Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971): Responsabilidade e compromisso
Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971): Responsabilidade e compromisso
Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971): Responsabilidade e compromisso
Ebook302 pages3 hours

Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971): Responsabilidade e compromisso

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

Este livro é sobre os serviços de atendimentos médicos e da significativa concorrência de médicos na cidade de Londrina no período de 1933, ano de fundação da cidade, a 1971, ano de criação da Unimed. A leitura da obra pretende envolver o leitor no acontecer histórico, cheio de contradições, onde não faltam a coragem e a abnegação, como também as competições e os conflitos, próprios dos empreendimentos humanos.
LanguagePortuguês
PublisherEDUEL
Release dateJun 1, 2016
ISBN9788572165754
Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971): Responsabilidade e compromisso

Related to Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971)

Related ebooks

Medical For You

View More

Related articles

Reviews for Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971)

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Serviços médicos em Londrina (1933 a 1971) - Hermann Iark Oberdiek

    Referências

    Prefácio I

    Nestas páginas o autor relata a História da Medicina de Londrina, de modo acadêmico, mas nem por isso deixa de nos oferecer uma leitura extremamente interessante e agradável. São trinta e sete anos de história médica da cidade, ou seja, de 1933 a 1971. Compreende um período desde a fundação da cidade à criação de uma cooperativa de trabalho médico, a Unimed, além da fundação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O curioso, podemos dizer assim, é que o autor não é médico. Com certeza, este ato de ousar ser diferente quando todos seguem um padrão, esta sua coragem de expressar a própria luz, sem se esconder à sombra dos outros, dão à sua narrativa uma essência pura e admirável.

    A Academia Paranaense de Medicina tem, como um de seus pilares de sustentação, a preocupação de resgatar o que já foi feito e o que já passou, neste caso, a História Médica de Londrina. Assim, dessa maneira, este livro merece muitos aplausos da comunidade médica. Louvável a iniciativa do professor Hermann Iark Oberdiek por ter escolhido este tema – História e Sociedade – como matéria de sua tese para a obtenção do título de Doutor em História, apresentado à conceituada Faculdade de Ciências e Letras da cidade de Assis, no interior de São Paulo, que faz parte da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Tive a oportunidade de fazer parte desta história, aliás, testemunhei como fundador tanto da Unimed de Londrina como da Escola de Medicina em 1967, além de participar também dos tempos finais do Movimento Histórico da Livre Escolha. Todos esses temas são sobejamente descritos pelo professor Hermann com detalhes que impressionam o leitor.

    A Associação Médica de Londrina conta, em seu quadro de associados, com um grupo de médicos que têm entre seus ideais, como preferência intelectual, engajar-se em assuntos de história, preferencialmente, a História da Medicina em Londrina. Nesse grupo coloco-me, tendo a satisfação de conhecer, em minhas incursões à história do coração, a figura simpática do professor Hermann, que me surpreendeu agradavelmente quando me informou que escrevera sobre os médicos de Londrina ou, como ele mesmo diz, sobre o campo médico. De imediato, convidei-o para participar da III Jornada Interiorana da Academia Paranaense de Medicina em julho de 2009 e, assim, tive o prazer de conhecê-lo melhor. Pelo que sempre tive como verdade, médico escreve sobre medicina, sociólogo sobre sociologia, psicólogo sobre psicologia, e assim sucessivamente. Porém, um sociólogo escrever sobre medicina e sua história é por demais apaixonante pela maneira como apresenta o conteúdo, sem tendências, sem paixões, limitando-se apenas àquilo que deve ser escrito, o que faz com grande capacidade, fugindo à mesmice, ao corporativismo, ao agrupamento e tratando com sensibilidade e clareza a figura do médico, o campo médico e sua inter-relação com as demais profissões e as relações com os diversos hospitais da cidade e região.

    A luta pelos direitos da classe vista de fora é principalmente pela interação entre o médico, os hospitais, a sociedade e a população. Destes conjuntos resulta uma obra memorável que aqui tenho o prazer de apresentar.

    Creio que a memória dos pioneiros médicos que aqui chegaram desde 1931 foi resgatada e esta obra terá seu lugar nos anais da história da fundação e desenvolvimento da cidade de Londrina. As academias terão esta obra como referência para pesquisas, visto ter ela preenchido uma lacuna na história dos médicos de Londrina.

    Caro Professor Hermann:

    ‘Criar, plantar uma semente de um fruto que não é novo, porém, sempre renovado e acrescido de novidades, não é fácil em uma terra, incrédula e ainda a ser muito explorada. Quando o fruto é agora visível e a terra antes incrédula, também começa a admira-lo, desejo que seja prazerosa a sensação de plenitude e realização’.

    Em nome da AML, da Unimed da Academia Paranaense de Medicina, e em próprio meu nome, externo aqui o nosso muito obrigado.

    Dr. Pedro Aloysio Kreling

    Médico Cardiologista

    Membro da Academia Paranaense de Medicina

    Prefácio II

    O livro que ora se apresenta, oriundo da tese de doutorado do autor, Hermann Iark Oberdiek, traz uma lição muito simples e por isso essencial. Ele nos ensina que os sistemas e instituições em que estamos inseridos nas sociedades tem uma história. Uma história que, muitas vezes, passa despercebida em razão da longa duração que, relativamente, torna os sistemas herméticos e sua ambiência complexa devido às grandes forças que os atravessam. Então, o mérito de Oberdiek terá sido o que revelar, através da materialidade dos documentos, a história de um sistema que, de outro modo, permaneceria subterrâneo, aparentemente imóvel.

    Com efeito, o sistema de saúde que se constituiu no Brasil entre as décadas de 1930 e 1960, em que pesem suas raízes mais antigas e sua compleição mais recente, é descrito no livro em apreço a partir do ponto de vista de duas forças principais e determinantes, isto é, a medicina liberal e a medicina pública. O que importa é seu confronto, seu estranhamento, sua possível composição dentro de um contexto estritamente delimitado pelo autor. Basicamente, na medicina liberal, o médico tem, em vários graus, autonomia na prestação de serviços que vende privadamente em troca de honorários. Já, na medicina pública, a oferta de serviços médicos é controlada pelo Estado, de modo que, no limite, o médico poderia tornar-se um funcionário prestador de serviços em troca de um salário. Do embate dessas forças surgem não só as mazelas, como também a originalidade histórica do sistema de saúde brasileiro. Oberdiek não julga, nem oferece soluções mirabolantes, antes fornece ao leitor subsídios para refletir acerca da contribuição nacional para a história dos modernos sistemas de saúde. Um dado é certo, e parece ser o desafio de todo o sistema de saúde, ou seja, o confronto entre medicina liberal e medicina pública não oferece uma solução simples nem para um lado nem para o outro, pois, o que parece vigorar em seu encontro é sempre um consenso instável. Por um lado, os médicos não são insensíveis ao apelo social da medicina, principalmente em um país subdesenvolvido, nem pode desvencilhar-se da verdade de que o alto custo da tecnologia médica impõe soluções coletivas e massificadoras. Por outro lado, o Estado precisa ser um agente social que assegure os direitos sociais de populações complexamente constituídas, para as quais a saúde se conjuga com perspectivas previdenciárias de longo prazo. No decorrer desse livro, encontramos um autor preocupado em revelar justamente o equilíbrio instável dessa história.

    Como o objetivo do livro prima pela fidelidade à história que narra, o autor ajusta o foco da ampla história do sistema nacional de saúde para uma única região ou, ainda, para uma única cidade, Londrina, no estado do Paraná. A partir desse foco concentrado, o movimento tectônico das grandes forças institucionais torna-se visível e urgente. Então, somos informados de que as vicissitudes regionais, sociais, econômicas e culturais participam definitivamente da história dos sistemas, não raro condicionando-a. De fato, Oberdiek demonstra que entre os anos 1930 e 1960, em Londrina, no centro de região que, de vazio demográfico à fronteira agrícola que rapidamente se urbaniza, a medicina liberal dos médicos que prestam serviços de saúde privados resistiu longamente à cooperação que a medicina pública impôs através de iniciativas e planos de Governo. Certamente, essa história local do sistema de saúde, não pode, nem deve ser generalizada como se fosse uma miniatura fiel do que acontece em âmbito nacional. Pelo contrário, ela serve como regra de prudência para toda e qualquer generalização. Pois, de acordo com indicações eloquentes no texto, a resistência da medicina privada em Londrina não se devia à simples ausência do Estado numa região rural e relativamente distante dos grandes centros, mas a uma organização social particular em vista dos problemas que se colocavam então para toda uma nação.

    Por fim, fazemos notar que, atendendo ao recurso documental que fundamente todo o livro, Oberdiek não se esquece de que a história de um sistema de saúde é também uma história protagonizada por personagens, isto é, os médicos, os pacientes/usuários e os agentes do Estado. Particularmente quanto aos primeiros, as grandes forças históricas, que no foco de Londrina permitem trazer para o plano próximo uma perspectiva muito ampla, são reveladas a partir de dados biográficos de personagens cujas ações e reações, enfim, concretizam toda essa história aparentemente imóvel que o livro, com mérito, põe a correr para nós, em direção ao nosso presente.

    Dr. Hélio Rebello Cardoso Júnior

    Introdução

    A decisão de realizar uma pesquisa histórica com o objetivo de elaborar uma narrativa é precedida de uma motivação. E esta motivação, no caso desta obra, foi provocada por um tema relativamente difundido na opinião pública, alimentado ou não pelos meios de informação, sobre os serviços de saúde.

    Estes serviços de saúde são entendidos como pertencentes a dois tipos de medicina, ou atendimentos médicos. Um deles é resultado da denominada medicina liberal, ou privada, ao qual geralmente é atribuído um alto grau de eficiência e satisfação dos pacientes-clientes. O outro é o da medicina pública, pouco eficiente e de baixa satisfação dos pacientes.

    Estas duas espécies de medicina constituem e fazem parte de uma dualidade, ou dicotomia, na percepção generalizada da população: uma é boa e outra é má, o que exige escolha e consequente exclusão da má, que é a única que lhes toca aos excluídos, ratificando diferenças sociais, principalmente em termos de direitos. Mas, frente à constatação inequívoca de que todos os médicos que realizam os atendimentos são formados pelos mesmos princípios científicos e treinados nas mesmas práticas procedimentais, como entender que eles produzem atendimentos díspares?

    Estamos longe de aceitar, numa consideração simplista, que os atendimentos médicos só dependem da formação dos recursos humanos. No entanto, se considerarmos que esta formação é fundamental, a resposta que surge como óbvia e é alimentada nos meios de comunicação, é que o problema não seria da categoria médica, mas da constituição dos serviços de atendimento que pertencem ao poder público e não são controlados por médicos, cuja autonomia é limitada. Por outro lado, em relação aos serviços denominados liberais, por serem, geralmente, de controle ou propriedade de médicos, a autonomia é plena. Por isso é entendido, à primeira vista, que a autonomia da propriedade ou do controle dos serviços é fundamental. Mas não questionamos se a autonomia que todo médico deve ter em face das doenças e dos doentes, como resultado de sua formação profissional, seja a mesma autonomia resultante de propriedade ou de controle dos serviços. Para as doenças e os doentes, é indiferente o controle e a posse dos serviços, e, portanto, não deve haver diferença de atendimento.

    Um longo caminho em estudos e leituras foi percorrido, e a historiografia¹ permitiu uma aproximação à problemática cuja síntese do conhecimento encaminhou o delineamento da problemática histórica² que, depois de detalhadas pesquisas, possibilitou a produção da narrativa ora apresentada.

    Tanto Rosen como Foucault, ao descreverem a experiência europeia, afirmam que a característica básica do médico, qual seja, trabalhar isoladamente, dependendo dele como sendo ele mesmo a instituição médica, foi própria da sociedade pré-capitalista. À medida que a sociedade capitalista foi se tornando hegemônica, uma das primeiras providências do Estado Moderno foi organizar serviços públicos de saúde, tanto preventivos (saúde pública propriamente dita), como curativos (atendimentos às pessoas enfermas). Os modelos clássicos foram a Alemanha, a França e a Inglaterra. Portanto, faz parte da gênese do Estado Moderno, nos modelos clássicos, a criação de serviços públicos de saúde.

    O médico liberal, ou a medicina liberal, foi um fenômeno histórico do século XIX. A característica básica do médico era sua atuação isolada, graças a ela é que ele conquistava e mantinha sua clientela, geralmente com visitas e atendimentos domiciliares. Como, na sociedade feudal, o médico ficava isolado na corte, poder-se-ia perguntar se o trabalho isolado seria uma extensão, na sociedade capitalista, de uma identidade pré-capitalista dos médicos. Quanto mais o médico alcançasse resultados positivos em curar doentes, mais aumentava sua clientela e mais elevar-se-iam os valores de seus honorários como um recurso para controlar a demanda de atendimentos.

    A medicina liberal do século XIX teve existência paralela à da medicina pública promovida pelo Estado Moderno, e também trazia presente um processo de transformação alimentado pelo desenvolvimento das pesquisas científicas que terminaram por criar o que hoje denominamos biomedicina. Com o advento da microbiologia, por exemplo, em fins do século XIX e começos do XX, foi necessária a união da medicina pública com a medicina liberal na prática, visto ser esta de ação curativa, e as ações essencialmente preventivas da medicina pública não seriam eficazes sem a cura das pessoas que ficavam enfermas, e vice-versa.

    A medicina liberal no Brasil foi uma prática também do século XIX, caracterizada por dois fatores fundamentais. O primeiro é que ela se desenvolveu com escassos serviços de atendimentos na sociedade, pois havia poucos hospitais, laboratórios, clínicas especializadas e outros. O médico também se valia dele mesmo: atendia aos pacientes que o buscavam solicitando atendimentos. E estes atendimentos eram, basicamente, em suas próprias residências. Ademais, poderia prestar alguma forma de atendimento caritativo nos poucos hospitais existentes, como os Hospitais das Santas Casas de Misericórdia, destinados às práticas caritativas, exercidas não necessariamente por médicos.

    A população que buscava médico ou se servia de atendimentos médicos, geralmente era detentora de recursos financeiros. Para os segmentos da sociedade que não possuíam recursos, havia outros atendimentos, como os das santas casas, dos curandeiros e práticas de medicinas culturais (dos índios, dos negros africanos, de religiosos etc.) com o uso de ervas, por exemplo. (NAVA, 2004). Essa situação era tal porque os médicos, principalmente no século XIX, ainda não eram detentores do monopólio das atividades de curas dos enfermos, o que só aconteceu com o desenvolvimento da medicina científica.

    Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, com as alterações da sociedade e da economia capitalista,³ ocorreram mudanças significativas que alteraram todo o cenário do desenvolvimento dos atendimentos médicos. Dessas mudanças, destacamos dois aspectos:

    O primeiro é relacionado à estruturação da sociedade capitalista como um todo, na qual a forma liberal de trabalho foi modificada devido às regulamentações e à organização da denominada sociedade de mercado. A partir desse período, é pertinente falar de economia e empreendimentos de mercado, tanto de serviços como de produção, e não mais de economia e empreendimentos liberais. A suposta autonomia liberal de livre empreendimento e de iniciativa foi limitada por regulamentações e legislações do denominado ‘mercado’, ou seja, as iniciativas passaram a ser dependentes de permissões do mercado regulado. Concomitante a esta característica, o termo ‘honorário’, como denominação de pagamentos a profissionais liberais no século XIX, período no qual o profissional estabelecia o que deveria ser pago na relação direta com cada cliente, passaram a ser regulados ou tabelados na relação de mercado. O indivíduo, o profissional liberal, praticamente perdeu a liberdade de, por assim dizer, cobrar o que julgasse conveniente na sua relação com o cliente. O denominado profissional liberal passou a ser praticamente mais um conceito de uma posição ideológica, e não de uma realidade histórica, em que se tinha como referência o clássico profissional liberal do século XIX.

    O segundo aspecto é referente à medicina propriamente dita. A medicina científica passou a ser progressivamente dominante nas últimas décadas do século XIX e se consolidou nas primeiras décadas do século XX com algumas consequências. A primeira é que, com a eficácia alcançada pelas práticas científicas sobre o controle das doenças e pelas curas dos doentes, os médicos foram tendo exclusividade nos atendimentos dos doentes. À medida que o mercado de atendimento dos doentes passou a ser regulamentado e atribuído aos médicos com a medicina científica, os curandeiros e as medicinas populares caíram em desuso e, algumas vezes, passaram a ser proibidos, com legislações específicas. Por outro lado, a prática da medicina científica exigia instituições de serviços como hospitais, laboratórios e clínicas especializadas, mudando o lugar dos atendimentos médicos e permitindo também a participação de outros profissionais, médicos ou não. As instituições sociais de serviços de atendimentos médicos passaram a ser o centro determinante dos atendimentos e não mais o médico, como foi o clássico médico liberal ou ‘médico de família’, quando ele era a ‘instituição médica’.

    A segunda consequência é que, pela própria exigência das descobertas nosológicas e do processo de cura, houveram regulamentações relacionadas com prevenções (obrigatoriedade de vacinas) e os atendimentos médicos que estabeleciam direitos e deveres às populações. Para esses atendimentos estarem ao alcance das populações no Brasil, a sociedade foi criando instituições como as sociedades de mútuo socorro que contratavam médicos; também empresários contratavam médicos para atender a seus operários, e, finalmente, na década de 1920, o governo criou os atendimentos previdenciários como direito dos trabalhadores. Ademais, foram criados hospitais públicos e privados, clínicas de especialidades, laboratórios de análises, enfim, instituições de serviços para atender às demandas, quando médicos, responsáveis pelos atendimentos, passaram a ser profissionais com preparação específica.

    A partir desta síntese dos estudos historiográficos, foi inevitável indagar como foram construídos os serviços de atendimento médico na cidade de Londrina, e qual a relação dos médicos com estes serviços a partir da criação da cidade em 1933. Se já fazia parte do cenário da medicina brasileira toda a problemática narrada acima, como este cenário teve seu desenvolvimento em uma cidade e região de fronteira agrícola na primeira metade do século XX?

    Para responder a esta pergunta, reconstituir a memória do acontecer humano, entendemos como necessária uma caracterização do problema histórico, como afirma Fernando Novaes. (MORAES; REGO, 2002, p. 122). Ou seja: como foi a colonização da região, como foram construídos os serviços de atendimento médico e como foram as relações dos médicos com estes serviços.

    Na sociedade londrinense, região norte do estado do Paraná, há uma opinião mais ou menos difundida de que a principal atividade econômica desenvolvida na cidade é a prestação de serviços. Segundo algumas opiniões, este é o destino traçado para a cidade desde sua fundação, na década de 1930, para justificar a pouca presença de indústrias numa cidade com uma população de cerca de 500.000 habitantes nos dias de hoje.

    Por outro lado, de acordo com algumas pesquisas realizadas para o desenvolvimento de teses e dissertações, duas características do processo da colonização da região norte do estado do Paraná comprovaram que Londrina foi construída como sede central do projeto e passou a ser de grande influência no entorno construído.

    A primeira característica é que os 544.000 alqueires de terras do Interland paranaense, denominado ‘fronteiras agrícolas’, inicialmente cobertos de matas nativas, foram colonizados no sentido leste-oeste, num processo de busca de terras novas para a agricultura e de ocupação dos espaços vazios, com a intenção de incorporá-los ao desenvolvimento da economia capitalista brasileira. (LOPES, 1982).

    O que aconteceu na região norte do estado do Paraná na década de 1930 já havia ocorrido na região de Presidente Prudente, no estado de São Paulo. (ABREU, 1972). Dividiu-se a terra em pequenos lotes para torná-los de fácil aquisição pelos migrantes e imigrantes, e assim se tornasse um território produtivo. Planejou-se, simultaneamente, a cidade com o intuito de criar uma série de serviços necessários para viabilizar a colonização.

    A segunda característica é que um projeto de colonização de terras com pequenas propriedades provocaria uma movimentação razoável de pessoas e tornava-se necessária a criação de uma infraestrutura de serviços capaz de garantir a sobrevivência das pessoas e do próprio projeto. Os compradores de terras, que adquiriam os lotes, não eram, de ordinário, possuidores de grandes recursos financeiros. E, quanto mais perto deles estivessem disponíveis os serviços, mais teriam condições de levar adiante seus planos. Sendo assim, os sitiantes necessitaram de recursos para construir suas moradias e providenciar a alimentação, pelo menos até produzirem seus próprios alimentos, ou mesmo até que as plantações de café começassem a produzir. Portanto, o processo da colonização começou com a construção de uma cidade em que se instalaram serviços de comércio em geral e, também, o mínimo de atendimento à saúde, com a construção de um pequeno hospital e a presença de um médico.

    "O

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1