Tem certeza?
This action might not be possible to undo. Are you sure you want to continue?
A história do AVC sofrido pelo autor em 30 de março de 2011.
Arlindo acabou por sofrer as consequências da irresponsabilidade com a sua saúde e teve a sua vida drasticamente alterada, com início de uma grande batalha contra as limitações que passaram a ditar a rotina em sua vida, com a reconquista de detalhes normais a qualquer pessoa, como falar, andar e trabalhar novamente. Se buscou, principalmente, dar crucial e rara ajuda no trato com os pacientes do AVC e demonstrar toda a série de providências a serem tomadas para melhorar, e muito, o atendimento dos pacientes do AVC, na ótica importantíssima de quem sofreu um AVC Hemorrágico grave, mas conseguiu retornar para lutar pela melhor qualidade de vida dos seus iguais e advertir quem se expõe, gratuitamente, à esse terrível mal.
Júnior
Meu nome é Arlindo Simões Grazina Júnior e, no dia de hoje, em que principio a escrever esse livro, eu tenho cinquenta anos de idade, completados em agosto de 2.013 e sou casado com uma mulher maravilhosa, com quem gerei três filhos, a nossa riqueza comum.
Sou natural da cidade de Juquiá - SP, que faz parte do Vale do Ribeira, uma região que se estende por todo o litoral sul do Estado de São Paulo, uma continuidade da Baixada Santista.
Sou nascido no ano de 1.963 e tive uma infância maravilhosa na minha cidade natal, com atividades típicas de uma criança que sempre gozou de um ambiente puro e saudável para seu crescimento, sendo certo que minha mente é recheada de lembranças de uma infância pontilhada por brincadeiras de "esconde-esconde, mocinho e bandido, pega - pega, queimada, amarelinha, tiro de estilingue (feito com forquilha de goiabeira e borracha viva
), bolinhas de gude, pião, empinar pipas, espingardas de pressão, revólveres com espoletas de fita ou de disco plástico (tiro assustador), expedições para a coleta de cana de açúcar, espigas de milho, goiabas, bananas, mexericas, poncans e, para dentro da Mata Atlântica, também buscávamos os cachos da deliciosa brejaúva
, que tantos anos faz que não provo mais (última vez foi em 1980), passeios de bicicleta por todo o município e muito jogo de bola (só isso, porque eu nunca joguei nada, ha, ha, ha…)", além de várias outras brincadeiras e enfim, eu tive uma infância inesquecível, cujas lembranças levarei comigo até o final dos meus dias.
Morei em várias cidades do Estado de São Paulo e foi assim que do meu nascimento até completar catorze anos e onze meses de vida eu morei em Juquiá - SP, quando mudamos para Santo Anastácio - SP, às margens da Rodovia Raposo Tavares, localizada à quarenta e oito quilômetros depois de Presidente Prudente e à setenta e três quilômetros antes de Presidente Epitácio, divisa com o Estado de Mato Grosso do Sul através do Rio Paraná.
Apenas nove meses depois, eu já estava de volta ao Vale do Ribeira para fixar residência em Registro, a maior cidade da nossa região, onde residi de maio de 1.979 à janeiro de 1.980, quando então, voltamos à residir em Juquiá até fevereiro de 1.981, data em que mudamos para Sorocaba - SP, onde fixamos definitivamente a residência e onde conheci a minha esposa, namoramos, noivamos e nos casamos no ano de 1.989, quando eu contava 26 anos de idade e ela, 24.
Nossa vida de casados seguiu feliz, dentro de um clima de paz e respeito entre o casal, nunca ocorrendo uma discussão mais séria entre nós, pelo contrário, as nossas poucas ocasiões de conflitos sempre foram resolvidas com facilidade, em nome do bom relacionamento que reina entre nós.
Profissionalmente, desde 1.985 passei a trabalhar como cartorário, onde permaneci até o ano de 1.989, com uma passagem de dois anos pelo mundo da publicidade e de onde me retirei passar exercer a advocacia desde 1.992 e assim, entre a atividade cartorária e a advocacia, segui na vida profissional até os dias de hoje, não sem antes experimentar, no ano de 2.011, a experiência que viria impor novos rumos à minha vida, tamanha a ferocidade das mudanças ocorridas.
Tudo o que desejo com esse livro, é dar um depoimento de um sequelado por AVCH (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico), pois ao menos por ocasião dessa publicação, não existiam muitos desses depoimentos, pelo contrário, havia isto sim um grande vazio em informações dessa natureza, seja porque muitos dos sequelados não tinham condições mentais para tal ou ficavam sem condições de registrar coisa alguma em razão das sequelas de maior ou menor grau, fossem elas de fundo mais voltado para o aspecto físico ou de repercussão neurológica.
Talvez muitos de vocês questionem o fato de que não estou me valendo da assistência profissional de um Médico Neurologista ou um Especialista no AVC, mas minha intenção é justamente essa, ou seja, inserir nesse trabalho os registros de um sequelado sobrevivente do AVCH da forma mais natural e realista possível, o que somente se alcança com a narração despojada de conceitos médico/científicos, muitas vezes distantes do anseio do leitor comum de simplesmente ler sobre experiências que possam trazer um pouco de luz nas trevas da ignorância e desinformação sobre esse fato que passa a ditar as regras da sua nova vida, agora submetida aos efeitos de um terrível acontecimento que as convenções médicas designaram por "Acidente Vascular Cerebral Isquêmico ou Hemorrágico", respectivamente AVCI ou AVCH.
Fique registrado que procuro demonstrar a quem possa interessar, sejam os próprios pacientes, zeladores, colaboradores e demais interessados em assuntos referentes a esse quadro, como foi a ocorrência do AVC em minha vida e todo o histórico de acontecimentos a partir disso, desde o primeiro minuto do dia de ocorrência do AVC até o dia de conclusão da narrativa fielmente transcrita no presente livro, já na fase de recuperação, avançada cerca de três anos da ocorrência do AVC.
Tenho consciência de que muitas pessoas que lerão esse livro não identificarão muita similaridade com a sua rotina de vida, especialmente depois de algum tempo de ocorrência do AVC, pois existem centenas de sequelas diferentes que variam demasiadamente em razão de vários fatores muito diferenciados de um paciente para outro, considerando, entre outras coisas, dados como a idade, localização da lesão e sua extensão e assim, um deslocamento de meio milímetro pode significar a morte ou paralisia definitiva ou retorno da locomoção em algumas semanas, meses ou anos; pode sugerir dificuldades na visão e fala preservada ou o contrário; pode sugerir uma demência acentuada ou não e enfim, as sequelas variam muitíssimo de um paciente para outro, não existindo um padrão fixo para aferição das sequelas desse acontecimento traumático, sendo um absurdo frases como: Nossa, o Fulano de Tal também teve um AVC e já está normal, mas o Ciclano de Tal não melhora nunca e não sai do coma. Fulano de Tal é mais forte mesmo!
O que as pessoas que assim falam não entendem e jamais entenderão é que, no primeiro indivíduo, para sua felicidade, não se atingiu setores cerebrais mais nobres que cuidam de atividades essenciais como as habilidades motoras, linguísticas, visuais, auditivas e quaisquer outras funções de ordem primária ou essencial num ser vivo, em vários casos ocorrendo até mesmo a coma definitiva ou a morte. No segundo caso, infelizmente, o indivíduo foi alvejado pelo AVC em setores neurais de importância drástica, e a melhora nesses casos, quando podem ocorrer, demandam um trabalho muito mais extenuante e demorado para a obtenção de resultados, que por várias vezes são pouco significativos.
Tentando elucidar ao máximo os "cabeças duras" de plantão, tento explicar que ninguém deseja permanecer paralisado total ou parcialmente, eu lhes asseguro, se admitindo a exceção apenas naqueles casos onde existe um grande prejuízo neural, o que impede as condições psicológicas/psiquiátricas mínimas para buscar a melhora e, assim, num setor cerebral do hemisfério esquerdo hipoteticamente identificado como "Setor A-1" um determinado paciente pode apresentar apenas uma pequena supressão dos movimentos da perna direita, praticamente sanada em 6 ou 10 semanas, após o quê, retorna à rotina de vida normal; entretanto, um outro paciente sofreu uma lesão de idêntica conformação e intensidade, rigorosamente situada no mesmo hemisfério esquerdo e designado como sendo o mesmo "Setor A-1", entretanto, nesse caso, embora idêntica à lesão anterior, houve uma total supressão dos movimentos da perna e braço da direita, perda da sensibilidade direita (hemiplegia do lado direito) e ainda houve repercussão na capacidade auditiva no ouvido direito (redução de 60%) e redução da fala, o que implicará num trabalho de recuperação (fisioterapia, T.O., hidro, pilates e outros) muito mais prolongado (até mesmo por anos) e muitas vezes apenas com pequenas ou discretas melhorias.
Muitas das pessoas que não vivem o drama representado por um AVC não conseguem entender essa diferenciação, especialmente aquelas mais apegadas ao discurso "fulano de tal é mais valente mesmo", se recusando ou não conseguindo entender que, cada um dos derrames
, configuram determinadas consequências, na maioria das vezes totalmente diferentes de outros no mesmo setor, como já dito anteriormente, pois o fato do setor ser o mesmo, NÃO significa que as lesões serão idênticas.
Isso representa algo muito decepcionante para mim, pois muitas pessoas consideram a minha situação física como sendo originada na minha "impotência e fraqueza", pois segundo o entendimento desses indivíduos, eu não teria condições, dentro da minha miserável capacidade de luta, de oferecer melhoras que os impressionassem melhor. Já deixei de me importar com isso, pois apenas as pessoas que nunca deixaram de me acompanhar aproximadamente é que tem condições de avaliar a minha sobrevivência e enorme esforço de recuperação, à despeito das sequelas de grande porte.
Outra situação onde se vislumbra uma gigantesca dificuldade das pessoas entenderem as consequências ou sequelas de um AVC, é o fato do AVC ser do tipo hemorrágico ou isquêmico, sendo muito difícil explicar para muitos que, no caso do AVC hemorrágico, como o meu próprio caso, ocorre uma ruptura dos vasos sanguíneos cerebrais, portanto, com muito mais intensidade e gravidade ocorre a perda de tecidos cerebrais e preciosos neurônios, pois a irrigação sanguínea nas áreas afetadas fica reduzida à nada ou quase nada, ou seja, o cérebro nunca mais poderá contar com os tecidos e impulsos nervosos daqueles setores atingidos, restando apenas aguardar que um dia o cérebro consiga habilitar outras regiões para realizar as funções agora prejudicadas, mas aquelas
pessoas muitas vezes imaginam que é só uma questão de "querer é poder" e pronto. Simples assim! VOCÊ SÓ ESTÁ ALEIJADO POR QUÊ QUER!
Um fato que tenho por inquestionável, entretanto, é que está mais do que provado que a rapidez no socorro prestado é essencial para a melhor recuperação possível do paciente, pois é justamente a contínua perda de milhões de neurônios e conexões que vem trazer um grande prejuízo na capacidade mental/cerebral do indivíduo, ou seja, quanto mais tempo se demorar para socorrer, tanto mais drásticos os efeitos do AVC, sendo o diferencial, com certeza, do fato deste que vos escreve estar digitando esse texto com exatidão ou estar condenado à "vegetar" numa cama ou somente se expressando à um nível básico.
Eu não tenho dúvidas de que foi somente em razão do pronto socorro recebido, que estou em condições de estar escrevendo esse livro para que todos vocês, queridos leitores, possam partilhar desse interessante histórico, caso contrário, não sei dizer à vocês se o meu cérebro teria condições de suportar um ataque daquela magnitude e ainda estar aqui, digitando apenas com a mão esquerda, é verdade, mas exprimindo ainda os mesmos pensamentos ordenados e disciplinados que a minha mente construiu. Devo isso aos profissionais maravilhosos que me socorreram no hospital nos primeiros momentos do AVC, pois a hemorragia foi devastadora, mas estou aqui para escrever sobre essa experiência para vocês.
Fico muito triste, registre-se, que naqueles terríveis tempos que me remetem à lembrança
This action might not be possible to undo. Are you sure you want to continue?