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Diário de uma Extinção - Primeiro Contato
Diário de uma Extinção - Primeiro Contato
Diário de uma Extinção - Primeiro Contato
Ebook78 pages1 hour

Diário de uma Extinção - Primeiro Contato

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No momento que ocorre uma tragédia, nos refugiamos em nosso entorno, a família e os amigos. Pensamos de forma inconsciente que, quando vemos notícias de um câncer que tirou a vida de um pobre menino, que sequer conhecemos, ou de um desastre natural que extirpou as ilusões de milhares de pessoas, sepultando suas frágeis vidas sob toneladas de escombros, essas coisas nunca nos atingirão. Talvez, algum tipo de sensor biológico se ative em nossa cabeça para enganar o medo.

Tudo aconteceu muito depressa. Não nos demos conta e, se o fizemos, nunca movemos um dedo para detê-lo. No entanto, foi então que a submissa humanidade, enganada durante décadas por dirigentes sem escrúpulos, se desvaneceu; pelo menos, durante um tempo.

Aqueles que tinham que nos proteger, amparados pela democracia, grandes homens podres de dinheiro graças ao suor amargo da população, foram os primeiros que abandonaram a Espanha.

Todos sabiam. Desde o primeiro momento que transportamos, da África para Madri, o missionário espanhol infectado com ebola.

Sabíamos.

Não dissemos nada. Como sempre. Calamos por medo de a Europa nos tratar como se fôssemos animais sem compaixão por abandonar um dos nossos a uma morte certa, ou talvez, para tentar demonstrar, sem sucesso, o que não éramos. Manifestamos, uma vez mais, a incapacidade de nosso governo.

Milhões de espanhóis estavam em suas casas, jantando com suas famílias, quando aconteceu.

Aquele dia foi o princípio do fim.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJun 28, 2017
ISBN9781507180389
Diário de uma Extinção - Primeiro Contato

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    Diário de uma Extinção - Primeiro Contato - Isaac Barrao

    Diário de uma extinção

    ―Primeiro contato―

    ––––––––

    Black Queen

    Para Jordi Escalona

    PRÓLOGO

    ––––––––

    No momento que ocorre uma tragédia, nos refugiamos em nosso entorno, a família e os amigos. Pensamos de forma inconsciente que, quando vemos notícias de um câncer que tirou a vida de um pobre menino, que sequer conhecemos, ou de um desastre natural que extirpou as ilusões de milhares de pessoas, sepultando suas frágeis vidas sob toneladas de escombros, essas coisas nunca nos atingirão. Talvez, algum tipo de sensor biológico se ative em nossa cabeça para enganar o medo.

    Tudo aconteceu muito depressa. Não nos demos conta e, se o fizemos, nunca movemos um dedo para detê-lo. No entanto, foi então que a submissa humanidade, enganada durante décadas por dirigentes sem escrúpulos, se desvaneceu; pelo menos, durante um tempo.

    Aqueles que tinham que nos proteger, amparados pela democracia, grandes homens podres de dinheiro graças ao suor amargo da população, foram os primeiros que abandonaram a Espanha.

    Todos sabiam. Desde o primeiro momento que transportamos, da África para Madri, o missionário espanhol infectado com ebola.

    Sabíamos.

    Não dissemos nada. Como sempre. Calamos por medo de a Europa nos tratar como se fôssemos animais sem compaixão por abandonar um dos nossos a uma morte certa, ou talvez, para tentar demonstrar, sem sucesso, o que não éramos. Manifestamos, uma vez mais, a incapacidade de nosso governo.

    Milhões de espanhóis estavam em suas casas, jantando com suas famílias, quando aconteceu.

    Aquele dia foi o princípio do fim.

    I

    ––––––––

    Espanha, em algum lugar do sul da Catalunha

    ––––––––

    O edifício, uma construção pequena com quatro andares, se encontrava em uma rua afastada do povoado, uma zona tranquila.

    Izan tocou o interfone. Esperou uns segundos a que sua mulher, Alexandra, abrisse a porta da entrada sem perguntar quem era; nunca o fazia. O pequeno bloco não tinha elevador. Izan subiu as escadas deixando para trás as duas portas, uma de frente para a outra, do primeiro andar. Chegou ao segundo, onde o esperavam outras duas portas, igualmente defrontadas, e entrou na que estava aberta há alguns centímetros, à sua direita.

    —Oi papai —disse sua filha de oito anos, Abril—. Estou ajudando a mamãe a colocar a mesa.

    Desde que se conheceram, faria mais de quinze anos, Izan e Alexandra haviam se mudado cinco vezes. No entanto, durante os últimos três anos se mantiveram no mesmo lugar. Aquele apartamento os agradava. Não que fosse muito grande, mas era acolhedor. Talvez, o fato de ter um terraço individual com uma superfície similar ao do apartamento, onde instalaram uma pequena piscina, uma churrasqueira e dois sofás com uma mesa, permitindo-os passar muitas horas ao ar livre, os convenceu de ficar.

    Izan e Alexandra formavam um casal excepcional, unidos por um amor puro e verdadeiro que, apesar da situação, era inquebrantável. Quando menciono a situação, me refiro à crise econômica que a Espanha vivia naquele momento. Um estado que passaria de crítico passageiro para crônico, tanto, que a cidade deixou de se lamentar e passou a conviver com ele em uma rua sem saída. A tudo isso, somasse a falta de respeito dos altos governistas, e não tão altos, e das entidades bancárias que tratavam de esbanjar, no nariz da população, um dinheiro de procedência duvidosa. Jantares, viagens, eventos esportivos, casas de alto nível e um sem fim de luxos que poucos mortais poderiam alcançar em dez vidas de economias, enquanto o povo morria de fome. Para não falar das absurdas hostilidades entre o presidente do governo e os demais presidentes das comunidades autônomas, todos votados democraticamente por nós, que se dedicaram a inventar leis sem critério com a única finalidade de engordar seus bolsos enquanto a nação vinha abaixo. E o que dizer das multinacionais? Lobos famintos de poder que se aproveitavam da situação e, apoiadas pelo governo, despediam de suas vagas de trabalho milhões de pessoas, abandonando-as a sua sorte, fechando todas as portas para eles e suas famílias, criando um vazio que era ocupado, rapidamente, por dois operários pela metade do preço... Como? Essa era a questão. Como havíamos chegado a esse extremo? Como podia os descendentes de um povo que havia lutado, morrido e conseguido uma democracia, olhavam para outro lado, calando ante a mesma democracia que, agora, os oprimia, tirava o pão de suas bocas e os afundava no desespero.

    No entanto, apesar de toda essa injustiça, Izan e Alexandra seguiam firme, lutando dia a dia, realizando trabalhos, a maioria deles sem carteira assinada, mantendo seu lar com um dinheiro informal que chegava de muito bom grado e que, com um pouco de fé e esperança, serviria para dar uma carreira universitária a filha Abril, ainda que isso não lhe garantisse um futuro estável e um trabalho digno.

    —Já terminei, mamãe —disse Abril, com os olhos grudados na televisão sem perder nenhum detalhe das manobras acrobáticas de Doraemon, o gato cósmico.

    —Te trago uma sobremesa —afirmou Alexandra.

    —Não.

    —Sim.

    —Não, mamãe. Não quero mais nada.

    —Não vou discutir como todas as noites —disse a mãe, dirigindo-se à cozinha—. Você vai comer uma maçã.

    —Droga... Papai, não quero nada... —disse Abril, desta vez afastando por um instante o olhar da caixa luminosa.

    —Vamos meu bem, deixe a menina —disse Izan piscando para

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