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Não há finais felizes, capítulo 1 de 3: A Rapariga
Não há finais felizes, capítulo 1 de 3: A Rapariga
Não há finais felizes, capítulo 1 de 3: A Rapariga
Ebook170 pages2 hours

Não há finais felizes, capítulo 1 de 3: A Rapariga

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About this ebook

Num tempo desconhecido, um grupo de estranhos, conhecidos, amigos, sai da sua vida tranquila ao embarcar numa jornada improvável para ajudar uma rapariga misteriosa a recuperar a sua identidade.
Neste primeiro capítulo da trilogia Não há finais felizes encontram-se, pela primeira vez, as personagens da história, dando-nos a descobrir o mundo onde vivem, revelando-nos que este é, no fundo, o nosso próprio mundo .

LanguagePortuguês
PublisherPedro Moreira
Release dateDec 28, 2013
ISBN9781310899904
Não há finais felizes, capítulo 1 de 3: A Rapariga
Author

Pedro Moreira

Unknown.

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    Não há finais felizes, capítulo 1 de 3 - Pedro Moreira

    Não há finais felizes, Capítulo 1 de 3: A Rapariga

    Pedro Manuel Ramos Moreira

    Published by Pedro Moreira at Smashwords

    Copyright 2013 Pedro Moreira

    Prólogo

    Tão pouco sabe o Homem. Sobre a Luz. Sobre o Universo. Sobre o seu mundo. Sobre a História do seu mundo. Sobre a sua História. Sobre a Vida e a Morte. Sobre os sentimentos. Sobre o Amor. Sobre si mesmo.

    Tão pouco sabe o Homem sobre a Luz. Começou tudo há milhares de milhões de anos. Começou com uma faísca, uma centelha, uma chama, uma explosão. Nasceu o Universo. Dele, as galáxias. As estrelas. Os planetas. Na pequena Via Láctea nasceu o pequeno Sol. No pequeno Sol nasceu a pequena Terra. Ínfima. Frágil. Insignificante. Viva.

    Tão pouco sabe o Homem sobre o Universo. Começou com uma faísca. Uma centelha. Uma chama. Um milagre. A pedra passou a ser algo mais. A água passou a ser algo mais. A eterna chama da Luz, da vida, da alma, surgiu tão repentinamente como a Terra, o Sol, a Via Láctea, o Universo. Ínfima. Frágil. Insignificante. Milagrosa.

    Tão pouco sabe o Homem sobre o seu Mundo. A Luz fortaleceu a chama. O milagre. A Luz pintou de azul e verde o insignificante grão de pó chamado Terra. O grão de pó cheio de movimento. O grão de pó vivo. Nos seus mares, milhões de vidas, de animais, percorriam o seu caminho. Sobreviviam, adaptava-se, cresciam. Saíam dos mares para o pó. Do pó, para os ares. Cresciam em tamanho, imponência, sobrevivência. Alimentam-se do verde, das árvores, das plantas. Alimentam-se uns dos outros. Sempre evoluindo, adaptando-se, ao frio, ao calor, ao ambiente, ao mundo. A Terra que os viu nascer fustiga-os, testa-os, treina-os. Os mais fortes sobrevivem e adaptam-se. Os mais fracos desaparecem na eternidade, não deixam a sua marca na Terra, a sua marca na evolução.

    Tão pouco sabe o Homem sobre a História do seu Mundo. Nenhuma espécie domina as outras. À sua maneira, as provações que a Terra lhes dá mantém firme o balanço, o equilíbrio, o sistema de vida ou morte, de mutação ou extinção. Grandes ciclos de vida são precedidos de grandes catástrofes. Espécies inteiras extinguem-se quando o frio ou o calor são anormalmente grandes, por períodos anormalmente grandes. Esses desbalanços levam a novos balanços, novas formas de vida, que nunca surgiriam à tona, que nunca povoariam os continentes, se as outras não desaparecessem. Visto da Terra, uma extinção global acontece em espaços de tempo aparentemente enormes, gigantescos, cósmicos. Visto do Cosmos, uma extinção global é uma banalidade, é quotidiana, é rotineira.

    Tão pouco sabe o Homem sobre a sua História. Há três milhões de anos, surgiu. A Luz guiou a evolução até esse ser. O ser que pensa. O ser que se adapta. Que trabalha em equipa, que sobrevive. Mais que sobreviver, vive, porque pensa, porque sente. Porque ama. Porque teme. Teme sobretudo a morte, o fim da sua vida, o fim de todas as coisas, o Fim dos Dias.

    Tão pouco sabe o Homem sobre a Vida e a Morte. Todas as coisas surgiram porque a Luz assim o fez. Toda a vida surgiu porque a Luz fez a faísca. A centelha. A chama. A chama eterna arde em todas as coisas, na Vida e na Morte, e a chama eterna é o que arde dentro de todas as coisas, a chama eterna que nunca se apaga. O Homem teme a sua morte. Mas ela não é mais que uma transição, não é mais que a passagem da sua chama eterna de um invólucro, de um corpo, para outro estado, outro corpo, outro invólucro, tal como acontece com todas as outras coisas que respiram, comem, andam, morrem, vivem.

    Tão pouco sabe o Homem sobre os sentimentos. Sobre o Amor. Sobre si mesmo. A sua chama eterna, a sua chama que nunca se apaga, sente. Ama. Vive. Essa é a sua essência. Essa é a sua Alma. A Luz deu essa chama a todas as coisas, a todos os homens, para que sintam. Para que amem. Essa é a única coisa que todos os homens têm, a única coisa que todos conservam para além da morte. E é a única coisa que não veem, que não sentem, que não conhecem. Não compreendem o que é, o que faz, para que serve. Não a controlam, nem sabem o que fazer com ela.

    Tão pouco sabe o Homem. Sobre tudo. Não sabe de onde vem, para onde vai, o que é a Alma, o que é a Luz, o que é o Universo, o que é a sua História. Menos de cem séculos, é o que conhece. Menos de cem séculos, com muitas incongruências, muitos vazios, muitos lapsos. Nesses cem séculos, nessa miséria temporal, nesse minuto cósmico, o Homem saiu das grutas, das casas de pedra e palha, para os prédios de betão e tijolo. Das carroças puxadas por animais, para os aviões nos céus, dos céus até ao limite do Universo infinito. Num minuto. Em cem séculos.

    Nada, é o que o Homem sabe sobre si. Nada do que se passou em todas as dezenas, centenas, milhares de séculos que antecederam este minuto. Nada do que ficou esquecido e apagado da História, por aquele acontecimento tão banal que a Luz viu dezenas, talvez centenas de vezes, desde que o Homem nasceu: o fim de todas as coisas. O Fim dos Dias. O Dilúvio. O Apocalipse. O Juízo Final, que nunca foi tão final assim na breve história do pequeno grão de pó chamado Terra.

    As chamas eternas nunca se apagaram. A Luz nunca as abandonou. Mas muitos abandonam a Luz. A fé e a esperança desaparecem dos corações dos homens, e as suas chamas eternas esfriam, enfraquecem, quase se desvanecem por completo. A Escuridão surgiu com o Homem, tenta-o, confunde-o, cega-o. Faz parte do mundo, da vida, da Terra, pois não há Vida sem Morte, não há calor sem frio, não há Luz sem Escuridão. Todo o milagre surge na catástrofe, toda a bonança na tempestade, todo o herói no seio do escuro. São eles que levam a Luz onde ela não chega, são eles que transportam consigo as esperanças e os sonhos, as alegrias e a força das chamas eternas de todo o mundo.

    Tão pouco sabe o Homem. Hoje. Em tempos esquecidos, apagados nos séculos, compreendia coisas que não compreende agora, sabia coisas que já não sabe, fazia coisas que nunca mais fez. Compreendia o que era a Luz. Sabia o que era a sua chama eterna, a sua Alma, e o que fazer com ela. Fazia coisas como usar a Luz, os elementos, a magia, as forças que governam o mundo.

    Nada sabe o Homem. Do tempo dos heróis, esquecido nos séculos, onde homens e mulheres, velhos e novos, fortes e fracos, levavam com eles a esperança da salvação. A salvação de um destino inevitável, aborrecido, repetitivo, banal: a extinção.

    Escuridão e Luz

    ?? D. L.

    Só houve uma constante desde que o Homem existiu: a guerra. Fosse na história que todos conhecem ou nos tempos longínquos, por contar, o Homem sempre teve a fantástica capacidade de se autodestruir pelas mais patéticas razões. E a guerra, essa, chega a todos, independentemente de onde o Homem esteja ou se esconda.

    Até na mais pequena quinta, no mais recôndito canto, ela chega. Soliari já a ouviu às suas portas por várias vezes. A pequena seara que tem semeada em redor da sua casa, se a pudesse ver, estaria dourada e salpicada de vermelho, como reflexo do céu antes do pôr-do-sol. Quanto tempo se passou desde que se começaram a ouvir as espadas a gritar e gemer lá fora? Horas? Dias? Semanas? Mesmo que pudesse ver, de dentro do canto da cave em que se escondeu, nunca saberia.

    Passaram horas. Dias. Semanas. Minutos, talvez, desde que o mais ensurdecedor silêncio apagou os gritos. Decidiu sair. Talvez tivesse acabado. Talvez tivessem ido embora. Talvez estivessem todos mortos.

    O medo traz ao homem os instintos primários. A sobrevivência. O animal. Mas quando o medo começa a se desvanecer, o animal vai embora, e homem volta. Com ele, os sentimentos, os entes queridos, a preocupação. Soliari lembra-se dos seus pais. Os seus pais, que estavam lá fora, quando tudo começou. Talvez tenham fugido. Ou se tenham escondido nos estábulos. Ou talvez estejam…

    Os olhos de um cego são a sua bengala. Sem ela, Soliari sentia-se ainda mais perdida. Pé ante pé, passo após passo, caminhou pelas rangentes escadas de madeira que a levavam até à superfície. O ar, lá em cima, parecia mais fresco e nauseabundo que nunca. Cheirava a sangue, a morte, a brisa da noite que chegava. Soliari tremia. De medo, de frio, de algo que nem ela própria sabia. A casa parecia intacta. Pelo menos assim pensou, quando tropeçou na mesa da cozinha e derrubou o vaso que nela estava, partindo-o. Mas se estava na cozinha, estava perto da vassoura, vassoura que podia ser a sua bengala.

    Conseguiu sair de casa. Se pudesse ver, pensava para si, saberia que se passou aqui. Mas não vê. Apenas cheira e ouve. Cheira o sangue e a morte. Ouve as moscas e os necrófagos que prontamente correm para aquele fantástico festim, ouve o som da brisa da noite, ouve todas as vozes que ali se calaram, vezes e vezes sem conta.

    - Mãe? Pai? – Grita para o desconhecido.

    - Mãe? Pai? – Chora para o exterior. De alguma forma, sabe que o pior aconteceu, mesmo sem saber. Ajoelha-se e pensa no que vai ser de si, sozinha, cega, rodeada de morte e dor. Chora durante horas, dias, semanas, minutos talvez, até que um ténue gemido ecoa pela noite, cortando a brisa da noite, calando de vez as vozes que ouvia na sua cabeça.

    - Está aí alguém? – Pergunta para o gemido, que lhe responde de novo. Estava alguém, estava alguém vivo, no meio de todo o vazio eternamente negro que era não poder ver. Soliari apressou-se a lá ir. Cuidadosamente, passando entre armas partidas, corpos inertes e armaduras que, imaginava, seriam reluzentes, lá chegou ao pé de quem gemia. Não era a mãe, nem o pai, pois estava armadurado, ao contrário daquilo que um simples camponês alguma vez poderia estar.

    - Podes ouvir-me? – Não podia. Não respondeu. Mas respirava, Soliari sentia-o, sentia o seu bafo quente. Nunca poderia carregá-lo até casa. Não com aquela armadura posta. Sabia que ele estava ferido, pois sentia o seu sangue a escorrer por todo o lado, mas não sabia onde nem com que gravidade.

    A única ideia que lhe ocorreu foi ir ao estábulo buscar o carro de mão que usavam para carregar a palha para os animais. Com a sua ajuda já poderia carregar o ferido, com armadura e tudo, para depois o tratar, o curar. Aquela vida era agora a sua vida, era a única coisa que a fazia ter forças para continuar. Soliari não queria estar só, no silêncio e no escuro eterno, queria alguém com quem estar, falar, que a ajudasse, que visse por ela.

    Conseguiu não se perder na longa e conturbada viagem de escassos metros até ao carrinho de mão. A viagem que a ela pareciam milhas e milhas no vazio. Novamente ouve o gemido. Não era o mesmo. Ou seria? Não parecia o mesmo. Novamente lhe correm as lágrimas pelos olhos sem vida, chora e soluça perante a sua impotência, desejando que, só por breves segundos, pudesse ver. Não para sair do escuro e do vazio, mas sentindo que poderiam haver vidas a salvar se conseguisse fazer algo mais. Novamente o gemido. Mas agora conseguiu perceber de onde vinha. Não era o mesmo, era outro, mais próximo, mais forte. Também tinha armadura. Também estava ferido. Também o levaria no carrinho para dentro.

    Passaram semanas. Meses. Dias, talvez. Toda e qualquer noção do tempo parecia perdida desde que a batalha lá fora tinha começado. Toda e qualquer noção de dia era inexistente na sua cegueira. Soliari cuidava dos dois feridos como podia, um na sua cama, no seu quarto, e outro no quarto que pertencia a seus pais. A cada momento que passava mais ténue lhe parecia a esperança de os voltar a ter perto de si. Nunca vão voltar, pensava.

    - Onde estou? – Pergunta uma voz perturbada do outro quarto. Soliari corre para lá.

    - Está tudo bem! Tenha calma.

    - Quem és tu, menina? O que é que me fizeste? – Pergunta a voz, tonta.

    - Chamo-me Soliari, moro nesta quinta. Encontrei-o lá fora, tratei-o como pude. Como se sente?

    - Como me sinto? Dorido. Cortado. Havia de me sentir como? – Diz enquanto se tenta levantar.

    - Não se mexa, não saia daí ou rebenta os pontos. Estava a sangrar imenso quando o encontrei, ainda está muito fraco. – Com um gesto, Soliari põe a sua mão na cabeça do desconhecido e força-o a deitar-se. Entretanto, este observa o seu corpo e nota que muitos dos curativos não estão bem feitos. Com um ar que é um misto de insatisfação e sarcasmo, pensa em voz alta:

    - Olha bem para estes pontos. Está tudo mal feito! E as ligaduras? Nem acertaste em metade dos sítios. Mas tu és…

    - Cega? – Interrompe ela – Sou. Agora descanse que vou buscar ali qualquer coisa para o senhor comer.

    Assim que a jovem sai do quarto, o desconhecido segue-a com o olhar. A cozinha era do outro lado da porta. Estava bastante desarrumada, algo que atribuiu à cegueira da sua curandeira. Os raios de sol da manhã entravam por uma janela que não via, pelo seu lado direito. Depois da cozinha, lá ao fundo, via uma outra porta aberta, para o que supunha ser mais um quarto.

    - Aqui tem uma sopinha e pão. Coma, está

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