Plantão psicológico com famílias
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Book preview
Plantão psicológico com famílias - Tiago Yehia de la Barra
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO PSI
A Lucy (in memoriam) e Yvette,
que sempre forneceram a sombra necessária
para eu continuar minha caminhada.
O ser participa da formação de seu futuro, em virtude de sua capacidade de conceber e reagir a novas possibilidades e trazê-las para fora da imaginação, experimentando-as na realidade.
(Rollo May)
PREFÁCIO
Escrever um prefácio é abrir um caminho para a possibilidade de leitura de uma obra. É assim que espero que essa escrita seja considerada: um prefácio de um livro que pretende apresentar outras possibilidades de prática psicológica na contemporaneidade. Ou, então, este texto poderia iniciar-se com as palavras de próprio autor desse livro:
O psicólogo vai para a prática com um conhecimento fragmentado e a expectativa de uma clínica tradicional, dualista e privada, muito afastada das necessidades atuais da comunidade. O psicólogo, quando lançado a uma modalidade que rompe com aquilo que para ele é conhecido, precisaria ter abertura e disponibilidade para lidar com a angústia, abrindo-se para novas possibilidades do seu fazer. (BARRA, 2012, p. VIII).
Tendo, desde o início de sua formação profissional, dirigido seus interesses para questões ao psicodiagnóstico tradicional com crianças e seus desdobramentos para uma posterior orientação à família, que assomou o presente trabalho para explorar outras possibilidades dessa prática psicológica, dado o contexto atual. Foi perseguindo esse questionamento que o trabalho foi desenvolvido, a partir de inquietações surgidas nos idos dos anos 90 com as políticas públicas nos campos da saúde e da assistência social. Ou seja, os aportes do Psicodiagnóstico Interventivo e da Terapia Familiar Sistêmica fizeram com que o olhar do psicólogo também se voltasse para o sistema familiar, incluindo os responsáveis no trabalho a ser desenvolvido.
Percorrendo a prática do Plantão Psicológico, criada em 1969 no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o autor discorre sobre o desenvolvimento dessa modalidade de prática, principalmente, quando em intervenções em instituições. Com clareza e acuidade, discute suas particularidades e seus pressupostos para apresentá-lo como possibilidade exequível tanto em educação quanto em saúde no que tange à formação de psicólogos.
A seguir, percorre a teoria sistêmica para intervenções com famílias, apontando sua pertinência para intervenções clínicas junto a usuários do sistema público de saúde e assistência social. Discutindo as articulações entre família e sociedade, dá a ver, pela etimologia, como essas denominações implicam no modo humano de ser em convivência no mundo. Ou seja, para além da linhagem biológica, ser família diz respeito a coexistir junto a outros, sentido este intimamente implícito na noção de política dos gregos: viver na polis (cidade).
Partindo dessa significação, discute como as atuais políticas públicas de assistência social visam contemplar as novas configurações familiares engendradas pelo mundo atual. Nessa medida, apresenta o movimento sistêmico, visando perseguir essa compreensão da complexidade humana de ser, passeando pelas várias definições de família ao longo da história da humanidade, ressaltando como a convivência familiar contemporânea pode também contemplar sua compreensão como comunidade. E nessa direção, destaca a questão da criança nesse contexto educativo e social.
É assim que percorre a articulação entre essa nova compreensão do grupo familiar e como se encontra amparado pelas políticas públicas.
Entendo que está havendo uma mudança de mentalidade em função do serviço público, influenciado pela LOAS¹ e pelo SUAS² que tratam da matricialidade da família e trazem está como foco de intervenção, os serviços de saúde e assistência social estão começando a chamar e focar mais a família. Nesse sentido começa e ter um efeito que sai do modelo de cuidado no qual apenas um é o doente e precisa ser atendido. [...] Na medida em que se modifica o modo de ser família, modifica-se a maneira como esta se apresenta nos serviços de atendimento, o pedido e a expectativa em relação ao profissional que se dispõe a esta função; modifica-se também a maneira de receber e cuidar do que se apresenta. Para tanto, deve-se rever conceitos próprios, abrindo novas possibilidades internas e maneiras de expressa-las, rever e ampliar as possibilidades de cuidado consigo e com o outro. Isto envolve um tripé: cliente, psicólogo e instituição. (BARRA, 2012, p. 38).
Questionando-se como cuidar dessas novas configurações familiares, percorre modalidades de prática psicológica já consagradas, como Psicodiagnóstico, Terapia Familiar e Plantão Psicológico, para poder aventurar-se em nova vereda: Plantão Psicológico com Família. Para isso, habilmente realizou essa intervenção em clínica-escola junto com futuros psicólogos, visando conhecer e compreender essa experiência e o sentido na formação profissional.
Procurando encontrar uma interpretação possível para o questionamento de como introduzir o atendimento a famílias via Plantão Psicológico, sem conhecimento prévio por parte dos estagiários acerca da teoria sistêmica, deparou-se com elementos bastante singulares e exemplares nas narrativas dos plantonistas. Revelaram-se modos de compreensão da nova prática articulados com as diferenças entre atendimento individual e do grupo familiar, bem como sobre a definição de família, a partir da prática de Plantão e da relação entre o plantonista e o cliente/família.
Apesar da insegurança pela mudança de contexto e falta de referenciais para lidar com a situação, os relatos apontam a importância da presença do supervisor no Plantão como fundamental para que o plantonista arrisque novas possibilidades de atendimento, podendo experimentar-se em um novo lugar, para além da formação tradicional de terapia individual.
Apesar do incômodo inicial pela maior complexidade da situação, o Plantão com família possibilita dar-se conta da complexidade do conviver e experienciar outros modos de ser junto a outros.
O plantonista, ao se inserir no atendimento com o grupo familiar, nota que é afetado de maneira diferente de quando está na presença de apenas uma pessoa. Dar-se conta dessas ressonâncias pode ajudá-lo a se sentir parte