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Lá em casa a gente conversa! conjugalidade e masculinidade dos maridos das travestis
Lá em casa a gente conversa! conjugalidade e masculinidade dos maridos das travestis
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Lá em casa a gente conversa! conjugalidade e masculinidade dos maridos das travestis

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Conhecer a conjugalidade das travestis e dos seus maridos, antes de tudo, é ampliar os horizontes para a diversidade. A aproximação com essa forma de união pouco conhecida me permitiu conhecer sujeitos que, apesar de marginalizados, excluídos dos contextos sociais ditos "normais", não abandonam seu desejo de ter um relacionamento afetivo estável e duradouro.
As dificuldades que enfrentamos para manter nossos relacionamentos poderão ser reconhecidas através dessa forma de união ainda enigmática para a grande maioria da população e até mesmo dos bancos da academia.
Almejo que a leitura deste livro diminua o preconceito, as "fobias" relacionadas aquelas que têm coragem de dizer "sim" aos seus desejos.
LanguagePortuguês
Release dateJan 1, 2015
ISBN9788581927107
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    Lá em casa a gente conversa! conjugalidade e masculinidade dos maridos das travestis - Magnor Ido Müller

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2015 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS:

    DIVERSIDADE DE GÊNERO, SEXUAL, ÉTNICO-RACIAL E INCLUSÃO SOCIAL

    Para Gilson dos Santos;

    À Professora Guacira Lopes Louro.

    Para todos que têm coragem de dizer sim!

    Uns

    (Caetano Veloso)

    Uns vão

    Uns tão

    Uns são

    Uns dão

    Uns não

    Uns hão de

    Uns pés

    Uns mãos

    Uns cabeça

    Uns só coração

    Uns amam

    Uns andam

    Uns avançam

    Uns também

    Uns cem

    Uns sem

    Uns vêm

    Uns têm

    Uns nada têm

    Uns mal

    Uns bem

    Uns nada além

    Nunca estão todos

    Uns bichos

    Uns deuses

    Uns azuis

    Uns quase iguais

    Uns menos

    Uns mais

    Uns médios

    Uns por demais

    Uns masculinos

    Uns femininos

    Uns assim

    Uns meus

    Uns teus

    Uns ateus

    Uns filhos de Deus

    Uns dizem fim

    Uns dizem sim

    E não há outros

    APRESENTAÇÃO

    Apresentar o próprio trabalho é difícil! Por este motivo não falarei dele, mas do meu objetivo em torná-lo público.

    Acredito que teremos uma sociedade mais justa, menos violenta e igualitária na medida em que aprendermos a conviver com a diversidade.

    As travestis me ensinaram que respeitar está desvinculado de entender!

    De agora em diante as páginas têm apenas um objetivo: permitir aos leitores uma breve aproximação de uma forma pouco conhecida de conjugalidade, mas que está cimentada na mesma base que qualquer relação a dois, ou seja: ser feliz ao lado de alguém!

    E quero muito, prezado leitor, que a leitura seja prazerosa ao mesmo tempo que elucidativa no que tange à diversidade!

    O autor

    PREFÁCIO

    Lá em casa, a gente conversa...

    A primeira frase que ouvi relacionada à masculinidade foi proferida por um entrevistado muito particular: um profissional do sexo. Das páginas daquele texto acadêmico veio à inesperada afirmação. A surpresa de ouvir do sujeito da pesquisa aquela frase, me impactou. Mais ainda, saber que se pesquisava no intrincado universo dos estudos acadêmicos essas coisas do sexo e do desejo. Impensável, para mim, até aquele momento. Como se sabedoria significasse outra coisa além de entender a verdadeira natureza da nossa existência...

    Duas décadas depois me deparo, já com alguns fios grisalhos, com a instigante pesquisa do amigo Magnor Muller. Uma etnografia construída entre os anos de 2009 e 2011, iluminando, como hábil pesquisador munido de sentido ético, qual conjugalidade pode ser essa – entre as travestis e seus maridos? Que aliança é essa? Que masculinidade e sociabilidade entram em cena?

    Durante dois anos o autor conviveu com três casais das chamadas classes populares. Magnor nos acomoda (ou desacomoda?) no sofá mais íntimo de suas entrevistadas e mantém com elas um diálogo revelador. Seria um constrangimento chamá-las de informantes. Para sua descrição densa o autor bebe cerveja com elas, e dialoga sobre tudo. Algo muito distinto de uma entrevista. Observa, participa, escreve diários de campo, numa relação de aproximação vívida desse convívio conjugal: a rotina dos afazeres domésticos, da separação das tarefas laborais nesse cotidiano. E não é só isso o que se vê. Também há a compaixão, o afeto e as diversas possibilidades do amar. Não faltam o ciúme e o arrebatamento sexual.

    Um aspecto que, de forma recorrente, o autor nos apresenta é o caráter de construção subjacente aos conceitos da pesquisa. É uma construção a masculinidade desses maridos. É uma construção essa relação de conjugalidade. É também construção a produção de gêneros – o masculino, o feminino, o neutro. É toda feita a heteronormatividade. Tão montada como uma travesti com seus acessórios e seu corpo voluptuoso. Um dispositivo. Certamente são construídos muitos dos modelos que norteiam nossa visão sobre as coisas, os sentimentos, as pessoas. O corpo das travestis é uma linguagem, salienta o autor.

    Ora sublime, ora abjeta essa parte obscura de nós mesmos, como nomeia a historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco vai se revelando no tom confessional do início do texto. A invisibilização das existências, a transfobia e o sentimento de exclusão emergem na descrição da forma como são tratadas no Sistema Único de Saúde. Léguas de distância para uma cidadania plena.

    As descrições do autor nos permitem visualizar teias de significados muito particulares. Cada detalhe da casa – um móvel ou a maneira como é arrumado – não passa desapercebido por Magnor, tampouco a relação com os vizinhos, e com outros habitantes do território. As representações, os lugares e as posições assumidos por cada um dos integrantes do casal em determinada situação, o sentido de cuidado de um pelo outro... Tudo é profundamente revelador dessa conjugalidade. São categorias culturais e como tal, nesse estudo, são produzidas, percebidas e interpretadas com o esforço intelectual do autor.

    A categoria marido vai assumindo, ao longo do texto, o sentido de uma performance. O aporte dos Estudos Culturais e da teoria queer foi imprescindível para dar consistência à pesquisa. São essas referências teóricas que irão perceber a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero como resultado de uma construção social. Desempenho de atores sociais. Assim sendo, não existem papéis sexuais essenciais – macho e fêmea – biologicamente inscritos na natureza humana, mas sim formas socialmente variáveis de desempenhar um ou diversos e distintos papéis nessa relação.

    A heteronormatividade revela as expectativas, demandas e restrições produzidas quando a heterossexualidade é tomada como norma de padronização de comportamentos dentro de uma sociedade. Como uma região moral. A proximidade do pesquisador, entretanto, não turva sua visão para o sentido de heteronormatividade que preside boa parte das práticas desses casais.

    No momento que uma travesti decide estabelecer um relacionamento conjugal com um homem, muito se imaginaria que essa relação romperia com todos os padrões hegemônicos que pautam o contrato entre homens e mulheres. Longe disso. Magnor mostra que, ao contrário do que supõe o senso comum essa união não será marcada por aquilo que chamaríamos de transgressões. Para nossa surpresa, ali o autor identifica marcas heteronormativas bem conhecidas: o ciúme, o ideal do amor romântico, a expectativa de que o homem seja o provedor do lar, para ficar nestas. Há um ditado chinês que afirma que o lugar mais sombrio é sempre em baixo da lâmpada.

    Mas sinto que já estou entregando, de forma prematura, os resultados da pesquisa. Não convém. O bom é acompanhar a jornada do estudo e ir conhecendo essas pessoas. Nem que seja para certificar-se de quão pouco conhecemos o outro. E menos ainda suas formas de aproximação e vínculo. Muito pouco conhecemos do que nos é desprezível. Quase nada, sobre nossos preconceitos e estereótipos.

    Ah já ia esquecendo. A frase que me surpreendeu, dita pelo tal garoto de programa e lida numa dissertação acadêmica era:

    Eu sou macho até dando o...

    Boa leitura.

    Sílvio Capaverde

    Porto Alegre, setembro de 2014.

    Sumário

    Capa

    Créditos

    Folha de Rosto

    2 Uns Masculinos. Uns Femininos. Uns Assim...

    2.1 Uns avançam

    2.2 Uns Nada Têm

    2.3 Uns Sem

    2.3.1 Magda e Pedro

    2.3.2 Sibele e Gustavo

    2.3.3 Franciele e Jonatan

    2.4 uns assim

    3 Uns Dizem Sim

    4 Uns Masculinos

    5 Uns Quase Iguais

    6 "Uns Dizem Fim

    Referências

    INTRODUÇÃO

    Esta obra é o resultado da minha dissertação de mestrado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa em Educação, Sexualidade e Relações de Gênero, com temática em Masculinidade, Gênero e Sexualidade entre 2009 e 2011.

    A partir de conversas com pessoas que se interessam pelo tema da educação, da sexualidade, das relações de gênero e masculinidades surgiu o desejo de transformá-la em livro e compartilhar minha experiência junto aos três casais participantes do estudo e que viviam (na época) uma forma de aliança pouco analisada no âmbito acadêmico.

    Não obstante a relevância dos estudos sobre as travestis, (Benedeti, 2005; Silva, 2007; Kulick, 2008, Pelúcio, 2009) essa investigação dirigiu seu olhar primordial para este personagem ainda pouco conhecido: o marido ¹ da travesti.

    O eixo central deste livro é demonstrar como se constroem os laços conjugais entre a travesti e seu marido. Compreender como estão atravessadas questões pertinentes a essa forma de união, tais como a produção da masculinidade desses homens e as formas de sociabilidade vivida pelos pares.

    Pesquisas precedentes (MULLER 2006 e 2009) permitiram construir uma relação de aproximação e intimidade com as travestis, o que viabilizou a realização do presente estudo acerca desta forma particular de conjugalidade. Sublinho que a intimidade construída com as travestis constituiu-se a partir de um processo de construção de intimidade muito próximo ao campo da confissão.

    Só foi possível pensar no delicado tema da intimidade, mais propriamente da conjugalidade, após o estreitamento de laços estabelecidos entre o pesquisador, as travestis e seus maridos. A conversa com estes atores estimulou, sobremaneira, o desejo de conhecer os meandros desses relacionamentos, se não negligenciados pelos estudos acadêmicos, certamente longe de ocupar o foco das atenções dos estudiosos.

    A partir do vínculo formado entre o pesquisador e as participantes me senti provocado no sentido de aprofundar o entendimento sobre uma outra maneira de homens viverem sua masculinidade e sexualidade. Inicialmente esta pesquisa privilegiou a construção da masculinidade dos maridos das travestis. Entretanto, na qualificação do projeto, a banca examinadora sugeriu que o tema que eu estava abordando com maior profundidade, se referisse à conjugalidade entre a travesti e o seu marido e nesse caminho foi conduzida a investigação.

    No limite desta obra, compreender e observar as tensões que essa união apresenta nesse campo difuso que envolve sexualidade, gênero, sociabilidade e aliança entre duas pessoas,

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