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Dissipando a Névoa
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Dissipando a Névoa

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Uma Abordagem Crítica da Religião, do Misticismo e da Pseudociência.

Na opinião do autor, a despeito do que a maioria dos religiosos supõem, é possível viver com dignidade, ética, moral, integridade, altruísmo e mesmo espiritualidade, sem que para isso tenha-se necessidade de se ter uma religião ou crença mística. Em seu livro, Paulo Cesar Guimarães faz uma análise das diversas formas de religião, crenças e pseudociências e mostra as vantagens e desvantagens de cada uma: mais desvantagens, em sua opinião! Em comparação ao pensamento místico é estabelecido um paralelo com a abordagem da ciência, incluindo a metodologia científica, um histórico do desenvolvimento das ciências, desde os primórdios da humanidade até o momento atual, e as teorias mais aceitas da física, da química, da cosmologia e da biologia.
Como fechamento do livro, o autor sugere substitutos possíveis para a religião e o misticismo. A filosofia e a ecologia profunda, por exemplo, poderiam servir perfeitamente como alternativa para os anseios éticos e espirituais do homem.

LanguagePortuguês
Release dateJul 22, 2015
ISBN9781311918123
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    Dissipando a Névoa - Paulo Cesar Guimarães

    GUIMARÃES, Paulo Cesar

    Dissipando a Névoa

    Uma abordagem crítica da Religião, do Misticismo e da Pseudociência.

    1. Ciência. 2. Religião. 3. Misticismo. 4. Esoterismo. 4. Pseudociência. I. Dissipando a Névoa - uma abordagem crítica da Religião, do Misticismo e da Pseudociência.

    CDD 291

    1ª Edição: 2002

    2ª Edição: 2015

    Paulo Cesar Antunes Guimarães

    Dissipando a Névoa

    Uma abordagem crítica da Religião,

    do Misticismo e da Pseudociência

    2ª Edição

    Coqueiral de Aracruz

    2015

    Agradecimentos

    Na elaboração deste livro foi significativo o incentivo e o apoio que recebi dos amigos. Dentre esses, ressalto a contribuição dos que tiveram a paciência de ler meus originais e apresentaram relevante contribuição para que eu pudesse chegar à versão final: Ivone Amâncio Bezerra, Neyval Costa Reis e Aricy Curvello que, mesmo não concordando com algumas de minhas ideias, não se furtaram a contribuir com comentários lúcidos e pertinentes; Gustavo Moulin Ribeiro, jovem Juiz de Direito, que deu importantes dicas jurídicas e opiniões relevantes sobre o conteúdo da obra; Maria Estela Escanhoela Amaral Santos, psicóloga que, além de contribuir com sugestões relevantes, muito me incentivou para a conclusão do trabalho; Rogéria Gomes, que corrigiu meus erros gramaticais na primeira edição do livro, em 2002; e Gutman Uchôa de Mendonça que, em sua coluna do jornal A Gazeta, fez uma resenha elogiosa ao livro em sua primeira edição.

    Agradeço especialmente a meu falecido pai, Jair Antunes Guimarães, que, mesmo tendo pouca instrução formal, me incentivou desde cedo para a leitura e me acendeu as primeiras luzes do pensamento crítico, e a minha mãe, Laura Freire Guimarães, que muito se sacrificou para que eu alcançasse a educação e o conhecimento hoje adquiridos.

    Aos dois dedico esse trabalho!

    Índice

    Apresentação

    Introdução

    CAPÍTULO 1 – CIÊNCIA – HISTÓRIA E METODOLOGIA

    Breve história da ciência

    Método científico

    CAPÍTULO 2 SENSO COMUM EM CIÊNCIA

    Cosmologia, Física e Química

    A formação do universo

    O conteúdo do universo

    Teoria da Relatividade

    Mecânica Quântica

    Componentes da matéria

    A teoria unificada

    Radiotividade

    Teoria do Caos

    CAPÍTULO 3 – SENSO COMUM EM CIÊNCIA

    Ciências Biológicas

    Seleção natural – evolução das espécies

    Origem e desenvolvimento da vida

    O homem

    A mente humana

    CAPÍTULO 4 – RELIGIÃO E MISTICISMO

    Abordagem Inicial

    Origem e desenvolvimento da religião

    Religião – Considerações gerais

    Deus

    Livre arbítrio e predestinação

    Fé, fanatismo e convicção

    Aspectos morais e éticos da religião

    Vida após a morte

    CAPÍTULO 5 – O POVO HEBREU E O JUDAISMO

    Povo hebreu – Localização geográfica

    História do povo hebreu

    A Bíblia

    Judaismo pós-bíblico

    CAPÍTULO 6 – CRISTIANISMO

    Origem e primeiros anos

    Contexto histórico

    Seita e movimentos messiânicos no tempo de Jesus

    João Batista – o mentor de Jesus

    Jesus – versão dos evangelhos

    A doutrina de Jesus

    Primórdios do Cristianismo

    Paulo – o criador do Cristianismo

    Os Evangelhos

    Mitos e contradições dos Evangelhos

    Profecias sobre o Messias

    O Jesus histórico

    CAPÍTULO 7 – CRISTIANISMO

    Do desenvolvimento inicial até os dias atuais

    Primórdios do Cristianismo

    Cristianismo na Idade Média

    A Reforma Protestante

    A Contrarreforma

    A Igreja Católica hoje

    O Protestantismo hoje

    Seitas cristãs

    Conceitos e dogmas do Cristianismo

    CAPÍTULO 8 – BUDISMO

    História do Budismo

    A Doutrina de Buda

    Principais escolas budistas

    Budismo atual

    CAPÍTULO 9 – ISLAMISMO

    Maomé – o profeta da espada

    Fundamentos do Islamismo

    Desenvolvimento do Islamismo

    Islamismo nos dias atuais

    CAPÍTULO 10 – ESPIRITISMO

    Reencarnação – contexto histórico

    Alan Kardek – o codificador do Espiritismo

    O Espiritismo na Bíblia

    A literatura espírita

    Fenômenos espíritas

    Espiritismo como ciência

    Espiritismo no Brasil

    Seitas africanas

    CAPÍTULO 11 – ESOTERISMO E PSEUDOCIÊNCIA

    New Age

    Pseudociências

    Falácias diversas

    CAPÍTULO 12 – MISTICISMO E ESOTERISMO NAS RELIGIÕES

    Aspectos místicos das religiões

    Religiões esotéricas

    CAPÍTULO 13 – RELIGIÃO E MISTICISMO

    Considerações finais

    A necessidade da religião

    O lado positivo das religiões

    Onde falham as religiões

    Aspectos comuns nas religiões

    CAPÍTULO 14 – ALTERNATIVAS PARA OS QUE NÃO CRÊEM

    O legado da filosofia

    Ética, Moral e Altruísmo

    Salvemos o planeta

    Poderia o homem dar outro salto evolutivo?

    Apresentação

    Por que será que o homem continua preso às crendices e ao misticismo a despeito do progresso científico e da gama de informação hoje disponível? Por que não olha em volta e observa as maravilhas da natureza, sem que sejam necessários poderes especiais, milagres sobrenaturais e explicações esotéricas? Estas são perguntas que faço sem encontrar respostas satisfatórias. Algumas vezes ao conversar com religiosos ou místicos, alguns deles com sólida educação formal, tenho a impressão de que existe uma impenetrável muralha mental que os impede de alcançar a compreensão dos fatos. Mesmo argumentos convincentes e fundamentados na lógica e na razão são ineficazes para dissipar a névoa que se forma diante de seus olhos. É como se estivessem hipnotizados, só conseguindo enxergar uma única verdade: a sua verdade!

    Fico perplexo ao observar que cada um se agarra a suas convicções e dogmas, considerando os outros religiosos: tolos, fanáticos, pecadores ou infiéis. Os protestantes ou evangélicos menosprezam os católicos que, por sua vez, desconsideram os protestantes e abominam os espíritas, umbandistas etc. Os espíritas e esotéricos se consideram conhecedores absolutos dos mistérios do universo e da vida além-túmulo e, por isso, desdenham a teologia e os dogmas do cristianismo, e assim por diante. No entanto, uma análise superficial de cada uma dessas doutrinas revela que são todas respaldadas em premissas falsas e falácias. Todas apresentam natureza semelhante e se fundamentam em informações contidas em seus respectivos livros sagrados, há muito refutadas pela ciência e pela razão.

    O pior disso tudo é que, com base nessas doutrinas inconsistentes, lutas são travadas, injustiças e excessos são cometidos, e muita gente inocente é sacrificada. Ao se abrir os jornais, em pleno século XXI, leem-se sobre católicos e protestantes se enfrentando na Irlanda, muçulmanos e hindus se degladiando na Índia e Paquistão, muçulmanos preparados para uma guerra santa contra judeus na Palestina e muitas outras notícias que nos deixam chocados.

    Outro fato que me deixa perplexo é a facilidade com que pessoas de boa fé deixam-se enganar por charlatões que, se fazendo passar por gurus ou enviados de Deus, são portadores de mensagens transcendentais. Somos continuamente afogados por literatura esotérica, livros de autoajuda, seitas religiosas, curandeiros e profecias do apocalipse. Tem muita gente ficando rica à custa de tolos e crédulos que, para a felicidade dos espertalhões, são abundantes em todos os lugares. Não é preciso ir longe, basta observar os seguidores das denominações neopentecostais, com seus pastores televisivos ávidos por dinheiro, ou para os crédulos que buscam a cura de seus males por intermédio de espíritos desencarnados.

    Como se pode ver, o terreno para falácias é fértil: existem os inocentes e os espertos que, semelhantes a aves de rapina, não deixam passar a oportunidade de atacar e explorar suas vítimas.

    Minha ideia ao escrever este livro não foi agredir esta ou aquela crença em particular ou simplesmente polemizar e impor minha opinião. Meu propósito principal foi discutir pontos obscuros das religiões, seitas, crenças, pseudociências e mesmo ideologias, revelando aspectos que, se não as inviabilizam completamente, pelo menos lançam dúvida sobre sua validade. Acredito não ser apropriado atacar a fé ou reduzir a esperança de pessoas crédulas, mas, por outro lado, não acho justo deixá-las na ignorância e à mercê de predadores e espertalhões que se nutrem e se aproveitam de suas vulnerabilidades. Não discuto o valor da religião como fator importante para o conforto espiritual e para evitar desatinos ou excessos – o que discuto é sua necessidade para todos. Será que o homem só consegue se posicionar como cidadão responsável e honesto por intermédio da religião? Custa-me aceitar essa hipótese. Acredito que existam caminhos alternativos. E a maior prova disso é que muitas pessoas sem religião ou descrentes da existência de um Deus mostram desapego a bens materiais e são voltadas para o altruísmo e para valores espirituais. Acredito que nós mesmos podemos e devemos ocupar o espaço reservado aos deuses nos ajudando mutuamente, e que, a partir de uma consciência elevada e livre do misticismo, o homem possa vencer desafios e alcançar novo patamar na evolução mental. Acredito ainda que devemos procurar um meio de salvar a Terra, livrando-a da destruição e mantendo sua capacidade de abrigar a vida, como tem feito há bilhões de anos. Isto não será alcançado a partir de fenômenos sobrenaturais e de crenças em vidas futuras ou dentro de templos com seus rituais repetitivos e vazios. Isto pode ser alcançado nesta vida terrena, com a participação de todos e com a certeza que cabe ao homem, e apenas ao homem, alcançar esse objetivo.

    Coqueiral, Maio de 2015

    Paulo Cesar Guimarães

    Introdução

    Considerações preliminares

    Desde que o homem começou a tomar consciência do que o cercava, passou a olhar para o céu à procura de explicação para fenômenos que o circundavam e o afetavam. Todos os acontecimentos, desde os mais simples como nascer, morrer, dor, frio e calor, entre outros, deviam ter uma explicação qualquer. E essa explicação não tardou a ser atribuída a forças externas que, por sua vez, estariam relacionados aos astros que pairavam sobre suas cabeças e influenciavam suas vidas: o Sol, a Lua e as Estrelas.

    Essa relação deu origem a superstições, cultos e rituais que foram se desenvolvendo e se transformando ao longo dos milênios. Esse desenvolvimento, no entanto, não foi tão significativo quanto possa parecer a princípio. Se descontarmos algumas práticas primitivas como canibalismo ritual ou sacrifícios humanos, por exemplo, vemos que as liturgias das religiões atuais em muito se assemelham àquelas praticadas por nossos ancestrais das cavernas. Os rituais e simbologia utilizados por católicos, protestantes, budistas, islamitas etc., de certo modo substituem as danças, os sacrifícios e os altares de pedra do homem primitivo. Como você reagiria ao encontrar uma tribo que tivesse como ritual religioso comer um pedaço de seu deus e beber uns goles de seu sangue? Não é o que representa a hóstia e o vinho no culto católico?

    Quanto às superstições, a situação é análoga. Como se explica que um homem moderno, muitas vezes com formação universitária, passe a usar a mesma camisa para assistir jogos de futebol, pelo simples fato de o seu time ter-se saído vitorioso na última vez que ele a vestia? Se perdermos apenas alguns minutos para analisar os fatores que concorrem para o desfecho de uma partida, veremos ser totalmente improvável qualquer interferência da camisa-talismã. Sem contar que, no mesmo instante, outros torcedores estariam utilizando mandingas similares em relação a seus respectivos times, neutralizando essa iniciativa.

    Como se pode ver, apesar do progresso tecnológico e filosófico o homem continua a demonstrar comportamento semelhante ao passado: as mesmas crenças descabidas e a procura por respostas místicas e sobrenaturais para fenômenos do cotidiano. Parece que as conquistas científicas têm sido em vão, pois, apesar de termos consciência dos avanços e de com eles convivermos dia-a-dia, continuamos racionalmente na Idade da Pedra. Ainda procuramos apoio e respostas nos astros celestes e em entidades espirituais para a solução de problemas e dúvidas existenciais.

    Seria interessante que o homem atingisse um novo patamar no desenvolvimento intelectual e desse um salto que o libertasse dessas crenças e superstições tolas, deixando de ser intelectualmente e emocionalmente criança e, finalmente, se tornasse adulto. Como disse Paulo na primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 13, versículo 11: Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. É possível que, no momento em que deixar de pensar e agir como criança e parar de se enganar com tolices e contos de fadas, o homem finalmente possa atingir o Ponto Ômega imaginado pelo padre e arqueólogo Teillard de Chardin.

    Conteúdo do livro

    É deste assunto que procurei tratar neste livro. Discorri sobre o modo como a religião tem se desenvolvido ao longo dos tempos e como tem influenciado positiva ou negativamente a vida do homem. Procurei também falar sobre o fanatismo e o misticismo desprovido de fundamentação científica e sem sustentação racional. Busquei apresentar, numa visão simples e abrangente, as principais religiões atualmente praticadas, enfatizando seus aspectos positivos e negativos. Baseado no fato de não professar ou estar ligado a qualquer uma delas em particular, me senti livre para tecer comentários – positivos ou negativos – sem receio de ferir a suscetibilidade deste ou daquele crente em particular. Na medida do possível, procurei analisar os fatos de ângulos variados, evitando fugir de aspectos complexos e controversos. Nos casos de dúvida procurei aplicar o princípio da Navalha de Occan: sempre que um fenômeno ou fato tenha mais de uma explicação plausível, deve prevalecer a mais simples delas.

    Evidentemente não me restringi a analisar apenas religiões estabelecidas. Procurei apresentar uma visão ampla do assunto e desmistificar algumas práticas relacionadas ao esoterismo e à pseudociência como, por exemplo, a astrologia, a homeopatia, a influência de pirâmides, o poder de cristais, a cromoterapia e a crença em anjos, entre muitas outras.

    Além disso, fiz uma rápida abordagem sobre o que se tem dito sobre a chamada Experiência de Quase Morte, assunto presente na mídia nos últimos tempos e que tem, de certa forma, sugerido a evidência de vida além-túmulo.

    Como base de comparação com os métodos analíticos adotados pelas religiões e para embasar algumas opiniões e afirmações, três capítulos foram direcionados à ciência. Um deles é relativo à sua história, com aspectos positivos e negativos, bem como à metodologia científica; outros dois mostram a epistemologia da ciência, ou seja, as principais teorias comprovadas e aceitas no meio científico. Um trata de aspectos relacionados às ciências cosmológicas, físicas e químicas, e outro trata de biologia, a ciência da vida.

    O trabalho é dividido em quatro partes, com quatorze capítulos dedicados a assuntos específicos, abordados de forma integral e sem interligação com capítulos anteriores ou subsequentes. No caso de falta de interesse por um dos assuntos em particular, o mesmo poderá ser deixado de lado sem prejuízo da informação como um todo. Com respeito ao Cristianismo, devido à extensão e importância do tema, resolvi dividi-lo em dois capítulos. Chamo especial atenção para o último capítulo, no qual procurei apresentar um fechamento para o assunto. Não seria elegante de minha parte escrever uma obra em que se faz franca oposição ao misticismo e às religiões constituídas, sem apresentar contraproposta ou caminhos alternativos, pelo menos do meu ponto de vista.

    Como minha formação é em ciências exatas, eu talvez tenha apresentado um estilo de redação com estruturação técnica, tanto na formatação do texto quanto no linguajar direto e linear. Outro aspecto a ser levado em conta é que, pelo fato de eu ser autodidata, as opiniões aqui apresentadas podem carecer de profundidade e exegese, embora a maioria do que foi discutido tenha sido baseado em exaustiva pesquisa bibliográfica em publicações sérias com as mais distintas tendências e opiniões. O que realmente busco com este trabalho é organizar e apresentar minhas ideias de forma compreensível, compartilhando-as com o leitor.

    Acredito que os leitores terão uma visão abrangente da maioria das religiões, do misticismo e de alguns dos assuntos intrigantes abordados pela ciência. Mesmo para aqueles que não comungam com minhas ideias, penso que o trabalho possa ser válido, visto transmitir informação relevante e bibliografia diversificada que pode atender aos interesses de diferentes pontos de vista. Desejo sinceramente que este trabalho possa lançar luz sobre os assuntos analisados e que, ao publicá-lo, eu não tenha sido um simples arauto do negativismo, e sim apresentado minha contribuição no sentido de tornar os leitores mais lúcidos e criteriosos em relação à qualidade das informações e pregações a que estão submetidos.

    Parte I

    Ciência

    Sem ser por nossa culpa, nem por força de qualquer planejamento cósmico ou propósito consciente, nos tornamos, graças a uma maravilhosa obra do acaso chamada inteligência, os administradores da continuidade da vida na Terra. Não pedimos para desempenhar esse papel, mas não podemos abjurá-lo. Podemos não ser talhados para ele, mas não há outro jeito."

    (Stephen Jay Gould – The Flamingo Smile)

    Porque a sabedoria serve de segurança, como de segurança serve o dinheiro; mas a excelência da sabedoria é que ela preserva a vida de quem a possui.

    (Eclesiates 7, 12)

    1

    CIÊNCIA – HISTÓRIAE METODOLOGIA

    Toda a nossa ciência, quando comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos. 1

    (Albert Einstein)

    Embora estejamos tratando de religião e misticismo, achei importante iniciar o livro por uma seção dedicada à ciência. Como em alguns dos capítulos relacionados às religiões são apresentados argumentos que pretendem fundamentar-se em dados científicos, julgo que a apresentação de informações relacionadas à verdadeira ciência pode lançar um pouco de luz e dirimir eventuais dúvidas sobre o assunto.

    Não tenho a intenção de enaltecer ou fazer apologia à ciência. Contrapondo ideias apresentadas por seitas religiosas e correntes esotéricas, procuro apenas disponibilizar informações relativas ao desenvolvimento e ao pensamento científico atual. É difícil aceitar que, com o avanço científico e com as conquistas alcançadas nos últimos anos, ainda se acredite em lendas, falácias e interpretações fantasiosas para simples fenômenos naturais. As pessoas preferem acreditar em versões fantásticas, por mais espúrias que sejam, a aceitar as transparentes e elegantes explicações disponibilizadas pela ciência.

    Outro aspecto a considerar é a petulância de algumas seitas e correntes esotéricas ao se autoproclamarem ciência, quando nada mais são do que pseudociências. Para esclarecer o assunto, apresentei informações sobre método científico e o que diferencia ciência de pseudociência. É preciso que se esclareça que ciência e manifestações do espírito, como arte, por exemplo, não são interesses antagônicos e incompatíveis. Não podemos mantê-las separadas, já que ambas provêm do mesmo modelo de cérebro maravilhado com a natureza. O exemplo mais completo disso é Leonardo da Vince que, além de excepcional pintor e escultor, foi excelente matemático e engenheiro. Além disso, outros interesses ligados ao cultivo do espírito, como a filosofia e a literatura, não são dissociados do interesse científico - são inúmeros os cientistas que procuram percorrer seus caminhos de forma que um interesse vem muitas vezes em auxílio do desenvolvimento do outro.

    Breve história da ciência

    O que é ciência ?

    Embora a história da ciência não consiga por si só caracterizá-la em sua essência, ela nos apresenta um arcabouço de seu desenvolvimento e lança uma ponte para seu conhecimento. Portanto, a fim de iniciar essa ligação, tornando o leitor um pouco mais familiarizado e mais íntimo com o desenvolvimento científico, decidi apresentar um breve histórico, desde os primórdios até os dias atuais. Quem se propusesse a escrever a história da ciência em todos seus pormenores teria uma tarefa árdua pela frente, podendo vir a preencher vários volumes. É incontável o número de sábios e homens de talento que, ao longo da história, têm enriquecido nossas vidas com descobertas fantásticas e teorias maravilhosas, estabelecendo novos limites para o conhecimento.

    No entanto, antes de iniciar este histórico, é preciso conceituar o que é Ciência. Esta é uma indagação que origina um grande número de definições, dependendo da formação, do nível de conhecimento ou do ponto de vista de cada um. Segundo o dicionário Aurélio,2 Ciência (do latim Scientia) pode ser definida como: 1 - Conhecimento; 2 - Saber que se adquire pela leitura e meditação; instrução, erudição, sabedoria. 3 - Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio: ciências históricas, ciências físicas. 4 - Soma de conhecimentos práticos que servem a um determinado fim: a ciência da vida. 5 - A soma dos conhecimentos humanos considerados em conjunto: o progresso da ciência em nossos dias. 6 - Filos. Processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando a dominação dela em seu próprio benefício.

    Como parâmetro para nivelamento de conceitos vamos considerar ciência como o conhecimento que se adquire a partir da observação estruturada, sistêmica e isenta de fenômenos, fatos, processos etc., e a comprovação ou refutação desse conhecimento por meio de experimentação.

    Segundo o filósofo Mario Bunge,3 a ciência é dividida ou classificada em dois grandes grupos: as ciências formais, que compreendem a lógica e a matemática, e as ciências factuais, que compreendem as ciências naturais e as ciências culturais, sociais ou humanas.

    •      Ciências naturais: física, química, biologia, psicologia fisiológica e antropologia física.

    •      Ciências humanas: psicologia social, antropologia cultural, sociologia, economia, ciência política e história.

    Neste trabalho procurarei me ater apenas às ciências naturais, embora estas usem e abusem das ciências formais como a lógica, para determinar a coerência de uma hipótese, e a matemática, uma linguagem que permite expressar as hipóteses, leis ou teorias de forma precisa.

    Primórdios da ciência

    Independentemente da abordagem estruturada e rigorosa que hoje se adota para classificar atividades científicas, poderíamos considerar como forma rudimentar de ciência toda observação humana que levou a alguma conclusão ou algum procedimento. Digo rudimentar pelo fato de essas observações e suas conclusões utilizarem apenas senso comum ou generalizações que se faz no dia-a-dia e que se usa costumeiramente para ajudar a conduzir a vida, sem passar por teorizações aprofundadas sobre a natureza dos acontecimentos ou fenômenos.

    Quando o homem primitivo começou a estabelecer correlações de causas com fenômenos observados no cotidiano, como alterações climáticas, ventos, chuvas, secas etc., ele estava lançando as bases iniciais da ciência. Quando plantava um grão esperando colher seu alimento, ele utilizava conhecimentos alcançados a partir de observação própria e de seus antepassados. Acredito que no início da agricultura, uma das atividades mais antigas exercidas pelo homem, por mais desinformada que uma pessoa fosse, não poderia esperar colher uva em uma planta nascida a partir de um grão de trigo, ou cultivar em areia seca ao invés de em terreno úmido e adubado. Essas alternativas começaram a ser exercidas a partir da observação que, por sua vez, levou ao estabelecimento de explicações ou teorias para os fenômenos. É preciso que se diga, no entanto, que muito do conhecimento obtido a partir do senso comum prova-se equivocado. A propalada sabedoria popular muitas das vezes passa longe da realidade.

    Entretanto, pode-se concluir que, a partir da observação sistemática da natureza e de respostas a seus experimentos, o homem foi adquirindo conhecimento de forma crescente. Muito lentamente a princípio, mas cada vez mais rápido, principalmente quando passou a adotar procedimentos de especulação científica, chegando à velocidade espantosa do desenvolvimento atual. Como comentei no início desta seção, esse desenvolvimento e aprendizado foram alcançados em bases totalmente empíricas. O homem consolidava seu conhecimento nas respostas simples fornecidas pela natureza, sem preocupação com fundamentações teóricas. Ele aceitava as coisas como elas pareciam ser, sem questionar ou indagar sobre causas, mecanismos ou finalidade do acontecimento. Com o passar do tempo e com o desenvolvimento da mente e da consciência, o homem não mais se contentou com respostas simples: procurou entender a natureza dos fenômenos. Dessa procura começaram a surgir teorias e conclusões, que se aprofundaram e se sofisticaram progressivamente, até chegar às intrincadas equações diferenciais da Mecânica Quântica e da Cosmologia, que povoam a mente de nossos cientistas e chegam a causar pesadelo às pessoas pouco familiarizadas com a matemática avançada.

    Surgem os gregos

    A ciência especulativa, como hoje a conhecemos, teve origem na Grécia antiga. Foram os gregos os primeiros a conjecturar sobre os fenômenos da natureza com algum grau de sofisticação. É bem verdade que povos antigos como os babilônios, por exemplo, muitos anos antes já esquadrinhavam os céus procurando mapear as estrelas e entender a influência dos astros em nossas vidas. Essa procura era, a princípio, baseada na observação pura e simples dos astros, em uma mescla de astronomia e astrologia, diferente da astronomia ou cosmologia estudada pelos gregos e infinitamente diferente da abordagem dos cientistas atuais. É preciso reconhecer, no entanto que, apesar da ausência de meios adequados, fenômenos como eclipses do Sol ou da Lua puderam ser previstos com razoável grau de acerto, e calendários foram estabelecidos com boa precisão. Os gregos, no entanto, foram mais longe. Procuraram teorizar sobre a natureza, cabendo aos filósofos conjecturarem sobre a constituição da matéria e a formação do cosmo.

    Embora Leucipo tenha sido o fundador da escola atomística, foi seu discípulo Demócrito (520-440 a.C.) seu principal organizador e representante. Dentre as principais teorias estabelecidas por este filósofo, pode-se destacar o sistema mecanicista da natureza, com a criação da teoria atômica, e uma teoria cosmológica bastante convincente. Segundo a teoria atômica de Demócrito, as grandes massas na natureza seriam compostas de corpúsculos indivisíveis, não formados e eternos, denominados átomos, palavra grega que significa indivisível. Os átomos seriam substancialmente homogêneos, diferindo uns dos outros pela figura, pela ordem e pela composição. Essa teoria saiu quase perfeita em suas linhas fundamentais, levando-se em consideração a inexistência das condições técnicas disponíveis atualmente.

    Quanto à origem do mundo, Demócrito excluiu a intervenção de uma inteligência divina. Segundo ele: por necessidade da natureza os átomos, ao se moverem livremente no espaço, entrechocam-se e criam imensos turbilhões e vórtices que, por sua vez, dão origem ao cosmo. Observa-se que Demócrito partiu não apenas da observação da natureza para extrair senso comum, mas também de um profundo exercício mental teórico para explicar a natureza. E isto é o que podemos identificar como os primeiros rudimentos para o estabelecimento da ciência especulativa.

    Depois de Demócrito, outros filósofos se aventuraram pelos caminhos da ciência, tentando explicar e dar ordem ao mundo. Dentre esses, pode-se destacar Aristóteles que foi, sem dúvida, o lançador dos alicerces da ciência moderna, tendo emprestado grande influência ao pensamento na Idade Média, e mesmo hoje está presente na ordenação do pensamento científico e da vida cotidiana. Veremos posteriormente alguma coisa do pensamento deste filósofo quando for falado sobre a religião na Grécia.

    Posteriormente, outros filósofos como Epícuro, por exemplo, fizeram incursões á teoria atômica, alterando aqui e acolá alguns de seus conceitos, embora pouca coisa importante tenha sido acrescentada à teoria de Demócrito ou ao conhecimento da cosmologia em geral. Depois dos gregos, a filosofia passou por uma série de escolas em diversos períodos, incluindo-se os filósofos neoplatônicos do Império Romano, até chegar à Idade Média na qual o desenvolvimento pode ser considerado desprezível em termos científicos: as teorias formuladas desconsideravam a teoria atomística e perdiam-se em elucubrações não fundamentadas.

    Um acontecimento importante para a ciência ocorreu no século II, quando Cláudio Ptolomeu lançou seu livro Sintaxe Matemática,4 mais tarde denominado Almajesto (o maior) pelos árabes. Nesse livro, Ptolomeu, astrônomo nascido no Egito, constrói um complexo modelo cosmológico, colocando a Terra no centro do universo, e prevê o movimento do Sol, da Lua e das estrelas com muito maior precisão do que seus antecessores. Essa concepção geocêntrica do universo só seria definitivamente derrubada por Copérnico, no século XVI.

    Ciência na Idade Média

    Chegamos por fim à obscura e misteriosa Idade Média, cujo raciocínio lógico é de difícil compreensão para os dias atuais. Embora fosse razoavelmente estruturado, o pensamento continha princípios de ordenação estranhos e ilógicos. Toda a base estava fundamentada nos escritos de Aristóteles, descobertos e difundidos na Europa pelos árabes.

    O sistema que a Idade Média foi buscar em Aristóteles difere do que hoje se considera em ciência em dois aspectos fundamentais:

    a)      Tinha noção equivocada acerca da matéria. No conceito medieval, a matéria era formada de terra, fogo, água e ar e, dentro deste conceito, as massas aspiram descer para o descanso no centro da Terra enquanto que o ar aspira subir. Essa aspiração seria inerente a suas respectivas naturezas.

    b)      Havia uma visão de ordem baseada na hierarquia. Todas as coisas tendem para seu centro natural; as coisas da Terra tendem para baixo e as coisas do ar tendem para cima, porque estes são seus respectivos lugares – estáveis e legítimos. O mundo é desordenado e busca sua ordem na grande hierarquia ideal do que deverá ser uma perfeição estática.5

    Esta posição, embora a princípio possa parecer ilógica, surpreendentemente está contida no pensamento atual de que a entropia do universo tende a crescer continuamente, ou seja, existe uma tendência à transformação de formas de energia mais nobres em formas menos nobres, de tal forma que tudo tende ao equilíbrio, e o universo se apagará no futuro.

    Em resumo, pode-se dizer que a grande diferença entre a mentalidade de Aristóteles, adotada pelos pensadores da Idade Média, e a mentalidade científica atual está na forma de encarar os fenômenos. Por exemplo, ao se perguntar por que a maçã cai em vez de subir, a resposta na Idade Média seria: Porque é da natureza de todas as maçãs caírem, e não subirem.6 Pt, saudações! Ao abordar o fenômeno, Newton, um dos pioneiros da ciência moderna, procurou suas causas e, ao fazê-lo, encontrou uma explicação e, de quebra, elaborou a teoria da gravitação universal. Bonito, não?

    A revolução científica do século XVII

    Foi no século XVII que a ciência na forma que a conhecemos hoje teve realmente seu início, a partir da chamada Revolução Científica que teve curso em toda a Europa. A Idade Média encarava a natureza como um esforço em direção à ordem interna, a revolução científica derrubou essa ordem e a substituiu pelo mecanicismo das causas. O mundo passou a ser visto como um mecanismo – uma máquina de acontecimentos. Podemos dizer que a revolução científica foi a transformação de um mundo de coisas ordenadas de acordo com sua natureza ideal, em um mundo de acontecimentos que se seguem num constante mecanismo de antes e depois.

    A revolução científica, que atingiu toda forma de cultura, ocorreu porque já havia mudanças de atitude frente ao que era natural ou sobrenatural. Em suma, havia condições universais para que ocorresse.

    A fundação da Real Sociedade de Ciência em 1660, na Inglaterra, durante o reinado de Carlos II, e a criação da "Academie Royale des Sciences" em 1666, em Paris, durante o reinado de Luís IV, foram os símbolos visíveis dessa revolução. A Real Sociedade tornou-se a mais importante sociedade científica do mundo, tendo em Newton sua figura de destaque. A Academie Royale, que teve em sua criação a ajuda do cientista holandês Huygens, seu presidente até 1680, foi também de grande importância nesse cenário. Um aspecto interessante a considerar foi a diferença de enfoque entre as duas escolas: a francesa e a inglesa. No método científico francês predominou o raciocínio lógico proveniente de Descartes; no inglês, a grande influência foi o empirismo de Bacon. Felizmente, Newton deixou-se influenciar por ambos os métodos, adotando o cartesianismo na concepção das ideias e o experimentalismo para sua comprovação. E tudo deu no que deu! 7

    A revolução científica apoiou-se nos ombros de quatro gigantes: Copérnico, Galileu, Kepler e Newton, o incontestável criador da física e da astronomia moderna.

    Nicolau Copérnico, nascido na Polônia, publicou em 1572, já no final da vida, depois de muita hesitação por medo da Inquisição, o livro Das Revoluções, no qual confirmava o modelo heliocêntrico: a trajetória dos planetas seria muito mais simples se fosse considerada a partir do Sol e não da Terra e, portanto, a Terra e os outros planetas giram em redor do Sol. No entanto, é importante que se diga que o modelo heliocêntrico já tinha sido previsto pelo grego Aristarco de Samos em 260 a.C.

    Galileu Galilei, outro gigante da ciência, teve muitos problemas com a Igreja ao apoiar as ideias de Copérnico e ao afirmar, e depois desmentir a contragosto, que a Terra não era o centro do universo. Em 1604 fez experimentos que o levaram a afirmar que corpos caem com aceleração uniforme, enunciando a primeira lei da dinâmica clássica. Em 1609 inventou o primeiro telescópio – muito rudimentar a princípio – que permitiu pela primeira vez a observação ampliada do céu.

    Johannes Kepler descobriu, também em 1609, que as órbitas dos planetas são elípticas e não circulares. Teve muitos problemas ao lidar com o caráter egocêntrico de Galileu

    Isaac Newton, o maior de todos os cientistas segundo Isaac Asimov,8 realmente revolucionou a ciência ao criar um novo enfoque para observar a natureza e, desta observação, tirar conclusões e teorias aplicáveis até os dias atuais. Foi ele o criador da Teoria da Gravitação Universal quando, aos 23 anos de idade, compreendeu que a força gravitacional obedece a lei da razão direta das massas e do inverso do quadrado das distâncias, explicando tanto a queda dos corpos na Terra como o movimento dos astros em suas órbitas. Outra teoria importante foi a descoberta de que a aceleração de um corpo está relacionada à sua massa e à força aplicada para pô-lo em movimento. Outros trabalhos importantes no campo da física e da matemática foram realizados pelo grande cientista, sendo que na matemática destacou-se a elaboração do cálculo infinitesimal, criação feita concomitantemente por Leibnitz na Alemanha. É importante ressaltar que as descobertas de Newton continuam a ter validade até os dias atuais, a não ser em condições muito extremas, nas quais prevalecem as leis da Mecânica Relativística ou da Mecânica Quântica.

    A nova imagem do mundo e a revolução industrial

    Os métodos empíricos e os métodos lógicos da ciência avançaram em passos alternados – o passo de um preparava o passo do outro. É natural que o método empírico valorize fatos e, a partir deles, requeira do teórico a elaboração de sua dedução. Do mesmo modo, é natural que o pensador construa um modelo e depois verifique até que ponto corresponde aos fatos.

    Newton construiu uma imagem do mundo que era reconhecidamente a mesma que vê o marinheiro, o astrônomo ou as pessoas na praia de Copacabana. Subitamente o reino da especulação e da teoria passou a coincidir com o real. Com ele passou-se a ter uma nova concepção de causa e efeito – uma definida configuração de coisa inteiramente material seria sempre seguida de determinado fenômeno e, se repetíssemos as mesmas condições, o mesmo fenômeno se seguiria. Caso alguma coisa não acontecesse conforme o esperado, algo estava errado, ou seja, teria fugido aos padrões. O presente influencia e determina o futuro.

    Depois da grande explosão que foi a ciência do século XVII, tivemos como que um recesso ou ressaca de ciência, pelo menos na área da física. No século XVIII, principalmente na Inglaterra, passaram a predominar invenções de cunho prático, naquilo que seria chamado de revolução industrial. Nesse período foram realizados muitos inventos e feitas descobertas importantes que viriam facilitar a vida do homem, como o tear mecânico, a máquina de fiar, a máquina a vapor, o ferro fundido com carvão (aço) e o sistema fabril em geral. É preciso admitir, no entanto, que foi o desenvolvimento científico teórico do século XVII que preparou o ambiente para as invenções e construções das máquinas do século XVIII. Houve como que a liberação do interesse das pessoas nesse sentido. A Inglaterra deixou de ser uma nação de navegadores e passou a ser uma nação industrial, e isto foi o que ocasionou sua grande expansão em relação às outras nações.9

    Nesse século a mentalidade científica voltou-se também um pouco para trabalhos empíricos no campo da biologia, destacando-se Lineu, o grande naturalista sueco que iniciou o sistema de classificação das plantas por espécies e famílias, sistema esse que permanece até os dias atuais. Essa classificação preparou terreno para a elaboração da teoria da evolução e, finalmente, para o mecanismo da hereditariedade.10 Houve nesse período uma grande corrida para a coleções de fósseis, minerais e outros objetos que enriqueceram os museus da Europa e aguçaram a imaginação dos pesquisadores.

    A medicina, que até o século XVII era ainda muito empírica, baseando-se em tratamentos inócuos e desprovidos de fundamentação, no século XVIII passou a ser mais científica. Os médicos começaram a diagnosticar e tomar decisões com base na observação dos sintomas que caracterizavam as doenças que, por sua vez, passaram a ser identificadas por suas reais características, sem serem denominadas simplesmente de febre e sim: febre tifoide, malária ou influenza, entre outras. No final do século XVIII, em 1796, Dr. Jensen descobriu a vacina.11

    Na astronomia, um marco importante foi conquistado quando, em 1718, Halley, baseado na mudança de posição de algumas estrelas no céu, quando comparadas com as informações do Almajesto, teve a primeira evidência do movimento próprio das estrelas. Na química, em 1766, Cavendish identificou o Hidrogênio, o elemento mais abundante do universo.

    Os avanços na Biologia – Darwin e a seleção natural

    Em suma, pode-se dizer que, comparado ao século XVII, o século XVIII foi um verdadeiro hiato das ciências formais, não ocorrendo progresso significativo, nem na biologia nem nos trabalhos teóricos e experimentais da física, química, eletricidade e magnetismo. Os poucos avanços foram nas áreas biológica e biomédica.

    No século XIX, ao contrário, procurou-se edificar sobre as conquistas e trabalhos anteriores de forma a unificá-los e consolidar o corpo das ciências biológicas e físicas e, ao mesmo tempo, buscou-se encontrar o mecanismo de causa e efeito nas ciências. Foi nesse século que alguns homens se entusiasmaram com a idade e a formação da Terra, e com a origem e o desenvolvimento da vida, principalmente a humana.

    A partir do princípio de causa e efeito, Adams na Inglaterra e Laverrier na França, trabalhando apenas com lápis e papel e as leis correntes da física, calcularam o local exato onde deveria existir um novo planeta. Quando o grande telescópio de Berlin foi direcionado para o local indicado por Laverrier, lá estava o planeta Netuno!12 Notem que essa descoberta foi feita sem a ajuda de espíritos desencarnados, místicos ou astrólogos.

    Contudo, o século XIX foi notabilizado por uma grande descoberta no ramo da biologia. Uma teoria, que viria a revolucionar todo o conceito sobre o aparecimento do homem na Terra: a Teoria da Evolução das Espécies por meio da Seleção Natural. É preciso que se diga que, ao contrário do que muitos pensam, Charles Darwin, o criador dessa teoria, não descobriu a existência da evolução e sim seu mecanismo. A evolução já era conhecida muito antes de Darwin, e mesmo seu avô, Erasmus Darwin, já tinha publicado um tratado denominado Zoonomia, que sugeria a ideia de que todas as formas de vida teriam evoluído de um único ancestral comum. O lançamento da obra A Origem das Espécies, em 1858, foi uma explosão que eliminou a presunção do homem ter sido especialmente criado por Deus e de ter supremacia sobra as outras criaturas.

    Em 1865, Gregor Mendel publicou uma teoria genética que viria tornar-se vital para a comprovação do Darwinismo: a hereditariedade – a chave da persistência de traços imutáveis nas coisas vivas.

    No campo da física, a grande conquista desse século foi feita em 1864, quando James Clerck Maxwell publicou sua teoria unificada da eletricidade e magnetismo, descrevendo ambos como aspectos da força eletromagnética.

    Século XX e a nova revolução científica

    O século XX herdou o embalo criativo que já vinha ocorrendo no final do século anterior e trouxe, desde seu início, outra revolução científica, revolução essa que perdura até os dias atuais. A evolução da ciência, tímida no início, foi se acelerando progressivamente, de forma que nosso século comporta um número tão grande de descobertas, invenções e riqueza de teorias – em todas as manifestações científicas – que seria praticamente impossível enumerá-las. Apenas como visão geral, darei um ligeiro passeio sobre as conquistas do século, procurando apontar as principais descobertas na física, química, biologia e medicina, e seus respectivos autores, desde seu início até os dias atuais. Muitas deixaram de ser citadas, mas isso, no entanto, não diminui a importância de cada uma no contexto da ciência moderna.

    Já no finalzinho do século XIX tinham sido elaboradas teorias que podem ser incluídas no rol das descobertas modernas: em 1897, J. J. Thomsom descobre o elétron e, em 1898, Pierre e Marie Currie isolam os elementos radioativos Radio e Polônio e, com isso, ganham o Premio Nobel de Química. Já no início do século, em 1900, o cientista alemão Max Plank sugeriu a teoria quântica da radiação.

    Em 1905, o suíço Albert Einstein, apontado por muitos como o novo Newton e o maior gênio do nosso século, publica a Teoria Especial da Relatividade, indicando que as medidas do espaço e tempo são deformadas quando em alta velocidade e que a massa e a energia seguem a simples relação E = m.c2, ou seja, são grandezas equivalentes. Em 1915, Einstein viria a publicar a Teoria Geral da Relatividade, por meio da qual descreveu a gravitação e o efeito espaço curvo, liberando a Cosmologia do dilema do universo finito ou infinito.

    Antes disso, em 1913, o cientista dinamarquês Niels Bohr desenvolveu e apresentou a teoria da estrutura atômica, afirmando que os elétrons giram em torno de um núcleo, de forma semelhante ao sistema planetário, modelo que no futuro seria substituído pelo modelo quântico atualmente aceito.

    Saltando alguns anos, chegamos a um período realmente pródigo em importantes descobertas para a física teórica e a cosmologia. Esse período se inicia em 1925, quando Max Born, Pascual Jordan e Werner Heisenberger desenvolvem a Mecânica Quântica, que viria mudar totalmente o modelo mecanicista do átomo e da matéria em geral, criando um sistema probabilístico que, mesmo tendo se desenvolvido e enriquecido com o tempo, perdura até a atualidade. Nesse modelo, os elétrons não mais seriam pequeninas esferas girando em torno do núcleo do átomo, em órbitas predeterminadas e fixas, e sim padrões de energia com maior ou menor probabilidade de se encontrarem em determinadas regiões do espaço em torno do núcleo. As distâncias em relação ao centro seriam determinadas por níveis finitos de energia, denominados níveis quânticos.

    Em 1926, Erwin Schrödinger sugere a teoria da mecânica ondulatória do átomo e da probabilidade quântica, que seria complementada em 1927, quando Werner Heisenberg descobre o Princípio da Indeterminação Quântica, no qual se afirma não ser possível estabelecer ao mesmo tempo a posição e o momentum de uma partícula atômica, pois o ato da medição interfere em um ou no outro, alterando-os.

    Ainda, entre 1927 e 1929, tivemos o desenvolvimento da teoria eletrodinâmica relativista quântica, e George Gamow, em 1928, aplicando o princípio da incerteza ao problema de como os prótons se combinam para formar núcleos no interior das estrelas, dá um passo marcante para a confirmação de que a fusão nuclear fornece a energia que mantem as estrelas. Neste mesmo ano, rico em descobertas importantes, Paul Dirac publica a Equação de Dirac, uma teoria relativística quântica do eletromagnetismo.

    Em 1929, Edwin Hubble, que veio dar seu nome ao telescópio Hubble, anuncia uma relação entre o desvio para o vermelho nos espectros das galáxias e suas distâncias, indicando que o universo estaria se expandindo.

    Em 1931, Paul Dirac prevê a existência do pósitron, o equivalente do elétron na antimatéria, que seria descoberto em 1932 por Carl Anderson, sem que este tivesse conhecimento dos estudos de Dirac; e Wolfgang Pauli, estudando a degeneração beta, prevê a existência do neutrino.

    Em 1932, James Chadwick descobre o nêutron e, em 1935, o cientista japonês Hideki Yukawa prevê a existência do meson, que seria matéria de estudo para o cientista brasileiro Cesar Lates.

    Damos agora um novo salto: em 1948, Ralph Alpher e George Gamow teorizam sobre a física do universo inicial e Alpher, juntamente com Robert Herman, corrigindo a aritmética de Gamow, prevê que o Big Bang deve ter produzido uma radiação cósmica de fundo.

    Entre 1948 e 1950, Willard Frank Libby desenvolve a técnica de datação pelo rádio-carbono, que seria de grande utilidade para a determinação da idade de objetos muito antigos, com elevado grau de precisão, servindo para estabelecer verdades e desmistificar teorias e crenças religiosas, como a do Santo Sudário, por exemplo.

    Em 1964, Murray Gell-Mann e George Zweig propõem, independentemente, que prótons, nêutrons e outros hadrons são compostos de partículas ainda menores, denominadas quarks por Gell-Mann.

    Após o lançamento do telescópio Hubble, em 1990, tem sido grande o número de descobertas no campo da cosmologia, principalmente aquelas ligadas aos limites e à origem do universo. Pelas imagens emitidas pelo Hubble é possível a observação de galáxias localizadas a milhões de anos luz da Terra e datar com relativa precisão a origem do universo.

    As ciências físicas e químicas nos dias atuais

    Daí em diante as coisas se aceleraram e as descobertas na investigação teórica foram ficando cada vez mais profundas e de difícil compreensão, como veremos no capítulo seguinte. Algumas pessoas chegam mesmo a postular o fim da ciência,13 visto que as descobertas importantes, tanto na física das partículas quanto nas investigações biológicas, estão se tornando cada vez mais difíceis, exigindo grandes investimentos em sofisticados e possantes equipamentos de pesquisa, e um grau de detalhamento de grande complexidade. Em 2013 foi identificado no Laboratório CERN, na Suíça, o Boson de Highs partícula que explica as diferentes massas das partículas elementares; em 2014 comprovou-se que o Big Bang realmente existiu, embora tenha se tratado uma súbita expansão a partir de uma singularidade, e não de uma explosão como se pensava antes

    Parece que, depois do grande avanço da ciência teórica da primeira metade do século, estamos vivenciando um fenômeno semelhante ao ocorrido no século XVIII depois de Newton. A ciência está se voltando novamente para a aplicação prática, tendo sido substancial o desenvolvimento nas telecomunicações e na ciência da computação em geral. É espantosa a velocidade com que se criam novas máquinas de comunicação como telefaxes, telefones celulares e hardwares e softwares, no campo da computação. Hoje, quando compramos um equipamento eletrônico já sabemos tratar-se de algo obsoleto.

    Na área biomédica, a grande conquista do século foi apresentada no trabalho A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid (Uma Estrutura para o Ácido Nuclêico Desoxiribose), publicado em 1953 pelo americano James D. Watson e pelo inglês Francis Crick. Nesse trabalho, a famosa hélice dupla do DNA foi apresentada ao mundo pela primeira vez e valeu o Prêmio Nobel para seus autores. Desde então, as pesquisas envolvendo o DNA têm evoluído a tal ponto que, pelo que parece, o futuro da medicina estará ligado a ela. Hoje já se pode prever com antecedência o aparecimento de algumas doenças genéticas e já se pode determinar a paternidade, com um grau elevado de segurança; e, além disso, pode-se estudar a história da evolução com muito mais precisão, graças ao domínio sobre as técnicas de determinação do DNA. Outros ramos da biologia que estão se tornando importantes é o da clonagem para fins médicos e os uso de células tronco para tratamento de doenças e disfunções específicas.

    Método científico

    O que é método científico?

    Em primeiro lugar, eu gostaria de esclarecer que apenas pelo fato de uma teoria não se achar enquadrada nas regras estabelecidas para o método científico não significa que ela seja menos válida ou menos verdadeira. Da mesma forma, uma teoria que tenha seguido os cânones da investigação científica ortodoxa não deve ser automaticamente aceita como verdadeira.

    Outro aspecto relevante, é que nesta seção não tenho a intenção de fazer apologia da ciência como forma única de abordagem de fenômenos naturais. O que se pretende é mostrar as regras nas quais se fundamentam os cientistas para investigar os fenômenos e estabelecer conclusões e teorias, além de distinguir a diferença entre ciência e pseudociência. A provável causa do alheamento e da ignorância em relação à ciência é que ela é simples e cristalina, não nutre fantasias e necessidades emocionais e nem procura trazer alívio espiritual para quem quer que seja. Ela se exterioriza a partir de sinais claros e de fácil verificação como a eletricidade que move as máquinas, as telecomunicações, e os medicamentos para nossas dores e doenças.

    Embora se pense ao contrário, a ciência não é arrogante: é humilde em sua essência. O fato é que rebate opiniões arraigadas e falsos conceitos que agridem a razão, e isso muitas vezes não é de fácil assimilação. Em geral, as pessoas temem perder seu muro de arrimo: a segurança das crenças e doutrinas em que sempre confiaram.

    Salvo em raras situações, os cientistas procuram investigar a natureza com humildade, sem arrogância e com muito respeito e admiração – muitas vezes com veneração. Essa interrogação é feita com cuidado e é apoiada em regras para anular interferências externas, minimizando a possibilidade de enganos e conclusões precipitadas.

    O que caracteriza o método científico?

    Em resposta à pergunta O que é método científico?, Isaac Asimov apresentou uma série de passos que dão uma visão simples do método. 14

    •      Reconhecer que existe um problema.

    •      Selecionar e desprezar aspectos não essenciais ao problema.

    •      Coletar todos os dados disponíveis referentes ao problema.

    •      De posse desses dados, formular uma generalização provisória que os descreva do modo mais simples possível. Isto seria a hipótese

    •      A hipótese permite prever resultados de experimentos que sem ela nem mesmo se teria pensado em realizá-los.

    •      Caso os experimentos correspondam ao esperado, a hipótese é fortalecida e talvez passe a ser considerada uma teoria ou mesmo uma lei natural.

    Evidentemente que essa é uma versão completa e idealizada do método científico e, portanto, pode ser simplificada, dependendo do tipo de investigação a ser realizada. Em alguns casos, grandes descobertas foram feitas por pura intuição ou golpe de sorte. No entanto, é preciso que se saiba que quando a intuição ou a sorte ocorre, os cientistas normalmente se encontram preparados para compreendê-la a partir de uma inteligência privilegiada e de consistente preparo científico.

    Como diz Gewandsznajder em seu livro O Que é Método Científico15: As pseudociências caracterizam-se pelo uso pouco frequente do método crítico, tendo, portanto, um caráter estático e dogmático. Uma vez que seus seguidores, na maioria das vezes, acham que descobriram a verdade, elas não se modificam muito ao longo do tempo, tornando-se, consequentemente, impermeáveis à crítica.

    A investigação científica não pode ser considerada leviana e inconsequente: de modo geral é conduzida de forma sistemática e disciplinada e procura ser isenta em suas afirmações. Caso as religiões, seitas místicas ou atividades pseudocientíficas conduzissem suas investigações e estabelecessem seus dogmas com base em abordagem semelhante à da ciência teríamos um número muito menor de teorias, dogmas e rituais sem fundamento.

    Segundo artigo do antropólogo Geoffrey Clark: 16 O físico Edgar Pearlstein aponta que o desacordo essencial entre ciência e religião não são as conclusões (por exemplo, a evolução, o sistema heliocêntrico, a origem da doença), mas sim a maneira de se chegar a essas conclusões. A religião se baseia na autoridade (de um livro, de uma pessoa, ou de uma tradição) e a verdade é alegada como universal, imutável e eterna. Na ciência, a autoridade está na evidência e na razão, que estão sempre abertas ao desafio, por isso a verdade sempre é tentativa e relativa. A investigação científica começa com uma questão, e tenta achar uma resposta por meio de forte inferência fundada em evidências e razão. Uma investigação teológica, por outro lado, começa com uma conclusão, e tenta se esquivar de quaisquer impedimentos de lógica e razão para autorizar, ou justificar, aquela conclusão.

    Aspectos negativos da ciência

    Como em qualquer empreendimento em que ocorre a interferência humana, a ciência pode ter seus vilões, ciúmes e orgulhos feridos que podem levar a fraudes, resultados manipulados e conclusões falsas ou equivocadas. Além disso, se for dirigida de forma inapropriada a ciência pode levar a resultados desastrosos para a Terra e para a humanidade. Não podemos nos esquecer da bomba atômica e das armas químicas de destruição em massa que já mataram milhares de pessoas inocentes, e de outras invenções e atividades que têm servido para alterar negativamente as condições ambientais, como a destruição da camada de ozônio e o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, por exemplo.

    As fraudes na ciência não são poucas. Além de alterar resultados para validar investigações e descobertas, alguns cientistas fazem verdadeiro malabarismo para provar suas ideias. Um exemplo clássico de fraude é o caso da descoberta do homem de Piltdown, que durante um bom tempo enganou a paleontólogos de renome. De forma a ludibriar o meio científico, dois ingleses forjaram a descoberta de um homem pré-histórico fazendo a montagem de um crânio humano com um maxilar de orangotango moderno. Felizmente a farsa foi desmascarada após alguns anos, e o Homem de Piltdown foi relegado ao esquecimento, permanecendo um exemplo de embuste em nome da ciência.

    No entanto, apesar do que foi dito, a ocorrência desses problemas é muito menos pronunciada do que nas religiões e no misticismo em geral e, quando acontece, é prontamente desmascarada.

    Conclusão

    Como disse Carl Sagan:17 a ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que temos. A maneira científica de consultar a natureza e de tirar conclusões é imaginativa e disciplinada, daí a razão de seu sucesso! Ainda segundo Sagan18: toda vez que fazemos autocrítica, toda vez que testamos nossas ideias no mundo exterior, estamos fazendo ciência. Quando somos indulgentes conosco mesmos e pouco críticos, quando confundimos esperanças e fatos, escorregamos para a pseudociência e a superstição.

    Nenhuma seita ou religião, nenhum credo da New Age, nenhum ismo qualquer consegue levar em consideração a beleza, a grandiosidade, a magnitude, a sutileza e a complexidade do nosso universo como o faz a ciência. Os cientistas, em sua maioria, são fascinados pela natureza e demonstram verdadeiro deslumbramento e profundo respeito pelos mistérios do universo. Evidentemente que sendo humanos, os cientistas estão sujeitos a crises existenciais e a desvios de caráter como qualquer um e, portanto, podem cometer erros, forjar resultados e colocar o ego acima da verdade, entre outras coisas do gênero. No entanto, podem estar certos que isto acontece em grau infinitamente menor do que nas igrejas e instituições religiosas.

    Quando alguém quiser saber quando e como um determinado fenômeno celeste ocorrerá pode perguntar a um mago ou a um astrólogo. Se tiver uma doença ou uma dor pode consultar um curandeiro ou fazer simpatia. No entanto, seria aconselhável que buscassem ajuda na ciência. Ninguém melhor que um astrônomo, no primeiro caso, ou um médico, no segundo, para encontrar as respostas ou o alívio desejado.

    NOTAS:

    (1) Carl Sagan – O Mundo Assombrado pelos Demônios – pag. 17arl Sagan, norte americano, foi professor de astronomia e ciências espaciais na Universidade de Cornell, EUA, e cientista visitante no Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Além de um ferrenho crítico do misticismo e das pseudociências, foi um grande divulgador da ciência, com vários livros publicados sobre astronomia e cosmologia (Cosmos e Um Pálido Ponto Azul) e com uma famosa série na televisão americana, que tratava da cosmologia.

    (2) Novo Dicionário Aurélio – 1ª Edição – Editora: Nova Fronteira

    (3) Fernando Gewandsznajder – O Que é Método Científico – pag. 12

    (4) Timothy Ferris – O Despertar na Via Láctea – pag. 10

    Nesse livro, Timothy Ferris narra a história das ciências físicas e cosmológicas, desde os seus primórdios até o momento atual. É uma excelente fonte de informação para aqueles que desejam aprofundar-se no assunto.

    (5) J. Bronowski – Introdução à Atitude Científica – pag. 31

    (6) Ibid. – pag. 29

    (7) Ibid. – pag. 41

    (8) Isaac Asimov – Asimov Explica – pag. 2

    Nesse livro, apresentado sob forma de perguntas e respostas, Asimov procura explicar os assuntos mais intrigantes da ciência, com base no conhecimento atual. É um livro muito interessante para leigos que se interessam por ciência.

    (9) J. Bronowski – Introdução à Atitude Científica – pag. 55

    (10) Ibid. – pag. 59

    (11) Ibid. – pag. 63

    (12) Ibid. – pag. 77

    (13) John Horgan – O Fim da Ciência.

    Nesse livro o jornalista científico John Horgan entrevista grandes cientistas e pensadores sobre as dificuldades enfrentadas e pela encruzilhada em que se encontra a ciência atual (física, biologica, neurológica, psicológica etc).

    (14) Isaak Asimov – Asimov Explica – pag. 1

    (15) Fernando Gewandsznajder – O Que é Método Científico – pag. 216

    (16) Artigo publicado na revista Skeptical Inquirer, descrito por Ricardo Bonalume na Revista da Folha (São Paulo).

    (17) Carl Sagan – O Mundo Assombrado pelos Demônios – pag. 41

    (18) Ibid. – pag. 41

    2

    SENSO COMUM 

    EM CIÊNCIA -

    Cosmologia, Física e Química

    O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; não há nada que seja novo debaixo do Sol.

    (Eclesiastes, 1, 9)

    A maioria das religiões e seitas místicas apresentam dogmas e doutrinas fundamentados em premissas falsas, em informações equivocadas e em fontes não-confiáveis. Poucas levam em consideração o significativo avanço da ciência, com sua explicação simples para fenômenos considerados misteriosos no passado e, por conta disso, divulgados como milagres em suas escrituras. Mesmo as seitas que se autoconsideram bem informadas e embasadas na ciência, na verdade estão longe de sê-lo.

    As grandes descobertas e teorias elaboradas desde o século XVII até o momento, tanto na física como na biologia, ajudaram a lançar luz sobre uma série de falácias e mitos engendrados no passado. Infelizmente os teólogos e líderes religiosos não levam em consideração essas conquistas e perdem a oportunidade de oxigenar suas doutrinas, deixando com isso de tornar as religiões organismos vivos e dotados de processos com evolução contínua como regra. É bem provável que, caso as religiões, seitas e crenças adotassem a prática especulativa e crítica, a exemplo da ciência, poderia ocorrer uma evolução natural para um ponto comum, onde todos professassem uma fé madura e fundamentada na razão.

    Não existe verdade absoluta e nada pode ser considerado sagrado em ciência. O máximo que se pode afirmar é que existem teorias mais aceitas ou senso comum sobre algumas delas. A ciência traz em

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