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Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência
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Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência

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Neste livro, o ponto de partida é o caso clínico de uma paciente acometida por urticária, um fenômeno psicossomático, que não apresentava nenhuma causa orgânica para o seu aparecimento. Isso demonstra, muitas vezes, que os fenômenos do corpo ultrapassam o saber da medicina e coloca em evidência a psicanálise como um discurso que pode subverter o discurso médico na busca de respostas para os males de portadores destes fenômenos. O manejo da transferência nesta clínica apresenta uma operação analítica a partir do desejo do analista em sustentar a fala do paciente, circunscrita ao real do corpo, como uma via de possibilidade para que o sujeito do desejo possa comparecer. Considerando que estes pacientes apresentam dificuldade em alcançar a esfera subjetiva, podemos apontar a fixação de um gozo específico próprio à doença, pois os mesmos, ao sofrer, obtêm alguma satisfação do estado em que se encontram. Verifica-se a necessidade da sustentação desta fala na tentativa de possibilitar um enlaçamento com questões inconscientes e a produção de um sintoma endereçado ao analista.

Para evidenciar estes fatos, será apresentado o caso clínico de uma paciente acometida por urticária, um fenômeno psicossomático, a qual não apresentava nenhuma causa orgânica para seu aparecimento.

Através de teóricos como Freud, Lacan e outros, este livro propõe discutir o manejo da transferência na clínica psicanalítica com pacientes acometidos pelos fenômenos psicossomáticos, analisando a operação do desejo do analista que conduz esses sujeitos a falarem ao invés de adoecerem do corpo.
LanguagePortuguês
Release dateJan 1, 2016
ISBN9788547301903
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    Muito bom livro. Às vezes vemos no outro os nossos problemas. Quem é psicanalista tem que ter o cuidado de não ver no outro o seu problema. Quando detectar, pedir ajuda

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Fenômenos psicossomáticos - Ingrid de Figueiredo Ventura

Editora Appris Ltda.

1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

Aos meus pais, Samuel e Lúcia,

que marcaram minha existência com conhecimento e música.

AGRADECIMENTOS

• A Roseane Nicolau, orientadora e prefaciadora deste trabalho, pela atenção e cuidado devotados, ensinando-me a ser um sujeito causado pela Psicanálise.

• A Leônia Teixeira, por ter sido tão receptiva e criteriosa com o meu trabalho, ajudando-me a enriquecer meus escritos com um olhar a mais.

• Ao Ernani Chaves, que colaborou de maneira significativa para o desenvolvimento deste trabalho, oferecendo importantes contribuições.

• À Editora Appris, pela oportunidade de publicação deste livro e, especialmente, a Sandra Silveira, pelo apoio editorial.

• Às amigas, quase irmãs, Larissa Regis, Carol Belém e Mônica Helfer, que nos últimos tempos têm sido uma presença muito importante em minha vida.

• À minha amiga, Jamile Morais, com a qual, a partir de uma transferência de trabalho, iniciei a construção de uma amizade muito bonita e verdadeira.

• Aos amigos do Laboratório de Clínica do Sujeito: Sintoma, Corpo e Instituição da Universidade Federal do Pará (UFPA): Patrícia Nunes, Susette Matos, Alcione Hummel, Roseane Madeiro, Danielle Ramos, Vanusa Rego, Áurea Martins, Danielle Arêde, Ilki Maués, Felipe Barata, Luana Moura, Lúcia Nogueira, Madalena Oliveira, Mayumi Fujishima, Paula Valéria Araújo, Sandra Gomes e Labelle Lima, com os quais estabeleci laços profissionais e de amizade.

• A Sâmea Quebra, que é uma pessoa com quem partilho, com muita satisfação, conhecimentos e experiências.

• A Rita e ao Willer, companheiros de estudos que me auxiliaram, indiretamente, a pensar muitas questões em psicanálise.

• À Clínica-Escola de Psicologia da Universidade Federal do Pará, que possibilitou a realização dos atendimentos para a minha pesquisa.

• À minha paciente, que enriqueceu minha escuta e constituiu um caso primoroso para a construção desta obra.

• E mais especialmente: Aos meus pais, que me ensinaram a ser muito disciplinada e corajosa diante dos desafios da vida.

PREFÁCIO

No estilo próprio à psicanálise, Ingrid Figueiredo parte neste livro da experiência clínica e vai tecendo seu texto em torno de uma questão central: como manejar a transferência com o paciente dito psicossomático, o qual traz seu corpo às sessões, tornando o tratamento permeado de particular dificuldade uma vez que não inclui a doença no registro simbólico, via pela qual é possível interpretá-lo. Tomando essa questão ao pé da letra, Ingrid pinça os impasses dessa clínica para descortinar os enigmas que constituem a doença psicossomática, a qual, em seu estatuto lacaniano, recebe a nomeação de fenômeno psicossomático.

As interrogações sobre a posição do analista e o manejo da transferência na direção do tratamento levam a autora a passear pelas principais teses do campo freudo-lacaniano sobre a psicossomática, na tentativa de desvelar construções interpretativas que possibilitem restituir narrativas aprisionadas na carne. Seguindo inicialmente as trilhas do corpo, Ingrid resgata preciosas elaborações freudianas que inspiram ainda hoje discussões psicanalíticas sobre psicossomática, como as conversões histéricas e as neuroses atuais. No entanto, é em Lacan que se detém para discutir a retenção de gozo em pontos específicos do corpo.

Como sublinhado pela autora, inúmeras vezes Lacan¹ ² ³ insistiu na diferença entre o sintoma e o fenômeno psicossomático, diferença essa que faz pensar o adoecimento corporal em duas vertentes: a conversão histérica (da ordem do sintoma, portanto, inscrito no registro simbólico) e o fenômeno psicossomático (da ordem do real, fora das construções simbólicas). Estes se apresentam como fenômenos clínicos que remetem ao real à medida que a lesão se inscreve na materialidade do corpo, diferenciando-se das conversões histéricas que se situam no corpo erógeno e simbólico, sendo representações inconscientes recalcadas, embora ambos tenham algo em comum no sentido de promover uma economia de gozo que concorre em explosões ou contenção de gozo.

Em seu percurso, Ingrid mostra que em Freud já está marcada a diferença entre certos fenômenos corporais aprisionados ao registro real do corpo, que não cedem à interpretação, e o sintoma, designado como tal por ter adquirido função de significante, sendo passível de uma interpretação e ganhando valor para o sujeito. O fato é que há lesões de corpo que se distinguem da dimensão significante, apontando para a escrita do real, o que implica, na clínica, na aposta do analista na possibilidade de fazer emergir o sujeito alojado no dito aprisionado no gozo da doença, o qual busca respostas para seu sofrimento como se fosse invadido por algo que não lhe diz respeito.

Conforme discute a autora, Lacan trata a psicossomática como um campo de pesquisa sobre o S1, em que há uma direta inscrição no corpo material do sujeito a partir de um evento de sua história, momento em que não há intermediação simbólica nem mesmo dialetização metafórica. Isso leva Lacan a aproximações entre a psicose e o campo da psicossomática, conforme pode ser visto no seminário As psicoses⁴ referente à hipocondria. Esse ponto de convergência com a psicose deve-se ao modo de resposta a uma contingência traumática para o sujeito, em que não há dialética, provocando uma inscrição direta. Ele faz uma distinção bastante precisa entre a psicose e os fenômenos psicossomáticos de um lado, e o que se passa na neurose de outro. Há uma particularidade, um núcleo comum aos dois primeiros.

No seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise⁵, Lacan faz uma nova aproximação da psicose com os fenômenos psicossomáticos. Ele se utiliza do termo holófrase para designar a solidificação entre os significantes primários S1 e S2, que têm como efeitos uma série de casos, como a debilidade mental, os fenômenos psicossomáticos e a psicose, como modos particulares de alienação do sujeito. A holófrase traz uma série de efeitos, tal como a ausência de afânise do sujeito, com a impossibilidade de queda do objeto a, causa de desejo. Na presença da holófrase, revela-se não só uma alienação do sujeito ao Outro, como também à ausência de dialética, o que imprime um modo peculiar de relação com o significante.

Não recuando diante das dificuldades dessa clínica, Ingrid aposta que o manejo da transferência na clínica desses pacientes deve operar a partir do desejo do analista em sustentar a fala do paciente, circunscrita ao real do corpo, como uma via de possibilidade para que o sujeito do desejo possa comparecer.

Ao acompanhar o percurso de Paula, que já havia recorrido a vários profissionais da medicina à procura de uma explicação para suas afecções, Ingrid solicita que a paciente utilize a fala, possibilitando que ela identificasse a eclosão de seus sintomas com os momentos em que se deparava com situações que lhe causavam mal-estar. A condução dessa cura mostra que é possível verificar a passagem do fenômeno psicossomático ao sintoma analítico propriamente dito, mesmo quando o sujeito não se coloca em questão, implicando seu sofrimento. Portanto, a autora responde à indagação sobre as possibilidades de trabalho analítico em condições desfavoráveis, mostrando como um paciente que não sai das entrevistas preliminares pode se deslocar do gozo antes fixado no corpo por significantes holofraseados que fazem parte de sua história de vida, levando-o ao campo da palavra e do dizer.

Com este livro, a autora nos mostra que apesar de os FPS estarem presos ao registro do real do corpo, pode-se encontrar uma via para que, a partir da fala do sujeito, esses fenômenos possam se enlaçar com o inconsciente, produzindo o sujeito suposto saber em análise, para depois destituí-lo e dirigir uma fala ao Outro. Nesse caso, o desejo do analista pode conduzir o paciente ao seu próprio desejo, desatrelando-o do gozo avassalador do Outro gozador e permitindo que o paciente remeta sua fala à esfera subjetiva na busca da construção de um saber sobre a sua verdade.

Roseane Freitas Nicolau

Psicanalista, Psicóloga, Professora da Pós-Graduação em Psicologia da UFPA, membro da Escola Letra Freudiana

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1

NAS TRILHAS DO CORPO: SINTOMA CONVERSIVO, NEUROSE ATUAL E FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO

1.1 O sintoma conversivo

1.2 As neuroses atuais

1.3 Fenômeno psicossomático

CAPÍTULO 2

A NOÇÃO DE GOZO E O FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO

2.1 Do masoquismo em Freud ao gozo em Lacan

2.2 As modalidades de gozo e o fenômeno psicossomático

CAPÍTULO 3

A TRANSFERÊNCIA E O FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO

3.1 A transferência: atualização de significantes na análise

3.2 O manejo da transferência na clínica dos fenômenos psicossomáticos: elaborações a partir de um caso clínico

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

Eu, que entendo o corpo. E suas cruéis exigências.

Sempre conheci o corpo. O seu vórtice estonteante.

O corpo grave.

Clarice Lispector

INTRODUÇÃO

O corpo, ele deveria surpreendê-los mais.

Lacan

Um corpo que fala em detrimento do sujeito. Freud soube ouvir este que teve papel fundamental no nascimento da Psicanálise, pois o deixou extremamente intrigado e com desejo de saber acerca de suas histéricas, que apresentavam corpos com afecções sem causas orgânicas para seu aparecimento. Corpos marcados pela linguagem e pelo significante, mas que não apenas apresentavam doenças e conversões: a clínica também traz os fenômenos psicossomáticos. E foi justamente a clínica que fez a Psicanálise nascer e se expandir, o que levou aos questionamentos deste livro.

O paciente acometido pelo fenômeno psicossomático apresenta uma dificuldade em acessar conteúdos inconscientes e, por isso, permanece preso ao real do corpo. Esses fenômenos se mostram como uma escrita no corpo que não se dá a ler, da ordem do indecifrável, como uma cifra de gozo, esta que traz uma satisfação específica para estes sujeitos permanecerem atrelados a suas afecções e à peregrinação médica em busca de tratamento.

A teoria e clínica psicanalíticas comparecem como fundamental à escuta e à direção de tratamento com esses pacientes, pois conseguem apontar para o gozo presente na doença, este que já estava presente desde Freud, em seus estudos sobre o além do princípio do prazer e da pulsão de morte, e que foi desenvolvido por Lacan ao longo de seu ensino.

É com o objetivo de compreender a importância do manejo da transferência na experiência psicanalítica com esses pacientes acometidos de fenômenos psicossomáticos (FPS) que abordei o caso clínico de uma paciente – sob o método psicanalítico – para a construção desta obra. Essa discussão, de longa data, frutífera, mas tensa, encontra-se entre a psicanálise e a medicina. A psicanálise, enquanto a última flor da medicina, tem muito a nos dizer a partir dos limites do saber médico. O lugar

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