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25 aniversrio

Estranho no saber como comear um texto sobre uma experincia pessoal, como a de lembrar-me de ver a escola a ser construda, quase ao lado de casa, de conhecer as casas e as rvores que foram derrubadas para dar lugar aos pavilhes, de olhar para os edifcios como a promessa de uma escola para onde haveria de ir. Estranho no sentir uma ponta de nostalgia portuguesa, de saudade, de esprito breve. Estranho. Mas suponho que a ausncia de saudade seja o resultado de um tempo conseguido, de uma etapa vivida e muito sentida, um patamar de crescimento que nunca valeu por si, mas antes pela promessa de futuro. Sem prmios aos melhores alunos, que estudavam porque tinham de estudar e porque foram educados numa cultura, no de prmios, mas de mrito... E com amigos e festas e msica, tanta msica, e a primeira maquilhagem, os primeiros copos, as primeiras sadas noite, a descoberta da grandeza de alguns espritos, a fuga da fadiga das perguntas sem soluo. E isso ainda era a escola, como grande comunidade em balo, vivendo por si, com reflexos do que se passava fora dos portes. Os amigos ao sol, entrada do bar: ter sempre um stio para onde ir e conhecer quem l estava. Ir para a escola a p, almoar em casa, voltar, saber do fim-de-semana, ler literatura portuguesa sem sentir a obrigao, reconhecer a Filosofia e a Histria como degraus de civilizao, ler o Padre Antnio Vieira e os sermes e ficar feliz por isso. Ou, como dizia a Agustina, aprender que "h trs maneiras de viver numa civilizao: com as convices partidrias, com o julgamento dinmico do homem livre, ou com os impulsos do corao. Todas elas podem ser honrosas ou infames; depende da inspirao que sofrem umas das outras. Pois nada completamente necessrio seno na medida em que depende duma outra realidade." A realidade que me ensinou esta escola a realidade maior que guardo e preservo como parte de mim e que me serve todos os dias foi a de aprender que o trabalho em grupo o mais proveitoso e feliz. Posso no saber como comear este texto, mas sei muito bem como terminar. Usem esta escola, que nossa, o mais que possam. Porque nela podem encontrar tudo o que bom: os outros, os livros, e vocs prprios. No anseiem demasiado a vida adulta (evitem-na tanto quanto possam!) mas tomem o vosso tempo aqui para aprender a assumir as vossas responsabilidades.

Joana Castelo Branco Mouro

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