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Somos todos zumbis
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Somos todos zumbis

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About this ebook

Somos todos zumbis é uma comédia tropicalista que mistura a série de TV 'The Walking Dead' com o filme 'Jogos Mortais'. Num futuro próximo, o mundo é dominado por uma imensa corporação e o politicamente correto virou lei. Os zumbis já foram aceitos socialmente (tal como os vampiros do seriado 'True Blood') e são considerados o tipo de funcionário ideal. Afinal eles não pensam, não tem crise ética, agem mais do que falam, sabem trabalhar em grupo e não tem medo da morte. Além disso, um zumbi bem treinado aprende a articular palavras e consegue decorar até 10 mil frases, como poesias do Paulo Coelho e aforismos de música sertaneja! Um sucesso!

É nesse mundo que o jovem nerd Galileu entra na UPP (Universidade Pública para o Privado) onde as cotas para zumbi já passam dos 50%. O curso em si é um imenso 'reality show' para testar a fidelidade do aluno para virar celebridade. É ali que Galileu irá se envolver num triangulo amoroso — com uma humana e um colega zumbi — e em uma revolução para derrubada do apresentador e CEO Sandro Malluco, controlador de todo Império Zumbi.

Muito amor, muito morto e muita revolução numa comédia política tropicalista recheada de cultura pop. "
Venha se divertir com 'Somos todos zumbis'.
LanguagePortuguês
Publishere-galáxia
Release dateJul 24, 2014
ISBN9788567080697
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    Somos todos zumbis - Newton Cannito

    zumbis"

    Galileu Alberto Heleno de Fátima Canneta, o Escolhido

    O jovem Galileu Alberto Heleno de Fátima Canneta, vulgo Galileu, nunca desconfiou que fosse o Escolhido. E isso por três motivos:

    Primeiro, porque ele vivia Fora do Eixo. Não que em sua cidade não existisse zumbis, mas ao menos ali, eles eram raridade. A grande maioria da população era composta de seres vivos zumbilolados, termo cunhado por Jonathan Tristche, um filósofo pessimista que havia sido assassinado.

    Zumbilolado são os seres que, mesmo vivos, vivem como mortos-vivos devido a algum tipo de feitiço zumbi. A grande maioria dos feitiços zumbis era feita pela televisão. Essa era o caso de todos os vizinhos de Galileu que passavam dias, anos e séculos fascinados pela igualdade multicolorida dos 5 mil canais que compunham a programação mega ultra plus super digital de suas imensas televisões de 120 polegadas e cinco dimensões. Programação esta, aliás, que era toda produzida pelo Império Zumbi que dominava o Eixo.

    Segundo, Galileu nunca desconfiou ser ele o Escolhido, por conta de seu nome — que odiava — e que havia sido escolhido em um acordo entre seu pai e sua mãe que, na época, ainda era viva. O pai fazia questão de por um nome de cientista e a mãe queria fazer uma homenagem a uma personagem de novela zumbi mexicana e a uma Santa Zumbi Católica. Por causa desse acordo político o nome de Galileu terminou muito grande e estranho. E, com um nome desses, ele imaginava jamais poder ser o Escolhido.

    E, por fim, Galileu nunca desconfiou ser o escolhido, porque nunca soube que existia um Escolhido e nem sabia o que isso podia significar. E já que estamos falando nisso, Galileu era o Escolhido para o que afinal?

    Bem, isso é a história propriamente dita e eu explicarei mais a frente. Antes vamos voltar à apresentação e mostrar ao leitor a cena inicial, que revela como era a vida do jovem Galileu antes dele começar a viver sua grande aventura iniciativa que culminará na revolução que visa exterminar todo o poderoso Império Zumbi.

    O chamado da aventura

    Zumbis horrorosos são mortos com grande violência. Um tem a cabeça destruída, outro se levanta do chão, mesmo com a metade do corpo mutilado. Galileu sorri de prazer. Ele empunha um rifle e o zumbi mutilado chega bem próximo a ele, pelo lado esquerdo. Galileu se vira a tempo de acertá-lo com um tiro certeiro no crânio. Morte imediata. No entanto, devido à proximidade da vítima, Galileu recebe um jarro de suco de tomate em seu rosto. Ele passa a mão no rosto e lambe o suco, com imenso prazer.

    Galileu sabe que, mais tarde, terá que limpar o chão do seu quarto de todo esse suco, mas acha que, mesmo assim, vale a pena. É um prazer indescritível matar zumbis em videogames 5D. E um prazer necessário. Na verdade, foi a prática proibida do videogame ultra violento que salvou Galileu e fez com que ele conseguisse dar mais um passo rumo ao seu grande sonho.

    Galileu é um jovem de 18 anos recém-completados, corpo franzino, roupas meio largas, algumas marcas de acne no rosto. Galileu é um clichê ambulante em quase tudo. Menos no seu sonho. O sonho de Galileu era muito simples. Seu sonho é ler. Ler muito. E escrever. Viver disso. Pensando bem, Galileu é um clichê até mesmo em seu sonho. Mas não para a época. Querer ler e escrever naquela época era bem fora de moda. O mundo evoluíra em vários sentidos. Um exemplo: um homem da época de Galileu não precisa estudar para se sair bem na escola. Precisa apenas ser tranquilo. A tranquilidade virou o grande valor, muito além da inteligência. Inteligentes, em geral, são suspeitos, pois são muito agitados. Por isso, o videogame proibido de zumbis foi importante: ele ajudou Galileu a controlar seus impulsos e passar sorrindo por todos os testes psicopáticos promovidos pelos Mestres Pedagogos que coordenam o EBEM. Ou, como é carinhosamente apelidado, o é do bem ou Exame-do-BEM.

    O melhor é que, no momento, Galileu não pensa em nada disso. Sua mente está relaxada e ele está focado em sua luta. Mais um Zumbi se aproxima perigosamente. Esse é do tipo bem nojento. Toca em Galileu e contamina seu corpo de uma horrorosa gosma verde. Tipo um chiclete quente. Com esforço Galileu consegue empurrar o zumbi, mas está sem seu rifle. Terá que matar o zumbi na faca. Galileu sorri e seus olhos brilham. Ele adora isso. Galileu se joga ao chão e tritura o zumbi verde digital. Galileu fica todo recheado de chiclete verde. Ele passou de fase e ganhou mais quatro vidas. Galileu relaxa, sentindo o prazer da vitória. Respira fundo, cansado. Experimenta um pouco da gosma verde e sente grande prazer. Ele adora essa gosma, o problema é que essa porra vicia. Mas é só hoje. Galileu, em geral, não come da gosma e joga o videogame apenas para expulsar toda a rebeldia contida.

    Alguém bate a porta e diz que vai entrar. É Espartacus, pai de Galileu. Tal como um garoto punheteiro pego no flagra, Galileu desliga tudo rápido e tenta se limpar da gosma verde. Não dá tempo. A gosma ainda fica em seu rosto. Espartacus entra e pega Galileu no flagra.

    O pai balança a cabeça negativamente. Desaprova. Espartacus vai até a janela e fecha a cortina do quarto. Mas ele é compreensivo e tenta mostrar a Galileu o perigo que está correndo:

    — Filho… Eu sei o prazer que isso dá... Eu na sua idade curti muito. Eu compreendo.

    O pai passa a mão no rosto do filho e experimenta um pouco da gosma verde. Mostra prazer, mas se contém e continua:

    — Você sabe que essas coisas são perigosas! E se um vizinho vê isso? O que ele vai pensar? A gente vai ficar mal visto...

    — Mas pai...

    — Você não entende. Eles podem até nos denunciar.

    Galileu sabe que o pai tem razão. Ele fica um pouco espantado e com um pouco de medo. O pai continua:

    — Essa revolta com a morte da sua mãe tem que parar. Você está chegando a outra etapa da sua vida.

    — Galileu consente e fica de cabeça meio baixa, ouvindo o sermão do pai.

    Espartacus recolhe o videogame em uma caixa. Ele esconde bem o aparelho. No chão há diversas revistas de pornografia espalhadas no quarto.

    — Não devia ter mexido nas minhas coisas.

    — Desculpe pai. É que o exame do É-do-BEM foi muito difícil. Esse videogame é tão bom pra aliviar as tensões.

    — Foi um projeto que fizemos no passado. Era esse mesmo o objetivo, mas agora é proibido. É perigoso. Temos que saber controlar nossos desejos. O senhor tem razão.

    — Galileu, você precisa entender, aqui Fora do Eixo ainda podemos nos dar a alguns luxos, mas agora tudo vai mudar. Você sabe né? Acabou de chegar o resultado e...

    Galileu olha para o pai, sorrindo. O pai grita feliz:

    — Você foi aprovado!!! Passou no EBEM! Está indo pra capital!!

    Pai e filho se abraçam emocionados. Giram felizes.

    — Pai... Eu nem acredito!

    — Filho eu não sei como, mas você conseguiu. Parabéns!

    — Obrigado, pai.

    Ambos sentam na cama, cansados de tanta alegria. O pai abraça o filho.

    — Mas filho... Agora sua vida vai mudar… Aqui no mundo Fora do Eixo ainda tem espaço para alguns pequenos prazeres proibidos. Mas na capital é diferente. Lá ninguém dá brecha para indisciplina... entenda meu filho...Você nunca mais matará Zumbis... nem em videogame.. Nem em pensamento... O mundo lá é todo certinho. E é muito hostil... não tem espaço algum para rebeldia.

    Galileu consente com a cabeça, mas fica um pouco assustado. Espartacus vai até ele e tenta animá-lo. Levanta sua cabeça e, depois, dá um abraço forte no garoto.

    — Chegou a hora de ir.

    — Mas já?

    — Você sabe como eles são né? Se você aprova no teste a partida é imediata.

    Galileu consente. Levanta da cama como se fosse ir para a forca. Muita tensão, Espartacus entrega uma pequena mala para ele. É um clima meio onírico. Galileu olha para a porta e nela tem uma grande foto de uma mulher sorrindo. Abaixo da foto uma legenda tem escrito a palavra: Mamãe. A porta do quarto se abre sozinha, como que por encanto.

    É um grande corredor, cheio de pessoas encostadas na parede. Elas estão ansiosas e colocam a cara para observar para dentro do quarto. Sorriem. Galileu passa pela porta e é atacado por sua irmã. Ela chora muito e tenta agarrá-lo, impedi-lo.

    — Fica comigo… Não vá! Por favor, fica!

    Espartacus consola a filha.

    — Filha vai ser melhor para todos nós.

    Algum homem da fila comenta bravo com a filha:

    — E vai ser melhor para nossa cidade.

    A filha olha com raiva para esse homem. Ele olha com raiva para ela.

    Pai e filha ficam parados abraçados enquanto observam Galileu partindo. Galileu anda pelo corredor. Está em transe. As pessoas tocam levemente em seu corpo para pegar um pouco de sua sorte. Uma nova porta se abre, também de forma mágica. Uma forte luz ofusca o olhar de Galileu. Parece que ele vai nascer de novo.

    Entra o som de aplausos e assobios. Galileu olha uma vez para trás, vê o pai consolando a irmã e decide atravessar a porta.

    Galileu chega à rua e o sol está a pino. Uma banda tradicional toca música com muita alegria. Todos acenam para Galileu. Uma senhora idosa está vestida com saia de chefe de torcida. É uma imagem forte. Ela segura pompons, rebola um funk da boquinha da garrafa e, para piorar, tem um rosto esticado tal qual boneca Barbie. Ela sorri para Galileu e depois se vira, mostrando a bundinha siliconada na boquinha da garrafa. A imagem ofusca a visão de Galileu. Dois homens e duas crianças vestem ternos brancos e verdes e seguram uma faixa em que está escrito: Galileu, nós contamos contigo! Sucesso na Universidade Pública Para o Privado... Nossa Cidade se orgulha de você!

    Um senhor comenta com uma mulher:

    — Esse moleque foi o único aprovado em toda a região. Ele é um orgulho para a nossa cidade.

    Um ônibus está estacionado. É um ônibus todo colorido, de três andares. Um motorista de chapéu o espera. Galileu já vai entrar, mas Espartacus vem correndo e o interrompe:

    — Filho… Mais uma coisa. Um dos últimos desejos de sua mãe foi te entregar esse livro de receita. Cozinhe sempre a carne certinha típica de nossa família para se lembrar dela.

    Galileu olha para o livro de receitas (novamente com a foto da mãe) e vê que a receita estava escrita CARNE LOUCA e

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