Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Simplesmente Maria
Simplesmente Maria
Simplesmente Maria
Ebook255 pages3 hours

Simplesmente Maria

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

A história é composta de lutas travadas nas batalhas da vida, a partir de uma personagem com capacidade e dinâmica de superação. As buscas que se interpõem no cotidiano das pessoas podem, ou não, ser um entrave para a sobrevivência. No entanto, para Maria, tudo se reduz a ir atrás e não desistir faz parte de sua trajetória de sucesso.
Como em todos os livros do escritor Isaías Filho, a emoção permanente da existência do amor na vida da humanidade se fez presente, dando demonstrações de que amar o próximo é essencial para que a plenitude da felicidade seja alcançada.
A vitória está ao alcance de todos, porém onde há sinceridade, fraternidade e amor, é mais fácil alcançar o objetivo almejado. Assim, ao vivenciar as emoções da existência de Maria, poderá o leitor partilhar esses momentos de busca e realização.
O autor reverterá todos os seus direitos autorais desta obra para uma das seguintes instituições filantrópicas: Vila São Cotollengo; Grupo Fraterno Paulo de Tarso; ASCEP Associação de Serviço à Criança Especial de Goiania; Associação Pestalozzi.
LanguagePortuguês
PublisherEditora Kelps
Release dateSep 17, 2018
ISBN9788540025608
Simplesmente Maria

Related to Simplesmente Maria

Related ebooks

Romance For You

View More

Related articles

Reviews for Simplesmente Maria

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Simplesmente Maria - Isaías Filho

    INCONDICIONAL

    O SONHO DA MEDICINA

    Manuel Dias, mais conhecido como Mané, trabalhava em uma empresa de segurança com provimentos mensais de pouco mais de um salário mínimo. Casado com Joaquina da Silva há aproximadamente seis anos, a vida do casal era extremamente difícil por não possuírem local de moradia. O sonho da casa própria vinha sempre dos falsos programas oferecidos pelos governantes.

    Como a esposa estava desempregada e grávida de oito meses, na impossibilidade de arcar com os valores do aluguel, o casal se viu obrigado a ir morar em um barraco de lona em uma invasão da periferia de Goiânia, capital do estado de Goiás.

    Vivendo em condições difíceis, Joaquina foi assistida por alguns outros moradores da mesma invasão, quando deu à luz uma menina, saudável e muito chorona. Poucos dias após o nascimento da criança, o pai foi a um cartório da cidade com a finalidade de efetuar o necessário registro, porém devido à sua condição financeira precária, não lhe restou alternativa a não ser o serviço gratuito.

    Retirou uma senha e, pacientemente, aguardou ser atendido pelo funcionário do cartório que, após tomar conhecimento da necessidade de Manoel, realizou o atendimento com imensa falta de vontade e de respeito com um ser humano, que buscava seus direitos e ali somente estava naquela condição por ser vítima de um sistema injusto de distribuição de renda.

    – Pois não –  disse o atendente de forma nada cordial.

    – É que minha filha Maria nasceu e eu não tenho dinheiro para pagar os documentos de registro dela. Mas preciso da Certidão de Nascimento.

    – Qual o nome do Senhor?

    – Eu me chamo Mané.

    – O Senhor trouxe a documentação do hospital onde ela nasceu?

    – Não, ela nasceu lá no barraco mesmo e foi uma vizinha que ajudou a fazer o parto. A minha filha é bonita e está com muita saúde.

    – Senhor Mané, eu não posso fazer o registro de uma criança sem a devida  documentação, logo o Senhor vai ter que procurar um médico e solicitar os devidos comprovantes.

    – Ela nasceu no meu barraco não tem documento, mas eu sei que ter a certidão de nascimento é um direito de minha filha.

    O atendente, já um tanto quanto irritado com aquele pai, efetuou o registro da seguinte forma: Maria Dias, filha de Joaquina Dias e Mané Dias. Sem conferir o que estava escrito, Manoel guardou o documento no bolso e voltou para seu barraco.

    Naquela invasão, totalmente sem condições humanas de existir, Maria cresceu. O descaso público contribuía para que circulassem por lá viciados em substâncias ilícitas, assaltantes de bancos e assassinos profissionais, porém a falta de recursos financeiros do casal não permitia outro local de moradia.

    A mãe acompanhava o desenrolar da infância da menina em meio a tantos obstáculos.   Ali faltava tudo, os moradores tinham que se contentar com o resto do que os governantes ofereciam. Eles só recebiam um tratamento melhor em época de eleição, quando os candidatos iam até aquele local esquecido a fim de obter os votos.

    No decorrer do tempo, Maria mostrou ser diferente dos seus colegas com a mesma idade. Tinha extrema facilidade no aprendizado e, em seu primeiro ano escolar, com apenas quatro anos de idade, surpreendeu os professores. A menina aprendeu  facilmente a contar, escrever e ler as primeiras letras.

    O pai, vez ou outra, desentendia-se com a esposa devido à evolução da menina:

    – Joaquina, você não pode e não deve tratar a Maria assim. Ela não é nada disso que estão dizendo. É apenas uma menina, filha de família pobre e que está crescendo em meio ao submundo por ser vitima de um descontrole social e alto nível de corrupção existente em nosso país.

    – Pare com isso, Mané! Quantas vezes eu disse a você o quanto nossa filha sofre por não conseguir conviver em meio às crianças da mesma idade.

    – Isso é o que você vê e quer, Maria é apenas uma criança mimada, filha única e, por sua sorte, de família que não pode patrocinar seus sonhos de mordomia. É preciso ter os pés no chão e ver quem somos. Não devemos permitir que ela cresça com a ideia de ser superior ou mais inteligente que o resto da humanidade, o preço para isso pode vir a ser alto demais.

    Os anos se passaram e ali, naquela favela, Manoel criou a família.  As dificuldades eram muitas, conviveram com a fome o frio e algumas doenças, a educação de Maria em colégios públicos sempre estava aquém de seu potencial. No entanto, as circunstâncias contribuíram para que a equipe pedagógica acelerasse o processo considerando o rendimento escolar da garota nas séries inicias.

    Assim, aos quatorze anos, Maria estava cursando o segundo ano do segundo grau e, por motivação própria, a contragosto de seu pai, prestou vestibular na Universidade Federal de Goiás para o curso de Medicina. Manoel percebia naquela atitude um ato totalmente impensado, até mesmo porque ele não via nenhuma possibilidade de algum dia poder ver a filha vir a se tornar uma profissional da área da saúde.

    No entanto, a grande e inesperada surpresa veio à tona, Maria passou em primeiro lugar. Esse resultado a deixou muito feliz, festejou pelas ruas da cidade, abraçou calorosamente os poucos amigos que possuía e teve apoio irrestrito da mãe e do pai.

    Embora estivesse muito satisfeito com o resultado alcançado, Manoel mostrou toda sua preocupação devido à necessidade de resolver os entraves jurídicos a que teriam que ser submetidos, pois a filha ainda não havia completado o segundo grau e, para que viesse a ingressar na universidade, era necessário anuência judicial e eles não possuíam recursos suficientes para os honorários do advogado.

    Manoel foi orientado por alguns colegas de trabalho a pedir ajuda na empresa onde trabalhava. Evidentemente que eles possuíam um corpo jurídico e, certamente, não iria representar custos à organização, visto que os profissionais recebiam por contrato de trabalho, a causa não oneraria em nada os patrões. Dessa forma, não era nada difícil conseguir esse benefício,  até mesmo devido ao fato de ele ser funcionário ali há mais de dezesseis anos e gozar do privilégio de possuir bons antecedentes e ter um excelente relacionamento com os chefes de seção.

    Em busca de solução, Manoel foi procurar o proprietário da empresa:

    – Doutor Osvaldo, eu preciso de um minuto de sua atenção, será que poderia me conceder?

    – Claro que sim, Mané! Vamos até minha sala e terei muito prazer em poder ouvi-lo.

    O patrão foi seguido pelo funcionário que, enquanto caminhava, pensava em uma forma de tratar do assunto. Era o mínimo que poderia fazer pela filha.

    – Sente-se, Mané. Em que posso ajudar?

    – Doutor, é que minha filha Maria só tem quatorze anos e ainda não completou o segundo grau, mas passou no vestibular em primeiro lugar  para o curso de Medicina na Universidade Federal e precisa de uns documentos que só um juiz pode dar. Eu não tenho como contratar um advogado. Será que o Senhor poderia me ajudar de alguma forma?

    – Antes de mais nada, quero parabenizar você e sua mulher pela forma como vocês educaram a filha. Confesso que não fico surpreso por esse resultado, sempre soube da inteligência e da capacidade dessa garota tão determinada e estudiosa que, com louvor, merece ingressar na universidade. Fique tranquilo, posso lhe assegurar que vou determinar ao nosso jurídico que faça o possível e o impossível para que isso seja viável.

    – Doutor Osvaldo, fico eternamente grato pela sua gentileza, se algum dia eu puder retribuir o favor pode estar certo que farei.

    – Não se preocupe com isso, Mané. Você sempre foi um funcionário exemplar e não faço isso só por você, o mundo necessita de pessoas capazes e desprendidas,  e sua Maria, mais do que ninguém, merece esse prêmio.  Isso tudo foi conquista dela e vocês devem se orgulhar muito. Uma filha como essa são pouquíssimas pessoas que têm o privilégio de possuir.

    – Eu e a Joaquina agradecemos por tudo.

    – Vou determinar ao doutor Lacerda esse acompanhamento. Ele é meticuloso e competente, é grande a probabilidade de obtermos êxito. Ele deve procurá-lo ainda hoje, mesmo porque não há muito tempo a perder.

    Em pouco mais de uma hora, pediram a Manoel para que fosse até sua casa buscar os documentos da filha, havia necessidade de uma procuração dando direito ao advogado de representá-la.

    Quando ele retornou já de posse dos documentos, aí se deu o primeiro entrave. Verificou-se que a Certidão de Nascimento de Maria estava em desacordo com os documentos do pai.

    – Aqui consta o nome do pai como Mané, e não Manoel como deveria ser.

    – Ora, doutor, mas o que isso tem a ver com o fato de Maria entrar na faculdade.

    – Bem, Manoel, isso nós podemos solucionar trocando o responsável por ela, ou seja, vamos pedir para a mãe assinar, e depois teremos que arrumar essa situação ou, caso contrário, sua filha enfrentará transtornos futuros.

    – Doutor, todo mundo só me conhece como Mané mesmo.

    – Mas os seus documentos dizem o contrário, o seu nome é outro. Mané é apenas um apelido, também é preciso deixar bem claro que não é tão simples o juiz conceder uma liminar como essa. Pelo que o Dr. Osvaldo me disse, sua filha passou na Universidade Federal para Medicina, e em primeiro lugar, tem apenas quatorze anos e ainda não concluiu o segundo grau– e dirigindo-se a Maria– qual série você cursou?

    – Estou no segundo ano, mas já houve outras ocasiões em que me passaram um ano à frente, pois eu já sabia os conteúdos que estavam sendo ministrados.

    – Eu compreendo, porém agora o mais importante será conseguir fazer com que o juiz seja razoável e tenha sensibilidade suficiente para perceber que você se trata de uma pessoa com desempenho acadêmico acima da média.

    – O fato de eu ter ficado em primeiro lugar em uma disputa com mais de cem candidatos por vaga mostra que estou preparada.

    – Eu sei disso, mas você tem apenas quatorze anos.

    – Isso é verdade, porém é importante analisar que, nem sempre, as pessoas de mais idade são mais capazes.

    – Maria, isso é algo que irei tentar mostrar ao juiz. Farei tudo que for necessário para obter êxito. Eu penso que perder uma oportunidade como essa seria o mesmo que ganhar na loteria e jogar o bilhete fora.

    – Não concordo muito  com o Senhor, eu apenas penso que esse é um direito meu. Já encontrei fundamentos na Constituição brasileira, que me permitem esse ingresso, o MEC prevê situações similares, e o Ministério Público garante a quem tem capacidade o uso dessas atribuições.

    – Espere aí, menina, você tem certeza de que quer fazer Medicina? Aparentemente Direito está bem mais próximo de sua realidade.

    – Acho que não! Quero mesmo é fazer parte do grupo de pessoas que possuem a habilidade de salvar vidas. Acredito que foi para isso que vim a este mundo.

    A empresa se encarregou das custas judiciais e a liminar foi prontamente protocolada. Na favela, Maria se transformou no assunto do momento, vários tipos de comentários davam destaque à inteligência da menina. O fato foi noticiado em alguns jornais de grande circulação na região.

    No barraco coberto de lona preta, a esperança passou a fazer parte do tempo daquela humilde família. O início de uma nova jornada para garota possuidora de grandes talentos aumentava as expectativas de todos.

    Os amigos se aproximavam com a finalidade de oferecer o apoio moral necessário para continuidade daquele projeto. Por outro lado, havia também pessoas que expressavam opiniões contrárias ao início de uma vida de conquistas, diziam que Maria se tratava apenas de uma criança inocente  e que, caso obtivesse êxito em sua pretensão, seria o mesmo que atirar carne fresca aos lobos, que sua família havia se tornado pretensiosa  diante de uma oportunidade casual.

    Outros afirmavam que o mundo universitário não passa de uma entrada para o vício e o começo da perdição, e que, ao admitir uma pessoa desprovida de experiência de vida, estariam comprometendo uma carreira que, certamente, teria êxito caso tivesse seguido o curso normal que o tempo exige.

    As opiniões de terceiros não foram suficientes para apagar as chamas da prosperidade que haviam nascido na mente daquela humilde família. Tratava-se de mérito adquirido por pura capacidade, e seguir em frente e vir a se formar passou a ser o grande objetivo não só de Maria como também de seus pais.

    A partir daí, a ansiedade tomou conta de suas vidas, e o tempo de espera, uma verdadeira tortura para suas mentes, os segundos viraram horas e as horas dias, o dia parecia não ter fim. A data para o fim do período de matrículas estava se aproximando a uma velocidade sem igual, a incerteza do êxito apagava a chama da vitória, e isso fez com que Maria ficasse acordada a noite toda, seu objetivo estava próximo de ser alcançado e, segundo suas perspectivas, ninguém iria obstruir uma carreira que certamente seria de muito sucesso.

    Ela esperava salvar muitas vidas, ser útil ao próximo, e enxugar as lágrimas de sofrimento que estava acostumada a ver no rosto de pessoas que aguardavam atendimento moroso e ineficiente nos Postos de Saúde Pública.

    O dia nasceu e, com ele, a felicidade estampada no sorriso de Maria. Era visível a segurança que ela possuía. Em sua mente, somente via prosperidade e aquele era o melhor momento de sua vida, ser médica, saindo de uma favela, mostrar ao mundo que, quando uma pessoa quer, ela consegue, mesmo que tenha de superar barreiras intransponíveis.

      Finalmente, havia conseguido atravessar  grandes dificuldades, visto que se formar, daí por diante, seria apenas uma questão de esforço e de tempo. O mais difícil já tinha sido vencido, até mesmo porque tudo somente iria depender de seu próprio querer, e ela estava absolutamente segura de que esse era o grande motivo de sua existência.

    Logo ao entardecer, muito ansiosa, ela se dirigiu a um telefone público existente ali próximo a fim de buscar notícias sobre o que representava o seu futuro.

    – Alô! Dr. Lacerda, aqui é a Maria. Por acaso já tem respostas acerca de minha petição?

    – Maria, até o presente momento o juiz da terceira vara ainda não se pronunciou. Acredito que amanhã devemos obter a resposta.

    – Desculpe-me por incomodar, mas é que amanhã expira a data de matrícula,  e estamos todos muito preocupados com isso.

    – Podem ficar tranquilos, o juiz dando a sentença favorável, a faculdade é obrigada a fazer sua matrícula. Inclusive eu já enviei a eles uma cópia do protocolo de nossa ação.

    – Está bem, doutor! Por favor, tão logo essa sentença saia, não deixe de me informar. Seguramente, essa vai ser mais uma noite que irei ficar sem dormir.

    – Olha, em minha opinião isso não deve ocorrer. Você precisa manter a confiança tanto em Deus, quanto na nossa justiça.

    – Eu confio, doutor, mas é o meu destino que está nas mãos de um homem, o qual não faço a menor ideia de quem seja.

    – Compreendo sua ansiedade, mas volto a dizer, fique tranquila. Enfim, não é todo dia que uma jovem de quatorze anos passa em primeiro lugar em um vestibular disputadíssimo como o de Medicina, e tanto eu, quanto qualquer juiz sabe disso.

    – Obrigada pela força, doutor! Vou tentar controlar minhas emoções e dormir. Afinal, duas noites, acordada realmente é algo que não mereço.

    No dia seguinte, por volta das doze horas, o Dr. Lacerda procurou por Manoel para lhe transmitir o veredito do juiz.

    – Manoel, avise sua filha que, infelizmente, o juiz indeferiu a sentença, mas ela é jovem e haverá outros vestibulares pela frente e, como passou bem colocada desta vez, certamente irá passar novamente.

    – Como assim? Simplesmente disse não ao sonho de minha Maria.

    – Isso mesmo, Manoel. Sua filha é uma criança ainda, e acredito que isso deve ter sido um peso relevante na decisão do juiz.

    – Está bem, mas o que temos que fazer agora?

    – Continuar vivendo. Afinal, isso não é o fim da vida, trata-se apenas de uma etapa que não deu certo, porém há muito proveito para tirar desta situação.

    – Mas como eu dou uma notícia horrorosa desta para minha filha. Todos os seus sonhos estavam depositados na possibilidade que ela teria de cursar Medicina.

    – Preste atenção, Manoel, a vida nem sempre é feita de vitórias. Eu também  acho que a decisão foi injusta, mas neste nosso País, o que normalmente é menos justo é essa tal justiça.

    – Isso vai arrasar a vida da Maria. Será o mesmo que tirar todo estímulo aos seus esforços.

    – Não veja dessa forma, Manoel. Você como pai deve compartilhar da dor dessa perda, mas também tem o dever de ensinar sua filha a aceitar tanto a derrota quanto a vitória. Neste momento, vá a sua casa, transmita a notícia de cabeça erguida, seja amigo, além de pai. Pode ter certeza de que isso ela precisa mais do que ingressar em qualquer faculdade.

    Manoel saiu dali bastante decepcionado e se dirigiu ao seu barraco de lona preta onde morava.  Pelo caminho, dentro de um ônibus completamente lotado, ele não conseguiu conter as lágrimas que enchiam os seus olhos. Buscava em pensamento uma forma de transmitir essa notícia à filha amada. Tinha convicção de que ela iria sofrer. A situação poderia desencadear até mesmo uma depressão, pois os dias que antecederam à decisão do juiz foram de grande euforia e até mesmo de muito orgulho para toda família. Ao desembarcar no ponto de ônibus costumeiro, ele caminhou cabisbaixo e, lentamente, sentia suas pernas tremerem e um verdadeiro nó em sua garganta. Porém, ao aproximar-se do barraco, foi recebido por Maria que de forma segura lhe falou:

    – Pai, infelizmente não foi desta vez que consegui o meu ingresso na universidade.

    – Como assim! De que jeito você descobriu que não deu certo?

    – Simples, pai! Estou acompanhando o andamento do processo pelo computador em uma Lan House.

    – Por que não me disse isso antes? Teria me poupado de um grande estresse.

    – Você nunca demonstrou esse tipo de preocupação, sempre envolvido com seu trabalho. Às vezes, nem mesmo percebe que estou aqui dentro.

    – Me desculpe, filha! Você está certa. Acho que realmente devo enxergar você mais vezes. Vou tirar proveito desta situação e melhorar nossa convivência.

    – Então, comece assistindo ao jornal do meio-dia amanhã.

    – O que tem no jornal? O que isso tem a ver com você?

    – Apenas fui convidada para dar uma entrevista, a menininha que passou no vestibular e foi injustiçada por um ser que se julga superior até mesmo a Deus.

    – Filha, pelo amor que tem a nós, não vá se meter em encrencas! Veja lá o que vai falar, tenho muito medo, pois você não tem papas na língua. Esse povo é poderoso, e não conhecemos a reação deles.

    – O que você acha, pai? Será que pensa que eu estou radiante de felicidade? Você não

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1