técnicas que ajudam a
evitar a disseminação das infecções. Para evitar a contaminação da vagina pejas
bactérias presentes no reto, oriente a paciente a fazer um movimento da frente para
trás, quando estiver colocando os absorventes perineais e ao lavar as regiões da
vulva e do períneo. Observe o grau de saturação do absorvente perineal e o tempo
necessário para encher cada absorvente. Se for necessário, observe também o as-
pecto da área afetada.
42

Para a paciente com infecção diagnosticada, é necessário estar preparado


para administrar agentes antimicrobianos e antipiréticos. O médico ou o(a) enfermei-
ro(a)-obstetra escolherão um antibiótico com base na localização e na gravidade da
infecção, no agente etiológico e nas condições fisiológicas da paciente. Em geral, a
abordagem terapêutica escolhida é agressiva, com preferência aos antibióticos de
espectro amplo. Algumas pacientes precisam receber antibióticos IV e orais combi-
nados.
O médico também pode prescrever analgésicos para atenuar o mal-estar ge-
neralizado, a cefaléia e dor lombar. Quando houver infecção localizada de uma feri-
da, o médico pode fazer uma incisão na área infectada ou retirar as suturas para
facilitar a drenagem.
As ações de enfermagem independentes para a paciente com infecção puer-
peral devem enfatizar a atenuação dos sinais e sintomas e o atendimento das ne-
cessidades psicossociais da paciente. Assim, pode-se implementar medidas visando
aumentar o conforto, assegurar repouso adequado e proporcionar um ambiente
tranqüilo e relaxado para atenuar o mal-estar. Para facilitar a cicatrização, recomen-
de banhos de assento de acordo com a prescrição. Ensine à paciente como limpar e
trocar os curativos aplicados na região infectada e como retirar e colocar os absor-
ventes perineais adequadamente. Além disso, certifique-se de que a ingestão hídrica
da paciente seja de dois litros por dia. Permita que a mãe e o recém-nascido pas-
sem o maior tempo possível juntos. Caso a paciente tenha o diagnóstico de enfer-
magem de déficit de conhecimento acerca da etiologia e do tratamento da complica-
ção puerperal, esclareça sua condição e seu tratamento à paciente e sua família e
proporcione apoio emocional e encorajamento. Estimule a paciente e sua família a
expressar seus sentimentos, como forma de ajudá-Ios a enfrentar a ansiedade e o
desânimo.

MASTITE
Conceito
As mamas têm papel fundamental no período puerperal. Assim, também es-
tão sujeitas a intercorrências que merecem atenção pelo enfermeiro. Uma delas é a
mastite.
É um processo inflamatório ou infeccioso que pode ocorrer na mama
lactante, habitualmente a partir da segunda semana após o parto.
43

Geralmente, é unilateral e pode ser conseqüente a um ingurgitamen-


to indevidamente tratado (BRASIL, 2005, p. 87).
Os sinais e sintomas da mastite não costumam ocorrer antes da segunda ou
terceira semana após o parto. Uma região da mama toma-se endurecida, dolorosa,
avermelhada e quente; em alguns casos, os gânglios linfáticos regionais aumentam.
A paciente refere calafrios, mal-estar, cefaléia, náuseas e dores articulares. Nos ca-
sos típicos, a temperatura oscila entre 38,8 e 40°C. A cultura do leite de peito ou do
material retirado da faringe do recém-nascido isola o agente etiológico; aumento da
contagem dos leucócitos e contagens bacterianas altas indicam mastite infecciosa.

Classificação
Segundo Neto (2006), quanto a sua localização as mastites podem ser (crité-
rios de Vinha):
o Mastite lobar: acomete uma região ou lóbulo. É o tipo mais freqüente.
o Mastite ampolar: acomete parte ou toda a aréola.
o Mastite glandular: toda glândula mamária é afetada.

Fatores Predisponentes
Existem fatores predisponentes para o aparecimento destas lesões:
Fatores gerais: cansaço por excesso de tarefas, estresse psicológico, tempo
de sono reduzido, levam a diminuição do estado imunológico.
Fatores locais: ingurgitamento mamário, fissuras e ducto bloqueado. As fissu-
ras são a principal causa de mastite por apresentarem solução de continuidade, ser-
vem como porta de entrada para germes.

Etiologia e incidência
Essa inflamação da mama, que ocorre em 2 a 6% das mulheres que ama-
mentam ao seio (em especial as primigestas), envolve os tecidos em torno do mami-
lo e, algumas vezes, também o tecido conjuntivo periglandular. A causa mais comum
é a infecção pela bactéria Staphylococcus aureus; outros agentes etiológicos são
estreptococos beta-hemolíticos, Haemophilus influenzae, H. parainfluenzae, Esche-
richia coli e Klebsiella pneumoniae. Embora nem sempre isso ocorra, o agente pato-
gênico costuma penetrar por uma rachadura ou abrasão do mamilo. A amamentação
44

freqüente e as mudanças da posição do lactente durante as mamadas ajudam a evi-


tar a mastite.

Tratamento e Cuidados de Enfermagem


Como essa infecção costuma ser diagnosticada após a alta, a paciente preci-
sa ser orientada sobre como evitar e detectar a mastite, ao prepará-Ia para a alta. A
primeira linha de defesa contra a mastite é evitar a rachadura dos mamilos. Assim, a
paciente é aconselhada a não usar sabão ou álcool para limpar os mamilos, tendo
em vista que essas substâncias produzem um efeito desidratante. Em vez disso,
recomenda-se a utilização de água comum, deixando que os mamilos sequem ao ar
livre e aplicando-se em seguida um creme mamário que não contenha lanolina. Para
evitar a tensão excessiva dos tecidos, é importante orientar a mãe a retirar cuidado-
samente o bebê das suas mamas ao final de cada mamada. A mastite também pode
ser devida ao bloqueio dos ductos lactíferos e à estase subseqüente do leite, fato
pelo qual deve-se aconselhe a paciente a amamentar freqüentemente (segurando o
recém-nascido em várias posições das suas mamas, para esvaziar por completo
cada uma das mamas) e a entrar em contato com o médico ou a enfermeira-
obstetra, caso as mamas fiquem muito congestionadas.
O tratamento da mastite inclui um ciclo completo de antibióticos específicos
para o agente etiológico, repouso ao leito por pelo menos 48 horas, monitoração
cuidadosa e orientação da paciente.
Caso não seja tratada, a infecção da mama pode evoluir para abscesso, que
precisa ser drenado, ou até mesmo septicemia. Contudo, mesmo após a cirurgia a
paciente em geral pode continuar amamentando ao seio, sem quaisquer efeitos pre-
judiciais. Entretanto, a paciente deve ser ensinada como colocar a boca do bebê
cuidadosamente no mamilo. Caso a amamentação esteja contra-indicada no período
pós-operatório, é aconselhável a paciente a retirar o leite das mamas com uma
bomba até que a amamentação possa ser reiniciada. Isso evita o diagnóstico de en-
fermagem de amamentação ineficaz relacionada à alteração dos horários das ma-
madas ou impossibilidade de iniciar a amamentação.
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LESÃO NO CANAL DE PARTO

Conceito
Algumas pacientes sofrem lacerações da vagina e da cérvice durante o nas-
cimento do bebê. Além disso, o trabalho de parto e o nascimento comumente cau-
sam alterações da posição das estruturas pélvicas.

Classificação e Etiologia
As lesões do canal de parto são lacerações vaginais e perineais, lacerações
cervicais, lesões do músculo elevador do ânus, lesões das articulações pélvicas,
relaxamento pélvico e fístulas.
Lacerações vaginais e perineais – As lacerações do segmento anterior da
vagina, próximo à uretra, são relativamente comuns durante o parto. Em geral, es-
sas lesões são acompanhadas de lacerações do períneo; uma laceração perineal
profunda pode envolver o esfíncter anal e estender-se pelas paredes vaginais. As
lacerações dos terços médio e superior da vagina, que são menos comuns do que
as lacerações anteriores, costumam ser devidas ao parto a fórceps e podem causar
sangramento copioso.
Lacerações cervicais – As lacerações cervicais de até 2 cm de comprimento
são comuns durante o nascimento do bebê. Comumente, essas lesões cicatrizam
sem intercorrências dentro de seis a 12 semanas e não causam complicações adi-
cionais; contudo, o orifício externo fica permanentemente alongado.
As lacerações cervicais profundas, que em alguns casos resultam do trabalho
de parto acelerado, podem causar hemorragia grave devida à vascularização abun-
dante da cérvice e à fragilidade dos tecidos adjacentes. A laceração pode envolver
um ou ambos os lados da cérvice, algumas vezes chegando ou até passando da
junção vaginal.
Lesões do músculo elevador do ânus – O elevador do ânus é um músculo
duplo que atravessa o arco púbico e o diafragma pélvico, sustentando o assoalho
perineal. A lesão desse músculo se deve à hiperdistensão do canal de parto; por sua
vez, isso pode levar à separação ou à redução do tônus das fibras musculares. Con-
seqüentemente, a pelve torna-se relaxada e a paciente pode ter incontinência uriná-
ria, caso o músculo pubococcígeo também seja envolvido.
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Lesões das articulações pélvicas – A imobilidade pélvica e a lesão articular


subseqüente podem ocorrer caso as pernas da paciente fiquem mal posicionadas
durante o nascimento do bebê ou se permanecerem apoiadas nos estribos por um
período longo.
Relaxamento pélvico – O exagero do relaxamento normal das estruturas de
sustentação da pelve durante o nascimento do bebê pode deslocar o útero e outras
estruturas pélvicas. Existem vários graus de prolapso uterino. No prolapso brando, a
cérvice desce abaixo da sua posição normal no canal de parto; no prolapso modera-
do, a cérvice chega ao intróito vaginal; e no prolapso grave, todo o útero sai pela
vagina.
Em alguns casos, o prolapso uterino acompanha-se de enterocele (prolapso
do intestino pela parede vaginal posterior), cistocele (prolapso da bexiga pela parede
vaginal anterior) e uretrocele (prolapso da uretra pela parede vaginal anterior). A
combinação de cistocele grave com prolapso uterino pode causar obstrução do
segmento distal do ureter, levando à hidronefrose e à disfunção renal.
Fístulas – As fístulas (ou trajetos anormais) podem ser vesicovaginais ou re-
tovaginais e ocorrem após um parto traumático. A fístula vesicovaginal é uma comu-
nicação entre a vagina e o trato urinário, pela qual a urina passa involuntariamente e
drena pela vagina. A fístula retovaginal é uma comunicação entre o reto e a vagina,
pela qual os flatos e as fezes podem sair involuntariamente pela vagina. Esse tipo de
fístula costuma ser produzido pela reparação ineficaz da episiotomia ou laceração.
Embora uma parte do esfíncter anal cicatrize após a sutura, a região situada acima
do esfíncter pode romper-se.

Fatores de risco para lesões no canal de parto


As lesões do canal de parto podem causar grande variedade de sinais e sin-
tomas. Essas complicações devem ser detectadas imediatamente, para evitar pro-
blemas adicionais. Deve-se revisar a história da paciente, principalmente os prontuá-
rios intraparto, para detectar os seguintes fatores de risco:
o trabalho de parto prolongado com descida protraída
o macrossomia fetal
o apresentação fetal anormal
o parto cesáreo, a fórceps, com versão ou extração a vácuo
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o história pregressa de cesariana, parto traumático, cirurgia uterina ou hemor-


ragia puerperal
o retroversão ou anomalia uterina
Outros fatores fundamentais que precisam ser avaliados são a quantidade e a
cor do sangramento vaginal, o nível de consciência da paciente, as expressões sub-
jetivas de bem-estar, os sinais vitais e seus padrões e a altura e o tônus do fundo do
útero. É importante, além disso, ficar atento aos sinais de choque iminente.

Tratamento e Cuidados de Enfermagem


Todas as lesões do canal de parto podem causar fadiga e estresse. Portanto,
o enfermeiro deve concentrar os procedimentos de enfermagem em períodos deter-
minados, visando promover o repouso e o sono. Avalie a altura do fundo do útero e
o tônus uterino. Além disso, ajude a paciente a participar de sua recuperação na
medida das suas possibilidades. Para ajudar a evitar o diagnóstico de enfermagem
de disfunção sexual relacionada com a alteração de uma estrutura corporal secun-
dária a uma lesão do canal de parto, ensine à paciente sobre como realizar os exer-
cícios de Kegel para reforçar os músculos do assoalho pélvico.
Dependendo de sua localização e dimensão, algumas lacerações vaginais e
perineais cicatrizam espontaneamente. Para a paciente com o diagnóstico de en-
fermagem de dor relacionada à lesão do canal de parto, o enfermeiro deve oferecer
medidas de atenuação da dor e ensiná-Ia a controlar a dor fazendo uso de banhos
de assento, usando medicamentos tópicos ou orais e distraindo-se. Avalie a região
perineal e anote o aspecto da lesão, assim como as queixas da paciente.
Caso a paciente tenha dificuldade de urinar, passe um cateter de demora con-
forme a prescrição, até que o processo de cicatrização comece.
As lacerações vaginais ou perineais amplas que sangram profusamente de-
vem ser suturadas, assim como as lacerações cervicais profundas. Em virtude de
sua localização, as lacerações dos lábios vaginais são difíceis de suturar e causam
grande desconforto durante o processo de cicatrização.
Quando houver lesão do músculo elevador do ânus, as intervenções terapêu-
ticas médicas e de enfermagem variam de acordo com a gravidade da lesão e com o
impacto emocional para a paciente e sua família. Em alguns casos é necessário rea-
lizar cirurgia; em outros a lesão cicatriza espontaneamente.
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Para as pacientes com prolapso uterino, o médico reposiciona manualmente o


útero na pelve e pode introduzir um pessário para elevá-lo e sustentar os ligamen-
tos. Em geral, o médico introduz o pessário inicialmente; em seguida, a paciente reti-
ra-o antes de deitar-se e recoloca-o todas as manhãs. Ensine à paciente como intro-
duzir o pessário corretamente e como lavá-lo com uma solução anti-séptica suave e
enxaguá-lo abundantemente, antes de sua reintrodução, sempre com as mãos lim-
pas.
Para as pacientes com fístulas vesicovaginais, o médico tentará realizar uma
reparação cirúrgica. Após a cirurgia, a bexiga deverá ser drenada por um cateter de
demora por 10 dias. Caso a reparação cirúrgica não seja possível, o médico pres-
creverá drenagem vesical contínua, tendo em vista que o fechamento espontâneo
da fístula ocorre em alguns casos. No caso das fístulas retovaginais, o tratamento
inclui intervenção cirúrgica e antibióticos. Como essa paciente pode ter o diagnóstico
de enfermagem de distúrbio da imagem corporal relacionado a uma lesão do canal
de parto, o profissional de enfermagem deve oferecer-lhe apoio emocional. A elimi-
nação de urina ou fezes por uma fístula pode tornar esse tipo de lesão particular-
mente estressante para a paciente. Monitore sua função intestinal, inclusive a pre-
sença ou ausência dos ruídos peristálticos e as evacuações. Certifique-se de anotar
as intervenções de enfermagem e educativas, incluindo-se as medidas de conforto
usadas e sua eficácia.
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CONCLUSÃO

Nesse trabalho vimos que o puerpério representa, além de um processo com-


plexo de voltar aos parâmetros iniciais da fisiologia da mulher, um período marcado
de grandes possibilidades de complicações e transformações cujas conseqüências
poderiam durar o resto da vida.
O puerpério é o momento em que o organismo materno começa a voltar à
“normalidade” e nesse momento é importante o conceito de involução – onde os
órgãos que participaram no desenvolvimento da gestação regridem, voltando às su-
as características de antes da gravidez. O processo não é passivo, implicando trans-
formações de várias intensidades e produzindo, por vezes, desequilíbrios no bem-
estar da puérpera. Reside aí a importância da enfermagem na recuperação materna,
na medida em que pode identificar e cuidar da forma adequada as complicações que
possam surgir.
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REFERÊNCIAS

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rique Cosendey. 2.ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2000.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de A-


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partum hemorrhage: a comprehensive guide to evaluation, management and surgical
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