A “Guerra da África” de Júlio César
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Sobre este e-book
Esta tradução do "Bellum Africum", obra de autoria atribuída a Júlio César, é parte da tese de doutorado intitulada “A construção da temporalidade no Bellum Africum”, concluída em 2008. Neste tratado vemos detalhes a respeito das atividades militares romanas na África, após a Segunda Guerra Púnica. Narram-se a vitória de César e as mudanças políticas e territoriais no norte da África após esta campanha.
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A “Guerra da África” de Júlio César - Michele de Sá
A Guerra da África – tradução
Do Lilibeu a Adrumeto
Primeiros embates
Solidariedade de algumas cidades
O grande general César
O primeiro confronto com Labieno
César aumenta suas tropas
Cneu Pompeu, o filho
Cerco e escassez
As queixas dos nobres da África
A preparação dos inimigos
César se prepara; apoio à cidade de Acila
Crispo chega a Cercina; os gétulos desertores e os mensageiros de Tisdra
As legiões julianas avançam
A queima das provisões; a ousadia do leal centurião; a chuva de granizo
Juba vai a Cipião; a fuga de Labieno e a tomada do vale
O ataque massivo dos inimigos; a clemência de César
Os gétulos apoiam César; a soberba de Juba
As linhas de batalha
A emboscada de Varo e o perdão a Véstrio
Em busca de provisões
A provocação dos inimigos; o zelo de César
Os legados de Vaga e os tabenenses; o cerco a Tégea
O combate no desfiladeiro
Fogem os últimos inimigos
César avança para Uzita e Útica
O fim dos inimigos – a morte de Juba e Cipião
Últimas providências e retorno a Roma
Bibliografia
Sobre a autora
Dedicatória
Dedico esta tradução a todos os professores e alunos de latim. Perseveremos na tarefa – nem sempre fácil, mas gratificante – de trazer ao presente as vozes do passado.
Introdução
Esta tradução do Bellum Africum, obra de autoria atribuída a Júlio César, é parte da tese de doutorado intitulada "A construção da temporalidade no Bellum Africum", concluída em 2008. Neste tratado vemos detalhes a respeito das atividades militares romanas na África, após a Segunda Guerra Púnica. Narram-se a vitória de César e as mudanças políticas e territoriais no norte da África após esta campanha.
É uma obra pertencente ao chamado gênero historiográfico. Deve-se ter em mente, antes de qualquer coisa, que os historiógrafos gregos e latinos não devem ser chamados de historiadores
, já que eram mais escritores, artistas da palavra, do que investigadores ou pesquisadores. Os relatos desta época muitas vezes carecem de imparcialidade e do rigor metodológico-científico que só viria a surgir muito tempo depois, no século dezenove (MARTIN; GAILLARD, 1981, p. 108).
Por isso, obras como o Bellum Africum têm um caráter mais de testemunho do que de levantamento de dados, embora sejam narrações consideradas verídicas. Sendo um registro pessoal, ela revela a opinião e o estilo do autor, bem como a sua preocupação estética. A respeito disto, Martin & Gaillard dizem (tradução nossa):
(...) desde que a narrativa fornecida por ela [a tradição histórica] seja racional e coerente, ela aparece como aceitável, e o historiador não desconfia um instante que a racionalidade é precisamente suspeita, pois é bela demais para ser verdadeira…
(Ibid., 109)
Por esta razão, não se deve ler esta obra pensando em um diário de batalhas que tenha o objetivo de registrar com exatidão o desenrolar dos acontecimentos na campanha. A preocupação estética faz com que o autor não apenas coloque a verdade em segundo plano, mas também recuse às vezes a própria verossimilhança. Com muita frequência são narradas as circunstâncias adversas em que se encontram os soldados de César, em grande desvantagem contra inimigos ferozes, porém retornam ao acampamento vencedores, com poucas baixas. Estes relatos fazem lembrar o gênero épico, em que o real e o maravilhoso se fundem, e a verdade é secundária. Além disso, não se deve esperar imparcialidade em uma obra que foi escrita, se não pelo próprio César, por algum de seus oficiais. A clemência de César e o seu apoio às províncias dominadas pelos inimigos permeiam toda a narrativa, em oposição à crueldade e aos vícios do rei Juba, de Labieno, Cipião, Consídio et caterva – um discurso de efusiva propaganda em favor de César.
Uma pergunta se coloca neste momento: por que esta obra não tem o mesmo prestígio de outras obras semelhantes como os Commentarii de Bello Gallico (Comentários sobre a Guerra da Gália
) ou os Commentarii de Bello Civile (Comentários sobre a Guerra Civil
)? Na verdade, estas duas são confirmadamente de Júlio César, ao passo que o Bellum Africum é apenas atribuído a ele (como o Bellum Alexandrinum e o Bellum Hispaniense). Os especialistas dizem que o estilo deste autor em muito difere do estilo de César. Acerca disto, A. Bouvet, na Introdução à tradução francesa do Bellum Africum publicada pela Société d’Éditions Les Belles Lettres, diz o seguinte (tradução nossa):
A língua se afasta, não somente do uso de César – que o autor não procurou imitar – mas também do uso clássico. Encontram-se várias formas únicas, e formas bastante numerosas que, ausentes da língua clássica, se acham nos cômicos, poetas, prosadores pré e pós-clássicos, na correspondência de Cícero, etc. (...) A sintaxe se afasta igualmente do uso clássico.
(CÉSAR, 1949, p. 26.)
Acerca da obra, Jean Bayet (1992, p. 169) diz que ela é de um redator incorreto e sem talento
. Berthaut e Georgin (1945, p. 201) utilizam os mesmos adjetivos. L. Laurand (1946, p. 558), em seu Manuel des études grecques et latines, comenta que o estilo é pobre e bastante vulgar
. Michel Rambaud (1953, p. 88) questiona se esta não seria uma preparação, um rascunho
para um dos Comentários de César, ou ainda se não seria um mero diário de batalhas, consideradas algumas de suas características (a marcação exata de datas, de vigílias, por exemplo), e não exatamente um Comentário. Ettore Bignone (1952, p. 154) menciona apenas que o Bellum Africanum, junto com o Bellum Hispaniense, são estilisticamente muito inferiores aos outros Comentários (de César, ou pertencentes ao corpus Caesarianum).
Temos aqui a presença de um estilo próprio, com usos fora do padrão do latim clássico, mas elaborados dentro de um modelo sui generis. Teria sido um rascunho de César? Gosto de pensar que sim. Gosto de imaginar qual teria sido o resultado da reescrita do Bellum Africum. Gosto de imaginar como seria o texto finalizado da narração do momento em que ele tira o capacete e se revela para Labieno em meio à batalha, ou do momento em que um soldado avança contra o elefante, ou da morte de Juba, que pediu a um escravo que o matasse, pois não tinha coragem de se suicidar.
Quanto à nossa tradução, procuramos fazê-la da maneira mais literal possível. As repetições, as orações reduzidas de particípio em sequências longas, a falta de correlação de tempos verbais e outras características que podem ser consideradas por alguns como desvios