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A incrível aventura de um órfão que luta contra seus próprios demônios ao enfrentar de frente as forças do mal regidas por Imaculus, um fugitivo do inferno que corrompe todos seus amigos
final
Thormonn e seus amigos deixaram o orfanato e seguiram para a taverna, de maneira furtiva. Ele engoliu a seco. Era a primeira vez que embarcava nesta jornada secreta.
– O que é preciso para entrar na taverna? – perguntou Thormonn.
– Filiar-se a uma guilda e, claro – Fenrir exibiu um sorriso sarcástico – ser maior de idade. Porém, se conhecer o dono, como eu, você também pode entrar.
– Se for mulher, tem que ser bonita e cheia de curvas – disse Ingrid. Thormonn ouviu Egil ranger os dentes e conteve o riso.
– Ter todos os dentes também ajuda – brincou Hákon.
Fenrir, Ingrid e Hákon eram os mais velhos da turma. Eles ensinavam aos mais novos, Thormonn, Katrina e Egil, a arte de farejar cofres. Nesta noite Thormonn também aprendia a encontrar o caminho para entrar e sair do orfanato, burlando a vigilância incessante da irmã Lavigne.
Mas Thormonn e seus pequenos amigos ainda não podiam entrar na taverna, por sua pouca idade. Então, seus amigos dirigiam-se ao interior do estabelecimento, compravam cervejas pretas e lhes passavam a bebida pela janela. A aventura tinha sabor de proibido.
Thormonn se preparava para apanhar seu primeiro copo de cerveja quando viu um jovem estranho e sedutor se aproximar de seus amigos. Ele parecia não ter qualquer pretensão, mas insistia em pagar rodadas de uma estranha bebida para os órfãos e logo parecia ser velho amigo deles.
Sem saber por que, Thormonn sentiu um arrepio na espinha ao ouvir o nome dele.
Luc Simau.
Ele mais parecia uma aranha a tecer suas teias em volta de Fenrir, Ingrid e Hákon.
O jovem sombrio parecia não se dar conta da presença de Thormonn e de seus amigos mais novos. Enquanto isso, ele prestava atenção em cada palavra de Luc. Até que, de súbito, o estranho convidou seus companheiros para conhecer a mansão dele, em Baldar. Uma onda de náusea o invadiu. Ele não podia permitir que isso acontecesse.
Quando percebeu que Luc estava prestes a levar os três jovens até a carruagem dele, correu até eles e tentou impedi-los.
– Vocês não podem ir – ele abaixou a voz, tentando impedir que Luc ouvisse suas palavras – nem conhecem esse homem, ele pode ser uma força do mal.
– Não se preocupe, sabemos nos cuidar – disse Fenrir, acenando – agora voltem para o orfanato, essas ruas são perigosas para crianças.
Thormonn sentiu seu sangue ferver. Odiava ser tratado como criança. Por outro lado, tinha certeza que havia algo de errado com o tal Luc Simau. Mas, como convencer seus amigos? Katrina e Egil eram novos demais para apoiá-lo.
Ao ver seus companheiros mais velhos entrarem na carruagem, perdeu a esperança de revê-los. Antes do veículo partir, Luc olhou para trás e fulminou Thormonn com um olhar sinistro. Naquele momento, ele soube que conquistara um inimigo feroz.
Os dias se passaram. Como ele previra, os jovens nunca mais retornaram ao orfanato. Houve um alvoroço entre as freiras, mas nem Thormonn nem seus amigos podiam dizer nada. Como explicariam a presença deles na taverna. Além do mais, quem acreditaria neles? Como convenceriam Irmã Lavigne e as outras irmãs de que alguém do porte de Luc Simau sequestrara Hákon, Ingrid e Fenrir?
Com o passar do tempo, as freiras preferiram se convencer de que os amigos de Thormonn simplesmente fugiram. A partir desse momento, Thormonn passou a detestar Luc Simau. Após o incidente na taverna, ele nunca mais voltaria a ser o mesmo. Precisava descobrir o destino de seus amigos e o papel do jovem misterioso nesse desaparecimento. Algo lhe dizia que seus caminhos voltariam a se cruzar.
Irmã Lavigne achou Thormonn numa cesta nas margens do rio. A história sobre a vinda dele virou um mito dentro do orfanato de Menestrel, a criança do rio.
Meses depois um casal distinto, versado no ofício de comerciantes, veio visitar o orfanato, com o intuito de adotar uma criança. Seus nomes eram Suli e Louarn Thour. Irmã Lavigne os apresentou a todos os infantes, um por um. Ao terminar a visita, Suli produziu uma pequena lista de nomes de crianças que mais os interessavam.
***
Thormonn entrou no salão principal do orfanato. O casal comentava com a irmã a respeito do cabelo preto e curto do menino, dos olhos castanhos claros, do olhar penetrante e da postura ereta. Falavam entre si como se Thormonn fosse um bichinho de estimação.
Nas mãos, Thormonn levava uma flauta de madeira. Sem dizer nada, parou perto da lareira e tocou a flauta com habilidade.
Tocando uma melodia agradável Thormonn aparentava esquecer do sumiço dos jovens Fenrir, Hákon, e Ingrid. Parecia, até mesmo, esquececer de quando Egil perdeu o braço na Ilha de Makakê.
O senhor Thour aproximou-se da irmã Lavigne: – foi você que deu essa flauta a ele?
– Não, ele mesmo a fez, é um garoto muito esperto.
Dito isso, o casal pareceu apreciá-lo com outros olhos, com carinho.
– Você se importa se falarmos com ele? – Disse Suli.
– Não, vá em frente, mas tenho que avisá-los, ele esteve envolvido em travessuras graves – disse a freira.
– Que tipo de travessura? – perguntou o senhor Thour falando com a freira, o casal não conseguia conceber que tipo de problema uma criança como aquela poderia fazer para merecer tal advertência.
– Ouvi dizer que ele construiu um barco quase sozinho, mas Katrina e Egil também o ajudaram, eu os apresentei a vocês, não foi? – Disse a irmã.
– Katrina é aquela moreninha bonita e Egil o pobre garoto de braço amputado? – Comentou Suli Thour.
– Sim, isso mesmo. De qualquer forma, os três foram à ilha de Makakê e passaram a noite lá, sem a minha permissão. Foi quando uma besta selvagem atacou o pobre Egil; foi assim que ele perdeu seu braço esquerdo.
– Isso é mesmo desobediência – disse Louarn de maneira séria, – mas você disse que ele construiu um barco também – mudou de assunto.
– Sim, nós o confiscamos – disse a freira que sorriu por ver que o casal não se impressionou com a travessura de Thormonn, pois era obrigação dela informar aos futuros pais sobre características boas e ruins dos órfãos, não iria iludir ninguém.
– Eu posso mostrar o barco a vocês enquanto conversam com a criança, se assim quiserem.
– Claro – respondeu Suli, – seria um prazer.
Irmã Lavigne segurou Thormonn pelo braço e o apresentou ao casal, uma apresentação curta e casual.
– Eu ouvi dizer que constrói coisas de madeira, como aprendeu tal habilidade? – perguntou a senhora Thour.
– É verdade – o garoto balançou a cabeça e simplesmente respondeu, – aprendi o ofício com Senhor Hinderman, o carpinteiro.
– Ah, então você teve ajuda – disse o senhor Thour com compreensão. Quando a criança confirmou, o adulto perguntou: – por quanto tempo você foi aprendiz de carpintaria?
– Por mais ou menos duas semanas – Thormonn acenou a cabeça e sorriu timidamente sentindo orgulho. Enquanto isso, a freira os guiava até o barco. Em pouco tempo entraram na área restrita do pátio, onde as irmãs acorrentaram a embarcação a uma árvore.
– Então, esse é o barco – disse Louarn Thour. Examinou de perto o bote e aparentou estar impressionado, – nada mal, eu digo que tem um futuro; eu trabalho com peças de madeira, o seu trabalho é impressionante para um garoto.
Suli Thour estava comovida com as características faciais de Thormonn.
– De quem ele me lembra? Seus olhos penetrantes me são familiares – perguntou a si mesma em voz alta. Depois de observar o rosto do garoto ela falou para dentro – Camulus – e tinha razão, a semelhança era forte. Então falou desse detalhe a seu marido, na frente de todos os outros.
Suli deixou a lista cair, as pupilas dela se dilataram quando disse – gosto dele, Lou.
Conhecendo a sua esposa, o senhor Louarn percebeu primeiro que ela preferia o menino da flauta acima de todos os outros do orfanato, pelo seu olhar, pelo seu riso, todos perceberam isso até Thormonn.
Sem dúvida esse garoto parecia com Camulus, Lou anotou no seu diário que adotando esse garoto daria um pouco de corda para a paixão escondida de Suli, pois cada vez que olhasse para o menino ela veria Camulus, Thormonn leu de relance essas frases no diário quando Lou o deixou aberto numa mesa e não soube o que pensar sobre isso.
Lou tirou o diário da mesa botou no seu bolso, tinha pouco tempo para fazer a escolha. Tentando alegrar a sua esposa, acima de tudo, concordou e assumiu o risco de desgastar a relação entre eles.
– Certo eu digo que ficamos com ele – disse o homem.
Thormonn ficou feliz por ter uma família, como era o sonho de todo órfão.
"Coitados da Katrina e Egil, estão sem pais", pensou ele num momento de angustia.
Teve pouco tempo para dizer adeus aos seus melhores amigos. Os dois aparentavam estar estranhamente tímidos, depois de ouvir as notícias da adoção.
Thormonn e seus pais viajaram para Baldar em uma carruagem. Da traseira, olhava com pesar para cidade de Menestrel, a única cidade que ele sempre conheceu. Via o rio Feral, a longa praia, o porto, a igreja, todas as residências em volta do rio, tudo que conhecia ficando para trás. Thormonn perguntou a seus pais – porque foram até um orfanato em Menestrel para adotar uma criança?
– Em Baldar onde você vai morar há um orfanato, mas a lista de espera para casais interessados em adotar era tão longa que desencorajava e ainda a nobreza tem preferência. Nós, os Thours, mesmo sendo ricos, não temos sangue nobre – falou o pai.
Dois dias depois, a carruagem entrava em Baldar. Os novos pais iam mostrando a Thormonn uma grande catedral branca com sua torre alta onde um sino batia, as muitas mansões e poucos castelos da nobreza, e o castelo principal do senhor da terra, Vermundr, o nublado.
Depois de cruzar o centro da cidade, Thormonn chegou a sua nova casa. Era branca e alta; uma grade de ferro murava a propriedade, calçadas de pedra com palmeiras em ambos os lados. Uma varanda grande, grama no pátio frontal, arcos de pedra decorando a entrada para a casa. A porta da entrada era dupla e elegante, o teto alto, as paredes externas revestidas de pedras, as paredes internas compostas de painéis de madeira grossa e as janelas retangulares ornamentadas com estátuas, cada uma posicionada no centro dos quartos. Lá fora, um aqueduto trazia água limpa e fresca, o estábulo para cavalos ficava no lado direito do pátio, depósito e armazém no lado esquerdo, e um jardim de hortaliças e ervas medicinais no quintal. Thormonn observou tudo com olhar atento e curioso. Os pais o acomodaram num quarto confortável e espaçoso.
Seus novos pais eram donos de uma loja no centro da cidade, Mercado dos Thours, uma mistura de antiguidades, móveis e armas à venda. Viam-se várias coleções de itens distribuídos de acordo com tipo e valor.
Na seção de pergaminhos, Thormonn teve interesse por vários exemplares.
Foi de tirar o fôlego quando ele entrou na loja pela primeira vez, examinou cada item cuidadosamente e demorou na sessão de livros e armas.
– Senhor, existe algum item mágico na sua loja?
Senhor Thour ficou pensativo e depois respondeu – itens verdadeiramente mágicos são difíceis de adquirir. Uma vez, muito tempo atrás, adquiri um cajado extraordinário de prata conhecido como Divina Feição, pois tinha a cara de um anjo no topo. Vendi o cajado a um homem poderoso, o conde Nevrast de Cicipangle, esse único item nos tornou ricos.
– Mas o que o cajado fazia de mágico? – Perguntou Thormonn, curioso.
– Sabemos há tempo que o portador do cajado pode invocar um vento tão forte capaz de carregar os animais mais pesados e as maiores construções.
– Mas por que você não guardou o cajado? O senhor seria invencível com essa arma – disse Thormonn ingenuamente, como a criança que era. Seu pai simplesmente sorriu.
– Não é tão simples assim, filho.
– Para libertar o poder do cajado, tem que matar uma gárgula anciã das masmorras de Tenebra e banhar o cajado no sangue do monstro, dessa forma o bastão vai se carregar com um número finito de ventos a ser invocados.
Meses mais tarde, depois de escapar de casa, Thormonn foi com o tio a uma aventura em territórios desconhecidos onde conheceu vários bardos. Um deles levou para casa um texto que chamou a atenção dele. Durante o período de punição por participar dessa viagem, os pais o proibiram de visitar seus amigos. Ele tinha que se empenhar nas tarefas, no mercado dos Thour. O diário de Punka, o abjurante, foi a única coisa que impediu que o menino caísse no tédio.
Thormonn e o bando de bardos encontraram o livro dentro das ruínas de uma igreja e só esse poderia esclarecer questões sobre o estilo de vida da antiga comunidade migratória. Havia ainda a chance de ler outros livros, porém, todos os outros eram cópias; o único original era esse livro. Thormonn tinha que decidir qual livro leria primeiro. Depois de pensar no assunto, fez a escolha e começou a ler o diário de Punka. Como de costume, leria o livro durante a noite, no seu quarto, onde várias lâmpadas de óleo iluminavam o ambiente.
O cardeal, a autoridade religiosa máxima do povoado da Várzea bairro tradicional de Baldar, me incumbiu de escrever uma descrição detalhada de eventos que influenciam nossa comunidade e minhas percepções e ideias, e fiz disto um objetivo. Depois de provar meu valor ao alto monastério de Várzea, recebi o titulo de escrivão oficial do clero.
A atmosfera em torno da cidade era de coexistência pacífica. Sra. Kelda de Várzea ainda promove encontros na mansão rosa sobre o papel das matriarcas na família. A construção de várias estradas, conectando cidades adjacentes em todos os domínios da humanidade, facilitaram o acesso de imigrantes à vila. Porém, não me agradou o caráter geral desses estranhos. Eles aparentavam ser egoístas e superficiais, e ainda não frequentavam os cultos.
Os conselheiros determinaram que uma época de mudanças estava por vir. Ancião Ósvaldr diz que um novo poder irá emergir e sua influência perniciosa deve corromper toda a humanidade. Percebi que este tipo de premonição drástica era comum nesses últimos anos.
Uma companhia de extravagantes fez residência no velho riacho. Aldeões construíram três grandes mansões luxuosas.
Uma cultura individualista sobrepujou a tradição dos velhos tempos. Isso foi difícil de aceitar; eu me apavorei só de imaginar um futuro sem tradição. Meu coração acelerou e suei frio. Essas mudanças ocorreram em poucas estações, depois que Imaculus fixou-se aqui. Esse fato levou familiares ao desespero, pois perderam o controle sobre seus jovens.
Depois de entrevistar trabalhadores de alta importância, sugeri que Imaculus ampliou sua empresa a custa da exploração dos trabalhadores. Sobre isto, eles não se manifestaram.
Temo dizer que o poder controlado por esse senhor Imaculus é superior ao dos reis. Os encontros tradicionais da matriarca Senhora Kelda perderam a sua importância.
Meus amigos estavam agora sob a influência do Senhor Imaculus, incluindo Tobar, Stefan, Nadya e Mirela. Eles se encontraram nas mansões do riacho regularmente e se tornaram completamente independente de suas famílias nestes últimos dias, o que não é necessariamente uma coisa boa. Eu não entendi como meus amigos puderam deixar para trás a família para morar nessa mansão do riacho.
Os cultos tradicionais estavam cada vez mais vazios, somente os velhos e as crianças apareceram por lá neste último final de semana.
Depois de juntar minhas forças decidi espionar esses encontros secretos
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