Você está na página 1de 1

Portugal um pas historicamente conservador.

. No entanto, desde o 25 de Abril, a esquerda, com laivos mais ou menos radicais, sempre dominou na retrica social e poltica; as suas idias sempre foram consideradas mais correctas, mais nobres... em suma: na minha anlise sempre houve uma superioridade moral da esquerda, concedida at muitas vezes pelos prprios adversrios polticos. Este efeito levou a que muita direita, mais ou menos radical, estivesse, por assim dizer, no armrio. Neste momento parece-me desnecessrio que l estejam, positivo que haja multiplicidade de discursos, de idias, mesmo das mais radicais. Tambm preciso coragem para as submeter opinio e ao contraditrio. Isso a minha concepo de democracia. Por ocasio destes motins em Londres, que confesso me chocam bastante, muita opinio produzida cai na velha dicotomia das duas faces: os amotinados so uns coitadinhos, vtimas do sistema versus os amotinados so criados pelo estado assistencialista e pelo multiculturalismo. Qualquer uma destas anlises simplistas extremamente reconfortante, e extremamente errada. A primeira faco tenta justificar os motins com o neoliberalismo e o capitalismo, e rejeita ou secundariza que se precise de represso; a segunda faco quer represso e diz que nenhum trabalho social preventivo h a fazer, porque eles so mesmo assim, so como animais que s esto felizes a roubar e a aterrorizar os cidados. Eles so normalmente apontados como imigrantes, o que at nem exacto, neste caso. H muita gente a defender um discurso de dio sem se dar conta, pensa apenas que est a ser desalinhado com a generalidade da opinio pblica e a vingar-se da tal superioridade moral da esquerda. Pensa que tem mais razo por ir contra a corrente. o discurso do taxista, mais ou menos refinado. Ao ler algumas reaces a esta tragdia chego concluso que muita gente aceita uma das teses defendidas pelo executante do massacre na Noruega, Anders Breivik: o multiculturalismo o papo e raiz de todos os males. S que simplesmente na altura no teve coragem de o assumir. A minha anlise parte das idias rejeitadas pelas duas faces radicais: tem de haver uma aco dura da polcia, tentando no recorrer a tcticas terceiro-mundistas que transformem Londres em El Salvador. Tem de haver muito mais presena da autoridade, e muito mais dissuasora. Por outro lado, bvio que ter que ser reforada a vigilncia e o acompanhamento social a situaes que, todos ns sabemos, resultam nesta marginalidade. Os cortes cegos de Cameron, tanto na polcia como no acompanhamento social nos bairros problemticos, podem ter que ser revistos. At pode ser a tal Big Society, mas preciso que no seja s um conceito. preciso que exista. No nos podemos dar ao luxo de fechar os olhos s vrias perspectivas de anlise deste tipo de criminalidade oportunista, sob pena de termos de aceitar viver neste tipo de insegurana. E depois o que fazemos? Distribuimos armas populao? Voltamos ao faroeste.

Você também pode gostar