Tem certeza?
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As férias de Anita em Nova Iorque terminam tragicamente quando ela é assassinada no Central Park, mas em vez do fim, aquele era apenas o começo. Sua alma permanece na cena do crime, tentando processar o que acontecera.
Mas a realidade de ser um fantasma não cai bem à Anita: o que ela deveria fazer agora?
Então, ela sente uma conexão com Olivia Brown, a detetive designada para solucionar seu assassinato. Ela deveria ajudá-la, ou há algo mais por trás disso? E no fim, conseguirá a detetive Brown chegar ao fundo do que ocorrera no parque naquela noite trágica?
Crime, mistério e paranormalidade se encontram em Fui Assassinada Ontem À Noite, primeiro livro da série dos Mistérios de Olivia Brown de A. J. Gallant.
Epílogo
Meia hora para a meia-noite no Central Park.
Estava chovendo peixes?
É o que eu disse.
Você não pode esperar que eu acredite nisso. Está falando sério?
Henry perguntou.
O sorriso de John era imperceptível. "Estou falando sério. Bom, acho que, tecnicamente, não estava chovendo peixes. Os peixes não estavam caindo das nuvens. Mas estava chovendo peixes."
Henry piscou várias vezes. Mas o que diabos isso significa?
John estava se deliciando por saber algo que Henry não sabia. Bom, quando um tornado passa por cima da água, acho que chamam de tromba d’agua. Enfim, os peixes são sugados da água e quando o tornado vai para a terra, a gravidade assume e os peixes caem do céu.
Henry visualizou a cena. Imagine a pancada de um peixe caindo em sua cabeça.
Fica quieto, aí vem ela. Me dê a faca
.
SUAS MÃOS TREMIAM enquanto ela observava seu corpo. Anita estava morta e ainda assim estava ali, examinando a cena onde ela havia dado seu último suspiro. Nada poderia ser mais surreal do que isso. Como posso estar tremendo se estou morta?
Vários chapins voaram sobre o Central Park enquanto a escuridão da noite dava lugar à luz da manhã. A folhagem das árvores se mexia de um lado para outro com o vento suave, flores se abriam para os raios da manhã. Os químicos das flores evaporavam para a atmosfera, produzindo seus cheiros particulares, avisando aos insetos que havia pólen disponível. Os arranjos florais embelezavam a atmosfera, chamando as abelhas na região. No entanto, esta manhã os pássaros evitaram uma área onde um corpo estirado encarava o céu.
Uma Anita translúcida estava sentada em um banco próximo. Encarava seu corpo, sem saber o que pensar. Ela nunca havia acreditado em fantasmas, mas agora ela era um. O fim da vida não era o fim. Se fantasmas não podiam morrer, o que isso significava? Eternidade? Ela chacoalhou a cabeça.
Estar morta era muito diferente do que ela esperava, embora Anita nunca tivesse pensado muito nisso. Mas é claro, ela era jovem e cheia de vida; uma garota de vinte e um anos não tinha porque pensar na morte. A morte era para idosos fracos e cheios de rugas. Ou pessoas que não tomavam cuidado ao atravessar a rua. Ou viciados com agulhas espetadas nos braços. A morte deveria aparecer dali sessenta anos, não agora. Mas a vida é cheia de surpresas e nem todas são boas.
Seu desejo de ser uma professora de escola estava tão morto quanto ela. Sua mente não podia compreender, desejava que aquilo fosse um pesadelo do qual acordaria, mas, infelizmente, este não era o caso. Seus pensamentos eram confusos e aleatórios.
Os sons pareciam mais baixos.
Era domingo de manhã e ela estava sentada em um dos bancos ovais do Central Park, que deveria ser mais seguro do que um dia fora, mas, infelizmente, não tinha sido assim pra ela. Se ela tinha um anjo da guarda, ele ou ela deveria estar de férias, embora ela tivesse tido uma sensação estranha mais ou menos uma hora antes de acontecer. Anita pensou que aquela sensação deveria ter sido muito mais vigorosa; senão porque daria ouvidos a ela? Obviamente, não tinha sido suficiente ter uma sensação ruim; deveriam ter dado um chacoalhão nela. Não saia hoje à noite! Serás morta, eu lhe digo! Filmes clássicos demais, talvez?
Como os anjos da guarda se encaixavam no livre arbítrio? Eles poderiam te fazer sentir que algo desagradável aconteceria, mas não poderiam te dizer o que? Não parecia muito útil. Anita concluiu que as pessoas simplesmente não prestavam atenção àquelas sensações, porque ela certamente não o fez, vivemos num mundo muito ocupado para prestar atenção nesse tipo de coisa. Ou seria praticamente impossível fazer alguém entender algo vindo do outro lado? A vida e a morte eram muito mais complicadas do que ela imaginara.
Anita tentou escorregar seus óculos para topo do nariz, mas não havia mais motivo para aquilo, sua visão era perfeita agora. O hábito desapareceria com o tempo. Fantasmas não usam óculos, pensou. Pessoas mortas não falam? Bom, na verdade falam. Mas se alguém vivo os ouvia, isso era outra história.
Os bancos que circundavam a área gramada tinham pequenas flores vermelhas grosseiramente pintadas, e na mesma área havia duas árvores opostas uma a outra e três postes de luz. Anita se lembrava das luzes da noite anterior, quando ainda estava viva. Ela havia achado aquela uma atmosfera agradável, mas agora não mais. Iluminação poderia realmente fazer uma área parecer mais segura do que realmente era, ela ponderou. Era estranho, mas Anita não se lembrava de ter ido ao parque, como se a memória tivesse sido apagada de sua mente como o giz é apagado de um quadro negro. Havia resquícios de memória que Anita ainda não conseguia acessar. Talvez ela estivesse em choque? Seria difícil para qualquer um entender o estado em que ela se encontrava.
Anita notou um avião voando alto sobre ela, deixando uma trilha atrás de si. A nove mil metros de altura ou talvez mais alto. Para onde estaria indo? Os passageiros nunca imaginariam estarem sendo observados por um fantasma. Quando viva, quantos espíritos a teriam observado? Se o avião caísse ali perto, todos eles apareceriam por ali? Seu pai costumava lhe dizer para pensar fora da caixa. Agora ela pensava fora da caixa porque não havia mais caixa, não havia nem mais um corpo. Não deve estar sendo fácil pra ele.
Bem-vinda à vida após a morte, ela imaginou alguém dizer. Eu serei o seu guia. Mas até então não havia voluntários e talvez nunca houvesse.
Se o noivo de Anita, Curt, estivesse recebendo a notícia agora, este seria um dia terrível para ele e para o resto da família dela, especialmente para sua irmã gêmea idêntica, Alana, e suas duas irmãs mais novas, Eva e Courtney. Ou talvez a polícia ainda não tivesse batido em suas portas. Seria possível consolá-los? Mesmo se ela pudesse aparecer para eles, ela os assustaria demais. Ela precisava pensar em outras coisas, pelo menos por enquanto.
O universo era um lugar mais estranho do que ela jamais imaginara. Quantos espíritos vagavam por aí? Provavelmente há mais mortos do que vivos, e isso significava muitos fantasmas. Para onde iriam os maus? O inferno existia?
Aquilo era uma formiga andando em sua testa? Aparentemente ela havia levado uma facada no peito, mas a faca havia desaparecido. Por que alguém faria isso com ela? Por que havia tantas pessoas dispostas a matar, falando nisso? A vida já era curta sem pessoas matando umas as outras.
E de novo ela pensou, então é assim que é estar morta.
Anita sentiu o cheiro de café forte que um dos policiais segurava, e não parecia mais tão bom quanto costumava. O perfume do café forte era um cheiro que gostava de sentir pelas manhãs. Uma grande xícara de café, três colheres de açúcar e um pouco de leite. A polícia havia delimitado a área enquanto detetives analisavam o corpo, observavam a cena do crime e vasculhavam a área antes de colocá-la em um saco e levá-la embora. Mas aquilo poderia demorar horas. Procuravam pela faca, mas não havia sinal dela ou de qualquer outra coisa – sem evidências – pelo menos por enquanto. Um cigarro Gold Flake foi encontrado e colocado em um saco plástico, mas era impossível de saber se estava ligado ao caso ou não, já que muitas pessoas passavam por ali. As vozes dos policiais pareciam baixas para Anita, como se o volume da televisão tivesse sido diminuído; ela teria que prestar muita atenção se quisesse ouvir o que estavam dizendo.
Era indescritível observar seu próprio corpo sem vida – não parecia real – não havia tanto sangue quanto ela esperava, provavelmente porque a faca fez seu coração parar. Anita se deu conta de que talvez sua família nem tivesse sido avisada ainda. Sua cabeça era uma confusão só. Os mesmo pensamentos iam e voltavam. Seu anel de noivado ainda estava em sua mão esquerda. Seu colar com um diamante em formato de gota permanecia em volta de seu pescoço, e todo seu dinheiro e cartões de crédito permaneciam intocados em sua bolsa preta. Ela não havia sido roubada, não que isso importasse. Todo o dinheiro do mundo seria inútil agora. Tentando uma nova abordagem dos fatos, Anita tentava se lembrar dos acontecimentos que levaram à sua morte; ela não conseguia. Será que ela não deveria se lembrar?
O que aconteceu com o paraíso e com todos os anjos?
Anita tinha pouco menos de um metro e setenta e seis de altura, cabelos loiros, olhos azuis, e era incrivelmente encantadora. O cadáver já estava começando a cheirar. Insetos vão me comer, e logo estarei sete palmos abaixo da terra. A gente nunca sabe quanto tempo ainda tem entre os vivos. Que loucura!
Fui assassinada ontem à noite
, disse Anita William para o outro espírito sentado do outro lado do banco. Ela nunca se imaginou dizendo aquilo, mas era verdade, sua vida havia acabado aproximadamente uma hora antes da meia noite. Ela jamais imaginaria que um espírito poderia ficar em choque. Era muito para processar em um tempo tão curto. Embora Anita estivesse morta, sua consciência e sua alma haviam permanecido.
Agora era sete da manhã e estava calmo. O perfume de um jardim de rosas ali perto era agradável, até mesmo para os recém-partidos, e o voo de um zangão através dela a caminho das rosas deixou tudo mais estranho. Então um chapim perseguindo outro a atravessou também. A maioria das pessoas aproveitava o calor agora que junho acabara de dar lugar a julho. Uma manhã agradável se você não estivesse morto.
O que eu deveria fazer agora? Vagar por aí eternamente?
Anita achou que um dos jovens policiais olhava para ela, mas percebeu que ele havia visto uma bituca de cigarro no banco; ele estava olhando através dela. Era um Marlboro desta vez. Um policial tão jovem que poderia ser seu primeiro dia no trabalho. Sexy, no entanto, especialmente naquele uniforme. As memórias vinham aos poucos e desapareciam rapidamente, não conseguia se prender a nenhuma delas, deixando-a incomodada. Anita não tinha nem certeza de por que estava no Central Park àquela hora. Ela estaria esperando por alguém? Ela esperava que não ficasse no escuro para sempre, imaginando o que teria acontecido. Agora o para sempre significava, bom, para sempre.
Por que alguém faria algo assim? Claro que havia muitos psicopatas andando por aí hoje em dia. O lugar errado na hora errado, como se diz. Anita voltava a pensar as mesmas coisas. Por que ele não a havia roubado? Teria havido uma briga e ela teria entrado no meio? Ela poderia tentar adivinhar, mas não havia nada que comprovasse suas suposições.
Reencarnação era verdade?
Não se esqueça de embalar esse cigarro.
Sim senhora, quer dizer, detetive.
Quando seu espírito deixou seu corpo, ela se lembrava de ter visto seu corpo do alto, algo que ela com certeza de que ela nunca se esqueceria. Havia sangue em seu vestido onde a faca havia entrado em seu coração, mas ela não conseguia se lembrar da faca. Uma facada no coração. Anita colocou a mão sobre o peito, era estranho não ter um batimento cardíaco.
Estar morta era muito diferente.
Ela sempre achara que o paraíso era algo inventado, mas agora sabia que não era. Talvez ela precisasse encontrar o portal? Anita assistiu o vento soprar um papel de chiclete através de seus pés. Você me ouviu dizer que fui assassinada na noite passada?
Sim, eu ouvi.
Michael disso isso afavelmente e ele realmente sentia muito que aquilo tivesse acontecido, mas ele não podia fazer nada. Ninguém podia fazer nada. Talvez eventualmente ela pudesse reencarnar como outra pessoa, mas seu antigo corpo estava perdido para sempre. Ele iria apodrecer e eventualmente se desmanchar a menos que fosse cremado, mas isso não fazia diferença. Seu veículo, por assim dizer, estava destruído, e não dava para voltar no tempo. Ele nunca mais funcionaria de novo, seu coração estava além de qualquer reparo. A faca havia sido introduzida diretamente sobre o tronco pulmonar e a aorta, quase como se tivesse sido pessoal. Ela já estava condenada antes de atingir o chão.
Anita estava usando um belo vestido branco, embora agora fosse transparente, e havia uma área escura onde a faca havia sido introduzida por um algum maníaco usando uma máscara de esqui. Ela pensou ter visto duas pessoas enquanto caía. Talvez Anita tivesse visto rapidamente um dos agressores antes de seus olhos se fecharem pela última vez, não que importasse agora, mas ela bem que gostaria de saber o porquê daquilo. Ela se lembrava da máscara. Isso, uma máscara preta. Talvez ela se lembrasse dos detalhes eventualmente? Era emocionalmente desgastante quando ela tentava se lembrar.
Ela devia ter sentido uma terrível dor aguda quando a faca entrou em seu peito, ou pelo menos era o que ela imaginava. Talvez eu tenha sido assassinada por um sem teto, mas, não, ele teria levado meu dinheiro.
Vários dos espíritos chacoalhavam suas cabeças para a bela que agora jazia ali, prestando condolências enquanto passavam, bem como amigos fariam aos membros de uma família ao passarem por um caixão em um velório. Sinto muito por sua perda. Sinto muito por sua morte. O jeito que uma mulher chacoalhou sua cabeça era quase como se ela culpasse Anita por sua morte, mas ela não disse nada. Até aqui as pessoas julgavam.
O tempo já parecia estranho, quase não existente. Ela ainda não podia compreender alguns sentimentos. Não sei se vou me acostumar com isso. Anita não poderia descrever isso para alguém vivo mesmo que ela quisesse. De repente teve um pensamento estranho – se escritores escrevessem livros no céu eles seriam fascinantes, especialmente os que falavam sobre como era estar ali. O que Mark Twain estaria escrevendo hoje em dia? Ou será que ele haveria reencarnado?
Um soldado da guerra civil americana acenou para ela com a cabeça. Ele usava um uniforme azul da União e sussurrou que sentia muito. Porque ele estava ali, ela não sabia. Era cedo demais para ela saber muito sobre estar morta; esse era um novo tipo de existência. Os pobres coitados que não acreditavam em nada levariam um choque, passando pela vida acreditando que aquele era o pacote completo. Seu pai gostava muito de usar o termo pacote completo. Pobre papai é capaz de morrer com o choque. Por que alguém iria querer me matar? Eu nunca fiz mal a ninguém, não intencionalmente, pelo menos.
Anita imaginou o que acontecia aos assassinos quando morriam. E com os terroristas? Imaginar isso a fez chacoalhar a cabeça.
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