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Carne da sua carne
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Carne da sua carne

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Alcean é um adolescente que vive trancado com sua mãe em um enorme e sinistro casarão de onde nunca saiu. O mundo que ele conhece dá uma volta de cento e oitenta graus quando seu tio Belial chega de surpresa e o faz transgredir todos os limites que sua mãe havia lhe imposto. E é assim que Alcean descobrirá os horríveis segredos que sua família guardou durante gerações, incluindo a verdade sobre sua própria vida de reclusão.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJun 4, 2015
ISBN9781507111758
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    Carne da sua carne - Miguel Campion

    Advertência preliminar:

    O manuscrito que vocês estão a ponto de ler foi encontrado na cripta de um monastério em ruínas cujo nome não mencionaremos para não perturbar a paz que reina em um lugar tão remoto e esquecido. Também não citaremos os nomes dos membros da expedição arqueológica que, ao abrir uma das catacumbas dos antigos monges, descobriu que a tumba estava vazia, exceto por um pacote cuidadosamente envolto em couro. Dentro deste pacote foi encontrado um pergaminho onde estava escrita a insólita história que vocês lerão a seguir.

    Também advertimos que não é um relato agradável para os delicados de espírito. Fica avisado que, assim que virar a página, o que vier depois será apenas responsabilidade sua.

    I

    Eu tinha quinze anos quando conheci Belial. Ele foi o primeiro homem que conheci. Desde que me lembro, e me lembro desde quase o dia do meu nascimento, não havia conhecido outra pessoa além de Lissia até a chegada de Belial. Eu chamava pelo nome a mulher que me trouxe ao mundo, lhe chamava de Lissia por desejo declarado dela. Acho que me recordo de, ou melhor, eu me recordo que a primeira palavra que brotou de meus lábios infantis foi seu nome, Lissia. Aquele dia, se bem me lembro, ao ouvir seu nome em minha boca, Lissia esboçou um sorriso em seu rosto branco como mármore e beijou com seus lábios de sangue os meus lábios pálidos.

    Lissia me ensinou a falar, a ler, a escrever; apresentou-me ao vasto horizonte da biblioteca da família, disse-me quais livros valiam a pena serem lidos e quais não serviam além de alimento fútil para o tédio. Lissia me mostrou, entre a imensidão de milhares de lombadas de livros de pele, ouro e nácar; uma lombada de metal escuro que reinava na imensa biblioteca. Essa inalcançável lombada de metal se encontrava justamente no centro do cômodo. Tinha tantos livros à sua direita como à sua esquerda, tantos em cima como embaixo. Era a lombada de livro mais maravilhosa e estranha de todos os livros: o Saturygena.

    Lissia me disse que uma grande catástrofe assolaria o mundo, nosso mundo, se eu ousasse sequer tocar a lombada metálica do Saturygena. E eu obedeci com verdadeira devoção. Jamais me ocorreu burlar a proibição, nem sequer pensei na terrível possibilidade. Jamais desobedeci Lissia, até a chegada de Belial.

    E digo que Belial foi o primeiro homem que conheci, e digo mesmo, ainda que não tenha sido meu primeiro amigo. Meu primeiro amigo, meu grande, querido e inseparável amigo de infância foi um menino que se chamava como eu, Alcean.

    Alcean era meu amigo desde os tempos em que já não tenho mais recordações. No entanto, me lembro vividamente, tão vívido como um sonho, o dia em que Lissia conheceu Alcean. Até aquele dia, Alcean e eu éramos companheiros secretos de brincadeiras. Sempre que Lissia me deixava sozinho, sempre que saía de casa, Alcean vinha brincar comigo. Nós ríamos, brigávamos, corríamos livres, sem jamais nos cansarmos. Era o único segredo que eu não compartilhava com Lissia. Quando ela voltava, Alcean sempre já tinha partido tão rápido como havia aparecido, como se na verdade não fosse mais que um fruto da minha imaginação infantil.

    No dia em que eu completei cinco anos, Alcean me presenteou com um violino. Era um violino da cor do âmbar, de uma madeira dura e suave que parecia ter vida mesmo depois de ter sido cortada e cinzelada. Alcean me sussurrou ao ouvido: Era meu, agora é seu. Toque-o sempre que quiser que eu venha. Encaixei o corpo vivo do violino em meu pescoço e

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