Comum de dois
By Noemi Jaffe
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Sessenta textos curtos escritos na forma de diálogos — em seu novo livro a autora mostra toda a sua destreza em manejar as armas do humor. Não qualquer humor, mas aquele fino e agudo, tão raro nos dias de hoje, que, segundo Wittgenstein, é toda uma visão de mundo.
Diálogos entre casais, que engenhosamente não revelam o gênero dos envolvidos, provocam o riso que leva à reflexão. Misturando a todo tempo questões em registro erudito com preocupações banais do cotidiano, Noemi entra de forma inesperada em alguns debates centrais deste início de século: a rapidez das novas mídias que não permitem o tempo necessário de meditação para a compreensão de questões abstratas profundas; o valor do conhecimento em tempos de 'self made man' e autoajuda; o valor da comunicação como geradora de consenso para resolver problemas.
A autora consegue levar o leitor a locais inesperados, por meio de pinceladas rápidas e ágeis. Uma leitura deliciosa e divertida, mas, acima de tudo, extremamente pertinente para aqueles que querem pensar o destino da herança moderna em tempos de comunicação total.
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Comum de dois - Noemi Jaffe
Cafiero
– não vem, não adianta!
– não vem o quê, amor?
– a inspiração. já estou aqui há horas e não sai nada, só porcaria. olha o cesto de lixo como tá. já não aguento mais. não dá pras coisas saírem quando a gente quer. elas saem quando elas
querem.
– elas
quem, amor?
– as coisas, bem. as coisas.
– que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente você mais ama em mim, amor?
– você enlouqueceu agora?
– é uma adaptação do livro fragmentos de um discurso amoroso
, do barthes. não é bonito? que acidente você mais ama em mim? minha verruga atrás da orelha, a outra que eu tenho bem na entrada do couro da cabeça, o joanete, o quê?
– não sei, meu anjo. sei lá, acho que é a saboneteira, tão cavada. adoro as tuas saboneteiras.
– mas isso não é um acidente. isso é uma qualidade. vai, fala!
– amor, faz silêncio agora.
– amor, você acha que as coisas pequenas é que salvam o mundo?
– coisas pequenas tipo o quê?
– ah, sei lá, costurar um botão, lavar as mãos, alimentar um cachorro com fome, não sei.
– claro que não, bem, como isso vai salvar o mundo? deixa de criancice, vai.
– mas você não disse que se apaixonou pelo jeito como eu mandei a vizinha do 702 tomar no cu?
– o nietzsche falou que a gente não ama o amado, que a gente ama o amor que a gente sente pelo amado.
– então pra ele não faz diferença quem a gente ama, é isso?
– é, parece que é.
– isso deve ser porque ele nunca conheceu a pessoa certa.
– ai, amor, você não consegue abstrair. eu, por exemplo, eu te amo, mas eu também amo te amar.
– ama me
amar e não ama o
amor. amar o fato de amar é uma coisa muito narcisista.
– você acha que o nietzsche era narcisista?
– ah, daí eu já não sei.
– bem, você que vive lendo, você entende o que é dialética?
– ah, não sei, mas acho que entendo. é quando uma coisa precisa do contrário dela para poder prosseguir e ainda se modificar, entende?
– tipo o quê? tipo pra poder parar de fumar eu precisaria fumar muito, até saturar o corpo de fumo e aí parar?
– é, tipo isso mesmo.
– mas duas coisas iguais também não funcionariam, nesse caso? assim, para parar de fumar, parar mesmo de fumar? isso seria uma antidialética?
– não, isso é homeopatia.
– amor, você viu que o sartre e a simone de beauvoir tinham um relacionamento aberto?
– é, já ouvi falar.
– você acha que a gente encararia?
– eu, não. acho essa história de relacionamento aberto uma enganação, aposto que nem eles aguentavam. ninguém tem maturidade pra isso.
– mas e se fosse, sei lá, a sharon stone?
– ih, bem, a sharon stone já era. eu pegava era a natalie portman!
– aquela magrela? relacionamento aberto pra isso? mas que desperdício, bem.
– tá bom, vai. a jennifer lopez e não se fala mais nisso.
– bom, nesse nível só