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Signos da mobilidade: marcas e consumo na cultura digital
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Signos da mobilidade: marcas e consumo na cultura digital

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Este livro analisa o sistema que envolve a comunicação das marcas e o consumo, particularmente no contexto atual da mobilidade, com o uso das tecnologias de informação e comunicação, onipresentes em nosso cotidiano. A obra estudou a comunicação móvel, com o uso da telefonia celular, em países que estão em distintos estágios de popularização e adoção: Angola, Brasil e Portugal. Em uma análise abrangente da comunicação das marcas do setor e a sua relação com o universo dos consumidores, foi identificado um processo evolutivo dos significados da inovação. Nesse processo, os consumidores adaptam-se e criam novas práticas sociais que envolvem um processo de aprendizagem, naturalização e apropriação, estimulado pelas estratégias de comunicação das marcas e vivenciado de forma dialogada entre instâncias antes separadas e com escopos delimitados. Por tratar de assuntos como comunicação, gestão de marcas e consumo diante do cenário tecnológico em transformação, é uma leitura recomendada para todos que se interessam por esses temas.
LanguagePortuguês
Release dateOct 3, 2017
ISBN9788547306649
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    Book preview

    Signos da mobilidade - Silvio Koiti Sato

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - SEÇÃO GESTÃO

    AGRADECIMENTOS

    Este livro só foi possível pelo carinho e suporte de uma rede de pessoas muito especiais, a quem agradeço profundamente:

    À Clotilde Perez, orientadora e inspiração para este livro; Paulo de Lencastre e Davi Fraga e suas famílias, pela acolhida e amizade em Portugal e Angola; e a todos os profissionais e consumidores entrevistados para este projeto.

    Ao Bruno Pompeu e Lawrence Koo, companheiros da Casa Semio; à direção e aos professores do PPGCOM da ECA-USP, em especial à Beth Saad, Eneus Trindade e Sandra Souza; aos colegas do grupo de pesquisa GESC3; e à direção, aos colegas e alunos da ESPM e da FAAP.

    Aos familiares queridos, desde os saudosos antepassados até as gerações atuais. Este trabalho não seria possível sem o apoio incondicional de Cristina Sato e Beni Araújo, exemplos diários de valorização do conhecimento que tenho na minha vida.

    PREFÁCIO

    Prazer dobrado. Coube a mim a feliz tarefa de prefaciar o livro Signos da mobilidade: marcas e consumo na cultura digital, de Silvio Sato. Uma honra porque dentre muitas pessoas possíveis, receber o convite do autor é um reconhecimento de um lugar especial, mas já digo de antemão que a recíproca é verdadeira. Silvio Sato é uma pessoa especial. Aluno dedicado, orientando exemplar, professor comprometido, pesquisador rigoroso, um homem digno e um amigo atento e solidário. Silvio transita da leveza conferida pela sua condição de origem à firmeza de princípios, da ponderação à crítica enérgica, da sensibilidade ao pragmatismo tão necessário, e tudo isso sem solavancos. Tem a serenidade própria dos bons, daqueles que constroem uma vida com sentido, são elevados. E é assim também sua trajetória de pesquisador.

    Há mais de uma década acompanho as pesquisas de Silvio Sato e, em especial, a que deu origem a este livro. Baseada nas investigações do doutorado junto à ECA USP, com bolsa sanduíche no exterior e campo em Portugal e Angola, além do Brasil, Silvio nos ofereceu à época (2015) a melhor pesquisa sobre a mobilidade e o impacto para as marcas em contextos culturais, econômicos, sociais e de maturidade tecnológica completamente distintos, ainda que os países escolhidos para a pesquisa mantivessem a unidade linguística. Defendeu seu doutorado com louvor enfatizado por todos os avaliadores, principalmente pela originalidade de propor um modelo evolutivo de significados das marcas na cultura digital. À época, lembro me de ter falado sobre sua trajetória exemplar ainda durante o rito de defesa. Cursou todas as disciplinas com total envolvimento, participou de eventos no Brasil e no exterior, apresentando trabalhos sempre destacados, publicou seus resultados ao longo das pesquisas em periódicos qualificados, participou ativamente dos encontros do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo - USP, fez uma pesquisa de campo irrepreensível, com estágios no exterior e com bolsa – um sonho para qualquer orientador, mas que eu tive o privilégio da realização com ele. Agora, sua pesquisa avança e amadurece em muitos aspectos, como poderemos acompanhar nos seis capítulos que compõe este livro.

    Iniciando pela reflexão aprofundada sobre as mobilidades plurais no primeiro capítulo, passando às mobilidades na comunicação no segundo, o autor tece um caminho que traz clareza e segurança ao leitor, articulando diferentes autores, com suas considerações sempre muito consequentes e precisas. O terceiro capítulo é dedicado às considerações acerca da identidade e suas movimentações e transitoriedades, reflexos e refrações da cultura digital contemporânea, articulando autores como Stuart Hall, Massimo Canevacci, Castells, Jenkins, Giddens e outros. O próximo capítulo é destinado à problemática das marcas e da publicidade no contexto da mobilidade, apresentando características, expressões, mudanças e suas consequências, além de indiciamentos futuros acerca da estética da mobilidade, na qual é possível notar a robustez alcançada pela pesquisa, porque só com segurança e rigor na investigação é possível pensar à frente, principalmente acerca de questões relacionadas à linguagem e suas complexas interações. Até este momento, Silvio apresenta o que há de melhor sobre mobilidade e as consequências na identidade no consumo, com foco nas marcas e na publicidade. É uma referência obrigatória para os estudos na área, principalmente pela escassez de reflexões consequentes. A partir daqui cresce a pesquisa de campo na sua obra. O capítulo cinco, intitulado Signos da Mobilidade, é o ponto alto da investigação nos três países, construído por meio da integralização do método semiótico de Charles Peirce, com o método etnográfico, privilegiado na Antropologia. A construção do texto, que se apresenta pelo percurso histórico que leva o leitor às dobras do tempo, quando apresenta os fundamentos do passado, explorando a memória, a análise do presente por meio dos diferentes rituais de consumo e os caminhos futuros, com foco nas expectativas, impõe profundidade e abrangência às suas análises.

    O sexto capítulo, Signos em Movimento, é dedicado à análise comparativa dos três mercados, e está um primor, com destaque para sua capacidade de expressar as diferenças e dissonâncias culturais e os impactos nas expressões das marcas de telefonia nos três países. Só assim, Silvio Sato foi capaz de chegar a uma síntese, que como tal, é capaz de pôr em evidência o que há de mais significativo nesses mercados na relação identidade-mobilidade-marcas-consumo. Mas o ponto alto do livro, pela originalidade que enseja, encontra-se no detalhado modelo evolutivo de significados da marca. Quer pela argumentação construída, quer pelo design metodológico, ou ainda pela aplicabilidade conferida pelas experimentações nos últimos anos, o modelo se revela um caminho metodológico consequente e acionável tanto para análise quanto para criação de marcas e suas expressões em diferentes contextos culturais, sem se limitar, uma vez que prevê o crescimento sígnico acelerado como inerente à condição contemporânea.

    Por tudo isso, este livro é uma referência obrigatória para todos aqueles que necessitam ou queiram conhecer e explorar o intrincado e volátil contexto da mobilidade e as relações de consumo, por meio das marcas e da ecologia publicitária. Com esta obra, Silvio Sato consolida-se como um incomparável sinalizador de caminhos, pela competência e desenvoltura com que se movimenta por entre temas fugidios e de alta complexidade, compondo uma paisagem investigativa que só pode ser realizada por um conhecedor íntimo do assunto construído ao longo da práxis, mas também da reflexão teórica. Uma obra daquele que faz, reflete e, generosamente, compartilha.

    Profª Drª Clotilde Perez

    Professora titular da ECA USP, 20 de maio de 2017.

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    A estrutura do livro

    Capítulo 1

    MOBILIDADE, MOBILIDADES

    Mobilidade: um conceito amplo

    A experiência da mobilidade

    Mobilidade, cidade e sociedade

    Capítulo 2

    mobilidade na comunicação

    Evolução dos meios de comunicação e o mobile

    A sociedade em rede móvel

    Práticas e manifestações móveis

    Inclusão e desigualdades na comunicação móvel

    Capítulo 3

    identidade e consumo na mobilidade

    Cultura e identidade móveis

    Consumo e mobilidade

    Capítulo 4

    marca, publicidade e mobilidade

    Marca e mobilidade

    Comunicação de marca e publicidade na mobilidade 

    Uma estética da mobilidade 

    Capítulo 5

    signos da MOBILIDADE

    ANGOLA

    Telefonia móvel no País

    Expressividades marcárias:

    Os consumidores e a mobilidade

    Mobilidade nos espaços públicos

    Síntese

    BRASIL

    Telefonia móvel no País

    Expressividades marcárias

    Os consumidores e a mobilidade

    Mobilidades nos espaços públicos

    Síntese no Brasil

    PORTUGAL

    Telefonia móvel no País

    Expressividades marcárias

    Os consumidores e a mobilidade

    Mobilidade nos espaços públicos

    Síntese em Portugal

    Capítulo 6

    signos em movimento

    Análise comparativa

    Síntese

    Modelo evolutivo de significados da marca e do consumo

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    INTRODUÇÃO

    Este livro tem o objetivo de estudar o sistema que envolve a comunicação mercadológica das marcas e sua interação com os consumidores e a sociedade, particularmente no contexto atual das tecnologias de informação e comunicação. Parte-se da premissa de que a vida desenvolvel-se num ambiente no qual as tecnologias são introduzidas no mercado em ritmo acelerado, na forma de novos produtos e serviços, adicionados ou substituídos rapidamente. Para lidar com tantas inovações, os consumidores adaptam-se e criam novas práticas sociais que envolvem um processo de aprendizagem e apropriação, estimulado pelas marcas e vivenciado de forma dialogada entre instâncias antes separadas e com escopos delimitados.

    Ao longo desse processo, que ocorre num ciclo cada vez mais rápido, percebe-se uma evolução nos significados associados às tecnologias por parte dos consumidores, com consequências imediatas para as marcas que oferecem os serviços provenientes dessas tecnologias. Algo visto como mágico e cheio de encantamento num primeiro momento, passa a ser naturalizado e imiscuído no cotidiano e, posteriormente, pode ter sua atratividade minimizada na lógica da obsolescência e busca constante por novidades. Esse gradiente de significados ao longo do tempo precisa ser gerido do ponto de vista da marca, a fim de garantir e renovar vínculos de sentido com os consumidores e, com isso, manter a perenidade e diferenciação das marcas.

    Neste livro, esse processo é exemplificado a partir da indústria da comunicação móvel, com a introdução das redes sem fio, que construíram rapidamente o contexto de mobilidade atual.

    Os onipresentes telefones celulares podem ser apontados como símbolos desse cenário de informação e comunicação ubíquo, no qual é possível estar conectado permanentemente a uma rede planetária, sem respeitar hora ou lugar. As redes celulares são as principais responsáveis pela popularização do acesso à internet em nível mundial nas últimas duas décadas – a maior parte dos acessos ocorre com o uso de smartphones conectados às redes sem fio.

    Esses telefones inteligentes, como o próprio nome indica, sinalizam uma grande evolução no mercado de telefonia celular nesse período: do sistema analógico ao digital, do pagamento pós-pago para o pré-pago, de algo próximo ao telefone fixo tradicional, somente para ligações de voz, para um aparelho multifuncional, que une voz, texto e imagem. Houve o desenvolvimento de redes tecnológicas móveis mais velozes e com maior cobertura, a popularização do acesso à internet móvel, dos apps, do streaming e das redes sociais digitais.

    O celular conectado à rede é o companheiro constante dos indivíduos em suas jornadas diárias, o que demanda reflexões as mais diversas sobre os impactos dessa tecnologia em muitos aspectos da vida, com propostas para regular usos e a avaliação de oportunidades pessoais e coletivas a partir da sua interferência em diferentes práticas sociais. O aparelho passou a representar a possibilidade de interação com uma rede de informações, pessoas e organizações. Entretanto, benefícios e riscos ainda são analisados pelos indivíduos e pela sociedade, com preocupações para questões como privacidade, vigilância, exaustão e até vícios relacionados ao seu uso compulsivo.

    Do ponto de vista dos negócios, a comunicação móvel fundiu indústrias, como a de telecomunicações e a de computadores, movimentando um imenso mercado de empresas de infraestrutura de rede, fabricantes de hardware, desenvolvedores de softwares, aplicativos e conteúdos, provedores de acesso, grupos de mídia e operadoras que lidam com consumidores ávidos por novidades, à custa de grandes investimentos. É um modelo econômico baseado em escala, em grandes volumes, que trouxe também consequências para as empresas que atuam no setor ao longo do tempo, com processos de fusões e aquisições que ocorrem tanto no nível local, com a formação de grandes grupos com atuação em todo o País; quanto no global, com conglomerados internacionais que atuam em todo o mundo, num processo de expansão e transformação que não parece ter fim. Nesse processo, marcas que atuavam em regiões específicas deixaram de existir, substituídas por marcas nacionais e globais. Mais recentemente, presenciou-se a junção dos serviços de telefonia e comunicação em propostas comerciais integradas, que envolvem telefonia fixa e móvel, internet fixa e móvel, televisão a cabo; conhecidas como ofertas de convergência, que aumentaram ainda mais a complexidade do setor e os significados das marcas, que deixam de ser relacionadas apenas aos serviços de telefonia e comunicação móvel, incorporando outros significados.

    Por outro lado, embora pareça que o mundo tecnológico esteja plenamente estabelecido, há desigualdade na difusão das tecnologias em termos globais, tanto entre regiões, nações e mesmo dentro de um país – há uma dimensão política que repete e reforça relações desequilibradas vivenciadas na sociedade, criando inúmeras situações de contraste no acesso à comunicação e informação, algo cada vez mais essencial para o desenvolvimento de um país.

    Ao vislumbrar essa situação de desigualdade, percebeu-se a oportunidade de desenvolver um estudo comparativo, analisando países que representam distintos estágios de popularização das tecnologias móveis, desde mercados em crescimento até outros nos quais há declínio no uso dessas tecnologias. Com isso, foi possível analisar os significados da mesma tecnologia em diferentes cenários no âmbito do consumo e da comunicação das marcas e, assim, desenvolver um modelo de evolução de significados da marca ao longo do tempo, que leva em consideração a convivência de características do mercado com o contexto do consumidor. Nessa dinâmica de significados manipulados e combinados coletivamente, percebe-se que a lógica da renovação tecnológica pode ter um pano de fundo funcional e racional como ponto de partida, mas amplifica-se pelos significados simbólicos de atualização e contemporaneidade associados a essas marcas e bens.

    Esta reflexão vai além da investigação sobre o objeto inicial (a telefonia celular) e se amplifica para os significados da inovação de uma maneira geral. Neste sentido, fica clara a presença da semiótica neste trabalho, evidenciada pelo próprio título do livro. A escolha da semiótica, especificamente a peirceana, para esta jornada deu-se pela sua natureza aberta, inclusive pela importância do outro no seu raciocínio, aderente a nossa visão integrada entre produção-consumo, ou emissão-recepção. Com isso, o pensamento semiótico ampliou as possibilidades de compreensão do objeto, além de promover o diálogo entre paradigmas e teorias e trazer uma proposta mais arejada, que se mostrou produtiva e enriquecedora. Além disso, ao trazer o pensamento abdutivo, além do indutivo e dedutivo, pudemos acolher insights que surgiram durante a pesquisa.

    Sobre o tema do livro, é preciso destacar o risco que permeia qualquer livro que quer estudar algo novo, como é o caso aqui, ao avaliar inovações tecnológicas e seus impactos no período em que os fenômenos ainda estão em curso, numa espécie de gerúndio infinito. É um tema contemporâneo, em construção, cujos estudos podem ser extremamente perecíveis, pois as inovações na tecnologia não param, mudam a todo o momento em ritmo acelerado, o que precisa ser levado em consideração ao estudar esse tipo de assunto. A grande novidade de hoje deixa de sê-lo rapidamente. Por isso, houve a tentativa de não apresentar um trabalho focado na tecnologia per si, com descrições detalhadas sobre os avanços da área em termos de redes, serviços e aparelhos, por exemplo. Foram utilizadas apenas informações fundamentais sobre a evolução tecnológica para o entendimento do contexto de cada país, utilizando e indicando pesquisas mais específicas nas referências bibliográficas.

    De maneira semelhante, dados estatísticos sobre acesso e uso da telefonia móvel e do mundo digital também são renovados todos os dias. Por isso, houve a opção por um trabalho no qual esse tipo de informação não fosse ponto central, utilizado somente para contextualizar e auxiliar no entendimento de um cenário mais amplo, para colaborar com a perspectiva evolutiva adotada. Isso ocorreu porque existem muitas fontes com informações detalhadas e atualizadas constantemente, formando uma área consolidada e fartamente registrada, indicada na bibliografia de referência para esta pesquisa.

    A estrutura do livro

    Para desenvolver este livro, foi preciso percorrer um caminho nem sempre linear de modo a aprofundar o entendimento de nuances em torno desses assuntos, e essa trajetória reflete-se na estrutura e na sequência dos capítulos apresentados.

    Um ponto inicial, que abre o primeiro capítulo, foi compreender que o estudo das tecnologias móveis e seus impactos insere-se num tema mais amplo: a mobilidade. Foi necessário estudar diferentes tipos de mobilidade e os principais conceitos associados, numa abordagem multidisciplinar. Isso ajudou a entender dimensões-chave como o espaço e o tempo e os impactos da evolução da mobilidade ao longo da história sobre essas dimensões. Além disso, a mobilidade também está associada ao desenvolvimento urbano e tecnológico, com a formação de grandes cidades e, mais recentemente, ao fenômeno da globalização, na qual o movimento é cada vez mais rápido e valorizado.

    Com isso, barreiras geográficas parecem minimizadas pela facilidade na locomoção física e pelo desenvolvimento e a popularização dos meios de transporte, e também pelas tecnologias de informação e comunicação, que proporcionam outras experiências de deslocamento pelo mundo virtual. A circulação acelerada de bens, serviços e produtos culturais convive com viajantes pelos aeroportos, pessoas que se movimentam de um país para o outro, em novas diásporas. Tecnologias as mais variadas acompanham as pessoas em seus movimentos físicos ou substituem esses deslocamentos, transportando-as virtualmente para onde quiserem.

    De forma geral, parece haver a busca por uma vida em constante movimento e transformação, com velocidade acelerada, como sinônimo de expressão individual, de evolução e ascensão, e como uma maneira de estar em sintonia com o mundo. Nesse sentido, pode-se falar atualmente numa sociedade móvel e numa cultura da mobilidade, como um estilo de vida no qual conceitos fixos e estáticos deixam de fazer sentido.

    No segundo capítulo, surge o recorte na mobilidade virtual-informacional, relacionada mais diretamente às tecnologias sem fio, tema central deste livro. O desenvolvimento dessas redes móveis precisa ser compreendido no contexto da evolução dos meios de comunicação, que atingem um novo patamar de complexidade com as tecnologias móveis digitais. As NTICS (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) formatam uma sociedade em rede móvel, inserida no contexto da cultura digital. Nela, vive-se a sensação da ubiquidade, de estar ligado a outras pessoas e informações, a qualquer momento e em qualquer lugar. A cada dia, são descobertos outros usos para essas ferramentas, que transformam as relações entre os indivíduos, seus grupos e, consequentemente, as práticas sociais de forma geral, como ocorre nas mobilizações políticas engendradas e ativadas pelas redes móveis. Sobre os aspectos políticos da rede, há desigualdade na difusão da tecnologia móvel, que reflete contrastes socioeconômicos globais.

    O terceiro capítulo reflete sobre as interações do contexto de mobilidade com as práticas de consumo. Essas práticas ocorrem numa sociedade que vivencia um cenário de transformações, incertezas e fragmentações em dimensões e práticas as mais diversas na pós-modernidade. Do ponto de vista identitário, há alteração de normas estabelecidas anteriormente e que eram vistas como fixas, rígidas, e que hoje se apresentam de forma mais fluida, movimentando-se entre eixos antes opostos.

    Nesse sentido, culturas se mesclam e transitam entre conceitos nacionais e globais, e relações políticas, econômicas e sociais são multidirecionais, mais complexas e interdependentes. Há a sensação de que o antes distante, exótico e de difícil acesso agora se torna cada vez mais próximo, familiar e acessível, seja uma pessoa, um produto ou alguma informação. Esse flanar parece atrativo naturalmente, tanto pela curiosidade e motivação humana em direção ao crescimento e transformação quanto pela liberdade proporcionada pelo movimento. É algo desejado, mas também oferecido numa lógica econômica de produção e consumo, na qual o movimento constante é desejável por trazer consigo a busca pela renovação e, consequentemente, a obsolescência acelerada. Com isso, o contexto tecnológico móvel reforça a importância do consumo em processos identitários, que passam a ser manipulados ativa e instantaneamente pelo indivíduo em suas interações com as marcas e seus significados.

    No quarto capítulo, uma discussão sobre a evolução das marcas é proposta, com foco nas transformações e desafios atuais da comunicação marcária, que se adapta a fim de continuar sendo relevante e atrativa num ambiente midiático complexo, com transformações aceleradas na indústria de informação e entretenimento, e com impactos no fazer publicitário. Há, adicionalmente, o delineamento de uma determinada estética da mobilidade informacional-virtual, com uma linguagem mais visual, abreviada e instantânea.

    O quinto capítulo investiga aspectos específicos relacionados à comunicação das marcas das operadoras de telefonia celular de localidades que representam distintos estágios de popularização das tecnologias móveis: Angola, Brasil e Portugal. Esses países têm em comum raízes históricas entrelaçadas, simbolizadas pela língua portuguesa. Se a nossa pátria é a língua portuguesa, como escreveu Fernando Pessoa, essa escolha, vivenciada na pesquisa de campo, em cada visita ou entrevista realizada nas localidades escolhidas, traz a reflexão sobre o que é partilhar origens e caminhos identitários que se cruzam ao longo do tempo e do espaço. Os principais aprendizados nas localidades visitadas são apresentados no decorrer desse capítulo, divididos entre a instância das marcas e suas expressividades, e no âmbito dos consumidores e dos espaços públicos.

    O sexto e último capítulo é composto por uma síntese das informações anteriores de cada país, adotando uma perspectiva comparativa e integrada a fim de propor um entendimento sobre a evolução sígnica que ocorreu ao longo do processo de difusão da tecnologia móvel nesses países. Contextos distintos podem indiciar um trajeto evolutivo e cumulativo a ser percorrido na geração de sentidos, num encapsulamento de significados. Nesse processo, sintetizado num modelo evolutivo de significados da marca, os signos se ampliam, evoluem e, com isso, geram possibilidades de semiose ilimitada, configurando a experiência de uma vida em movimento.

    Boa leitura!

    O autor

    Capítulo 1

    MOBILIDADE, MOBILIDADES

    A mobilidade é um conceito amplo, utilizado de forma composta no cotidiano de diferentes áreas do conhecimento: mobilidade física, orgânica, anatômica, humana, geográfica, urbana e populacional; mobilidade social, econômica, cultural e educacional; mobilidade elétrica, eletrônica, virtual, informacional e comunicacional...

    Ou seja, o tema é estudado por diferentes disciplinas, em dimensões que vão muito além da mobilidade proporcionada especificamente pelas tecnologias de comunicação móvel.

    Por isso, para entender de forma mais abrangente os significados da mobilidade, foi realizada uma revisão teórica inicial sobre o assunto que pudesse acolher distintas abordagens e perspectivas sobre o tema, a fim de ampliar o horizonte de referências, vislumbrar sobreposições entre diferentes tipos de mobilidade e inserir a discussão deste livro num espectro maior, mesmo que o recorte seja voltado especificamente para as interações da telefonia móvel com a comunicação, as marcas e o consumo.

    Este capítulo traz essa visão plural da mobilidade a partir de propostas teóricas que colocam esse conceito como central na sociedade contemporânea do ponto de vista das Ciências Sociais. Discute-se também tipos de mobilidade e suas características, além de percorrer a evolução dos significados em torno da mobilidade e analisar conceitos importantes sobre o assunto, que impactam as dimensões espaço-temporais. Na sequência, é ressaltada a correlação entre mobilidade e o desenvolvimento urbano e industrial, com a percepção de uma valorização gradual ao longo do tempo.

    Mobilidade: um conceito amplo

    As diferentes formas de mobilidade estão no cerne da Sociologia móvel¹, proposta teórica nas Ciências Sociais em que o foco se encontra na observação da dinâmica dos fluxos nos quais as pessoas estão inseridas em suas atividades diárias, relacionamentos e afetividades, que ocorrem em redes e fluxos globais.

    Organizações atuam em forma de rede em nível mundial, estendendo seus produtos e serviços por meio de tecnologias, habilidades, treinamentos, propaganda e marcas unificadas nos múltiplos locais nos quais operam, numa interação com consumidores muito diferentes entre si. Os fluxos globais têm caráter heterogêneo e imprevisível, e referem-se à mobilidade de pessoas, informação, objetos, dinheiro, imagens e riscos. São fluxos que podem ocorrer em velocidades e intensidades diferentes, conectando pontos de diferentes paisagens físicas e virtuais, inclusive nos não lugares² da contemporaneidade, como motéis, aeroportos, postos de serviço e sites de internet.

    Uma Sociologia móvel também pretende ampliar e evoluir seus limites de estudo, reconhecendo a evolução entre os conceitos de região (limites claros, topologia familiar e regular para analisar as sociedades), passando pelas redes (que se estendem por diversas regiões e conjuntos dentro da rede), chegando ao conceito de fluidos, que são impermanentes, e podem ou não estar em várias regiões, e não precisam ser constantes.³

    Essa visão propõe estudar a mobilidade não só na sua dimensão geográfica, mas também nos espaços virtuais e informacionais, nos quais a mobilidade assume significados renovados. Com essa perspectiva, entende-se também que a pesquisa sobre o assunto contempla da mesma forma as mercadorias e informações, que são trocadas, consumidas e compartilhadas em escala universal atualmente.

    André Lemos⁴ propõe uma Cultura da Mobilidade e identifica três tipos de mobilidade: a mobilidade física, a informacional-virtual e a mobilidade do pensamento. A mobilidade física é aquela ligada ao deslocamento de pessoas ou objetos pelo mundo físico. A mobilidade virtual-informacional diz respeito ao uso de tecnologias de informação e comunicação que trazem a possibilidade de acesso a outras localidades sem o movimento físico. Já a mobilidade do pensamento é aquela em que o ser humano utiliza sua imaginação para se deslocar em seu mundo interior, a mobilidade essencial. Apesar de terem características distintas, as mobilidades se mesclam e se somam cada vez mais: é possível estar num meio de transporte (mobilidade física), usar dispositivos móveis (mobilidade informacional-virtual) e pensar em outros lugares e situações (mobilidade do pensamento).

    Antes de explorar distintas possibilidades da mobilidade, passa-se inicialmente para a evolução dos seus significados. Do ponto de vista etimológico, a palavra mobilidade tem origem no latim (mobilitāte) e é introduzida na língua inglesa no século XVII, associada inicialmente às pessoas, seus corpos, membros e órgãos. A partir do século XVIII, o uso da palavra foi ampliado e ganhou um sentido social – a população migrante, sem lugar fixo, foi chamada de mobility, palavra posteriormente reduzida para mob (multidão), utilizada até hoje com esse sentido e também para o significado de mobilização. Além disso, o conceito de mobilidade também passou a ser usado para máquinas, no âmbito da mecânica⁵. Há, rapidamente, a ligação íntima entre mobilidade e desenvolvimento urbano e industrial nesta evolução de usos da palavra.

    Mobilidade pode ser definida como a característica do que é móvel, do que é capaz de mover algo, alguém ou a si mesmo. Pode-se falar também de mobilidade em termos de humor, fisionomia, estado de espírito ou convicção. A palavra traz também um sentido de volubilidade, inconstância e falta de estabilidade. Portanto, possui significados mais amplos do que os conceitos de locomoção ou deslocamento, ligados mais comumente ao ato de deslocar-se espacialmente de um ponto para outro.

    Seu significado sempre parece ser contrário ao estático, ao inerte, àquilo que é inanimado. A mobilidade nos remete à própria existência – desde o nascimento, vivemos um processo de transformação contínuo. Mobilidade é um fato da vida⁶ – ou seja, esperamos dos seres vivos, por princípio, alguma capacidade de se mover, seja uma célula, uma planta ou um animal, e de se desenvolver ao longo do tempo.

    Antes do nascimento, o bebê está ligado à mãe por um fio umbilical que, ao ser cortado no parto, marca o início de uma vida independente, fora de um ambiente protegido e seguro, que é ao mesmo tempo limitador e de certa forma claustrofóbico. A partir daí, a criança inicia uma jornada para a

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