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Elogio do carvão
Elogio do carvão
Elogio do carvão
Ebook83 pages18 minutes

Elogio do carvão

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About this ebook

Este livro traz poemas que revelam uma marca individual e sustentam uma assinatura, num trato criativo das influências do autor. A poesia é vista não só como atividade intelectual, mas como forma de expressão lírica. Poeta, contista, crítico e ensaísta, Marcus Vinicius Quiroga é membro da Academia Carioca de Letras e do Pen Clube do Brasil. Vencedor do I Prêmio Cepe Nacional de Literatura, lançado em 2015.
LanguagePortuguês
PublisherCepe editora
Release dateMay 11, 2017
ISBN9788578584924
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    Elogio do carvão - Marcus Vinicius Quiroga

    Meninos carvoeiros

    Os meninos carvoeiros

    Passam a caminho da cidade.

    — Eh, carvoero!

    E vão tocando os animais com um relho enorme.

    Os burros são magrinhos e velhos.

    Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.

    A aniagem é toda remendada.

    Os carvões caem.

    (Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe,

    [dobrando-se com um gemido)

    — Eh, carvoero!

    Só mesmo estas crianças raquíticas

    Vão bem com estes burrinhos descadeirados.

    A madrugada ingênua parece feita para eles...

    Pequenina, ingênua miséria!

    Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

    — Eh, carvoero!

    Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,

    Encarapitados nas alimárias,

    Apostando corrida.

    Dançando, bamboleando nas cangalhas como

    [espantalhos desamparados!

    Manuel Bandeira

    p5.jpg

    I

    Sempre se faz uma escrita

    com diferente matéria,

    desde que seja palavra

    e não apenas ideia.

    Inesperada, nos salta

    sujando o branco da página

    e talvez não tenha lógica,

    nem obedeça à gramática.

    Mas eis que enfim se apresenta

    uma palavra encardida,

    toda vocábulo-nódoa,

    a modo de ser poesia.

    Já não nos diz do intangível,

    nem dos fantasmas internos;

    tem agora outro feitio

    na forma crua dos versos.

    II

    É arranhão pelas folhas

    que aos poucos faz tantas cascas

    e cicatriza os dizeres

    na superfície das máscaras.

    É risco que se acumula

    pelo deserto das linhas,

    e, similar a um rascunho,

    mostra as rasuras da língua.

    Cabem sentidos diversos

    no que a matéria carvão

    desenha sobre papéis,

    com peso de grafia e som.

    De tão diversos,

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