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Entremeios: Ensaios sobre Literatura, Cinema e Comunicação
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Entremeios: Ensaios sobre Literatura, Cinema e Comunicação
E-book222 páginas4 horas

Entremeios: Ensaios sobre Literatura, Cinema e Comunicação

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Sobre este e-book

O desafio crítico proposto por Analice Martins, no livro Entremeios: ensaios sobre Literatura, Cinema e Comunicação, vai muito além da superficial polarização entre local e global, e a sua proposta interpretativa parece-me bem mais arriscada e estimulante: interpretar a contemporaneidade literária brasileira como um objeto complexo, que remexe nos escombros do projeto de modernização do Brasil, um país que em 50 anos passou de uma sociedade agrária para uma sociedade pós-industrial, a partir dos não lugares que esse brutal processo transformou em palcos de tensões, em (não) lugares de passagem suspensos entre arcaicidade e modernidade.
Além dos ensaios sobre Literatura, há outros interessantíssimos que se debruçam sobre o Cinema internacional e sobre as obras mais representativas de alguns cineastas – Loach, Frears, Burman – que, nesses últimos anos, têm mostrado de uma maneira problematizadora a questão das diferenças culturais e as estratégias de resistência das minorias em um mundo só autoritariamente globalizado. Mas é na seção "Conexões" que a autora sai da sala de cinema para entrar na sala de aula e encarar uma série de problemas nevrálgicos de caráter pedagógico que nenhum docente de Literatura do século XXI pode ignorar, sem correr o risco de desistir dos benefícios dos Estudos Culturais, de desperdiçar o diálogo enriquecedor com outras linguagens artísticas ou de menosprezar as práticas literárias não canônicas da contemporaneidade que mais dizem respeito aos alunos de hoje.
Professor doutor Giorgio de Marchis
Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas
Estrangeiras da Università degli Studi Roma Tre
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de ago. de 2018
ISBN9788547318994
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    Entremeios - Analice Martins

    meu.

    SUMÁRIO

    TRÂNSITOS

    Estorvo na cena literária contemporânea: outros trajetos, diferentes viagens 

    Prosa brasileira contemporânea: paradigmas revisitados 

    Geografias do precário: um estudo da ficção de João Gilberto Noll 

    FRONTEIRAS

    Um mundo desterrado 

    O sertão e a cidade na ficção brasileira contemporânea 

    De plástico e de couro: relatos de um outro sertão 

    TELAS EM TRANSE

    Coisas sujas e invisíveis 

    Benção ou blasfêmia: aspectos da tradução cultural 

    Impasses da cidade no cinema latino-americano 

    CONEXÕES

    Literatura para quê? 

    Modos de produção e circulação na web: algumas notícias da atual literatura

    brasileira 

    Cartografias literárias: a antologia e o ensino 

    REGISTROS

    A pouca relevância do cinema nos dias atuais 

    As cores no cinema de Almodóvar 

    The Oscar goes to

    Quando a imagem inventa a realidade 

    A arte cria o fato 

    Quando a realidade engole a câmera 

    Quem pode ser chamado de autor? 

    Experimentação e criação 

    As cores da Casa Branca 

    Identidade e multiculturalismo 

    TRÂNSITOS

    ESTORVO NA CENA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA:

    outros trajetos, diferentes viagens

    Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, assinalam dois momentos da literatura brasileira reveladores de uma tônica político-social, comprometida com a denúncia de um quadro de injustiças, desigualdades e violências. Esse quadro encerra em sua base um antagonismo de classes, plasmado na conhecida imagem dos dois brasis.

    Fabiano e Severino migram, forçosamente, buscando em suas viagens/fugas sobreviver à própria morte, dando, assim, algum sentido às suas vidas. Procuram, então, como ponto de chegada, a cidade grande, terra desconhecida, pouso de sentido, divisa de novos horizontes. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. (RAMOS, 1991, p. 126), afirma Fabiano em Vidas secas.

    A cidade, nessas trajetórias, é um endosso da marginalização e da exclusão que os expulsara de suas terras originárias no interior do sertão nordestino. Os novos horizontes divisados reduplicam a situação original, motivadora da partida, das viagens empreendidas. Esses personagens desejam desfrutar da mesma condição de pertencimento e de enraizamento, metaforizadas nas imagens de estar plantado, criar raízes, agarrar-se a terra, recorrentes na obra de Graciliano Ramos. O deslocamento desses personagens, acossados pela seca e pela miséria, não rompe suas raízes, não supera o discurso localista, até porque respondem ao projeto modernista de configuração das diversidades regionais como parte da pretensão de construção identitária que vê, no desenho dessas diversidades, uma forma de escrever a nação.

    Instituídos por uma estética realista, pautada em uma lógica discursiva que procura assegurar seu estatuto de verdade na ilusão de realidade, personagens e situações subordinam-se à lineraridade temporal e ao encadeamento causa/consequência, elementos prefigurados na estética realista canônica do século XIX.

    A narrativa brasileira contemporânea apresenta, em várias das suas recentes manifestações, uma tematização às avessas de algumas questões propostas pela linha de força do romance de 1930. Estorvo, romance de Chico Buarque publicado em 1991, pode ser lido nessa espécie de contraviagem desenhada também por outras narrativas, entre as quais destacam-se Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll, publicada em 1989, e A céu aberto, do mesmo autor, publicada em 1996.

    É inegável a contraposição desses dois momentos da literatura brasileira: a literatura modernista imersa na construção de um projeto identitário nacional e a literatura contemporânea descomprometida com projetos teleológicos, que, no entanto, nas entrelinhas, pode, por vezes, construir, por fragmentos e não mais por uma finalidade de totalização, a representação de um certo Brasil, até mesmo porque, quando se fala de Chico Buarque, a pecha de descompromisso parece macular uma imagem do compositor, do cantor, do escritor, do cidadão Chico Buarque, soando inadmissível, de certa forma, para os pleitos de engajamento mais inculcados em nossa memória nacional.

    Ler/ouvir Chico Buarque, autor de Const