Precarização do trabalho e saúde mental: o Brasil da era neoliberal
Precarização do trabalho e saúde mental: o Brasil da era neoliberal
Descrição
O foco do livro é a crítica da saúde mental da classe trabalhadora e a ofensiva neoliberal nos direitos trabalhistas por meio da Reforma Trabalhista de 2017. Desde 2016, sob o Governo Temer, ocorre uma nova ofensiva neoliberal no Brasil – a primeira ofensiva neoliberal ocorreu na década de 1990 (de Collor a FHC). Na verdade, a ofensiva neoliberal do capital é um movimento totalizante e totalizador que, por um lado, descontrói direitos sociais do trabalho e amplia a nova precariedade salarial no Brasil; e por outro lado, aprofunda a precarização da pessoa humana-que-trabalha por meio do adoecimento laboral, decorrente do "choque de capitalismo" ocorrido no Brasil nas últimas décadas.
O choque de capitalismo representa a constituição da nova ordem social neoliberal que se caracteriza por mudanças estruturais no regime de acumulação do capital, com a disseminação da nova precariedade salarial (a reestruturação produtiva dos novos locais de trabalho com a adoção de métodos de gestão toyotista acoplado às novas tecnologias organizacionais).
O pequeno livro nos convida a termos uma perspectiva dialética na abordagem do processo de precarização do trabalho, que envolva não apenas mudanças jurídico-politicas no modo de regulação salarial e no contrato de trabalho por meio da Reforma Trabalhista de 2018 (processo de desmonte da CLT que persiste desde a primeira ofensiva neoliberal na década de 1990); mas, principalmente, mudanças na base estrutural do modo capitalista de produção da vida ( e da morte) sob a hegemonia neoliberal. Estas mudanças estruturais têm sido denominadas reestruturação produtiva do capital e tem se acirrado no Brasil desde 1990.
Sobre o autor
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Amostra do livro
Precarização do trabalho e saúde mental - Ana Celeste Casulo
SP
Copyright© Projeto Editorial Praxis, 2018
Coordenador do Projeto Editorial Praxis
Prof. Dr. Giovanni Alves
Conselho Editorial
Prof. Dr. Giovanni Alves (UNESP)
Prof. Dr. Ricardo Antunes (UNICAMP)
Prof. Dr. José Meneleu Neto (UECE)
Prof. Dr. André Vizzaccaro-Amaral (UEL)
Profa. Dra. Vera Navarro (USP)
Prof. Dr. Edilson Graciolli (UFU)
Capa
Giovanni Alves
ISBN Ebook: 978-85-7917-495-7
Projeto Editorial Praxis
Free Press is Underground Press
www.editorapraxis.com.br
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
2018
Que País É Esse
Legião Urbana (1987)
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia-ia-ia
Na baixada fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis
Documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
FOREVER 21
Giovani Alves (2018)
Equipamento: Nikon D5500 com objetiva Sigma 17-35mm.
Exposição: f/5.6, 1/250s e ISSO 100.
A imagem da capa é a foto intitulada Forever 21
, tirada no verão de 2018, num dia de domingo na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, coração financeiro da maior cidade do Brasil. Em segundos, consegui registrar a imagem de um pedaço do Brasil. Um olhar fotográfico e o disparo inusitado num relance. Depois de revelar
, percebi que o movimento descompromissado da câmera fotográfica numa caminhada pela manhã na festiva Avenida Paulista, fechada para o transito naquele dia de domingo, expunha a dialética social do Brasil. Numa metrópole como São Paulo, a dialética da miséria brasileira transborda em cada pedaço do cotidiano. É como se aquilo que deveria ficar oculto pela força do fetichismo do capital, irrompesse diruptivamente, num vomitar desleixado, chocante e passageiro. O Brasil irracional se esbanja em cada esquina. Belo e grotesco, sutil e grosseiro, mercadológico e teológico valseiam diante de nós, muitas vezes, irremediavelmente como o soluço pulsante do organismo sedento e moribundo. Mas tudo é fugaz e se desmancha na percepção da normalidade cotidiana. A foto transgrediu
a cotidianidade. A imagem diz coisas. O que a semiótica poderia ler
nesta foto? Nada diria essencialmente, sem a analítica histórica da miséria brasileira. A síntese suprema da civilização e barbárie está presente em cada quadro da composição do dia-a-dia. É possível destacar na imagem pelo menos 3 detalhes:
(1) O mendigo caído num respiradouro de metro paulistano, homem em situação de rua, expressão do desalento da miséria, anônimo, anjo (ou demônio) moribundo, ser invisível da metrópole. Invisivel e invisibilizado, como os anjos transeuntes do filme Asas do Desejo
. Entretanto, entre nós, o Muro de Berlim não caiu. Com destaque, o detalhe se prolonga na imagem ao lado, de outro pedinte cabisbaixo, quase reflexivo ou depressivo.
(2) A família de classe média
alegre, jovens do Brasil século XXI, divertindo-se com a pose fotográfica registrada pelo smarthphone. Todos parecem indiferentes à miséria cotidiana que os cerca e flui no subterrâneo da cena. Indiferença é a palavra mal-dita, dessolidariedade atávica, indiferença ontológica do ser brasileiro
que se prolonga ad nauseum nos transeuntes ao léu. Entre eles e o que os cerca, logo abaixo, existe uma cerca
invisível. Mas no Brasil oligárquico do filme O som ao redor
, tudo começou com ...a cerca. É a cerca (a propriedade privada) que explica a desigualdade social e o sucesso
da elite do atraso e inclusive, o atraso da elite. Nada mais.
E finalmente, o detalhe luminoso:
(3) O admirável mundo das marcas de consumo (sem massa), ícones da civilização global das mercadorias, vitrines barrocas ilustrando o fundo da cena boschiana. Top Center, Forever 21. Não estamos no século XVI, mas sim no século XXI. Hieronymus Bosch não faria melhor. Mas, perguntemos: quem se importa? A questão é saber: Que País é Este?
Giovanni Alves
Apresentação
O livro Precarização do Trabalho e Saúde Mental no Brasil: A Década de 2010
, produzido para o Mini-Curso homônimo realizado no XI Seminário do Trabalho: O Futuro do Trabalho no Século XXI (de 4 a 8 de junho de 2018), oferece ensaios que discutem a problemática da precarização do trabalho na perspectiva da crítica da saúde mental e a crítica da Reforma Trabalhista no Brasil na década de 2010. Trata-se apenas de ensaios - o que significa que são elementos de introdução à reflexão crítica que podem (e devem) ser desenvolvidos pelos leitores a partir das provocações colocadas pelos autores dos ensaios.
O foco do livro é a crítica da saúde mental da classe trabalhadora e a ofensiva neoliberal nos direitos trabalhistas por meio da Reforma Trabalhista de 2017. Desde 2016, sob o Governo Temer, ocorre uma nova ofensiva neoliberal no Brasil – a primeira ofensiva neoliberal ocorreu na década de 1990 (de Collor a FHC). Na verdade, a ofensiva neoliberal do capital é um movimento totalizante e totalizador que, por um lado, descontrói direitos sociais do trabalho e amplia a nova precariedade salarial no Brasil; e por outro lado, aprofunda a precarização da pessoa humana-que-trabalha por meio do adoecimento laboral, decorrente do choque de capitalismo
ocorrido no Brasil nas últimas décadas.
O choque de capitalismo representa a constituição da nova ordem social neoliberal que se caracteriza por mudanças estruturais no regime de acumulação do capital, com a disseminação da nova precariedade salarial (a reestruturação produtiva dos novos locais de trabalho com a adoção de métodos de gestão toyotista acoplado às novas tecnologias organizacionais).
O pequeno livro nos convida a termos uma perspectiva dialética na abordagem do processo de precarização do trabalho, que envolva não apenas mudanças jurídico-politicas no modo de regulação salarial e no contrato de trabalho por meio da Reforma Trabalhista de 2018 (processo de desmonte da CLT que persiste desde a primeira ofensiva neoliberal na década de 1990); mas, principalmente, mudanças na base estrutural do modo capitalista de produção da vida (e da morte) sob a hegemonia neoliberal. Estas mudanças estruturais têm sido denominadas reestruturação produtiva do capital e tem se acirrado no Brasil desde 1990.
Introdução
A Nova Precariedade Salarial e o Sociometabolismo do Trabalho no Século XXI
A precarização do trabalho no século XXI, caracteriza-se pela constituição da nova precariedade salarial baseada na lógica do trabalho flexível. Alterou-se não apenas as condições de regulação do estatuto salarial (contratação salarial precária, remuneração e jornada de trabalho flexíveis), mas a organização do trabalho (gestão toyotista) e a base técnica da produção capitalista (novas tecnologias informacionais). A nova precariedade salarial produz impactos no metabolismo social do trabalho no século XXI. Por exemplo, as novas tecnologias informacionais acopladas à gestão toyotista (método just-in-time/kan-ban e a autonomação) contribuíram para a intensificação do tempo de trabalho e o aumento do estresse laboral.
Pode-se distinguir novas formas de precarização do trabalho: a (1) precarização das condições de existência social do trabalho vivo decorrente do modo de vida just-in-time que produz o fenômeno da vida reduzida e provoca carecimentos radicais nas pessoas-que-trabalham; e a (2) precarização radical do homem como ser genérico, a precarização da pessoa humana-que-trabalho que se manifesta por meio dos adoecimentos físicos e psicológicos do sujeito que trabalha.
Quadro 1
Precarização Estrutural do Trabalho no Século XXI
Trabalho flexível e nova precariedade salarial
O principal elemento da nova condição salarial é seu caráter flexível. A idéia de trabalho flexivel diseminou-se com vigor na década de 1980, período histórico aureo de formação e ascensão do capitalismo neoliberal. O trabalho flexivel representa o contrário do trabalho rígido que caracterizava o processo de trabalho fordista-taylorista. O trabalho rígico pressupunha um modo de regulação-padrão para o núcleo mais dinâmico sindicalmente organizado dos trabalhadores assalariados (contrato salarial por tempo indeterminado regulando a jornada de trabalho; salário indexado à inflação e ganhos de produtividade; e direitos sociais e previdenciários).
Entretanto, durante o auge do trabalho fordista-keynesiano, nem todos os trabalhadores assalariados nos paises capitalistas centrais estavam inseridos trabalho rígido
. Por exemplo, no caso dos EUA, a borda periférica do mundo do social do trabalho, principalmente nos setores não-monopolistas da economia capitalista, constituido em geral, por negros, imigrantes e mulheres não participava do compromisso fordista
que garantiu nos paises capitalistas do Estado de Bem-Estar Social, os trinta anos doutados do capitalismo
fordista-keynesiano (1945-1975). O capitalismo social-democrata cultivou o ideal salarial da vida boa por meio da inserção produtiva dos trabalhadoes assalariados no ideal do emprego, pressuposto dos direitos da cidadania salarial (direitos sociais e previdenciarios). O capitalismo desorganizado ou capitalismo neoliberal em seu processo de reestruturação produtiva do capital, renegou o ideal de emprego nos termos do trabalho formal (ou