O PAÍS DAS MOQUECAS


Atualmente, duas receitas do prato destacam-se no território nacional. São justamente a da Bahia e a do Espírito Santo. Entretanto, mereceria idêntica projeção a do Pará, igualmente saborosa, na qual entram, além de peixes nobres amazônicos, como o filhote, elementos da culinária indígena: tucupi, jambu e goma de mandioca. Provavelmente não se espalha tanto pela falta desses ingredientes no resto do Brasil.
Quem inventou a moqueca de peixe? O historiador, antropólogo, etnógrafo e mestre do folclore Luís da Câmara Cascudo, no capítulo “Preceitos da Alimentação Brasiliense”, da “História da Alimentação no Brasil” (Global Editora, São Paulo, 2004), sustenta terem sido os índios. Afirma que o nome deriva de pó-kêca, ou seja, embrulhado. “Partiu dos peixes enrolados em folhas e assados no calor do borralho”, assegura.
O poeta, teatrólogo e etnógrafo Gonçalves Dias, autor de “Canção do Exílio” (Minha terra tem palmeiras, /Onde canta o Sabiá; / As aves, que aqui gorjeiam, /Não gorjeiam como lá), disse o mesmo no “Diccionario da Lingua Tupy, Chamada Língua Geral dos Indígenas do Brasil” (F.A. Brockhaus, Leipizig, Alemanha, 1858): “Mokéka, melhor pó-kêca, embrulho. Hoje significa guisado de peixe”. Mas há quem discorde de Luís da Câmara Cascudo e Gonçalves Dias, assegurando ser palavra derivada de mu’keka, vocábulo quimbundo, uma das línguas faladas na costa ocidental da África. Nesse caso, a receita teria influência predominantemente africana, o que é improvável.
Entre a primavera e o verão, sucessivos cardumes de manjubas sobem o rio Ribeira, no litoral sul de São Paulo, em busca de lugares para desovar. Referimo-nos ao pequeno peixe da família
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