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o stcuta xx IHS O gee stalmizmn. ito, 1997, Lina revo fico, S40 Paule, Editors da Eunuac0 Pecseu fibeeme Semprin Jorge, 1979, dadobiyrafa se Federica Sinshe. Rio Uc Jani, Pan «Tera Wineent, Gland. 19894, “Ser ceamunisza? Lins mane! (args). Histiria da ide pruaals. $0 Paulo. Campari Wernh, Micolae. 1981, Etve commemaicte eo UR Os fascismos FPranciscn Carlus Teixeira da Silva Para a educa Jato dea exigéncia e 0s problemas decorrenies serem to subestimados testemu- nha que os homens nio se compenetraram da monstruosidade cometida. Sintoma esse de que subsiste a possibilidade da reincidéncia, no gue dia respeito «a0 estado de consctoncta anconsciéncia dos homens. ad exigdncta que Auschneitz nio se repita é primordial... Mas 0 THEODOR ADORNO, 1974 Ent vez de se ficar eonsolado com a sdéia de que eventos recordados pelo julga- ‘mento de Eichmari foram: excecdes 4 regra, seria mais provestoso investigar as condicGes nas civilzagbes do século XX, as condigBes sociais, que propiciaram barharismos desse ginora e que padertame favorecé-los de novo no futuro. NORBERT ELIAS 1892 As duas adverténcias acima, feitas por pensadores de diferentes orientagdes, ifustram as dificuldades, de duas ordens diferentes, do historiador do tempo presente a0 voltar-se para um objeto de estudo como o fascismo. De um lado, a série quase que material de dificuldades: passados cinguenta anos do hortor da Segunda Guerra Mundial, reunificados ou dissolvidos paises oriun- dos de seus eratados, os arquivos foram liberados, os testernunhos publicados uma infinidade de materiais novos surgiu para a anlise; por outro lado, po- deriamos apontar uma série de dificuldades te6ricas e, muitas vezes, éticas: @ fascismo converteu-se novamente em um movimento de massass em muitas cidades de importantes paises, sinagogas, cemitérios, bares gays, estrangeiros ¢ lugares de memdria do Holocausto sfo ultrajados. A velha e conhecida di- reita parlamentar se cinde, ofa apoiando os grupos neofascistas, ora distan- ciando-se dos novos birbaros. Ao contratio do kistoriador contempor’neo 420 fascissna — como Franz Neumann, Theodor Adorno ou Angelo Tasea—, nnds sabemos, através de Auschwiez, o que & 0 fascismo ou, ao menos, sabe- 0 SecuLo xx ‘mos qual é a sua prética; ao contrério, ainda, dos historiadores que escreve- ram no imediato pés-guerra, como Trevor-Hopper, G. Barraclough ou Eric Hobsbawm (até algum tempo), ndo podemos tratar o fascismo como um mo- ‘vimento morto, pertencente a histéria sem qualquer papel politico contem- porineo. Encontramo-nos, desta forma, numa situagZo ins6lita: sabemos qual a pritica e as conseqiéncias do fascismo e sabemos, ainda, que nfo éum fenémeno puramente hist6rico, aprisionado no passado. Assim, tomna-se im- Possivel escrever sobre 0 fascismo histérico — o que é apenas uma distingio didética — sem ter em mente o neofascismo e suas possibilidades. InTRODUCAO Denominamos de fascismo, algumas vezes mais corretamente no plural — fascismos—, 0 conjunto de movimentos e regimes de extrema direita que do- minou um grande nimero de paises europeus desde o inicio dos anos 20 até 1945, Assim, as express6es nazismo, nacional-socialismo, hitlerismo etc. re- cobririam uma 6 realidade politica, os regimes de extrema dircita que domi- naram varios pafses no perfodo em questio. A denominacao genérica fascis- ‘mo decorre da primazia cronolégica do regime italiano, estabelecido no poder em 1922, constitufdo em movimento politico de identidade prépria pouco antes, e do fato de ter servido de modelo, como veremos mais tarde, & maioria dos demais regimes. ( termo fascismo deriva de uma antiga expressio latina, fascio, que de- nominava o feixe de varas carregado pelos litores, na antiga Roma, ¢ com os 4quais se aplicava a justica. Dessa forma, tal sim lurante a Revolugao Francesa na Iélia,utilizado, pelos jacobinos, como representagao de liberda- de e no Risorgimento, jé no século XIX, como unidade nacional. Ao longo do século XIX, na Ilia, assumiu o carster de simbolo de agao politica, va- lorizando a justica a igualdade. Foi assim, por exemplo, com o seu uso pelo movimento dos trabalhadores sicilianos, entre 1893-94, ou com os interven- cionistas de esquerda, interessados na entrada da Ilia na Primeira Guerra ‘Mundial, aps 1914, No seu sentido arual, como simbolo de um movimento de extrema direi- ta, 0 fascio foi assumido pelo poeta Filippo Mariner, jé em 1917, com niti- do sentido nacionalista ¢ autoritério. Consumava-se, entio, uma ampla mi- a2 05 FascisMos gragdo de um simbolo até entdo tipi da esquerda e dos movimentos traba- Ihistas para o campo da. lrranacionalista (Milza, P.¢ Bernstein, 1992, p. 271; Bobbio, 1995). Embora const etalvez num dos fendmenos histér bliografia, o fascismo conheceu, final da década de 1980, uma vigo- rosa retomada de interesse, com gens € novas teorias explicati- vas. Tal fato se deve fundamentalmente a tés razes: i. apés os 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, varios paises, como 0s Estados Unidos, a Inglaterra e a Federacio Russa, comecaram a publicar seus arquivos, grande parte referente ao fascismo; i. a reunificag3o alema, a partir do fim do Muro de Berlim, em 1989, possibilitou a devolugao e abertura de arquivos especi- ficamente dedicados ao fascismo, como o Centro de Documentacao de Ber- lim (antes, de posse dos Estados Unidos), no qual estdo incluidos os arquivos dda Gestapo; i.e, por fim, mas talvez de suma importancia, 0 ressurgimento do fascismo como movimento de massas em paises como a Franga, Itilia, Fe~ deragao Russa ou na prépria Alemanha obrigou os pesquisadores a rever as andlises do fascismo que o vinculavam diretamente & conjuntura do pés-Pri- ‘meira Guerra Mundial. Assim, a historiografia anterior aos anos 80, de cu- tho por demais hist6rico, comegou a abrir espago para andlises mais concei- tuais, onde o fendmeno fascista surge como uma possibilidade da moderna sociedade de massas, e nao apenas de um periodo hist6rico determinado e ja findo da aventura humana. HISTORIA E POLITICA: © LABIRINTO HISTORIOGRAFICO DO FASCISMO- ‘Nossa insisténcia, em consondncia com a historiografia mais atual sobre o tema, na unidade basica do fendémeno do fascismo insere-se na preocupagéo ‘em apresentar uma teoria explicativa geral desse tipo de movimento politico, superando uma das caracteristicas bisicas dos estudos do fascismo no ime- diato pés-guerras a fragmentacio da analise em diversas narrativas descrii- s, onde o fascismo aparece como uma etapa da histéria da ., algumas poucas vezes, da Itdlia). ‘Uma das abordagens mais conhecidas ¢ imediatas ao pés-guerra, muito popularizada na midia, sobre o fascismo, defende uma abordagem ‘nica € na

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