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Mutuwa
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Mutuwa

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About this ebook

Por trás das máscaras que os habitantes usam todo o tempo estão ocultos mais do que rostos. Segredos de um passado de tragédias e medo são conectados conforme lê-se cada história. Os contos são interligados por seus atormentados personagens que vivem na pequena e isolada vila entre os Rios Abada (Vida) e Mutuwa (Morte). A cada conto, novos aspectos dos mitos e mistérios que envolvem o culto aos rios e a cidadezinha são descobertos, revelando uma realidade onde o macabro, o sobrenatural e o bizarro são parte do cotidiano.

LanguagePortuguês
Release dateMar 30, 2015
ISBN9781311661647
Mutuwa
Author

Igor De Alcantara

Nascido na pequena cidade de Janaúba-MG em 07 de Maio de 1977, Igor Alcantara mudou-se logo cedo para Brasília-DF, onde viveu a maior parte de sua vida, tendo morado ou visitado quase todas as unidades da federação.Desde cedo ele foi levado a ler compulsivamente. Como estudava no período da manhã e morava longe, só podendo voltar para casa à noite, gastava suas tardes em uma biblioteca de Brasília.Por isso, desde seus nove anos de idade, leu diversos clássicos da literatura. Aos dez anos já conhecia a obra de Oscar Wilde, aos onze já havia lido Homero e Dante e aos doze, todas as peças de Shakespeare e boa parte dos livros de Kafka, Dostoievski e Machado de Assis, seus autores preferidos.Seu primeiro conto, “A Flor de Moscou” foi escrito aos onze anos. Desde então ele nunca parou de escrever. Boa parte do que produziu foi perdido, mas algumas coisas ainda persistem. Outras tantas obras ele simplesmente escreveu como presente a alguns amigos, não guardando cópias das mesmas. Já algumas foram perdidas durante o tempo.Igor Alcantara é um autor que acredita que escritores precisam se arriscar em terrenos antes não explorados. Por este motivo seus livros são de estilos diferentes entre si. É apenas saindo da "zona de conforto" que se pode realmente evoluir na arte das palavras.Apenas após os trinta anos de idade publicou algumas de suas obras escritas no passado e textos inéditos. Com as novas tecnologias gráficas, esse antigo sonho tornou-se realidade.Logo após a publicação, algumas de suas obras foram premiadas em diversos concursos literários, o que representou o início do reconhecimento de seu talento como escritor.Se quiser saber mais sobre Igor Alcantara, além de obter informações adicionais sobre este e outros livros, visite a página pessoal do autor:http://www.igoralcantara.com.br

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    Mutuwa - Igor De Alcantara

    Ela abriu os olhos, mas era como se não o tivesse feito. Percebeu-se sentada em uma cadeira. Seus braços estavam apoiados à mesa em sua frente. Ela pode apenas deduzir isso, já que não era capaz de ver absolutamente nada. Nem mesmo contornos ou vultos. A escuridão era densa, como se presenciasse o próprio fim do Universo.

    Ela sofria com uma dor-de-cabeça que jamais sentira. Os espasmos iam e vinham em ondas com intervalos precisos. Levou as mãos à testa comprimindo o crânio como se isso fosse ajudar de alguma forma. Não ajudou. Sentiu-se tonta. Apesar de não poder enxergar nem mesmo um palmo à frente do rosto, teve a impressão de que o mundo girava à sua volta. Teve vontade de vomitar.

    A obscuridade absoluta fez com que ela sentisse medo. Não sabia onde estava e nem o motivo de estar tão escuro. O fato de não poder enxergar a fez experimentar a completa vulnerabilidade a qual estava exposta. Poderia estar sendo observada ou mesmo ser atacada a qualquer momento e jamais saberia de onde veio a ameaça. A escuridão, ao invés de aliviar sua dor, a fez ainda mais insuportável.

    O silêncio era igualmente pleno. Ela jamais havia presenciado tamanha quietude. Nem mesmo o som de seu coração era possível ouvir. A sensação era de completo vazio. Talvez fosse isso que a deixou doente daquela maneira. A mente humana não suporta a aniquilação de todos os sentidos. Aquela mulher chegou a achar que estava flutuando no vácuo que acredita-se existir após o fim de tudo.

    Notou que estava molhada. Molhada não, melhor seria dizer, encharcada. Passou as mãos pelos cabelos, pescoço e pernas e estes estavam pegajosos. Ela se perguntou como não percebera isso antes, mas não havia resposta plausível. Sacudiu os braços, mas isso não foi o bastante para produzir qualquer som. A agonia aumentou a um ponto que ela resolveu se levantar para tentar descobrir onde estava.

    - É melhor você se sentar novamente – disse a Voz.

    - Quem é você? Onde eu estou? – Respondeu.

    - Sou eu quem faz as perguntas – Encerrou a Voz.

    Seus sentimentos eram confusos. Por um lado, houve o alívio por perceber que não estava sozinha. No entanto, muitas dúvidas inundavam sua cabeça. A primeira delas foi: Como a outra pessoa presente naquele local sabia que ela havia se levantado se ao fazê-lo ela não emitiu nenhum som e nada no ambiente podia ser visto?

    Esperou que a Voz começasse o anunciado interrogatório, mas aparentemente esta preferiu continuar a tortura-la com o silêncio. Ela sentiu um vulto passar rapidamente ao seu lado. Por impulso, virou assustada, mas obviamente nada viu. Não sabia onde estava, com quem estava e muito menos o porquê de estar ali. Apenas tinha o pressentimento de que algo muito ruim estava prestes a acontecer.

    - Por que você voltou? – perguntou a Voz.

    - Voltar? Como assim? Eu nem sei onde estou!

    - Não importa onde você está! O que importa é o que você está fazendo aqui. Você não deveria estar em lugar nenhum! – Seu interlocutor invisível estava agora bastante irritado.

    - Eu não tenho a menor ideia do que você está falando.

    - Não me enrole, porra! Diga logo: o que você está fazendo aqui?

    - Eu, errr.. eu... eu... – gaguejava ela, apreensiva e incerta sobre o que falar – não sei de nada.

    Ouviu-se o barulho de uma mão batendo violentamente contra a mesa. Depois, algo foi lançado contra a parede e pelo som produzido deve ter sido destruído. O dono da Voz ficava resmungando para si mesmo palavras incompreensíveis enquanto caminhava de um lado para o outro. Ainda não era possível ver o que acontecia, mas os ruídos produzidos davam uma boa ideia disso.

    - Não era para você estar aqui! Você morreu! Você morreu! O que mais quer de mim, sua desgraçada!

    Ela ficou sem palavras. Não podia acreditar no que aquele homem a dizia. Como poderia estar morta? Se ela podia pensar, interagir com outra pessoa ou mesmo encontrar-se sentada em uma cadeira, não era o bastante para provar que estava viva? Aquele que a interrogava só poderia estar louco.

    - Me desculpe, mas o Senhor com certeza está me confundindo com outra pessoa. Se eu estivesse morta, como poderia estar aqui conversando? – Respondeu a confusa mulher.

    - É exatamente isso que eu quero saber. Como foi que você voltou? Eu já ouvi falar de outros que voltam, mas logo você? Tem que ter alguma razão para isso. Por que Ele te mandou de volta?

    - Ele? Mas quem é Ele?

    - Você sabe de quem eu estou falando: O Rio! – Dito isso, ele esmurrou mais uma vez a mesa – Porra, preciso de um cigarro – e saiu, batendo uma pesada porta atrás de si.

    - Rio? Mas de que rio você está falando? – a pergunta dela ficou sem resposta.

    O rio mencionado pela Voz era um dos dois que circundavam o local onde eles estavam, lugar este que os moradores chamavam apenas de Vila. Ao leste, havia um riacho de águas transparentes e limpas, repleto de peixes que era a base da vida da comunidade. A este deu-se o nome de Rio Abada, que para todos tinha um caráter divino.

    No entanto, a Voz referiu-se ao rio do lado oeste. Este era largo e muito profundo. Seu leito era escuro e viscoso. Ninguém chegava perto dele a não ser em situações muito específicas. Não se podia comer seus peixes ou beber de sua água, pois isso amaldiçoaria a pessoa. Seu nome é Mutuwa (sendo que a letra w neste caso tem o som de u), mas é proibido aos moradores pronunciar essa palavra. Eles o chamam por vários apelidos como Sombrio, Nebuloso, Rio do Oeste, Rio da Morte ou simplesmente O Rio.

    A vida dos habitantes da Vila era dividida entre o culto ao Rio do Leste e o temor e obediência ao Rio do Oeste. Isso moldou toda a economia e costumes locais. Os bairros mais próximos de Mutuwa eram onde viviam as pessoas mais pobres. Nenhuma placa apontava para o lado Oeste, pois isso era sinal de má sorte. Até mesmo as camas eram colocadas nos quartos de modo que as pessoas não dormissem voltadas para esta direção. Quando era imprescindível caminhar rumo oposto ao Leste, as pessoas iam cabisbaixas. Olhar com a cabeça erguida era um sinal de desrespeito e o Rio jamais perdoava atitudes como essa.

    A mulher percebeu pelo som que uma porta foi aberta. Sua dor-de-cabeça havia passado. Ela agora podia ouvir o som dos passos de seu interlocutor se aproximando. Lentamente, ele arrastou uma cadeira e se sentou de frente para ela, do outro lado da mesa.

    Um som de isqueiro rasgou o ar e ele ascendeu um cigarro. Tragou longamente como se aquele fosse o último e soltou a fumaça bem devagar. A chama, mesmo que discreta, a permitiu ver parte do rosto do homem. Ela não se lembrava de tê-lo conhecido. Com um gesto, ofereceu a ela um cigarro, mas esta oferta foi recusada. Ele então voltou a falar.

    - Espero que este tempo tenha sido o bastante para fazê-la pensar melhor. Por favor, colabore, é o correto a ser feito.

    - Desculpe, meu Senhor, mas não sei o que dizer. É óbvio que fui confundida com outra pessoa, pois se tenho certeza de algo, é que estou viva. Também não sei que Rio é esse, mas se me disser onde estou, onde fica esse Rio ou mesmo o nome dele, eu prometo que farei o possível para ajudá-lo.

    - Maldita! Acha que vou cair neste truque? Você acabou de confirmar minhas suspeitas ao tentar me iludir. Acha que eu vou ser o idiota o bastante para pronunciar o nome do Sombrio?

    Ela ficou sem fala. Aquela reação foi inesperada. Ela acreditou que suas palavras iriam acalmá-lo, mas serviram apenas para irritá-lo mais ainda. As dúvidas só aumentavam. O que estava acontecendo? Por que estava presa naquele local escuro e seu carcereiro agia como se fosse ela quem tivesse as respostas? Que diabos de rio era aquele e por que aquele homem maluco insistia em dizer que ela estava morta?

    Ele se levantou da cadeira e ficou andando em círculos com o cigarro na boca. Apenas quando se ergueu, ela percebeu o tamanho de seu interrogador. Ele era alto e muito forte. Poderia estrangulá-la até a morte com apenas uma mão sem que ela tivesse chance alguma de defesa. Quando ele tragava o fumo, a luz do mesmo fez com que ela visse suas mãos com mais detalhes. Eram grandes e rudes. Pareciam moldadas pelo trabalho braçal.

    Enquanto os pulmões do homem puxavam a fumaça cancerígena para seu interior, ela era capaz de ver mais detalhes daquela pessoa. A camisa social branca que trajava estava um pouco suja e coberta por suor. Ele parecia fazer uma força descomunal para fumar, talvez pelo estado de cólera em que se encontrava. Grossas veias saltavam de seu pescoço encorpado e seu rosto se avermelhara. Ele aparentava-se com o próprio diabo.

    Os gases tóxicos saíam por entre os dentes cerrados e alcançavam o ar em uma velocidade diferente da esperada. Aliás, tudo ali acontecia em um ritmo estranho. Talvez fosse um sonho ou, quem sabe, ela estava sob o efeito de alguma droga e foi por isso que sentiu uma dor-de-cabeça tão forte quando despertou naquela cadeira.

    Ela o observava atentamente. Algumas vezes parecia que ele andava em câmera lenta como se o tempo estivesse correndo devagar. Em outros momentos, ela piscava os olhos e ele já estava do outro lado do ambiente, como que se movendo na velocidade do pensamento. Isso foi deixando-a mais confusa e ao mesmo tempo apavorada. Foi quando o homem sentou-se novamente e voltou a conversar.

    - Acho que começamos errado. Desculpe-me, devo tê-la assustado. Vamos tentar novamente, tudo bem?

    - Está bem – disse ela, com a voz trêmula.

    - Meu nome é Raul. Muito prazer. Agora, poderia me dizer o seu?

    - Está bem, Raul. Eu só quero esclarecer tudo isso para poder ir embora. Bem, meu nome é... é... meu nome é, errr.. eu, eu... eu não me lembro!

    O interrogador se levantou calmamente com um sorriso que no início pareceu de satisfação, mas que logo se transformou em uma risada psicótica. A chama do cigarro que ele fumava era a única luz produzida no ambiente escuro e apenas por isso ela conseguia enxergá-lo. Isso o tornava ainda mais assustador. Ao deixar a cadeira, ele voltou a andar em círculos.

    - Bem que você me alertou. Se eu não soubesse o que sei ou se não tivesse sido orientado por você, ela facilmente teria me enganado e as consequências poderiam ser graves – proferiu Raul. Ele parecia conversar com outra pessoa cuja presença não foi notada por ela.

    - É isso mesmo que acha que devo fazer? Será que é seguro? – dizia ele como que respondendo à pergunta de alguém – está bem, está bem! Não quis duvidar de sua palavra, apenas quero confirmar se entendi direito.

    - Com quem você está falando? O que vai fazer comigo? – perguntou a mulher, já desesperada.

    - Não seria melhor saber por que o Rio a mandou de volta? Ou você acha que... – ele parou um pouco, deu o último trago no cigarro e o apagou. Com isso foi embora a pouca luz que havia no ambiente – o dia é hoje? Se for este o sinal profetizado, temos que fazer de tudo para evitar. A presença dela aqui ou mesmo a existência dela pode colocar tudo a perder. Tudo!

    Ela não mais conseguia ver nada, mas sentia que ele se aproximava. O pavor a dominou ao acreditar que aquele que a aprisionava podia ser vítima de algum transtorno mental severo. Desta maneira, seria impossível trazê-lo à razão. Suas atitudes eram imprevisíveis bem como o futuro que a aguardava. Se ele achasse que sua missão era matá-la, nada poderia impedi-lo.

    Uma pesada mão a levantou pelos cabelos e a empurrou contra a parede. Ela não podia vê-lo, mas sentiu sua respiração forte sobre seu corpo. Ele cheirava sua nuca como um animal selvagem fareja sua presa. Um enorme sentimento de nojo a invadiu quando ele passou a língua fétida em seu pescoço. Ela pensou em pedir para que ele não fizesse aquilo, mas ele apertou seu cabelo com ainda mais força, fazendo-a perceber que era melhor se calar.

    - Você deveria ter colaborado, vadia – disse o homem.

    Cada músculo do corpo da mulher se contraiu quando as mãos cheias de calos entraram por debaixo do vestido e apertaram-lhe as coxas com firmeza. Ela começou a chorar quando ele violentamente rasgou-lhe a roupa. O homem apertava suas nádegas com força enquanto a barba áspera raspava sua pele. Sua respiração tornou-se mais intensa no instante em que ele passou a beijar os seios desnudos e gelados daquela a quem antes interrogava.

    As lágrimas da mulher tornaram-se mais abundantes quando ele mordeu seu pescoço. A mão esquerda prendia-lhe pela nuca com força enquanto o dedo médio da mão direita penetrava em seu ânus. Ela tentava fechar as pernas, mas ele as afastava novamente com os joelhos. Quanto mais medo ela sentia, mais excitado ele ficava.

    - Por favor, não faça isso com... – ela não foi capaz de terminar a frase, pois ele acertou-lhe um violento soco no rosto que a derrubou no chão.

    Ela sentou-se contra a parede em uma vã tentativa de se proteger quando ouviu o som do zíper da calça de seu agressor ser aberto. Ele a segurou firme pelo pescoço e aproximou a cabeça dela contra sua genitália fétida. Ela virou a cabeça em sinal de repulsa, mas ele a estrangulou ainda mais forte, obrigando-a a voltar para a posição que ele a conduzia. Seus lábios tocaram o pênis de seu agressor e ela, tamanho o asco que sentiu, vomitou.

    - Olhe o que você fez, sua vagabunda! – Gritou Raul, dando-lhe um tapa no rosto tão forte que a fez bater a cabeça no chão com violência.

    Ela não pode tentar uma reação, pois a mão dele apertava-lhe o pescoço com força, erguendo-a até que ela ficasse novamente ajoelhada em frente a ele. Se antes o aspecto de seus genitais era asqueroso, depois do vômito tornou-se ainda mais repugnante.

    - Agora que você sujou, você vai ter que lamber, vadia.

    Se fosse possível vê-los, o horror poderia ser percebido nos olhos da mulher. Ela sentia o tamanho da insanidade de Raul pelo ritmo da respiração do canalha e pela força com que ele apertava seu pescoço. Ela começou a achar que quanto mais ela resistisse, mais ele a faria sofrer. No entanto, só de pensar em ceder, a ânsia voltava com toda força.

    - Mas que droga! Quem será que veio me incomodar a uma hora dessas?

    Após dizer essa frase, ele a largou no chão e saiu do aposento como se houvesse escutado o som da campainha tocar. Talvez pelo pavor que anestesiou seus sentidos ou mesmo por aquilo ser nada mais que resultado da mente doentia de seu carcereiro, ela nada ouviu. Na verdade, o único som que ela escutava era a da voz de Raul no andar de cima. Ele parecia conversar com alguém, mas não era possível ouvir ninguém mais além dele mesmo.

    Ela aproveitou aquele momento sozinha para chorar sem que fosse recriminada. Não se lembrava de nada, nem de como chegou ali, que lugar era aquele ou mesmo como se chamava. A ideia de que fora drogada por ele antes de ser aprisionada tomou mais força em sua mente e ela passou a aceitar isso como verdade absoluta. O desespero por não saber responder perguntas tão cruciais a fez muito mal.

    A conversa de Raul com quem quer que fosse continuava e, pelo tom de voz dele, parecia tratar-se de um desafeto com quem ele tinha pendências a resolver. Por um momento, ela chegou a pensar que era ela quem estava ouvindo mal pelo efeito da tal droga que acreditava ter sido vítima. Se isso fosse verdade, poderia mesmo existir outra pessoa no andar de cima e essa poderia ser sua única chance de se salvar.

    - Socorro! Socorro! Se alguém me ouve, me ajude, por favor! Esse louco está me mantendo prisioneira aqui embaixo! Ele vai me matar!

    Ela passou a gritar com a pequena esperança de que pudesse ser ouvida, mas nem ela mesma escutava o que dizia. Por mais esforço que fizesse, sua voz não ecoava mais alto do que um singelo sussurro. Os vasos sanguíneos do pescoço estavam saltados pela força que ela fazia, mas o som emitido não correspondia a tamanho empenho.

    Reunindo a pouca energia que lhe restava, ela tentou se levantar para caminhar até a porta. A escuridão a impedia de ver qualquer coisa, mas ela sabia que se andasse em linha reta, encontraria a saída daquele cômodo. Tateou a parede em busca de apoio, colocou-se de joelhos, mas quando tentou se erguer, algo inesperado aconteceu.

    Uma força invisível e ao mesmo tempo descomunal parecia prender-lhe as pernas. Quanto mais vigor ela usava na tarefa de se levantar, maior esse obstáculo se tornava. O mais estranho é que ela não sentia nenhum

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