Assassinatos Na Igreja
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O MAL VOLTA A ATACAR NAS ENSOLARADAS ILHAS GREGAS
O Capitão Costa Papacosta e a Tenente Ioli Cara, da Polícia Helênica estão de volta para resolver quatro casos muito complexos, todos eles tendo ligações estranhas com a Igreja Ortodoxa Grega.
Um repórter investigando a existência de um Evangelho escrito pelo próprio Jesus é achado esfaqueado na ilha de Salamina, onde um advogado e uma menina pequena desapareceram.
Em Santorini, a mais bonita das ilhas gregas, os cadáveres começam a se amontoar rapidamente. Um assassinato após o outro desafia os policiais. Todas as pistas estão lá, mas quwm é o assassino?
Nas sete Ilhas Jonicas, sete suicídios simultâneos, um em cada uma delas. Como isso é possível?
O estigma aparece num menino na ilha de Cefalônia, e põe à prova o ceticismo de Ioli.
O tempo corre contra os dois bravos detetives numa história surpreendente, ambientada nas maravilhosas ilhas gregas. E o final consegue surpreender mais ainda!
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Book preview
Assassinatos Na Igreja - Luke Christodoulou
Para minha esposa Polina. Você é o outro pinguim do meu par.
Para minha filha Ioli. Um doido pacote de alegria... Amo você.
E mais um enorme agradecimento à minha equipe de edição e revisão! Vocês são demais!
Livros de Luke Christodoulou:
The Olympus Killer (Greek Island Mystery #1) - 2014
The Church Murders (Greek Island Mystery #2) - 2015
Death Of A Bride (Greek Island Mystery #3) - 2016
24 Modernized Aesop Fables - 2015
Comentários recebidos sobre os Mistérios nas Ilhas Gregas (série de livros):
"Assassinatos na Igreja atrai qualquer leitor que goste de romances policiais, suspense, ação e aventura. Tenho satisfação em recomendar este livro, e espero que seu autor, Christodoulou, já esteja trabalhando no próximo desta série tão promissora.
– Chris Fischer, do Readers' Favorite
O James Patterson grego ataca novamente.
– Greek Media
"... um trabalho magistral de criação
de uma história policial ambientada na ensolarada Grécia."
– Ruth Rowley
"Uma ótima diversão, que implora para se transformar num filme (...) uma profusão de ótimas histórias num bom ritmo e repletas de personagens bem reais, magníficos cenários da Grécia, e visões fascinantes da cultura grega, além de alguns deliciosos toques de humor. Há boas reviravoltas no enredo também, coisas que eu nem esperava. Estas histórias competem em pé de igualdade com muitos best-sellers e, falando francamente, o livro supera vários grandes nomes do ramo, com um estilo leve, tramas intensas, personagens extremamente reais, e tudo isso tendo ao fundo a maravilhosa Grécia, sua história e cultura.
– Meandthemutts Book Reviewer
Assassinatos na igreja é uma sobreposição das belíssimas (e magnificamente descritas) Ilhas Gregas com os horrendos e brutais assassinatos que acontecem nelas.
– Michael Young History
Mais um livro que eu não consegui parar de ler
– Jan Felton
Um suspense fascinante.
– Daniel T.A. (Escritor)
"Sedutor como um enigma Sudoku, o autor montou uma trama engenhosa,
que termina com revelações estarrecedoras."
– Julius Salisbury (Escritor)
Um conto de terror! Um mistério policial que prende o leitor até o final.
– Sheri A. Wilkinson (Crítica literária)
O autor constrói os personagens principais entrelaçando-os cuidadosamente na armação de uma ótima história, até mesmo quando ele se afasta da azáfama do cotidiano. É o máximo da arte com palavras.
– Rose Margaret Phillips (Crítica literária em blog)
ASSASSINATOS
NA IGREJA
1 Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Então ouvi um dos seres viventes dizer com voz de trovão: Venha!
2 Olhei, e diante de mim estava um cavalo branco. Seu cavaleiro empunhava um arco, e foi-lhe dada uma coroa; ele cavalgava como vencedor determinado a vencer.
3 Quando o Cordeiro abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Venha!
4 Então saiu outro cavalo; e este era vermelho. Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da terra e fazer que os homens se matassem uns aos outros. E lhe foi dada uma grande espada.
5 Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Venha!
Olhei, e diante de mim estava um cavalo preto. Seu cavaleiro tinha na mão uma balança.
6 Então ouvi o que parecia uma voz entre os quatro seres viventes, dizendo: Um quilo de trigo por um denário, e três quilos de cevada por um denário, e não danifique o azeite e o vinho!
7 Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizer: Venha!
8 Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome, por pragas e por meio dos animais selvagens da terra.
Livro do Apocalipse Capítulo 6, 1-8
(Bíblia Sagrada, NVI - Nova Versão Internacional®)
Capítulo 1
O sol de inverno havia se escondido atrás das verdejantes colinas em torno da megalópole de Atenas, e o ocaso deixara tudo na escuridão.
Dezembro sempre trazia a mesma dúvida. O que me aborrecia mais, o anoitecer às cinco da tarde ou o calor sufocante do verão? Primavera, esta era certamente a estação perfeita. Talvez estivesse ficando mais rabugento ao me aproximar involuntariamente do meu meio século de existência.
Acendi os faróis do meu Audi e sorri, ao ouvir os céus trovejando lá em cima. Gostava de dirigir na chuva, e meu carro preto estava mesmo precisando de uma ducha natural para tirar a poeira.
A Rodovia 56 é uma chatice. Um retão só, trânsito permanentemente intenso, e a vista é uma sucessão de prédios de apartamentos, todos eles cinzentos. Qualquer pessoa teria tomado o metrô até Pireus, mas sempre me faltou um pouco daquilo que chamam de bom senso. Não estava com a menor pressa de me encontrar com a psicóloga da Polícia, e meu apartamento vazio não iria reclamar da hora que eu chegasse, cedo ou tarde. Saí da estrada e rumei para Akti Miaouli. Fora do carro, o vento se ocupava de movimentar as folhas secas no chão enquanto as nuvens lançavam gordas gotas de chuva.
Estacionei no outro lado da rua, em frente ao prédio moderno, todo envidraçado, onde ficava o consultório da Dra. Ariadne Metaxa. Ela dava expediente às terças e quintas na Central de Polícia, mas eu preferia ir ao seu consultório. Isso oferecia o tempo necessário para eu me desligar do trabalho e vestir minha máscara de falsa alegria e cordialidade antes de ir vê-la. Não preciso de psicólogos remexendo o conteúdo da minha cachola. Só quero que ela me libere para voltar à ativa.
Saí do carro e fiquei um instante debaixo daquela chuva torrencial, apreciando cada gota que me escorria pelo rosto, antes de atravessar a rua correndo em meio ao tráfego. Os desprovidos de guarda-chuva corriam em busca de abrigo do aguaceiro inclemente. Alguns eram lavados, outros encharcados. Pressionei o botão da campainha ao lado do nome dela e esperei para ouvir a voz irritante da secretária. Não quero ser rude mas, ao contratar alguém para atender pelo telefone e interfone, conviria ter evitado uma moça com voz roufenha.
— Consultório da Dra. Ariadne Metaxa. Posso ajudar?
Pode! Fale mais baixo.
— Capitão Papacosta. Tenho consulta marcada.
— Pode subir, capitão. A doutora está aguardando.
Claro que está! Eu marquei uma consulta.
Empurrei a pesada porta de ferro e tomei o elevador. O consultório da Dra. Ariadne ficava no 14º andar. Uma parede inteira era envidraçada do teto ao chão, oferecendo uma vista fantástica do agitado porto de Pireus, uma das vantagens de ir até lá para a consulta. E isso sem contar com a poltrona muito mais confortável que a da polícia.
Quando entrei, a secretária magricela já estava de pé, com o braço estendido e a palma da mão virada para cima, apontando a porta de madeira do consultório.
— Pode entrar, capitão.
Suas palavras vinham de trás de dentes tortos, todavia eram acompanhadas por um sorriso simpático. Um bom coração sempre é capaz de compensar uma voz estridente e uma dentição mal formada.
— Obrigado, — disse eu, com o sorriso mais agradável que consegui esboçar.
Quando entrei naquela sala parcamente iluminada, a porta se fechou atrás de mim. A Dra. Ariadne levantou-se de trás da sua enorme escrivaninha de mogno, onde estivera concentrada na leitura de um jornal de medicina. Veio em minha direção lentamente, com aquele ar de autoconfiança que nunca a deixava. O cabelo ruivo tocava seus ombros nus, e seus olhos cor de esmeralda cintilaram ao fitar minha aparência decrépita. Fiquei ali parado com meu cabelo castanho ensopado, gotas de chuva misturadas ao suor que me escorria pelo rosto, vestindo uma velha calça jeans e uma camiseta branca por baixo do meu casaco de couro preto. Para contrastar, do decote aos joelhos, um vestido vermelho bem justo embrulhava o corpo da doutora. Sapatos prateados de salto alto davam realce a seus pés, e ela parecia ter acabado de sair do cabeleireiro. O vermelho lhe caía bem. Reluzia como fogo, em contraste com sua cútis impecavelmente branca. Devia ser uma das mulheres mais pálidas da Grécia inteira. Certamente devia evitar o sol intenso, que lhe causaria rugas. Uma mulher extremamente inteligente, aproximando-se dos quarenta anos, membro da Mensa para não deixar dúvidas.
Sua mão delicada se encaixou na minha.
— Boa noite, capitão. Estamos tendo uma bela chuvarada hoje, não é? — sua voz bem modulada enchia a sala minimamente decorada com algumas obras de arte.
Ela sentou-se primeiro em sua cadeira executiva carmim e, com um sorriso, convidou a me sentar na poltrona diante de si. Lá fora, bem abaixo, embarcações entravam e saíam do porto, aproveitando um bom banho de chuva torrencial. Eu me remexi na poltrona até encontrar uma posição confortável para relaxar. Sabia que iria ficar lá por uma hora, mas achei que perguntar não ofenderia.
— Doutora, já deve saber por que estou aqui. Preciso da sua liberação para poder voltar a campo. Já se passou uma semana, e não aguento passar mais um único dia só preenchendo a papelada do chefe.
— Eu até poderia assinar o papel e deixar você ir embora, voltar ao seu trabalho em menos de um minuto. Mas estaria sendo negligente no meu trabalho. Você foi mandado aqui por um motivo.
— Não estou precisando de mais uma avaliação psicológica.
A Dra. Ariadne havia sido minha avaliadora quando cheguei à Grécia, dois anos atrás, e me candidatei à polícia local. Considerando meu histórico como detetive de homicídios em Nova York, tendo tido uma filha assassinada, e sendo um divorciado solitário e insociável, não foi surpresa alguma terem me encaminhado para a psicóloga-chefe. Depois de oito sessões, a Dra. Ariadne emitiu seu laudo, considerando-me apto para o serviço.
— Isto aqui não é uma avaliação, Costa, e você sabe muito bem. É apenas o procedimento de rotina quando um capitão da polícia arremessa seu computador pela janela do escritório.
Sua voz doce e suave percorreu a distância entre nós e conseguiu me acalmar.
— Você viu dezenas de cadáveres, todos de uma vez. É normal ter ficado perturbado, — ela prosseguiu, no mesmo tom.
— Fiquei chateado por não ter resolvido o caso!
— Sempre resolve todos os seus casos, capitão?
— Não. Isto aqui é a vida real. Não é um filme ou livro que precisa ter um final.
— E acha que este caso precisa ter um final? Precisa de uma conclusão?
— O caso foi arquivado. Esta é a conclusão. Eu só queria ter descoberto antes. Talvez pudesse tê-los salvado.
— Não se martirize por isso. Entendo que foi uma vitória de Pirro, mas nunca se esqueça de que você salva vidas em cada dia de trabalho. No verão passado você saiu nos jornais por ter levado o Matador do Olimpo à justiça. Salvou a vida da sua parceira e muitas outras.
Cheguei a sorrir ao me lembrar de minha parceira, Ioli. Eu não a vira desde que ela voltara para Creta. Deram-lhe três meses de licença, com a recomendação de fazer fisioterapia diariamente. Depois do Natal ela voltaria ao trabalho. Estava sendo transferida para Atenas, onde o chefe iria colocá-la oficialmente na equipe. A divisão de homicídios das Ilhas Gregas.
— O psicólogo da Ioli a liberou, — sugeri.
A Dra. Ariadne deu um profundo suspiro. Ficou fitando meus olhos castanhos diretamente por um bom minuto inteiro.
— Vamos fazer um trato. Vou liberá-lo hoje e sempre que precisar de novo, mas você terá de concordar em deixar de bancar o durão, e vir me visitar a cada duas semanas.
Comecei a montar mentalmente uma estratégia de argumentação, mas a palavra que saiu da minha boca surpreendeu ambos:
— Fechado!
Capítulo 2
Um mês antes...
CASO Nº 1: O Cavalo Branco
Conquista, o Mal, o Anticristo
Salamina é uma das ilhas mais próximas de Atenas; apenas 2 km do principal porto de Pireus. Isso era tudo o que eu poderia dizer sobre o lugar até o dia 21 de novembro. Era uma manhã típica. Eu segurava minha pança de cerveja enquanto sorvia o meu terceiro café da manhã, cercado por policiais mesomorfos de constituição hercúlea na delegacia. Acenei com a cabeça em apoio àqueles que reclamavam da crise econômica e de não conseguirem pagar as contas.
Um telefonema quebrou a monotonia daquele dia.
— Capitão? Ligação na linha três. Possível homicídio na Ilha de Salamina, — informou a policial Andrea Loukaki.
Engoli meu café num único gole meio torto, e corri para o telefone em algum lugar em meio à baderna da minha mesa atulhada.
— Capitão Costa Papacosta.
— Bom dia, capitão. Aqui é o Sargento Jason Galanos, da Polícia. Informaram que um cadáver, masculino, foi encontrado numa vala perto da praia de Batsi há uns 40 minutos. Já estou no local. Parece ter sido esfaqueado várias vezes, e também me parece que já está aqui há um bom tempo. Não consigo chegar mais perto, porque o corpo está muito abaixo. Já chamei o pessoal do resgate local para ajudar...
— Estou indo até aí. Vou levar o legista comigo. Interdite a cena do crime. Fotografe tudo e não toque em nada.
Saí pela porta dos fundos da delegacia, para o enorme pátio de estacionamento. Fiquei tão empolgado que acho que cheguei a correr. Antes de começar a telefonar para o legista, já havia chegado ao carro. O volante estava quente, o ar lá dentro estava viciado, desagradável de respirar. Olhei para cima e franzi os olhos diante do abrasador sol de novembro. Já chega desse calor!
— Jacob Petsa, — ouvi a voz do legista pelo viva-voz do meu celular, interrompendo meus pensamentos receosos de mais um ano sem chuvas na Grécia.
Jacob parecia sem fôlego, e obviamente estava comendo alguma coisa.
— São nove da manhã. O que você está comendo aí no necrotério?
— Costa! Malaka, o que está fazendo? Respondendo à sua pergunta, tomando o café da manhã, é claro. Tem um bistrô aqui, logo depois da esquina, que serve um café da manhã completo, como o dos ingleses. Imagine só! Com o café e tudo, só cinco euros! Sabe, desde que os filhos saíram de casa, a Maria vem experimentando um regime atrás do outro. Aveia não é café da manhã, meu caro, pode crer! Um dia eu disse à Maria que não sou coelho, e exigi um café da manhã de homem. Você precisava ver a cara dela, ela... Costa? Ainda está aí?
— Estou.
— A essa altura você já teria me interrompido, — comentou o alegre legista, com uma risada.
— Eu pretendia, mas resolvi satisfazer minha curiosidade. Sempre quis saber se haveria um momento em que você para de falar.
— Agora já sabe! O que temos?
— Um homem morto em Salamina. Vou passar pelo portão do necrotério em cinco minutos.
Não houve resposta. Jacob nem se preocupou em encerrar a ligação. Largou o telefone no frio aço inox da mesa de cirurgia e correu para o seu café da manha. Não deixaria nenhum pedacinho de bacon crocante para ninguém, vivo ou morto.
Capítulo 3
Batsi era considerada uma das melhores praias daquela ilha em forma de camarão. Não que isso fizesse muita diferença. Salamina não era uma ilha de turismo, durante o verão atraía mais o pessoal local do que os turistas. Agora, a um passo do inverno, parecia abandonada. Olhei para as casas dispersas na encosta do morro vizinho e desisti de achar testemunhas. Mesmo assim, mandei dois homens da polícia local baterem de porta em porta. Achei estranho alguém descartar um corpo tão perto do mar. Quero dizer, enterre-o onde o matou, ou então jogue no mar, já que está tão perto. Um corpo largado numa vala indica uma fuga em pânico. Estava pensando em tudo. Fechei os olhos ao nos aproximarmos da cena do crime, e suspirei. Concentre-se, Costa, concentre-se!
— Bom dia, capitão. É por aqui.
Jason Galanos era um grego um tanto baixinho. Sujeito forte, atarracado, com uma tez tipicamente grega, e um nariz visivelmente grego. Movia poucos músculos faciais ao falar, e se comportava de uma maneira formal e respeitosa, algo incomum hoje em dia na polícia, especialmente entre o pessoal com menos de 30 anos.
Segui o policial ligeiro na subida de terra, enquanto meus olhos perscrutavam o ambiente ao redor. Um campo ressecado, arbustos de coloração amarelo-clara, e oliveiras persistentes crescendo nos trechos rochosos. O Dr. Jacob Petsa bufava e resfolegava atrás de nós, reclamando de quase tudo.
— Talvez a ideia de fazer o regime da Maria não seja tão má... — ousei gracejar com meu bom e velho amigo.
— E talvez eu empurre você lá para baixo, assim teremos dois corpos! — disse ele, soltando uma sonora gargalhada.
Sua risada ecoou pela encosta, e os socorristas mais à frente voltaram-se para ver quem chegava a uma cena de assassinato dando gargalhadas. O sargento de aspecto sombrio havia fincado quatro barras de ferro no chão em torno da vala, e criado um retângulo com a tradicional fita amarela da polícia.
Os operários já haviam preparado os ganchos e as cordas, imprescindíveis para nossa descida até o cadáver. Tenho certeza que vi um deles checar as cordas mais uma vez, depois de ter divisado a minha altura e a largura de Jacob. Olhei para baixo, dentro daquela grande vala. O corpo estava uns dez metros abaixo de nós. Vestia apenas uma cueca ou calção, rasgado e ensanguentado.
— Quem encontrou o corpo?
— Um jovem casal de Tessalônica. Estão aqui passando férias — respondeu Jason prontamente.
Ele sacou seu bloco de anotações, com capa preta, típico dos detetives, e leu:
— Andreas e Eleni Karambetti. Ambos com 28 anos de idade. Vieram aqui praticar esportes radicais. Saltaram de parapente do topo do morro, quando Eleni começou a gritar e apontar para baixo. Tenho os depoimentos deles, e estão numa pensão aqui perto, se quiser conversar com eles.
— Bom trabalho, Jason, — comentei, admirando a maneira do jovem de se apresentar. Controlada e à moda antiga.
— Vamos ver a nossa vítima, — dei o comando para o encarregado nos amarrar. Desça os holofotes também.
— Estou ficando velho demais para essas coisas. — disse Jacob enquanto nos baixavam para dentro daquele buracão na terra.
Aterrissamos a poucos metros do corpo, e nos desamarramos conforme haviam nos instruído. Firmei os dois holofotes e liguei. A vala ficou inundada de luz branca. Deixei um onde havia descido e carreguei o outro até o lado oposto da vítima. Nossas sombras faziam um teatro macabro nas paredes da vala. Fotografei as costas do corpo, e usei o zoom para obter fotos em close dos ferimentos. Havia ferimentos de entrada violentos e aleatórios por toda parte. Mãos impelidas pelo ódio haviam cometido esse crime. Larvas e moscas desfrutavam daquele banquete de carne, e pequenas mordiscadas tendiam a indicar que o local também era frequentado por ratos e outros pequenos roedores à noite. Ao redor do corpo havia respingos escuros de sangue. Não havia mais roupas nem outras coisas à vista por ali. Jacob ajoelhou ao lado do corpo, ajustou os óculos no nariz, e franziu os olhos, enquanto vestia suas luvas de látex quase brancas. Médicos legistas não ganham prêmios; se ganhassem, Jacob teria um armário lotado de troféus. Eu fiquei de lado, dando-lhe os seus cinco minutos.
— Vamos virá-lo de lado, — veio a simples ordem, e eu o ajudei a virar o corpo lentamente, de modo a ficar de frente para nós.
Ambos engasgamos com o choque de ver o rosto esfaqueado. Havia lacerações profundas nos olhos e em suas órbitas, vários dentes haviam sido empurrados para dentro, e partes do pescoço estavam faltando, tendo levado muitas facadas. O peito da vítima havia sido esfaqueado tantas vezes que havia ferimentos de entrada em outros ferimentos de entrada, formando lesões em forma de estrelas ensanguentadas. Havia facadas até nas coxas. Os ferimentos