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Ser em tempos de não ser .

Fábio Teixeira

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Produção Gráfica:
Marcelo Belchior
Revisão:
Evilmerodac Domingos da Silva
Impressão e Acabamento:
Gráfica e Editora Visuana RJ

©2010, Fabio Teixeira Rebôla


1º Edição
Todos os direitos reservados pelo autor
www.menteiluminada.blogspot.com | prfabio@bol.com.br
Distribuição e vendas: (21) 3457.6074

Teixeira, Fabio
Ser em tempos de não ser - Evangelicalismo e pós-modernidade
Rio de Janeiro, 2010 - Edição do autor - 80p
ISBN: 978-85-911667-0-1
Inclui bibliografia

Proibida a reprodução por quaisquer meios,


salvo em breve citações, com indicação de fonte.

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À minha esposa,
grande incentivadora de tudo que faço.
Aos meus filhos,
que são sempre um novo motivo para continuar.
Aos meus pais,
por tudo que representam.
A todos os que lutam pela edificação do
Reino de Deus e não pelo seu próprio reino.
Aos meus irmãos que se encontraram
um dia no Espaço Betel,
o amor de vocês também me constrange,
vocês acreditaram.
Aos manos queridos Marcelo e Mero pela correção.

A todos, meu muito obrigado.

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prefácio
Vivemos um momento onde verdades, até então abso-
lutas, se esvaem pelos dedos e se transformam em mais
uma opinião em meio a uma infinidade de pensamen-
tos à disposição do homem que busca respostas. Como
alguém que entra em um supermercado em busca de
um bem de consumo, e leva para casa aquele que mais
lhe agradar e que couber no orçamento – cônscio de
que se não ficar satisfeito, poderá trocar de fornecedor
em uma próxima compra –, tornamos o evangelho em
mais uma opção, mais um caminho junto a tantos ou-
tros, e cada dia mais outros surgem, trazendo mais con-
fusão que efetivamente gerando respostas ao coração
do ser humano.

A cultura capitalista, do lucro a qualquer preço, do


“cada um na sua”, do olhar somente “para o próprio
umbigo”, do egoísmo mascarado sob a desculpa de
estar priorizando o que é seu, rege o mundo dos negó-
cios, todavia, quando observamos atentamente, conclu-
ímos que o “mundo dos negócios” é o próprio viver
do ser humano, e que, tendo em vista só termos uma
vida, a filosofia do capital se infiltrou por completo no
caminhar do homem, da família, das escolas, igrejas
ou qualquer outro tipo de instituição ou grupo, que
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vivem loucamente na alta velocidade das transforma-


ções de um mundo globalizado.

A instituição que comumente denominamos “igre-


ja”, e que teoricamente possuía a missão de trazer ao
mundo a mensagem da boa nova, o evangelho, que
tinha como tarefa anunciar a graça de Deus frente a
um mundo sem boas notícias, não somente se cala,
mas torna-se mais um algoz a se aproveitar do fraco e
a ferir quem já entrou pela porta desfalecendo. O líder
eclesiástico, que recebeu a missão de tratar feridas,
ajudar o necessitado, abraçar ao rejeitado, passou a
ser intocável, digno de honras e méritos, inquestioná-
vel, transformando o amor do trabalho ministerial em
um pífio e mesquinho “plano de carreira” espiritual. A
igreja se distanciou da Igreja.

Deus, tão citado pela teologia como imutável, como


aquele que jamais volta atrás e que possui amor in-
condicional, hoje é apresentado em várias faces. Sim,
dependendo da denominação em que você entrar,
alguém lhe mostrará um deus exclusivo, moldado
por pensamentos humanos, por gente que acha que
“descobriu a pólvora” e que ensinará a forma correta
de ver o Pai. Pensando em Pai, amor paternal quase
já não se encontra mais, afinal, pai ama seus filhos
pelo simples fato de serem seus filhos. Ele corrige,
sim, quando necessário, todavia, seu olhar, seu co-
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Prefácio

ração, é sempre daquele que anseia por ver o filho


bem, é aquele que vê o filho cair e imediatamente
toma a postura do “socorro bem presente”. Jamais um
pai de verdade assumiria a posição do acusador, do
que aguarda pelo erro, só pelo prazer da correção. A
função de acusação é de outra pessoa, não do Deus
imutável citado nas páginas bíblicas.

Mudanças não ocorrem de um dia para o outro, o pro-


cesso é lento, nos envolvemos dia a dia; gerações vão
se desviando sem mesmo notarem o que está ocorren-
do nos bastidores. É fato que a intenção de todo ar-
queiro é acertar o alvo, todavia, um olhar errado, um
vento diferente, um simples deslocamento do arco,
faz desviar o trajeto da fecha, que acaba fincando dis-
tante de seu objetivo.

‘Ser em tempos de não ser’ é uma simples, no entanto,


fantástica visão destas mudanças que ocorreram nos últi-
mos séculos. Alterações que moldaram o homem, trans-
formaram nossas vidas, modelaram a forma com que o
ser humano vê o mundo e os mistérios do Universo, nos
ajudando a compreender que, aquilo que achamos ser
pensamento exclusivo nosso, muitas vezes pode ter sido
empurrado “goela abaixo” por pressões culturais e mu-
danças na sociedade, sem que tenhamos notado.

Fábio é um grande amigo. Há anos venho acompa-


nhando o trabalho que Deus tem feito através de sua
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vida. Quando o conheci, ele me parecia humanamen-


te inacessível, um grande líder na hierarquia em que
vivíamos. Acompanhei toda sua descida nos degraus
da fama e, enquanto ele descia, enquanto ele desapa-
recia, enquanto o som dos aplausos ficava cada vez
mais distantes, vi nascer um homem espetacular, vi
alguém se tornar grande, não aos homens, mas em um
contexto onde maior é aquele que mais serve. Vi sur-
gir alguém que cada dia mais compreende que nossa
maior recompensa já foi cravada na Cruz do Calvário.
Hoje, tenho a honra de compor a apresentação desta
obra, e maior honra ainda tenho de hoje ter o Fábio
não mais como um líder hierárquico, mas, sim, um
melhor amigo, alguém com quem aprendi a caminhar,
que procura tornar o evangelho de Cristo Jesus cada
vez mais em prática, deixando para traz, dia após dia,
o “evangelicalismo” teórico no qual vivíamos.

Leonardo Mendes

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sumário
Agradecimento .................................................................... 3
Prefácio ............................................................................... 5

Prólogo ............................................................................. 11

Introdução ........................................................................ 13

Capítulo 1
Modernidades - uma rápida visão histórica ...................... 17
O renascimento – o início da era moderna ..................... 20
O iluminismo – a idade da razão .................................... 21
A modernidade – esperança e desilusão ......................... 23

Capítulo 2
A pós-modernidade . ......................................................... 27
Os pilares da pós-modernidade . ..................................... 29
Pluralização .................................................................... 30
Privatização .................................................................... 31
Desconstrução de identidades ........................................ 36
A secularização . ............................................................. 38
Mundanismo pós-moderno – sutil e venenoso ................ 40

Capítulo 3
Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade .......... 43
O homem no centro do universo .................................... 44
O culto dos sentidos ....................................................... 48
Hedonismo cristão . ........................................................ 51

Capítulo 4
A ética cristã e a pós–modernidade . ................................ 55
Crescimento numérico – parâmetro para o sucesso .......... 57
Mercantilismo da fé ......................................................... 60
O culto evangélico na pós-modernidade .......................... 62

Conclusão ......................................................................... 65
Referências bibliográficas ................................................. 77

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prólogo
Escrevi este trabalho entre o meio de 2005 e o primei-
ro semestre de 2006. Na verdade o que você lerá nas-
ceu como uma dissertação de mestrado e depois pas-
sou por um processo de adaptação de linguagem, de
uma forma acadêmica para um formato mais popular.
Talvez alguma característica da linguagem original da
monografia ainda persista em “incomodar”, mas, ape-
sar disso, vejo aqui um conteúdo acessível a todos.

Quando citei a data original em que este pequeno li-


vro foi composto foi para dizer que de lá pra cá muitas
coisas mudaram, não só nele, mas principalmente em
mim. Verdade é que esta pesquisa, enquanto acontecia,
me ajudou muito a mudar, e essa mudança contínua
alterou muita coisa no meu trabalho também. Mudei.
Já não sou quem eu era. Descobri que é melhor ser o
Fabio – pastor, do que o Pastor – Fabio, por exemplo.
Percebi que igreja não é Igreja. Que pessoas são livres
para estarem onde quiserem e que esta liberdade deve
ser respeitada e defendida. Vi no Evangelho a beleza
da vida bem vivida e santa. Que esta vida passa num
flash e que, em Jesus, podemos ser felizes de verdade,
como bons amigos que se fazem irmãos pela fé igua-
litária, e que não são apenas irmãos de igreja. Irmãos
assim só servem enquanto estão na igreja, a bênção
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foi descobrir que o na pouco representa, o que impor-


ta é viver com a Igreja de Jesus. Antes de você dizer
que estou reinventando a pólvora, sugiro reler os evan-
gelhos, ler este livro e pensar. Pensar é uma bênção. Só
é possível reter o que é bom pensando.

Muito deste processo de releitura da vida com Jesus está


registrado no meu blog (www.menteiluminada.blogs-
pot.com) e também no site do Espaço Betel (www.ebetel.
com.br). Aliás o blog foi, por muito tempo, meu singe-
lo megafone, meu lugar de desabafo. Hoje já não há
tanta necessidade disso, porém, volta e meia, ainda grito
por lá. Hoje meus gritos viraram sussurros diante do
que se escreve na web.

E por falar em Espaço Betel, este foi um presente do


Pai, no meio de um período turbulento de mudanças.
Um lugar para gente se reunir com liberdade e paz,
apenas um lugar, um meio. O presente mesmo, e o
que importa, foram, e são, as pessoas que encontra-
mos nessa caminhada.

Convido você a visitar o blog e o site, neles há muito


esforço e trabalho para que o Evangelho seja anuncia-
do e que a vida seja revista sem a institucionalidade
religiosa, mas apenas através de Jesus.

Leia, reflita, compare e, acima de tudo, pense. Analise


tudo e só retenha para si o que for julgado bom, porém
não tenha medo de mudar.
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introdução
Não é preciso conhecer a fundo a Teologia Bíblica
ou a História dos Hebreus para saber que Saul é
persona non grata nas rodas dos debates cristãos.
Basta observar os pregadores. No último domingo,
com certeza, em algum lugar do mundo, algum pre-
gador falou mal do primeiro rei de Israel. E bem
falado, já que Saul é um vilão na história bíblica.
E para piorar é o inimigo número 1 do segundo
maior herói das Escrituras: Davi. Só isto já basta!
Eu também não gosto dele; Saul não me agrada em
nada; ele é o inverso de tudo que quero que meus
filhos sejam. Quanto à vida e à ética, Saul é meu
antiprojeto.

Há uma questão na vida deste líder israelita que se


torna bizarra quando analisada friamente. É que Saul
tem algumas características que hoje são atributos
diferenciais entre alguém considerado um “homem
de Deus de sucesso” e um “homem de Deus inex-
pressivo”. Estranhamente, encontro motivos para
afirmar que o abominável Saul, em nossos dias, se-
ria admirado e, por que não dizer, também consi-
derado um líder de sucesso. Veja estes dados: Saul
foi uma escolha do povo (teria vivido por volta de
1095 a. C. e reinado por quarenta anos). O critério
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de seleção foi a sua aparência e força. Sua eleição


foi baseada em seu marketing pessoal; Saul era al-
guém popular (I Sam 9.2e3). O Rei Saul foi ungido
por Samuel. A unção marcava a capacitação vinda
de Deus para o desempenho de alguma tarefa, logo
o filho de Quis fora capacitado para a execução da
tarefa de governar Israel e inaugurar a monarquia
judaica. (I Sam 10.1). Outro detalhe interessante é
que o texto bíblico mostra que Saul era um homem
que alcançava objetivos, como guerreiro que era
vencia as batalhas que participava (I Sam 14.47);
Saul era um vencedor.

Pense comigo, qualquer pessoa que se encaixe nes-


sas características - popular, ungido e vencedor -
será facilmente denominado um “homem de Deus
de sucesso”.

Certamente as questões aqui são profundas e con-


frontam-se com o que se pensa hoje sobre sucesso.
A sociedade pós-moderna entende que populari-
dade, fama, reconhecimento e qualquer coisa que
comprove que alguém é visto em meio a multidão
é igual a sucesso. De nada adianta, na pós-moderni-
dade, ser um ilustre desconhecido. “Falem mal, mas
falem de mim” é hoje mais que um dito popular, é
uma máxima. Ser ungido é um ideal evangélico. Ser
carismático, comunicar chamando atenção para a
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Introdução

forma mais do que para o conteúdo. Fazer milagres


e profetizar, cada dia se torna o grande alvo dos lí-
deres evangélicos modernos, pelo menos é isso que
se pode ler nos “cultos espetáculos” da nossa Era.
Há muito que o carisma já fala bem mais alto do
que o caráter. Estou certo que não vale a pena ter
a unção sem santidade. É desta estirpe que fazem
parte aqueles que ouvirão no Dia do Senhor que
não eram conhecidos de Jesus mesmo operando,
em Seu nome, sinais e prodígios. Este será o futuro
dos modernos “sauls”.

Quanto às vitórias alcançadas pelo primeiro rei dos


judeus, sempre que penso nelas lembro-me de Je-
sus dizendo: “Do que vale ganhar o mundo inteiro
e perder a sua alma.” (Mt 16.26). Números, resul-
tados, crescimento, arrecadações, são palavras tão
presentes hoje no vocabulário evangélico que pa-
recem bastar quando o assunto é igreja. Basta cres-
cer que é bênção; basta alcançar objetivos a curto,
médio e longo prazos, que já é certa a aprovação
de Deus. Será?

Como seria bom se estas coisas que coloco neste


texto introdutório tivessem morrido com Saul, fi-
lho de Quis, rei de Israel. Infelizmente, Saul vive
na vida daqueles que optam pelo ter e não pelo
ser, que escolhem o carisma, desprezam o caráter,
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e que pensam nos resultados como termômetro da


aprovação divina.

Ah Saul! Como eu sonho com um dia em que se-


rás apenas um personagem da história, apenas um
exemplo de como não ser um líder aprovado por
Deus. Desejo profundamente o dia de tua morte, e
minha oração é que as linhas que se seguem contri-
buam para isso.

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Capítulo 1
Modernidades
Uma rápida visão histórica

Como o homem chegou à consciência moderna? Este


questionamento nos leva a um processo histórico de
amplas mudanças que resultaram na cosmovisão1
contemporânea, ou seja, na forma como o homem
de hoje vê e interpreta seu mundo. Essas mudanças
se deram nos principais pontos da existência e do
conhecimento humano, como a religião, a filosofia,
a ciência e a política.

Para Kronfly, citado por Salinas e Escobar, o desenvol-


vimento da consciência do chamado homem moder-
no é descrito da seguinte forma:

“Um processo global, de natureza econômica (o nas-


cimento do capitalismo e a consolidação progressiva
do princípio de individualização, capaz de fundar um
novo tipo de mentalidade coletiva não holística, mas
individualista); de natureza filosófica (Descarte e o racio-
nalismo); de natureza científica (Galileu, Copérnico
e Bruno, fundadores do heliocentrismo e da possi-
1 O termo cosmovisão literalmente significa visão de Mundo e designa
a forma como um indivíduo e/ou grupo social interpreta os fenômenos
que formam a sua realidade.

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bilidade de matematizar o céu e romper com as ve-


lhas tradições geocentristas); de natureza política
(Maquiavel e o processo de dar autonomia política
diante do sagrado, assim como o começo dos es-
tados nacionais); de natureza até mesmo artística”.
(começo da perspectiva nas artes plásticas, com Ra-
fael e Leonardo). (2002, p. 14)

A modernidade também pode ser vista como sendo a


soma de todos os fenômenos sociais que resultam do
acesso das pessoas aos avanços da ciência e da tecno-
logia. Desta forma, a modernidade está relacionada
com progresso científico, com avanços tecnológicos
que mudam e/ou facilitam a vida. Na verdade, o pro-
cesso histórico que gerou o pensamento moderno foi
acompanhado pelo avanço tecnológico e, ao mesmo
tempo, fez o desenvolvimento das grandes descober-
tas tecnológicas, ou seja, o homem mudou, cresceu,
ampliou horizontes pela tecnologia e esta mudança o
motiva a ser mais produtor de avanços tecnológicos.
Um bom exemplo disso foi o advento da WWW (World
Wide Web), em 1993, que produziu mudanças no ce-
nário mundial contemporâneo e que desafia a ciência a
produzir mais tecnologia para ampliar os horizontes da
utilização da “Grande Rede” pelo cidadão comum.

O. Guinness, profundo estudioso dos impactos sofri-


dos pela fé cristã moderna, define a modernidade sob
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Modernidades - uma rápida visão histórica

uma perspectiva teológica. Para este teólogo europeu,


modernidade “é uma terminologia que define um sis-
tema oriundo das forças da modernização e desenvol-
vimento, centrado, sobretudo, na premissa de que toda
causa ‘de cima para baixo’ vinda de Deus ou do sobre-
natural foi substituída, definitivamente por causas ‘de
baixo para cima’, frutos dos desígnios e produtividade
humana” (1992, p. 160). Falando sobre questões de fé,
o homem moderno desligou-se de Deus. Todo avanço
tecnológico, as respostas da ciência, da medicina, etc,
parecem suprir a ausência de algo maior, mais profun-
do. O homem moderno foi levado pelo humanismo a
ver um fim em si mesmo.

Concluímos, então, que a modernidade, ou a mente


moderna, é fruto de um processo de mudanças no
homem que, portanto, transformaram o seu ambien-
te, ou seja, o mundo.

A partir de agora, veremos os principais eventos (ou


movimentos) históricos que formaram este processo
transformador.

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Renascimento - O início da era moderna


Para que haja uma compreensão maior das mudanças
ocorridas na humanidade a partir do período renascen-
tista, é importante conhecer, ao menos um pouco, o
homem da pré-renascença. Naqueles dias, o Universo
era visto sob uma ótica teocêntrica2 e o homem pré-
renascentista, ou medieval, buscava soluções divinas
para as questões da vida. Houve, então, uma reação
intelectual contra o teocentrismo que a religião cató-
lica impusera sobre o homem por mais de mil anos.
O movimento chamado de Renascimento (séculos XV
e XVI) marcou essa transformação de mentalidade na
sociedade européia. E assim surge um novo quadro fi-
losófico na humanidade, uma nova cosmovisão nasce
com seu centro na razão humana contrapondo-se à
mentalidade medieval. Isto não representou a ruptura
total com valores cristãos. Para Cotrim “o que ocorreu
foi uma renovação dessas questões a partir de uma
nova perspectiva humana, de uma humanização do
divino”. (2005)

O homem medieval olhava para os fenômenos natu-


rais em busca de Deus; o homem renascentista passou
a olhar para a natureza em busca de respostas cien-
tíficas que mostrassem a razão, a causa destes fenô-
menos. Esta nova forma de ver o mundo se reflete na
2 Teocentrismo – Cosmovisão que interpreta tudo na vida como sendo
causa da ação divina ou sobrenatural.

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Modernidades - uma rápida visão histórica

crença do homem em Deus. Segundo Donner, “já não


havia mais a necessidade de se ter poderes invisíveis
para explicar o movimento do universo”. A Renascen-
ça colocou o homem no centro de sua própria vida.

O Iluminismo – A idade da razão


O mundo já racionalizado pelo renascentismo deu
lugar a um outro movimento cultural europeu conhe-
cido como Iluminismo (Século XVIII) pelo seu projeto
de iluminação e libertação do homem através do de-
senvolvimento da razão. Cotrim opina que naquele
momento da história “havia a crença de que a razão,
a ciência e a tecnologia tinham condições de impul-
sionar o trem da história numa marcha contínua em
direção à verdade e à melhoria da vida humana”.
Como foi dito por Alister McGrath, “a característica
primária do movimento (o Iluminismo) poderia ser
vista na sua afirmação quanto à total competência da
razão humana. A Razão, dizia-se, era capaz de ex-
pressar tudo o que o homem necessitava saber sobre
Deus e a moral”. Immanuel Kant (1724) foi um dos
maiores filósofos do iluminismo alemão, também foi
a base do denominado idealismo transcendental, no
qual todos nós trazemos formas e conceitos a priori
para a experiência concreta do mundo. Em seu livro
“Crítica da Razão Pura” propõe que a moral huma-
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na está fundamentada em sua própria autonomia,


ou seja, que as normas morais devem surgir da ra-
zão humana, mostrando que para o conhecimento
universal ser possível, é preciso que os objetos do
conhecimento se determinem na natureza do sujei-
to pensante, e não ao contrário. É importante dizer
que Kant pressupõe um agnosticismo, cujas bases
filosóficas foram assentadas no Século XVIII, já que
para ele a verdade absoluta é inascível pela mente
humana, assim a razão padroniza a moral. O agir
de acordo com o dever é fazê-lo de acordo com os
princípios racionais. A ética kantiana baseia-se em
uma humanidade racional e livre, capaz de escolher
livremente o que é melhor para si.

Refletindo a cosmovisão do homem iluminista, Ale-


xander relata que “a gente estava começando a ser
capaz de expressar o que cria e, ao mesmo tempo,
fazer o que queria, e não tinha que tomar cuidado
com respeito a se Deus, ou um gato preto, ou um
espião estaria observando-nos”. (1996, p. 163)

Durante os anos da Era Iluminista, o capitalismo se


consolidou e a burguesia, motivadora dos ideais da
iluminação, se destacou como classe dominante da
sociedade europeia.
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Modernidades - uma rápida visão histórica

A Modernidade – esperança e desilusão


O projeto iluminista de esperança na razão gerou uma
atitude otimista no homem moderno em relação ao
progresso como fonte de bem-estar e qualidade de
vida. A possibilidade do domínio da ciência repre-
sentava o aceno de uma ambicionada segurança, que
afastaria o homem dos infortúnios ligados à imprevi-
sibilidade do mundo natural, desde doenças até as
condições climáticas: a natureza deveria ser domada
pela razão humana. Isto representou a esperança em
um mundo melhor, mais justo e seguro.

O período compreendido entre os Séculos XIX e XX


recebe o título de Modernidade e o homem moderno
se tornou bem diferente do homem iluminista visto
que as coisas que o cercam adquirem nova conota-
ção, sempre impregnadas de qualidades familiares ou
sobrenaturais, atraentes ou ameaçadoras. Para Haber-
mas, “o conjunto de ideias e perspectivas que carac-
terizam a modernidade parece constituir um grande
sonho que a humanidade elaborou para si mesma”.

Nomes como Karl Marx (1818) e seu homem-social,


que acha na religião uma forma de adormecer as do-
res; Friedrich Nietzsche (1844) e sua filosofia niilista
amoral, que pressupôs a “morte de Deus” como ex-
pressão de liberdade para o homem tão reprimido
pela religião; Sigmund Freud (1856) e seu homem-
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psicológico, com seus conflitos entre os impulsos


humanos e as regras que regem a sociedade, que só
precisa conhecer a si mesmo para ser feliz; Jean Paul
Sartre (1905) e o seu existencialismo exposto em O
Ser e o Nada, que postula a necessidade do homem
voltar-se para seus próprios interesses, são exemplos
de pensadores e pensamentos que corroboraram na
formação da maneira como o homem moderno vê a
vida. No início do Século XX, Max Weber já caracte-
rizava o advento da modernidade como um processo
crescente de “racionalização intelectualista”, intima-
mente ligada ao progresso científico, mas que levaria
ao “desencanto do mundo”. Esta expectativa de de-
sesperança se confirmou historicamente. As catástro-
fes das Guerras Mundiais, a insuportável lembrança
de acontecimentos como Auschwitz e Hiroshima e,
ainda, a Guerra Fria, tudo isso deixou a humanidade
cética em relação à possibilidade de uma igualdade
comunitária de alcance global, como propunham tec-
nocratas e políticos. Desta forma, principalmente, a
partir dos anos 50, deixamos de acreditar num futuro
de paz e segurança. A expectativa do amanhã torna-se
em incerteza. A dúvida - será que o “fim do mundo”
está próximo? - passa a ser uma fonte inspiratória tan-
to para ciência quanto para as artes.

O comunismo gerou ditaduras vorazes; o existencia-


lismo, uma libertinagem moral sem respostas que sa-
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Modernidades - uma rápida visão histórica

tisfaçam os questionamentos mais profundos da vida.


O homem moderno viu cair o que poderia ser a es-
perança de uma sociedade mais igualitária e menos
capitalista: o comunismo. Restou o capitalismo do
ocidente, já desesperançoso de si mesmo. A ciência,
com todo seu avanço tecnológico, não resolveu as
questões mais simples das origens da vida e dos mo-
tivos dela. A tecnologia de guerra, a violência urbana
crescente, as diferenças sociais, a fome, a má distri-
buição de riquezas, etc, fizeram do homem moderno
alguém desencantado com seu tempo. É este legado
histórico que faz nascer a pós-modernidade.

O pós-modernismo surge do vazio de esperança dei-


xado pela modernidade ao desmoronar-se.

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Capítulo 2
A pós-modernidade

Não é seguro eleger um conceito de pós-modernismo


como sendo uma definição absoluta dos nossos dias. Fi-
lósofos, historiadores, economistas, teólogos e todas as
mentes pensantes que se propõem a entender o pós-mo-
dernismo não encontram uma forma de defini-lo. Pen-
sando na pós-modernidade como cosmovisão, o filósofo
norte-americano Frederic Jameson, crítico literário e po-
lítico marxista, a conceitua como a “lógica cultural do
capitalismo tardio”. De acordo com Habermas, a pós-
modernidade estaria relacionada a tendências política e
cultural neoconservadoras, determinadas a combater os
ideais iluministas e os de esquerda. Já o francês François
Lyotard prestigia a pós-modernidade como verdadeiro
rompimento com as antigas verdades absolutas, como o
marxismo e o liberalismo, típicas da Era Moderna.

O texto transcrito, a seguir, é de O. Guiness e descreve as


mudanças que marcam a Pós-modernidade: “Ao passo
que a modernidade era um manifesto de auto-suficiên-
cia humana e de autogratificação, o pós-modernismo
é uma confissão de modéstia e até de desesperança.
Não há “verdade”, há apenas verdades. Não existe a
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

razão suprema, somente há razões. Não há uma civili-


zação privilegiada (nem cultura, crença, norma e esti-
lo), há somente uma multidão de culturas, de crenças,
de normas e de estilos. Não há uma justiça univer-
sal, há apenas interesses de grupos. Não existe uma
grande narrativa do progresso humano, há apenas inte-
resses de grupos. Não existe uma grande narrativa de
progresso humano, há apenas histórias incontáveis, nas
quais as culturas e os povos se encontram hoje. Não
existe a realidade simples nem uma grande realidade de
um conhecimento universal e objetivo, existe apenas
uma incessante representação de todas as coisas em
função de tudo o mais.” (MCGRATH, 1996, p. 180)

Surgem, então, novos fundamentos filosóficos e cul-


turais. Veremos a partir de agora as principais bases
do pensamento pós-moderno. É importante dizer que
estes fundamentos, ou pilares (como serão tratados a
seguir) podem não ser notados por nós, homens da
pós-modernidade, porém existem. Talvez você não os
conheça pelos nomes aqui descritos, mas eles estão
presentes no dia a dia de nosso mundo, nos filmes,
novelas, jornais, etc. Mais importante aqui é perce-
bermos que o pensamento pós-moderno se encontra
nas músicas, pregações, pensamento teológico e no
comportamento da chamada igreja evangélica.

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A pós-modernidade

Os pilares da pós-modernidade
A cosmovisão do homem pós-moderno está firmada
sobre pensamentos que constroem sua forma de ver
a vida, o mundo, a religião, etc. Ainda que o homem
comum não perceba que sua mente é formada por pen-
samentos que podem ser induzidos por um todo social,
ele sofre esta influência externa, formadora e sutil de
elementos massificadores.

Os filósofos alemães Horkeimer e Adorno difundiram o


termo “indústria cultural” para designar todo o aparato
da diversão popular, veiculada pela televisão, revistas,
rádio, propagandas, músicas, jornais, etc. Através da
indústria cultural e da diversão se obtém a homogenei-
zação dos comportamentos das massas; a massificação
das pessoas. Através deste fenômeno, o rebanho global
se torna muito similar quanto à cosmovisão, pois, ainda
que haja diferenças culturais e de tradições nacionais
entre os povos, as ideias capitalistas são transmitidas e
absorvidas em quase todo o globo terrestre, o que faz
do planeta quase uma só sociedade. O consumismo dá
o tom da música que embala os sonhos de sucesso e os
pesadelos de insucesso para o homem pós-moderno.
As bases do pensamento pós-moderno são as seguintes:

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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

Pluralização
Pluralismo é a negação dos absolutos. O homem con-
temporâneo passou a viver com a diversidade das op-
ções. Analisando este fenômeno, Amorese diz que o
homem pós-moderno se sente revoltado com a simples
falta de escolhas, portanto, ele passa a evitar as verda-
des absolutas. É a “sociedade-supermercado”. Quanto
a questões de natureza moral, por exemplo, qualquer
não aceitação da prática do outro passa a ser inter-
pretada como preconceito, intolerância e não como
sendo uma visão de certo e errado. Não aceitar é que
é pecado em uma sociedade pluralizada. A “socieda-
de-supermercado” precisa abolir de sua cosmovisão
qualquer verdade que se torne um ponto fixo, para
não correr o risco de ser limitada ou castrada em
suas opções.

A sociedade pluralista vê a religião como “uma” ver-


dade e não “a” verdade. A sexualidade é apenas mais
uma opção. Ser heterossexual não é o padrão, é ape-
nas uma escolha, só mais um “produto na prateleira”.
Cada um escolhe e “compra” o que quiser e ninguém
pode dizer que o outro errou, já que todos podem es-
colher. Ao abordar o pluralismo como um dos pilares
da vida pós-moderna, Gondin conclui que “essa plu-
ralização faz com que as pessoas passem a viver com
a assustadora cosmovisão de que todas as questões
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A pós-modernidade

éticas, morais e religiosas não vão além de uma mera


opção. Nada mais é mandatório, nada mais é compul-
sório, nada mais é obrigatório.” (2002, p. 41)

No pensamento pluralista, somente faz sentido que as


mesmas questões tenham respostas diferentes já que
se tudo depende do modo que o indivíduo enxerga o
mundo, e, na sociedade pós-moderna, tudo depende
do ponto de vista de cada um.

O pluralismo é a conclusão lógica de uma visão rela-


tivista do mundo. Em uma sociedade mundial em que
toda verdade é verdade, todas as verdades se tornam
relativas. Não há um ponto fixo, uma moral correta,
tudo é relativo e universalmente aceito se não causar
prejuízos a ninguém. Esta visão utilitarista3 da vida
fundamenta o pluralismo que se desenvolve a partir
da relativização da verdade.

Privatização
A segunda coluna de sustentação da cosmovisão pós-
moderna é a privatização. Compreende-se por priva-
tização o abismo gerado pela modernidade entre a
esfera pública e a privada do homem. Não é errado
dizer que este fundamento é consequência do an-
terior porque não é possível a privatização sem plu-

3 Utilitarismo – pensamento que diz que tudo é bom se não


prejudica a outro.

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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

ralização. Para compreender esta relação, Amorese


propõe o seguinte exemplo:

“Veja o conhecido anúncio do cigarro Free: ele sem-


pre termina dizendo que “pelo menos nós temos algu-
ma coisa em comum”. Essa coisa em comum é liber-
dade para concordar ou discordar. Cada um na sua.
Trata-se dizer que se você fez tal escolha, ninguém
tem nada com isso, mesmo que o Ministério da Saúde
diga que fumar é prejudicial à saúde. Você vive em
uma sociedade plural, e, portanto, quanto mais mo-
derna for, mais consciência terá de que suas escolhas
são um assunto privado, de sua exclusiva responsabi-
lidade. E as pessoas modernas têm isto em comum:
respeitam as opções das outras”. (1998, p. 61)

A privatização tem fatores positivos como o respeito à


individualidade e à liberdade de escolha do indivíduo,
que nada mais é do que o ideal para uma sociedade
livre e respeitosa quanto às diferenças. Os regimes to-
talitários feriram diretamente o direito à privacidade
do cidadão, excluindo opções, oprimindo e uniformi-
zando o pensamento do indivíduo comum, enquan-
to as burguesias mantêm o seu elitismo, escolhendo,
optando e sendo o que querem. Por outro lado, a pri-
vatização gera a fragmentação entre o homem público
e o homem privado. O primeiro faz negócios, vende,
compra, pensa, vence e cresce economicamente, po-
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A pós-modernidade

liticamente, etc. O segundo vive em família, tem re-


ligião, tem um hobby, possui princípios morais, so-
nha, projeta e deseja ver seus netos crescerem, mas
também tem desejos pessoais. As consequências da
separação destes dois universos pessoais podem ser
terríveis, já que o homem público não sofrerá as in-
fluências da ética e dos valores do homem privado.
Um exemplo disso é o homem que vive entre a anta-
gônica realidade de seus valores familiares/religiosos
e uma vida corrupta nos negócios, ou o pai de família
que é exigente com seus filhos e mantém uma relação
adúltera, sem perceber claramente que está traindo
sua própria consciência e moral. Para este homem
pós-moderno não há nada de errado nisto, já que sua
vida pessoal ou privada não é, apenas, aquela vivida
no lar, mas aquela vivida em si mesmo. O mundo de
hoje é bombardeado por notícias de padres pedófilos,
políticos corruptos, empresários desonestos, empresas
fantasmas, etc. O conflito do homem-público (o padre,
o político, o empresário) com o homem-privado (o
pedófilo, o corrupto, o desonesto) se ilustra nestes
casos. O indivíduo público é visível, o privado é o
grande desconhecido livre, ele pode ser o que quiser,
o que escolher, ninguém pode impedi-lo, já que tudo
são apenas escolhas.

Ao analisar as consequências do processo pós-moderno


de privatização Gondin conclui que “o pós-modernismo
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

prometeu a liberdade, contudo, homens e mulheres que


acreditaram nesta promessa encontram-se presos na pior
das escravidões: a solidão”. (2002, p. 46)

Portanto, a privatização destrói a ideia da sociabilidade,


cada indivíduo é responsável apenas por si mesmo e
por seu bem-estar, suas escolhas quanto à vida dizem
respeito somente a si mesmo e a mais ninguém.

Será que isto influencia a vida cristã hoje? Seria a


privatização uma questão presente apenas na socie-
dade secular? Cristãos podem viver desassociando
sua vida privada de sua vida pública? Não é preciso
muito esforço para que cheguemos à conclusão que
a privatização não está tão longe das igrejas como
se pode pensar; ela não é uma ilusão filosófica, mas
uma realidade concreta. Infelizmente, não é raro ou-
virmos de líderes evangélicos que vivem uma vida
dupla, entre o pecado e sua posição religiosa, e, mui-
tas vezes, o talento vale mais do que o caráter. Não
posso deixar de lembrar de Saul quando penso nisto.
Um rei para o seu povo, e um amargurado, um louco
enciumado, sedento por matar Davi. Esta realidade
só era conhecida por aqueles que conviviam com ele
na intimidade.

Em seus debates com os fariseus, religosos conserva-


dores das tradições judaicas, Jesus jamais entrou em ques-
tões teológicas, seus questionamentos sempre eram na
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A pós-modernidade

área do comportamento transparente que faltava na


vida daqueles líderes religiosos. A hipocrisia farisáica
era, na verdade, o fato de serem alguém em público e
outro alguém em particular.

Transparência e coerência são palavras-chaves para


quem quer viver o Evangelho e não apenas levar o
título de evangélico. Transparência como a dos quatro
seres viventes que diante do Trono de Deus vivem
em adoração incessante. Apocalipse capítulo 4 relata
a visão que João tem destes seres e eles são cheios de
olhos, por fora e por dentro. Como era possível ver
que tinham olhos para dentro? Apenas a transparência
responde a essa pergunta. Ser transparente não é falar
tudo que se quer, na hora que se desejar, para quem
quiser ouvir, isso pode ser sinal de arrogância! Ser
transparente é, antes te tudo, enxergar a si mesmo, ter
olhos voltados para si, enxergar-se. Coerência como a
de Paulo que é capaz de dizer: “olhem pra mim, sou
imitador de Cristo”. Nossas vidas são a maior mensa-
gem evangelística que o mundo pode ouvir! Devemos
pregar com a vida, não apenas com as palavras.

Sempre devemos preservar a intimidade, a privacida-


de, a individualidade de cada um, estes são valores
fundamentais para a saúde emocional e espiritual do
ser humano, porém não vivamos “duas vidas”, não
tenhamos dois valores. Sejamos acima de tudo e an-
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

tes de tudo o que a Bíblia diz que somos em Cristo:


santos. Esta verdade simples, se vivida em plenitude, é
uma arma poderosa contra os escândalos.

Desconstrução de identidades
Outro fundamento do pós-modernismo é um fenôme-
no sofrido por instituições normalmente tradicionali-
zadas na cultura humana, que passam a conviver com
a relativização de tudo, um processo de perda, ou des-
construção, de sua identidade ou características mais
naturais. Um grande exemplo disso é o casamento ou
a própria instituição familiar, outrora vistos como sa-
grados e agora como mais uma opção de vida. Basta a
observação, para notarmos que o concubinato é prá-
tica cada dia mais comum. A severa discussão sobre
a legalidade da união matrimonial de homossexuais
demonstra a nova face da família pós-moderna, capaz
de ver a possibilidade de existir uma família sem a dis-
tinção dos elementos pai e mãe, marido e mulher. A
geração de filhos se torna uma total impossibilidade,
mas aqui surge outra quebra de identidade, já que na
pós-modernidade ter um filho pode ser uma experi-
ência independente da família. Criança pode ser uma
“produção independente”.

Ao desenvolver a ideia das identidades deslocadas ou


desconstruídas no pós-moderno, Stuart Hall postula
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A pós-modernidade

que na modernidade tardia a globalização teve um


grande impacto quanto às mudanças das identidades
sociais no mundo, fazendo com que as sociedades
modernas sejam, por definição, sociedades de mu-
dança constante, rápida e permanente.

Com a força das mudanças na sociedade mundial, o


indivíduo e as instituições, dentre elas a igreja evangé-
lica e os seus fiéis, sofrem a perda ou a corrupção de
sua imagem original ou essencial, gerando então uma
crise, um choque, entre a identidade entendida como
verdadeira, original e primordial e a nova identidade
assumida devido às influências forte e sutil da cosmo-
visão pós-moderna e sua filosofia de desconstrução.

O que isto significa em termos práticos para o uni-


verso cristão? Significa que muitos crentes são bem
diferentes daquilo que a Bíbila diz de um crente, que
igrejas estão em um processo de distanciamento do
padrão bíblico, que as vidas alcançadas são confundi-
das com resultados de um marketing eficiente e que o
Corpo está no caminho de se tornar corporação. Este
fenômeno de “desvio” nada mais é do que a descons-
trução da identidade da igreja cristã.

O temor de Paulo em relação à Igreja, em Corinto,


cai bem nestas linhas e deve virar um apelo ao nosso
espírito - não percamos a simplicidade do Evangelho
e a pureza de Cristo -.
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

“Mas receio que, assim como a serpente enganou a


Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida
a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza
devidas a Cristo”. (I Co 11.3)

A secularização
A secularização é o resultado da presença dos três
pilares citados na sociedade de hoje. Guinness con-
ceitua a secularização como o processo através do
qual as ideias e as instituições religiosas estão per-
dendo seu significado social. Obviamente, isto é um
resultado do pluralismo unido à privatização em um
tempo de distorções de identidades, pois o sagrado
perdeu seu valor, já que qualquer credo nada mais
é do que uma outra opção e isso cabe ao indivíduo
escolher o que melhor lhe agradar. No “mercado
religioso” não é mais Deus quem nos escolhe, nós o
escolhemos na prateleira, diz Amorese. Em uma so-
ciedade secularizada, toda ideia de transcendência,
ou seja, toda questão que não envolva o material, se
torna secundária, pois o que realmente importa é o
agora, o hoje, o prazer, o bem-estar, o ter, o consu-
mir, o resultado.

Dom Aluísio Lorscheider, indagado sobre as razões


das pessoas não mais aceitarem os conselhos da Igre-
ja sobre temas atuais como aborto, pena de morte,
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A pós-modernidade

eutanásia, ecologia, respondeu assim: “Não é que a


Igreja perdeu o poder de aconselhar as pessoas. Ela
aconselha, mas as pessoas não aceitam mais esses
conselhos, porque não aceitam mais a transcendên-
cia. Elas praticamente não aceitam mais Deus, que
é quem nos dá normas a partir da própria criação.
Deus fez o mundo com sabedoria, mas as pessoas
deixaram de fazer esta leitura do mundo. O mundo
é visto como uma razão matemática e não mais filo-
sófica, muito menos teológica. Esta é a tendência do
mundo de hoje”.

Em uma sociedade secularizada não há tempo para


Deus e muito menos para Seus preceitos, tão exi-
gentes e retrógrados, a não ser que tanto Deus como
Seus preceitos resultem em benefício para o homem:
um milagre, uma bênção, uma porta aberta, um sa-
lário melhor, etc.

É neste tom pluralista, privatizado, sem identidade de-


finida e secularizado que toca a música que embala o
crescimento dos evangélicos no Brasil, uma igreja pós-
moderna, uma igreja com a forma de nosso tempo.

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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

Mundanismo pós-moderno – Sutil e venenoso

Pouco tempo atrás o debate teológico evangélico


quanto ao mundanismo e a santidade girava em torno
de temas que hoje, para a maioria dos crentes e das
organizações religiosas, estão resolvidos. Se recuar-
mos alguns anos, lembraremos que discutíamos sobre
roupas, brincos, batons, cortes de cabelo, terno, gra-
vata, certos ritmos e instrumentos musicais. Até mes-
mo certa versão da Bíblia já fora considerada como a
“verdadeira”.

Sem dúvida hoje muitos destes debates são parte de


um passado recente. De forma geral, já estabeleceu
suas soluções para estas cismas, entendendo que são
questões locais, usos e costumes e, por isso, mutáveis
quanto ao tempo e o lugar. Parece que as palavras de
Paulo, pelo menos nestas questões comportamentais,
finalmente, foram compreendidas.

“Quem come não despreze o que não come; e o que


não come não julgue o que come, porque Deus o aco-
lheu...” (Rom 14. 3)

Portanto, a igreja evengélica mostra-se hoje muito mais


aberta a aceitação das diferenças denominacionais,
enxergando que a fé é o ponto de convergência que
elimina todas as possíveis discordâncias, sejam doutru-
nárias ou comportamentais.
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A pós-modernidade

Entretanto, o debate sobre mundanismo e santidade


algumas vezes parece esquecido ou, quando lembra-
do, volta-se a questões de usos e costumes . A impres-
são é que tudo foi solucionado quanto a estes temas
e que cada segmento evengélico define seus limites
éticos. Puro engano. A pós-modernidade, em seus
fundamentos já vistos anteriormente, manifesta uma
forma muito mais sutil de mundanização das estrutu-
ras e das pessoas.

O desejo de alcançar a fama, a competição por núme-


ros, o sucesso financeiro como medida de espiritualida-
de, a transformação de igrejas em mega-corporações,
a visão do ministério como uma boa fonte de renda,
a vontade de ter mais do que ser, as mensagens que
garantem a solução mágica de problemas, a compra e
venda de bênçãos, a transformação do culto em espe-
táculo, a ideia de líderes como semideuses infalíveis, o
triunfalismo barato, o carisma em detrimento ao caráter
e coisas como estas, comuns nestes dias, são profundas
influências da secularização, ou mundanização, sutil,
mas progressiva sofrida pela igreja evangélica de hoje.
A sutilieza está no fato de estas coisas virem maquiadas
de sucesso, de portas abertas ou de bênçãos, mas nada
mais são que distorções da verdade, egocentrismo e
engano. Este veneno maligno tem matado pessoas e
instituições, transformando o Corpo em corporação e
o organismo em simples organização.
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

Deus não divide sua glória com ninguém. Qualquer su-


cesso que não resulte em glorificação do Seu Nome,
qualquer sucesso que não tenha a adoração com mo-
tivação primordial, qualquer sucesso que não Seu pri-
meiro princípio não seja o de fazer o Nome do Senhor
grande, não é promovido por Ele. No mínimo, é ape-
nas realização humana. No mínimo!

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Capítulo 3
Teologia e pregação
evangélica na pós-modernidade

Já vimos que as igreja evangélicas sofrem a influên-


cia da pós-modernidade na condição de instituição
presente neste tempo, na história e na sociedade. O
pensamento evangélico revela esta influência. A pre-
gação nada mais é do que produto deste pensar te-
ológico, se a teologia for distorcida, a pregação tam-
bém o será, pois o que se prega é apenas a expressão
daquilo que se pensa.

É importante notarmos que o ato de pregar não se dá


apenas através da exposição pública das mensagens
bíblicas feitas nos púlpitos. A igreja expõe seu pensa-
mento, ou seja, prega de diversas formas, e uma das
mais comuns é a música. Isto quer dizer que o que
cantamos também reflete o que pensamos. Agora,
esta é uma estrada de mão-dupla! A maioria das pes-
soas, membros das igrejas, não formam opinião, mas
tem sua forma de pensar formatada por aquilo que
absorve. O que quero dizer é que, se a maneira de
alguém ver o Evangelho for formada através de distor-
ções aprendidas por pregaçõas, músicas, literaturas,
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

ou qualquer outro veículo propagador de ideias, essa


pessoa vai ter uma visão errada da verdade, sendo ela
então vítima de um sistema de engano. Mesmo que
não seja uma “grande heresia” (se é que existem here-
sias pequenas), devemos lembrar que “um pouco de
fermento leveda a massa toda”, isto é, um pouco de
mentira compromete toda uma verdade.

Ao menos três pensamentos teológicos podem de-


monstrar esta sutil realidade. Isto é o que veremos a
partir de agora.

O homem no centro do universo


O Iluminismo transformou Deus em uma experiên-
cia humana, um Deus organizador, interior e neces-
sária ao bem-estar social. O mundo moderno pas-
sou a tolerar a religiosidade desde que esta lhe seja
socialmente útil e fruto de uma opção pessoal. Ao
dar ao homem o status de centro do Universo, o
Iluminismo fez de Deus um instrumento da felici-
dade humana.

Esta cosmovisão antropocêntrica4 tomou o pensamento


ocidental como um todo, incluindo o próprio cristianis-
mo como parte deste universo. Segundo Gondin “a par-
tir daí o relacionamento com Deus se daria numa pers-
pectiva humanista e não teocêntrica”. (2002, p. 118)
4 Antropocentrismo – Homem visto como centro do Universo.

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Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade

A teologia do início do Século XX foi marcada pela


controvérsia entre o liberalismo e o conservadorismo.
O primeiro buscava alternativas mais lógicas e condi-
zentes com o homem moderno para a interpretação
bíblica e para a moral cristã, o conservadorismo, por
sua vez, continuou batalhando pela inerrância das Es-
crituras e pela firmeza dos alicerces da fé. Com total
sutileza, ambos os grupos foram contaminados pela
mentalidade humanista e secularizada da modernida-
de. Assim, surge no ocidente o que pode ser chamado
de pseudo-evangelho, que afirma a felicidade huma-
na como principal ação da vontade divina; a solução
de problemas como prioridade e prova do poder so-
brenatural do Evangelho e o sucesso pessoal como
projeto de Deus para o ser humano, manifestando-se,
principalmente, nas questões financeiras. Um evange-
lho assim é conveniente e convincente, porém nem
sempre coerente com a verdade bíblica.

Ao colocar o homem no centro da mensagem evangé-


lica, a pregação torna-se autoajuda, o culto se transfor-
ma em show ou entretenimento, o evangelismo vira
alcance de metas numéricas, a adoração muda-se em
“música de trabalho”, os líderes passam à condição de es-
trelas e ditadores, os dízimos e ofertas são vistos como
investimentos rentáveis e o Corpo não passa de uma
corporação.
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

Um dos maiores fundamentos deste evangelho huma-


nista é a teologia da prosperidade, negada pela maioria
e pregada por este mesmo quantitativo. Este pensamen-
to, totalmente presente na teologia evangélica pós-mo-
derna, baseia-se na visão de que a prosperidade finan-
ceira, a saúde e o sucesso pessoal são direitos dados
por Deus, como herança terrena, a todos os crentes, as-
sim sendo, a pobreza e a vida cristã são incondizentes,
se um crente é pobre ou está enfermo há algo errado
com sua fé: ou não crê ou está em pecado.

É notável que a maioria dos movimentos evangélicos


não se declaram publicamente adeptos de teologias,
como a da prosperidade, a do movimento da fé ou a
da confissão positiva, contudo estas ideias estão ativas
na teologia cristã hodierna, gerando relacionamentos
interesseiros com um Deus frágil que cede às deter-
minações de seus fiéis.

O texto citado, a seguir, descreve o risco e o nível de


influência destas ideias sobre o pensamento evangé-
lico pós-moderno, a ponto de estar transformando a
esperança do porvir em um simples sonho terrenal.
Citado por Bettencourt, M. Lenz analisa o atual cená-
rio protestante desta forma:

“Até bem pouco tempo uma respeitável fatia da igreja


cristã empurrava todas as bem-aventuranças para o
céu e para a eternidade. Dizia-se então que era ne-
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Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade

cessário suportar pacientemente o sofrimento pre-


sente, inclusive a injustiça social, porque “a nossa
pátria está nos céus, de onde também aguardamos
o Salvador” (Fp 3, 20-21). Esta posição extremada
fechou a boca da igreja, deixou inteiramente à von-
tade os corruptos e os opressores deste mundo e
deu oportunidade e espaço à teoria marxista de que
a religião é o ópio do povo. Graças à ênfase socia-
lista e à redescoberta do evangelho integral, a fase
do chamado “celeste porvir” viveu seus derradeiros
dias. Mal se livra de um grotesco extremismo, outro
se estende célere e com força total. Neste final de
século, estamos passando do celeste porvir para o
“aqui e agora”. Ao invés de empurrar todas as bem-
aventuranças para o céu e a eternidade, a Teologia
da Prosperidade está trazendo o celeste porvir para
o terrestre presente. Para comermos a melhor comi-
da, para vestirmos as melhores roupas, para dirigir-
mos os melhores carros, para adquirirmos muitas
riquezas, para não adoecermos nunca, para mor-
rermos entre 70 e 80 anos - basta crer no coração e
decretar em voz alta a posse de tudo isso. Basta usar
o nome de Jesus com a mesma liberdade com que
usamos nosso talão de cheques. Ora, tudo isso pa-
rece uma loucura, já espalhada por todo o mundo,
que precisa ser corrigida. Antes que haja um con-
luio da fé cristã com o secularismo, o materialismo,
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

o consumismo, a Ciência Cristã e a neurolinguísti-


ca. Antes que não sobre nada para o dia das bodas
do Cordeiro. Antes que não haja mais nenhuma
surpresa guardada para o crente no celeste porvir.
Antes que a esperança cristã se torne desnecessária
e se aposente”. (BETTENCOURT, 2004)

Sob o peso da cosmovisão pós-moderna a igreja evan-


gélica tem humanizado e secularizado sua teologia e,
como consequência, sua pregação, já que esta propa-
ga tão-somente o que aquela conclui.

O culto dos sentidos


O Culto dos Sentidos é uma contradição ao “culto
racional” referido por Paulo em Romanos 12.2. Este
fenômeno do presente é fruto da ênfase pós-moder-
na em tudo que desperta sensações, no imediato, no
aqui e agora, no entretenimento e na busca por emo-
ções. “Jesus e o Espírito Santo converteram-se nos
produtores mais eficazes dos bens de consumo reli-
gioso. Deus está aí para solucionar os meus proble-
mas, está à minha disposição para modificar o uni-
verso de acordo com meu capricho. Podemos acres-
centar que Deus está aí para fazer-me sentir “bem”,
para fazer-me “vibrar de alegria”, para provocar em
mim emoções mais fortes, para encher-me de paz.”
(SALINAS & ESCOBAR, 2002, p. 53)
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Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade

Uma análise das músicas cristãs contemporâneas re-


vela a veracidade do seguinte fato: há hoje uma su-
pervalorização da sensação, do sentimento humano.
Muitas mencionam o sentir, o ver, o tocar e outras
formas de experiência dos sentidos. Contrastando
com isto a hinologia evangélica se esvazia, dia a dia,
de termos como arrependimento, conversão, cruz, e
outros tão presentes na mensagem de Cristo.

A música é apenas um exemplo, pois as mensagens


nos púlpitos também se encaixam no Culto dos Sen-
tidos. Muitos temas pregados hoje se direcionam ao
bem-estar e não ao arrependimento; à autoestima e
não à conversão; para levantar a plateia e não para
confrontar pecadores com a santidade de Deus. O
uso de frases de efeito e a manipulação das emoções
são elementos tão comuns ao culto evangélico que já
se tornaram parte da vida de pregadores e ouvintes.
Creio que a frase “você nasceu pra vencer” seja hoje
bem mais comum em diversos púlpitos do que a ver-
dade: “Jesus morreu por você”.

Desta forma, a igreja não fica com aquilo que é bom


da pós-modernidade, mas antes se abre para a entrada
daquilo que é negativo, deixando de ser contracultu-
ra para ser fenômeno cultural. A proposta de Cristo
é a de ser diferente e não igual. Se a igreja perde a
identidade de contracultura, ela perde sua própria
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

identidade essencial: ser luz e sal. Não podemos vi-


ver mudando o conteúdo pelo estilo, a verdade pelas
impressões, a base da fé por emoções, o compromisso
pelo espetáculo, a vocação pela manipulação psicoló-
gica, o arrependimento pela decisão sem mudança de
vida, a centralidade da Palavra pela valorização dos
números.

O que vemos acontecer hoje nos remete aos tempos


de Jeremias. Ressoava naqueles dias entre os judeus
uma mensagem de paz. Os profetas diziam que tudo
estava bem, porém esta era uma palavra mentirosa.
“Curam superficialmente a ferida do meu povo, di-
zendo: Paz, paz; quando não há paz. Serão envergo-
nhados, porque cometem abominação sem sentir por
isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-
se. Portanto, cairão com os que caem; quando eu os
castigar, tropeçarão, diz o SENHOR.” (Jer 8.11e12)

A história se repete. O triunfalismo, o discurso capita-


lista, o crescimento numérico, parece indicar que tudo
vai muito bem nos arraiais evangélicos e que a igreja
vive o ápice de sua história. Analisemos com clare-
za, de forma sábia e racional e perceberemos que há
uma crise ampla instalada. Há competições, demons-
trações públicas de sucesso, programas de televisão
evangélicos que são verdadeiras vitrines do sucesso
ministerial, considera-se infeliz o ministério que não
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Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade

está na mídia. Chegamos a uma profunda crise de po-


der. O discurso de unidade está em moda, mas todo
caminhar em unidade se dissipa quando se discute
quem vai liderar a comunhão. Muitos querem ser os
manda-chuvas, poucos querem servir aos irmãos.

Se o Mestre, o Senhor, o Rei disse: ”Eu vim para servir,


não para ser servido” (Mc 10.49), que diremos nós? Lide-
rança é serviço. O pastor trabalha pelas ovelhas, logo as
serve. O bom pastor serviu-nos com sua própria vida.

Temos que lutar pela verdade com a verdade. É preci-


so um grito contra a hipocrisia, dos que não suportam
a realidade desnudada diante de si. Cumpre-se a Pala-
vra, mas que esse texto transcrito abaixo não esteja se
tornando fato em nós.

“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã dou-


trina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo
as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira
nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas.”(II Tim 4.3e4)

Hedonismo cristão

Para a filosofia, hedonismo é a busca pelo prazer como


razão da vida. Sua aplicação quanto à teologia cristã in-
fluenciada pelo pós-moderno é uma consequência dos
fenômenos anteriores, ou seja, em função da humani-
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

zação da teologia e da hipervalorização dos sentidos


nasce uma visão hedonista do cristianismo, centrada
nas realizações imediatas, na prosperidade financeira,
nos sonhos humanos, no estar “feliz da vida”. Hoje,
parece que a vida cristã já não é renúncia, mas sim
prazer; já não é cruz, mas tão-somente vitória. É bíbli-
co entender que a vida em Cristo não são somente lu-
tas e provações, porém o verdadeiro cristianismo ini-
cia-se com a proposta de Cristo, “quem quer vir após
mim negue-se a si mesmo, tome sua cruz e venha”.
A mensagem cristã não é contra a vida, mas também
não é uma celebração ao prazer, já que apela para
o ato de renunciar, de morrer para si mesmo como
testemunho de fé. O simbolismo do ato de iniciação
da fé cristã, o batismo, não é outro senão este, a morte
para o eu e a ressurreição para Deus. Continuar uma
vida de fidelidade a Deus nada mais é que o abrir mão
de vontades e desejos para agradá-lo em amor. Tanto
no Antigo Testamento como no Novo, há declarações
bíblicas que condenam o pensamento do hedonismo
imediatista, que diz: “comamos e bebamos que ama-
nhã morreremos”.

Este imediatismo do prazer, da vitória, da bênção


aqui e agora, rouba uma das bases da esperança
cristã, que é a certeza de um porvir de paz, a vida
eterna. Para que aguardar que um dia Deus enxugue
dos olhos do crente todas as lágrimas se o verdadei-
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Teologia e pregação evangélica na pós-modernidade

ro cristão só chora de alegria? Se aqui na terra todo


crente tem que ser rico, que nível de esperança futu-
ra resta? É fundamental destacar que Cristo promete
vida abundante, paz no presente e no futuro, mas
o triunfalismo gera uma utopia hedonista distancia-
da da realidade humana de lutas e tempestades que
atingem a todos, crentes e não crentes. O cristianis-
mo verdadeiro prega a esperança futura e fortalece
a segurança no presente, mas sem jamais garantir
que o crente só viverá nesta vida terrena, deleites,
prazeres e vitórias. Se Cristo não viveu assim, quem
poderá reivindicar este estilo de vida?

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Capítulo 4
A ética cristã
e a pós-modernidade

Ao absorver a ausência de absolutos como verdade,


o homem da pós-modernidade se depara com uma
contradição, já que o relativismo passa a ser sua ver-
dade absoluta. Entretanto, a sociedade pós-moderna
não contempla sua própria contradição filosófica,
restando ao homem pós-moderno a relativização da
moral como única opção (o que é outra contradição
filosófica, já que o pluralismo defende a necessidade
de escolhas múltiplas). Segundo Gueisler “todos têm
um ponto fixo (ou um absoluto), até os relativistas.
De outra forma, não poderiam afirmar que têm uma
visão correta da realidade. Os defensores do relativis-
mo podem expressar suas convicções de modos sutis
e velados. Entretanto, quando expressos em português
claro, seus absolutos ficam óbvios”. (2001, p. 45)

O niilismo, termo filosófico que afeta as mais diferen-


tes esferas do mundo contemporâneo, é a desvalori-
zação e a morte do sentido, a ausência de finalidade.
A amoralidade de Nietzsche se faz presente de forma
maciça, porém sutil, na mente pós-moderna. Nada é
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

proibido, nada é errado, sendo assim, nada é absoluta-


mente certo, toda moral é uma questão de escolha.

A ética pós-moderna quer demolir a ideia de um ponto


fixo, da existência de um nomos5 um modelo moral quanto
ao juízo de valores. A religião, como um produto, não dita
regras gerais, mas apenas para aqueles que “a compram”,
demonstra aquilo que se deve e que não se deve fazer. Sem
um nomos resta a escolha, a opção, a vontade. Aqui está
o perfil do super-homem nietzscheniano, sem regras, sem
limites morais. Ao invocar este homem superior, Nietzsche
proclama a morte de Deus, não uma morte mitológica, mas
antes uma morte da moral. O nomos sagrado, castrador de
desejos, tem que morrer para que surja um homem livre,
sem ter nada que o acuse, sem pecados ou pecado6. A mor-
te de Deus, para este filósofo alemão, não era uma questão
de lucidez intelectual, mas uma questão existencial. Deus
tem que estar morto para que o homem se sinta livre, por
isso, Nietzsche não afirma que Deus não existe, mas, sim,
o querer que Deus não exista. Para Nietzsche o homem é
individualidade irredutível, que despreza qualquer verdade
estabelecida, estando sempre pronto para se exprimir na
vida, superando as formas da tradição nos seus atos, e este
é o resultado desta cosmovisão aética, é a ausência de
valores definidos.

5 A palavra grega nomos (lei) aplica-se aqui a ideia de uma ordem moral
maior, regente de valores totalitários.
6 Pecados – falhas, erros; Pecado – natureza originalmente pecaminosa
que leva o homem a cometer pecados.

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A ética cristã e a pós-modernidade

A questão que surge, diante desta realidade moral ho-


dierna, é se a igreja evangélica tem sofrido influên-
cia destes fatores da pós-modernidade no campo da
ética. Um dos maiores perigos à verdadeira fé cristã
é o crescimento simplesmente numérico das igrejas
evangélicas no Brasil. Esse fenômeno de transforma-
ção da fé cristã de alternativa para pop7 compromete
a qualidade do cristianismo vivido e isso se reflete na
prática desta fé, e o que é a ética cristã senão a fé
praticada? Assim o relativismo, intrínseco ao homem
contemporâneo, é levado para os arraiais evangélicos
sem que se perceba o quão distante está o verdadeiro
Evangelho de Cristo.

Nos pontos seguintes, veremos áreas em que a ética


cristã é substituída pela ética secularizada, pela Lei
dos resultados, onde o método substitui o conteúdo.

Crescimento numérico – parâmetro para o sucesso


O crescimento do povo evangélico é fato inegável na
sociedade contemporânea. Nos últimos vinte anos,
a população evangélica cresceu cerca de 5,18% ao
ano, contra 2,5% do restante da população. Vários fa-
tores contribuem para este fenômeno que não vão aqui
ser demonstrados, porém vale ressaltar que há alguma
positividade no crescimento das igrejas, mesmo que

7 populismo

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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

contenham elementos desfocados teologicamente. O


que se mantém poderoso e eficaz é o Evangelho de
Cristo, a mensagem da salvação, esta não volta vazia,
cumpre o propósito divino de buscar e salvar o que se
havia perdido, sem limites de tempo e lugar e, ainda
mais, sem os limites das instituições e dos pensamen-
tos humanos. O Evangelho sobrevive à calamidade
ética da pós-modernidade. O Evangelho sobrevive ao
caos humanista da teologia contemporânea, mesmo
que pareça esquecido no canto dos auditórios lotados
de pessoas sedentas por respostas mágicas, terrenas e
rápidas, o Evangelho sobrevive. Por ser sobrenatural,
o poder de Deus para a salvação dos que creem, o
Evangelho, mantém-se vivo.

O que se torna questionável é a medida numérica


como parâmetro de “sucesso ministerial”. Números
se igualam ao sucesso na mente de muitos líderes
cristãos de hoje, o que faz com que a “bênção” seja
medida através de conquistas, propriedades, bens,
membresia, etc., restando uma única opção para a
não frustração ministerial: uma igreja grande numeri-
camente, onde , muitas vezes, a quantidade vive inde-
pendente da qualidade.

A sociedade pós-moderna, movida pela indústria do


entretenimento, tem na fama o seu padrão de sucesso.
Uma sociedade sintetizada em reality shows como o
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A ética cristã e a pós-modernidade

“Big Brother”, onde a moral foi substituida pela noto-


riedade. Não importa o meio para se vencer, o impor-
tante é vencer; e neste caso ser vitorioso não é apenas
ganhar o prêmio final é, acima de tudo, ser famoso.
Aplicando este espírito à realidade evangélica asso-
cia-se números com fama; uma grande quantidade de
adeptos gera notoriedade. Os meios para a conquista
deste destaque que vem dos números, muitas vezes,
são verdadeiramente obscuros e questionáveis sob a
ótica da ética cristã.

Esta mentalidade pós-moderna, aficionada por resul-


tados, tem causado um enfraquecimento da moral
transformando-a em força numérica e tem mudado
a conversão em adesão, quando se trata de salvação
e do início da caminhada cristã. Segundo Yancey,
“pelo sistema bíblico da conversão e não da adesão,
a colheita de almas é difícil, pois a porta é estreita e o
caminho é apertado (Mt 7.13 e 14). O pecador preci-
sa ter consciência do pecado, arrepender-se e negar
a si mesmo (isto é, impedir que o eu seja o centro de
seus atos), tomar a sua cruz (isto é, estar disposto a
sofrer e morrer por amor ao Senhor) e seguir a Jesus
até o último dia (Mc 8.34)”. (Ultimato, p. 34, julho-
agosto 2005)

Com o objetivo de atrair as multidões, o marketing


dos milagres é o cartão de visita de muitas institui-
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

ções evangélicas hoje. O que esse tipo de marketing


produz? Uma tentativa de se enquadrar os milagres
na lei do mercado, se há procura deve haver uma
mercadoria oferecida para supri-la. Desta forma, se há
problemas difíceis demais, tristes demais e complexos
demais, devem haver milagres, então se monta uma
banca de ações sobrenaturais e o nome de Deus é
usado inescrupulosamente. Não penso que as igrejas
não deva pregar milagres, eles são reais e bíblicos,
porém jamais poderão ser instrumentos de marketing,
como têm sido utilizados nestes últimos anos, de for-
ma sensacionalista, popularesca e mercantil.

Mercantilismo da fé

A sociedade pós-moderna é extremamente mercantil,


todo e qualquer segmento se torna um filão comercial.
Há mercados especializados para todos os meios. A
partir da década de 90 a igreja evangélica começou
a ser vista como um mercado promissor. Nada mais
normal e lógico para as sociedades capitalistas. Os
produtos evangélicos tomaram uma parte do merca-
do devido à força do crescimento dos crentes, que
formam um grupo de consumidores com tendências
exclusivistas, ou seja, que prioriza os produtos com
características do seu meio. Pergunta-se: onde está
o risco deste crescimento do mercado evangélico?
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A ética cristã e a pós-modernidade

Segundo o Pr. Ariovaldo Ramos: “Essa coisa do con-


sumismo é contra a pregação do Evangelho. Quando
isso acontece dentro do arraial cristão é mais perigoso
ainda, porque tudo o que é transformado em mercado
acaba sendo desviado dos princípios de fé, virando
um fim em si mesmo”. (www.geocities.com/realida-
debr/rn/protestante/p260700.htm; 2005)

O risco de se ver a igreja como um mercado está


na descaracterização do propósito desta, que é a
pregação do Evangelho e não o comércio. Um bom
exemplo disso é o mercado fonográfico que exige
padrões artísticos e transforma ministros em popstars
para atender a esta demanda do mercado. Cantores
e pregadores são idolatrados como qualquer artista.
Isto pode ser chamado de inovação ou contempora-
nização, mas no cerne desta questão está a seculari-
zação da fé com objetivos comerciais.

Tudo isto é mais uma consequência da grande presen-


ça dos ideais de prosperidade na mentalidade cristã
contemporânea. Ocorre hoje um processo de defor-
mação da verdade cristã original. A pregação evan-
gélica de nosso tempo se detém, em grande escala,
aos temas que tratam de sucesso material. De forma
analítica, podemos dizer que, para muitos cristãos do
Terceiro Milênio, a conquista de bens é a terra prome-
tida. Nada parecido com o ensino de Cristo e de seus
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

apóstolos sobre a esperança vindoura e sobre o não


acúmulo de riquezas.

Tudo isto alimenta o mercado evangélico. Se alguém


precisa aprender sobre como prosperar, deverá adqui-
rir tudo que possa lhe ensinar sobre a fórmula da pros-
peridade. Mensagens, literaturas, objetos ungidos, etc.,
são vendidos como a fonte da juventude, a varinha de
condão, a palavra mágica. Comprou, mudou. Será?

O culto evangélico na pós-modernidade


Relacionar o culto evangélico com ética é uma ques-
tão lógica. O culto nada mais é que a exteriorização da
teologia, do pensamento, do credo, e tudo isto resulta
em comportamento religioso, que tem no culto sua ex-
pressão pública. A ética e o culto jamais se separam.

O princípio fundamentalmente ético está na conduta


de cada indivíduo, na maneira de interagir na socieda-
de através do comportamento, atitudes e pensamen-
tos julgados como corretos moralmente. A ética cristã
tem seu fundamento na Bíblia, em relação ao certo e
o errado.

O Novo Testamento é o livro texto da moral cristã, e


Jesus é o seu exemplo prático.

Os cultos revelam no que creem os evangélicos. O


que se nota hoje é uma conotação competitiva e mer-
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A ética cristã e a pós-modernidade

cantil nessas celebrações, com a oferta de “produtos”


de acordo com a necessidade da clientela, além da
busca pelo inovador, o inédito, como meio de con-
quistar uma maior parte do “mercado”. Toda esta dis-
tância em relação ao texto bíblico, que denota culto
como adoração sincera, se dá por influência da cos-
movisão secularizada da contemporaneidade. Deus é
apenas um mero coadjuvante, não o centro do culto,
pois as atenções estão voltadas para o que é humano.
Ora é o cantor convidado, ora é o pregador de reno-
me; outras vezes, o público com suas necessidades,
que está ocupando o centro das atenções nas reuniões
evangélicas, ainda chamadas de culto.

Tudo isto revela uma ética questionável e negociada


pela competição mercadológica que transforma o tal
culto e a devoção em show e entretenimento. A Igre-
ja existe para ser luz e sal em um mundo em trevas.
Se falhar nisso, a Igreja fracassa em sua missão.

A presença constante de temas de autoajuda nos cul-


tos evangélicos é outro elemento notório quando o
assunto é a ética cristã. Muitas mensagens evangélicas
se tornam mais próximas dos textos de Lair Ribeiro8
do que do texto Sagrado. Deste segundo restam frag-
mentos que, alheios ao seu contexto, fortalecem as
ideias triunfalistas, fantasiosas, daqueles que afirmam

8 Escritor, conferencista e palestrante motivacional brasileiro.

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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

e reafirmam que o Evangelho resulta na solução de


todos os problemas do homem, e que o crente, por
ser “mais do que vencedor” e por “poder todas as coi-
sas”, está acima da realidade humana, ele é quase um
invencível ou um semideus.

Nossa força e vitória não são propriamente nossas. A


fraqueza humana fortalece a dependência de Deus.
Jamais podemos negar que o Evangelho nos levanta
do pó, nos tira do monturo, alegra o triste e renova as
forças do cansado, todavia, a mesma mensagem que
conforta também confronta. Será que devemos sair
de todas as reuniões jubilantes? Não seria saudável
também que saíssemos das reuniões reflexivos quan-
to à nossa condição espiritual?

O Reino de Deus é alegria no Espírito Santo (Rm 14.17).


A alegria é “no” e não “do” Espirito Santo. Isto é uma
tremenda verdade quanto à maturidade na vida com
Jesus. Nossa alegria não apenas vem Dele, mas é Ele.
Devemos nos alegrar Nele. Não é uma alegria que
emana de Deus pra nós, mas que está em Deus e é para
nós. Para vivermos esta alegria precisamos nos achegar
a Ele. A alegria do salvo é o Senhor. Seu caráter e Sua
vida são motivos para nos alegrarmos. A felicidade do
cristão é fruto de sua vida de Comunhão com a Palavra,
em santidade, justiça e amor.

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conclusão
Há uma grande responsabilidade em versar sobre pro-
blemas de alguém ou de algum grupo, já que se corre
o risco de partir para uma crítica barata, o que, em se
tratando de uma postura responsável, não faz o menor
sentido. Meu desejo é contribuir para o crescimento
da saúde espiritual, moral e emocional dos que se di-
zem seguidores de Cristo, ou seja, meu compromisso
aqui é com pessoas e não com organizações comu-
mente chamadas cristãs, mas que se distanciam cada
vez mais de Cristo em um processo de secularização
de si, por causa de suas próprias metas e propósitos.
Para isso, nesta conclusão, coloco posicionamentos
claros e diretos que, penso, serem úteis para que o lei-
tor visualize o quão graves são os fatos que envolvem
os efeitos da corrupção da essência cristã de muitas
instituições evangélicas.

Há uma tênue linha divisória entre o que é positivo na


modernidade tardia e o que é negativo em seus pos-
tulados filosóficos. A sociedade como um todo não
consegue separar estes aspectos antagônicos da era
pós-moderna, já que está participando de seu aconte-
cimento contínuo e presente in loco. Como parte des-
te tempo, as igrejas, assim como todas as instituições e
pessoas, também tendem a não notarem as influências
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

da pós-modernidade em seus pensamentos, prega-


ções e atos. Portanto, a única solução é que pessoas,
repito, pessoas despertem para estas sutis influências
do pensamento relativista e secularizado resultantes da
cosmovisão pós-moderna e, despertados, não fechem
os olhos para questões tão óbvias diante de si: há uma
distância gigantesca entre o espírito do Evangelho e
os movimentos evangélicos, desta distância advém
muitos abusos e muita gente ferida achando que está
amaldiçoada porque resolveu ver o que muitos líderes
religiosos não querem que ninguém veja. Acredito,
sim, que muitos pastores também não conseguem en-
xergar os fatos do jeito que são, mas que há também
uma boa parte que não deseja ver.

Assim sendo, proponho algumas reflexões:

• Quanto aos fins e aos meios


A inversão entre estes dois pólos indica uma mudança
de essência e propósito. O fim da Igreja de Jesus é ser
o meio para que o evangelho seja visível através da
vida dos discípulos do Mestre de Nazaré. Esta visi-
bilidade do Evangelho deve estar tanto nas relações
da coletividade quanto na vida pessoal. Qualquer
organização, instituição cristã, igreja, associação etc,
é, apenas, um meio para que a Igreja alcance o seu
fim. Há, nestes dias uma clara inversão destes valores.
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Conclusão

Muitas igrejas se portam como fim, fazendo com que


as pessoas as sirvam como quem serve a Deus. Servir
a uma organização não representa servir ao Senhor,
ao menos não por si só. As igrejas deveriam existir
para servir a Igreja, com meios para que esta alcance
o seu fim: o Evangelho de Jesus na vida. O que acon-
tece não é isso, já que muitas instituições se mostram
como um fim em si mesmo, fazendo com que as pes-
soas as sirvam e não servindo a ninguém que esteja
fora do seu raio de interesse.

• Quanto à centralidade de Cristo


Para que o verdadeiro objetivo do Evangelho não seja
perdido, é necessário um retorno ao sentido bíblico
para a vida, onde Cristo é o centro e a razão de tudo,
incluindo qualquer teologia, mensagem e modelo
ético. O que vemos hoje é que o antropocentrismo
impera e não o cristocentrismo na mentalidade e nas
ações de muitos movimentos evangélicos, principalmen-
te nos que são tangidos pelas idéias de prosperidade.
Cabe dizer que a Teologia da Prosperidade, nascida
nos EUA no início dos anos 80 e trazida para o Bra-
sil nos anos 90, é hoje, praticamente, censo comum
entre os evangélicos, sendo adotada até por quem diz
repudiá-la, mas que, porém, não nega partes interes-
santes a si desta distorção do evangelho. Como parte
interessante, destaca-se a ideia das bênçãos advindas
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

das doações de dízimos e ofertas e estes como único


meio estabelecido por Deus para que a pessoa usu-
frua da prosperidade conquistada na cruz por Jesus
Cristo. Dizimistas e ofertantes possuem o direito de
decretar a bênção e de cobrar de Deus que cumpra
suas promessas. Se Cristo é o centro da vida, o que
menos importa é o que se recebe em troca do que se
faz, e o que na verdade importa é servi-Lo no serviço
ao outro. O que se vê hoje, é uma grande valoriza-
ção ao ato do crente dar dinheiro para que as organi-
zações, confundidas com a Igreja de Jesus, cresçam
e verdadeiros impérios humanistas sejam edificados.
Reino de Deus? A humanização do pensamento faz
do ser humano a razão de ser. No Reino, o homem é
o alvo não o centro. Se a teologia e a pregação cristã
não forem cristocêntricas, resta o antropocentrismo.
A cada dia, portanto, se pregará mais sobre as reali-
zações humanas e sobre os sonhos pessoais. Isso é o
que já tem ocorrido, basta assistir os tele-evangelis-
tas e constatar que, com raras exceções, a mensagem
não é outra senão um humanismo barato e cheio de
promessas mágicas, distantes do Evangelho, mesmo
que se fale em nome de Jesus.

• Quanto à ética
É preciso um forte referencial ético em meio ao relati-
vismo moral da pós-modernidade. Se diante da cons-
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Conclusão

tante desmoralização por conta de escândalos financei-


ros, políticos e morais de quem, supostamente, carrega
a imagem de ética e moralidade, como são os líderes
religiosos, não reafirmarmos a verdade de que Deus
não os “encobre” em seus erros e que, ao contrário dis-
to, são pecadores como qualquer um outro, passíveis
de colher o que plantaram e também alvos da graça
de Deus, como qualquer pecador que se arrepende,
o discurso e a prática de uma moral bíblica vai cain-
do no desuso. As teologias que reafirmam a diferença
de status entre líderes e liderados no mundo espiritu-
al, onde liderados dão conta a homens e líderes são
corrigidos diretamente por Deus, criam um ambiente
de medo aos que, desavisadamente, passam os abusos
cometidos por sua “Autoridades Espirituais”. Relações
muito doentias são criadas neste âmbito. Dominadores
e dependentes se retroalimentam , pessoas perdem a
sua identidade, o tempo para a família, e até a vida,
em nome do serviço dedicado a uma liderança espiri-
tual. Quando não concordam, são rapidamente trata-
dos como traidores, já que esta relação de princípios
doentios se baseia na gratidão cega que, na verdade, é
o eterno débito do liderado para o seu líder. “Quando
você chegou aqui não era nada”, frases assim são repe-
tidas para fortalecer este paradigma da dominação: o
débito. Em Jesus, o referencial de vida e fé, não vemos
nem domínio, nem débito. Ele veio para servir, e levou
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

sobre si o que nós devíamos a Ele. A ética de Jesus é


a ética do certo pelo certo, o sim é sim e o não é não.
Impossível negociar com Ele.

• Quanto às igrejas e à Igreja


Estes são dois valores completamente diferentes que
podem, ou não, se encontrar na mesma realidade. As
igrejas são organizações religiosas regidas por seus es-
tatutos e geridas de acordo com a forma de governo
eleitos como sendo melhores para si. As igrejas, como
qualquer outra organização, vivem no universo dos
homens, portanto são humanas. A Igreja é um organis-
mo composto por gente que encontrou-se com Jesus e
por Ele foi encontrada. Gente que, em nome dEle, se
encontra uma com as outras e reúne-se. A Igreja de Je-
sus são pessoas, independendo de quantidade e pos-
tos hierárquicos. As hierarquias são realidades organi-
zacionais. O problema está na confusão entre igrejas
e Igreja, aliás, confusão muito comum nestes dias em
que tudo toma moldes institucionais para existir . As
igrejas propõem a espiritualização do que é humano
e humaniza o que espiritual. Espiritualiza-se os cargos
e títulos como se fossem parte de uma realidade ce-
lestial, portanto, crescer dentro de uma organização
é visto como crescer espiritualmente. Quem já viveu
isto sabe bem que não há nada de espiritual na corrida
pelos títulos e no status das hierarquias. Tudo isso é
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Conclusão

extremamente humano. Por outro lado, os ministérios


são regidos por estes títulos e cargos, e dessa forma
não se enxerga o exercício ministerial fora dos padrões
organizacionais, assim, as igrejas regem os ministérios
de acordo com o seu formato e interesse. Ministério
é serviço, é coisa da Igreja, é função no Corpo e não
requer título ou posição hierárquica, é apenas servir.
Aqui temos apenas um exemplo de humanização do
que é espiritual. As igrejas podem ou não congregar a
Igreja, e isso é coisa que ninguém pode julgar. Quem
é Igreja, simplesmente é. Seus frutos de amor pelo Se-
nhor é que testemunham isso. A Igreja pode reunir-se
em qualquer lugar, não precisa de um lugar sagrado,
já que o lugar santo é ela mesma: gente feita santa
pela graça de Jesus. As igrejas defendem seus ideais e
interesses; a Igreja só tem um ideal e interesse: Jesus.
As igrejas levantam suas bandeiras, dogmas e slogans;
a Igreja só levanta o Evangelho. As igrejas persegui-
ram e perseguem seus inimigos; a Igreja aprende que
é preciso amar os inimigos e orar por eles, fazendo
assim com que o vulto da inimizade termine.

• Quanto aos números


Seria muito bom se os ministros esquecessem da fama
e se voltassem para Deus, que é quem estabelece ou
abate. Uma vida de oração e compromisso com a Pa-
lavra é o segredo para um ministério frutífero, o que
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

nem sempre significa vultosos números. Como já dito,


ministério é simplesmente servir. As multidões pouco
representam. Ministério de sucesso é preocupação de
quem quer ser o primeiro no Reino. Quem discute
isso pouco sabe de Quem nos ensinou que o maior é
quem serve, e este, por ser servo, nem se importa em
ser o maior. Que os líderes se convertam em servos,
e que alguns, não sei quantos nem quais, realmente
se convertam.

• Quanto aos meus e aos seus


Pronomes possessivos não combinam com relações
saudáveis. No evangelicalismo eles estão muito pre-
sentes. É o meu pastor, a minha igreja, a sua igreja, a
sua ovelha, a minha ovelha e, tudo isso, é uma grande
ilusão. Ninguém é dono de ninguém senão o que é
Senhor de todos. Estas relações de posse já machu-
caram muita gente. Pessoas que entraram livres em
uma comunidade de fé, se tornaram um bem de seus
líderes e quando quiseram sair se feriram profunda-
mente. A entrada é larga e com “bem-vindos”, a saída
é um corredor de navalhas. A ilustração, infelizmente,
é real. As possessividades estão na origem das feridas
mais doloridas deste universo.

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Conclusão

Uma última palavra

Alguns leitores podem ter sentido a falta de longos


textos bíblicos ou de listas de referências para funda-
mentar alguns argumentos aqui expostos. A ausência
deles foi proposital, primeiramente pelo fato de alguns
não estarem familiarizado com tal prática; segundo,
porque este não é um trabalho de estudo bíblico e,
terceiro, a mensagem bíblica, no espírito da verdade
nela descrita, está presente em muitas linhas aqui es-
critas, mesmo sem a citação direta do texto sagrado.

Para finalizar, entretanto, quero te propor uma visão


rápida sobre um dos versículos mais conhecidos do
Novo Testamento. Romanos 12.2 possui, em seu tex-
to original, duas expressões que revelam profundas
verdades que se encaixam muito bem em tudo que foi
descrito aqui e, principalmente, nesta parte conclusi-
va. As expressões são as seguintes: mé siskematízeste
e metamorfúste. A primeira traduz-se por “não sejais
amoldados” e a segunda por “sede transformados”. O
interessante é que os dois verbos aqui utilizados estão
na voz passiva, logo, o sujeito sofre a ação, por isso o
uso do verbo auxiliar “ser” nas duas traduções (sejais
e sede). Como a voz dos verbos é passiva, outra opção
é a inclusão do verbo “deixar” nas expressões. Neste
caso, tal verbo destaca ainda mais a passividade do
sujeito na ação. Dessa forma teríamos: não se deixem
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Ser em tempos de não ser . Fábio Teixeira

amoldar ou conformar e se deixem transformar. Com


qualquer uma das opções de tradução, no sentido do
texto original, destacam-se as seguintes verdades:

• Para se amoldar, conformar ou tomar a forma deste


sistema sutil e dominador, basta não fazer nada . O
não agir faz com que o indivíduo conforme-se aos pa-
drões deste século, sendo apenas mais um em meio a
um todo dominado;

• Algo então precisa ser feito, este algo é se deixar


transformar pela renovação da mente. A proposta da
Palavra é de uma rendição de si ao evangelho, é se
deixar transformar. Não há invasão, há um Deus que,
por amor, transforma aqueles que se deixam mudar,
e, mudados, não se tornam perfeitos, mas, sim, livres
para ser luz do mundo e sal da Terra. O instrumento
desta transformação é a Palavra de Deus.

O que seria a transformação da mente senão a mudan-


ça de paradigmas e da cosmovisão?

Só há duas possibilidades: ou o indivíduo se confor-


ma ao mundo, ou se deixa transformar pela Palavra
de Deus.

O desafio lançado é o de ser discípulo de Jesus de


verdade, em tempos em que o não ser é a ordem
do dia. Não adianta dizer-se cristão, não adianta ser
membro de uma igreja, não adianta ter todos os dons
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Conclusão

e talentos, não adianta frequentar reuniões, construir


templos e nem qualquer outra coisa feita em nome
do Evangelho, diante de uma realidade tão sutil e ao,
mesmo tempo, agressiva que é capaz de engolir to-
das estas coisas de forma que elas, mesmo com jeito
de santidade, se corrompam a tal ponto que se tor-
nem expressões de um secularismo absoluto. O que
fará a diferença é mudança de mente, de essência,
de vida. Jesus inicia o seu ensino, segundo Marcos,
dizendo: “Arrependei-vos”. Mudança não de práti-
ca religiosa e nem somente de hábitos cotidianos.
É mudança de direção de vida, onde a vida deixa
de ter seu sentido próprio para ir no sentido Dele,
na direção Dele e de Sua Palavra. Só assim a mente
muda, fazendo com que vejamos a vida, o outro e a
nós mesmos, como Ele vê. Conversão ao evangelho
é isso, o resto é mudança de religião e de hábitos.

Deus guarde o Seu povo, e Ele sempre guarda os que


são Seus.

Venha o Teu Reino!

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Impresso em Janeiro de 2011
Cg Omega 9,2/16,4
Formato 100X180mm . Papel Off-set 75g/m2 (miolo);
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Tiragem: 300 exemplares

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