Obesidade infantil: interações familiares e ciclo de vida numa perspectiva sistêmica
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De forma sucinta e esclarecedora, este livro é destinado a profissionais de saúde e ao público em geral interessado no tema da obesidade. Nele, são apresentados um breve panorama da obesidade no mundo e no Brasil, a representação da alimentação familiar ao longo da história e os principais conceitos que envolvem a estrutura da família e o seu ciclo de vida. Para ilustrar a apresentação e ampliar a discussão sobre o tema, os autores utilizam um estudo de caso com uma família de três gerações, com uma criança obesa. Por meio da teoria sistêmica, tornou-se possível compreender o papel da família no surgimento e na manutenção da obesidade em crianças e examinar como esse fator deve ser amplamente considerado para um tratamento bem-sucedido da doença.
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Book preview
Obesidade infantil - Maria Alexina Ribeiro
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro aos meus pais, Paulo e Mariza, que me ensinaram a valorizar e investir na vida acadêmica, e à minha filha, Júlia, por quem tenho um amor que me ensina a ser um pai melhor todos os dias. Agradeço à professora Alexina, a quem devo muito da minha formação de terapeuta familiar e por quem mantenho grande admiração profissional e pessoal. Por fim, agradeço às pessoas com quem tive o privilégio de trabalhar, colegas e clientes, que contribuíram, todos à sua maneira, para que este livro se tornasse realidade.
Vladimir de Araújo Albuquerque Melo
Esta obra é o resultado do que considero uma combinação perfeita na produção de conhecimentos científicos: um professor com muitas ideias e um aluno competente e criativo que, não somente as coloca em prática, mas acrescenta a elas brilho e mérito. Dedico este livro a todos aqueles que tornam a pesquisa uma tarefa descomplicada e prazerosa. Ao Vladimir, pelo companheirismo e dedicação sempre.
Maria Alexina Ribeiro
APRESENTAÇÃO
É uma honra ter sido escolhida para realizar a apresentação do livro Obesidade infantil: interações familiares e ciclo de vida numa perspectiva sistêmica, de Vladimir de Araújo Albuquerque Melo e sua coautora, Maria Alexina Ribeiro.
As informações detalhadas sobre um único caso dão evidências da importância de incluir o tratamento das relações familiares quando se objetiva enfrentar a obesidade de uma criança.
A busca de modalidades mais efetivas de tratamento da obesidade é crucial frente a um quadro alarmante, que piora ano a ano: como dizem os autores, o Ministério da Saúde em 2013 registrou, pela primeira vez, que mais da metade da população (51%) encontra-se com sobrepeso, enquanto que 17,4% pode ser definida como obesa, aumento de 1,6 pontos percentuais em relação à pesquisa do ano anterior. O quadro é grave porque é sabido que a obesidade na infância está associada com maior probabilidade de obesidade na vida adulta, que se associa a várias doenças crônicas que aumentam a morbi-mortalidade.
O livro introduz com muita propriedade conceitos básicos sobre a dinâmica e funcionamento familiar ao longo do ciclo vital e faz uma revisão das pesquisas realizadas, demonstrando a maior efetividade do tratamento da obesidade quando se trabalha as relações familiares disfuncionais, muitas vezes multigeracionais (como na família descrita), além do tratamento nutricional e do programa de enfrentamento do sedentarismo.
É muito difícil e complexo motivar as famílias para mudarem padrões de funcionamento alimentar e comportamental, que são muito prevalentes na sociedade moderna. Em primeiro lugar, a prevalência do uso de alimentos rápidos e excessivamente calóricos, mas fáceis de cozinhar, por um contingente de mulheres muito sobrecarregadas com o trabalho externo, o doméstico e o cuidado dos filhos, em refeições que são feitas em geral na frente da televisão e de forma bastante isolada entre os membros da família. Isso se alia ao consumismo favorecido pelo excesso de exposição à propaganda na televisão e à diminuição das relações interpessoais presenciais entre amigos, com excesso de uso do computador e da internet, que se justificam em grande parte pelo medo da violência nas ruas das grandes e médias cidades brasileiras.
Parece decorrer dessa rápida análise que há a necessidade de reformulação dos hábitos familiares em relação à alimentação para haver sucesso no enfrentamento da obesidade. Entretanto, verifica-se na clínica dos transtornos alimentares (categoria na qual, em minha opinião, deveria classificar-se a obesidade, já que em geral vem associada com dificuldades emocionais e relacionais) que modificar esses comportamentos é das tarefas mais difíceis para uma família. Exige muita coesão, firmeza e harmonia relacional entre os adultos. A terapia familiar sistêmica pode ser e tem sido bem sucedida. Esse objetivo seria facilitado se houvesse também um movimento geral na direção de enfrentar os fatores sociais que foram anteriormente identificados.
Neste tempo em que a definição de Saúde Pública já é insuficiente para lidar com os problemas que acometem a população e temos que rever o conceito para incluir a Saúde Planetária, o enfrentamento da obesidade, além de ser uma urgência, é uma oportunidade para criar um novo paradigma para os tratamentos de saúde. É urgente ampliar também o conceito de saúde mental para incluir o de saúde relacional. Incluir sempre que possível toda a família na avaliação dos problemas e no seu tratamento é uma decorrência. A inclusão no tratamento de Grupos Multifamiliares em que, entre pares, as famílias ventilam dificuldades e possíveis soluções, apoiando-se durante o processo de tratamento, tem também se mostrado muito útil.
A comunidade científica brasileira ganha com este livro um recurso para repensar a abordagem da obesidade infantil. Resta-nos agora aguardar os futuros passos do grupo de pesquisa da Universidade Católica de Brasília trazendo-nos detalhes de suas intervenções terapêuticas e seus resultados. Parabéns aos autores e a todo o grupo de pesquisa por enfrentar esse problema de saúde que desafia os clínicos mundialmente.
Olga Garcia Falceto
MD, PhD, Coordenadora do Instituto da Família
Docente Convidada da Faculdade de Medicina da UFRGS
Fundadora e ex-coordenadora do Programa de Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Prefácio
Não se vive a obesidade sozinho. Esse é o ponto de partida desta pesquisa, mas também o seu ponto de chegada. Os resultados espelham, de forma clara e inequívoca, a importância que a família tem no desenvolvimento e manutenção dessa doença.
O tema não é novo na literatura, mas está longe de ter o destaque que merece. A melhoria dos hábitos alimentares e a prática de atividade física têm sido consideradas dimensões-chave no tratamento da obesidade infantil, todavia, as mudanças a esse nível dificilmente ocorrerão se a família não criar condições para tal. Esta pesquisa clarifica, precisamente, de que forma as interações familiares podem moldar o comportamento alimentar e a percepção do problema.
Um cenário comum na sociedade atual é a partilha do papel de educador
por vários membros da família. Esse processo, que frequentemente implica o cruzamento de várias gerações, favorece o confronto entre as diferentes regras adotadas no ato de educar. Dificilmente essas regras são unas e consistentes, não apenas porque se cruzam diferentes gerações, mas porque a concepção de educação é, por si só, muito subjetiva. A par desse fenômeno, não é incomum o estabelecimento de regras ambíguas, ora exigentes, ora complacentes, no que toca ao que se deve e não se deve comer. É difícil negar comida a uma criança. Por sua vez, ver uma criança comendo com alegria é fonte de felicidade para quem proporciona esse momento. É, então, nessa vontade de querer ver a criança feliz, mas também saudável, que se gera ambiguidade de princípios alimentares. A criança, nesse emaranhado de indefinições, opta por seguir a sua vontade... Come, e come o que a agrada mais.
Não se pode deixar de reconhecer que na obesidade interferem fatores biológicos que